IGREJA E PEDOFILIA : uma crítica cultural a partir dos mecanismos linguistico-avaliativos (Prévia)
A religião, enquanto forma das mais importantes para entender o mundo e os acontecimentos da vida, pode ser compreendida, ainda hoje, como uma das principais instituições capazes de articular princípios e regras de conduta social. Isso não significa que o conjunto de condutas prescritas como desejáveis não possa ser infringido pela própria instituição. A admissão dessa situação não desconhece o sentido metafísico das práticas ritualísticas creditado por seus membros, nem desvincula necessariamente do sistema de verdade de que fazem parte essas práticas para subjugá-las aos critérios mais racionais da ciência, mas não exime a religião do que ela própria considera, do ponto de vista cristão, essencialmente secular, primariamente humano, como por exemplo, a avareza, a soberba e a luxúria. Igreja e pedofilia: uma crítica cultural a partir dos mecanismos linguístico-avaliativos prima por uma avaliação criteriosa e respeitosa de um tema caro em todos os sentidos a uma instituição de profundas raízes, cujo valor social encontra-se assomado à própria vida social: o envolvimento de clérigos católicos em casos de pedofilia. Ao tratar de uma abordagem relativamente nova e de um tema extremamente relevante social, cultural e religiosamente, o livro demonstra seu potencial para além do campo da Linguística, pois associa Sistema de Avaliatividade, conforme apontado por Martin e White (2005), Análise Crítica do Discurso, de acordo com Fairclough (2003) e estudos da religião. AUTOR: ALEX LUIS DOS SANTOS PÁGINAS: 136 ESSENTIA EDITORA ISBN 978-85-99968-53-6 ANO DE EDIÇÃO: 2017
A religião, enquanto forma das mais importantes para entender o mundo e os acontecimentos da vida, pode ser compreendida, ainda hoje, como uma das principais instituições capazes de articular princípios e regras de conduta social. Isso não significa que o conjunto de condutas prescritas como desejáveis não possa ser infringido pela própria instituição. A admissão dessa situação não desconhece o sentido metafísico das práticas ritualísticas creditado por seus membros, nem desvincula necessariamente do sistema de verdade de que fazem parte essas práticas para subjugá-las aos critérios mais racionais da ciência, mas não exime a religião do que ela própria considera, do ponto de vista cristão, essencialmente secular, primariamente humano, como por exemplo, a avareza, a soberba e a luxúria. Igreja e pedofilia: uma crítica cultural a partir dos mecanismos linguístico-avaliativos prima por uma avaliação criteriosa e respeitosa de um tema caro em todos os sentidos a uma instituição de profundas raízes, cujo valor social encontra-se assomado à própria vida social: o envolvimento de clérigos católicos em casos de pedofilia. Ao tratar de uma abordagem relativamente nova e de um tema extremamente relevante social, cultural e religiosamente, o livro demonstra seu potencial para além do campo da Linguística, pois associa Sistema de Avaliatividade, conforme apontado por Martin e White (2005), Análise Crítica do Discurso, de acordo com Fairclough (2003) e estudos da religião. AUTOR: ALEX LUIS DOS SANTOS PÁGINAS: 136 ESSENTIA EDITORA ISBN 978-85-99968-53-6 ANO DE EDIÇÃO: 2017
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Alex Luis <strong>dos</strong> Santos<br />
<strong>IGREJA</strong> E <strong>PEDOFILIA</strong>:<br />
<strong>uma</strong> <strong>crítica</strong> <strong>cultural</strong> a <strong>partir</strong> <strong>dos</strong> <strong>mecanismos</strong> linguístico-<strong>avaliativos</strong><br />
tem como objetivo analisar o que e como os mo<strong>dos</strong> de interação fazem,<br />
representam e identificam n’A Resposta da Igreja, considerando as<br />
avaliações para a atitude abordadas no segundo capítulo.<br />
A cada um <strong>dos</strong> mo<strong>dos</strong> de interação, quais sejam, agir e interagir,<br />
representar, e ser corresponde um tipo de significado. Aos mo<strong>dos</strong> de<br />
agir e interagir corresponde o significado acional que está associado<br />
metodologicamente à investigação <strong>dos</strong> gêneros discursivos. Essa<br />
investigação permite, na primeira parte do capítulo, a discussão sobre<br />
o que as pessoas estão fazendo e como os textos, enquanto plano<br />
material <strong>dos</strong> gêneros, as ajudam nisso.<br />
Aos mo<strong>dos</strong> de representar e ser correspondem respectivamente<br />
os significa<strong>dos</strong> representacional e identificacional. Para o exame <strong>dos</strong><br />
mo<strong>dos</strong> de representar, associado aos discursos, isto é, as formas<br />
particulares de representar parte do mundo, Fairclough (2003)<br />
sugere, como metodologia, a identificação do tema ou área da vida<br />
social em foco e do ponto de vista ou perspectiva sobre a qual esse<br />
tema é abordado.<br />
A hipótese que se levanta, nessa parte, considera que<br />
A Resposta da Igreja seja, no modo particular de representar o<br />
envolvimento clerical em atos de pedofilia, <strong>uma</strong> reação voltada,<br />
n<strong>uma</strong> linguagem mais laica, para a defesa, no sentido de tornar<br />
menor a gravidade, o constrangimento e a regularidade, quer<br />
dizer, a recorrência desse envolvimento.<br />
Já para o exame <strong>dos</strong> mo<strong>dos</strong> de ser, o labor investigativo<br />
concentra-se no tipo de linguagem usado por <strong>uma</strong> pessoa ou por <strong>uma</strong><br />
categoria particular de pessoa, quer dizer, concentra-se no estilo. O<br />
estilo diz respeito aos mo<strong>dos</strong> de ser ou processos de identificação em<br />
seus aspectos linguísticos e semióticos. Segundo Fairclough (2003,<br />
p.163), esses aspectos linguísticos implicam a envolvência de recursos<br />
de vários tipos como, por exemplo, a entonação e o vocabulário.<br />
Lemke (1998, p.53), ao associar os recursos linguísticos para a<br />
avaliação aos processos de identificação no texto, acredita que parte do<br />
que se faz quando se mobilizam os recursos <strong>avaliativos</strong> da linguagem<br />
é especialmente ajudar a “construir nossas próprias identidades, e<br />
as identidades <strong>dos</strong> outros, como agentes que acreditam e duvidam,<br />
desejam e detestam, e julgam a importância, a adequação, a usualidade,<br />
a compreensibilidade e a seriedade” 2 .<br />
14<br />
2<br />
Tradução de: “It is certainly reasonable to suppose that part of what we do when we mobilize the evaluative<br />
resources of language is to help constitute our own identities, and the identities of others, as agents who<br />
believe and doubt, desire and detest, and judge importance, appropriateness, usually, comprehensibility<br />
and seriousness”.