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enfrentado e a alegria azedou. Fiquei com a musculatura rígida quando a dor intensa me queimou por <strong>de</strong>ntro…<br />
mas logo eu relaxei e a abracei <strong>de</strong> volta. Eu conseguiria empurrar a agonia para longe <strong>de</strong> mim por um<br />
momento e <strong>de</strong>sfrutar da sensação <strong>de</strong> tê-la em meus braços novamente. <strong>Pelo</strong> menos por um minuto.<br />
Balançando-a para frente e para trás, murmurei que tudo iria ficar bem. Kiera chorou em meus braços<br />
enquanto eu esfregava as suas costas com ternura e beijava o seu cabelo. Ela ainda soluçava e lutava para<br />
respirar, mas as lágrimas tinham parado quando eu me afastei <strong>de</strong>la. Apesar <strong>de</strong> querer abraçá-la mais forte, eu<br />
a afastei <strong>de</strong> mim. Parecia errado fazer isso, e era hora <strong>de</strong> parar. Kiera me segurou com força e não queria me<br />
largar. Foi preciso usar toda a minha força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, mas finalmente me <strong>de</strong>svencilhei <strong>de</strong>la e me levantei.<br />
Kiera olhou para mim, notou a resolução em meu rosto e <strong>de</strong>sviou os olhos para o chão.<br />
Inclinando-me <strong>de</strong> leve, toquei suavemente o alto da sua cabeça. Quando ela olhou para mim <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>ilhe<br />
um sorriso suave. Ela era muito linda.<br />
– Você tem condições <strong>de</strong> dirigir? – perguntei, lembrando <strong>de</strong> como ela ficara perturbada da outra vez que<br />
Denny tinha ido embora <strong>de</strong> avião.<br />
Pensei que ela fosse dizer que não, mas seu rosto mudou <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero para <strong>de</strong>terminação, e ela fez que<br />
sim com um movimento firme da cabeça. Queria passar por aquilo sozinha. Orgulhoso <strong>de</strong>la, estendi a mão e a<br />
aju<strong>de</strong>i a se levantar.<br />
Ela tropeçou quando se levantou e se firmou com uma das mãos no meu peito, bem em cima da tatuagem.<br />
Eu ainda não tinha removido o curativo e a região continuava um pouco dolorida. Fiz uma careta, sem<br />
conseguir evitar o <strong>de</strong>sconforto. Segurando a respiração, torci para ela não me perguntar o que estava errado.<br />
Mas havia tanta coisa errada naquela situação que ela não perguntou coisa alguma e eu relaxei.<br />
Removendo a mão <strong>de</strong>la do meu peito, segurei seus <strong>de</strong>dos entre os meus. Uma parte <strong>de</strong> mim não a queria<br />
<strong>de</strong>ixar ir nunca.<br />
Ela me fitou longamente com olhos tristes num tom <strong>de</strong> ja<strong>de</strong> e murmurou:<br />
– Lamento tanto, <strong>Kellan</strong>… Eu estava errada.<br />
Eu não tinha certeza do que ela queria dizer com isso, mas não tive coragem <strong>de</strong> perguntar. Abraçá-la e<br />
estar junto <strong>de</strong>la era muito bom. Eu precisava fugir dali. Minha cabeça abaixou, a <strong>de</strong>la se levantou em direção<br />
à minha e nossos lábios se encontraram num beijo quente, macio. Seria fácil lhe pedir para me aceitar <strong>de</strong><br />
volta e perguntar se po<strong>de</strong>ríamos tentar novamente. Mas eu precisava <strong>de</strong> mais do que isso, e tudo que eu podia<br />
ouvir, num ciclo interminável, era “Denny”.<br />
Obriguei-me a interromper os muitos beijos pequenos e famintos que dava nela. Não ce<strong>de</strong>r a um beijo<br />
completo e <strong>de</strong>morado fez meu coração acelerar e minha respiração ficar ofegante. Eu a queria, mas isso não<br />
era novida<strong>de</strong>. Eu ainda não podia tê-la. Soltando as mãos, eu me forcei a dar um passo atrás.<br />
– Também lamento, Kiera. A gente se vê… por aí.<br />
Virando as costas, saí <strong>de</strong> lá o mais rápido que pu<strong>de</strong>, antes que minha força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> se evaporasse. Eu<br />
sabia que tinha acabado <strong>de</strong> mentir para ela quando disse que a gente iria se ver por aí. A única forma <strong>de</strong><br />
Kiera e eu conseguirmos superar a dor era manter distância um do outro. Ela viveria a sua vida, eu viveria a<br />
minha, e Denny iria viver a <strong>de</strong>le. Era hora para nós três seguirmos em frente, cada um numa direção.<br />
Se eu conseguisse.<br />
Os dias se passaram. Depois semanas. Então meses. Minha tala foi removida, meus machucados sumiram,<br />
meus cortes <strong>de</strong>sapareceram. Quem me via <strong>de</strong> fora não po<strong>de</strong>ria imaginar que eu quase tinha sido esfolado<br />
vivo. Não, não havia marcas físicas da carnificina daquela noite. Em compensação, a ferida no meu coração?<br />
… Essa continuava sangrando, escorrendo e infectando o resto do meu corpo com toxinas venenosas que<br />
certamente me matariam, qualquer dia <strong>de</strong>sses. Eu tinha me tornado um porre <strong>de</strong> pessoa para se ter por perto.<br />
Até eu sabia disso.