Dias de Sangue - Guerra e Paz - Parte 1 - Guerra

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Antônio foi afastado, respondeu a processo e depois de muito tempo, foi absolvido, mas sua carreira nunca mais foi a mesma, tinha desmoronado, foi abandonado. Entrou em um estado profundo de depressão, começou a beber. Sua farda não mais foi passada e sua saúde começou a desmoronar. Em um dia normal de trabalho, aconteceu o pior. Ao voltar para casa, presenciou um assalto com reféns. Como a patrulha não chegou, ele deu voz de prisão aos bandidos e identificou-se como policial. Os bandidos disseram que iriam matar um dos reféns se Antônio não colocasse sua arma no chão. Como o bom policial que era, cumprindo o que o regulamento e as normas mandam, para que seja preservado o refém. Colocou sua arma no chão. Grande erro. Os bandidos nem pestanejaram. Trataram logo de fuzilá-lo ali mesmo, sem nem piscar. Depois de vários disparos, fugiram, largando-o ali agonizando. Quando a patrulha chegou, já era tarde. Já estava morto. Para a viúva, o seguro de vida, uma pensão minguada e uma bandeira de presente. Para o filho, a perda de seu herói. A vida seguiu em frente. Nenhuma nota no jornal local, nenhuma visita dos Direitos Humanos, nenhuma compaixão. O menino só fez abraçar-se à mãe. Chorou em seu peito e por semanas a fio, lembrando-se da figura paterna. Agora eram somente os dois e alguns parentes. Tinha que seguir a vida. 28
Não adiantaria rebelar-se. Então, decidiu em homenagem ao pai, e o padrinho, seguir também a carreira militar. Queria ajudar de alguma forma e fazer a diferença. A mãe foi contra, mas a decisão já estava tomada. Seria policial. Ana. Pensava também em Ana, seu amor. A garota mais linda do bairro com a qual iria se casar, constituir família e se desse sorte, envelhecer ao seu lado. Aquela garota morena, da boca carnuda, seios fartos, cabelo dourado em cachos de mel. Sua Ana. Minha vida, meu amor Meu chão, meu céu, minha luz Minha razão de existir Eu hoje vim aqui só pra te ver passar Precisaria nem olhar Para este pobre coração Basta sua sombra, e poderei me abraçar Já seria o suficiente para mim Nada aqui merece atenção Mas se um dia você não regressar Deixe umas pegadas E alguém irá correr Não há nada Não há nada igual Nada poderia me afastar de Ti Não, não há alguém 29
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