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ULTIMOS CANTOS

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284 ÚLTIMOS <strong>CANTOS</strong>.<br />

E todavia amei! pude um momento<br />

Vêr perto a doce imagem debruçada<br />

Nas águas do Mondego,—ouvir-lhe um terno<br />

Suspiro do imo peito, mais ameno,<br />

Mais saudoso que as auras encantadas,<br />

Que entre os seus salgueiraes moráo loquaces!<br />

Foi um momento só !—talvez agora<br />

Nas mesmas águas se repete imagem<br />

Dos meus sonhos de então!—talvez a brisa,<br />

Nas folhas dos salgueiros murmurando,<br />

Meu nome junto ao seu repete aos echos,<br />

Que eu triste e longe delia escuto ainda!<br />

Sim, amei; fosse embora um só momento !<br />

Meu sangue requeimado ao sol dos trópicos<br />

Em vivas labaredas conflagrou-se.<br />

Feliz n'aquelle incêndio ardeo minha alma,<br />

Um anno, talvez mais ! Qual foi primeiro<br />

A soltar, a romper tão doces laços<br />

Não poderá dizerfo, em que o quizesse.<br />

Tão louco estava então,—dores tão cruas,<br />

Magoas tantas depois me acabrunliarão,<br />

Que desse meu passado extineta a idéa,<br />

Deixou-me apenas um soffrer confuso,

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