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Tammy Falkner - Os Irmãos Reed #8 - Provando a Promessa de Paul

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PROVANDO A PROMESSA DE PAUL<br />

TAMMY FALKNER


<strong>Provando</strong> a promessa <strong>de</strong> <strong>Paul</strong><br />

<strong>Provando</strong> a <strong>Promessa</strong> <strong>de</strong> <strong>Paul</strong><br />

Copyright © 2014 por <strong>Tammy</strong> <strong>Falkner</strong><br />

Sinopse:<br />

Para todos vocês que fazem o melhor por seus filhos.<br />

1. Friday<br />

2. <strong>Paul</strong><br />

3. Friday<br />

4. <strong>Paul</strong><br />

5. Friday<br />

6. <strong>Paul</strong><br />

7. Friday<br />

8. <strong>Paul</strong><br />

9. Friday<br />

10. <strong>Paul</strong><br />

11. Friday<br />

12. <strong>Paul</strong><br />

13. Friday<br />

14. <strong>Paul</strong><br />

15. Friday<br />

16. <strong>Paul</strong><br />

17. Friday<br />

18. <strong>Paul</strong><br />

19. Friday<br />

20. <strong>Paul</strong><br />

21. Friday<br />

22. <strong>Paul</strong><br />

23. Friday<br />

24. <strong>Paul</strong><br />

25. Friday<br />

26. <strong>Paul</strong><br />

27. Friday<br />

28. <strong>Paul</strong><br />

29. Friday<br />

30. <strong>Paul</strong><br />

31. Friday<br />

32. <strong>Paul</strong><br />

33. Friday<br />

34. <strong>Paul</strong><br />

35. Friday<br />

36. <strong>Paul</strong><br />

37. Friday


38. <strong>Paul</strong><br />

39. Friday<br />

40. <strong>Paul</strong><br />

41. Friday<br />

42. <strong>Paul</strong><br />

Leia os <strong>de</strong>mais livros da série <strong>Irmãos</strong> <strong>Reed</strong>:


P R O V A N D O A P R O M E S S A D E P A U L<br />

(<strong>Os</strong> irmãos <strong>Reed</strong>)<br />

Tradução: Andréia Barboza


C O P Y R I G H T © 2 0 1 4 P O R T A M M Y F A L K N E R - M E B<br />

Copyright da tradução © 2016 por Andreia Barboza<br />

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, <strong>de</strong> 19/02/1998. Nenhuma parte <strong>de</strong>ste<br />

livro, sem autorização prévia por escrito da autora, po<strong>de</strong>rá ser reproduzida ou transmitida, sejam<br />

quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer<br />

outros, exceto para o uso <strong>de</strong> breves citações em resenhas do livro. Fontes usadas com a permissão da<br />

Microsoft.<br />

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n° 9.610/98 e punido pelo artigo<br />

184 do Código Penal.


S I N O P S E :<br />

*** Destinado a leitores com mais <strong>de</strong> 18 anos pelo conteúdo sexual e pelo fato <strong>de</strong> a mocinha ter<br />

boca suja *** ;-)<br />

Este livro faz parte da série <strong>Os</strong> <strong>Irmãos</strong> <strong>Reed</strong>, mas você não precisa lê-los em or<strong>de</strong>m. Po<strong>de</strong> ser lido<br />

individualmente.<br />

<strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong> cuidou das crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que era um garoto, mas não mudaria nada em sua vida,<br />

mesmo que tivesse a chance. Bem, isso até que um <strong>de</strong> seus irmãos fala três palavras que abalam os<br />

alicerces do seu mundo. “Ela não é lésbica” não <strong>de</strong>veria fazer a terra tremer, mas, <strong>de</strong> repente, a<br />

mulher que ama está disponível e ele fará o que for preciso para conquistá-la.<br />

Eles a chamam <strong>de</strong> Friday, e ela escon<strong>de</strong> mais do que o próprio nome...<br />

Friday trabalha no estúdio <strong>de</strong> tatuagem dos <strong>Reed</strong> há quatro anos. Ela é mais que uma<br />

funcionaria e ama estar no meio <strong>de</strong> algo tão maravilhoso. Valoriza a forma como os <strong>Reed</strong> vivem<br />

um para o outro e a maneira como eles cuidam da família. Faria qualquer coisa para fazer parte<br />

daquilo, mas ela não merece ter uma família. Ou merece? Friday se pune por seu passado e, ao<br />

fazê-lo, afasta o único homem que po<strong>de</strong>ria realmente amá-la.<br />

Separadamente, eles são fortes. Juntos, vulneráveis. Como equipe, são perfeitos.


F R I D A Y<br />

O<br />

uvi dizer que a melhor maneira <strong>de</strong> superar um cara é ficando embaixo <strong>de</strong> outro. Dito isso, duvido<br />

que o criador <strong>de</strong>sse ditado tivesse aquilo em mente. Uma mão aperta a minha com força. Foi<br />

estupi<strong>de</strong>z da minha parte permitir que eles ficassem comigo na sala, pois estou me sentindo<br />

terrivelmente exposta, apesar <strong>de</strong> a parte inferior do meu corpo estar coberta por um lençol. O fato <strong>de</strong><br />

estar com as pernas abertas sobre estribos e ter a cabeça <strong>de</strong> uma mulher visível entre minhas coxas é<br />

que torna tudo isso estranho.<br />

Deveria ser bonito e realmente é. Só que é... estranho.<br />

Cody está à minha esquerda e Garrett, à direita. Eles se inclinam e se beijam sobre minha cabeça.<br />

Garett usa a mão livre para enxugar uma lágrima do rosto <strong>de</strong> Cody.<br />

A médica olha para cima.<br />

— Você está bem aí? — ela pergunta.<br />

Fecho os olhos bem apertados.<br />

— Tudo bem — respondo.<br />

Garrett se inclina e beija minha testa, seus lábios se <strong>de</strong>moram lá.<br />

— Obrigado por fazer isso — ele sussurra com veemência e a emoção me toma.<br />

— Obrigada por me <strong>de</strong>ixar fazer isso — respondo. Afasto meu rosto e ele beija meus lábios<br />

suavemente. Não há paixão nesse beijo. Apenas emoção, gratidão e um tipo <strong>de</strong> afeto como jamais<br />

tive.<br />

Cody aperta meu ombro. Esses caras formam o casal mais bonito do mundo. Eles estão juntos há<br />

cerca <strong>de</strong> doze anos e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> três tentativas <strong>de</strong> adoção fracassadas, queriam mais do que qualquer<br />

coisa ter um filho. Eles nem precisaram me pedir. Me ofereci para ser a mãe <strong>de</strong> aluguel. Sou<br />

saudável, jovem, adoro ver o amor que eles sentem um pelo outro e queria dar um filho a eles.<br />

Utilizamos o óvulo <strong>de</strong> uma doadora e uma mistura do esperma dos dois. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> usar um óvulo<br />

doado surgiu para que eu pu<strong>de</strong>sse ficar o mais distante possível da situação. O complicado é que eles<br />

não saberão exatamente quem é o pai. Na verda<strong>de</strong>, ambos serão. A única coisa que sei é que não<br />

quero ser mãe. Mas estou disposta a <strong>de</strong>ixar o bebê “assar” em meu útero por nove meses. Então, terei<br />

o prazer <strong>de</strong> entregá-lo a esses homens maravilhosos e eles serão capazes <strong>de</strong> cuidar do próprio filho.<br />

Estremeço quando a médica fecha o espéculo e o puxa da minha vagina. Ela levanta meus pés do<br />

estribo e se afasta.<br />

— Friday — ela fala. Esse é o meu nome. Significa sexta-feira, como o dia da semana. Não é o<br />

nome em minha certidão <strong>de</strong> nascimento, mas combina melhor do que aquela velha relíquia da minha


vida anterior. — Daqui <strong>de</strong>z dias, quero que você volte para fazer um exame <strong>de</strong> sangue.<br />

Cody esfrega as mãos. Ele está tão animado que fico toda chorosa novamente. Deve ser culpa dos<br />

hormônios que eles usaram em mim, num ciclo semelhante ao da doadora do óvulo. Isso me <strong>de</strong>ixa<br />

mais emocional do que normalmente sou.<br />

— Em <strong>de</strong>z dias vamos <strong>de</strong>scobrir se teremos um bebê! — Cody grita.<br />

Um sorriso surge em meus lábios enquanto Garrett me ajuda a sentar. Me sinto muito melhor com<br />

a camisola cobrindo todas as minhas partes femininas em vez <strong>de</strong> ficar com minha garota no ar para<br />

todo mundo ver.<br />

— Posso trabalhar hoje, certo? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— A única coisa que não po<strong>de</strong> fazer é ter um orgasmo.<br />

Meu rosto esquenta e eu coloco a palma da mão sobre ele.<br />

— Oh, não! — exclamo. — O que vou fazer sem meus orgasmos diários?<br />

Garrett levanta dois <strong>de</strong>dos.<br />

— Duas vezes aos domingos.<br />

— Não faça qualquer trabalho pesado ou exercício extenuante. E nada <strong>de</strong> banhos quentes — diz a<br />

médica. Ela olha para a tatuagem em meu joelho com gran<strong>de</strong> interesse. É uma teia <strong>de</strong> aranha com um<br />

chocalho <strong>de</strong> bebê no meio. — Interessante — ela fala, mais para si do que para mim. — Caramba,<br />

ela já viu a outra na minha coxa.<br />

Cubro o joelho com a mão e ela afasta o olhar. Tenho tatuagens por todo o corpo. Eu as amo e<br />

cada uma conta uma história. Desenhei a maior parte <strong>de</strong>las e cada uma tem um significado para mim.<br />

Sei que pessoas tatuadas carregam uma série <strong>de</strong> estigmas, mas gosto da arte e <strong>de</strong> usá-la em meu<br />

corpo. Julgue-me se quiser. Não me importo.<br />

— Tenho que voltar ao trabalho — Cody fala e se inclina para beijar Garrett nos lábios. Depois,<br />

beija minha testa e vai embora, com um sorriso gran<strong>de</strong> e brilhante.<br />

Garrett me acompanha enquanto troco <strong>de</strong> roupa atrás da cortina. Posso ouvir seus pés batendo na<br />

lateral da mesa <strong>de</strong> exame on<strong>de</strong> está sentado. Ele parece um garotinho levado, balançando os pés para<br />

frente e para trás.<br />

— Para on<strong>de</strong> você tem que ir quando sair daqui? — ele pergunta.<br />

— Trabalho — respondo, enquanto coloco meu vestido. Gosto <strong>de</strong> roupas vintage e o dia <strong>de</strong> hoje<br />

não é diferente <strong>de</strong> qualquer outro. Me pergunto como serei capaz <strong>de</strong> manter o estilo quando minha<br />

barriga estiver gran<strong>de</strong> e redonda. Não tenho certeza <strong>de</strong> que será fácil encontrar roupa <strong>de</strong> gestante<br />

<strong>de</strong>sse tipo.<br />

— Não quer tirar o resto do dia <strong>de</strong> folga? — ele pergunta. — Po<strong>de</strong>ríamos ir às compras.<br />

Comprar coisas para o bebê.<br />

— Tentador — falo. Honestamente, parece um castigo. — Vou <strong>de</strong>ixar isso para você e Cody, se<br />

você não se importar.<br />

— Tudo bem — ele respon<strong>de</strong> duramente, como se estivesse aborrecido, mas sei que não está. —<br />

Deixe-me pagar o almoço, então. Depois levo você <strong>de</strong> volta ao <strong>Reed</strong>’s.<br />

<strong>Reed</strong>’s é o estúdio <strong>de</strong> tatuagem on<strong>de</strong> trabalho. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ele me levar até lá me <strong>de</strong>ixa<br />

surpreen<strong>de</strong>ntemente alegre.<br />

— Vai se certificar <strong>de</strong> me beijar antes <strong>de</strong> ir embora? — pergunto. Sorrio quando coloco meus<br />

sapatos <strong>de</strong>licados, <strong>de</strong> salto alto, que amo tanto. Combinam com o vestido.


— Por quê? — ele pergunta, instantaneamente suspeito. Ele abre a cortina enquanto puxo cabelo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do vestido. Sorri. — Em qual dos <strong>Reed</strong> você preten<strong>de</strong> fazer ciúmes? — Ele estreita os<br />

olhos para mim.<br />

Começo a contar nos <strong>de</strong>dos.<br />

— Logan é casado e tem um bebê a caminho. Pete está com Reagan. Matt é casado e engravidou a<br />

esposa. Terão gêmeos!<br />

— Então nos resta Sam e <strong>Paul</strong>. — Ele me avalia astutamente.<br />

Beijar Sam seria como beijar meu irmão. <strong>Paul</strong>, por outro lado...<br />

— Ahá! — Garrett ronrona. — É o grandão, certo?<br />

— Ele não é tão gran<strong>de</strong> — murmuro para mim mesma.<br />

— Você está brincando? — ele grita. — Ele é enorme pra cacete! — Sorri. — Aposto que o<br />

restante <strong>de</strong>le também é!<br />

Às vezes, ter um melhor amigo gay tem suas vantagens. Porque um hetero jamais iria querer saber<br />

o quão gran<strong>de</strong> é o pau <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>.<br />

— Não sei — murmuro. Mas a mãe da filha <strong>de</strong>le sabe, já que eles ainda dormem juntos. Essa<br />

parte faz meu estômago doer.<br />

— Ele ainda leva você para casa quando o estúdio fecha? — Garrett pergunta.<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Um <strong>de</strong>les sempre leva.<br />

— Ele ainda tenta te beijar? — Garrett pergunta alegremente. Ele é como uma maldita criatura da<br />

floresta com sua animação vertiginosa. Espero que ele comece a cantar a qualquer momento.<br />

— Isso só aconteceu uma vez — falo. Foi o beijo que balançou meu mundo, apesar <strong>de</strong> tudo. Pego<br />

minha bolsa e volto para a sala.<br />

— E? — Faz um movimento <strong>de</strong> giro com o <strong>de</strong>do ao abrir a porta para mim e caminhamos pelo<br />

corredor. Ele nos conduz à entrada, paga a conta e damos um passo em direção ao sol.<br />

— E o quê? — bufo enquanto coloco meus óculos <strong>de</strong> sol e finjo não enten<strong>de</strong>r o que ele perguntou.<br />

— O cara te pegou e você ainda tem que vê-lo todos os dias, Friday. Como está indo? — Ele<br />

pega minha mão e entrelaça os <strong>de</strong>dos nos meus enquanto esperamos o metrô. O consultório fica no<br />

lado bom da cida<strong>de</strong>. E o <strong>Reed</strong>’s, não. É na área que amo mais que tudo.<br />

— Bem.<br />

Ele fica pasmo, com a boca aberta para mim.<br />

— É tudo que recebo? Bem? — Ele aponta para minha barriga. — Você po<strong>de</strong> estar com meu bebê<br />

no útero e isso é tudo que você vai dizer?<br />

Cubro a boca com a mão.<br />

— Você não terá vantagens só pelo fato <strong>de</strong> que o seu bebê po<strong>de</strong> ou não estar crescendo aqui<br />

<strong>de</strong>ntro.<br />

— Que banho <strong>de</strong> água fria — diz. Mas mudo <strong>de</strong> assunto <strong>de</strong> forma bastante eficaz.<br />

Ele fala sobre quartos <strong>de</strong> bebê, mama<strong>de</strong>iras e roupinhas, além <strong>de</strong> todas as outras coisas das quais<br />

não quero saber a respeito, até chegarmos ao <strong>Reed</strong>’s. Ele para em frente à loja, coloca as mãos ao<br />

redor dos olhos e olha para o salão através do vidro.<br />

— Muito bem —fala com um sorriso. — É hora do show. — Ele pega minha mão e abre a porta.<br />

O sorriso <strong>de</strong>saparece <strong>de</strong> seu rosto e Garret o substitui por um olhar <strong>de</strong> indiferença. É estranho como<br />

ele consegue fazer isso. Trabalhou no teatro há muitos anos, então, acho que faz sentido. Agora é


professor.<br />

Coloco minha bolsa atrás da mesa na recepção, que é on<strong>de</strong> costumo trabalhar. Desenho as<br />

tatuagens e, às vezes, as faço. Ainda estou apren<strong>de</strong>ndo, mas <strong>de</strong>senho é minha especialida<strong>de</strong>. É aí que<br />

estão minhas habilida<strong>de</strong>s — afinal <strong>de</strong> contas, sou veterana do curso <strong>de</strong> arte na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova<br />

York. Ou pelo menos era, já que me formei há duas semanas. Agora sou uma quase-possivelmentepessoa-<strong>de</strong>sabrigada.<br />

Ah, droga. Ainda não falei para Garrett e Cody sobre minha situação.<br />

<strong>Paul</strong> nos olha <strong>de</strong> on<strong>de</strong> está fazendo uma tatuagem no ombro <strong>de</strong> um rapaz e franze a testa.<br />

— Dia — ele fala, olhando <strong>de</strong> mim para Garrett, que se estica todo. Querido, não importa o que<br />

você faça, jamais parecerá tão gran<strong>de</strong> ou forte quanto <strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong>.<br />

— Bom dia — murmuro <strong>de</strong> volta.<br />

Logan também está aqui. Ele sorri e acena para mim. Logan é surdo, mas po<strong>de</strong> falar e todos nós<br />

apren<strong>de</strong>mos a linguagem dos sinais há muitos anos. Aceno <strong>de</strong> volta.<br />

“Quem é esse?”, ele pergunta para mim através <strong>de</strong> sinais e aponta para Garrett.<br />

Coloco a mão no ombro <strong>de</strong> Garrett.<br />

— Garrett, este é <strong>Paul</strong>, e o quieto ali é Logan.<br />

Logan se levanta e aperta a mão <strong>de</strong> Garrett. <strong>Paul</strong> apenas resmunga.<br />

— Prazer em conhecê-los — diz Garrett. Ele se vira para mim e segura meu rosto. Inclinando-se<br />

para bem perto do meu ouvido, fala: — Aposto que ele é enorme pra cacete. — Rio, tentando afastar<br />

meu rosto, mas ele me mantém junto <strong>de</strong> si, os polegares sobre meu queixo e os <strong>de</strong>dos espalmados na<br />

direção da minha orelha. Então, seus lábios tocam os meus.<br />

Ele beija muito bem e eu meio que invejo Cody, porque se ele faz sexo como beija, Cody é um<br />

cara <strong>de</strong> sorte.<br />

O único problema sobre esse gesto é que... não há tesão. Nada mesmo. Apenas lábios quentes e<br />

molhados sobre os meus e um toque <strong>de</strong> língua muito rápido. Aperto sua cintura. Ele ri contra minha<br />

boca e se afasta. Então esfrega o nariz para cima e para baixo no meu.<br />

— Cody vai amar quando eu contar sobre isso para ele.<br />

Cutuco suas costelas com o indicador e ele se inclina, tentando não rir.<br />

— Lembre-se do que a médica disse — ele fala em voz baixa, <strong>de</strong> frente para mim. — Nada <strong>de</strong><br />

orgasmos. Nem mesmo os proporcionados por tatuadores gran<strong>de</strong>s e gostosos que te fazem suar. —<br />

Garret abana o rosto. — Ele me faz suar um pouco também.<br />

Ouço um barulho atrás <strong>de</strong> nós conforme <strong>Paul</strong> larga a pistola <strong>de</strong> tatuagem e vai para os fundos do<br />

estúdio. Ele puxa a cortina <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong>, fechando seu espaço.<br />

Logan olha para mim, sorri e apenas balança a cabeça.<br />

Garrett beija minha testa, <strong>de</strong>morando-se ali por um segundo.<br />

— Em <strong>de</strong>z dias saberemos se você vai ser a mãe do meu bebê — ele fala, seu corpo balançando<br />

contra o meu enquanto ri.<br />

Soco seu ombro e aponto para a porta.<br />

Da próxima vez que ele for fingir me beijar, tenho que me lembrar <strong>de</strong> lhe dizer para não usar a<br />

língua. Passo a palma da mão sobre a boca e o vejo sair. Ele acena e sopra um beijo.<br />

Logan levanta a mão para chamar minha atenção.<br />

“Você está brincando com fogo”, avisa, e balança o polegar na direção da cortina. Ele está<br />

chateado. Acho que não quer que <strong>Paul</strong> o escute, senão estaria falando em vez <strong>de</strong> usar sinais.<br />

Balanço a mão para ele.


“Ele vai ter que superar”.<br />

Ele olha para a cortina.<br />

“Você <strong>de</strong>veria falar com ele”.<br />

“Por quê?”<br />

“Porque ele ainda tem um cliente aqui fora, e teve que sair, pois você estava se esfregando<br />

com outro cara”.<br />

Droga. <strong>Paul</strong> saiu e largou um cliente na ca<strong>de</strong>ira. Com uma tatuagem inacabada.<br />

“Ele não tem o direito <strong>de</strong> estar com raiva”.<br />

Logan franze a testa e balança a cabeça.<br />

“Bem, ele não tem”.<br />

“Pare <strong>de</strong> agir como criança”, ele sinaliza e aponta em direção à cortina novamente. “Vá falar<br />

com ele”.<br />

Solto um suspiro e vou acalmar <strong>Paul</strong>.


P A U L<br />

N<br />

ão posso acreditar que ela trouxe esse cara aqui. No meu estúdio. No local on<strong>de</strong> trabalho.<br />

Merda, on<strong>de</strong> moro.<br />

Inclino-me contra o balcão e me apoio nas palmas das mãos. Minha testa está encostada no<br />

armário <strong>de</strong> cima e eu me forço a respirar fundo e contar até <strong>de</strong>z. Era tudo que eu podia fazer para não<br />

arrancá-lo <strong>de</strong> cima <strong>de</strong>la e colocá-lo para fora. Com um chute.<br />

Um dos meus irmãos <strong>de</strong>ixou algumas porcarias sobre o balcão que <strong>de</strong>veriam ter sido guardadas,<br />

então eu as enfio no armário e bato com a porta. Me sinto um pouco melhor, mas não muito. Só<br />

conseguia imaginar aquele babaca na frente do estúdio. Ele provavelmente estava com as mãos<br />

<strong>de</strong>ntro da blusa <strong>de</strong>la agora.<br />

Bato outra porta.<br />

A cortina balança atrás <strong>de</strong> mim e sinto uma brisa em minha nuca quando alguém entra no espaço.<br />

— Agora não — resmungo.<br />

— Quando então? — ela atira <strong>de</strong> volta.<br />

Ótimo. Foi ela quem veio atrás <strong>de</strong> mim. Sabia que era ela. Ninguém mais fazia com que os pelos<br />

nos meus braços se levantassem ou me provocava malditos arrepios. Para não mencionar que o<br />

perfume que ela usa chega em mim antes da sua voz. Ele inva<strong>de</strong> a sala, vem até meu nariz e envolve<br />

meu coração. Abaixo a cabeça e cerro os <strong>de</strong>ntes.<br />

— Vá embora, Friday — falo.<br />

— Você tem um cliente te esperando — ela fala, como se eu não soubesse.<br />

— Sei disso.<br />

— Então, o que diabos você está fazendo? — ela pergunta.<br />

Friday é a única que fala assim comigo no estúdio.<br />

Ela me enfrenta e o faz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu primeiro dia aqui. Ela tinha <strong>de</strong>zoito anos e tinha acabado <strong>de</strong><br />

começar na NYU. Parecia perdida quando entrou aqui, e eu a contratei no momento em que ela disse<br />

o que havia <strong>de</strong> errado com a tatuagem na lateral do meu pescoço. Ela explicou como mudaria aquilo<br />

e que qualquer bom artista saberia que estava errado. Pegando uma folha <strong>de</strong> papel, ela fez um esboço<br />

rápido <strong>de</strong> um novo <strong>de</strong>senho.<br />

— Quer um emprego? — perguntei.<br />

— Sim — ela respon<strong>de</strong>u. — Mas só se você consertar essa porra <strong>de</strong> tatuagem. Não quero ter que<br />

olhar para essa monstruosida<strong>de</strong> todos os dias.<br />

Sorri. Merda, a lembrança daquilo ainda me faz sorrir. Logan consertou a tatuagem no mesmo dia


e ela começou a trabalhar para mim. Isso foi há quatro anos. Quatro malditos anos que olho suas<br />

belas pernas e lábios vermelhos. Todo. Dia. Quatro anos observando-a e <strong>de</strong>sejando-a. Quatro anos<br />

cobiçando Friday. Quatro anos em que ela me <strong>de</strong>ixava louco.<br />

— Vou terminar em um minuto — falo. Suspiro e caio pesadamente em uma ca<strong>de</strong>ira. Essa mulher<br />

me enlouquece.<br />

Ela coloca as mãos nos quadris e me olha.<br />

— Por quê?<br />

— Por que o quê? — Forço-me a olhar para o rosto em vez <strong>de</strong> seus peitos. Ela tem os mais belos<br />

peitos que já vi e olhei para eles por muito tempo para saber.<br />

— Por que está aqui em vez <strong>de</strong> lá fora trabalhando?<br />

Por que eu não podia vê-la se esfregar naquele idiota.<br />

— Já disse, estou fazendo uma pausa. — Olho para ela como quem diz “que merda é essa?”.<br />

— Mas, por quê? — ela pergunta e balança aquele pezinho. Imediatamente aquilo chama minha<br />

atenção para seus pés, pernas e <strong>de</strong>pois... Deus. Passo a mão pelo rosto. — Por que, <strong>Paul</strong>?<br />

— Quem é o babaca? — pergunto, em vez <strong>de</strong> lhe dizer como estou me sentindo.<br />

— Quem é babaca? — Ela ainda está com as mãos nos quadris.<br />

— Aquele que estava com a língua na sua garganta. — Olho para ela. Mas ela não recua. Ela<br />

nunca recua.<br />

— O nome <strong>de</strong>le é Garrett — ela murmura. De repente, parece muito interessada em olhar para os<br />

imãs na gela<strong>de</strong>ira.<br />

— Garrett é um idiota. Diga a ele para manter o pau <strong>de</strong>ntro das calças da próxima vez que vier ao<br />

meu estúdio.<br />

Ela suspira e aponta o <strong>de</strong>do para mim. Tenho certeza <strong>de</strong> que ela está prestes a me insultar.<br />

— Você não transou com alguém na semana passada, Friday? — <strong>de</strong>ixo escapar. Quero engolir<br />

minhas palavras imediatamente, porque elas fazem com que o ar entre nós fique espesso, como se<br />

uma bomba estivesse prestes a explodir.<br />

— O quê? — ela pergunta. Sua voz soa baixa.<br />

— Semana passada, você saiu para almoçar com um cara diferente. — Resmungo para mim<br />

mesmo e me levanto, fingindo limpar o balcão.<br />

Ela pensa a respeito.<br />

— Está falando <strong>de</strong> Cody?<br />

— Quantos são?<br />

Ela pisca várias vezes. Que porra é essa? Friday nunca chora. Nunca. Dou um passo em direção a<br />

ela, que dá um passo para trás, erguendo a mão como se fosse empurrar o ar ao meu redor.<br />

— Como você se atreve? — ela murmura. Uma lágrima cai sobre seus cílios e ela a enxuga,<br />

olhando para a mão molhada como se não soubesse que diabos é uma lágrima.<br />

— Friday — falo. Dou um passo em sua direção novamente. Suavizo minha voz porque não faço<br />

i<strong>de</strong>ia do que fazer. Nunca vi essa Friday antes. Só conheço aquela que é capaz <strong>de</strong> comer minhas<br />

bolas no almoço. Caramba, ela me faria comer minhas próprias bolas se eu a irritasse o suficiente. E<br />

ainda me faria gostar. Quatro anos e nunca a vi <strong>de</strong>rramar uma lágrima.<br />

Ela se vira e corre para o banheiro, batendo a porta. Me inclino contra a porta e tento escutar<br />

alguma coisa, mas o barulho do ventilador não permite. Bato. Ela não respon<strong>de</strong>.<br />

— Droga — resmungo. Encosto a testa contra a porta.


— Deixe-a em paz — Ouço atrás <strong>de</strong> mim.<br />

Eu me viro, pois Logan está falando.<br />

— Não posso — falo para ele. Bato novamente, mas ela não respon<strong>de</strong>.<br />

— Deixe-a sozinha — ele fala novamente. Sei que está chateado. — Você tem um cliente. — Ele<br />

acena em direção ao cara como se ele fosse o apresentador da Roda da Fortuna. — Trabalho a fazer.<br />

Então, acho que você <strong>de</strong>ve ir.<br />

Suspiro e olho para o cliente.<br />

— Só um momento — falo.<br />

— Sem pressa — ele respon<strong>de</strong> com um sorriso. Aparentemente, ele está adorando o show.<br />

Puxo meu chaveiro do bolso e encaixo a chave na fechadura. Hesito por tempo suficiente para<br />

Logan notar.<br />

— Você não <strong>de</strong>veria — ele avisa.<br />

Sei que não, mas vou.<br />

Viro a chave e entro no cômodo. Encontro Friday lavando o rosto.<br />

— Que merda é essa, <strong>Paul</strong>? — ela reclama. Virando para o espelho, limpa a maquiagem <strong>de</strong>baixo<br />

dos olhos. Ela me olha através espelho. — Saia.<br />

Fecho a porta atrás <strong>de</strong> mim e me inclino contra ela.<br />

— Por que você está chorando?<br />

— Não sei — ela resmunga, mas outra lágrima <strong>de</strong>sliza por sua bochecha. — Hormônios do<br />

caralho — ela fala, enquanto enxuga os olhos.<br />

Tudo isso por que está menstruada? Tenho certeza <strong>de</strong> que não <strong>de</strong>vo falar isso em voz alta.<br />

— Oh — Opto em dizer.<br />

Ela se vira para mim e encosta o quadril na pia. Cruza os braços sob os seios, o que os empurra e<br />

faz com que pareçam pequenos travesseiros sobre a parte superior do vestido <strong>de</strong>cotado que ela está<br />

usando. Meu Deus. Olho para seu rosto. Ela sorri para mim. Gosto muito mais da Friday sorri<strong>de</strong>nte<br />

do que daquela que ficou chorando. Não sei o que fazer com lágrimas. Não as <strong>de</strong>la.<br />

— Não quis ferir seus sentimentos — <strong>de</strong>ixo escapar enquanto ela olha para mim.<br />

— Sim, você quis.<br />

— Não, não quis.<br />

— Sim, você quis.<br />

— Não me fo<strong>de</strong>, Friday — resmungo. Passo a mão pelo rosto e rosno para mim mesmo.<br />

Ela se vira para o espelho e começa a passar o batom.<br />

— Tentei fazer isso, mas você não quis — ela fala, fazendo um bico e mandando beijos para o<br />

espelho. O movimento vai direto para o meu pau. — Então, Sr. Ciumento, não venha me dizer com<br />

quem posso ou não dormir. — Ela olha diretamente nos meus olhos pelo espelho. — Posso dormir<br />

com Garrett. Posso dormir com Cody. — Ela balança as mãos. — Caramba, posso dormir com os<br />

dois ao mesmo tempo se eu quiser. — Ela olha para mim. — E você não po<strong>de</strong> falar nada a respeito.<br />

— Ela anda em direção a mim. — Simplesmente porque não quis. — Ela aponta para a frente do seu<br />

corpo. — Você disse não a tudo isso, então, não po<strong>de</strong> começar a opinar.<br />

— Eu não disse não — murmuro.<br />

— Você me beijou e, em seguida, se arrepen<strong>de</strong>u! — ela grita.<br />

Certo, gosto <strong>de</strong> Friday gritando. Muito mais do que Friday chorando.<br />

— Não me arrependi! — Apoio a palma da mão contra a pare<strong>de</strong>, mas ela apenas olha para minha


mão, sorri e revira os olhos. — Eu só... <strong>de</strong>ixa pra lá!<br />

— Só o quê? — pergunta.<br />

— Deixa pra lá. Já passou.<br />

— Sim — ela fala, fazendo um estalar com os lábios na letra P. — Passou. Terminou. — Ela<br />

balança as mãos. — Então você não tem que agir como um homem das cavernas quando alguém me<br />

beija.<br />

— Eu só... — Balanço a cabeça. — Precisava cuidar <strong>de</strong> algo.<br />

— Não quer dizer alguém? — Ela sorri e balança a cabeça. — Era <strong>de</strong> Kelly que você precisava<br />

cuidar? Deus sabe que ela precisa gozar mais do que eu.<br />

Ela acabou <strong>de</strong> dizer gozar? Balanço a cabeça, tentando me livrar dos pensamentos. Eles não me<br />

levarão a lugar algum.<br />

Friday tolera a mãe da minha filha, mas não acho que já gostou realmente <strong>de</strong>la.<br />

— Na verda<strong>de</strong>, precisei mesmo cuidar das coisas com Kelly — falo. Também posso abrir o jogo.<br />

Friday chorou, pelo amor <strong>de</strong> Deus.<br />

Ela respira pesadamente.<br />

— Você me beijou e <strong>de</strong>pois foi embora para ficar com Kelly?<br />

Sua voz é baixa. Ela está... está o quê? Magoada?<br />

— Não, não fui embora e fiquei com Kelly. Fui embora e terminei com Kelly. — Ando em sua<br />

direção até que esteja tão perto que precise levantar a cabeça para olhar para o meu rosto. — Tive<br />

que ir até lá para dizer que te beijei e que você balançou a porra do meu mundo.<br />

Ela congela, então tenho a chance <strong>de</strong> colocar meu braço ao seu redor, puxando-a contra mim.<br />

— O quê? — ela pergunta, virando o rosto na direção do meu.<br />

— Não durmo com Kelly <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes <strong>de</strong> te beijar. Não quero dormir com ela. Você entrou na<br />

porra da minha cabeça e não consigo te tirar <strong>de</strong> lá. Então, fui embora e terminei com Kelly.<br />

Definitivamente.<br />

Ela pisca os olhos castanhos para mim. Pisca. Pisca.<br />

— E então voltei para te ver, mas você estava chateada. Você não me <strong>de</strong>ixou entrar. Disse “<strong>de</strong><br />

jeito nenhum seu filho da puta estúpido”. E me mandou ir para casa. Eu fui. Sozinho.<br />

Pisca. Pisca.<br />

— Kelly e eu não estávamos namorando. Éramos apenas amigos com benefícios. Ou pais com<br />

benefícios. Tanto faz. Agora, somos apenas os pais <strong>de</strong> Hayley.<br />

Pisca. Pisca.<br />

— Fui até lá e disse a ela que não po<strong>de</strong>ríamos mais fazer isso, e ela compreen<strong>de</strong>u.<br />

— Você disse a ela? — ela sussurra. — Que você... o quê? O que você disse?<br />

— Que não consigo parar <strong>de</strong> pensar em você. — Afasto seu cabelo da testa. Beijei Friday uma<br />

vez, quando fui à casa <strong>de</strong>la e ela me convidou para entrar. Nós dois sabíamos o que ela estava<br />

oferecendo. Mas acho que nunca a segurei em meus braços. Gosto disso. Ela coloca as palmas das<br />

mãos sobre meu peito como se precisasse, para se firmar.<br />

— Sinto uma coisa por você — admito. Estremeço por <strong>de</strong>ntro porque soa tão sem graça.<br />

— Uma coisa?<br />

— Uma gran<strong>de</strong> coisa.<br />

Ela baixa o olhar.<br />

— Não essa coisa. — Porém, agora que ela o está encarando, ele fica pronto para receber sua


atenção. Levanto seu queixo. — Mas... — falo.<br />

— Mas o quê?<br />

— Então você apareceu com o primeiro idiota. Depois, com o outro idiota. E eu havia mudado<br />

toda a minha vida por causa da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> te encaixar nela. Mas você seguiu em frente.<br />

Rapidamente. — Passo meus <strong>de</strong>dos para cima e para baixo em seus braços, sentindo-os arrepiar. Ela<br />

treme. — Então, sim, estou puto. Sinto muito.<br />

— Não parece sentir muito.<br />

— Não estou mesmo.<br />

Ela ri e o som vai direto para o meu coração.<br />

— Estou muito atrasado? — pergunto. Espero, com o coração na garganta.<br />

Ela dá um passo para trás, afastando-se <strong>de</strong> mim.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela fala. Sua voz falha. — Sinto muito.<br />

Não preciso ouvir mais nada. Saio, pego meu equipamento e volto a trabalhar. Ouço-a se mover<br />

pela loja e olho para ela <strong>de</strong> vez em quando, mas ela se mantém ocupada com os clientes, <strong>de</strong>senha<br />

tatuagens e me ignora. Não olha na minha direção. Nenhuma vez. A noite toda. E, na hora <strong>de</strong> fechar,<br />

Logan se oferece para acompanhá-la até sua casa. Eu <strong>de</strong>ixo.


F R I D A Y<br />

N<br />

ão dormi a noite passada. Só me joguei na cama, revirei e pensei sobre o que <strong>Paul</strong> havia me dito.<br />

Basicamente me perguntou se eu sentia algo por ele. Sinto muitas coisas por ele. Algumas são mais<br />

fáceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir que outras.<br />

Às vezes, ele me <strong>de</strong>ixa pra baixo, principalmente quando está <strong>de</strong> mau humor. Outras, me faz rir<br />

até minha barriga doer. E a maneira como ama sua família... chega a fazer doer meu coração. <strong>Os</strong><br />

<strong>Reed</strong> juntos personificam tudo o que eu queria ter em uma família. Vendo <strong>Paul</strong> com a filha, quase<br />

<strong>de</strong>rreto como uma poça no chão, pois sei que não há nada que o faria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> amar Hayley. Ela<br />

podia dançar nua na rua, usar drogas, álcool ou até mesmo se envolver com a turma errada. Certo, ele<br />

torceria o pescoço <strong>de</strong>la, mas ainda a amaria. Ela po<strong>de</strong>ria até mesmo ficar grávida aos quinze anos e,<br />

ainda assim, ele a amaria. <strong>Paul</strong> daria apoio a ela, não importa o que acontecesse. Isso é algo que<br />

nunca tive.<br />

Entro no estúdio e estremeço ao ouvir o sino acima da porta. <strong>Paul</strong> sai dos fundos da loja, secando<br />

as mãos em uma toalha e para subitamente. Ele olha ao redor, sem me encarar.<br />

— Dia — ele murmura.<br />

— Bom dia — respondo. Jogo a bolsa atrás do balcão e ajeito a saia. <strong>Paul</strong> olha para minhas<br />

pernas, mas <strong>de</strong>svia o olhar rapidamente. Fico feliz que ele esteja sozinho aqui, porque realmente<br />

precisamos conversar.<br />

Ele se vira para voltar para os fundos do estúdio, mas eu o chamo.<br />

— <strong>Paul</strong>. — Ele para e vejo seus ombros tensos.<br />

Ele respon<strong>de</strong> sem olhar para mim.<br />

— O quê? — Suspira.<br />

Vou até ele e toco suas costas. Ele fica ainda mais tenso, seus músculos retesando sob meus<br />

<strong>de</strong>dos.<br />

— Sinto muito — falo. — Por favor, não fique com raiva <strong>de</strong> mim.<br />

— Não estou com raiva —resmunga.<br />

Forço uma risada, mas não há alegria no som.<br />

— Você está muito irritado.<br />

Ele se vira e olha para mim.<br />

— Estou com ciúmes — ele fala. — E sim, isso me <strong>de</strong>ixa puto.<br />

— Você não tem porque sentir ciúmes — falo.<br />

— Mantenha seus namorados longe daqui e não vou sentir.


— Eles não são meus namorados.<br />

Ele rosna.<br />

— Não quero nem saber o que são. — Ele ergue a mão para me calar quando abro a boca. —<br />

Cale-se — ele fala. — Nem toque no assunto. Não quero discutir sobre isso.<br />

Mordisco meu lábio para não falar e brinco com o piercing com a língua. Seu olhar se fixa ali.<br />

Forço minha língua para <strong>de</strong>ntro da boca.<br />

Remexo na barra do vestido.<br />

— Você realmente terminou as coisas com Kelly? — pergunto baixinho. Minha voz é pouco mais<br />

que um sussurro, mas sei que ele me ouve, porque respira fundo.<br />

— Sim — ele fala. —, terminei.<br />

— Então agora vai voltar? — Minhas bochechas estão tão vermelhas que <strong>de</strong>vo parecer uma<br />

palhaça.<br />

— Voltar para on<strong>de</strong>?<br />

— Para Kelly.<br />

— Não, isso acabou. Deveria ter terminado há muito tempo. Só foi mais fácil <strong>de</strong>ixar rolar.<br />

— Ah. E ela aceitou bem?<br />

Fui atrás <strong>de</strong>le até a sala dos fundos e ele se ocupou guardando suprimentos <strong>de</strong> tinta no armário.<br />

— Ela vai se casar, então sim, aceitou bem.<br />

— Ela está noiva? — Que porra é essa?<br />

— Sim.<br />

— Você sabia?<br />

— Sim.<br />

— Está triste?<br />

— Não.<br />

— Você vai respon<strong>de</strong>r com mais <strong>de</strong> uma palavra?<br />

— Quando você me perguntar algo que seja remotamente da sua conta, respondo. — Ele me olha<br />

por cima do ombro.<br />

— Por quanto tempo você vai agir como um idiota?<br />

— Pelo tempo que for preciso, até que você me <strong>de</strong>ixe em paz com relação a Kelly. — Ele sorri<br />

para mim. — Pare <strong>de</strong> ser tão intrometida. — Seu sorriso falso <strong>de</strong>saparece e ele me olha<br />

ameaçadoramente. — Você nem gosta <strong>de</strong>la.<br />

— Gosto, sim — protesto.<br />

— Não gosta, não.<br />

— Sim, eu gosto.<br />

— Não sou estúpido, Friday. Você fica muda sempre que ela vem aqui.<br />

Sento-me em frente a ele, em uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodinhas. Minha saia sobe e seus olhos pousam em<br />

minhas coxas, mas não me importo. Estou usando meias arrastão. Ele passa a mão pelo cabelo loiro e<br />

o puxa quando chega à ponta. Então fecha os olhos e suspira.<br />

— Não <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong>la — falo.<br />

— Hum-hum — ele grunhe.<br />

— Você contou a ela sobre o beijo.<br />

— Sim.<br />

— Com <strong>de</strong>talhes?


— Não.<br />

— Por que não?<br />

— Não sei como falar sobre isso.<br />

— O que quer dizer? — Estou tão confusa.<br />

— Temos mesmo que falar sobre esse assunto?<br />

— Sim.<br />

— Por quanto tempo?<br />

— Até terminarmos com isso.<br />

— Terminei agora.<br />

— Vá se fo<strong>de</strong>r.<br />

Ele ri. Finalmente.<br />

— Vá se fo<strong>de</strong>r — ele fala. — Olha, não queria estragar tudo. Vamos voltar a ser como antes.<br />

— Antes do quê?<br />

— Antes <strong>de</strong> eu te beijar.<br />

— Se bem me lembro, eu te beijei.<br />

Ele sorri.<br />

— Sim, tem razão.<br />

— Achei que eu tinha cometido um erro, mas no final das contas, me enganei. — Encolho os<br />

ombros.<br />

— Friday — ele rosna, mas pelo menos está rindo agora.<br />

— O quê?<br />

— Você não vai facilitar as coisas, não é?<br />

— Provavelmente não.<br />

Ele volta a mexer na caixa e guardar as tintas.<br />

— Então, o que você disse a Kelly? — pergunto baixinho.<br />

— Disse que não podia mais transar com ela.<br />

— Era só isso que vocês tinham? Caralho.<br />

Ele olha para minha boca e não afasta o olhar até que começo a me contorcer na ca<strong>de</strong>ira.<br />

— O quê? — pergunto.<br />

— Fico louco quando você fala sacanagem. Deveria fazer isso mais vezes. — Ele sorri para<br />

mim.<br />

— Como se você pu<strong>de</strong>sse me fazer parar — respondo. Todo mundo sabe que tenho um<br />

vocabulário peculiar. Minha mãe me chamava <strong>de</strong> boca suja. Quando estou perto da filha <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> ou<br />

dos filhos <strong>de</strong> Matt, tenho que ficar muito atenta para não usar uma linguagem ina<strong>de</strong>quada.<br />

Ele revira os olhos.<br />

— Então... — falo muito <strong>de</strong>vagar, esticando a palavra.<br />

Ele arqueia uma sobrancelha.<br />

— Então?<br />

— Então, sobre transar com Kelly.<br />

Ele bate com uma lata <strong>de</strong> tinta.<br />

— Não quero falar sobre transar com Kelly.<br />

— Era transar com Kelly ou fazer amor com Kelly? — Estremeço, pois sei que soa estúpido. —<br />

É uma pergunta idiota — murmuro.


— Não. — Ele balança a cabeça. — É uma ótima pergunta. Vai matar sua curiosida<strong>de</strong>. Era fácil.<br />

Você se acostuma a uma pessoa, pois sabe o que ela gosta e como fazer para ela chegar lá. E viceversa.<br />

— Ele dá <strong>de</strong> ombros. — Era fácil.<br />

— Você ainda a ama?<br />

— Não.<br />

— Como você sabe?<br />

De repente, ele segura a beirada da minha ca<strong>de</strong>ira, fica <strong>de</strong> joelhos e a puxa em sua direção. Com<br />

uma mão em cada joelho, ele toca minhas coxas, afastando-as e se aproxima, até que estamos peito<br />

contra peito. Minha respiração falha. Ele está a centímetros do meu rosto quando fala. Sua respiração<br />

se torna a minha.<br />

— Porque você é tudo que posso pensar. Acordo com você na cabeça e durmo sonhando com<br />

você. Não estaria tendo esses pensamentos intensos a seu respeito se estivesse apaixonado por<br />

qualquer outra pessoa. Não sou esse tipo <strong>de</strong> cara. — Ele beija a ponta do meu nariz. — Sei que você<br />

já sabe disso. Sou um cara sério, Friday. E sou leal.<br />

— Quero te dizer que sinto o mesmo — falo. Fecho os olhos e ele me assusta quando beija<br />

<strong>de</strong>licadamente minhas pálpebras.<br />

— O que está te impedindo?<br />

— Aquele cara que estava comigo ontem. — Coloco a mão em seu peito para afastá-lo, mas não<br />

quero que ele vá a qualquer lugar.<br />

Ele se inclina para trás, apoiando-se nos calcanhares, mas <strong>de</strong>ixa as mãos sobre meus joelhos.<br />

Fecho as pernas, porque sem ele lá, me sinto... vazia.<br />

— Ele é seu namorado?<br />

— Não.<br />

— Então por que ele estava te beijando?<br />

— Queria <strong>de</strong>ixá-lo com ciúmes — <strong>de</strong>ixo escapar. Cubro o rosto com a mão porque estou<br />

envergonhada em admitir isso.<br />

— Bem, merda. Funcionou.<br />

Por que isso não me fez ficar satisfeita?<br />

— Achei que você tinha me beijado e ido para cama com Kelly — admito.<br />

— Entendo que você tenha pensado isso.<br />

— Mas está terminado?<br />

— Completamente. — Ele balança as mãos. — Quer jantar comigo hoje à noite? — ele pergunta,<br />

levando meus <strong>de</strong>dos até seus lábios e beijando minha mão. Ele fica lá por tempo suficiente para que<br />

seu hálito quente envolva meu braço e <strong>de</strong>sperte o <strong>de</strong>sejo diretamente nas minhas partes femininas.<br />

— Hum, bem — começo.<br />

— E aí? — ele pergunta.<br />

— Cody e Garrett — falo. Nem sei como contar esta parte.<br />

— O cara <strong>de</strong> ontem e o da semana passada?<br />

— Sim.<br />

— O que eles são seus?<br />

— Bem — falo. Fecho os olhos e endureço o coração para a próxima parte. — Um <strong>de</strong>les po<strong>de</strong> ter<br />

me engravidado. — Abro a boca para contar sobre a barriga <strong>de</strong> aluguel, mas ele me interrompe antes<br />

que qualquer som possa sair dos meus lábios.


— Caralho! — ele xinga e me afasta. Minha ca<strong>de</strong>ira rola para trás, até que ouço uma batida na<br />

pare<strong>de</strong>. Ele fica <strong>de</strong> pé.<br />

— Não sabia que você sentia algo por mim! — grito.<br />

O sino da porta soa e <strong>Paul</strong> grita:<br />

— Vá embora! — Com toda a força dos seus pulmões. Vejo Sam voltar, com Logan logo atrás<br />

<strong>de</strong>le. Sam está explicando a Logan porque eles precisam partir quando acabaram <strong>de</strong> chegar. Pelo<br />

menos, está tentando. Provavelmente não faz i<strong>de</strong>ia do que está acontecendo.<br />

— Só vou saber se o resultado é positivo em nove dias! — grito.<br />

— Você me <strong>de</strong>ixou abrir a porra do coração enquanto estava transando com esses dois caras?<br />

Meu estômago dá um nó.<br />

— Você pensa muito bem a meu respeito, né? — pergunto.<br />

— O que mais eu <strong>de</strong>veria pensar? — ele grita. <strong>Paul</strong> nunca grita. Ele tem sempre aquele jeito<br />

tranquilo <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r.<br />

— Nada! — grito <strong>de</strong> volta. — Você não <strong>de</strong>veria pensar nada!<br />

Levanto-me e aliso meu vestido. <strong>Paul</strong> apenas me olha. Em seguida, olha para minha barriga.<br />

Coloco uma mão protetora sobre ela.<br />

— Não sabia que você tinha esse tipo <strong>de</strong> sentimentos por mim — falo.<br />

— Gostava mais quando achava que você era lésbica — ele fala.<br />

— É — atiro <strong>de</strong> volta. —, eu também. — Balanço o polegar em direção à porta. — É melhor<br />

você <strong>de</strong>ixar seus irmãos entrarem. — Eles estão pressionados contra a janela da frente com as mãos<br />

ao redor dos olhos para conseguirem enxergar. Inclusive Matt, que <strong>de</strong>ve ter aparecido enquanto<br />

estávamos gritando.<br />

— Você vai <strong>de</strong>ixá-los entrar — ele fala e vai para os fundos do estúdio.


P A U L<br />

E<br />

ra bem mais fácil cobiçar Friday quando eu achava que ela gostava <strong>de</strong> comer boceta tanto quanto<br />

eu. Dava para colocar meu braço ao redor <strong>de</strong>la e fingir que seu perfume não ia direto para o meu pau,<br />

já que eu não podia fazer qualquer coisa para lidar com essa atração. Mas agora, tudo o que posso<br />

pensar é em colocar meu braço ao seu redor e me sentir endurecer. E em beijá-la novamente. Depois,<br />

em puxá-la para cima <strong>de</strong> mim e a <strong>de</strong>ixar me montar até que nós dois estejamos suados e satisfeitos.<br />

Merda, merda, merda.<br />

Tenho <strong>de</strong>do podre. E, aparentemente, um timing ainda pior.<br />

Friday po<strong>de</strong> estar grávida. Isso significa que ela está dormindo com um ou com outro. Quem<br />

sabe, até com os dois palhaços. Ela anda se divertindo enquanto eu estive usando minha mão para<br />

aliviar os pensamentos sobre ela.<br />

Pego uma garrafa <strong>de</strong> água da gela<strong>de</strong>ira e a inclino, fechando os olhos enquanto bebo gole após<br />

gole.<br />

A cortina da salinha dos fundos — que eu havia fechado — faz um som baixinho, e eu continuo<br />

bebendo água sem abrir os olhos. Sei que não é ela, pois minha pele não arrepia. Quando abro os<br />

olhos, me <strong>de</strong>paro com Matt encostado no balcão com os braços cruzados. Ele tem um sorriso no rosto<br />

que me <strong>de</strong>ixa puto.<br />

— Que merda você está fazendo? — ele pergunta.<br />

Levanto a garrafa <strong>de</strong> água.<br />

— Bebendo água mineral, idiota. Por quê?<br />

— Você sabe que não estou falando disso. — Ele bate o pé no chão.<br />

— Não é da sua conta — murmuro. O<strong>de</strong>io quando Matt faz isso. Ele é todo calmo e quieto.<br />

Praticamente o oposto <strong>de</strong> mim em todos os sentidos, exceto na aparência. Apesar <strong>de</strong> que, até nisso<br />

somos diferentes. Ele é menos musculoso e mais magro. Mas é forte. E eu... não sou nem magro nem<br />

pouco musculoso.<br />

Ele aponta para a frente da loja.<br />

— Friday é da conta <strong>de</strong> todos nós — ele sussurra. — Ela é da família, <strong>Paul</strong>.<br />

— Eu sei. — Suspiro. — Outra razão para manter as coisas como estão. — Jogo minha garrafa<br />

na lata do lixo.<br />

— Bem, você já fo<strong>de</strong>u o clima — ele fala. — O que vai fazer a esse respeito?<br />

— Nada — respondo. — Não vou fazer nada.<br />

Friday é parte do nosso círculo há quatro anos. Mas durante a maior parte <strong>de</strong>sse tempo, achei que


ela era lésbica. A partir do momento que soube que não era é que o problema começou.<br />

— Não parecia que era nada quando chegamos. Você estava beijando suas pálpebras e ela não<br />

parecia querer afastá-lo.<br />

— Ela não está na posição certa para o que quero — falo. Não posso falar sobre sua gravi<strong>de</strong>z. A<br />

história não é minha para contar.<br />

Ele sorri.<br />

— Bem, qual a posição que você quer que ela esteja?<br />

— Cale a boca — resmungo.<br />

— Se ela está na posição errada, coloque-a na porra da posição certa. — Ele ergue as mãos. —<br />

Ou vire-a <strong>de</strong> cabeça para baixo, se for preciso.<br />

— Não é tão fácil.<br />

Seu olhar suaviza.<br />

— Nada que vale a pena é.<br />

Se alguém sabe disso, esse alguém é Matt. Ele lutou contra um câncer e achou que jamais casaria<br />

ou teria filhos. Agora, tem três e gêmeos a caminho. Lutou e conquistou o que queria.<br />

— Ela vale a pena? — Matt pergunta.<br />

— Não sei. — Balanço a cabeça.<br />

— Quer saber?<br />

— Não sei. — Passo a mão pelo rosto.<br />

— Nunca consi<strong>de</strong>rei você um <strong>de</strong>sistente.<br />

Solto um longo suspiro.<br />

— Não <strong>de</strong>sisto facilmente, mas essa luta po<strong>de</strong> ser mais do que quero assumir.<br />

— Ah, droga, você sabia que ela tinha bagagem. Muitas. Você disse que queria saber tudo sobre<br />

ela. Descubra o porquê ela não tem família, está sozinha em Nova York e está morando no quarto <strong>de</strong><br />

hóspe<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Pete até amanhã.<br />

Viro-me para encará-lo.<br />

— Ela está morando com Pete e Reagan? — Não sabia nada disso. — Por quê?<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Ela teve que sair do dormitório após a graduação. Eles tinham um quarto vazio. Mas os pais<br />

<strong>de</strong> Reagan vão ficar com eles por duas semanas, <strong>de</strong> modo que ela vai ter que ir para outro lugar.<br />

— On<strong>de</strong>? — pergunto, rapidamente.<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Isso importa? — Mas está sorrindo.<br />

Foda-se, sim, isso é importante.<br />

— Será que ela vai ficar com um dos babacas?<br />

— Que babacas? — Matt coça a cabeça.<br />

— Não importa — respondo. A esperança me toma. Não <strong>de</strong>veria permitir, mas não consigo<br />

controlar. Pego um pedaço <strong>de</strong> papel e escrevo nele com um marcador permanente:<br />

QUARTO PARA ALUGAR<br />

PREÇO NEGOCIÁVEL<br />

SOMENTE GATINHA BONITA,


COM TEMPERAMENTO EXPLOSIVO.<br />

DE PREFERÊNCIA, QUE SE CHAME FRIDAY<br />

SAIO DA SALA e vou para o quadro <strong>de</strong> avisos. Prego uma tachinha na “propaganda” e vou embora.<br />

Ouço uma risada atrás <strong>de</strong> mim e me viro para sorrir para Logan.<br />

“Você é um b-a-b-a-c-a”, ele sinaliza, soletrando com os <strong>de</strong>dos a última palavra, porque não há<br />

um sinal para algo tão estúpido.<br />

“Eu sei”, respondo, também por sinais.<br />

Ele parece preocupado comigo, mas não me importo. Não posso chegar on<strong>de</strong> quero se não <strong>de</strong>r o<br />

primeiro passo. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> ela estar grávida ou não, precisa <strong>de</strong> um lugar para ficar e<br />

tenho dois quartos vazios. E ela é da família, pelo amor <strong>de</strong> Cristo.<br />

Nunca viraria as costas para um membro da família.<br />

Assobio baixinho enquanto vou para o meu escritório. Tenho alguns documentos para colocar em<br />

or<strong>de</strong>m antes que meu primeiro cliente chegue. Preciso dar a Friday tempo para ver meu anúncio.


F R I D A Y<br />

E<br />

stou trabalhando em uma tatuagem particularmente complicada para um cliente e não consigo<br />

acertar. Viro o <strong>de</strong>senho para Logan dar sua opinião.<br />

— O que acha? — Olho para ele. Ele aperta os lábios e balança a cabeça. — O quê? —<br />

pergunto, levantando as mãos. — Use as palavras.<br />

Em vez disso, ele pega meu lápis e gira o papel em sua direção. Desenha nele por um segundo e o<br />

empurra para mim. Entregando o lápis, ele sorri.<br />

— Te o<strong>de</strong>io — falo quando vejo que ele acabou <strong>de</strong> adicionar duas linhas e <strong>de</strong>ixou meu <strong>de</strong>senho<br />

perfeito.<br />

Ele faz um barulho e vai para o quadro <strong>de</strong> avisos. Do nada, começa a <strong>de</strong>senhar pequenos<br />

corações nas bordas <strong>de</strong> um papel. Toco seu ombro para que ele olhe para cima.<br />

— O que você está fazendo?<br />

— Adicionando corações — diz ele, como se eu <strong>de</strong>vesse ter adivinhado.<br />

Bato novamente nele para que olhe para mim.<br />

— Por que está fazendo isso?<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Precisava <strong>de</strong> corações.<br />

— O que precisava corações? — pergunto. Me aproximo para que possa ler o anúncio.<br />

Ouço minhas próprias batidas do coração.<br />

— Não precisa <strong>de</strong> corações — falo. Precisa <strong>de</strong> preservativos. Bem, isto é, se eu não estiver<br />

grávida. Olho para Logan. — Ele não sabe o que está fazendo, não é? — pergunto.<br />

Ele aperta meu ombro.<br />

— Vá <strong>de</strong>vagar com ele, tá?<br />

— Por quê?<br />

— Ele <strong>de</strong>ixou Kelly por sua causa, Friday. — Olha para mim. — Como se ela fosse um peru frio.<br />

Ele vem trepando com ela há anos. E terminou tudo.<br />

— Como você sabe disso? — pergunto.<br />

— Nós conversamos. — Ele aponta na direção <strong>de</strong> seus irmãos, que estão todos parados ao redor<br />

da sala como móveis. Móveis realmente lindos e <strong>de</strong> ótima aparência.<br />

— Ah, claro — falo. Puxo a tachinha do anúncio e respiro fundo.<br />

— Vá <strong>de</strong>vagar com ele — diz ele novamente.<br />

— Foda-se — respondo.


Ele sorri e encolhe os ombros.<br />

— Não posso dizer que não tentei. — Ele segura meus ombros e me vira na direção do escritório<br />

<strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. — Vá em frente, Friday. — Me dá um tapa na bunda enquanto Pete e Sam batem na palma da<br />

mão um do outro em comemoração.<br />

Vou até os fundos do estúdio e bato na porta <strong>de</strong> seu escritório, que está fechada. Isso,<br />

normalmente, significa que ele quer ficar sozinho.<br />

— O que é? — pergunta.<br />

Abro a porta e coloco a cabeça para <strong>de</strong>ntro.<br />

— Você sempre aten<strong>de</strong> a porta assim? — pergunto.<br />

— Sim — ele respon<strong>de</strong>. O telefone está preso entre o ombro e a orelha. — O que você quer?<br />

— Está no telefone?<br />

— Em espera, Friday. O que você quer?<br />

Coloco o papel sobre a mesa e o seguro com a palma da mão.<br />

— Que merda é essa?<br />

Ele olha.<br />

— Isso era um anúncio excelente, até que alguém estragou tudo com corações.<br />

Olho para ele.<br />

— Eu meio que gosto dos corações — admito.<br />

— Da próxima vez usarei corações. — Ele sorri.<br />

— Você está à procura <strong>de</strong> alguém para dividir o apartamento? — pergunto. Brinco com o<br />

piercing do meu lábio, até ver seus olhos encarando o movimento, então, me forço a parar. — Des<strong>de</strong><br />

quando?<br />

— Des<strong>de</strong> que <strong>de</strong>scobri que você está sem-teto — ele fala.<br />

— Não estou sem-teto — protesto.<br />

— On<strong>de</strong> vai morar a partir <strong>de</strong> amanhã? — ele pergunta.<br />

Não tenho certeza quanto a isso, mas ele não precisa saber.<br />

— Cale a boca — respondo.<br />

Ele empurra o papel para mim.<br />

— Tenho um quarto extra. Você precisa <strong>de</strong> um lugar para ficar. Não vamos transformar isso em<br />

algo maior que realmente é, ok?<br />

— Isso é tudo que você espera? — pergunto, odiando como, <strong>de</strong> repente, minha voz parece<br />

tranquila.<br />

— Você po<strong>de</strong> estar grávida, Friday — ele fala. — O que mais posso querer <strong>de</strong> você?<br />

Minha respiração falha. Ele está tão certo. Tenho encarado isso como se fosse a nosso respeito,<br />

mas não é. Esse momento é do bebê. Tenho que protegê-lo por nove meses. E ele sabe a respeito<br />

<strong>de</strong>sse bebê, ainda que não esteja ciente dos <strong>de</strong>talhes.<br />

— Quanto? — pergunto.<br />

— Quanto você po<strong>de</strong> pagar? — ele pergunta.<br />

Ele sabe muito bem quanto dinheiro ganho, já que é ele quem paga. Mas não sabe do que ganho<br />

com as encomendas <strong>de</strong> retratos e outros trabalhos artísticos.<br />

Ele balança a mão no ar.<br />

— Não se preocupe com o custo — diz ele. — Pague o que pu<strong>de</strong>r. O quarto está lá vazio. E se<br />

morar comigo, não terei que me preocupar com o fato <strong>de</strong> você estar sem-teto.


Resmungo.<br />

— Como se você se preocupasse.<br />

Ele franze a testa.<br />

— Eu me preocupo. Me preocupo com você o tempo todo, porra. Mas se você morar comigo, não<br />

vou precisar. Então, tenha pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim e aceite a porra do quarto, caralho.<br />

— Certo.<br />

Ele parece surpreso.<br />

— Certo?<br />

— Sim.<br />

Ele sorri.<br />

— Certo.<br />

— Posso me mudar hoje à noite? — pergunto.<br />

Ele balança a cabeça, leva o telefone <strong>de</strong> volta para a boca e começa a falar. Fecho a porta.<br />

<strong>Os</strong> pais <strong>de</strong> Reagan estão chegando esta noite. Ia para a casa <strong>de</strong> Logan e Emily, mas prefiro não ter<br />

que ouvir as batidas da cama contra a pare<strong>de</strong> a noite toda. Emily está com quase nove meses <strong>de</strong><br />

gravi<strong>de</strong>z e os dois ainda transam como coelhos.<br />

Espere aí. Vou ter que ouvir a cama <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> batendo contra a pare<strong>de</strong>? Merda. Nem pensei nisso.


P A U L<br />

T<br />

ento limpar um pouco a casa, já que sei que Friday está vindo. Jogo fora todas as caixas <strong>de</strong><br />

pizza e coloco lençóis limpos na antiga cama <strong>de</strong> Matt. Seu quarto é bem próximo ao meu e já posso<br />

imaginar que vou passar minhas noites <strong>de</strong>itado na cama fantasiando que ela está nua na <strong>de</strong>la.<br />

— Você está nas mãos <strong>de</strong>la — Sam fala atrás <strong>de</strong> mim.<br />

Me viro e faço uma cara feia para ele.<br />

— Não estou.<br />

— Está, sim. Acho fofo. — Ele sorri para, enquanto se balança no batente da porta como se fosse<br />

um macaco. — Você tem uma queda por ela.<br />

— Claro que não — protesto.<br />

— Ah, você tem uma quedinha por ela — ele rebate.<br />

Não posso <strong>de</strong>ixá-lo me provocar assim, então o persigo pelo antigo quarto <strong>de</strong> Matt, pelo corredor<br />

e até a sala. Ele salta sobre o encosto do sofá e eu passo logo atrás. Pego-o pela cintura e o <strong>de</strong>rrubo<br />

no chão. Ele é magro e rápido. Não me lembro <strong>de</strong> ele ter tanta força como agora, mas consigo<br />

prendê-lo.<br />

Devo estar ficando velho, porque é mais difícil segurá-lo agora do que era antes. Bem mais<br />

difícil. Sam é atleta e tem sido observado por olheiros <strong>de</strong> equipes profissionais. Então, precisa estar<br />

no auge da forma física o tempo todo. Diferente <strong>de</strong> mim. Felizmente, tenho o meu tamanho como<br />

vantagem.<br />

Uma batida soa na porta. Grito:<br />

— Entre! — Mas não solto Sam. Ele resmunga e me empurra, mas me sento em cima <strong>de</strong>le. A<br />

porta se abre e um homem entra, carregando uma caixa. Congelo, porque ele parece familiar.<br />

— Fique longe <strong>de</strong> mim, seu gran<strong>de</strong> filho da puta — Sam protesta. O homem levanta a sobrancelha<br />

para nós e olha para Friday, que está arrastando uma mala.<br />

Solto Sam e ele afasta o cabelo da testa. Está suando. Eu não. Mas não era eu quem estava preso<br />

no chão.<br />

— Parece meu tipo <strong>de</strong> festa — o cara fala. Ele sorri para Friday e eu o o<strong>de</strong>io imediatamente.<br />

Ela revira os olhos para nós e caminha para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa.<br />

— Chegamos muito cedo? — ela pergunta.<br />

— Muito cedo para quê? — respondo. Não gosto do fato <strong>de</strong> que ela trouxe este filho da puta para<br />

a minha casa. Nem um pouco.<br />

— Para me mudar?


Olho <strong>de</strong>la para ele.<br />

— Oi? — pergunto.<br />

Ela aponta para o idiota e <strong>de</strong>pois para mim.<br />

— Garrett, você se lembra <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>? <strong>Paul</strong>, Garrett. A pessoa que estava presa é Sam. Sam é um<br />

maricas, mas não tem como evitar, já que nunca foi amado o suficiente. — Ela ri, e o som me atinge<br />

no estômago.<br />

Garrett estica a mão para apertar a minha. Seguro a <strong>de</strong>le com força o suficiente para que ele<br />

estremeça. Não posso acreditar que ele veio à minha casa.<br />

— É bom vê-lo <strong>de</strong> novo — digo.<br />

— Digo o mesmo. — Ele afasta a mão do meu aperto.<br />

— Por quanto tempo você vai ficar? — <strong>de</strong>ixo escapar. Não consigo evitar. Sou um cara.<br />

Ele sorri e olha para Friday.<br />

— Vamos jantar, certo? — ele pergunta.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Venha e me aju<strong>de</strong> a colocar minhas coisas no lugar — ela fala.<br />

Tenho a sensação <strong>de</strong> que ela está falando com ele, pois ele a segue até o novo quarto e fecha a<br />

porta. Em seguida, ela coloca a cabeça para fora e pergunta:<br />

— Você nos avisa quando a pizza chegar?<br />

Concordo com a cabeça porque não consigo emitir uma palavra, sentindo como se ela tivesse<br />

dado um soco em meu estômago.<br />

— Que merda — Sam grunhe.<br />

— Sim, eu sei.<br />

Caio na minha ca<strong>de</strong>ira do papai e mudo os canais até que outra batida soa na porta.


F R I D A Y<br />

—<br />

C<br />

aramba, ele é muito gato — Garrett sussurra com veemência. — Espere até Cody conhecê-lo.<br />

Vou morrer <strong>de</strong> ciúmes porque ele vai fantasiar sobre seu homem.<br />

Faço uma careta.<br />

— Ele não é meu homem.<br />

Faço um movimento para que ele coloque a mala sobre a cama, abro-a e começo a pendurar<br />

minhas roupas. Não tenho muita coisa, pois não preciso <strong>de</strong> muito. Mas se tem uma coisa que gosto é<br />

roupa. Com meu amor por coisas vintage, na maior parte das vezes compro tudo em lojas <strong>de</strong> segunda<br />

mão. É praticamente tudo o que uso.<br />

— Ah, querida — Garrett diz enquanto se joga em minha cama, apoiando o rosto na mão. — Ele<br />

está caidinho por você.<br />

Continuo pendurando minhas roupas. Garrett pega uma calcinha e a gira com o indicador.<br />

— Alguém tem um lado pervertido.<br />

— Calcinhas não são pervertidas — repreendo.<br />

— Hum-hum — ele murmura e ri. — Aposto que <strong>Paul</strong> é um filho da puta pervertido.<br />

Eu coro.<br />

Ele se senta <strong>de</strong> repente.<br />

— Quando você <strong>de</strong>scobrir, vai me contar todos os <strong>de</strong>talhes? — Ele se parece com um<br />

cachorrinho, sentado e implorando um agrado.<br />

— Cale a boca — falo, mas rio também.<br />

— Então, qual o plano para hoje à noite? — ele pergunta, sério <strong>de</strong> repente.<br />

— Quando Cody chega? — pergunto.<br />

— Ele foi comprar pizza e cerveja e vem direto para cá. Quer que eu pule nele quando ele entrar<br />

pela porta ou <strong>de</strong>vo esperar?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Aja naturalmente. — Não é como se <strong>Paul</strong> não fosse perceber imediatamente que eles são um<br />

casal. Um casal feliz e que está junto há muito tempo.<br />

Alguém bate na porta.<br />

— Entre — falo.<br />

Garrett se senta, apoiando-se no cotovelo quando a porta se abre. Sam enfia a cabeça para<br />

<strong>de</strong>ntro. Ele fecha a cara para Garrett.<br />

— Sua pizza está aqui — diz ele.


— Hora do show — Garrett fala e esfrega as mãos, animado. Ele se levanta e me segue para a<br />

cozinha.<br />

<strong>Paul</strong> está assistindo TV e não se preocupa em levantar. Sento no sofá enquanto Garrett aten<strong>de</strong><br />

Cody. <strong>Os</strong> dois param na porta e sussurram um para o outro por um momento. Cody fecha a cara e<br />

balança a cabeça para Garrett, que se aproxima <strong>de</strong>le, mas Cody se esquiva e caminha em nossa<br />

direção, colocando as pizzas na mesa.<br />

Ele se inclina e me beija na testa.<br />

<strong>Paul</strong> faz um barulho muito parecido com um rosnado. Ele pega o controle remoto e <strong>de</strong>sliga a TV.<br />

— Vou para a cama — diz ele. — Boa noite.<br />

— Não vá — falo. Preciso muito <strong>de</strong> um encontro entre ele e os rapazes, só assim ele vai<br />

enten<strong>de</strong>r.<br />

— Estou cansado — ele respon<strong>de</strong>, levanta e finge se espreguiçar, mostrando um pouco da barriga<br />

sob a camiseta. Garrett faz um barulho e Cody dá uma cotovelada nele.<br />

— Você não conheceu Cody — protesto.<br />

— Não preciso conhecer mais ninguém. — Ele fica bonitinho quando faz beicinho. É só um<br />

pouco irritante.<br />

Cody estica a mão e <strong>Paul</strong> a aceita com relutância. Ele oferece uma cerveja, mas <strong>Paul</strong> balança a<br />

cabeça.<br />

— Não, obrigado. Divirtam-se.<br />

Ele vai para o quarto e fecha a porta.<br />

— Ah, merda.<br />

Garrett fala, com a boca cheia <strong>de</strong> pizza.<br />

— Você <strong>de</strong>veria ir buscá-lo. — Ele balança as sobrancelhas para mim. — Traga-o <strong>de</strong> volta para<br />

que ele conversar com a gente.<br />

Caminho pelo corredor, passando pelo quarto <strong>de</strong> Sam e enfio a cabeça para <strong>de</strong>ntro.<br />

— Tem pizza — falo. Ele acena para mim. Está no telefone.<br />

Bato na porta <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> e ele pergunta:<br />

— O quê?<br />

Abro uma fresta da porta.<br />

— Que porra <strong>de</strong> cumprimento é esse? — pergunto.<br />

— Queria boas-vindas? — ele pergunta. Está <strong>de</strong>itado na cama, jogando uma bola em direção ao<br />

teto.<br />

— Quero que você volte e venha conversar comigo e com os caras.<br />

— Não.<br />

Só vai falar isso?<br />

— Por que não?<br />

— Por que eu <strong>de</strong>veria?<br />

— Por que não?<br />

— Particularmente, não me importo <strong>de</strong> ver você com seus namorados. — Ele continua jogando a<br />

bola.<br />

— Eles não são meus namorados, idiota — rebato e me sento na beirada da cama. — Se você<br />

fosse até a sala e passasse um tempo com eles, perceberia.<br />

Ele senta e se vira para o outro lado da cama.


— Não posso acreditar que você trouxe esses idiotas para a porra da minha casa.<br />

— Dá para fechar a porra da boca antes <strong>de</strong> fazer um estrago ainda maior?<br />

— A casa é minha, posso fazer o que quiser.<br />

Ele soa como uma criança <strong>de</strong> dois anos e me faz rir. Então eu fungo.<br />

— Qual <strong>de</strong>les é o pai do seu bebê? — ele pergunta em voz baixa e joga a bola.<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Po<strong>de</strong> ser qualquer um dos dois.<br />

Ele fica tenso. Posso ver nas linhas do seu corpo. Ele endurece <strong>de</strong> repente.<br />

— Não gosto disso. De jeito nenhum.<br />

— Você não enten<strong>de</strong>. Se fosse lá fora, enten<strong>de</strong>ria.<br />

De repente, passa um braço ao meu redor e me puxa para cima <strong>de</strong>le. Apoio meus cotovelos sobre<br />

seu peito.<br />

— Não gosto da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> você ter transado com eles.<br />

— Não transei com eles — falo. Me mexo como se fosse levantar.<br />

— Estou morto <strong>de</strong> ciúmes, Friday, e não gosto disso. Não gosto nem um pouco. Então vá e faça<br />

sala para eles. Me <strong>de</strong>ixe fora disso.<br />

— Eles são gays — <strong>de</strong>ixo escapar. Eu realmente queria que ele mesmo visse para que pu<strong>de</strong>sse<br />

enten<strong>de</strong>r.<br />

— O quê?<br />

— Eles são um casal. Sou a barriga <strong>de</strong> aluguel. — Levanto minha mão e bato <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira em<br />

sua testa. — Terra para <strong>Paul</strong> — falo. — Ainda está aí?<br />

— Eles são um casal? — ele pergunta em voz baixa.<br />

— Sim.<br />

Seus braços apertam ao redor do meu corpo e ele nos vira, até ficar sobre mim. Afasta meu<br />

cabelo do rosto e faz algo que eu jamais esperaria. Ri. É uma gargalhada profunda, e ele enterra o<br />

rosto em meu pescoço, seu corpo balançando <strong>de</strong> tanto rir.<br />

— Eles são casados — falo. — E queriam um bebê. — Aponto para baixo em direção a minha<br />

barriga. — Não estava usando meu útero para nada, então, disse que eles podiam pegar emprestado.<br />

— Coloco a mão na lateral do seu rosto e faço seus olhos azuis encontrarem os meus. — Agora, dá<br />

para parar <strong>de</strong> ser tão ciumento e vir jantar com a gente?<br />

— Você nunca dormiu com eles? — ele pergunta, olhando em meu rosto como se estivesse<br />

tentando encontrar o significado da vida.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Acho que eles não curtem vaginas — falo. — E eu meio que tenho uma.<br />

Ele fica duro contra minha barriga, a respiração quente contra meus lábios.<br />

— Eu meio que gosto que você tenha uma vagina — ele fala e ri, seu nariz acariciando o meu.<br />

— Bom, faz tanto tempo que ela não é usada que <strong>de</strong>ve estar quebrada.<br />

— Vou consertá-la —fala em voz baixa. Ele é tão intenso que mal posso pensar.<br />

— E po<strong>de</strong> haver um bebê lá <strong>de</strong>ntro.<br />

— Quando você vai saber?<br />

— Daqui nove dias.<br />

— E se você estiver?<br />

— Eles vão ser os homens mais feliz do planeta.


— Como você se sente sobre isso? — Ele parece tão calmo e direto que é quase inquietante.<br />

— É como ter um apartamento vazio na cida<strong>de</strong>. Alguém <strong>de</strong>ve fazer uso <strong>de</strong>le. — Tento rir, mas ele<br />

não me acompanha.<br />

— Você quer filhos? — ele pergunta. — Seus próprios, um dia?<br />

— Não — Não preciso pensar nisso, já sei a resposta. Não quero e nunca vou querer.<br />

— Então acho que <strong>de</strong>veria conhecer os homens que a engravidaram. — Ele ri. —Isso parece tão<br />

errado. — Beija minha bochecha. — Mas tudo o que eu quero fazer é te beijar —fala em voz baixa.<br />

— O que está te impedindo?<br />

— Há cerveja e pizza — ele fala e se levanta, esten<strong>de</strong>ndo a mão para mim. Aceito sua ajuda e<br />

ajeito o vestido, que amassou todo. Ele faz um gesto para que eu o siga para fora do quarto, mas no<br />

último minuto puxa meu cotovelo e me chama. — Friday.<br />

— O quê? — pergunto sem fôlego por ele estar tão perto <strong>de</strong> mim.<br />

— Eu... ah... não sei o que fazer com todos esses sentimentos, totalmente novos, por você — diz<br />

em voz baixa.<br />

— Certo — suspiro em resposta.<br />

— Eles me assustam pra caramba, mas me fazem sentir esperançoso também.<br />

— Por que eu? — pergunto.<br />

— Porque você é você — diz ele, olhando para mim como se eu estivesse louca.<br />

E é aí que resi<strong>de</strong> o problema, <strong>Paul</strong>. Eu sou eu. E isso é tudo que sempre serei. A verda<strong>de</strong>ira<br />

Friday — que ele ainda não conhece —, ele provavelmente nunca a verá, pois faz muito tempo que<br />

nem eu a vejo.


P A U L<br />

N<br />

ão posso acreditar que imaginei que ela tivesse ido para a cama com um <strong>de</strong>sses caras. Estendo<br />

minha mão para cumprimentar Cody. Ele a segura com força e olha em meus olhos.<br />

— Se você a machucar, vai se ver comigo — ele fala em voz baixa para que só eu possa ouvi-lo.<br />

Isso me assusta por um segundo. Não tenho certeza <strong>de</strong> como respon<strong>de</strong>r. Ele não é tão gran<strong>de</strong><br />

como eu, mas fala sério e tenho que respeitá-lo por estar tentando cuidar <strong>de</strong>la.<br />

— Vou manter isso em mente — murmuro, procurando por Friday para que ela venha me salvar<br />

daquele olhar, mas ela está sentada no sofá ao lado <strong>de</strong> Garrett, com a cabeça em seu ombro.<br />

Torço minha mão para puxá-la da <strong>de</strong>le, mas ele a segura firmemente.<br />

— Posso não ser capaz <strong>de</strong> chutar seu traseiro — diz, puxando meu braço até ficarmos cara a<br />

cara. — Mas conheço pessoas — ele continua a dizer.<br />

Certo, agora estou irritado.<br />

— Se encontrar alguém gran<strong>de</strong> o suficiente e houver um motivo justo, vá em frente — falo para<br />

ele. Aperto sua mão com força, até que ele se encolhe, e o solto. Ele dá um passo para trás.<br />

— Agora que terminamos essa conversa — ele fala —, é realmente bom conhecê-lo. — Sorri.<br />

— Digo o mesmo — resmungo. Ainda não consigo acreditar que ele tentou me ameaçar na minha<br />

própria sala <strong>de</strong> estar. Passo a mão pelo cabelo, lançando olhares furtivos em sua direção.<br />

Garrett sorri.<br />

— Por um instante achei que você ia ensiná-lo a dançar — ele fala, com a boca cheia <strong>de</strong> pizza.<br />

<strong>Os</strong> olhos <strong>de</strong> Cody me avaliam <strong>de</strong> cima a baixo.<br />

— Ele parece ser gostar <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> dança.<br />

Friday bufa.<br />

— Cale-se — murmuro para ela, mas não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sorrir ao pegar a cerveja que Garrett<br />

me oferece.<br />

A sala fica em silêncio por um segundo, até que não aguento mais.<br />

— Então vocês a pegaram <strong>de</strong> jeito, hein? — <strong>de</strong>ixo escapar.<br />

Friday fica corada e <strong>de</strong>svia o olhar do meu.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela geme, fechando os olhos com força enquanto estremece.<br />

— Bem, esperamos que sim — Cody fala enquanto se senta ao lado <strong>de</strong> Garrett. Ele segura a mão<br />

do outro rapaz e a coloca sobre o joelho. Eles são tão bonitinhos juntos que que me fazem revirar os<br />

olhos. — Estamos tentando adotar há algum tempo, mas não <strong>de</strong>u certo.<br />

— Quais as chances <strong>de</strong> isso não funcionar? — pergunto. Eu po<strong>de</strong>ria ser contra, certo?


Cody levanta as mãos como se estivesse pesando algo.<br />

— Não temos como saber. Não até a próxima semana.<br />

— Mas as chances são boas? — pergunto.<br />

Eles acenam.<br />

— Espero que funcione.<br />

Eles lançam olhares especulativos para Friday e não consigo evitar <strong>de</strong> me perguntar o que estão<br />

pensando. Vou perguntar a ela mais tar<strong>de</strong>, quando eles forem embora.<br />

Sam sai do quarto e para, olhando para Cody, Garrett e Friday.<br />

— Claro que sim — ele finalmente diz, levantando as mãos como se estivesse orando a Deus e<br />

fala: — Obrigado pelos pequenos milagres. E por tirar <strong>Paul</strong> da sua miséria. — Fico feliz que eles<br />

finalmente contaram.<br />

Engasgo com minha cerveja.<br />

— Você sabia?<br />

— Bem, sim — diz ele. — Se não estivesse olhando para eles através <strong>de</strong>ssa névoa vermelha <strong>de</strong><br />

ciúme que está ao seu redor, teria notado também.<br />

Jogo um guardanapo embolado em sua cabeça, mas ele apenas ri.<br />

A porta se abre e Emily entra na sala. Ela é casada com meu irmão Logan, e está com quase nove<br />

meses <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z. Está tão adorável grávida que não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sorrir. Sam não é tão<br />

inteligente quanto eu. Ele ri alto.<br />

Emily vai atrás <strong>de</strong>le e enfia a mão em seu cabelo. Ela puxa gentilmente, inclinando sua cabeça<br />

para trás e olhando em seus olhos.<br />

— Você realmente está rindo <strong>de</strong> uma garota grávida? — ela pergunta.<br />

Ele levanta as mãos como se estivesse se ren<strong>de</strong>ndo aos policiais.<br />

— Não! — diz.<br />

Emily o beija na testa, empurra suavemente seu rosto e ele abre espaço para ela no sofá, que se<br />

senta, expirando pesadamente. Sam coloca a mão em sua barriga.<br />

— Como está minha sobrinha? — ele pergunta, se inclina, fala com a barriga e Em ri,<br />

empurrando-o com uma mão na lateral do seu rosto.<br />

— Está bem. Ainda no forno. — Ela coloca a mão na barriga do tamanho <strong>de</strong> uma bola <strong>de</strong><br />

basquete e sorri.<br />

Friday apresenta Cody e Garrett e Emily se serve <strong>de</strong> pizza.<br />

— Quer água? — Sam pergunta.<br />

— Sim, mas não quero me levantar — ela respon<strong>de</strong>, piscando para ele.<br />

Ele geme, mas se levanta e vai pegar a bebida.<br />

— Po<strong>de</strong> ligar a TV? — Emily pergunta. — Estão fazendo uma reportagem sobre a banda em que<br />

toquei semana passada.<br />

Ligo a TV e mudo <strong>de</strong> canal até que me manda parar. Ela se inclina para frente quando vê a<br />

vocalista respon<strong>de</strong>ndo às perguntas.<br />

— Aumenta — ela pe<strong>de</strong>.<br />

Emily ouve atentamente a entrevista. Ela é bonita, mas parece ter saído do mundo dos mortos. Me<br />

faz querer lavar toda aquela maquiagem escura do rosto para ver o que está por baixo. Como o que<br />

quero fazer com Friday. Adoraria ver como ela fica sem o batom vermelho e os cílios postiços. Meio<br />

que gostaria <strong>de</strong> ver como ela é sem roupas também. Sinto meu rosto esquentar quando pego Cody


olhando para mim. Parece que fiquei encarando as pernas <strong>de</strong> Friday por muito tempo.<br />

Um sorriso aparece em meus lábios e balanço a cabeça.<br />

— Caidinho — ele murmura.<br />

Friday olha <strong>de</strong> mim para ele.<br />

— Quem caiu? — pergunta.<br />

Cody abre a boca para respon<strong>de</strong>r, mas Emily me salva.<br />

— Eles me convidaram para gravar — ela fala, pegando o controle remoto e diminuindo o<br />

volume.<br />

Isso <strong>de</strong>svia minha atenção <strong>de</strong> Friday.<br />

— Sério? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Ainda estou pensando a respeito. Querem que eu faça uma turnê também, mas eu neguei.<br />

Sam empurra seu ombro, ela geme e aponta para a barriga.<br />

— Humm, aloooo? — Emily ri.<br />

A porta se abre e Pete entra. Caramba, essa noite parece uma porta giratória.<br />

— Não posso acreditar que você recusou — Sam falou.<br />

— Quem recusou o quê? — Pete pergunta. Ele e Sam são gêmeos idênticos, mas qualquer pessoa<br />

que os conhece po<strong>de</strong> distingui-los.<br />

Sam aponta para a TV.<br />

— Em recebeu uma oferta para sair em turnê com a banda Fallen from Zero.<br />

— Não acredito! — Pete fala. Ele se lança sobre as costas do sofá para cair com as pernas no<br />

colo <strong>de</strong> Sam.<br />

— Cuidado com minha barriga! — Emily grita, cobrindo-a com a palma da mão. Mas ele está<br />

longe <strong>de</strong> encostar nela.<br />

— A baterista é gostosa — Sam fala. Ele ainda está vendo as imagens sem som, já que a TV fica<br />

exibindo as legendas para Logan o tempo todo.<br />

— Eu pensava que você acharia a vocalista mais bonita — Emily diz, observando seu rosto.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Não faz o meu tipo.<br />

— Não tem bunda suficiente — Pete fala. — Ele não gosta <strong>de</strong> magrinhas. — Olha para Emily. —<br />

Sem ofensa, Em.<br />

Emily revira os olhos e aponta para a barriga, muito grávida.<br />

Sam olha feio para Pete e empurra as pernas <strong>de</strong>le para fora do seu colo.<br />

Pete faz um movimento como se estivesse agarrando e apertando alguém.<br />

— Sam gosta <strong>de</strong> garotas que ele possa pegar.<br />

O rosto <strong>de</strong> Sam fica rosado quando dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Gosto <strong>de</strong> curvas — diz ele. — Não posso fazer nada.<br />

Pete o empurra novamente.<br />

— Ele quer peitos e bundas — diz, fazendo o movimento <strong>de</strong> apertar novamente.<br />

— E cérebro — Sam diz, levantando o <strong>de</strong>do.<br />

— E apetite — acrescento.<br />

Sam levanta a sobrancelha.<br />

— Gosto <strong>de</strong> cozinhar. Então, curto <strong>de</strong> garotas que gostem <strong>de</strong> comer.


Emily ri.<br />

Sam <strong>de</strong>ve sentir necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se explicar, pois continua.<br />

— O<strong>de</strong>io levar uma garota para jantar e vê-la comer só salada. Ou que ela diga que não po<strong>de</strong><br />

comer um dos meus famosos cupcakes por estar <strong>de</strong> dieta. — Ele treme como se não tivesse gostado<br />

do pensamento. Em seguida, <strong>de</strong>senha uma figura <strong>de</strong> ampulheta no ar com as mãos. — Vou levar<br />

peitos, bunda e coxas, por favor — diz, como se estivesse pedindo o jantar. — E, caramba, se tiver<br />

sorvete para ser lambido em alguns lugares, quero que ela participe sem pensar nas calorias.<br />

— Sam, muita informação! — Emily reclama, cobrindo as orelhas.<br />

Sam ri, e eu jogo o controle remoto em sua cabeça.<br />

— Aja como um cavalheiro — advirto, por achar que <strong>de</strong>vo. Mas essa merda é engraçada <strong>de</strong>mais.<br />

— Eu po<strong>de</strong>ria apresentá-lo para a baterista — Emily sugere.<br />

Ele puxa o piercing da boca e brinca com ele.<br />

— Deixe-me pensar sobre isso.<br />

A porta se abre outra vez e Matt e Skylar entram junto com Logan. Matt é o segundo irmão mais<br />

velho, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mim, e Skylar é sua esposa. Ela está grávida e está quase tão gran<strong>de</strong> quanto Emily,<br />

uma vez que está carregando gêmeos, mesmo que estejam há apenas sete meses juntos. Seus três<br />

filhos vêm atrás <strong>de</strong>les. As meninas correm para o quarto <strong>de</strong> Hayley para brincar e Seth, com<br />

<strong>de</strong>zesseis anos, puxa uma ca<strong>de</strong>ira da mesa, vira-a ao contrário, se senta e cruza os braços sobre o<br />

encosto, ficando <strong>de</strong> frente para nós.<br />

Olho para o relógio. Hayley passou a semana com a mãe, mas Kelly logo <strong>de</strong>ve trazê-la.<br />

Levanto-me e Sky se senta na minha ca<strong>de</strong>ira. Matt se senta aos seus pés e pega a cerveja que<br />

Garrett passa para ele. Me sento na ponta do sofá, ao lado <strong>de</strong> Friday, pressionando meu ombro contra<br />

sua perna. Olho para ela, que olha para baixo, parecendo um pouco assustada.<br />

— Você está bem? — pergunto baixinho.<br />

Ela balança a cabeça. Enquanto ela estiver bem, estou bem.<br />

Ela tirou os saltos super altos que usa, mas ainda está usando meia arrastão. Deslizo a mão em<br />

seu tornozelo e o acaricio com a ponta dos <strong>de</strong>dos. Eles se contraem, mas Friday não afasta o pé.<br />

Abre um pouco as pernas, pressiona com mais força contra meu ombro e posso sentir o ar em se<br />

movimentando quando ela respira profundamente.<br />

Então é assim... Agora entendo como Logan, Pete e Matt se sentiram quando encontraram as<br />

mulheres com quem passariam o resto das suas vidas. Porque prefiro me sentar aqui e tocar seu<br />

tornozelo do que transar com qualquer outra mulher no mundo.<br />

Ouvimos Pete contar a história <strong>de</strong> um menino que conheceu no trabalho e como o está ajudando<br />

através do sistema. Meu irmão começou a trabalhar como conselheiro, aten<strong>de</strong>ndo ex-presidiários e<br />

<strong>de</strong>linquentes juvenis. Ele aconselha esses rapazes a terem objetivos <strong>de</strong> vida. Muitos <strong>de</strong>les não tinham<br />

famílias ou per<strong>de</strong>ram a família que tinham, e seu trabalho ajuda a construir uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio. Além<br />

disso, ele ajuda esses garotos a ficarem fora <strong>de</strong> problemas. Me sinto tão orgulhoso <strong>de</strong> Pete que é<br />

como se eu pu<strong>de</strong>sse explodir. Mas sei que não posso levar o crédito por ele ter se tornado esse<br />

homem incrível.<br />

De repente, Emily empurra o ombro <strong>de</strong> Sam.<br />

— Sério? — grita. — Você realmente acabou <strong>de</strong> fazer isso? — Ela cobre o nariz e pren<strong>de</strong> a<br />

respiração. — Isso é nojento.<br />

Sam sorri.


— Não sei do que você está falando.<br />

— Sam — advirto, tentando manter a voz firme. Mas é difícil. — Há mulheres aqui.<br />

Ele olha em volta como se estivesse procurando.<br />

— On<strong>de</strong>? Só vejo Emily, Friday e Sky, e elas não contam como meninas. — Sam se levanta e vai<br />

colocar as mãos na barriga <strong>de</strong> Sky. Ela sorri e <strong>de</strong>ixa. Ele olha para cima. — Sentiu isso? — pergunta<br />

e sorri.<br />

— Ah, sinto tudo — Sky diz com um suspiro. — Quatro pés e quatro mãos. E dois bumbuns<br />

sentados na minha bexiga. — Ela faz um gesto para Sam. Ele se afasta e ela esten<strong>de</strong> a mão. — Aju<strong>de</strong>me<br />

para que eu possa fazer xixi.<br />

Ele ri e a ajuda a apoiar os pés, segurar a barriga e sair da ca<strong>de</strong>ira.<br />

Matt se levanta, pega o lugar <strong>de</strong> Sam no sofá e Emily se inclina para ele.<br />

— Você está bem? — Ouço-o perguntar a ela. Ele coloca o cabelo atrás da orelha. Matt e Emily<br />

se aproximaram muito quando se conheceram e ele se preocupa muito com ela. Assim como ela com<br />

ele. Fico feliz por Sky não sentir ciúmes do cuidado que ele tem com Emily.<br />

— Vou ficar melhor quando ela chegar — Emily fala e coloca os pés na mesa <strong>de</strong> centro. — Olha<br />

o tamanho dos meus tornozelos — Matt se ajeita para acomodar os pés <strong>de</strong>la em seu colo e começa a<br />

esfregar a parte superior. Ela sorri e fecha os olhos. — Vou te dar <strong>de</strong>z minutos para parar com isso<br />

— ela avisa, brincando. Matt ri.<br />

Friday mexe os <strong>de</strong>dos dos pés e percebo que estive aqui sentado esfregando a parte interna do<br />

seu tornozelo durante cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z minutos. Afasto minha mão, um pouco contrariado por precisar<br />

fazer isso. Matt levanta a sobrancelha quando encontro seu olhar e sorri para mim. Mostrei o <strong>de</strong>do do<br />

meio.<br />

Gentilmente, <strong>de</strong>dos suaves escorregam para <strong>de</strong>ntro da minha camiseta e começa a fazer cócegas<br />

na minha nuca. Coloco a cabeça no joelho <strong>de</strong> Friday e fecho os olhos. É bom senti-la me tocar. Seu<br />

toque atinge muito mais do que meu pau, que é o lugar on<strong>de</strong> as meninas geralmente me atacam. Desta<br />

vez, algo envolve meu coração com tanta força que me rouba o fôlego. Espero que ela não pare nunca<br />

mais.<br />

Então, a porta se abre novamente, e Reagan, a namorada <strong>de</strong> Pete, entra com minha ex atrás. Kelly<br />

congela na porta ao ver Friday me tocando. Levanto-me e vou até ela, embora a única coisa que<br />

queira é pegar minha filha no colo enquanto Friday está ao meu lado. Não quero nunca per<strong>de</strong>r a<br />

sensação <strong>de</strong> estar perto <strong>de</strong>la. Mas agora, minha ex está aqui e tudo se acabou.<br />

Kelly coloca a mão no meu braço e fala:<br />

— Po<strong>de</strong>mos conversar em particular? — Ela olha para a sala cheia, com meus irmãos, Friday e<br />

os amigos <strong>de</strong>la e torce o nariz.<br />

— Sobre o quê? — pergunto.<br />

Ela franze os lábios e balança a cabeça em direção ao meu quarto. Dou um suspiro, seguro-a pelo<br />

cotovelo e a levo até lá.<br />

Ela fecha a porta, e eu recuo. Sinto vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> abri-la imediatamente, mas espero que ela só<br />

queira conversar sobre algo que Hayley po<strong>de</strong> ouvir.<br />

Mas então, ela abre a boca.<br />

— Não quero que minha filha entre aqui e o encontre com Friday na cama — ela fala e sopra uma<br />

mecha <strong>de</strong> cabelo da testa.<br />

— O quê? — Como ela ousa?


Ela cruza os braços. Antes, meu olhar seria imediatamente atraído para seus peitos, mas não é<br />

mais.<br />

— O que eu quero dizer, <strong>Paul</strong>, é que você po<strong>de</strong> transar com quem quiser. Mas não envolva minha<br />

filha nisso, porque sabemos que ela não estará aqui amanhã. Elas nunca estão.<br />

Encosto meu quadril na cômoda e me inclino para trás, tentando parecer relaxado, mas não estou<br />

nada calmo. Meu coração bate tão rápido quanto a pistola <strong>de</strong> tatuagem e mal consigo respirar.<br />

— Você vai se casar — lembro-a. — Por que está se importando com o que eu faço?<br />

— Não me importo com o que você faz. Só me importo se você envolver minha filha nisso. —<br />

Ela joga o cabelo sobre o ombro.<br />

— O que isso quer dizer <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>? — Há muito mais do que ela está me dizendo.<br />

Ela mor<strong>de</strong> o lábio inferior e, pela primeira vez, não <strong>de</strong>sejo soltá-lo e beijá-la até fazer as marcas<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>nte sumirem. Ela balança a cabeça. — Não é nada.<br />

— Diga, Kells — falo. — Nunca tivemos segredos um com o outro antes. Faço um movimento<br />

com a cabeça entre nós dois. — É por isso que essa coisa entre nós funciona tão bem.<br />

De repente, ela escon<strong>de</strong> o rosto entre as mãos e fica em silêncio. Quando levanta a cabeça, os<br />

olhos estão brilhantes.<br />

— Nunca vi você com aquele olhar no rosto, nem mesmo para mim.<br />

— Ah — murmuro e coço a cabeça. — Que olhar?<br />

Ela balança o polegar em direção à sala <strong>de</strong> estar.<br />

— Quando entrei, você estava com a cabeça no joelho <strong>de</strong> Friday e parecia tão calmo.<br />

Friday me faz sentir calmo.<br />

— Então você está com ciúmes?<br />

Ela balança a cabeça, mordiscando o lábio inferior novamente.<br />

— Você vai se casar, Kells — lembro-a novamente. Desencosto do armário, vou até ela, puxo-a<br />

gentilmente para meus braços e a abraço. Desta vez, não se trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo ou paixão. É amiza<strong>de</strong>. Faz<br />

semanas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a última vez que dormimos juntos, e segurá-la assim sequer faz meu pau ficar duro.<br />

Kelly envolve os braços ao redor da minha cintura e se mantém firme por um minuto. Acaricio<br />

suas costas até que ela se afasta.<br />

— Você está bem? — pergunto.<br />

— Estou com ciúmes — ela fala e funga. — Desculpa.<br />

— Não fique. Ainda somos nós. <strong>Os</strong> pais <strong>de</strong> Hayley. Sempre seremos. — Olho em seus olhos. —<br />

Não estrague uma coisa boa, tá?<br />

— Você tem a casa cheia esta noite — ela fala e se afasta, parecendo <strong>de</strong>sconfortável.<br />

— Eu sei. — Sorrio. — Não é ótimo?<br />

Ela treme.<br />

— É uma tortura —respon<strong>de</strong>. — Muito barulho, mau cheiro e muitos <strong>Reed</strong>s em um só lugar.<br />

Esse era o problema entre nós. Tudo aquilo que eu amava, ela não suportava. Kelly não gostava<br />

da minha família e nem os queria por perto.<br />

— Amo cada minuto disso.<br />

— Como Friday se sente sobre isso? — ela pergunta.<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Ela parece estar em casa. Acabou <strong>de</strong> chegar. Alugou um quarto.<br />

Kelly acena.


— Entendi.<br />

— O que você quer <strong>de</strong> mim, Kelly? — pergunto, com um suspiro pesado.<br />

— Acho que queria que tudo continuasse igual — diz. Mas então, sorri. — Sei que não po<strong>de</strong>, já<br />

que vou me casar.<br />

— Quer que eu a leve até o altar? — pergunto. Estou meio que brincando.<br />

— Talvez — diz ela. — Isso seria muito apropriado.<br />

— Estou aberto a essa possibilida<strong>de</strong>.<br />

Ela sorri para mim. Finalmente.<br />

— Sempre seremos amigos, certo? — pergunta.<br />

— <strong>Os</strong> melhores.<br />

De repente, a porta se abre e Hayley entra correndo no quarto. Esten<strong>de</strong> a mão para mim e eu a<br />

pego. Ela tem creme em todos os <strong>de</strong>dos e mancha a minha camisa. Seguro suas mãos e a afasto.<br />

— Sam te <strong>de</strong>u cupcake? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça e sorri.<br />

— Ele me disse que não era para te contar. Que era para dizer que não foi ele.<br />

Kelly ri.<br />

— Não é engraçado — digo a ela, mas estou sorrindo também. Coloco Hayley no chão e dou um<br />

tapinha <strong>de</strong> leve em seu traseiro. — Vá lavar as mãos. — Ela corre para fora do quarto.<br />

— Não te amava o suficiente — Kelly fala. — Odiava o barulho e o fato <strong>de</strong> nunca ficarmos<br />

sozinhos.<br />

— Eu sei.<br />

— Estou feliz por você não ter me <strong>de</strong>ixado afastá-los — ela diz.<br />

— Eu não podia. — Eles eram tudo para mim. E vão continuar ao meu lado mesmo quando ela se<br />

for. Eu sabia na época e sei disso agora. O que eu e ela tínhamos não iria durar. Mas temos uma filha<br />

maravilhosa. — Sinto muito — digo.<br />

— Desculpe-me por ter me apavorado — ela fala calmamente.<br />

— Está tudo bem — respondo, mesmo que não esteja. — Vamos encontrar o nosso caminho.<br />

Ela aponta para minha camisa.<br />

— Hayley sujou você.<br />

Pego uma camiseta limpa do armário e Kelly sai do meu quarto. Tiro a blusa e coloco a nova<br />

enquanto saio do quarto.<br />

— Quer comer pizza? — pergunto. Gosto <strong>de</strong>la. Só não é como antes.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Hoje, não. Outra hora? — ela pergunta e pisca para mim.<br />

— A qualquer hora — respondo.<br />

Ela beija Hayley, se <strong>de</strong>spedindo e acena para meus irmãos. Eles não gostam muito <strong>de</strong>la, mas ela<br />

não se importa.<br />

Quando ela vai embora, olho para Friday no sofá. Sento-me aos seus pés como antes, mas ela me<br />

olha nos olhos e fala:<br />

— Nem pense nisso.<br />

Ela parecia tão calma antes <strong>de</strong> Kelly chegar aqui. Agora não está. Não está nem um pouco<br />

tranquila. Tenho medo <strong>de</strong> falar algo, pois tenho a sensação <strong>de</strong> que, se ela colocar os <strong>de</strong>dos em meu<br />

pescoço agora, vai me sufocar.


Que merda eu fiz?


F R I D A Y<br />

N<br />

ão sou fã <strong>de</strong> Kelly. Nunca fui. Provavelmente, nunca serei. E gosto ainda menos quando a vejo<br />

saindo do quarto <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> e ele está vestindo a roupa. Foda-se ela.<br />

Olho para longe <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>, bufando. Ele se inclina ao lado da minha cabeça, por trás do sofá como<br />

se fosse sussurrar em meu ouvido. Mas levanto a mão e empurro a palma contra seu nariz.<br />

— Ah! — Pete grita e pula. — Isso vale! Assim vale! — Ele aponta para mim, e <strong>de</strong>pois, para o<br />

nariz <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. — Ela acabou <strong>de</strong> bater no seu nariz, cara! — ele grita. Pete bate na mão <strong>de</strong> Sam, que<br />

está sorrindo como um idiota.<br />

<strong>Paul</strong> esfrega o nariz.<br />

— Ela não me bateu.<br />

— Confie em mim — falo. — Se eu batesse nele, ele saberia. — Ele me olha.<br />

<strong>Paul</strong> se inclina para mim novamente.<br />

— Você po<strong>de</strong>ria me dizer o que fiz <strong>de</strong> errado? — pergunta em voz baixa enquanto seus irmãos<br />

ainda estão fazendo apostas e falando sobre meu empurrãozinho em seu nariz.<br />

Inclino-me mais para perto <strong>de</strong>le e o cheiro. Espero sentir cheiro <strong>de</strong> sexo, mas sinto seu perfume<br />

masculino fresco. Fresco, limpo, <strong>de</strong> homem gostoso pra caramba. Humm.<br />

— O que eu fiz? — ele pergunta novamente e se inclina, apoiando os cotovelos no sofá, ficando<br />

perto do meu ombro. Posso sentir seu hálito quente na lateral do meu pescoço, e um arrepio percorre<br />

minha espinha.<br />

— Nada — falo.<br />

— Nada é sempre algo no código feminino. — Ele cheira a perfume Michelob Light e <strong>Paul</strong>.<br />

— O que esse código feminino diz? — pergunto.<br />

— Que você está certa e eu errada, não importa como vemos a situação. — Ele sorri. — Fale<br />

comigo, Friday. — Se inclina para mais perto e seus lábios tocam minha orelha. — O que fiz <strong>de</strong><br />

errado?<br />

Resmungo e cruzo os braços.<br />

— Então está bem — ele diz. — Você me forçou a fazer isso.<br />

Ele se levanta, se alonga e estala os <strong>de</strong>dos.<br />

— Te forcei a fazer o quê? — pergunto.<br />

— Resolver isso com minhas próprias mãos — diz ele, se abaixando e me pegando no colo.<br />

— <strong>Paul</strong>! — protesto. — Ponha-me no chão! Agora mesmo! — Mas tudo o que posso fazer é<br />

agarrar seu pescoço, pois ele está se movendo mais rápido do que eu pensava ser possível.


— A gaveta! — Seus irmãos gritam, todos ao mesmo tempo. Eles estão rindo pra cacete e<br />

batendo nas mãos um do outro.<br />

— Foda-se a gaveta — diz ele.<br />

— Que gaveta? — pergunto. Estou tão confusa.<br />

— A gaveta! — eles gritam, todos apontando em direção a ela. Ele para e olha para eles.<br />

— Nós vamos apenas conversar. On<strong>de</strong> diabos vocês acham que vou usar? — ele pergunta. — Na<br />

língua?<br />

Pete olha para Sam e encolhe os ombros.<br />

— Já ouvi i<strong>de</strong>ias piores — ele fala.<br />

— Parece um exagero para mim — Sam respon<strong>de</strong>. Ele dá <strong>de</strong> ombros também.<br />

<strong>Paul</strong> saco<strong>de</strong> a cabeça e bate a porta com o ombro.<br />

— Isso é o que todos dizem — Matt fala. — Pegue um preservativo da gaveta!<br />

— Você tem uma gaveta <strong>de</strong> preservativos? — pergunto.<br />

— Sim. Na cozinha.<br />

Devo parecer estupefata, porque ele passa a explicar.<br />

— Criei quatro rapazes adolescentes. Tinha que ser criativo para conseguir fazer com que os<br />

preservativos chegassem às mãos <strong>de</strong>les. E nos paus.<br />

<strong>Paul</strong> me coloca suavemente em sua cama. Em seguida, se vira, fecha e tranca a porta.<br />

— Deixe-me sair daqui — reclamo. Me arrasto sobre a cama como um caranguejo.<br />

— Não até que você fale comigo. — Ele começa a andar <strong>de</strong> um lado para o outro do quarto.<br />

— Não posso acreditar que você me trouxe para cá logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tê-la trazido — resmungo. —<br />

Que cara <strong>de</strong> pau, <strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong>! — Levanto-me e afasto o cabelo da testa. — Se acha que vai conseguir<br />

ficar comigo na merda do lençol sujo, está muito enganado! — Aponto o <strong>de</strong>do para ele. — Vá se<br />

fo<strong>de</strong>r, <strong>Paul</strong>! — Minha respiração está ofegante, como se tivesse corrido cinco quilômetros em cinco<br />

minutos. Ele se aproxima e segura meus pulsos. Ele é forte. Eu sabia disso, mas nunca o senti<br />

realmente. Me abraça com força.<br />

— Não transei com ela — ele fala e me empurra suavemente, fazendo com que eu caia. — Olhe<br />

para mim — diz ele. <strong>Paul</strong> ainda está segurando meus pulsos, com a parte da frente do meu corpo<br />

colada à sua.<br />

— Não quero — resmungo.<br />

Ele ri e tento atacá-lo, mas ele ainda me mantém presa pelos pulsos. Po<strong>de</strong>ria me soltar se<br />

quisesse. Eu o conheço bem. Mas realmente não quero. Principalmente porque estou achando que<br />

entendi tudo errado.<br />

— Pare <strong>de</strong> rir — eu digo.<br />

— Não transei com ela. Ela queria conversar, pois ficou com ciúmes. Só isso. Conversamos. Ela<br />

fungou algumas vezes e eu a abracei. E só.<br />

— Então por que estava vestindo uma camisa nova?<br />

— Porque Hayley sujou a outra com creme.<br />

— Kelly estava com ciúmes? — pergunto. Minha voz é tão baixa que mal posso ouvi-la. Mas o<br />

ciúme que estava apertando meu coração alivia um pouco.<br />

— Estava.<br />

— Por quê? — Minha voz ainda é baixa.<br />

— Aparentemente, quando eu estava com a cabeça em seu joelho, estava parecendo tranquilo.


— Você estava tranquilo — murmuro.<br />

— Sim, estava — ele concorda. — Gosto <strong>de</strong> ter você perto <strong>de</strong> mim. Gosto muito. — Ele solta um<br />

suspiro e fala em uma expiração: — Provavelmente mais do que <strong>de</strong>veria.<br />

— Também gosto — falo.<br />

Ele solta meus pulsos e segura meu rosto, erguendo suavemente meu queixo para cima e olhando<br />

em meus olhos. <strong>Os</strong> <strong>de</strong>le são tão, mas tão azuis que são quase cinza. São como um lago fresco em um<br />

dia quente <strong>de</strong> verão. Po<strong>de</strong>ria mergulhar neles e ficar lá para sempre.<br />

Sua respiração toca meus lábios.<br />

— Eu realmente gosto <strong>de</strong> você — diz ele.<br />

Seguro seus pulsos, porque se não segurar alguma coisa, vou cair. Meus joelhos nunca tremeram<br />

tanto quanto agora.<br />

— Também gosto <strong>de</strong> você — falo novamente. Olho em seus olhos e então para sua boca,<br />

esperando que ele se cale e me beije.<br />

— Confia em mim? — ele pergunta.<br />

— Não confio em ninguém — admito.<br />

— Por que não? — Seus polegares acariciam meu rosto.<br />

— Porque a maioria das pessoas não é confiável. — Meu estômago fica em nós quando seus<br />

olhos brilham. Isso o <strong>de</strong>ixa com perguntas, e não são perguntas que quero respon<strong>de</strong>r.<br />

— Em algum momento, quando estivermos sozinhos, você vai me contar por que se sente assim?<br />

— pergunta, ainda olhando nos meus olhos.<br />

— Provavelmente não.<br />

Ele ri.<br />

— <strong>Paul</strong> — falo em voz baixa.<br />

— O quê? — ele sussurra <strong>de</strong> volta.<br />

— Você vai me magoar? — Olho em seus olhos, acreditando que vou encontrar a verda<strong>de</strong> lá, se é<br />

que isso existe.<br />

— Não — ele fala. Sua voz é forte e clara.<br />

Ouço uma voz através da porta:<br />

— Pergunte se ele promete!<br />

— Que porra é essa? — <strong>Paul</strong> pergunta, jogando a cabeça para trás. Ele abre a porta, e Pete e Sam<br />

caem para <strong>de</strong>ntro do quarto, um em cima do outro.<br />

— Vocês não têm mais o que fazer? — <strong>Paul</strong> pergunta, olhando para os dois.<br />

Eles se entreolham.<br />

— Não. — Ficam <strong>de</strong> pé e <strong>Paul</strong> sai do quarto.<br />

Sam envolve seu braço ao redor dos meus ombros.<br />

— Pergunte se ele promete — ele fala.<br />

— O que isso quer dizer, afinal <strong>de</strong> contas?<br />

— Quando nossa mãe morreu, perguntamos a <strong>Paul</strong> se tudo ficaria bem, e ele prometeu que sim. E<br />

ficou — Sam diz.<br />

Pete continua:<br />

— E quando nosso pai foi embora, perguntamos novamente se ia ficar tudo bem, se<br />

conseguiríamos nos manter sozinhos. E conseguimos... porque <strong>Paul</strong> prometeu que conseguiríamos.<br />

— Não quero que ele prometa algo que não vai acontecer. — Tento rir, mas não acho engraçado.


— Às vezes, você só precisa <strong>de</strong> uma promessa para seguir em frente — diz Sam. — Se precisar,<br />

pergunte a ele. Ele dirá sim ou não.<br />

— Não preciso <strong>de</strong> uma promessa.<br />

— Sim, precisa. — Sam olha para mim.<br />

Me liberto <strong>de</strong>le com um empurrão e caminho <strong>de</strong> volta para a sala <strong>de</strong> estar. Cody e Garrett estão<br />

lado a lado, conversando com Matt e Sky. Mellie, filha dos dois, atravessa a sala e Matt estica o<br />

braço e a segura, virando-a <strong>de</strong> cabeça para baixo quando ela grita. Sua camisa <strong>de</strong>sce, mostrando a<br />

barriga e Matt faz cócegas lá.<br />

— Papai! — ela grita.<br />

Matt <strong>de</strong>rrete visivelmente cada vez que ouve essa palavra. Ele sorri e a abraça com tanta força<br />

que ela resmunga.<br />

Olho para Seth, mas ele apenas sorri e balança a cabeça para as brinca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> Matt.<br />

Sento-me ao lado <strong>de</strong> Garrett, que se inclina e pressiona os lábios em minha testa.<br />

— Você está bem? — ele pergunta.<br />

— Sim — respondo. — Estou bem.<br />

— Isso foi bem excitante — Garrett fala. — Mais tar<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria colocar Cody para reproduzir<br />

comigo o jeito como você foi carregada.<br />

Cody balança a cabeça.<br />

— Algo me diz que não teria o mesmo efeito. — Ele sorri.<br />

Provavelmente não. Ele teria que ser loiro, gostoso, tatuado e se chamar <strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong> para<br />

funcionar. <strong>Paul</strong> se senta aos meus pés e puxa um <strong>de</strong>les para seu colo. E passa a hora seguinte<br />

conversando com os irmãos enquanto <strong>de</strong>senha círculos com o <strong>de</strong>do na parte interna do meu tornozelo.<br />

Nunca senti um toque tão íntimo. Fiz sexo com outros caras e nunca senti nada que chegasse perto<br />

disso. Que porra é essa?


P A U L<br />

G<br />

osto <strong>de</strong> Cody e Garrett. Não gosto, particularmente, do fato <strong>de</strong> que o bebê <strong>de</strong>les po<strong>de</strong> estar<br />

crescendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Friday, principalmente por me <strong>de</strong>ixar cheio <strong>de</strong> inveja, mas gosto <strong>de</strong>les como<br />

pessoas. Eles são engraçados, gentis e, obviamente, apaixonados. <strong>Os</strong> dois serão bons pais. Seria<br />

muito ruim se eu admitisse que espero que a inseminação não funcione? Provavelmente sim, então,<br />

guardo para mim.<br />

Por um lado, estou realmente feliz por eles terem a chance <strong>de</strong> construir uma família. Mas, por<br />

outro, queria que fosse a porra do meu bebê <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Quero vê-la engordar e ficar irritadiça com<br />

meu filho crescendo em seu corpo. Quero compartilhar esses momentos com ela, e não sei se posso<br />

fazer isso quando ela está grávida do filho <strong>de</strong> outra pessoa. Duvido que existam regras a esse<br />

respeito, nem livros que possam me dizer o que é certo e errado. Quero conquistá-la, mas não sei se<br />

posso seguir com isso enquanto ela está gerando um bebê.<br />

Cody e Garrett apertam minha mão na saída. Garrett me puxa para um abraço rápido e me dá um<br />

tapinha nas costas.<br />

— Cui<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, está bem? — ele sussurra.<br />

— Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar — respondo. Quero cuidar <strong>de</strong>la todos os dias. O dia todo.<br />

Ele abraça Friday e fala:<br />

— Lembre-se, nada <strong>de</strong> orgasmos.<br />

O quê? Olho <strong>de</strong> um para o outro e ela cora.<br />

Garrett apenas sorri e vai embora <strong>de</strong> mãos dadas com Cody.<br />

— Gostou <strong>de</strong>les? — Friday pergunta quando a porta se fecha. Ela se inclina contra a porta por<br />

um segundo e respira fundo. Meus irmãos foram embora com suas garotas, com exceção <strong>de</strong> Sam, que<br />

foi para a cama. Matt e Seth tiveram que carregar Joey e Mellie para o carro, pois elas adormeceram<br />

na cama <strong>de</strong> Hayley.<br />

Minha filha coloca a cabeça para fora do quarto, esfrega os olhos e sorri para mim. Ela fica tão<br />

bonitinha com aquele pijama com babados que às vezes me faz sentir um nó no peito só <strong>de</strong> olhar para<br />

ela. Me forço a parar e tirar fotos mentais para que eu jamais me esqueça <strong>de</strong>sses momentos. Paro o<br />

tempo na minha cabeça e... clique! Tento lembrar daquilo por um tempo. Ela não será pequena assim<br />

para sempre.<br />

— Vai se <strong>de</strong>spedir <strong>de</strong> Friday também? — ela pergunta.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Friday vai dormir aqui.


— Vamos fazer uma festa do pijama? — Ela franze a testa, pisca seus gran<strong>de</strong>s olhos azuis para<br />

Friday e agarra minha perna.<br />

— Friday vai ficar aqui por um tempo. Ela vai dormir na cama <strong>de</strong> Matt, já que ninguém mais<br />

dorme lá. — Passo a mão por seu cabelo loiro sedoso. — Tudo bem?<br />

Ela balança a cabeça, mas olha para mim com ceticismo.<br />

— Ela não vai dormir com você?<br />

Friday ri, mas mor<strong>de</strong> os lábios quando olho para ela. Desculpe, ela fala sem <strong>de</strong>ixar sair som.<br />

— Ela vai dormir no quarto <strong>de</strong>la, em sua própria cama, com a porta trancada.<br />

<strong>Os</strong> olhos <strong>de</strong> Friday se arregalam. Vou? Ela murmura <strong>de</strong> novo. Concordo com a cabeça e ela olha<br />

para Hayley.<br />

— Vou mesmo! — ela diz, como se estivesse animada com isso.<br />

— Vai contar a ela uma história para dormir? — pergunta Hayley.


F R I D A Y<br />

P<br />

aul cobre a boca para escon<strong>de</strong>r o riso.<br />

— Provavelmente não.<br />

Hayley segura minha mão e fala:<br />

— Você po<strong>de</strong> ouvir a minha. — Ela me puxa para que eu a siga até seu quarto. Fico <strong>de</strong> pé, sem<br />

saber ao certo o que fazer.<br />

<strong>Paul</strong> se senta com as costas contra a cabeceira da cama.<br />

— Que livro? — ele pergunta.<br />

Hayley aponta para um, enquanto olho ao redor do quarto. Não sei para on<strong>de</strong> ir, pois não há<br />

mobília ao lado da cama, Só vejo caixas <strong>de</strong> brinquedo, então me sento no tapete, recostando-me na<br />

lateral da cama. Minha cabeça está perto do joelho <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> e seus pés estão cruzados, virados para o<br />

fim da cama. Ele está ocupando muito espaço, e Hayley se aconchega nas cobertas com um coelho <strong>de</strong><br />

pelúcia nos braços.<br />

Ele abre o livro e começa a ler sobre um touro chamado Ferdinand. Sorrio com a imagem <strong>de</strong> <strong>Paul</strong><br />

lendo para a filha. Ele a ama tanto que sinto um pouco <strong>de</strong> ciúmes. Não porque ele ame a filha, mas<br />

porque sinto falta <strong>de</strong> alguém me amar <strong>de</strong>sse jeito.<br />

Sua voz fica mais e mais suave, até que ele para no meio do livro.<br />

— Ela dormiu — ele fala e o fecha.<br />

— Você não po<strong>de</strong> parar agora — protesto. — Tenho que <strong>de</strong>scobrir o que acontece.<br />

Ele sorri, abre o livro novamente e continua a ler. Vira as páginas com uma mão enquanto a outra<br />

acaricia meu cabelo. Minhas pálpebras ficam pesadas. Encosto no colchão e fecho os olhos. Seus<br />

<strong>de</strong>dos se entrelaçam ainda mais aos meus cabelos e ele massageia meu couro cabeludo. Olho para<br />

cima quando percebo que ele fechou o livro e toda sua atenção está em mim.<br />

Fico <strong>de</strong> joelhos e me apoio nos cotovelos, observando Hayley aconchegada e segura <strong>de</strong>baixo dos<br />

cobertores.<br />

— Ela é linda — sussurro.<br />

— É mesmo — ele fala, afastando meu cabelo dos ombros. — Assim como você.<br />

As batidas do meu coração aceleram e eu me forço a respirar profundamente pelo nariz. Mas tudo<br />

o que posso sentir é o cheiro <strong>de</strong>le e <strong>de</strong> menina que vem <strong>de</strong> Hayley.<br />

— Alguma vez você já quis isso? — ele pergunta, balançando a cabeça em direção à filha.<br />

Aceno, concordando.<br />

— Sim — sussurro. — Já quis. Mais do que qualquer coisa.


— O que mudou? — ele pergunta. Seus olhos azuis focam nos meus.<br />

— Tudo — respondo. O pesar me atinge como um caminhão esmagando meu corpo. Fico <strong>de</strong> pé e<br />

caminho até a porta. Viro-me para olhar para ele. — Você vem? — pergunto.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Às vezes, gosto <strong>de</strong> observá-la dormir.<br />

— Certo. Boa noite — eu digo suavemente.<br />

Ele olha para mim e sorri.<br />

— Noite.<br />

Vou para cozinha e arrumo as coisas. Jogo as caixas <strong>de</strong> pizza e latas <strong>de</strong> cerveja no lixo, coloco as<br />

louças na máquina <strong>de</strong> lavar louça e limpo o balcão.<br />

Me assusto quando vejo <strong>Paul</strong> se encostar no balcão.<br />

— Você não tem que limpar as coisas — ele fala. Seu tom é baixo, provavelmente para não<br />

acordar Hayley.<br />

— Não me importo. — Seco as mãos no pano <strong>de</strong> prato e sorrio para ele. Ele me olha. Realmente<br />

me olha e faz com que eu queira me contorcer. — Ainda não falamos sobre quanto vou pagar pelo<br />

quarto.<br />

— Achei que po<strong>de</strong>ríamos fazer uma troca. O que acha <strong>de</strong> favores sexuais?<br />

Rio e jogo o pano molhado em sua cabeça. Ele o pega.<br />

— Já pagou por sexo? — pergunto.<br />

Ele bufa.<br />

— Nunca precisei. — Sorri e fica tão sexy que eu po<strong>de</strong>ria tirar a calcinha aqui e nem ficaria<br />

constrangida.<br />

— As mulheres vêm facilmente para você.<br />

Seu sorriso fica ainda maior.<br />

— Algumas vêm com mais facilida<strong>de</strong> do que outras.<br />

Ele sabe que não foi o que eu quis dizer.<br />

— Você e Kelly... não eram exclusivos, né? — pergunto.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Fomos, antes <strong>de</strong> Hayley nascer. Depois, não.<br />

— E isso funcionava bem para vocês dois? — Sigo até o sofá e me sento. Ele me segue, se senta<br />

ao meu lado e segura minha mão, que se aquece sob a sua. Meu braço começa a formigar. Estremeço.<br />

— Funcionava — ele respon<strong>de</strong> em voz baixa. — Gosto <strong>de</strong> sentir seu corpo tremer quando está<br />

comigo — ele acrescenta, a voz tão baixa e rouca que mal posso ouvi-lo.<br />

Respiro fundo e ele observa meu peito subir e <strong>de</strong>scer e lambe os lábios.<br />

— Não posso ter orgasmos — <strong>de</strong>ixo escapar.<br />

Ele paralisa.<br />

— O quê?<br />

— Eu... hum... não posso ter orgasmo. Não posso gozar. Não posso chegar lá. — Merda, <strong>de</strong>veria<br />

ter parado no orgasmo. Gemo interiormente.<br />

Ele ri e coça a cabeça.<br />

— Bem, vai ser um <strong>de</strong>safio. Mas tenho certeza <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos dar um jeito. — Ele se inclina até<br />

que seus lábios estão quase tocando os meus. — Tenho certeza <strong>de</strong> que posso fazer você gozar — ele<br />

fala. — Trabalho duro.


— Não foi isso que eu quis dizer — resmungo, empurrando-o, com a mão em seu peito.<br />

Ele se afasta.<br />

— Fale comigo.<br />

— Des<strong>de</strong> a inseminação, não tenho autorização para ter orgasmo. Não até que eu faça uma nova<br />

consulta. Po<strong>de</strong> diminuir as chances <strong>de</strong> o bebê firmar.<br />

Ele ergue as sobrancelhas.<br />

— Sério?<br />

Concordo.<br />

— Ah, então, em um dia normal, você não tem problemas com isso? Em gozar? Chegar lá? — Ele<br />

ajeita o jeans, puxando o zíper e posso ver sua masculinida<strong>de</strong> pressionada com força contra a calça.<br />

Ele não a toca, nem faz nada ina<strong>de</strong>quado. Mal consigo me dar conta do quanto ele foi afetado, já que<br />

é enorme. Meu Deus!<br />

Minhas bochechas estão pegando fogo.<br />

— Não, normalmente não tenho problemas. Embora faça muito tempo.<br />

— Quanto tempo? — Ele se vira para mim e apoia o cotovelo na parte <strong>de</strong> trás do sofá,<br />

acariciando meu cabelo.<br />

— Muito tempo mesmo — repito. Deixo minha cabeça cair para trás e solto um gemido baixinho.<br />

— Sei que você não está acostumado a esperar... — Deixo a frase no ar.<br />

— Esperei por você minha vida toda — ele fala. — Posso esperar o tempo que for preciso.<br />

— Você não é nada do que eu imaginava, <strong>Paul</strong> — digo a ele.<br />

— O que você imaginava? — Sua mão para <strong>de</strong> mexer no meu cabelo e começa a subir e <strong>de</strong>scer<br />

lentamente pelo meu braço.<br />

— Um pegador — falo rapidamente. Quero engolir as palavras <strong>de</strong> volta assim que elas saem dos<br />

meus lábios, mas agora é tar<strong>de</strong>.<br />

Ele ri.<br />

— Pensei o mesmo sobre você. — Ele aperta meu nariz. — Fantasiei a seu respeito por anos.<br />

Reviro os olhos.<br />

— Mas suas fantasias comigo incluíam outra garota. — Ele achava que eu era lésbica.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Não, só tinha você na minha cabeça. Só você, o tempo todo. — Ele fica quieto por um<br />

instante, mas não ficamos <strong>de</strong>sconfortáveis. — Quando você me beijou, me assustou pra caramba.<br />

Estremeço.<br />

Desculpa.<br />

Ele ergue as duas mãos.<br />

— Ah, não se arrependa, por favor. Eu amei. Mas percebi que precisava fazer algumas mudanças<br />

se quisesse algo sério com você. Foi o que fiz. — Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Por que eu? — pergunto.<br />

— Por ser você mesma.<br />

— Você não me conhece <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

— Eu sei. Por isso que não iria para cama com você agora, ainda que não houvesse a restrição<br />

médica.<br />

Dou um empurrão em seu ombro.<br />

— Mentiroso.


Ele balança a cabeça.<br />

— Quero saber tudo a seu respeito. — Ele levanta meu pulso e olha as tatuagens, uma por uma.<br />

Tenho um pequeno texto na parte interna do antebraço e ele começa a ler, mas viro mão antes que<br />

termine. — Você tem todas essas, né? Assim como eu.<br />

Eu concordo e ele sorri timidamente.<br />

— Quero explorar todas elas com a língua. — Ele ri.<br />

— Mudando <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia sobre dormir comigo?<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Não. Explorar seu corpo me daria tanto prazer quanto transar com você, Friday. Quero saber<br />

<strong>de</strong> tudo.<br />

— Tem coisas que jamais vou te contar. — Sei disso e ele precisa saber também. Assim, ele não<br />

terá expectativas não atendidas. — Não consigo me abrir tão profundamente. Com ninguém. Sinto<br />

muito. — Começo a me remexer, sem saber o que fazer com as mãos. — Então, mesmo <strong>de</strong>pois que<br />

meu pequeno problema médico for resolvido, não abrirei meu coração para você. Me inclino e<br />

seguro seu rosto. Passo meus <strong>de</strong>dos por baixo <strong>de</strong> seus olhos com um toque suave.<br />

— Mas vou dormir com você. Nos meus termos.<br />

— Não gosto <strong>de</strong> compartilhar — ele fala.<br />

— Nem eu.<br />

— Não vou compartilhar — ele esclarece.<br />

— Nem eu.<br />

Ele sorri.<br />

— Você não vai facilitar as coisas, não é?<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Provavelmente não.<br />

— Tenho a sensação <strong>de</strong> que seremos realmente bons juntos.<br />

— Você sempre mantém suas promessas, certo?<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Eu tento.<br />

— Prometa que não vai me magoar.<br />

Ele suspira.<br />

— Friday.<br />

— <strong>Paul</strong> — respondo, zombando <strong>de</strong> seu tom.<br />

— Para que eu te magoasse, você teria que confiar em mim primeiro.<br />

Concordo. É verda<strong>de</strong>.<br />

— Certo.<br />

— Mas se você nunca confiar em mim o suficiente, prometo não te machucar. É isso que você<br />

quer ouvir? — Ele balança a cabeça. — Nem sei por que isso é um problema, já que você só<br />

preten<strong>de</strong> me usar para sexo. — Ele ri e levanta a mão. — Sou voluntário! — fala animado.<br />

Eu rio. A única coisa ruim é que se alguém po<strong>de</strong> me magoar, é ele. Não o tiro da cabeça há muito<br />

tempo. Tanto que já não sabia mais on<strong>de</strong> compartimentalizá-lo.<br />

— Quer ser minha namorada? — ele brinca.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Vamos começar com colegas <strong>de</strong> apartamento.


Ele balança a cabeça.<br />

— Vou aceitar tudo o que você quiser me dar.<br />

Ele se levanta e esten<strong>de</strong> a mão. Seguro-a e ele gentilmente me puxa. Vai comigo até a porta do<br />

meu quarto, solta minha mão e se afasta.<br />

— Tranque a porta — ele fala.<br />

— Por quê?<br />

— Para que Hayley não te acor<strong>de</strong> <strong>de</strong> manhã. Ela é intrometida. E se levanta antes do galo cantar.<br />

Eu rio.<br />

— Não me importo.<br />

— Tranque, ou virei até aqui no meio da noite. Sou intrometido também.<br />

— Vou arriscar — sussurro e fecho a porta. Ouço seus passos no chão enquanto ele se afasta.<br />

Encosto na porta e, finalmente, me permito respirar. Deus, on<strong>de</strong> fui me meter?


P A U L<br />

S<br />

oube que Friday estava grávida antes mesmo que ela soubesse. Ela está aqui há pouco mais <strong>de</strong><br />

uma semana e tem acordado se sentindo mal nos últimos dois dias. É malda<strong>de</strong> da minha parte <strong>de</strong>sejar<br />

que ela tenha pego algum vírus? Bato na porta do banheiro e pergunto se ela precisa <strong>de</strong> alguma coisa.<br />

Ela grunhe e suspira.<br />

— Vá embora.<br />

Não abro a porta porque ainda não temos esse tipo <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong>. Falo pela fresta.<br />

— Quer um pano molhado? — pergunto.<br />

— Sim — ela respon<strong>de</strong> baixinho.<br />

Abro a porta para encontrá-la encostada na pare<strong>de</strong>, cotovelo apoiado no joelho. Ela está <strong>de</strong><br />

camiseta e calcinha e posso ver o elástico da peça íntima em sua perna. Afasto o olhar, pego uma<br />

toalha do armário, coloco <strong>de</strong>baixo d’água e torço. Entrego a ela, que a coloca sobre a testa.<br />

— Obrigada.<br />

— Quer que eu a aju<strong>de</strong> a se levantar? — Estendo a mão para ela.<br />

— Ainda não — ela respon<strong>de</strong> e, <strong>de</strong> repente, se inclina sobre o vaso novamente, quase colocando<br />

as tripas para fora.<br />

Acabei <strong>de</strong> acordar, então, começo a escovar os <strong>de</strong>ntes. Não quero <strong>de</strong>ixá-la assim, mas não posso<br />

ficar aqui sem fazer nada.<br />

— Quando você vai ao médico? — pergunto.<br />

— Amanhã.<br />

— <strong>Os</strong> dois vão ficar loucos <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> — falo. Essa parte me faz feliz. Garrett e Cody ficarão<br />

exultantes.<br />

Estendo a mão e, <strong>de</strong>sta vez, ela a segura e me <strong>de</strong>ixa puxá-la para cima. Ela pega a escova <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntes e começa a escová-los, mas até isso a <strong>de</strong>ixa enjoada. Esfrego suas costas suavemente e ela me<br />

olha pelo espelho.<br />

— Vá embora — ela fala, com a escova na boca.<br />

— Não. — Cruzo os braços e encosto meu traseiro na bancada. — Eu meio que gosto <strong>de</strong> ver<br />

você se arrumando.<br />

Ela abre a cortina do box e gira o registro do chuveiro.<br />

— Tem certeza <strong>de</strong> que não quer ir embora? — ela pergunta, os olhos brilhando com o <strong>de</strong>safio.<br />

— Não se você precisar <strong>de</strong> mim.<br />

Ela dá <strong>de</strong> ombros, puxa a camiseta sobre a cabeça e a joga no cesto. De repente, está vestindo


apenas uma calcinha cor <strong>de</strong> rosa. Posso ver a extensão das suas costas nuas. Ela tem uma tatuagem <strong>de</strong><br />

Phoenix que jamais imaginaria, juntamente com outras menores.<br />

— Isso não é justo — falo. Ela está <strong>de</strong> costas para mim, virada para o chuveiro.<br />

— Eu avisei — ela provoca sobre o ombro.<br />

Enganchando os polegares nas tiras da calcinha, ela a puxa para baixo. Suas costas têm duas<br />

covinhas adoráveis na parte <strong>de</strong> baixo. E seu traseiro é tão redondo e perfeito quanto imaginei em<br />

meus sonhos.<br />

Viro-me para a porta.<br />

— Pelo amor <strong>de</strong> Deus, Friday — resmungo.<br />

Ela faz um barulho, mas não sei se é riso ou se ainda está passando mal.<br />

— Da próxima vez, você precisa me <strong>de</strong>ixar sozinha quando eu estiver no banheiro — ela grita<br />

sobre o barulho da água.<br />

— Posso ir ao médico com você amanhã? — pergunto e estremeço. Por que perguntei isso?<br />

Ela abre a cortina e olha para mim.<br />

— Por que você quer ir?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros e <strong>de</strong>svio o olhar.<br />

— Eu quero.<br />

— Dez horas — ela fala e fecha a cortina.<br />

Quero socar o ar, porque sinto que finalmente ganhei uma batalha com Friday. Foi uma batalha<br />

atrás da outra durante a semana toda. Ela disputou comigo para pegar Hayley. Cozinhou e lavou a<br />

roupa, mesmo sabendo que eu planejava fazer aquilo. Fez o jantar para minha filha e eu duas vezes na<br />

semana passada. Até Sam aproveitou quando esteve em casa.<br />

Não estou acostumado a ter alguém cuidando <strong>de</strong> mim e não sei se gosto. Há muito tempo, eu<br />

mesmo cuido <strong>de</strong> mim, mas Friday veio como um rolo compressor e mudou a porra da minha vida<br />

toda.<br />

— Ah — falo. — Quero levar você a um lugar especial.<br />

— On<strong>de</strong>? — ela pergunta sob o chuveiro.<br />

— Meu pai costumava me levar a um antigo cinema. Está fechado agora, mas é meu lugar<br />

favorito. Vamos ter que dar um jeito <strong>de</strong> entrar, mas a última vez que fui lá, o projetor ainda<br />

funcionava. Só precisaríamos ligá-lo.<br />

Ela coloca a cabeça para fora da cortina novamente.<br />

— Nunca ouvi você falar qualquer coisa boa sobre seu pai antes.<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— É apenas uma sala <strong>de</strong> cinema.<br />

— Não, não é — ela respon<strong>de</strong>. — Acho que po<strong>de</strong>ríamos ir. É aquele com a velha bilheteria na<br />

frente?<br />

— Sim.<br />

— Gostaria <strong>de</strong> ir lá.<br />

Meu coração se aquece.<br />

— Que bom.<br />

Sua voz me tira dos meus pensamentos.<br />

— Po<strong>de</strong> me passar uma toalha?<br />

Abro o armário e pego a maior e mais fofa que encontro. Deve ser <strong>de</strong>la, porque nenhuma que


tenho é tão macia como essa. Ela abre um pouco da cortina, seu braço fino e tatuado balançando com<br />

impaciência para mim. Deus, ela me faz rir.<br />

Essa é a melhor coisa a respeito <strong>de</strong> Friday. Ela me faz rir. Mas, só <strong>de</strong> olhá-la, fico mais animado.<br />

— Lembra daquele cara que estava no estúdio semana passada, quando estávamos discutindo? —<br />

pergunto enquanto ela seca os cabelos com a toalha. Posso vê-la se mexer pela parte <strong>de</strong> cima da<br />

cortina do box.<br />

— Quando?<br />

Discutimos mais do que concordamos e eu adoro isso. Ela é a única pessoa que tenta me colocar<br />

no meu lugar.<br />

— Quando você chorou e foi para o banheiro.<br />

— Sim — ela respon<strong>de</strong> e abre a cortina. Percebo que a toalha está enrolada em seu corpo nu, e a<br />

ponta presa entre os seios. — Pare <strong>de</strong> olhar meus seios — ela fala. Mas sorri e balança a cabeça,<br />

então sei que não estou em apuros. — O que tem ele?<br />

— Ele me ligou ontem. Quer fazer um piloto para um reality show no estúdio.<br />

Friday ergue os olhos para mim. Percebo que ela tem sardas lindas no nariz. Não costumo vê-la<br />

sem maquiagem. Gosto disso. Gosto muito. Passo o <strong>de</strong>do sobre seu nariz.<br />

Ela faz uma careta.<br />

— Por que ele iria querer fazer um reality no estúdio?<br />

— Bem, somos cinco tatuadores e, pelo que ele disse, tatuagem está na moda. Além disso, Emily<br />

está gravando com a Fallen from Zero e Sam tem sido observado por olheiros da NFL. — Desvio os<br />

olhos <strong>de</strong>la.<br />

— E o que mais?<br />

Sorrio.<br />

— O que faz você pensar que há mais?<br />

— Você é terrível quando tenta se esquivar.<br />

— Eles adoraram a família misturada <strong>de</strong> Matt, e o trabalho social que Reagan e Pete fazem os<br />

<strong>de</strong>ixou realmente animados.<br />

Ela ergue a sobrancelha.<br />

— E?<br />

— Parece que eles acharam que temos química.<br />

Ela bufa.<br />

— Química?<br />

— Química — repito.<br />

Ela me olha pelo espelho enquanto passa um pente pelos cabelos.<br />

— Como você se sente sobre isso?<br />

Ela passa por mim e vai até o armário <strong>de</strong> remédios. A frente do seu corpo roça no meu e ela<br />

apoia uma mão em meu peito enquanto pega um hidratante. Ela coloca um pouco nas mãos e põe um<br />

pé sobre a tampa fechada do vaso sanitário.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela me chama, me trazendo <strong>de</strong> volta para... on<strong>de</strong> eu estava?<br />

— O quê? — pergunto.<br />

— Como você se sente sobre o reality show?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— É muito dinheiro.


— Quanto?<br />

Ela levanta a outro pé e começa a esfregar o creme.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela chama novamente.<br />

— O suficiente para que todos pu<strong>de</strong>ssem ter um bom começo <strong>de</strong> vida.<br />

— E quanto a você?<br />

— O que tem eu?<br />

— Isso o ajudaria?<br />

— Isso não importa. Só quero ver todo mundo bem <strong>de</strong> vida e feliz.<br />

Ela balança a cabeça, fica na ponta dos pés, beija minha bochecha muito rapidamente e volta a<br />

apoiar os pés no chão.<br />

— Você <strong>de</strong>veria falar com eles sobre isso.<br />

Concordo.<br />

— Eu vou. — Olho atentamente para ela. — Gosto das suas sardas — falo.<br />

— Que bom. — Ela sorri. — O que acha <strong>de</strong> ir a um lugar comigo hoje? — ela pergunta.<br />

Logan, Matt, Sam e Pete estão trabalhando hoje, então, tecnicamente não tenho que ir para o<br />

estúdio. Estreito meus olhos para ela.<br />

— On<strong>de</strong>?<br />

— É surpresa. — Ela sorri maliciosamente. — Você não está com medo, não é?<br />

Eu zombo.<br />

— De você? Nunca.<br />

Sinto medo <strong>de</strong>la todos os dias, caramba. Ela faz meu estômago apertar, meu coração acelerar e<br />

minha cabeça girar. E faz isso sem nem me tocar. Um dia, sei que ela vai querer me tocar e vou tocála<br />

<strong>de</strong> volta. Mas preciso que ela dê o primeiro passo. Tenho pavor <strong>de</strong> amá-la, pois sei que não vai<br />

ser fácil. Mas também sei que não quero per<strong>de</strong>r a chance.


F R I D A Y<br />

É<br />

fim <strong>de</strong> maio, e hoje há uma gran<strong>de</strong> ação <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> no parque para o abrigo em que sou<br />

voluntária. Eles montaram tendas e em cada uma tem ativida<strong>de</strong>s diferentes acontecendo. A minha é<br />

pintura corporal. Vou fazer tatuagens <strong>de</strong> hena e pintura nas crianças durante o dia todo. Tudo que<br />

pu<strong>de</strong>r ser pintado, vou pintar.<br />

Prendo meu cabelo num rabo <strong>de</strong> cavalo. Não costumo fazer muito trabalho voluntário, mas esse<br />

tipo <strong>de</strong> evento eu gosto. Devo minha vida a essa missão <strong>de</strong> resgate: eles me apoiaram quando mais<br />

ninguém apoiou. Minha vida estava fora <strong>de</strong> controle e eles me ajudaram a ficar <strong>de</strong> pé novamente.<br />

Eles não conhecem a nova Friday, então preciso ir como a antiga. E é aquela que <strong>Paul</strong> nunca viu. Não<br />

estou usando maquiagem e visto short e uma camiseta que diz que vou trabalhar para a mudança. E<br />

vou mesmo. Estou disposta a fazer o máximo para arrecadar dinheiro para eles. Seja dinheiro,<br />

cheque ou cartão. Se pu<strong>de</strong>r fazer algo para tirar uma garota das ruas, terei feito algo <strong>de</strong> bom e posso<br />

dormir mais tranquila.<br />

Coloco um boné <strong>de</strong> beisebol e prendo o rabo <strong>de</strong> cavalo na parte <strong>de</strong> trás. Pego a mochila com<br />

todas as minhas tintas e a coloco sobre os ombros. O resto das coisas está me esperando na tenda.<br />

— Vamos nos atrasar — falo, correndo em direção à porta da frente.<br />

— Nossa, Friday — <strong>Paul</strong> fala calmamente ao ver o que estou vestindo.<br />

Olho para baixo e puxo meu short jeans.<br />

— O quê? — pergunto.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Nunca vi você tão... normal.<br />

— É ruim? — pergunto.<br />

Ele fecha a boca.<br />

— Não — ele respon<strong>de</strong> e sorri. — É bom. Muito, muito bom.<br />

Costumo usar minhas roupas e sapatos vintage quando trabalho no estúdio e as pessoas passaram<br />

a esperar me ver assim, então, continuo a fazê-lo. Chama bastante atenção e é o que o estúdio<br />

precisa.<br />

— Está pronto? — pergunto.<br />

Ele está vestindo calça jeans e camiseta com o logotipo do estúdio <strong>Reed</strong>’s.<br />

— Tem problema se você se sujar?<br />

<strong>Paul</strong> olha para o que está vestindo.<br />

— Acho que não. — Ele para e segura meu cotovelo. — Não vai me fazer rolar na lama ou algo


assim, não é?<br />

— Nada tão sofisticado assim — falo.<br />

Ele revira os olhos e me segue para fora. Ao chegarmos à rua, ele pega a mochila dos meus<br />

ombros, coloca no seu e segura minha mão. Meu coração acelera. Nunca imaginei que <strong>Paul</strong> fosse o<br />

tipo <strong>de</strong> cara carinhoso, mas ele é. Ele nunca fez <strong>de</strong>monstrações públicas <strong>de</strong> afeto quando estava com<br />

Kelly ou qualquer uma das outras garotas com quem já dormiu, mas comigo é como se não pu<strong>de</strong>sse<br />

ficar longe.<br />

Ele aperta minha mão.<br />

— Tudo bem por você? — pergunta.<br />

Concordo com a cabeça e sorrio para ele, que tem as covinhas mais adoráveis. E ele sorri,<br />

mostrando-as para mim.<br />

— Não tem medo que alguém tenha i<strong>de</strong>ia errada sobre nós? — pergunto.<br />

— Com que i<strong>de</strong>ia você está preocupada?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Que achem que somos alguma coisa.<br />

— Somos alguma coisa — ele fala, balançando nossas mãos entrelaçadas. — Somos uma coisa<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

Ao chegarmos ao parque, vejo que já tem uma fila na minha tenda. Faço isso todo ano e as<br />

pessoas sempre aparecem para que eu <strong>de</strong>senhe algo nelas.<br />

— O que vamos fazer? — <strong>Paul</strong> pergunta.<br />

Sorrio para ele.<br />

— Pintar — respondo, esfregando as mãos com contentamento.<br />

Chamo a primeira pessoa, que está com uma menina. Ela se senta no banco.<br />

— O que você gostaria <strong>de</strong> ser? — pergunto a ela.<br />

— Um sorvete! — fala.<br />

O pai brinca com ela.<br />

— A moça não perguntou o que você quer comer. Perguntou o que você quer ser.<br />

— Uma borboleta — ela pe<strong>de</strong>.<br />

Pego um pincel e começo a pintar enquanto <strong>Paul</strong> me observa <strong>de</strong> perto. Em menos <strong>de</strong> um minuto<br />

tenho uma borboleta pintada ao redor dos seus olhos, que se parecem com um sorvete <strong>de</strong> chocolate e<br />

menta. <strong>Paul</strong> olha para mim.<br />

— Ficou muito bom — diz ele.<br />

Sorrio.<br />

— Eu sei.<br />

Aponto para o estoque <strong>de</strong> tinta preso à pare<strong>de</strong> falsa atrás <strong>de</strong>le.<br />

— Po<strong>de</strong> começar. Bolas <strong>de</strong> beisebol e flores brilhantes te esperam.<br />

— Tudo bem — ele fala e se senta. Faz um gesto para o próximo da fila, que traz uma menina<br />

com ele. Ela se agarra às pernas do pai.<br />

— Quer tentar me pintar? — ele pergunta e estica o braço. — Bem aqui — instrui.<br />

Ela pega o pincel, faz um re<strong>de</strong>moinho em seu braço e ele faz uma gran<strong>de</strong> encenação sobre como<br />

ela pinta bem. A garota sorri e <strong>de</strong>volve o pincel.<br />

— Agora é a sua vez — ele fala enquanto ela se senta no banco. Então começa a pintar.<br />

Poucos minutos <strong>de</strong>pois, ele a ajuda a se levantar e vejo que a transformou num tigre. Ficou muito


om. Sabia que ele seria ótimo nisso, pois trabalha com arte. Do tipo permanente. Obviamente, ele<br />

arrasou.<br />

O pai da criança aperta a mão <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> e um dos voluntários recebe o dinheiro e chama o próximo<br />

da fila.<br />

Depois <strong>de</strong> algum tempo, olho para frente e <strong>de</strong>scubro que nossa fila está dando a volta na tenda e<br />

indo além. Nem consigo ver on<strong>de</strong> termina.<br />

<strong>Paul</strong> pega o telefone e faz uma ligação.<br />

— Ei, Matt — ele fala. — Feche o estúdio e venha para o festival no parque. Precisamos <strong>de</strong><br />

ajuda — ele fala. — Traga todo mundo.<br />

<strong>Paul</strong> sorri para mim, e eu balanço a cabeça. Ele parece feliz por estar aqui. E estou feliz por tê-lo<br />

comigo. Não sou apaixonada por muitas coisas, mas amo arte. E a família <strong>Reed</strong>. Coloque os dois no<br />

mesmo lugar, ajudando uma instituição <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> que adoro e é como se eu estivesse no céu.<br />

Ouço um grito quando seus quatro lindos irmãos surgem e se acomodam para começar a<br />

trabalhar. Logan trouxe Emily, Matt trouxe Sky e Pete, Reagan. Todos se ocupam, ajudando a recolher<br />

dinheiro e organizar as filas para cada mesa.<br />

<strong>Os</strong> meninos sorriem e se preparam para o dia. Ouço risos e percebo que nossa fila não é mais<br />

composta apenas <strong>de</strong> crianças que querem pintar os rostos. Há adolescentes e até mulheres mais<br />

velhas na fila também.<br />

— Vocês estão atraindo uma multidão — digo a <strong>Paul</strong>. Seu rosto cora e ele dá <strong>de</strong> ombros. O cara é<br />

um gostosão e ainda fica vermelho quando é admirado? Fico <strong>de</strong> pé na ca<strong>de</strong>ira e coloco as mãos ao<br />

redor da boca. Falo para a multidão:<br />

— Atenção, por favor — grito. — Acho que está ficando quente aqui e que eles <strong>de</strong>veriam tirar as<br />

camisetas. O que acham?<br />

Ouço gritos animados e vejo pessoas que nem estão em nossa fila parar para assistir.<br />

Sam sorri e tira a camisa. Esses meninos não são nada tímidos. Olho para a multidão.<br />

— Só um tirou? Acho que eles precisam <strong>de</strong> um incentivo! — Estendo o pote <strong>de</strong> dinheiro e as<br />

pessoas se aproximam para enchê-lo. Olho para baixo e conto mentalmente.<br />

— Há o suficiente aqui para que mais um <strong>de</strong> vocês tire a camisa.<br />

Reagan olha para Pete e revira os olhos. Então, faz um gesto para ele ir em frente. Muito<br />

lentamente, Pete tira a camiseta. <strong>Os</strong> aplausos da multidão ficam ainda mais altos.<br />

Sky olha para Matt e faz um gesto para que ele seja o próximo.<br />

— O quê? — ela pergunta, levantando as mãos quando ele a olha. — Tenho orgulho do meu<br />

marido. Ele puxa a camiseta para cima, <strong>de</strong> forma que a multidão consiga ver o sapo em seu abdômen,<br />

mas a <strong>de</strong>ixa cair novamente.<br />

Ele balança a cabeça e se senta.<br />

— Não tem dinheiro suficiente no pote. — fala.<br />

— Mil dólares para vocês três tirarem! — Alguém grita no fundo. Uma senhora vem em nossa<br />

direção e todos nós rimos quando vemos que é a mãe da Emily.<br />

— Isso é trapaça — Matt fala, mas tira a camisa. Várias mulheres ao redor suspiram em voz alta.<br />

Sky aponta para a barriga e fala:<br />

— Ele tem três em casa e mais dois a caminho. — Solto uma risada com a necessida<strong>de</strong> que ela<br />

tem <strong>de</strong> falar isso. Mas ele passou a ser o mais procurado dos cinco. Quem não quer um homem que<br />

assuma suas responsabilida<strong>de</strong>s? Matt se inclina e beija a barriga <strong>de</strong> Sky.


Logan é o próximo a tirar a camisa. Ouço alguns gritos excitados e gemidos frustrados vindo da<br />

multidão.<br />

<strong>Paul</strong> é o único que ainda está vestido.<br />

— Sua vez, grandão — a sra. Madison fala. Ela ergue a sobrancelha e a multidão vai a loucura.<br />

<strong>Paul</strong> se levanta, vira para mim e pergunta.<br />

— O que ganho se tirar a camiseta?<br />

Faço um movimento para as pessoas.<br />

— A aprovação da multidão?<br />

— Não é suficiente. — Ele balança a cabeça e se senta novamente.<br />

Inclino-me em sua mesa, apoiando as mãos nela, e pergunto:<br />

— O que mais você quer?<br />

O sorriso <strong>de</strong>saparece do seu rosto.<br />

— Quero tudo — ele fala. — Mas vou começar com um beijo.


P A U L<br />

F<br />

riday tem tinta na testa e na lateral do rosto. E nunca a vi tão linda. Ela se inclina sobre a mesa<br />

e, pela primeira vez, não consigo ver seu <strong>de</strong>cote, pois está coberto pela camiseta. No entanto, ela é<br />

tão sexy que me tira o fôlego.<br />

— Você que um beijo? — ela pergunta, se senta e coloca as mãos sobre os quadris.<br />

Aceno com a cabeça.<br />

— Quero.<br />

Observo o movimento <strong>de</strong> sua garganta quando ela engole em seco.<br />

— Se eu te beijar, vai tirar a camisa? — ela pergunta.<br />

Eu me levanto.<br />

— Faço o que você quiser por um beijo seu, Friday.<br />

— Tira isso, então — ela fala. A multidão começa a cantar “tira, tira”, li<strong>de</strong>rada por meus irmãos.<br />

— Traidores — falo. Eles riem e a multidão se anima ainda mais.<br />

Seguro a barra da camiseta e a puxo lentamente. O olhar <strong>de</strong> Friday <strong>de</strong>sliza por meu corpo<br />

enquanto a peça sobe e o sinto me tocar do umbigo aos ombros.<br />

A multidão vai à loucura quando jogo a camisa aos meus pés. Dou um passo em direção a Friday.<br />

— Hora <strong>de</strong> pagar — falo.<br />

Ela ri e se vira, como se fosse fugir <strong>de</strong> mim. Envolvo um braço em sua cintura e a puxo, virandoa<br />

para que a parte da frente do seu corpo toque o meu. Deslizo meu joelho entre suas pernas e a<br />

seguro pela cintura. Aperto sua bunda e a levanto, <strong>de</strong> forma que seus lábios fiquem próximos dos<br />

meus.<br />

Nossos olhares se encontram e eu congelo. No último minuto, beijo-a no rosto, com um barulho<br />

alto e a coloco <strong>de</strong> pé. Ela per<strong>de</strong> o equilíbrio e eu a seguro pelos cotovelos.<br />

— Você me <strong>de</strong>ve — digo a ela.<br />

— Não te <strong>de</strong>vo nada — ela brinca. — Per<strong>de</strong>u sua chance.<br />

Inclino-me para perto do seu ouvido.<br />

— Quando eu finalmente te beijar, não vai ser na frente <strong>de</strong> uma multidão. Seremos eu, você e<br />

mais ninguém. — Beijo o canto dos seus lábios e ela balança o <strong>de</strong>do para mim. Seguro sua mão e a<br />

puxo contra o peito. — E vai balançar seu mundo.<br />

— Prove.<br />

Concordo.<br />

— Quando estivermos sozinhos.


— Vou acreditar quando vir — ela provoca.<br />

Como nós cinco estamos sem camisa, Friday, Reagan, Sky e Emily redirecionam a fila <strong>de</strong> forma<br />

que as crianças vão para Friday e os adultos para nossas mesas. Por mim, tudo bem. Estou<br />

acostumado a lidar com mulheres excessivamente animadas todos os dias, apesar <strong>de</strong> não costumar<br />

fazer isso sem a camiseta.<br />

Uma mulher que está na casa dos oitenta anos se arrasta em seu andador. Ela coloca a mão em<br />

meu peito e olha para o piercing no meu mamilo. Depois, balança a cabeça e segura o primeiro botão<br />

da minha calça jeans. Ela o abre, chega para trás e ri.<br />

— Agora, ele vai ganhar mais dinheiro — fala.<br />

Friday cora e, <strong>de</strong> repente, não consegue tirar os olhos da minha barriga.<br />

A mulher mais velha se senta e eu faço asas <strong>de</strong> anjo em seu braço, com o nome <strong>de</strong> seu falecido<br />

marido na parte <strong>de</strong> baixo. Ela me conta a história <strong>de</strong> como se conheceram, se apaixonaram, e tiveram<br />

oito filhos. Quando terminarmos, ela enfia uma nota <strong>de</strong> vinte dólares no cós da minha calça e pisca<br />

para mim.<br />

— Não a <strong>de</strong>ixe ir embora — ela fala, apontando para Friday.<br />

— Não pretendo.<br />

— Ela vai ser um <strong>de</strong>safio.<br />

Dou uma risada.<br />

— Já é.


F R I D A Y<br />

O<br />

s voluntários trouxeram garrafas <strong>de</strong> água e, ao meio dia, <strong>Paul</strong> pediu a Sam que fosse buscar<br />

almoço para todos nós. Mas, às cinco da tar<strong>de</strong>, estou morrendo <strong>de</strong> fome. <strong>Os</strong> meninos vestiram as<br />

camisas quando o calor começou a abrandar e nossa fila diminuiu. Nem <strong>de</strong>veríamos ter ficado por<br />

tanto tempo, mas não conseguimos terminar o trabalho. As pessoas esperavam pacientemente.<br />

<strong>Paul</strong> molha o pincel em um copo com água e o enxagua.<br />

— Acho que estou pronto para encerrar o dia.<br />

— Eu também — seus irmãos respon<strong>de</strong>m.<br />

Todo mundo ajuda a arrumar as coisas. Emily se agacha para pegar um pedaço <strong>de</strong> papel que caiu<br />

e sua camisa <strong>de</strong>sliza pela barriga. Balanço a cabeça, pois Logan pintou uma gran<strong>de</strong> bola <strong>de</strong> basquete<br />

ali. Parece <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, só que ainda maior. Quando ela se abaixa, não consegue levantar.<br />

— Logan — chama num lamento.<br />

Mas Logan está olhando para o outro lado e não po<strong>de</strong> ouvi-la. <strong>Paul</strong> corre em sua direção e<br />

oferece uma mão, mas quando ela se levanta, faz uma carranca e segura a barriga.<br />

— Oh oh — ela fala e olha para a água que está no chão e sobre os sapatos <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. — Desculpe.<br />

<strong>Paul</strong> <strong>de</strong>svia o olhar.<br />

— Ou você <strong>de</strong>rrubou sua água ou o bebê está pronto para aparecer.<br />

Ela segura uma garrafa cheia <strong>de</strong> água que ainda está tampada.<br />

— Sinto muito por seus sapatos — ela fala e se senta, segurando a barriga como se o bebê<br />

pu<strong>de</strong>sse tentar sair pelo umbigo. — Po<strong>de</strong> chamar Logan para mim?<br />

Sam cutuca o ombro <strong>de</strong> Logan e aponta para Emily. Ela balança o <strong>de</strong>do para ele.<br />

— Acho que finalmente chegou a hora — diz.<br />

— Puta merda — Logan fala enquanto passa os <strong>de</strong>dos pelo cabelo. Ele ajoelha na frente <strong>de</strong>la. —<br />

Está falando sério?<br />

Ela sorri para ele.<br />

— Ou isso, ou fiz xixi no sapato <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. E acho que jamais seria capaz <strong>de</strong> viver com a última<br />

opção, então, espero que seja a primeira.<br />

Reagan balança as chaves para eles e diz:<br />

— Pegue meu carro. — Logan tira as chaves do bolso. — O nosso está no apartamento. Po<strong>de</strong><br />

pegar se precisar. — Reagan aceita, mas sei que não vai usá-lo. Vai ficar, como todos nós, andando<br />

<strong>de</strong> um lado para o outro na sala <strong>de</strong> espera do hospital.<br />

— Nos encontramos lá — <strong>Paul</strong> fala, mas Logan está focado exclusivamente em Emily. Ele sequer


ouve o comentário o irmão.<br />

Em vai para o carro com Logan segurando seu cotovelo.<br />

Pego no braço <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>.<br />

— Você não acha que ela exagerou hoje, não é? — pergunto.<br />

Ele se inclina e beija a ponta do meu nariz.<br />

— Acho que está na hora do mais novo <strong>Reed</strong> chegar.<br />

— A mãe <strong>de</strong>la ainda está aqui? — pergunto e olho ao redor, mas ela <strong>de</strong>ve ter ido embora <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> fazer sua gran<strong>de</strong> doação para que os meninos tirassem a camiseta.<br />

— Ela já foi. Logan vai mandar uma mensagem <strong>de</strong> texto.<br />

— Devo ligar para ela? — pergunto.<br />

Ele sorri e levanta a aba do meu boné <strong>de</strong> beisebol.<br />

— Acho que esse é o show <strong>de</strong> Logan. Devemos <strong>de</strong>ixá-lo pedir ajuda se precisar. E ele vai pedir.<br />

Eventualmente. Quando pu<strong>de</strong>r pensar <strong>de</strong> novo.<br />

O telefone <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> vibra no bolso. Ele o pega e sorri ao ler a mensagem.<br />

— Ele quer que um <strong>de</strong> nós vá até seu apartamento para pegar a bolsa <strong>de</strong> Emily com as roupas e<br />

outras coisas.<br />

Ele tinha razão. Ele os conhece tão bem.<br />

Reagan balança a chave que Logan havia dado a ela.<br />

— Nós vamos.<br />

<strong>Paul</strong> concorda.<br />

— Encontramos vocês no hospital.<br />

Sky se senta em uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

— Ah, merda — Matt diz, ficando <strong>de</strong> cócoras ao lado <strong>de</strong>la. — Não está em trabalho <strong>de</strong> parto<br />

também, não é?<br />

É muito cedo para Sky. Muito cedo.<br />

— Não — ela respon<strong>de</strong>. — Só estou cansada.<br />

Matt olha para <strong>Paul</strong> como se estivesse esperando por uma garantia.<br />

— Este é o primeiro bebê <strong>de</strong>la — <strong>Paul</strong> fala. — Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar um tempo. — Vão para casa e<br />

<strong>de</strong>scansem por algumas horas. Tirem um cochilo. Ligo se as coisas andarem mais rápido que o<br />

esperado.<br />

Sky dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Precisamos ver as meninas e Seth, <strong>de</strong> qualquer forma.<br />

Matt concorda.<br />

— Nos avise se algo <strong>de</strong>r errado. Ou se for mais rápido. Ou qualquer outra coisa.<br />

<strong>Paul</strong> segura a minha mão e me puxa para a saída. <strong>Os</strong> voluntários concordaram em <strong>de</strong>smontar as<br />

mesas e guardar o dinheiro que arrecadamos. Já contei duas vezes e conseguimos pouco mais <strong>de</strong> onze<br />

mil dólares. Foi um ótimo dia.<br />

— Você <strong>de</strong>ve estar muito orgulhosa — <strong>Paul</strong> fala, enquanto <strong>de</strong>scemos as escadas do metrô. —<br />

Conseguiu muito dinheiro para a carida<strong>de</strong>.<br />

Ele aperta minha mão, e eu retribuo o gesto.<br />

— Nós conseguimos muito dinheiro. Não eu — corrijo. — Não conseguiria isso sem vocês.<br />

— É para isso que a família serve — ele fala e observa meu rosto <strong>de</strong> perto quando estamos<br />

entrando no metrô. Não há lugares vagos, então ele se levanta, segura na barra e envolve o braço


livre em minha cintura. Ele me puxa contra seu corpo e estou tão próxima que posso sentir a batida<br />

do seu coração contra meu peito. — On<strong>de</strong> está sua família? — ele me pergunta em voz baixa.<br />

— Bem aqui — respondo. Olho para ele e seus olhos azuis estão claros e brilhantes. E<br />

<strong>de</strong>monstram curiosida<strong>de</strong>. Mas não <strong>de</strong> uma forma invasiva. De um jeito íntimo.<br />

— Gosto <strong>de</strong>ssa resposta — ele fala e ri. — Mas quem você tinha antes <strong>de</strong> nós?<br />

— Ninguém — respondo e afasto o olhar. Coloco minha cabeça sobre seu ombro, assim não<br />

tenho que olhar em seus olhos, pois ele po<strong>de</strong> encontrar a verda<strong>de</strong> neles e essa é a última coisa que<br />

quero que <strong>Paul</strong> saiba. Ele preza pela família e se souber que a minha me afastou e que <strong>de</strong>pois eu fiz o<br />

mesmo, po<strong>de</strong>ria me odiar. E não quero que me o<strong>de</strong>iem.<br />

— Você acha que vai po<strong>de</strong>r me dizer um dia? — ele pergunta, me vira em seus braços e se<br />

inclina para perto da minha orelha.<br />

Não quero respon<strong>de</strong>r, então fico na ponta dos pés e pressiono meus lábios contra os <strong>de</strong>le. Ele<br />

congela e, imediatamente percebo que cometi um gran<strong>de</strong> erro. Mas, então, um rugido vibra contra<br />

minha boca, e ele me beija <strong>de</strong> volta. Lambe meus lábios e me faz sentir como se eu nunca tivesse sido<br />

beijada antes. Tento tocar sua língua com a minha. Suas mãos seguram meu rosto e ele faz barulhinhos<br />

enquanto me beija. Posso sentir o arrepio por todo meu corpo até a ponta dos pés. Seguro sua<br />

camiseta e me estico mais, me pressionando contra ele enquanto tento entrar em seu coração.<br />

Uma tosse alta nos tira daquele <strong>de</strong>vaneio. Me assusto e ele me olha. Seus olhos observam os<br />

meus e fico preocupada que ele encontre meus medos e ansieda<strong>de</strong> sobre meu passado. Me preocupo<br />

ainda mais que encontre meus sentimentos por ele brilhando ali <strong>de</strong>ntro. Isso vai fazer com que saiba<br />

<strong>de</strong>mais. E po<strong>de</strong>ria usar isso contra mim. Não quero que seja capaz <strong>de</strong> ir tão fundo.<br />

— Droga — ele resmunga.<br />

Um sorriso surge no canto dos meus lábios.<br />

— Algo errado? — pergunto.<br />

— Gosto quando você me beija, mas não gosto quando usa seus beijos para fugir das minhas<br />

perguntas — ele fala em voz baixa e me aperta em um abraço suave.<br />

— Não estava fugindo — murmuro. Mas engulo em seco tentando afastar o nó na minha garganta.<br />

— Sim, estava. E não o<strong>de</strong>io isso. — Ele ri baixinho. — Po<strong>de</strong>ria até enten<strong>de</strong>r, se você me<br />

<strong>de</strong>ixasse entrar. Mas não use meus sentimentos como uma cortina <strong>de</strong> fumaça para o que está<br />

realmente acontecendo entre nós, certo? — Ele me aperta novamente.<br />

— O que está acontecendo entre nós? — pergunto, minha voz ligeiramente embargada.<br />

— Estou começando a te conhecer — ele fala com naturalida<strong>de</strong> e levanta meu rosto com o mais<br />

<strong>de</strong>licado dos toques. — Quero saber sobre você — diz ele diretamente. — Tudo.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Você não ia gostar do que <strong>de</strong>scobriria. — Ele me odiaria. Família é tudo para <strong>Paul</strong> e eu me<br />

afastei da minha.<br />

— Me teste — ele fala.<br />

Seguro em sua cintura. Ele ainda está com o braço em volta <strong>de</strong> mim quando o metrô para. Me<br />

olha por um segundo, mas é tempo suficiente para me ver com a testa franzida.<br />

— O que você está escon<strong>de</strong>ndo? — pergunta.<br />

— Tudo — sussurro. Mas falo mais para me lembrar, do que para contar algo que ele não sabe.<br />

Estou escon<strong>de</strong>ndo tudo.<br />

Saio pela porta e, na estação, subimos rapidamente as escadas.


— Friday — ele chama quando estou alguns passos à frente. — Você precisa, pelo menos, me dar<br />

uma chance.<br />

Finjo não ouvir, mas ouço. Seu pedido inva<strong>de</strong> meu coração e semeia as flores da esperança.<br />

Espero que floresça em um lugar on<strong>de</strong> a luz não tenha tocado por um bom tempo.<br />

Achei que as perguntas que <strong>Paul</strong> me fez no metrô tinham sido difíceis, mas não era nada<br />

comprado com as memórias que me pegam quando caminhamos até a maternida<strong>de</strong>.


P A U L<br />

D<br />

eixei Friday caminhar à minha frente até o hospital, pois sinto que ela precisa <strong>de</strong> uma pausa das<br />

minhas perguntas. Não me levem a mal. Quero saber tudo a seu respeito. Mas acho que ela não gosta<br />

da minha curiosida<strong>de</strong>.<br />

Sinto como se estivesse abrindo a tampa <strong>de</strong> um pote novo <strong>de</strong> café. Ao abri-lo, sinto a essência<br />

doce que sai lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro e o cheiro agradável envolvendo o ambiente, mas então, alguém a fecha<br />

novamente. A única coisa ruim é que ela é quem fecha a lata. Sinto um pouquinho da sua essência, e<br />

então ela fecha novamente. O cheiro se vai e tudo que posso ver é a lata, que está muito cheia. Mas<br />

abrir a lata e mantê-la assim... vai ser bem difícil.<br />

Encontramos Pete, Sam e Reagan no caminho para o hospital.<br />

— Chegaram agora? — Pete pergunta. Ele está com uma bolsa bem gran<strong>de</strong> sobre o ombro e<br />

imagino que são as coisas <strong>de</strong> Emily.<br />

— Acabamos <strong>de</strong> entrar — falo e bato em seu ombro. — Precisamos <strong>de</strong>scobrir on<strong>de</strong> eles estão.<br />

Mas Friday rói a unha do polegar e nos indica a direção <strong>de</strong> um elevador. Nós a seguimos e vamos<br />

até o andar que ela escolheu no painel. Ao sairmos, há fotos <strong>de</strong> bebês nas pare<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> enfermeiros<br />

com chupetas e chocalhos. E <strong>de</strong> cães e gatos. Muitos gatos. Mas tenho certeza <strong>de</strong> que estamos no<br />

lugar certo, pois mulheres grávidas pela gente empurrando o suporte <strong>de</strong> soro.<br />

Paramos na recepção e ela pergunta:<br />

— Emily <strong>Reed</strong>?<br />

A enfermeira sorri e nos indica uma direção. Nós a seguimos até um pequeno quarto, on<strong>de</strong> Em<br />

está sentada na cama, usando um avental <strong>de</strong> hospital. Ela puxa a parte <strong>de</strong> trás para fechá-lo e Logan<br />

vai amarrá-lo. Ele sorri, mas ela não parece tão feliz em nos ver. Entrego a bolsa a Friday e faço um<br />

gesto para que Pete e Sam me sigam. Reagan e Friday entram no quarto e a porta se fecha.<br />

— Por que não po<strong>de</strong>mos entrar? — Sam pergunta, parecendo um cachorro que foi chutado.<br />

— Porque ela vai ter a porra <strong>de</strong> um bebê, idiota — respondo. Empurro-o para a sala <strong>de</strong> espera.<br />

Um minuto <strong>de</strong>pois, Logan aparece, torcendo as mãos.<br />

— Ela me expulsou — ele fala.<br />

Cubro a boca com a mão para escon<strong>de</strong>r o riso.<br />

— Por quê?<br />

Ele olha em direção ao quarto.<br />

— Reagan e Friday estão tirando o avental <strong>de</strong>la. — Ele anda <strong>de</strong> um lado para o outro da sala. —<br />

E vão lavar o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> bola <strong>de</strong> basquete da sua barriga.


Aceno <strong>de</strong>scontroladamente para que ele. Assim ele po<strong>de</strong> parar por tempo suficiente para olhar<br />

para mim.<br />

— O que o médico disse? — pergunto, quando finalmente tenho sua atenção.<br />

— Ah — Logan fala, coçando a cabeça. — Quatro centímetros. — Ele ergue quatro <strong>de</strong>dos. —<br />

Cem por cento <strong>de</strong> dilatação.<br />

— Que porra isso quer dizer? — Pete pergunta. — Há algo <strong>de</strong> errado com ela?<br />

Logan se senta no colo <strong>de</strong> Pete e dá um cascudo nele.<br />

— Não, idiota — ele fala quando para. Pete está gemendo e fazendo barulhos estranhos. —<br />

Significa que seu colo do útero está pronto.<br />

Pete o empurra e diz:<br />

— Eca. Não quero falar sobre o colo do útero <strong>de</strong> Emily.<br />

Reagan coloca a cabeça para fora do quarto.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela fala, mexendo o <strong>de</strong>do para mim. — Emily quer falar com você.<br />

— E eu? — pergunta Logan.<br />

Ela balança a mão com impaciência.<br />

— Ainda não —fala. O rosto <strong>de</strong> Logan <strong>de</strong>monstra sua <strong>de</strong>cepção.<br />

— Você se importa? — pergunto, apontando para a sala on<strong>de</strong> ela está esperando. É a esposa <strong>de</strong>le,<br />

afinal <strong>de</strong> contas.<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros e vai até a janela para olhar para fora. Não há nada, apenas uma pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cimento do lado <strong>de</strong> fora, então, sei que ele não está apreciando a vista. Está magoado.<br />

— Vamos — Reagan diz, acenando para mim com impaciência.<br />

— Droga — murmuro comigo mesmo.<br />

Abro a porta com cautela.<br />

— Precisa <strong>de</strong> alguma coisa? — pergunto. Tento não olhar em sua direção, mas ela grunhe para<br />

mim.<br />

— Venha aqui — diz.<br />

Caminho em sua direção, pisando <strong>de</strong> leve e tentando não fazer barulho. Coloco as mãos nos<br />

bolsos e espero.<br />

— Preciso que você cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> Logan — ela fala. — Não quero que ele perca nada, então, po<strong>de</strong><br />

ficar com ele o tempo todo? Não o <strong>de</strong>ixe per<strong>de</strong>r uma palavra. Vou fazer o máximo que posso para que<br />

isso não aconteça, mas tenho medo <strong>de</strong> ficar ocupada <strong>de</strong>mais.<br />

Era só isso que ela queria?<br />

— Certo. — Coço a cabeça novamente. — Você não quer dizer que tenho que ficar no quarto, não<br />

é?<br />

— Na hora do nascimento, não — ela fala, com uma respiração profunda. — Mas se algo <strong>de</strong>r<br />

errado, tem que prometer ficar com ele. Prometa que não vai <strong>de</strong>ixá-lo.<br />

Isso é certo.<br />

— Prometo.<br />

— Vai ficar com ele o tempo todo, certo?<br />

Não iriam me tirar <strong>de</strong> lá nem com uma barra <strong>de</strong> ferro.<br />

— Sim.<br />

O rosto <strong>de</strong> Emily fica tenso, e ela respira lentamente várias vezes.<br />

— Posso fazer algo por você? — pergunto.


Seu rosto relaxa <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um momento, e ela olha para mim.<br />

— Vá buscar Logan.<br />

— Graças a Deus — falo, enquanto me viro e vou buscar meu irmão.<br />

Mas tenho que dar crédito a ela. Mesmo sofrendo e com medo, ela está pensando em Logan e no<br />

que ele precisa. Meu estômago aperta. Quero isso para mim. Quero isso agora.<br />

Ele passa por mim e olha na direção <strong>de</strong>la.<br />

— Não vou sair <strong>de</strong> novo — ele diz a Em.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Eu sei.<br />

— Não importa o que você diga — ele continua.<br />

— Só precisava fazer uma coisa. Queria que fosse surpresa. — Ela segura a mão <strong>de</strong>le. — Queria<br />

fazer isso, mas não <strong>de</strong>u tempo. Quando percebi que ainda não tinha feito, quase perdi a chance.<br />

Então, Friday me ajudou. — Ela faz um gesto para que ele segure novamente sua mão. — Mas,<br />

primeiro, tivemos que lavar a porcaria da bola <strong>de</strong> basquete.<br />

Um sorriso surge no canto dos meus lábios quando ela levanta a camisola do hospital e vejo que<br />

a bola <strong>de</strong>sapareceu. Agora ela está usando uma cueca samba canção <strong>de</strong> Logan, mas sua barriga está<br />

enorme. Nela, está escrito: Meu nome é Catherine e sou a garota do papai.<br />

— Você finalmente escolheu um nome? — ele pergunta. Ele põe a mão na barriga e <strong>de</strong>senha as<br />

letras. Parece com a tatuagem que ele fez quando <strong>de</strong>scobriu o verda<strong>de</strong>iro nome <strong>de</strong>la: Meu nome é<br />

Emily.<br />

— Era seu nome favorito, certo? — ela pergunta.<br />

Sei que é mais do que seu nome favorito. Catherine era o nome da nossa mãe.<br />

Ele balança a cabeça e engole em seco.<br />

— Kit — ele fala.<br />

— Kit — ela repete. Sua voz falha. Há tanta história entre eles no que diz respeito a esse apelido.<br />

Ah, droga. Eles vão me fazer chorar.<br />

Olho ao redor, e não vejo Friday no quarto.<br />

— Ei, para on<strong>de</strong> Friday foi? — pergunto.<br />

Eles nem olham para mim. Logan puxa Emily <strong>de</strong> encontro a si e pressiona os lábios em sua testa,<br />

ficando assim por um longo momento. Então, ele a recosta novamente e olha em seus olhos.<br />

Eles não estão preocupados com on<strong>de</strong> Friday possa ter ido, mas eu, sim.


F R I D A Y<br />

N<br />

ão me <strong>de</strong>ixaram segurá-lo <strong>de</strong>pois que ele nasceu. Disseram que seria mais fácil assim. Mas nada<br />

daquilo foi fácil. Lembro-me <strong>de</strong> me esgueirar do quarto e ir para o vidro do berçário on<strong>de</strong> os<br />

pequenos berços ficavam a salvo por trás do vidro. Havia tantos bebês ali, naquela noite. Todos<br />

tinham nomes na frente <strong>de</strong> seus leitos, exceto o que imaginei ser o meu. Às vezes, ainda posso ver sua<br />

imagem. Nunca cheguei a ouvi-lo chorar. Nunca o segurei nos braços. Mas ele parecia comigo, com<br />

cabelo escuro.<br />

O bebê na janela à minha frente chuta o leito, contorcendo o rosto e ficando vermelho do choro.<br />

Quero entrar e segurá-lo, mas uma enfermeira se aproxima e o pega. Ela o acaricia gentilmente e o<br />

pega no colo.<br />

Um braço <strong>de</strong>sliza ao redor da minha cintura e me viro para olhar o rosto <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Enxugo as<br />

lágrimas que nem percebi que havia <strong>de</strong>rrubado. Meu rosto está todo molhado. <strong>Paul</strong> me oferece a<br />

manga da sua camisa, mas balanço a cabeça. Seco os olhos com os <strong>de</strong>dos, afastando as lágrimas<br />

como um para-brisas.<br />

— Adorei o <strong>de</strong>senho na barriga — ele fala, olhando os bebês pelo vidro comigo.<br />

Um sorriso surge no canto dos meus lábios.<br />

— Foi i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>la.<br />

— Você fez um bom trabalho.<br />

Ele não fala mais nada. Apenas olha para os bebês.<br />

— Você se lembra do dia em que Hayley nasceu? — pergunto.<br />

— Como se fosse ontem. Kelly ficou chateada e me colocou para fora. Depois implorou para que<br />

me encontrassem. Sam e Pete estavam em casa, pois tinham aula no dia seguinte, e Logan foi tomar<br />

conta <strong>de</strong>les. Mas Matt estava aqui. Ele me apoiou. — Olha para mim e sorri. — Quem te apoiou? —<br />

ele pergunta, sua voz calma e suave.<br />

Recuo. Não quero, mas não consigo evitar.<br />

— Não sei do que você está falando.<br />

— Certo — ele fala e volta a observar os bebês. Mas sua pergunta está lá como uma barreira<br />

entre nós, embora seu braço ainda esteja ao meu redor e seu corpo muito perto <strong>de</strong> mim.<br />

Solto um suspiro.<br />

— Po<strong>de</strong> respeitar minha <strong>de</strong>cisão e <strong>de</strong>ixar pra lá? — pergunto. — Por favor?<br />

— Posso e respeito sua <strong>de</strong>cisão, mas não posso <strong>de</strong>ixar pra lá — ele fala. — Sinto muito, mas é<br />

uma parte enorme <strong>de</strong> quem você é.


— Não, não é. É apenas um <strong>de</strong>svio no tempo.<br />

— Não é um <strong>de</strong>svio no tempo, Friday. — Sua voz fica um pouco mais alta. — É parte <strong>de</strong> quem<br />

você é e sempre será. Não vou arrancar a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> você, mas estou aqui se quiser falar.<br />

— Você vai <strong>de</strong>ixar que isso fique entre nós? — pergunto.<br />

— Você vai? — me respon<strong>de</strong> com outra pergunta. Então, ele vê Matt, Sky e seus três filhos<br />

andando pelo corredor e indica a sala <strong>de</strong> espera a eles.<br />

E me <strong>de</strong>ixa ali, observando os bebês. Só que não me sinto completamente sozinha. Não como da<br />

última vez em que estive aqui.<br />

Solto um suspiro e fico lá até que o bebê volte a dormir. Ele remexe os lábios e parece sonhar.<br />

Tive sonhos, uma vez. Sonhos <strong>de</strong> ter minha própria família. Uma que estaria ao meu lado,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do que acontecesse. Mas não importava o quanto eu queria isso, simplesmente<br />

não conseguia alcançar.


P A U L<br />

L<br />

ogan coloca o ouvido na barriga <strong>de</strong> Emily e jura que po<strong>de</strong> "ouvir" os batimentos cardíacos <strong>de</strong><br />

Catherine. Emily ri e enfia os <strong>de</strong>dos em seu cabelo. O médico aplicou uma peridural há cerca <strong>de</strong> uma<br />

hora, e ela está muito mais confortável agora. Estava sentindo muita dor. Seu trabalho <strong>de</strong> parto já<br />

dura cerca <strong>de</strong> cinco horas e não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>morar muito mais.<br />

A enfermeira vai até o quarto, a examina rapidamente enquanto olho pela janela e chama o<br />

médico.<br />

— Está na hora — ela fala.<br />

Friday vai até Emily e sussurra algo. <strong>Os</strong> olhos <strong>de</strong> Emily se enchem <strong>de</strong> lágrimas. Quero perguntar<br />

o que ela disse, mas acho que posso esperar. O médico corre para o quarto e a enfermeira conduz a<br />

mim e a Friday — os únicos que pu<strong>de</strong>ram ficar no quarto com eles — <strong>de</strong> volta para a sala <strong>de</strong> espera.<br />

A única razão por termos ficado foi porque Logan disse que precisava <strong>de</strong> um intérprete. Ele não<br />

precisa. Se vira bem sem um. Mas funcionou. E Friday teve que ficar também.<br />

Logan tinha me pedido para tirar os pais <strong>de</strong> Emily do quarto há algumas horas. Eles estavam<br />

animados e preocupados <strong>de</strong>mais com Emily para serem <strong>de</strong> alguma ajuda.<br />

Logan não precisa <strong>de</strong> mim agora, mas é muito difícil <strong>de</strong>ixá-lo crescer e ser homem por conta<br />

própria. Fui eu quem o criou. E não acho que estou pronto para <strong>de</strong>ixá-lo por si só.<br />

Friday segura minha mão e seguimos para a sala <strong>de</strong> espera. Pete está dormindo em uma ca<strong>de</strong>ira,<br />

com Reagan recostada ao seu lado. Ele está roncando e acho que ela também. Sky está acordada,<br />

<strong>de</strong>senhando círculos na palma da mão <strong>de</strong> Matt enquanto ele conversa baixinho com ela. Sua mão está<br />

sobre a barriga <strong>de</strong>la e há algo tão bonito nisso que não consigo <strong>de</strong>sviar o olhar. As meninas estão<br />

dormindo em um cobertor a seus pés. Joey e Mellie <strong>de</strong>scobriram que o bebê estava a caminho e não<br />

havia nada Sky e Matt podiam fazer para mantê-las em casa. Seth está em pé, ao lado da janela,<br />

bebendo um refrigerante.<br />

Sam está dormindo no sofá. Seus pés estão sobre o encosto, então me sento no espaço vazio.<br />

Chamo Friday para se sentar no meu colo, mas em vez disso, ela se senta no braço do sofá.<br />

O pai <strong>de</strong> Emily se inclina para frente.<br />

— O que está acontecendo? — ele pergunta.<br />

Sorrio.<br />

— Está na hora — falo. Não consigo parar <strong>de</strong> sorrir.<br />

A sra. Madison bate palmas.<br />

— Estou tão ansiosa!


Matt revira os olhos por trás <strong>de</strong>la e isso me faz sorrir.<br />

Friday enfia os <strong>de</strong>dos no meu cabelo, <strong>de</strong> um jeito muito parecido com que Emily fez com Logan<br />

um minuto atrás. Fecho os olhos e aproveito o fato <strong>de</strong> que ela está me tocando. Que ela quer me tocar.<br />

Isso significa algo para mim. Especialmente quando sinto que minhas tripas estão do lado <strong>de</strong> fora do<br />

corpo, pois estou nervoso por Logan.<br />

Estendo a mão, puxo Friday para o meu colo e ela se acomoda, apoiando a cabeça no meu peito.<br />

Ela se aninha, aconchegando-se a mim, e então, inclina a cabeça para trás e me olha.<br />

— Espere! — Sam diz, levantando a cabeça.<br />

— O quê? — Pergunto. Me forço a olhar para ele.<br />

Ele faz um gesto <strong>de</strong> Friday para mim.<br />

— Vocês dois estão juntos?<br />

Sorrio e olho para ela, que mordisca o lábio.<br />

— Estamos juntos?<br />

— Estamos juntos — ela sussurra para mim.<br />

Meu coração acelera. Pressiono meus lábios em sua testa e o <strong>de</strong>ixo ali. Ela faz um barulho suave.<br />

É quase um ronronar e acho que gosto, realmente gosto.<br />

Levanto seu rosto e pressiono meus lábios nos <strong>de</strong>la.<br />

— Caramba — Sam se queixa. — É muito estranho ver vocês dois juntos. Me faz querer vomitar.<br />

Bato na perna <strong>de</strong>le.<br />

— Cuidado com a boca — falo. Olhos em direção aos pais <strong>de</strong> Emily. Seu pai balança a cabeça e<br />

ri.<br />

— Desculpe — Sam resmunga.<br />

— Crianças — a srs. Madison diz, solidarizando-se comigo. — O que po<strong>de</strong>mos fazer? Minha<br />

filha fugiu <strong>de</strong> casa, se apaixonou e construiu uma vida maravilhosa para si mesma.<br />

— Eles estão felizes — falo. Friday boceja e sinto seu hálito quente em minha camisa. Ajeito-me<br />

para que possa puxá-la para ainda mais perto.<br />

De repente, Logan sai correndo do quarto.<br />

— Ela chegou — ele fala e sinaliza ao mesmo tempo. Ele está tão animado que suas mãos estão<br />

balançando <strong>de</strong>scontroladamente. — Quase quatro quilos e cinquenta e um centímetros. É perfeita. —<br />

Ele faz uma pausa para respirar. — Cortei o cordão, foi nojento e terrível, tudo ao mesmo tempo.<br />

Seus olhos estão brilhantes <strong>de</strong> lágrimas, e ele passa as mãos sobre as bochechas. Então, se vira e<br />

volta para Emily, fechando a porta fechando levemente.<br />

Engulo em seco, porque meu coração está na garganta.<br />

— Você fez bem — Friday diz calmamente. Ela puxa meu rosto para baixo e me beija. — Muito<br />

bem.<br />

— Não fiz nada — falo, surpreso ao perceber como minha voz está grossa.<br />

— Você fez tudo — ela sussurra e sinto as lágrimas contra a minha camisa. Seguro-a bem perto<br />

<strong>de</strong> mim, pois acho que isso tem muito mais a ver com seu passado do que com o presente <strong>de</strong> Logan.<br />

— Você fez tudo o que era necessário.<br />

— Posso ser o que você precisa também? — pergunto.<br />

Sinto seu aceno contra o meu peito. E a porra do meu coração levanta o voo. Ela po<strong>de</strong> guardar<br />

seus segredos, se precisar. Mas se ela quiser, estou aqui para ajudá-la a carregar o fardo, da mesma<br />

forma como faço com meus irmãos. Porque ela é da família. Minha família.


F R I D A Y<br />

É<br />

terrível que eu não queira segurar Catherine, também chamada <strong>de</strong> Kit? Vejo Mellie e Joey juntas,<br />

segurando-a, com Matt apoiando as meninas e o bebê em seus braços fortes. Ele é tão gentil com as<br />

filhas. É muito parecido com o jeito <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> com Hayley. Seth se esquiva do bebê, mas presenteia<br />

Emily e Logan com uma série <strong>de</strong> cupons para fraldas, que po<strong>de</strong>m ser usadas no futuro.<br />

— De preferência, antes <strong>de</strong> ela começar a comer alimentos sólidos — diz ele com uma risada.<br />

Logan o empurra e, então, o puxa para um abraço. Seth tornou-se uma parte da família. Sky pega<br />

o bebê e o apoia em sua gran<strong>de</strong> barriga.<br />

— Ela é tão linda — murmura.<br />

— É a minha vez — Reagan fala. Ela pega a bebê <strong>de</strong> Sky como se fosse uma bola <strong>de</strong> futebol e se<br />

aproxima <strong>de</strong> Pete para que ele possa ajudar a segurar a cabeça <strong>de</strong> Kit, dando apoio. <strong>Os</strong> olhos da<br />

bebê estão abertos e ela olha para Reagan, segurando o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> Pete com firmeza.<br />

— Ela tem muita força — Pete fala.<br />

— Agora sou eu — Sam fala e a pega.<br />

— Todos estes homens loiros — diz a mãe <strong>de</strong> Emily. — Ela não vai saber quem é quem.<br />

<strong>Os</strong> olhos <strong>de</strong> Kit se voltam para Logan, quase como se ela estivesse olhando para ele, e meu irmão<br />

sorri. Seu braço ainda está ao redor <strong>de</strong> Emily, enquanto se senta ao lado <strong>de</strong>la na cama do hospital.<br />

Em parece cansada, mas sabe que nenhum <strong>de</strong>sses meninos vão embora sem segurar aquela menina<br />

pelo menos uma vez.<br />

Matt vai até Emily, beija sua bochecha, sussurra em seu ouvido e, em seguida, começa a levar a<br />

família para fora do quarto. As meninas dão uma última olhada no bebê e finalmente o quarto esvazia<br />

um pouco.<br />

Pete e Reagan saem em seguida.<br />

— Descanse um pouco — Pete diz a Emily, acariciando o topo <strong>de</strong> sua cabeça. Ele dá um beijo<br />

estalado na bochecha <strong>de</strong> Logan, que o enxota do quarto. Sam passa o bebê para <strong>Paul</strong> e sai com Pete e<br />

Reagan.<br />

— Coisa um e coisa dois — o pai <strong>de</strong> Emily fala.<br />

<strong>Paul</strong> ri.<br />

— Pelo menos estão se mantendo fora <strong>de</strong> problemas.<br />

Uma senhora chega e se apresenta como consultora <strong>de</strong> lactação. <strong>Paul</strong> coloca Kit em meus braços<br />

antes que eu possa impedi-lo e nos abraça. Fecho os olhos e <strong>de</strong>ixo a sensação me envolver. Quando<br />

os abro, Emily está me lançando um olhar curioso.


— Está na hora <strong>de</strong> irmos — falo.<br />

<strong>Os</strong> pais <strong>de</strong> Emily se entreolham e acenam. Eles estão indo também. Estava preocupada, me<br />

perguntando se teríamos que mandá-los embora para que Emily pu<strong>de</strong>sse apren<strong>de</strong>r a amamentar com<br />

privacida<strong>de</strong>.<br />

— Voltaremos mais tar<strong>de</strong> — o pai <strong>de</strong> Emily fala. Ela recosta contra a cama e assente.<br />

Coloco a bebê nos braços <strong>de</strong> Logan, e ela se contorce, sua boquinha se abrindo para gritar. Logan<br />

olha para Emily.<br />

— Ela grita alto? — ele pergunta.<br />

Emily balança a cabeça.<br />

— Ela meio que soa como um filhotinho <strong>de</strong> pássaro — diz.<br />

Logan olha fixamente para a filha como se ela fosse algo a ser admirada. E ela é. Realmente é.<br />

— Parabéns — <strong>Paul</strong> diz a ambos.<br />

Emily estremece quando os sons que Kit faz passam a parecer com uma sirene.<br />

— Certo, agora está alto — ela fala com uma risada. Logan entrega a filha para Emily, que olha<br />

para a consultora <strong>de</strong> lactação como se não tivesse certeza do que fazer.<br />

<strong>Paul</strong> conduz os pais <strong>de</strong>la em direção à porta, e nós seguimos.<br />

Ele solta um suspiro e olha para o relógio.<br />

— Não temos consulta médica hoje? — pergunta.<br />

Paro e penso.<br />

— Ah, merda — falo. O sol já nasceu, já é segunda-feira. E tenho um compromisso às <strong>de</strong>z da<br />

manhã.<br />

Procuro minha bolsa para pegar o telefone, mas percebo que a <strong>de</strong>ixei no quarto.<br />

— Já volto — falo e corro <strong>de</strong> volta para o quarto <strong>de</strong> Emily. Bato suavemente e espero que<br />

alguém me diga para entrar. Emily está com o bebê nos braços e seus ombros estão nus. Logan joga<br />

um cobertor leve sobre ela muito rapidamente.<br />

— Sou eu — falo. — Desculpem, mas esqueci minha bolsa.<br />

Vou até ela e a pego. Mas na porta, tenho que parar e dar uma última olhada. Emily está sentada<br />

na cama olhando para a filha. Logan está com o braço ao redor das duas e as está abraçando apertado<br />

enquanto fala baixinho com Emily. Ela se vira e beija sua bochecha. Ele sorri para ela, e há tanto<br />

amor ali, que dói <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim.<br />

Estão totalmente envolvidos um no outro e saio do quarto muito mais calma do que entrei.<br />

Mas do lado <strong>de</strong> fora, paro e penso sobre como eles ficam juntos. A família <strong>de</strong>les é perfeita. É<br />

seguro eu querer isso também? Ou é algo perfeito <strong>de</strong>mais, que nunca vou ter?<br />

<strong>Paul</strong> está tão lindo inclinado contra o poste do lado <strong>de</strong> fora do hospital, que tenho que parar<br />

contemplá-lo. Ele ri, observando seu telefone. Meu Deus, esse homem acelera meu coração quando<br />

sorri. E quando franze a testa. E quando não faz nada. Mas, principalmente quando sorri, tira meu<br />

fôlego.<br />

— Qual é a graça? — pergunto quando chego perto <strong>de</strong>le.<br />

Ele esten<strong>de</strong> o telefone em minha direção e me mostra uma imagem <strong>de</strong> Emily e Kit. Logan <strong>de</strong>ve ter<br />

acabado <strong>de</strong> tirar. Logo abaixo da foto, havia uma mensagem: Primeira barriga cheia.<br />

— Logo, logo, ele vai me enviar uma dizendo “primeira fralda cheia” — <strong>Paul</strong> diz com uma<br />

risada. Ele se equilibra e caminha, com os braços estendidos, rente ao meio fio como se fosse uma<br />

corda bamba. Ele po<strong>de</strong> ser tão sério e, ao mesmo tempo, como um garoto. Acho que seu coração


ainda é jovem. Deve ter uns vinte e poucos anos, embora esteja carregando o fardo <strong>de</strong> manter toda a<br />

família. Gosto disso nele.<br />

Eu o empurro para fora da calçada. Ele salta para a rua e pega a minha mão.<br />

— Você sempre fica tão feliz na parte da manhã? — pergunto.<br />

Ele aponta para o peito.<br />

— Quem, eu? — pergunta. — Sou o sr. Radiante o tempo todo.<br />

Rio alto.<br />

— Diga isso para alguém que não o conheça.<br />

Ele olha para o telefone, joga a cabeça para trás e ri.<br />

— Veja — diz ele. — Te disse.<br />

Vejo a foto da primeira troca <strong>de</strong> fralda <strong>de</strong> Kit e reviro os olhos.<br />

— Acho doce — digo em voz baixa.<br />

Ele diminui o passo e olha atentamente para mim. Muito <strong>de</strong> perto para meu gosto, então cruzo os<br />

braços e aperto o passo em direção ao metrô.<br />

— Você sabe que está grávida, certo? — ele pergunta.<br />

Eu paro.<br />

— Só vou saber mais tar<strong>de</strong> — falo. Viro-me para encará-lo.<br />

Ele afasta meu cabelo da testa.<br />

— Você acordou passando mal nos últimos dois dias — ele fala. — Você está grávida.<br />

— Só vou saber mais tar<strong>de</strong> — digo <strong>de</strong> novo, e volto a caminhar para o metrô.<br />

— E se você estiver? — ele pergunta atrás <strong>de</strong> mim.<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Então, estarei.<br />

— E? — ele grita.<br />

— E o quê? — Me viro e olho para ele.<br />

— E como você se sente sobre isso? — ele pergunta.<br />

Dou <strong>de</strong> ombros novamente.<br />

— Bem. Não é como se fosse uma gran<strong>de</strong> surpresa.<br />

Ele levanta as mãos como se estivesse se ren<strong>de</strong>ndo.<br />

— Só me certificando — ele fala.<br />

— O bebê não é meu — eu o lembro.<br />

— E o que isso significa?<br />

— Significa que não é meu — digo novamente. — Este bebê terá dois pais maravilhosos, e só<br />

porque está crescendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim não significa que seja o meu. — Droga, nem seu DNA. Fecho<br />

os olhos.<br />

— Acho que você vai gostar <strong>de</strong> estar grávida neste momento — ele fala, segura minha mão e me<br />

puxa para o metrô. <strong>Paul</strong> envolve os braços ao meu redor como antes e fala perto do meu ouvido. É<br />

íntimo, mesmo que haja uma multidão <strong>de</strong> pessoas a nossa volta. — Depois — ele sussurra —, será<br />

que você gostaria <strong>de</strong> ter o seu?<br />

— Não. — Não preciso sequer pensar a respeito.<br />

Sua testa franze.<br />

— Por que não?<br />

— Não fui feita para ser mãe.


— Ah, vá se fo<strong>de</strong>r — diz ele.<br />

— Vá você — respondo.<br />

Ele sorri.<br />

— Acho que você foi sim — ele sussurra e me beija rapidamente.<br />

Empurro seu ombro.<br />

— Cale-se.<br />

Ele levanta meus braços, os envolve em seu pescoço e me beija no meio <strong>de</strong> um vagão do metrô<br />

lotado, repleto <strong>de</strong> gente, mas sinto como se fôssemos as únicas pessoas no mundo.<br />

Seu telefone emite um sinal e ele o pega do bolso. Sorri e me mostra a foto.<br />

— Primeiro cuspe — ele fala.


P A U L<br />

S<br />

ei que parece loucura e que esse é o momento totalmente errado para ter esse tipo <strong>de</strong> pensamento,<br />

mas quero ser um aparelho <strong>de</strong> ultrassom. Tento olhar para o rosto <strong>de</strong> Friday enquanto a técnica<br />

coloca um preservativo sobre a sonda e, em seguida, o lubrificante, mas é muito difícil não observar<br />

os movimentos, porque esse pau está prestes a ficar muito íntimo <strong>de</strong> Friday.<br />

Fomos para casa para que ela pu<strong>de</strong>sse tomar banho um banho rápido e quase nos atrasamos para<br />

a consulta. Cody e Garrett estavam andando pela calçada enquanto subíamos.<br />

Agora, eles estão esperando na sala ao lado enquanto a técnica <strong>de</strong> ultrassom apronta Friday. O<br />

teste <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>u positivo, assim como eu sabia que daria. O exame é para checar se está tudo<br />

bem e se já para é possível ver o bebê. Po<strong>de</strong> ser que eles não consigam vê-lo.<br />

— Estou aqui em cima — Friday fala enquanto observo a sonda. Ela ri. Mas sua mão treme<br />

quando a seguro na minha.<br />

— Estou com inveja <strong>de</strong>ssa sonda — sussurro em ouvido.<br />

Ela estremece, mas não posso dizer se é um arrepio sexy ou se é <strong>de</strong> nervoso.<br />

A técnica nos adverte que está prestes a inserir a sonda.<br />

— Feche os olhos ou algo assim, <strong>Paul</strong> — Friday pe<strong>de</strong>, suas bochechas ficando rosadas.<br />

Eu me viro, ficando <strong>de</strong> costas para sua meta<strong>de</strong> inferior, e olho para a pare<strong>de</strong> por um instante.<br />

— Tudo pronto — a técnica fala. — Devo <strong>de</strong>ixar os pais entrarem? — Ela olha para Friday e<br />

<strong>de</strong>pois para mim com uma expressão curiosa.<br />

— Você po<strong>de</strong>ria simplesmente tirar uma foto para eles — sugiro. Sei que soa ridículo, mas não<br />

quero compartilhar este momento com ninguém. Então, me lembro que esse bebê não é meu. Nem<br />

Friday é minha. Ainda.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Eles são os pais — ela fala. — Merecem <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> todos os momentos.<br />

Sua parte <strong>de</strong> baixo está coberta com um lençol e se não tivesse visto a sonda antes que entrasse,<br />

não faria i<strong>de</strong>ia que tinha algo em sua vagina, que podia tirar fotografias.<br />

Cody e Garrett entram <strong>de</strong> mãos dadas, e Friday sorri para eles. Porém, ela ainda está tremendo e<br />

os <strong>de</strong>ntes começam a bater. Curvo-me e olho em seus olhos. Passo o <strong>de</strong>do levemente por seu nariz,<br />

para cima e para baixo, até que seus olhos se fecham. <strong>Os</strong> cílios escuros vibram contra seu rosto. Em<br />

seguida, ela abre os olhos ver<strong>de</strong>s e olha para os meus.<br />

— Obrigada —sussurra e respira fundo.<br />

Beijo sua bochecha e me aproximo mais. Cody e Garrett ficam ao meu lado. Cody segura sua mão


livre e eles olham para o monitor.<br />

A técnico manobra a sonda e uma imagem aparece na tela. Ela aperta os olhos e sua testa franze.<br />

Mas então, ela para e sorri.<br />

— Logo ali — ela fala, apontando para o monitor. — Aquela minúscula vibração. Estão vendo?<br />

— A mulher olha para os pais e duvido que eles possam ver algo porque ambos estão piscando para<br />

conter as lágrimas. Ela entrega lenços e eles as enxugam rapidamente. Cody assoa o nariz. Parece<br />

uma sirene e Friday ri. A imagem na tela se move e a vibração para.<br />

— O que aconteceu? — Cody pergunta. — Está tudo certo?<br />

— Só precisa <strong>de</strong> um ajuste — a técnica fala e a vibração reaparece. Você mal po<strong>de</strong> vê-la. É tipo<br />

a batida das asas <strong>de</strong> um beija-flor e ela se move tão rápido que se piscar, po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a ação.<br />

A porta se abre, e a médica entra na sala.<br />

— Parabéns — ela diz a Cody e Garrett e mal olha para Friday.<br />

Quero chamá-la e dizer: preste atenção, vadia, mas me abstenho. Em vez disso, aperto a mão <strong>de</strong><br />

Friday.<br />

Ela murmura, sem som: está tudo bem. Me inclino e a beijo, pois preciso. Não sei em que ponto<br />

comecei a precisar <strong>de</strong>la. Provavelmente, no momento em que <strong>de</strong>scobri que ela não era lésbica e que<br />

tinha uma chance. Mas agora eu sei. Preciso <strong>de</strong>la. Isso me assusta um pouco, e não estou certo <strong>de</strong> que<br />

ela está pronta para o que eu quero.<br />

A médica se senta numa ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodinhas e olha para a tela. Tira algumas medidas, e <strong>de</strong>pois se<br />

afasta. Ela puxa a sonda <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Friday e retira o preservativo. Coloca lenços <strong>de</strong> papel nas<br />

mãos <strong>de</strong>la e a ajuda. Fico por trás, puxando um travesseiro para mais perto da sua bunda, pois ela<br />

está nua da cintura para baixo e não está usando um robe. Tem um lençol em seu colo, mas ainda<br />

assim me incomoda.<br />

Friday revira os olhos para mim.<br />

— Eles são gays — ela sussurra dramaticamente.<br />

— Mesmo assim, não os quero olhando para o seu traseiro — sussurro <strong>de</strong> volta.<br />

— Eu po<strong>de</strong>ria estar completamente nua que eles não se importariam.<br />

— Eu me importo — grunho.<br />

— Por quê? — ela pergunta. Sua testa franze.<br />

— Porque — murmuro.<br />

— Por que o quê? — ela pergunta.<br />

Eu me inclino para perto <strong>de</strong> seu ouvido.<br />

— Porque é meu — falo baixo, <strong>de</strong> forma que só ela possa ouvir. — Tudo bem para você?<br />

— Sim — ela respon<strong>de</strong>. — Mas estou oficialmente grávida — ela me lembra. Como se eu<br />

precisasse que alguém me lembrasse isso.<br />

Olho para ela.<br />

— Posso esperar.<br />

Uma corrente elétrica passa entre nós, e minha pele faz aquele pequeno chiado que só ela<br />

provoca. Então Cody coloca um braço em volta dos meus ombros e tenho que afastar os olhos <strong>de</strong>la<br />

para olhar para ele.<br />

— Vamos ter um bebê! — ele fala e me abraça rapidamente enquanto dou tapinhas em suas<br />

costas.<br />

— Parabéns — eu digo.


Eles estão tão felizes que mal po<strong>de</strong>m falar.<br />

— Fico me perguntando se fazem lembrancinhas para pais. Como charutos e coisas engraçadas.<br />

— Friday fala. — O seu teria que dizer algo como “Nosso pinto conseguiu” ou algo realmente<br />

inteligente.<br />

Cody coloca as mãos nos quadris e sorri para ela.<br />

— Qualquer um que nos conhece sabe que jamais colocaríamos nosso pinto em uma garota.<br />

— Mas vocês fizeram quase isso — Friday fala. Ela ri e eu não consigo evitar <strong>de</strong> acompanhá-la.<br />

<strong>Os</strong> caras se entreolham.<br />

— Verda<strong>de</strong> — Cody e Garrett se beijam rapidamente. — Cody me olha, sem graça. — Desculpe<br />

— ele fala. — Não perguntei se você está bem com tudo isso.<br />

Olho para Friday e imagino que tenho uma pergunta nos olhos.<br />

— Ele está bem com isso — diz ela.<br />

Friday olha para suas roupas e seu olhar segue para Cody e Garrett. Eles não se tocam. Levantome<br />

e os conduzo para mais perto da porta.<br />

— Vamos lhe dar um minuto para se vestir, não é? — falo.<br />

Eles balançam a cabeça e saem, tagarelando e falando sobre nomes <strong>de</strong> bebês. Sorrio e fecho a<br />

porta.<br />

— Você também — Friday fala. Ela faz um movimento como se estivesse me enxotando.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Vou ficar.<br />

— Tudo bem — diz. Ela se levanta e, cuidadosamente, enrola o lençol que estava sobre sua parte<br />

inferior, ao redor da cintura <strong>de</strong> modo que fique toda coberta.<br />

— Você precisa <strong>de</strong> ajuda? — pergunto. Meu pau se contorce <strong>de</strong>ntro da calça. Não consigo evitar.<br />

Sua bunda está nua sob o lençol.<br />

— Você quer me ajudar a limpar a gosma presa na minha vagina? — pergunta.<br />

Meus olhos vagueiam para cima e para baixo em seu corpo.<br />

— Faço o que você precisar se isso me <strong>de</strong>ixar mais perto <strong>de</strong> sua vagina.<br />

Ela solta uma respiração pesada.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela balança um <strong>de</strong>do para mim. — Comporte-se.<br />

— Você ainda tem o piercing? — pergunto. Não faço i<strong>de</strong>ia do que me fez pensar nisso.<br />

— Qual? — ela pergunta quando passa para trás da cortina. Posso ouvi-la se movimentar.<br />

— Quantos você tem? — Imediatamente quero fazer um inventário rápido <strong>de</strong> suas áreas íntimas<br />

para ver como elas estão adornadas.<br />

— Mamilos, clitóris, lábios vaginais, umbigo, orelhas, lábios e língua — ela fala.<br />

Me apoio na borda da mesa <strong>de</strong> exame. Droga.<br />

— Isso é tudo?<br />

Ela ri também.<br />

— Não consigo pensar em outro lugar para colocar mais.<br />

Sento-me calmamente, imaginando todo o metal em seus pontos mais sensíveis. Quero chupá-los,<br />

girá-los e brincar com eles, <strong>de</strong> preferência com a língua.<br />

— Você vai ter que tirar os <strong>de</strong> baixo antes do bebê nascer — eu a lembro.<br />

— Você não sabe disso. — Ela empurra a cortina para trás e tira seu cabelo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da<br />

camiseta. Não consigo me acostumar com esta Friday. Seu cabelo está solto sobre os ombros e ela


não está usando maquiagem. Gosto disso. Gosto <strong>de</strong>la. Para mim, ela está sexy, se não ainda mais do<br />

que quando está toda arrumada.<br />

— Ei — falo. — Sou um profissional.<br />

— Eu também — ela me lembra. — E nunca ninguém me falou isso.<br />

— Pergunte à médica — implico.<br />

— Vou perguntar na próxima consulta. Ela faz uma careta para mim. Eu me aproximo, seguro no<br />

passador <strong>de</strong> cinto da sua calça e a puxo contra mim. Ela cai contra meu corpo, suas mãos agarrando<br />

meus braços para ajudá-la a manter o equilíbrio. Levanto a bainha da sua camiseta coloco as mãos<br />

sobre sua pele quente.<br />

— Você é sempre tão provocador? — ela pergunta, com a boca tão perto do meu peito que posso<br />

sentir o hálito quente contra a pele.<br />

— Geralmente, sou mais provocador — eu digo. — Estou tentando não te assustar.<br />

Ela respira rapidamente.<br />

— Não me assusto tão fácil.<br />

— Essa é uma das muitas razões pelas quais quero você.<br />

Ela treme em meus braços, e eu adoro a sensação.<br />

— Conseguiu tirar toda a gosma ou eu <strong>de</strong>veria ajudá-la com isso? — brinco, levando minha mão<br />

em direção ao zíper. Ela bate em meus <strong>de</strong>dos.<br />

— Isso é meio nojento — ela fala com uma risada.<br />

Verda<strong>de</strong>. Quando finalmente sentir sua umida<strong>de</strong>, prefiro que seja por causa <strong>de</strong> nós, em vez <strong>de</strong> uma<br />

sonda <strong>de</strong> ultrassom. Mas não consigo tirar aquela imagem da cabeça. Sim, tenho um pau. Sim, gosto<br />

<strong>de</strong> usá-lo. Sim, gostaria <strong>de</strong> usá-lo nela.<br />

Friday olha para baixo, entre nós.<br />

— Humm — ela murmura e aponta com o indicador em direção a minha virilha. — Acho que<br />

você está ficando muito animado com gosma e vagina.<br />

A porta se abre, e Garrett enfia a cabeça para <strong>de</strong>ntro da sala.<br />

— Vocês estão vestidos? — ele pergunta <strong>de</strong> olhos fechados.<br />

— Não — falo.<br />

Mas ao mesmo tempo, Friday diz:<br />

— Sim. — Ela dá um tapa em meu peito e se afasta. Ajeito minha calça.<br />

— Já vimos — Cody fala.<br />

Garrett balança as sobrancelhas para mim.<br />

— Inclusive você, grandão — ele fala como se estivesse me paquerando.<br />

— Parem <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong> olho no meu homem — Friday fala e meu coração incha no peito.<br />

— O que ele quis dizer sobre eu estar bem com tudo? — sussurro para ela. Não sei porque isso<br />

ficou na minha cabeça.<br />

— Ele me explicou uma vez... — ela começa. — Acho adorável a forma como eles são<br />

carinhosos um com o outro, mas nem todo mundo se sente assim. A maioria das pessoas apenas<br />

“tolera” — ela <strong>de</strong>senha aspas quando fala. — Tem pessoas que se sentem ofendidos por eles se<br />

beijarem ou andarem <strong>de</strong> mãos dadas. Então eles tomam cuidado na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar afeto.<br />

— Mas eles são apenas dois caras apaixonados — falo. — Ou perdi algo?<br />

Ela dá um passo na ponta dos pés e beija minha bochecha.<br />

— Você, <strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong>, é um cara especial. Sabia disso? — Ela olha em meus olhos.


— Ainda hoje eles são julgados? — pergunto. Acho difícil <strong>de</strong> acreditar. O que é preciso para ser<br />

uma família não mudou ao longo dos anos, mas como as famílias são formadas, com certeza mudou.<br />

— Todo o tempo — Friday respon<strong>de</strong>. — Ele só estava sendo atencioso com os seus sentimentos.<br />

Não se preocupe com isso. — Ela balança uma mão no ar e segue Garrett e Cody para a rua. Coloca<br />

os óculos escuros, e fico <strong>de</strong> pé ao lado <strong>de</strong>la.<br />

— Temos que voltar ao trabalho — diz Cody. Ele a beija na testa e aperta minha mão. Garrett faz<br />

o mesmo.<br />

— Cui<strong>de</strong> da mamãe do nosso bebê — Garrett fala.<br />

Coloco meu braço ao redor <strong>de</strong>la.<br />

— Pretendo. — Quero começar com um <strong>de</strong>scanso. Com ela na minha cama. Sob minhas cobertas.<br />

De preferência, nua.


F R I D A Y<br />

E<br />

stou grávida. Meus joelhos estão um pouco bambos, mas não tenho certeza se é porque <strong>Paul</strong> está<br />

me olhando ou porque estou assustada por saber que estou grávida. Não é meu. Não é meu. Não é<br />

meu, murmuro em minha cabeça.<br />

— O que há <strong>de</strong> errado? — <strong>Paul</strong> pergunta. Ele acaricia meu rosto, e eu seguro seus pulsos para<br />

afastar suas mãos. Mas ele entrelaça os <strong>de</strong>dos nos meus e puxa minha mão para as costas até que meu<br />

corpo esteja alinhado contra o seu.<br />

Tento sair <strong>de</strong> seu aperto. Ele não está me machucando. Está apenas segurando minhas mãos,<br />

provavelmente para evitar que eu o afaste.<br />

— Suas mulheres acham isso sexy?<br />

— Minhas mulheres? — Sua risada me envolve. — Quantas você acha que eu tenho?<br />

— Não tenho <strong>de</strong>dos ou sardas o suficiente para contar.<br />

— Ah, não é tudo isso. — Ele beija a ponta do meu nariz. — Você tem um monte <strong>de</strong> sardas. —<br />

Ele ri novamente, mas evita meus olhos.<br />

— Já vi você com as vadias que entram no estúdio — falo. Isso me incomodava quando<br />

acontecia e continua incomodando. Mas não quero que ele saiba o quanto. — Você é um pegador.<br />

— Eu era um pegador. Não sou mais. É uma gran<strong>de</strong> diferença.<br />

Forço uma jovialida<strong>de</strong> em meu tom <strong>de</strong> voz.<br />

— Isso quer dizer que você não vai mais dormir com ninguém?<br />

— Se você se comprometer, eu me comprometo — ele fala. — Já disse, não compartilho. E não<br />

espero que você me compartilhe com quem quer que seja.<br />

Afasto meus <strong>de</strong>dos dos seus e ele se parece com uma criança <strong>de</strong> três anos que acabou <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o<br />

brinquedo novo quando dou um passo para trás. Se eu correr, ele vai me seguir e vai parecer que<br />

estou brincando quando, na verda<strong>de</strong>, só preciso <strong>de</strong> espaço. Assim, os sentimentos <strong>de</strong> ninguém são<br />

machucados.<br />

— Volte aqui — diz ele.<br />

Forço uma risada e corro para o metrô. Ele me segue. Mal posso ouvir seus tênis <strong>de</strong> corrida<br />

soarem contra o pavimento, mas sei que ele está logo atrás. Sua sombra está me seguindo, quase me<br />

esmagando, da mesma forma como ele faz comigo.<br />

— Se você fosse homem, colocaria o pé na sua frente para você tropeçar — ele fala perto <strong>de</strong><br />

mim.<br />

— Se você fosse homem, seria capaz <strong>de</strong> me pegar — falo por cima do ombro.


Ele faz uma carranca e me alcança em dois passos.<br />

— Se eu fosse um homem? — ele pergunta, sua voz colada ao meu ouvido, rosnando as palavras<br />

para mim. — Você duvida?<br />

— Prove, grandão — falo a ele.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Ainda não.<br />

Paro <strong>de</strong> andar e coloco as mãos nos quadris.<br />

— Você vai me <strong>de</strong>ixar duvidar da sua masculinida<strong>de</strong> e não vai tentar provar o contrário? —<br />

pergunto. Morda a isca, <strong>Paul</strong>.<br />

— Se você estivesse perto da minha masculinida<strong>de</strong>, não teria que provar isso. — Ele segura no<br />

ferro quando entramos no vagão do metrô e me puxa contra si. Eu meio que gosto quando ele me<br />

abraça assim. É íntimo e novo. E ele parece gostar também, se a evi<strong>de</strong>ncia do seu <strong>de</strong>sejo<br />

pressionando contra meu quadril for uma indicação.<br />

Baixo a mão para tocá-lo sobre a calça jeans, mas ele intercepta meus <strong>de</strong>dos.<br />

— Nem vem brincar comigo, porra — adverte.<br />

— Uau — suspiro. — De on<strong>de</strong> veio isso?<br />

— Frustração sexual — ele fala. — Traz o melhor em mim à tona.<br />

Remexo em uma linha solta na manga da sua camisa.<br />

— E se eu quiser brincar com você?<br />

Ele afasta o braço da minha cintura.<br />

— Está falando com o cara errado.<br />

De repente, me sinto sozinha e com frio. Cruzo os braços na frente do corpo e tento olhar para<br />

ele, mas é difícil quando estou me sentindo tão exposta.<br />

— Nunca use sexo como forma <strong>de</strong> me controlar — ele fala em voz baixa e passa o braço ao redor<br />

do meu corpo novamente. Desta vez, sou eu que me afasto. Ele franze a testa e me segue quando vou<br />

me sentar em um banco vazio. Ele <strong>de</strong>sliza ao meu lado para que eu me sente contra a janela. <strong>Paul</strong> é<br />

gran<strong>de</strong> e ocupa seu assento e um pedaço do meu. — Também não fuja <strong>de</strong> mim — ele fala. — Sempre<br />

irei atrás <strong>de</strong> você, até que me diga para parar.<br />

Começo a enumerar os itens com os <strong>de</strong>dos.<br />

— Bem, não posso brincar com você. Não posso fugir <strong>de</strong> você. Não posso usar sexo para<br />

controlá-lo. — Ergo as mãos. — Por que você não me dá a lista completa logo <strong>de</strong> uma vez? —<br />

pergunto. — O que mais não posso fazer?<br />

Ele se inclina para perto, afasta suavemente meu cabelo da nuca e fala baixinho em meu ouvido<br />

enquanto segura meu pescoço.<br />

— Não po<strong>de</strong> usar truques sensuais para fugir das minhas perguntas. Perguntei o que havia <strong>de</strong><br />

errado quando saímos do consultório médico, pois você parecia incomodada com algo. Eu queria<br />

saber o que era e você evitou minha pergunta com insinuações sensuais e <strong>de</strong>dinhos libidinosos. Não<br />

me interprete mal. Quero que você toque cada parte do meu corpo, principalmente meu pau com a sua<br />

boceta, e você por cima. — Ele sorri quando os pelos do meu braço se levantam. — Mas se você<br />

não po<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r uma pergunta simples como qual é o problema?, temos problemas maiores do<br />

que eu imaginava. Então, vamos tentar <strong>de</strong> novo. O que há <strong>de</strong> errado, Friday?<br />

— O que te faz pensar que algo está errado? — pergunto, minha voz falando.<br />

— Por que eu te conheço. Merda, eu te conheço e sei quando algo está errado.


— O que fiz para você perceber isso? — pergunto. Agora estou curiosa.<br />

— Pare — ele grunhe. — Não vou <strong>de</strong>ixá-la mudar <strong>de</strong> assunto.<br />

Quero dizer as palavras em voz alta. Quero muito falar. Mas elas ficam presas em minha<br />

garganta.<br />

— Não há nada errado — falo. Coloco a mão on<strong>de</strong> ele está segurando minha nuca.<br />

— Não minta para mim. — Ele não parece estar com raiva. Parece... magoado? Que porra é<br />

essa?<br />

— Não sei o que você quer que eu diga! — protesto. As pessoas se viram e nos olham. Baixo<br />

meu tom <strong>de</strong> voz para um que não chame a atenção <strong>de</strong> todos. — Não sei o que você quer — murmuro.<br />

— Está feliz por estar grávida? — ele pergunta, cruzando os braços e se ajeitando na ca<strong>de</strong>ira e<br />

para me olhar.<br />

— Claro, estou feliz — zombei.<br />

— Não feliz por Garrett e Cody. Está feliz por estar grávida? Você, Friday. Só você.<br />

De repente, lágrimas se formam em meus olhos e pisco furiosamente, tentando evitar que as gotas<br />

quentes caiam pelo rosto. Se caírem, falhei. Mostrei fraqueza. E não posso permitir isso.<br />

— Hormônios do caralho — falo.<br />

Ele ri.<br />

— Você está grávida há uma semana — ele diz —, é melhor se acostumar com isso.<br />

— Eu não choro — falo em voz baixa. — Nunca, nunca choro. Jamais.<br />

— Por que não?<br />

Porque não <strong>de</strong>ixo as pessoas chegarem perto o suficiente para me enfraquecerem.<br />

— Porque não quero.<br />

— Você não faz nada que não queira, certo? — ele pergunta. Seus olhos se estreitam.<br />

— Não mais.<br />

— Quando foi a última vez que fez?<br />

Respiro fundo. Meu estômago está em nós.<br />

— Friday — ele chama.<br />

— Por que o interrogatório, <strong>Paul</strong>?<br />

— Pare <strong>de</strong> fazer isso.<br />

— Vá se fo<strong>de</strong>r.<br />

Ele ri.<br />

— Vá se fo<strong>de</strong>r.<br />

Um sorriso surge em meus lábios. Me viro e olho para fora da janela, observando o grafite<br />

passar. A última vez que chorei foi por causa <strong>de</strong>le. Do bebê que entreguei para adoção. E jurei que<br />

nunca mais <strong>de</strong>ixaria alguém me tornar tão vulnerável novamente. Mas não posso contar isso a <strong>Paul</strong>.<br />

— Gosto <strong>de</strong> estar grávida — respondo e sorrio, forçando uma risadinha.<br />

— Ótimo, agora você vai fazer <strong>de</strong> conta que é a Polyana. — Ele ergue as mãos.<br />

— Pare <strong>de</strong> ser curioso — advirto e franzo a testa para ele. — Pare com essa merda <strong>de</strong> tentar<br />

entrar na minha psique. Ela não gosta <strong>de</strong> visitantes. Ela gosta da solidão. Das teias <strong>de</strong> aranha na<br />

porra do sótão. Então, pare <strong>de</strong> tentar limpá-las.<br />

— Diga-me uma coisa verda<strong>de</strong>ira — ele insiste. — Uma coisa. — Ergue um único <strong>de</strong>do. —<br />

Apenas uma.<br />

— Essa é a verda<strong>de</strong>. — Coloco a mão na barriga e <strong>Paul</strong> observa o movimento. — Caramba, amo


estar grávida. Amo ter uma vida crescendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. Amo saber que Cody e Garrett serão pais<br />

do bebê que vou gerar por nove meses. Isso me <strong>de</strong>ixa tão feliz que po<strong>de</strong>ria sair por aí fazendo um<br />

arco-íris <strong>de</strong> Skittles. Balançar a porra <strong>de</strong> uma árvore <strong>de</strong> Skittles e fazer um arco-íris cair <strong>de</strong> tão feliz<br />

que estou.<br />

— Obrigado. — Ele não diz mais nada. Apenas cruza os pés e olha fixamente para eles.<br />

— Foda-se, <strong>Paul</strong>.<br />

— Foda-se, Friday.<br />

— Não estou mentindo a respeito disso — sussurro irritada. — Amo estar grávida. Adoro esse<br />

momento, assim como adorei da última vez. Adorei toda a gestação, até chegar o momento em que<br />

tive que dá-lo. É isso que você queria ouvir, <strong>Paul</strong>? — Levanto-me quando o metrô diminui a<br />

velocida<strong>de</strong>. — Amo estar grávida — sussurro em seu ouvido. Ele recua. — Vou dar à luz a outro<br />

filho que não é meu. Só que, <strong>de</strong>sta vez, posso ficar <strong>de</strong> olho e me certificar <strong>de</strong> que ele está bem.<br />

Finalmente, uma lágrima cai sobre meus cílios e escorre pela minha bochecha. Seco-a com as<br />

costas da mão. Me afasto <strong>de</strong>le e vou em direção à saída. Ele sai e eu hesito. Espero até o último<br />

minuto e quando ele se vira para ver on<strong>de</strong> estou, as portas do metrô se fecham e ainda estou lá<br />

<strong>de</strong>ntro. Fecho os olhos quando me afasto, pois posso ouvi-lo chamando meu nome


P A U L<br />

S<br />

ão quase oito da noite e Friday ainda não chegou em casa. Essa semana, Hayley está com a mãe,<br />

então não tenho muito o que fazer, exceto andar <strong>de</strong> um lado para o outro e esperá-la chegar em casa.<br />

Não posso acreditar que ela me <strong>de</strong>ixou na plataforma do metrô. Ela ganhou. Por enquanto. Mas<br />

quando a encontrar, vou fazê-la contar todos os seus segredos. Ela carrega um fardo enorme e<br />

terrível. Quero ajudá-la a carregá-lo.<br />

Meu telefone vibra. É Logan mandando outra foto <strong>de</strong> Kit. Desta vez, tem um pedaço <strong>de</strong> papel na<br />

barriga <strong>de</strong>la dizendo: “gostaria <strong>de</strong> saber quando meu tio <strong>Paul</strong> vem me visitar”.<br />

Balanço a cabeça e sorrio. Pego as chaves da moto e vou até para a garagem. Ganhei-a em um<br />

jogo <strong>de</strong> cartas e posso contar em uma mão o número <strong>de</strong> vezes em que a usei. Logan usa muito mais<br />

que eu. Mas está ficando tar<strong>de</strong>, não quero ir <strong>de</strong> metrô a essa hora da noite. Nunca fui abordado por<br />

causa da minha aparência, mas recebo um monte <strong>de</strong> olhares curiosos em <strong>de</strong>corrência das tatuagens e<br />

piercings. Pessoas escon<strong>de</strong>m os filhos, mulheres levam as bolsas para o outro lado do corpo como se<br />

eu fosse roubá-las ou algo assim. Só porque tenho tatuagens não significa que sou pobre, ladrão, ou<br />

que necessito do dinheiro suado <strong>de</strong>les.<br />

Estaciono no hospital e vou até a ala on<strong>de</strong> Emily está aguardando receber alta. Bato suavemente e<br />

abro a porta. Enfio a cabeça e vejo Emily sentada em uma ca<strong>de</strong>ira amamentando Kit. Ela sorri e faz<br />

um gesto para que eu entre. Aponta para a cama e revira os olhos.<br />

— Ele se cansou — ela fala, balançando a cabeça.<br />

Logan está <strong>de</strong>itado na cama do hospital com a boca aberta. A melhor coisa <strong>de</strong> se ter um irmão<br />

surdo é que ele po<strong>de</strong> dormir in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do barulho, então, nem me preocupo em falar baixo.<br />

Sento-me em frente a Emily, e ela só me olha.<br />

— Ela estava aqui há alguns minutos — Emily fala, franzindo a testa.<br />

— Quem? — pergunto. Tento <strong>de</strong>monstrar que não fazia i<strong>de</strong>ia do que ela estava falando.<br />

Ela bufa.<br />

— Quem você acha?<br />

Não falo nada. Emily afasta a bebê <strong>de</strong> seu seio com uma careta e fecha a camisa. Ela tem um<br />

cobertor sobre os ombros, por isso não fica um clima estranho. Então, ela entrega Kit para mim e<br />

joga uma fralda em cima do meu ombro.<br />

— Veja se consegue fazê-la arrotar — ela fala rindo.<br />

— Você não sabe, mas sou o mestre do arroto — falo para Kit. Ela se contorce em meus braços<br />

como uma lagarta tentando sair <strong>de</strong> um casulo. Coloco-a suavemente em meu ombro e acaricio suas


costas. — Quando vai para casa?<br />

— Amanhã <strong>de</strong> manhã — ela respon<strong>de</strong>.<br />

— Está tudo bem? — pergunto. Kit solta um arroto suave e alto junto ao meu ouvido e isso me faz<br />

rir. — Muito bom. Você soa como seu pai — falo, enquanto a embalo junto ao meu corpo.<br />

— Está, sim. — Ela acena o polegar na direção <strong>de</strong> Logan. — Disse a ele que fosse para casa<br />

dormir um pouco, pois não teremos <strong>de</strong>scanso quando sairmos daqui, mas ele recusou.<br />

— Ele é inteligente — falo para Kit, fazendo voz infantil. — A mãe <strong>de</strong>le o ensinou a diferenciar<br />

o certo do errado — falo baixinho, ainda conversando com o bebê.<br />

— Ele parecia Henry, dizendo que não podia dormir sem mim. Sem nós. — Henry é um velho<br />

amigo, cuja esposa morreu recentemente. Ele era porteiro do prédio <strong>de</strong> Emily quando ela voltou para<br />

a cida<strong>de</strong> e faz parte da nossa vida agora. Seus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas quando ela olha para Kit<br />

e ela passa a mão <strong>de</strong>baixo do nariz.<br />

— Estou feliz por ele ter te encontrado — falo para Emily. Olho diretamente em seus olhos<br />

enquanto estou falando, pois não quero confundi-la. Quero ser muito claro. — Você é a melhor coisa<br />

que já aconteceu a ele.<br />

— Ele é o único que me aceita exatamente como sou.<br />

— Ei! — protesto <strong>de</strong> uma maneira brincalhona. — Todos nós aceitamos você.<br />

Ela sorri suavemente.<br />

— <strong>Os</strong> <strong>Reed</strong> são um grupo especial.<br />

— Culpa da nossa mãe — respondo.<br />

O quarto fica em silêncio por um minuto e eu aprecio a beleza que é minha sobrinha. Ela já está<br />

dormindo e parece muito serena. Ela é perfeita.<br />

— Como estava Friday? — finalmente pergunto.<br />

Emily dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Sabe como ela é.<br />

— Ela vai para casa hoje? Pergunto enquanto passo a mão pelos cabelos finos <strong>de</strong> Kit.<br />

— Provavelmente — diz ela.<br />

Dou um suspiro e aperto a ponta do nariz.<br />

— Continue pressionando — ela fala.<br />

Levanto a cabeça. Essa era a última coisa que eu esperava que ela dissesse.<br />

— O quê?<br />

— Continue pressionando — ela fala novamente. — Ela tem uma bagagem pesada. E você não<br />

po<strong>de</strong> ajudá-la a carregar até que ela esteja disposta a compartilhar com você. Então, continue<br />

pressionando.<br />

— Você sabe? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Sei reconhecer alguém que está se escon<strong>de</strong>ndo. Já fiz isso. Posso ver os sinais. Ela quer<br />

<strong>de</strong>sesperadamente que alguém a encontre. E, provavelmente, alguém que a perdoe pelo que ela fez,<br />

para que assim, ela possa perdoar a si mesma. — Em encolhe os ombros. — Estou apenas supondo, é<br />

claro. Posso estar completamente enganada.<br />

— Duvido.<br />

— Não se preocupe em ser gentil. Seja você mesmo. Você sabe o que dizer e fazer. — Ela olha<br />

para mim com um sorriso suave no rosto.


— Ela falou para você? — pergunto e estremeço por <strong>de</strong>ntro. Deveria estar perguntando a Friday<br />

todas essas coisas.<br />

— Sobre a barriga <strong>de</strong> aluguel?<br />

Concordo.<br />

— Sim, conversamos sobre isso quando ela se ofereceu.<br />

Bem, isso me surpreen<strong>de</strong>.<br />

— Não sabia que vocês eram tão próximas.<br />

— Ninguém é próximo <strong>de</strong> Friday — ela fala. Então, olha diretamente em meus olhos. — Exceto<br />

você.<br />

Eu rio, mas há humor no som.<br />

— Estou tão longe <strong>de</strong> Friday quanto qualquer um. Ela tem tantas pare<strong>de</strong>s ao redor que não<br />

consigo <strong>de</strong>rrubá-las, muito menos contorná-las.<br />

— Eventualmente ela vai abrir a porta e vai <strong>de</strong>ixá-lo entrar.<br />

Olho para cima quando a porta do quarto se abre. Friday entra assustada e me olha.<br />

— Esqueci minha bolsa novamente — ela fala e aponta para uma bolsa sobre a ca<strong>de</strong>ira ao meu<br />

lado. Não a vi ali.<br />

Emily fica <strong>de</strong> pé, vai para a cama e empurra Logan. Ele salta e grunhe, abrindo os olhos<br />

<strong>de</strong>pressa. É exatamente do mesmo jeito que o acordo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que per<strong>de</strong>u a audição. É a única maneira<br />

<strong>de</strong> conseguir sua atenção.<br />

— Me leve para uma caminhada — Emily diz a ele. Ele se levanta e se alonga.<br />

“Babás”, ela fala para ele por sinais.<br />

Ele franze a testa para ela, que apenas balança a cabeça em direção à porta.<br />

— Oh — ele fala. — Uma caminhada. — Olha para Kit. — Tem certeza <strong>de</strong> que ela vai ficar<br />

bem?<br />

— Ela acabou <strong>de</strong> mamar. Vamos. — Emily segura sua mão e o leva do quarto, fechando a porta.<br />

Friday pega a bolsa, mas me estico e seguro sua mão.<br />

— Por favor, não vá — peço. — Por favor.<br />

Ela balança a cabeça, mordiscando o lábio inferior.<br />

— Tá. — Suspira e se senta ao meu lado, inquieta. Me inclino, coloco Kit em seus braços e<br />

pressiono um beijo em sua testa.<br />

— Me <strong>de</strong>ixa te amar — falo suavemente.<br />

Sento-me e observo enquanto ela ajeita Kit no colo para que possa olhar para o rosto do bebê. O<br />

silêncio pesa no quarto como um cobertor molhado.<br />

— Ele era perfeito — ela fala suavemente. — Parecia comigo. Tinha olhos azul escuro e sardas.<br />

Em questão <strong>de</strong> um minuto, não o tinha mais. E nunca mais o vi novamente. Não pu<strong>de</strong> me <strong>de</strong>spedir.<br />

Eles o levaram <strong>de</strong> mim e eu nem cheguei a segurá-lo.<br />

— On<strong>de</strong> ele está agora? — Minha garganta está tão fechada <strong>de</strong> emoção que tenho que tossir para<br />

o ar passar.<br />

— Com uma família maravilhosa que o adotou quando tinha um dia <strong>de</strong> vida. — Ela finalmente<br />

olha para mim e seus olhos brilham com lágrimas. Uma <strong>de</strong>las cai pelo seu rosto, e ela não a enxuga.<br />

— Eles me mandam fotos a cada seis meses. Ele é lindo. Joga beisebol e ama trens.<br />

— Todos nós fazemos o que precisamos para sobreviver — falo.<br />

Ela bufa. Entrego um lenço <strong>de</strong> papel a ela.


— Eu tinha quinze anos e estava completamente sozinha. — Ela tira o cobertor do corpo <strong>de</strong> Kit e<br />

conta os <strong>de</strong>dos dos pés e das mãos. — Ela vai tocar guitarra como a mãe — fala. — Olhe para esses<br />

<strong>de</strong>dos. — Kit aperta o <strong>de</strong>do <strong>de</strong> Friday durante o sono, e ela envolve a mão do bebê.<br />

Não falo nada, pois não acho que é o que ela quer.<br />

— Seu nome é Jacob — ela fala e sorri. — Tenho suas pegadas e a data <strong>de</strong> nascimento tatuados<br />

em minha coxa. Pete as fez.<br />

Porra, Pete. Ele sabia disso esse tempo todo e não me contou?<br />

— Filho da puta — resmungo.<br />

— Pete sabe o quanto vale um segredo bem guardado.<br />

Fico feliz por ela ter tido alguém para contar seus segredos. Espero que um dia esse alguém seja<br />

eu.<br />

— Valorizo seus segredos. Vou mantê-los em meu coração e vai ficar só entre nós. Sempre.<br />

Sorri.<br />

— Eu sei.<br />

Ela respira fundo e sinto que isso aliviou um pouco da sua carga.<br />

— Você nunca o viu?<br />

— Não. Mas tenho autorização. Foi uma adoção aberta.<br />

— Por que não?<br />

— Tenho medo <strong>de</strong> vê-lo e não ser capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-lo ir embora. — Sua voz falha novamente. —<br />

Ou pior, e se o vir e ele me odiar? Não seria capaz <strong>de</strong> me levantar. Já é duro o suficiente sem que ele<br />

saiba quem sou. Se ele me odiar, não serei capaz <strong>de</strong> seguir em frente.<br />

— Obrigado por me contar — falo suavemente.<br />

— Deveria ter contado antes. Sinto muito.<br />

— Você é minha. Sabe disso, né? — <strong>de</strong>ixo escapar.<br />

As palavras ficam entre nós como fogos <strong>de</strong> artificio iluminando o céu. Posso ver a queima, estou<br />

apenas esperando que eles explodam.<br />

— Sei que você quer que eu seja. Mas não tenho certeza <strong>de</strong> que sou. Acho que você po<strong>de</strong><br />

encontrar alguém melhor.<br />

— Eu discordo. — Não há dúvida sobre isso.<br />

— Po<strong>de</strong> me dar algum tempo?<br />

— Quanto?<br />

Ela encolhe os ombros.<br />

— Não sei. Acho que, eventualmente, saberei.<br />

— Acho que vou saber quando você souber. — Eu rio. Mas meu coração está muito mais leve.<br />

A porta se abre. Emily e Logan entram no quarto. Logan olha para nós dois e sorri.<br />

— O quê? — pergunto.<br />

— Cara, só estou contente por ela não ter te matado. Só isso. — Ele faz um movimento <strong>de</strong> gato<br />

com as mãos. — Miau.<br />

Ela quase me mata toda vez que vira aqueles olhos ver<strong>de</strong>s em minha direção. Mas eu morreria<br />

mil vezes, só para receber esse olhar.<br />

— Está pronta para ir para casa? — pergunto a ela.<br />

Ela balança a cabeça e entrega Kit a Logan, que a pega, parecendo confortável. Ele é o pai, então<br />

acho que realmente está. Meu irmão beija a bochecha <strong>de</strong> Friday enquanto abraço Emily.


— Obrigado — sussurro em seu ouvido.<br />

Em acaricia meu ombro e não diz nada.<br />

Saímos juntos e me dou conta <strong>de</strong> que não posso colocar Friday na garupa da moto, pois ela está<br />

grávida. Então, não vou <strong>de</strong>ixar que ela saiba que a moto está ali. Faço um sinal para um táxi e<br />

entramos nele. Pego a moto amanhã. Envio uma mensagem <strong>de</strong> texto para Logan, avisando que a <strong>de</strong>ixei<br />

lá e que ele po<strong>de</strong> usar se precisar. Ele respon<strong>de</strong> e diz que está tudo bem.<br />

Puxo Friday para perto <strong>de</strong> mim e ela apoia o rosto em minha camisa. Sua respiração quente toca a<br />

gola e faz com que eu me sinta aquecido.<br />

— Só me dê algum tempo — ela fala calmamente, contra meu peito.<br />

Aceno e esfrego meu queixo no topo <strong>de</strong> sua cabeça. Então ela está consciente <strong>de</strong> que concor<strong>de</strong>i.<br />

Ela respira fundo e se aconchega em mim.<br />

Ao chegarmos em casa, quero levá-la para minha cama. Quero abraçá-la e ter certeza <strong>de</strong> que ela<br />

está bem. Mas ela diz boa noite e entra em seu quarto. Fico parado, me sentindo tranquilo apenas por<br />

saber que ela está segura em casa, perto <strong>de</strong> mim. Assim como suas memórias.


F R I D A Y<br />

F<br />

azem duas semanas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que me abri com <strong>Paul</strong> e que ele me beijou. Ele segura a minha mão o<br />

tempo todo, tanto que às vezes me pergunto se brotará raízes em nossas mãos, me ligando<br />

permanentemente a ele. Mas ele não me beijou mais. Sim, nos abraçamos no sofá e pu<strong>de</strong> sentir seu<br />

pau lutando contra suas calças, lutando contra mim, mas ele ainda não me beijou. Não <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

mostrei minha alma a ele.<br />

Essa noite preciso da ajuda <strong>de</strong>le com algo, mas fico com receio <strong>de</strong> pedir, então peço a Garrett em<br />

vez disso.<br />

— Acha que po<strong>de</strong> vir até aqui e me ajudar? — pergunto.<br />

— Que tipo <strong>de</strong> ajuda você precisa? — Posso dizer que ele está ocupado, porque há barulho ou<br />

risadas ao fundo.<br />

Ouço uma porta bater e o ruído <strong>de</strong>saparece.<br />

— O quê? — ele pergunta.<br />

— Preciso ser pintada. Lembra daquela competição que falei? Minha mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>sistiu, mas estou<br />

trabalhando num projeto incrível, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês passado, e não quero per<strong>de</strong>r. Vou concorrer a um<br />

prêmio <strong>de</strong> cinco mil dólares.<br />

— E você acha que posso te pintar? — ele zomba. — Não tenho nenhuma habilida<strong>de</strong> artística<br />

sequer. Não posso nem mesmo fazer artesanato. Nenhum tipo. Sou ruim em tudo.<br />

— É apenas sombreamento. Vou transferir o <strong>de</strong>senho para a minha pele e você só vai precisar<br />

pintar <strong>de</strong>ntro. — Estou implorando, mas este projeto é muito importante e quero compartilhá-lo com<br />

o mundo. Posso ganhar. Sei que posso. — Não se preocupe — imploro. — Não vou pedir que você<br />

pinte meus seios. Posso fazer isso sozinha. Só preciso que faça em minhas costas. Po<strong>de</strong> fazer?<br />

— Não posso — ele respon<strong>de</strong>. — Estamos em um evento do trabalho do Cody.<br />

— Ah. — Deixo escapar um suspiro.<br />

— Porque você não pe<strong>de</strong> ao gostosão para fazer isso? Ele é um artista incrível, Friday.<br />

— Ele também é... hum... gostosão. — Sinto minhas bochechas esquentarem.<br />

— Ah, quer dizer que você o pegaria.<br />

Eu rio.<br />

— Sim. — Vou até a cozinha para pegar uma garrafa <strong>de</strong> água da gela<strong>de</strong>ira. <strong>Paul</strong> está sentado no<br />

sofá, então sussurro ao telefone. — É muito intimo para nós, agora.<br />

— Ele ainda está segurando as guloseimas, né? — Garrett ri.<br />

Resmungo baixinho e olho para <strong>Paul</strong>, que me dá um olhar questionador. É nítido que ele está


tentando ouvir o que estou falando, mas sem <strong>de</strong>ixar que eu perceba. Não quero que ele me ouça falar<br />

sobre ele <strong>de</strong> jeito nenhum.<br />

— Peça a ele — Garrett fala. — Faça isso logo.<br />

— Não.<br />

— Por que não pe<strong>de</strong> a uma amiga?<br />

— Não tenho nenhuma! — reclamo. Bem, tenho duas. Mas Reagan está ocupada e Emily acabou<br />

<strong>de</strong> ter bebê há duas semanas, logo, não posso pedir a ela. Minha antiga companheira <strong>de</strong> quarto da<br />

faculda<strong>de</strong>, Lacy, também está ocupada. Já pedi.<br />

— Vá pedir a ele. Então, me ligue mais tar<strong>de</strong> e me conte como foi. — Ele ri e a linha fica muda.<br />

— Ótimo, merda — murmuro para o telefone. Estou esperando a porra do seu bebê.<br />

— O que há <strong>de</strong> errado? — <strong>Paul</strong> pergunta. Ele <strong>de</strong>sliga a TV e se levanta. Seu longo corpo fica<br />

ainda mais alto quando ele estica os braços por cima da cabeça. Posso ver aquela pequena faixa <strong>de</strong><br />

pele abaixo da sua camiseta e, pela primeira vez, vejo que ele tem o nome <strong>de</strong> Kelly lá.<br />

— Você tem o nome da Kelly na barriga — falo, apontando como uma idiota para o seu<br />

estômago. Ele puxa a camisa para baixo e fecha a cara para mim.<br />

— E daí? — ele pergunta.<br />

— Você tem o nome da Kelly na barriga — falo novamente. Me forço a dar <strong>de</strong> ombros. — Isso é<br />

tudo.<br />

Ele aperta os olhos para mim.<br />

— Hum-hum — ele murmura. — Quem era no telefone?<br />

— Garrett — respondo. Apenas o filho da mãe do Garrett que não po<strong>de</strong> me ajudar quando<br />

estou <strong>de</strong>sesperada. Tomo um gole da minha água.<br />

Não sei porque me irrita saber que <strong>Paul</strong> tem o nome <strong>de</strong> Kelly gravado em sua pele. Mas irrita. Já<br />

tinha o visto sem camisa antes, mas não tinha percebido até agora. Ela foi e sempre será uma gran<strong>de</strong><br />

parte da vida <strong>de</strong>le, porque eles têm uma filha, mas ainda assim, isso me irrita. O<strong>de</strong>io que isso mexa<br />

comigo, mas mexe.<br />

<strong>Paul</strong> me tira <strong>de</strong>sses pensamentos quando pergunta:<br />

— E o que você pediu a Garrett para fazer por você? E por que ele recusou? E por que ele me<br />

chamou <strong>de</strong> gostosão? — Ele sorri e apoia um quadril contra balcão.<br />

— Como você ficou sabendo <strong>de</strong> tudo isso?<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Seu volume estava muito alto. — Ele olha para mim por um minuto. Estou fingindo que não o<br />

ouço. Ele solta um suspiro e canta: — Fridaaaayy! — Acenando as mãos no ar <strong>de</strong>scontroladamente.<br />

— Terra para Friday.<br />

— Ele te chama <strong>de</strong> gostosão porque você é.<br />

Uma covinha aparece em sua bochecha.<br />

— Certo — ele fala. — E o resto? — ele pergunta quando não falo mais nada. — O que você<br />

pediu para que ele fizesse?<br />

Olho ao redor da sala. Não há nada que eu possa usar para distraí-lo.<br />

— Hayley está chamando você? — pergunto.<br />

Ele revira os olhos.<br />

— Ela está com a mãe esta semana. Mas, boa tentativa.<br />

Ele não para <strong>de</strong> perguntar.


— Pedi a ele que me ajudasse com um projeto <strong>de</strong> arte — respondo. Sinto como se tivesse<br />

colocado os bofes para fora.<br />

— Que tipo <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> arte?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Tem um concurso rolando no Bounce. — Bounce é um clube noturno e todos os irmãos <strong>Reed</strong><br />

trabalharam lá, em algum momento, como seguranças. Então, sei que ele conhece o lugar.<br />

— Que tipo <strong>de</strong> concurso? — ele pergunta.<br />

— Um concurso <strong>de</strong> pintura? — respondo, mas sai como uma pergunta, ainda que eu não quisesse<br />

fazê-la a ele.<br />

— Ah, porra, o concurso <strong>de</strong> pintura corporal? — <strong>Paul</strong> pergunta e bate a mão contra o balcão. —<br />

Vai entrar nisso?<br />

— Já entrei. Eu tinha uma mo<strong>de</strong>lo, mas ela <strong>de</strong>sistiu no último minuto. Sua avó morreu ou algo<br />

assim. Não sei porque sua avó não podia ter esperado até <strong>de</strong>pois da competição para bater as botas.<br />

Ele ri.<br />

— Cara, você me faz rir — ele fala.<br />

Eu o encaro.<br />

— E já que a mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>sistiu você ia fazer o quê? Pintar o Garrett?<br />

— Hummm, não exatamente. — Levo um <strong>de</strong>do aos lábios e roo as unhas.<br />

— Então, o quê? — Ele ergue as mãos.<br />

— Pedi a ele que me pintasse. — Olho para o corredor. — Talvez Sam possa me pintar. Ele está<br />

aqui? — Começo a seguir na direção do quarto, mas <strong>Paul</strong> segura meu braço e me puxa para trás. Caio<br />

contra ele.<br />

— Não vou <strong>de</strong>ixar, <strong>de</strong> jeito nenhum, qualquer homem, nem mesmo Garrett, pintar seu corpo nu.<br />

Absolutamente não. — Ele cruza os braços sobre o peito largo e olha para mim como se eu tivesse<br />

ficado louca.<br />

— A taxa <strong>de</strong> inscrição era <strong>de</strong> cem dólares e passei um mês trabalhando no projeto. É perfeito e<br />

acho que posso ganhar. E, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando você se tornou meu pai? — pergunto. E me afasto <strong>de</strong>le.<br />

— Confie em mim — ele fala. — A última coisa que quero ser é o seu pai.<br />

— Então pare <strong>de</strong> agir como um.<br />

Ele me puxa <strong>de</strong> volta para si e sinto seu pau pressionado contra meu baixo ventre. — Confie em<br />

mim — ele diz novamente. — Não me sinto como um pai quando estou com você.<br />

— Oh — suspiro. Meu coração acelera e sinto uma pequena vibração na barriga, que só sinto<br />

com ele.<br />

— Oh — ele zomba. — Estou agindo como um namorado ciumento porque sou um <strong>de</strong>les.<br />

Fecho meus olhos e falo:<br />

— Você nem me beijou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que lhe contei sobre Jacob.<br />

— Você me disse que precisava <strong>de</strong> tempo — ele sussurra suavemente. — Estive aqui esperando.<br />

Pacientemente, eu po<strong>de</strong>ria acrescentar. — Ele ri.<br />

— Bem, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ser tão paciente!<br />

Ele afasta meu cabelo do rosto com <strong>de</strong>dos suaves e não diz uma palavra. Ele só olha para mim,<br />

os olhos suaves e cheios <strong>de</strong> algo que não entendo. Queria enten<strong>de</strong>r. Tornaria isso muito mais fácil.<br />

— Bem, sobre esta competição — ele fala.<br />

— Reagan e Emily estão ocupadas.


— Não consegue mais ninguém para servir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo?<br />

— Não tenho tempo suficiente para ensinar a posição.<br />

— Posição? — Ele sorri.<br />

Soco seu ombro.<br />

— Vou pintar você. — Seus olhos encaram os meus. — E vou aproveitar cada minuto disso. —<br />

Sua covinha fica ainda mais profunda e o <strong>de</strong>ixa mais bonito.<br />

— Não. — Balanço a cabeça. — Você não po<strong>de</strong>.<br />

— Por que não?<br />

— Porque vou estar nua! — sussurro.<br />

— Eu sei! — ele murmura suavemente. — É por isso que não quero ninguém mais fazendo isso!


P A U L<br />

E<br />

sta é uma péssima i<strong>de</strong>ia, e sei disso antes mesmo <strong>de</strong> entrar no quarto.<br />

— Feche a porta — ela fala. Sua voz treme e amo o fato <strong>de</strong> ela estar nervosa que eu vá pintar seu<br />

corpo.<br />

— Ninguém mais está aqui — eu a lembro.<br />

— Alguém sempre está aqui, a caminho daqui ou pensando em vir aqui.<br />

Ela está certa, então, fecho a porta. Ela tem papel <strong>de</strong> transferência espalhados por toda a sua<br />

cama. Eles estão dispostos em um padrão estranho, e não consigo enten<strong>de</strong>r o que é.<br />

— O que vai ser? — pergunto.<br />

Ela sorri e balança a cabeça.<br />

— Vai ter que esperar e ver.<br />

— O que vou pintar em você? — pergunto enquanto ela puxa a camisa sobre a cabeça. Minha<br />

boca se abre, mas ela segura a camisa na frente dos seios e vira <strong>de</strong> costas para mim, puxando o<br />

cabelo para o lado.<br />

— É que a tinta látex é muito grossa. Vai ficar como plástico quando estiver seca. — Ela aponta<br />

para um papel sobre a cama. — Vamos começar a transferência.<br />

Essa parte sei como fazer. Ela usou o mesmo papel <strong>de</strong> transferência que usamos para tatuagens.<br />

Coloco-os em seu corpo, seguindo suas instruções e passo para o próximo. Faço seu tórax, enquanto<br />

Friday segura firmemente a camisa.<br />

— Vire-se — diz ela, fazendo um movimento <strong>de</strong> giro com o <strong>de</strong>do apontado para baixo.<br />

— Tenho mesmo? — finjo estar <strong>de</strong> mau humor.<br />

— Vire-se — ela repete, com mais força <strong>de</strong>sta vez. Me afasto e olho para seu armário, mas ela<br />

não percebe que estou <strong>de</strong> frente para o espelho. Ela <strong>de</strong>ixa cair a camisa e coloca as transferências<br />

sobre os seios.<br />

Minha boca fica seca. Sei que não <strong>de</strong>veria vê-la, mas não posso evitar <strong>de</strong> jeito nenhum. Ela é<br />

perfeita. Seus seios são gran<strong>de</strong>s para seu pequeno corpo, mas firmes. <strong>Os</strong> mamilos estão duros e<br />

apontando diretamente para sua frente. Suas auréolas são tão gran<strong>de</strong>s quanto moedas <strong>de</strong> dólares e<br />

quero muito ir até ela e tomar um em minha boca. Quero ouvi-la gritar.<br />

Ela olha para cima e eu afasto meus olhos do espelho.<br />

— Po<strong>de</strong> se virar agora — diz ela, levantando a camisa <strong>de</strong> volta ao seu peito. Que vergonha.<br />

Engulo em seco e tento afastar o <strong>de</strong>sejo que está nublando meu cérebro. Ela precisa que eu a pinte,<br />

não que transe com ela.


Sua testa franze.<br />

— Você está bem? — ela pergunta.<br />

— Tudo bem — Sufoco. Pigarreio porque a minha voz soa rouca. — Tudo bem — digo<br />

novamente.<br />

Ela balança a cabeça e vira as costas para mim.<br />

— Todos os espaços com um número um no centro será pintado com este tom <strong>de</strong> laranja fogo. —<br />

Ela segura uma ban<strong>de</strong>ja <strong>de</strong> tintas e a coloca em um banquinho ao nosso lado. — Tem certeza <strong>de</strong> que<br />

você tem tempo para isso? Vai <strong>de</strong>morar um bom tempo.<br />

— Não consigo pensar em qualquer outro lugar que gostaria <strong>de</strong> estar. — Friday está quase nua<br />

comigo em seu quarto. Eu po<strong>de</strong>ria ficar aqui por alguns dias. Mergulho o pincel e passo em suas<br />

costas. É uma pena cobrir a tatuagem da Phoenix. É roxa e cinza, e ressurge das cinzas. — Você que<br />

<strong>de</strong>senhou essa tatuagem? — pergunto, quando começo a pintar.<br />

— Sim.<br />

Continuo a pintura. Pelo menos, fazendo isso, posso explorar toda a sua arte. — É bonita. E tem<br />

movimento.<br />

— Fiz logo <strong>de</strong>pois que conheci você — ela fala. Sua voz é suave e curvilínea, assim como seu<br />

corpo. — Ter um emprego e uma família, mesmo uma que não fosse minha, me fez mais forte. Senti<br />

como se eu pu<strong>de</strong>sse finalmente seguir em frente.<br />

Exploro o resto das suas costas, pintando todas as partes marcadas com número um. Depois,<br />

passo para o número dois, que é roxo. Ela sorri para mim por cima do ombro.<br />

— Você está indo muito bem — diz ela.<br />

— O que significa? — pergunto e aponto para um baralho com um palhaço na frente.<br />

— A vida é uma aposta.<br />

— E esta? — Começo a pintar sobre seu veleiro.<br />

— Algum dia — ela fala baixinho —, vou navegar ao pôr do sol.<br />

— Há anéis <strong>de</strong> casamento na vela?<br />

— Sim.<br />

— Você quer casar.<br />

— Sim.<br />

Meu coração acelera em meu peito.<br />

— Em minhas costas, estão minhas esperanças e sonhos. Em minha frente está a minha realida<strong>de</strong>,<br />

como a vi na época. Porque posso enfrentar qualquer coisa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu <strong>de</strong>ixe o que aconteceu<br />

comigo me empurrar para a frente.<br />

Droga. Nem sei como respon<strong>de</strong>r.<br />

Quando suas costas estão todas pintada, viro minha ca<strong>de</strong>ira para a sua lateral, e ela levanta o<br />

braço.<br />

— Basta fazer os lados. Posso fazer a frente.<br />

Não respondo, porque não vou parar.<br />

Ela tem um veleiro caído na parte da frente da sua barriga. E bem ao lado do piercing em seu<br />

umbigo, há um baralho <strong>de</strong> cartas mostrando um full house. Ela tinha palavras como fé, esperança e<br />

carida<strong>de</strong> escritas nas costas. E, na sua frente, a palavra perda. Não comento a respeito, porque ela<br />

está começando a se contorcer e sinto medo <strong>de</strong> que ela vá me fazer parar.<br />

Passo sobre um berço vazio. Olho para ela e vejo que Friday fechou os olhos, então continuo


pintando.<br />

— Não consigo <strong>de</strong>scobrir o que estamos <strong>de</strong>senhando.<br />

Ela sorri.<br />

— Eu sei. Não é ótimo?<br />

Eu rio.<br />

— Se você diz.<br />

Pinto o lado do seu pescoço, on<strong>de</strong> há uma tartaruga, crânios e outras loucuras que é tão a cara <strong>de</strong><br />

Friday.<br />

Quando não há mais nada — além dos seios que ainda estão cobertos pela camisa — ela diz:<br />

— Minhas pernas vão ser negras.<br />

— Você não vai subir no palco nua — falo. De jeito nenhum.<br />

— Não, vou usar uma calcinha <strong>de</strong> biquíni preta. — Ela pega um rolinho.<br />

— Ótimo. — Odiaria ter que amarrá-la ao pé da cama. Bem, na verda<strong>de</strong>, gostaria <strong>de</strong> amarrá-la<br />

ao pé da cama.<br />

— Preciso tirar a calça — ela fala. Seu rosto cora e ela fica tão linda.<br />

Coloco o pincel para baixo e começo a cantarolar por <strong>de</strong>ntro, quando seguro o botão da sua<br />

calça. Ela me permite, ainda agarrada a camisa. Ela está usando uma calcinha <strong>de</strong> biquíni preta e eu<br />

assobio quando vejo. Ela ri e o som vai direto para o meu coração. Puxo sua calça para baixo e ela<br />

sai <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la.<br />

Agacho na sua frente, coloco um joelho no chão e <strong>de</strong>scanso o cotovelo no outro. Olho para cima e<br />

sorrio.<br />

— A vista é boa aqui em baixo.<br />

Ela sorri e olha para o lado.<br />

Ela não tem muitas tatuagens em suas coxas, com exceção <strong>de</strong> um chocalho do bebê que está<br />

envolto em uma teia <strong>de</strong> aranha. O <strong>de</strong>senho vai até seu joelho e sei do que se trata. Passo o rolo com a<br />

tinta preta e cubro toda sua pele, até seus pés. Ela ri quando chego a parte interna do pé.<br />

— Cócegas? — pergunto.<br />

— Hipersensibilida<strong>de</strong> — ela sussurra.<br />

— Preciso pintar um por <strong>de</strong>ntro da calcinha — falo. — Para o caso <strong>de</strong> ela sair do lugar.<br />

— Po<strong>de</strong> puxá-la um pouco para baixo? — ela pergunta. — Não muito.<br />

Encaixo os polegares na lateral da calcinha e puxo para baixo. Ela faz um barulho, sussurrando e<br />

eu olho para cima e a vejo falar sozinha. É como se ela estivesse dizendo — não puxe muito, não<br />

puxe muito, não puxe muito — , mas não consigo ter certeza. Pinto ao redor dos seus quadris e<br />

cintura, <strong>de</strong>ixando a calcinha virada para baixo, para que a tinta possa secar por um minuto. Levanto<br />

sua perna e apoio seu pé em meu joelho. Posso ver a parte interna da coxa, on<strong>de</strong> estão as pegadas do<br />

seu filho e a data <strong>de</strong> nascimento. Me inclino para frente e beijo ali. Hesito com a doce sensação da<br />

sua pele suave contra meus lábios e paro para sentir o cheiro esmagador <strong>de</strong> Friday. Sua perna<br />

estremece quando passo o rolo muito rapidamente e a apoio <strong>de</strong> volta no chão. Passo o rolo<br />

novamente por sua coxa, olho para ela e sorrio.<br />

— Perdoe-me antecipadamente pelo que estou prestes a fazer — falo. Puxo a calcinha para o<br />

lado para que eu possa passar o pincel na dobra da coxa.<br />

Puta merda. Ela não tem um fio <strong>de</strong> cabelo lá embaixo. Claro, só posso ver a beirada, mas é<br />

<strong>de</strong>pilado e tenho que colocar a mão para baixo e ajeitar minha ereção. Quero puxar a calça mais para


o lado, para que eu possa ver o piercing do clitóris, mas não fui convidado a ir tão longe. Merda, não<br />

fui convidado a chegar até aqui, mas cheguei. Graças a Deus, estou aqui.<br />

— Você ainda está bem? — ela pergunta.<br />

— Tudo bem — resmungo.<br />

— Só checando, porque sua mão está tremendo um pouco. — A voz <strong>de</strong>la treme, tanto quanto a<br />

minha mão.<br />

— Você está me <strong>de</strong>ixando louco — admito.<br />

Ela respira fundo.<br />

— Desculpe-me — ela sussurra.<br />

— Não se <strong>de</strong>sculpe. É um tipo bom <strong>de</strong> louco.<br />

— Amo essas covinhas — ela fala e fecha os lábios rapidamente, como se tivesse falado <strong>de</strong>mais,<br />

o que me faz sorrir ainda mais.<br />

— Não fale em amor perto <strong>de</strong> mim — advirto <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira.<br />

— Por que não?<br />

— Porque me <strong>de</strong>ixa esperançoso — eu digo.<br />

Ela dá um passo para trás e me olha.<br />

— Acho que terminamos — ela fala e sorri.<br />

— Não, não terminamos.<br />

Dou um passo na direção <strong>de</strong>la.<br />

Ela dá um passo para trás.<br />

— Sim, terminamos.<br />

— Não, não terminamos. — Seguro a beira da camisa. — Largue.<br />

— Posso fazer essa parte.<br />

— Passei duas horas pintando seu corpo e você não vai me conce<strong>de</strong>r o privilégio <strong>de</strong> pintar seus<br />

seios? — pergunto, tentando parecer o mais <strong>de</strong>sanimado quanto possível. Me inclino para perto do<br />

seu ouvido. — Pintei o lado esquerdo e direito da sua boceta — falo. — Posso pintar seus seios. —<br />

Puxo a camisa e ela <strong>de</strong>ixa cair. As mãos <strong>de</strong>la caem para os lados e Friday fecha os olhos.<br />

— Vá em frente — ela fala com os <strong>de</strong>ntes cerrados.<br />

Sorrio e começo a pintar. Sigo ao redor dos seus seios, até chegar ao cume da esquerda. Paro e<br />

toco em seu piercing. Ela ofega e olha para baixo, a boca aberta. Ela murmura algo que não consigo<br />

enten<strong>de</strong>r.<br />

— Precisamos trocar este para algo <strong>de</strong> plástico — digo a ela.<br />

— Sobre a cômoda — ela respon<strong>de</strong>, fecha os olhos e respira fundo.<br />

— Posso trocar? — pergunto.<br />

Faço isso o tempo todo no estúdio quando coloco piercings ou quando os clientes precisam tirálo<br />

por algum motivo. Substituo o metal por algo como uma linha <strong>de</strong> pesca, que manterá o furo aberto<br />

até que o metal possa ser colocado <strong>de</strong> volta.<br />

— Po<strong>de</strong> — ela respon<strong>de</strong> e mantém os olhos fechados, mas se assusta quando torço o metal com<br />

os <strong>de</strong>dos.<br />

— Isso não é muito bom — ela fala e continua com os olhos abertos, me observando abri-lo.<br />

Coloco o <strong>de</strong> plástico no lugar e o prendo. Faço o mesmo do outro lado, parando um instante para<br />

tocá-lo. É a porra <strong>de</strong> um piercing <strong>de</strong> mamilo, não posso evitar. É como se estivesse implorando para<br />

ser tocado.


Quando termino, pego o pincel e pergunto:<br />

— Está pronta?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

Então, passo o pincel pelo mamilo duro.<br />

— Merda — ela resmunga.<br />

— O quê?<br />

— Precisamos nos apressar.<br />

— Ainda não. Estou me divertindo.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela protesta, mas o lamento em sua voz não é real. É tudo fingimento. Passo o pincel<br />

<strong>de</strong> um lado para o outro em seu mamilo. Ela abaixa a cabeça e a boca se abre. Ela geme. Deus, ela<br />

vai me fazer gozar nas calças.<br />

— Não esperava que fossem tão gran<strong>de</strong>s — admito.<br />

Seus olhos se abrem.<br />

— Meus seios?<br />

Eu rio.<br />

— Não, já sabia que seus seios eram gran<strong>de</strong>s. Estive olhando para eles por quatro anos. Quero<br />

dizer seus mamilos. Eles são gran<strong>de</strong>s e perfeitos. — Posso ver a pulsação em seu pescoço, quase tão<br />

rápida quanto a minha pistola <strong>de</strong> tatuagem.<br />

Continuo pintando o da esquerda e inclino a cabeça para chupar o da direita. Ela grita e segura<br />

meus cabelos.<br />

— Cuidado — ela sussurra. — Estão muito sensíveis agora. Não tinha percebido que estavam<br />

machucados.<br />

— Estou machucando você? — pergunto, com o rosto próximo do mamilo.<br />

— Não, quero dizer, em geral. O fato <strong>de</strong> estar grávida faz isso com eles. O que você está fazendo<br />

é muito bom. — Sugo o seu seio, tocando-o com a palma da mão. Se eu não parar e sair daqui, vou<br />

me <strong>de</strong>sonrar. E a ela também. — Realmente, realmente bom — ela sussurra.<br />

Olho sem seus olhos. Quando não posso aguentar mais, afasto os lábios do seio e pinto-o,<br />

enquanto sopro o pico túrgido para secá-lo. Seus <strong>de</strong>dos dos pés <strong>de</strong>scalços se remexem contra o chão.<br />

Passo por trás <strong>de</strong>la, que se vira e coloca o a<strong>de</strong>sivo sobre o mamilo e pinto sobre eles. Fico feliz<br />

em saber que ela não vai sair por aí com os mamilos livres. Não estou feliz com o fato <strong>de</strong> ela sair<br />

pintada — já que é possível ver a curva dos seus seios —, mas parece que ela está usando uma roupa<br />

<strong>de</strong> látex.<br />

— Acho que terminamos — ela sussurra, se vira para o espelho e levanta os braços. Então,<br />

Friday gira e observa a pintura. — Você fez um trabalho realmente bom.<br />

Estou curioso para <strong>de</strong>scobrir o trabalho que ela criou e para saber no que todo aquele roxo e<br />

laranja vão se transformar.<br />

— O que é isso? — pergunto.<br />

Ela sorri.<br />

— Não vou contar.<br />

Ela caminha até a mim, fica na ponta dos pés e faz um biquinho. Me inclino para baixo e a <strong>de</strong>ixo<br />

me beijar, amando o fato <strong>de</strong> ela ter tomado a iniciativa. Meu coração acelera.<br />

— Obrigada — ela fala.<br />

— Por nada.


— Preciso fazer mais algumas coisas. — Ela olha ao redor do quarto como se não tivesse certeza<br />

do que fazer primeiro.<br />

— Vou esperar por você na sala <strong>de</strong> estar. — Abro a porta e saio o mais rápido que posso.<br />

Tropeço em Sam. — Que porra é essa? — pergunto. — Há quanto tempo você está aqui?<br />

Ele ergue as mãos.<br />

— Acabei <strong>de</strong> entrar. Juro.<br />

— Tem certeza?<br />

— Absoluta. — Ele olha para a porta <strong>de</strong> Friday. — O que você estava fazendo? Precisa <strong>de</strong> um<br />

preservativo?<br />

Eu o empurro.<br />

— Não, não preciso <strong>de</strong> preservativo.<br />

Ele olha para o meu colo.<br />

— Tem certeza, porque... — Ele <strong>de</strong>ixa as palavras morrerem.<br />

— Não fale sobre ela assim.<br />

Ele sorri.<br />

— Bom.<br />

— O que é bom?<br />

— Está sendo protetor. — Ele acena com a cabeça. — Gosto disso.<br />

— Que bom que aprova.<br />

Empurro-o do caminho e ele resmunga, mas não dou importância. Sigo para o banheiro. Tiro a<br />

roupa e coloco o chuveiro na posição mais fria. Vou para <strong>de</strong>baixo do jato e <strong>de</strong>ixo a água cair. Passa<br />

alguns minutos até que meu pau amolece. Minutos até que a água fique <strong>de</strong>sconfortável. Minutos, até<br />

que eu possa tirar a sensação <strong>de</strong>la, seu cheiro e seu gosto da minha cabeça.<br />

Mas não quero que ela se vá. Eu a quero aqui, todos os dias.<br />

Me visto e a encontro me esperando na sala <strong>de</strong> estar.<br />

— Está pronto para irmos? — ela pergunta. Friday está usando uma larga camisa <strong>de</strong> botão e um<br />

short gran<strong>de</strong>. Seu cabelo está solto sobre os ombros e ela os ondulou suavemente. Ela<br />

<strong>de</strong>finitivamente está usando maquiagem, porque não posso ver suas sardas, mas não é o que Friday<br />

usa normalmente. É diferente.<br />

Vamos para o Bounce com pouquíssimo tempo <strong>de</strong> sobra. Vejo que Sam e Pete já estão lá quando<br />

chegamos, eles estão trabalhando esta noite. A banda Fallen from Zero — a que Emily às vezes canta<br />

junto — está no palco e elas estão terminando seu show. Tenho que dizer que elas não são tão boas<br />

quando Emily não está junto.<br />

A banda sai do palco e o proprietário do clube vai até o microfone. Inclino-me, encostando em<br />

uma caixa <strong>de</strong> som e observo. Pessoas pintadas começam a entrar no palco. Alguns estão pintados<br />

para parecer que estão <strong>de</strong> biquíni, outros <strong>de</strong> camisa. Uns são super-heróis, outros personagens <strong>de</strong><br />

livros. Ninguém está pintado como Friday.<br />

Quando chega a vez <strong>de</strong>la, vou até a frente do salão. Ela caminha pelo palco e o público fica em<br />

silêncio. O locutor diz algo sobre a pintura e ela faz um gesto para ele esperar. Ela se senta <strong>de</strong> frente<br />

para a pare<strong>de</strong>, <strong>de</strong> costas para o público. Coloca uma perna para o lado, e dobra a outra em uma<br />

posição engraçada. Em seguida, ela inclina as costas, e seus braços se contorcem. Então, <strong>de</strong> repente,<br />

consigo ver. Ela é uma borboleta. Uma borboleta com uma asa quebrada. <strong>Os</strong> roxos e laranjas são as<br />

asas, e uma está quebrada em um ângulo estranho. Ela mexe suas asas, e é possível ver a arte na


pose. A multidão fica louca.<br />

Friday é incrivelmente talentosa. Ela se levanta e se vira, mas a multidão está gritando para que<br />

ela faça novamente. Merda, até eu quero ver isso <strong>de</strong> novo. Desta vez, saio do meu louco estupor e<br />

tiro fotos <strong>de</strong>la.<br />

Ela ganha, é claro, e eles lhe entregam um cheque <strong>de</strong> cinco mil dólares. Ela olha para mim, sorri<br />

e pula do palco direto nos meus braços. Eu a aperto com força. Ela teve um momento maravilhoso e<br />

olhou para mim no final. Meu coração aperta quase dolorosamente no peito enquanto eu a abraço.<br />

Alguém entrega sua camisa e eu a ajudo a se vestir. Ela está muito sorri<strong>de</strong>nte e juro que ela tira o<br />

meu fôlego. Meu coração está acelerado em meu peito. Não consigo pará-lo e nem quero.<br />

Ela recebe os parabéns e distribui cartões <strong>de</strong> visita para pessoas que querem ser pintadas na<br />

próxima competição.<br />

Só consigo pensar em levá-la para casa, para que ela possa lavar aquilo do corpo. Me pergunto<br />

se ela me <strong>de</strong>ixaria ajudá-la. Há muitos lugares que ela não po<strong>de</strong> alcançar. Mas, na realida<strong>de</strong>, só<br />

quero amá-la. Só espero que ela permita.


F R I D A Y<br />

M<br />

al posso esperar para chegar na casa <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Quero lavar toda essa tinta, empurrá-lo na cama e<br />

montar em cima <strong>de</strong>le. Meu clitóris ficou vibrando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ele me pintou e não estava melhorando.<br />

Ainda bem que estou usando um biquíni preto, ou as pessoas teriam visto o quanto estou molhada.<br />

Passamos por Pete, que está checando as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos frequentadores na porta.<br />

— Droga, perdi? — ele pergunta.<br />

Sam vai para seu lado e pega o celular.<br />

— Não se preocupe, tirei fotos. — Ele balança o celular na frente <strong>de</strong> Pete, que vai pegá-lo, mas<br />

<strong>Paul</strong> segura o aparelho primeiro. Ele faz uma careta e fala algo para ele mesmo enquanto mexe no<br />

telefone. <strong>Paul</strong> sorri e <strong>de</strong>volve o aparelho.<br />

— O que você fez? — Sam pergunta. Ele remexe na galeria <strong>de</strong> fotos. — Seu gran<strong>de</strong> filho da puta<br />

—reclama. — Você excluiu as minhas fotos!<br />

<strong>Paul</strong> continua sorrindo e pega a minha mão.<br />

— Está pronta para ir para casa? ergunta. Seus olhos azuis estão brilhando, e ele pisca para mim.<br />

— Tenho um problema e preciso da sua ajuda — ele acrescenta baixinho para que só eu possa ouvir.<br />

Meu coração acelera. Concordo com a cabeça e seus olhos ar<strong>de</strong>m.<br />

Ele puxa a minha mão e não diz uma palavra durante a caminhada <strong>de</strong> volta para casa. Olho para<br />

ele algumas vezes, mas <strong>Paul</strong> continua andando com a mandíbula retesada. De vez em quando, vejo-o<br />

estremecer <strong>de</strong> leve.<br />

— Você não está com raiva <strong>de</strong> mim, está? — pergunto.<br />

Ele olha para mim, assustado.<br />

— Por que eu estaria?<br />

— Você não está conversando e está apertando a mandíbula.<br />

Ele olha para mim por um segundo.<br />

— Tenho uma razão para não falar com você —diz calmamente.<br />

Paro <strong>de</strong> andar.<br />

— Bem, o que é?<br />

Ele olha para mim.<br />

— Cada pensamento que tenho agora é sobre o quanto quero transar com você. Tudo o que posso<br />

pensar é em tirar essa tinta do seu corpo para beijá-lo por inteiro até que eu possa provar seu<br />

piercing íntimo.<br />

Meu clitóris vibra mais do que nunca.


— <strong>Paul</strong> — sussurro.<br />

— E quero brincar bastante tempo com seus mamilos. — Ele passa o polegar sobre meu seio, ali<br />

mesmo, no meio da rua lotada, fazendo com que meu estômago quase caia em uma poça aos meus<br />

pés.<br />

— E então? — pergunto.<br />

— Vou gozar nas calças se você me fizer continuar falando sobre isso. — Ele me puxa contra si e<br />

me abraça, rindo. Sinto-o pressionar um beijo em minha testa. Quero jogá-la por cima do ombro, mas<br />

você está grávida. — Ele me afasta um pouco. — Espere! — grita. — Você já po<strong>de</strong> gozar? — Ele me<br />

encara.<br />

Eu rio.<br />

— Não sei — respondo. Mordisco a unha e sorrio para ele. — Depen<strong>de</strong> do quanto você for bom<br />

em me fazer chegar lá.<br />

Ele ri e me puxa pela mão.<br />

— Vou te fazer chegar lá.<br />

Eu rio e <strong>de</strong>ixo que ele me arraste. Quando chegamos ao prédio, ele segura a porta para mim e dá<br />

um tapa na minha bunda <strong>de</strong>pois que passo por ele. Olho em sua direção e começo a correr pelas<br />

escadas. Acho que ele vai me ultrapassar, e ele consegue, mas só na hora <strong>de</strong> abrir a próxima porta<br />

para mim. Então, vamos para o apartamento e paramos quando alguém caminha pela cozinha.<br />

— Em? — ele chama. Olhamos ao redor e vemos Logan sentado no sofá com o bebê em um cesto<br />

a seus pés. — Está tudo bem?<br />

Emily olha para nós dois.<br />

— Pensamos em vir para uma visita — diz ela.<br />

Engulo o gemido.<br />

— Uma visita — <strong>Paul</strong> repete.<br />

Bato em seu ombro.<br />

— Eles vieram nos visitar. Você não está feliz?<br />

— Porra, não, não estou... — ele começa, mas bato em sua barriga e ele geme alto.<br />

— Estamos muito felizes por vocês estarem aqui — falo, tentando parecer animada. Mas o que<br />

estou sentindo é completamente o oposto. Sinto-me para baixo, miserável, como se jamais fosse<br />

voltar a gozar na vida.<br />

— Vocês não <strong>de</strong>veriam estar em casa para que o bebê pu<strong>de</strong>sse dormir ou algo assim? — <strong>Paul</strong><br />

pergunta. Ele vai até o sofá, passa por Logan e coloca uma almofada no colo.<br />

— Ela acorda a cada duas horas e po<strong>de</strong> dormir em qualquer lugar — Logan respon<strong>de</strong>. Ele olha<br />

na direção da almofada enfiada no colo <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> e arqueia a sobrancelha. Sorri. — Será que<br />

interrompemos alguma coisa?<br />

— Não — respondo.<br />

— Sim — diz <strong>Paul</strong> ao mesmo tempo.<br />

Logan sorri e pega um pote <strong>de</strong> castanhas sobre a mesa. Ele coloca os pés para cima.<br />

— Então, como foi o concurso? — pergunta, mal conseguindo mastigar por causa do sorriso<br />

enorme.<br />

— Eu ganhei! — grito, com os braços para cima.<br />

Logan e Emily batem palmas, mas isso assusta a bebê, que grita.<br />

— Oh, oh — diz Logan. — Ela está acordada.


— O que significa que vai querer comer — diz Emily.<br />

Logan a pega no colo, mas seu rosto fica vermelho e ela continua gritando.<br />

— Definitivamente ela está com fome — Logan fala, entregando a filha para Emily.<br />

Em esten<strong>de</strong> a mão para pegar a menina e se vira para mim.<br />

— Quer ir até seu quarto para que eu possa alimentá-la e a gente possa conversar? Ainda não<br />

consigo me acostumar com essa coisa <strong>de</strong> colocar os seios para fora em público.<br />

Olho para <strong>Paul</strong>, que ergue as mãos e passa a palma pelo rosto, em sinal <strong>de</strong> frustração. Logan ri.<br />

— Na verda<strong>de</strong> — falo. —, preciso tirar essa tinta. Po<strong>de</strong>mos conversar no banheiro?<br />

Ela balança a cabeça, parecendo aliviado por não ter que alimentar a filha na sala <strong>de</strong> estar. Ela<br />

me dá um minuto para entrar no banho e me <strong>de</strong>spir. Então, ela bate.<br />

— Está <strong>de</strong>cente? — pergunta.<br />

— Estou em baixo das bolhas — respondo. Puxo a cortina <strong>de</strong> modo que apenas minha cabeça<br />

fique exposta. — Bolhas que estão ficando escuras rapidamente.<br />

Ela enfia a cabeça para <strong>de</strong>ntro.<br />

— Isso é meio nojento — ela fala.<br />

Passo a esponja pelo corpo, esvazio a banheira e a encho novamente. Este vai ser um processo <strong>de</strong><br />

várias etapas. É muita tinta.<br />

Emily fecha a tampa do vaso sanitário e se senta. Em seguida, <strong>de</strong>scobre o seio e a pequena se<br />

agarra a ele com um ruído e um suspiro.<br />

— Deus, seus seios estão enormes! — falo. E estão mesmo. Gigantes. Como um verda<strong>de</strong>iro<br />

melão, mas com um bebê junto.<br />

Ela ri.<br />

— Eu sei —respon<strong>de</strong>. — Estão muito gran<strong>de</strong>s. Mas Logan gosta. — Ela sorri. — Ele continua<br />

querendo brincar com eles. — Em faz uma careta. — Mas dói. Acho que tenho leite suficiente para<br />

alimentar um pequeno país.<br />

Eu concordo; ela provavelmente po<strong>de</strong>ria começar sua própria fazenda <strong>de</strong> gado leiteiro, mas tenho<br />

medo <strong>de</strong> dizer isso.<br />

— Então, como a gravi<strong>de</strong>z está indo? ergunta. Kit suga seu peito avidamente, e me sinto amolecer<br />

por <strong>de</strong>ntro ao ver como elas parecem confortáveis e seguras juntas.<br />

— Ainda acordo me sentindo mal, mas não é tão ruim — admito. — Posso lidar com isso.<br />

— Você se arrepen<strong>de</strong>u, agora que as coisas estão andando com <strong>Paul</strong>?<br />

— Não. — Nem por um minuto. Garrett e Cody merecem uma criança, e estou feliz em ajudá-los.<br />

— É algo que torna as coisas diferentes, mas não é ruim.<br />

Emily ri.<br />

— Fiquei com um tesão louco quando engravi<strong>de</strong>i.<br />

— Você e Logan sempre foram como coelhos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início.<br />

— Não — ela protesta. — Ele não quis fazer sexo comigo até que eu lhe dissesse meu<br />

verda<strong>de</strong>iro nome. Levou semanas.<br />

— Você sabe o que quero dizer. — Reviro os olhos.<br />

A tinta está saindo, então, troco a água novamente. Espero que <strong>Paul</strong> não precise <strong>de</strong> um banho<br />

também, porque não vai sobrar uma gota <strong>de</strong> água quente.<br />

— Por falar em <strong>Paul</strong>... — Ela sorri. — Conte-me tudo.<br />

— Não há o que contar. Não fizemos nada ainda.


— Oh. — Ela parece <strong>de</strong>sapontada e aquilo me faz rir.<br />

— Ele pintou meus seios hoje. Acho que é um cara que curte peitos. — Estreito o olhar para ela.<br />

— Então, mantenha essa comissão <strong>de</strong> frente gigantesca longe do rosto <strong>de</strong>le.<br />

— Eu po<strong>de</strong>ria ser a última mulher no planeta que ele não iria olhar para minha comissão <strong>de</strong><br />

frente gigante — ela fala. — Eu o conheço muito bem. É uma coisa <strong>de</strong> irmão. — Ela encolhe os<br />

ombros. — Nós interrompemos vocês?<br />

— Isto po<strong>de</strong> esperar. De toda forma, eu tinha que tirar a tinta. Vocês não estão atrasando o sexo.<br />

Apenas as nossas preliminares. — Eu ri.<br />

Seu rosto cora, mas ela ri também.<br />

— Bem, boa sorte com isso. — Ela afasta Kit do seio esquerdo e a passa para o direito. O bebê<br />

alcança o bico e Emily se recosta e suspira. — Logan está me <strong>de</strong>sgastando — ela admite<br />

calmamente.<br />

— O que você quer dizer? — Levanto e começo a me ensaboar, agora que a maior parte da tinta<br />

saiu.<br />

— Ele está se esforçando para tornar as coisas mais fáceis para mim, mas eu queria que ele<br />

saísse e fosse trabalhar, me <strong>de</strong>ixando lidar com ela. Ele a carrega, se levanta a cada mamada e fica<br />

com a gente. Troca todas as fraldas.<br />

Coloco a cabeça para fora da cortina.<br />

— Isso não é necessariamente uma coisa ruim.<br />

— É como se ele achasse que não posso fazer isso. Sou capaz. Sou forte. Não vou quebrar. —<br />

Uma lágrima escorre por seu rosto. — Droga. — Ela a enxuga. — Não consigo parar <strong>de</strong> chorar<br />

ultimamente.<br />

— Pega a toalha para mim? — peço. Envolvo-a ao redor do meu corpo e saio. — Acho que você<br />

tem algo bom acontecendo — falo. — Mas você está cansada, seus hormônios estão te<br />

enlouquecendo e seus peitos estão enormes. — Olho para os peitos <strong>de</strong>la, balanço a cabeça e ela ri.<br />

Não posso fazer muito por ela, mas posso diverti-la. — Vai ficar mais fácil.<br />

— Sinto falta da nossa intimida<strong>de</strong> — ela admite. — É como se ele estivesse com medo <strong>de</strong> estar<br />

comigo intimamente, pois não quer me acordar quando eu finalmente consigo dormir.<br />

— Você disse isso a ele?<br />

— Não quero reclamar. Ele está se esforçando tanto.<br />

— Vou cuidar <strong>de</strong>la — falo. Bato levemente em seu ombro e coloco um roupão. — Vem comigo<br />

enquanto eu me visto. Vou te dar algumas sugestões.<br />

— Não — ela protesta, mas se levanta e me segue. — Vamos falar sobre sexo por um minuto. —<br />

Ela aponta para mim. — Seu. Não meu.<br />

Sorrio.<br />

— Ok. — Ela me segue para o quarto e eu fecho a porta atrás <strong>de</strong> nós.


P A U L<br />

L<br />

ogan é um gran<strong>de</strong> filho da puta. Ele olha para a almofada que coloquei em meu colo e sorri.<br />

— Quando você vai para casa? — pergunto.<br />

Ele joga uma castanha na boca e fala com a boca cheia.<br />

— Nunca. — Seu sorriso é ainda maior.<br />

Jogo uma almofada nele.<br />

— Foda-se, seu babaca — xingo. Balanço o polegar na direção do banheiro. — Em está bem?<br />

Ela parece estressada.<br />

Ele vira a cabeça e olha nessa direção.<br />

— Parece? Vou buscá-la. — Ele se levanta e eu viro a luz do abajur na direção <strong>de</strong>le para chamar<br />

sua atenção.<br />

— Volte — falo. — Sente-se.<br />

Ele se senta e eu tiro a almofada do colo, pois ele <strong>de</strong>finitivamente murchou meu pau duro. Tenho<br />

a sensação <strong>de</strong> que Friday po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-lo <strong>de</strong> pé novamente. Provavelmente só me olhando.<br />

— Qual o problema? — pergunto.<br />

Seu peito se enche <strong>de</strong> ar enquanto ele suspira.<br />

— Tento ajudá-la. Tento fazer tudo por ela, mas ela não parece gostar. Não sei o que estou<br />

fazendo <strong>de</strong> errado.<br />

Espero que ele continue.<br />

— E seus peitos são como... — Ele faz um movimento como se estivesse apertando o ar,<br />

indicando que estão enormes. — Quero tocá-los, mas ela fala que dói, então, tento dormir do outro<br />

lado da cama. Sinto sauda<strong>de</strong>s. Quero jogar minha perna sobre seu traseiro nu e dormir enrolado nela.<br />

— Seus peitos provavelmente <strong>de</strong>vem estar doloridos. — Se bem me lembro <strong>de</strong> quando Kelly<br />

teve Hayley, ela dizia o mesmo. Mas não moramos juntos, então não estive tão envolvido nisso<br />

quanto Logan está. — Esfregue seus pés ou algo assim. Ah, escolha outra coisa nela para esfregar.<br />

Seu rosto se ilumina.<br />

— Não é isso — falo com uma risada.<br />

Ele balança a mão no ar como se estivesse me <strong>de</strong>scartando.<br />

— Não é disso que sinto falta. Posso ficar sem isso.<br />

Solto um grunhido.<br />

— Não me leve a mal. Gosto disso tanto quanto qualquer cara, mas não preciso ter. É <strong>de</strong>la que<br />

preciso. — Ele olha para o banheiro, e vemos Friday sair usando um roupão. Quero ir atrás, mas


Emily a segue e elas fecham a porta. Droga. Meu pau está sendo tolhido pela melhor amiga e meu<br />

irmão.<br />

— Você é um idiota — falo para ele, que ri e aponta para o quarto <strong>de</strong> Friday.<br />

— Como estão indo? Preciso reabastecer a gaveta <strong>de</strong> preservativos?<br />

— O que você acha que vou fazer? Deixá-la mais grávida?<br />

Ele ri, mas é sério.<br />

— Não fizemos... ainda — falo em voz baixa. Não posso acreditar que estou discutindo isso com<br />

meu irmão mais novo.<br />

— Mas que porra você está esperando? — ele pergunta e se inclina para frente. Tenho toda a sua<br />

atenção.<br />

— Estou esperando que ela se comprometa — admito.<br />

Ele se recosta no sofá.<br />

— Oh.<br />

— Ainda não tenho certeza <strong>de</strong> que ela ficará aqui para sempre. — Dou <strong>de</strong> ombros. — É isso.<br />

— Acho que você está certo.<br />

Ergo os olhos. Não esperava que ele concordasse comigo, mas sim que me tranquilizasse.<br />

— O que você quer dizer?<br />

— Quais são suas intenções? — ele pergunta.<br />

— Quero colocar um anel em seu <strong>de</strong>do e quero meu bebê crescendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. — Droga, acho<br />

que o <strong>de</strong>ixei chocado. Talvez precise erguer Logan do chão. Ele engasga com uma castanha.<br />

Ele limpa a garganta e diz:<br />

— Então você precisa comprar um anel e ficar <strong>de</strong> joelhos.<br />

— É cedo <strong>de</strong>mais. — Olho para o quarto para ter certeza <strong>de</strong> que a porta está fechada.<br />

— Se é cedo <strong>de</strong>mais para um anel, é cedo <strong>de</strong>mais para transar com ela.<br />

— Diz o cara que engravidou a namorada.<br />

— Mas nós não nos casamos porque estávamos com preguiça. Não quisemos nos casar. Agora, se<br />

Friday não quer se casar, então você precisa reavaliar.<br />

Logan é sucinto com seus pensamentos. No fundo, fico feliz com a presença <strong>de</strong>le aqui, porque eu<br />

estava prestes a transar com Friday a noite inteira. E <strong>de</strong>ixá-la transar comigo. E então, faria tudo<br />

outra vez.<br />

Aposto que você queria que eu tivesse ficado em casa — ele fala.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Estou realmente feliz por você estar aqui. Ah! — Me interrompo e tiro o celular do bolso. —<br />

Se eu te mostrar uma foto, você po<strong>de</strong> olhar para a arte nele e não para o corpo?<br />

Ele franze a testa.<br />

— Corpo que é <strong>de</strong>...?<br />

— Friday.<br />

— Eca... como eu po<strong>de</strong>ria olhar para ela com intenções lascivas? — Ele finge vomitar e<br />

estremece dramaticamente.<br />

— Quero uma tatuagem parecida com esta borboleta. — Mostro a imagem e ele sorri.<br />

— Porra, é bonita — ele fala e continua a sorrir. — On<strong>de</strong>?<br />

— Aqui no peito. — Esfrego o lugar, em cima do coração. Não há qualquer <strong>de</strong>senho ali.<br />

Ele olha para mim como se eu tivesse ficado louco.


— O lugar que você tem reservado?<br />

— Sim. — Coço a cabeça e <strong>de</strong>sejo que ele pare <strong>de</strong> bancar o curioso.<br />

— Certo. Vou rascunhar hoje à noite. — Ele envia a imagem para seu telefone.<br />

— Po<strong>de</strong> tatuar amanhã?<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Tem certeza, não é? — Sorri.<br />

Um sorriso surge no canto dos meus lábios.<br />

— Sim.<br />

A porta se abre e Friday sai do seu quarto. Ela está usando um short <strong>de</strong> dormir azul bebê e uma<br />

camiseta combinando. Está tão bonitinha que quero puxá-la para o meu colo. E então, quero tirar<br />

<strong>de</strong>spi-la e chupar seus seios até que se contorça e me implore para transarmos.<br />

Friday olha para Logan e fala com ele algo por sinais enquanto Emily coloca Kit em sua<br />

ca<strong>de</strong>irinha. Não consigo pegar a conversa toda, mas acho que ela disse algo sobre carinho. Ele<br />

balança a cabeça e ela discute com ele em linguagem <strong>de</strong> sinais. De repente, ele sorri e sinaliza<br />

obrigado.<br />

“Por nada”, ela respon<strong>de</strong>.<br />

Ele a abraça e pega a ca<strong>de</strong>irinha.<br />

— Obrigado por nos <strong>de</strong>ixar sair — diz ele.<br />

— Voltem quando quiserem — respondo. Minha voz é inexpressiva, mas Logan não po<strong>de</strong> ouvir a<br />

inflexão, então me certifico <strong>de</strong> fazer uma cara triste.<br />

Ele ri e Emily abraça Friday.<br />

A porta se fecha atrás <strong>de</strong>les.<br />

— O que você disse a ele? — pergunto a Friday.<br />

— Disse para ele se <strong>de</strong>spir, passar a perna sobre a bunda <strong>de</strong>la e a abraçar como ele costumava<br />

fazer, pois ela sente falta disso.<br />

— Não acredito — murmuro. — Ele falou exatamente isso para mim.<br />

Ela encolhe os ombros.<br />

— Eles estão tão ocupados e não estão conversando um com o outro. — Ela vem até mim, fica na<br />

ponta dos pés e coloca os braços ao redor do meu pescoço.<br />

— Está pronto para ir para cama?<br />

Eu a beijo e repenso minha <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> esperar. É difícil com ela pressionada contra mim. A<br />

afasto um pouco.<br />

— Eu... hum... preciso realmente ir para a cama. — Coço a cabeça.<br />

Ela dá um passo para trás, seu rosto parecendo <strong>de</strong>cepcionado.<br />

— Oh. Tudo bem.<br />

— Eu vou... hum... vejo você amanhã.<br />

Ela não diz nada e vai para seu quarto, batendo a porta. Fico ali, do lado <strong>de</strong> fora por muito mais<br />

tempo do que <strong>de</strong>veria. Quero entrar. Quero abrir a porta. Assim que começo a me afastar, ouço um<br />

barulho no quarto. É uma vibração baixa e pressiono o ouvido na porta.<br />

De repente, caio em mim. Ela está usando a porra <strong>de</strong> um vibrador. Ando <strong>de</strong> um lado para o outro<br />

pelo corredor, batendo na cabeça com a palma da mão. Estúpido, estúpido, filho da puta estúpido.<br />

O barulho continua por cerca <strong>de</strong> dois minutos, e eu não aguento mais.<br />

Abro a porta e vou para o lado da cama.


— Chega para lá — falo.<br />

O vibrador <strong>de</strong>sliga.<br />

— Vá se fo<strong>de</strong>r — ela resmunga.<br />

— Chega pra lá agora — falo novamente.<br />

— Vá se fo<strong>de</strong>r.<br />

— Foda-se você. Agora, chega pra lá.<br />

Ela não se mexe, então vou até ela e a empurro. Fico ao seu lado e alcanço sua mão, encontrando<br />

um vibrador quente. Está quente porque ela o estava usando. E tocando-a. Levo-o aos meus lábios e<br />

o lambo todo. Seu gosto é tão bom quanto imaginei que seria. Como especiarias, calor e Friday.<br />

Empurro meu corpo entre suas coxas e <strong>de</strong>slizo para baixo. Ela protesta e agarra meu cabelo,<br />

tentando me afastar.<br />

— Pare com isso — falo. Seguro suas mãos e entrelaço meus <strong>de</strong>dos nos seus, apoiando-a em sua<br />

barriga. Ela po<strong>de</strong>ria facilmente se libertar. Mas não o faz.<br />

Coloco o vibrador em sua boceta e continuo pressionando-o até encontrar sua fenda<br />

escorregadia. Deslizo-o para <strong>de</strong>ntro para ume<strong>de</strong>cê-lo. Em seguida, movimento-o em seu clitóris. Ela<br />

para <strong>de</strong> se mexer e um gemido escapa da sua garganta quando o encontro.<br />

— Bem ali — ela murmura. Eu ligo o aparelho e ela geme.<br />

— Fique quieta — falo, mas ela arqueia os quadris e pressiona contra meu toque. Ela se remexe<br />

contra o vibrador e suas pernas tremem levemente.<br />

— Você não me quer — ela fala —, por que está fazendo isso?<br />

— Quero você, só não posso te ter ainda. Antes, quero me casar com você, assim você não po<strong>de</strong><br />

fugir <strong>de</strong> mim.<br />

Ela levanta a cabeça para me olhar. Posso ver seu rosto pelo reflexo da janela.<br />

— De jeito nenhum.<br />

— Com certeza. — Pressiono o vibrador contra ela, encontrando um ritmo, e ela começa a<br />

tremer. — Eu te amo, Friday. Me <strong>de</strong>ixa te amar.<br />

Não lhe dou tempo para pensar. Não quero que ela pense. Não a esse respeito. Ela grita quando<br />

goza e seu corpo treme e balança. Deixo suas mãos livres e ela segura meus cabelos, puxando<br />

gentilmente quando o orgasmo provoca um terremoto em seu corpo. Afasto o vibrador quando seu<br />

corpo se acalma.<br />

— Essa foi a pior proposta <strong>de</strong> todas — ela fala quando, finalmente, po<strong>de</strong> respirar.<br />

— Eu sei. Vou fazê-la novamente amanhã. — Jogo as cobertas sobre nós e me aconchego a ela.<br />

Ela me empurra.<br />

— Cai fora da minha cama, <strong>Paul</strong>.<br />

— De jeito nenhum. Faço você gozar, durmo na sua cama.<br />

— Saia, <strong>Paul</strong> — ela fala. Mas não há aborrecimento na sua voz. Nem um pouco.<br />

— Vou ficar. — Eu a puxo contra mim. Ela está usando a blusa do pijama e nada na parte <strong>de</strong><br />

baixo, então, puxo a blusa sobre sua cabeça. Ela fica nua em meus braços e é bom pra caralho. Me<br />

aconchego mais, <strong>de</strong> modo que minhas coxas ficam coladas ao seu traseiro. Seguro seu seio, mas sinto<br />

que não estou perto o suficiente. Friday <strong>de</strong>ita a cabeça em meu braço. Acaricio seu cabelo. — Deixeme<br />

dormir com você.<br />

— Tá bom — ela fala calmamente. Depois boceja e sinto seu hálito quente na parte interna do<br />

meu cotovelo. Em poucos segundos, a mulher que amo está dormindo em meus braços. E meu pau


está tão duro que provavelmente nunca mais vai amolecer.


F R I D A Y<br />

A<br />

cor<strong>de</strong>i suando, presa contra o corpo <strong>de</strong> um homem. Não estive presa a alguém do sexo oposto há<br />

anos e me sinto meio estranha. Então, a lembrança do dia anterior me vem à mente.<br />

Ele pintou meu corpo nu.<br />

Tocou meus mamilos com intimida<strong>de</strong>.<br />

Apoiou meu projeto <strong>de</strong> arte com olhos lascivos.<br />

Me <strong>de</strong>ixou pular em seus braços e praticamente me prometeu que ia fazer coisas incríveis para<br />

mim, na noite passada.<br />

Não me beijou <strong>de</strong> volta quando passei meus braços em volta do seu pescoço.<br />

Disse que não queria dormir comigo.<br />

Foi para a cama.<br />

Mas ele não foi para a cama.<br />

Ouviu atrás da minha porta e escutou o som do meu vibrador.<br />

Então, ele o tomou <strong>de</strong> mim e me fez gozar.<br />

Disse que me amava.<br />

Em seguida, ele dormiu.<br />

Na minha cama.<br />

Aconchegado a mim.<br />

Envolvido ao meu redor como se quisesse ficar comigo pelo resto da sua vida.<br />

Ele mencionou casamento?<br />

Ah, caramba. Ele mencionou casamento.<br />

Me viro <strong>de</strong>vagar, tentando não acordá-lo. Ele está dormindo <strong>de</strong> lado, virado <strong>de</strong> frente para mim,<br />

mas seus cílios loiros vibram. Congelo, meu nariz a dois meros centímetros <strong>de</strong>le e espero que ele<br />

volte a dormir. Quero olhar para ele. Quero estudar seu nariz torto <strong>de</strong> perto. Acho que ele entortou o<br />

nariz quando o quebrou, brigando com alguém no estúdio. Uns caras disseram algo grosseiro a Pete,<br />

e <strong>Paul</strong> foi atrás <strong>de</strong>les. Ele não. Eles. Ele não pensou duas vezes. Ele protege sua família a qualquer<br />

custo.<br />

Sua barba por fazer aparece em suas bochechas. Me pergunto se ele faz a barba todos os dias.<br />

Está com o rosto sempre tão liso. Ele tem um piercing no lábio e outro na sobrancelha. Olho para<br />

baixo e observo as barras nos mamilos. Cada uma tem um pingente. Um R e um H. Seria <strong>Reed</strong> e<br />

Hayley? Não sei e não o conheço bem o suficiente para perguntar.<br />

Sim, eu o conheço há quatro anos, mas me mantive afastada durante boa parte <strong>de</strong>sse período, por


que eu não fazia parte da sua família. Era apenas uma empregada. Não podia me sentir muito<br />

confortável com ele porque, quando me sinto assim, as pessoas vão embora. E isso me <strong>de</strong>ixa para<br />

baixo. Sempre.<br />

Levanto o joelho e passo contra a ereção <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Uau. Ele estava duro quando fui dormir, na<br />

noite passada. Sei que estava, porque pu<strong>de</strong> sentir. Ele está usando apenas uma boxer agora. Deve ter<br />

se levantado durante a noite para tirar o jeans e a camisa porque me lembro da sensação das suas<br />

roupas contra minhas coxas quando ele <strong>de</strong>itou.<br />

Ainda tentando não acordá-lo, puxo o elástico da cueca para longe do seu estômago e olho para<br />

baixo.<br />

Droga.<br />

Esse homem é muito maior do que imaginei. Na cabeça, tem um piercing com uma joia no centro.<br />

É um piercing prince Albert. Isso me faz pensar quem o colocou, porque não fui eu. Não gosto da<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que qualquer outra pessoa tenha ficado íntima do seu pau. Espero que um cara tenha feito<br />

isso. Mas duvido muito.<br />

Seus quadris arqueiam em direção a lateral do meu corpo. Volto a olhar seu rosto e vejo que ele<br />

ainda está dormindo.<br />

Envolvo a mão ao redor <strong>de</strong>le e o aperto suavemente. Seu pau pulsa como se gostasse <strong>de</strong> ser<br />

acariciado. A ponta roxa me chama, então me abaixo e toco a língua na ponta com o liquido préejaculatório<br />

que está na fenda. Me afasto. Seu gosto é salgado e limpo.<br />

Quero mais.<br />

Me abaixo e agarro a base do pau, coloco a cabeça em minha boca e fecho os lábios ao seu<br />

redor. Sinto um gosto salgado na parte <strong>de</strong> trás da língua, enquanto ele pulsa <strong>de</strong>licadamente. Um<br />

gemido escapa dos seus lábios e, quando olho para cima, o vejo <strong>de</strong> boca aberta e olhos fechados.<br />

Eu o tomo um pouco mais e ele se remexe. Seus olhos se abrem, ele ergue a cabeça e olha para<br />

mim, mas fecho os olhos e o tomo mais profundamente.<br />

— Friday — ele fala suavemente, a voz rouca <strong>de</strong> sono. —, pare.<br />

Balanço a cabeça, e seu pau se move para trás e para frente na minha boca. Ele geme e enfia os<br />

<strong>de</strong>dos em meu cabelo. Chupo com mais força. Seu pau está tão duro que mal posso soltá-lo. Levo-o<br />

mais profundamente, movendo minhas mãos até a base. É quase impossível chupá-lo por inteiro.<br />

— Friday, por favor, pare — ele fala. Sua voz <strong>de</strong>monstra que ele parece estar lutando consigo<br />

mesmo. Olho para cima e <strong>de</strong>scubro que ele está me observando. — Se você não parar, vou gozar na<br />

sua boca. — Ele puxa meu cabelo e eu me encolho, mas não paro. — Friday — ele fala um pouco<br />

mais alto. — Pare.<br />

Balanço a cabeça novamente e prendo a boca ao redor do seu pau. Não vou soltá-lo. Não me<br />

importo se ele se levantar e se mover. Vou com ele.<br />

Mas ele não está indo embora. Ele fica e olha para mim. Seus olhos azuis estão intensos e tão<br />

gostosos que não quero que ele nunca mais <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> me olhar.<br />

— Por favor, pare — ele sussurra.<br />

Digo “não”, mas é quase um murmúrio, porque não quero parar <strong>de</strong> sugá-lo. Posso sentir mais do<br />

seu gosto agora e sua essência faz cócegas salgadas em minha língua.<br />

— Tome-o, então — ele finalmente rosna. Ele mantém a cabeça no lugar, os <strong>de</strong>dos entrelaçados<br />

em meus cabelos, empurrando o pau em minha boca. Ele geme, o pau pulsa e ele goza tanto que<br />

escorre para fora, pelos cantos da minha boca, porque não consigo engolir rápido o suficiente. —


Tome-o — ele fala <strong>de</strong> novo e empurra mais até que termina. — Tome tudo — ele sussurra. E eu<br />

obe<strong>de</strong>ço. Chupo seu pau, <strong>de</strong>ixando-o limpo e ele finalmente se afasta. — Chega — ele fala em voz<br />

baixa. — Muito sensível.<br />

Eu rio. Ele limpa os cantos da minha boca e me puxa por sobre seu peito. Me acomodo <strong>de</strong> forma<br />

que meu rosto fique sobre o seu coração e ouço a batida do sangue correndo em suas veias. Ele se<br />

acalma e me acaricia, as mãos <strong>de</strong>slizando para cima e para baixo em minhas costas nuas.<br />

— Queria que você não tivesse feito isso — ele finalmente diz.<br />

Me mexo, apoiando o queixo em seu peito.<br />

— Por quê?<br />

— Porque cada vez que eu olhar para essa linda boca, vou vê-la com meu pau <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la e meu<br />

gozo escorrendo pelos cantos. — Ele me dá um tapa na bunda. — Não vou ser capaz <strong>de</strong> tirar você da<br />

cabeça. — Ele fica em silencio por um minuto. — Você não tinha que fazer isso.<br />

— Não faço nada que não queira — eu o lembro. E é verda<strong>de</strong>. Praticamente, só faço o que quero<br />

e quando quero. É uma das vantagens <strong>de</strong> ser solteira e sozinha. Um dos únicos benefícios. — Não me<br />

<strong>de</strong>ixe gozar na sua boca é uma queixa estúpida para você ter, honestamente. — Rio contra seu peito.<br />

Ouço sua risada.<br />

— Faz muito tempo.<br />

— Quanto?<br />

— Meses.<br />

Grunho.<br />

— Como se você não tivesse alguma ação com as mãos.<br />

Ele zomba.<br />

— Homens não fazem isso. — Ele faz uma pausa. — Não menos que uma ou duas vezes ao dia.<br />

— Olho para cima e o vejo sorrindo para mim.<br />

Ele fica em silêncio por um momento.<br />

Então, <strong>de</strong>ixa escapar:<br />

— Isso não muda nada.<br />

— O quê?<br />

— Você preparou uma emboscada, chupando meu pau enquanto eu estava dormindo, mas isso não<br />

diminui o que temos. Ainda vou me casar com você não vou <strong>de</strong>ixar você fugir.<br />

Sento-me.<br />

— Acho que eu não disse sim.<br />

Ele olha para os meus seios e lambe os lábios.<br />

— Você vai.<br />

Balanço a cabeça.<br />

Ele se senta e segura meu rosto.<br />

— Você não quer se casar ou não quer se casar comigo?<br />

— Não... — eu paro. Não sei como dizer o que quero dizer. — Não é você.<br />

Ele empurra as cobertas.<br />

— Ah, não vem com o papo <strong>de</strong> “não é você” — ele zomba, imitando uma voz feminina. — Não é<br />

você, sou eu. Preciso <strong>de</strong> um tempo para mim. Preciso me concentrar em mim. Preciso que você dê o<br />

fora da minha vida. — Sua voz volta ao normal. — Se é assim que você se sente, apenas diga.<br />

— Não coloque palavras na minha boca. — Rolo nua sobre a cama, tentando alcançá-lo, mas ele


já está na porta. Ele a fecha. Apoio a cabeça contra ela.<br />

A porta se abre um minuto <strong>de</strong>pois, e seu braço <strong>de</strong>sliza pela abertura. Ele está segurando uma lata<br />

<strong>de</strong> Ginger Ale e um pacote <strong>de</strong> biscoitos.<br />

— Coma e beba isso logo, assim não vai ficar vomitando.<br />

— Ainda está com raiva <strong>de</strong> mim? — pergunto, quando pego as coisas da sua mão.<br />

— Sim. — A porta se fecha. Sinto a bile subir por minha garganta, então, tomo um gole da<br />

bebida. É assim que me sinto <strong>de</strong> manhã, logo que coloco os pés no chão, mas a bebida realmente me<br />

faz sentir melhor.<br />

Sento-me na beira da cama e recosto, comendo um biscoito e tentando ficar parada por alguns<br />

minutos.<br />

A porta se abre novamente e só ouço sua voz.<br />

— Fico feliz que funcionou. — A porta se fecha com um clique.<br />

Sorrio. Não consigo evitar. Ele está cuidando <strong>de</strong> mim mesmo que esteja com raiva. E isso me<br />

assusta ainda mais do que assustaria se ele tivesse me ignorado e me tratado como qualquer outro<br />

homem no mundo. Como se eu não existisse.


P A U L<br />

M<br />

erda. Merda. Merda. Merda. Não <strong>de</strong>veria tê-la <strong>de</strong>ixado fazer isso. Fiquei <strong>de</strong>itado lá, por uma<br />

hora, observando-a dormir. Ela dorme com a boca fechada e treme, mesmo quando não está frio.<br />

Talvez fosse porque eu estava na cama com ela, mas não tenho certeza. Talvez, ela só fosse sempre<br />

inquieta e impaciente. Isso realmente parece mais com ela.<br />

Fechei os olhos quando ela abriu os <strong>de</strong>la e fingi estar dormindo. Mas podia sentir os olhos <strong>de</strong><br />

Friday em meu peito, enquanto suas mãos estavam me tocando. E quando ela puxou o cós da boxer,<br />

não consegui parar seus <strong>de</strong>dos. Talvez, isso fizesse <strong>de</strong> mim uma pessoa ruim. Ou, talvez, um cara com<br />

muito tesão. Quem sabe, isso significasse que eu estava apaixonado e queria suas mãos em cima <strong>de</strong><br />

mim.<br />

E quando ela colocou me tocou com a boca, não pu<strong>de</strong> impedi-la. Não pu<strong>de</strong> nem mesmo tentar.<br />

Claro, disse para ela parar, mas nunca, nem uma vez, quis que ela parasse mesmo. Não queria. Não<br />

faria isso. Precisava <strong>de</strong>la.<br />

Mas.<br />

Mas.<br />

Mas.<br />

Ser chupado não <strong>de</strong>ve estar no topo da minha lista <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s, porque não vai significar nada<br />

para ela amanhã. Não vai cimentar o sentimento <strong>de</strong>la por mim. Não mesmo. Sei que não vai.<br />

Merda, merda, merda, merda.<br />

Tomo banho, me visto e, rapidamente, antes mesmo que ela saia do quarto, vou para o trabalho.<br />

Logan vai me encontrar lá, às nove, para fazer a tatuagem em meu coração. Sua tatuagem. A borboleta<br />

quebrada. Minha borboleta quebrada. Vou me marcar com algo que representa Friday.<br />

Logan já está lá quando chego e já arrumou sua área <strong>de</strong> trabalho. Ele já está até mesmo usando<br />

luvas e com a pistola preparada. Ele faz um gesto para a ca<strong>de</strong>ira. Tiro a camisa e me sento. Logan<br />

aspa a área muito rapidamente.<br />

— Esqueceu <strong>de</strong> como falar? — pergunto. Ele tem uma <strong>de</strong>sculpa para não usar as mãos, mas po<strong>de</strong><br />

usar a voz. A menos que não queira.<br />

— Estava pensando — ele fala e transfere o estêncil para o meu peito.<br />

— Pensando sobre o quê?<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Quer ver antes <strong>de</strong> começar? — Ele espera, com a pistola pronta sobre meu peito.<br />

Balanço a cabeça e fico quieto. Se Logan o fez, é perfeito. Não tenho dúvidas sobre isso.


Logan observa o que está fazendo atentamente, o que impe<strong>de</strong> que ele olhe em meus lábios e veja<br />

o que estou dizendo. Fico sentado calmamente, com os olhos fechados, até que ele termina. Às vezes,<br />

estar com Logan me faz sentir tranquilo e pacifico. Mas há algo em sua cabeça e quero saber o que é.<br />

Ele está finalizando e afasta a pistola da minha pele quando Friday entra no estúdio. Ela está toda<br />

enfeitada em seu estilo retro e usa salto <strong>de</strong> <strong>de</strong>z centímetros, com tiras que envolvem seus tornozelos.<br />

Posso ver suas curvas, acentuadas por seu vestido curto. Ela usa batom vermelho e <strong>de</strong>lineador, e está<br />

incrivelmente bonita. Não. Ela está gostosa. Incrivelmente.<br />

Logan se prepara para cobrir minha nova tatuagem.<br />

— Quer ver? — ele pergunta, segurando um pedaço <strong>de</strong> plástico.<br />

— Não, po<strong>de</strong> cobrir — respondo.<br />

Ele coloca o filme plástico e o pren<strong>de</strong> com a fita a<strong>de</strong>siva. Visto a camisa. Estou morrendo <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver, mas quero lidar com Friday primeiro.<br />

Entro no escritório e pego um pedaço <strong>de</strong> papel. Nele, <strong>de</strong>senho pequenos corações nas bordas,<br />

porque sei que ela gosta. Então, em letras gran<strong>de</strong>s, escrevo:<br />

PROCURA-SE: ESPOSA<br />

TERMOS NEGOCIÁVEIS<br />

APENAS GATINHAS BONITAS<br />

PRECISA SER ATRAENTE<br />

PREFERENCIALMENTE AQUELAS QUE SE CHAMAM FRIDAY<br />

PRENDO O PAPEL no quadro <strong>de</strong> avisos e vou até meu escritório para esperar que ela o encontre.<br />

Uma batida soa na porta e Logan enfia a cabeça para <strong>de</strong>ntro.<br />

— O que você achou? — ele pergunta.<br />

— Feche a porta — respondo.<br />

Ele fecha e se inclina contra ela. Vou até o espelho, levanto a camisa e tiro o plástico. Ele lê<br />

meus lábios pelo espelho.<br />

— Está incrível — falo. — Você mudou o <strong>de</strong>senho? — Olho para ele que dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Foi necessário.<br />

Não entendo.<br />

— Por quê? — Era ela. Ela é a borboleta.<br />

— Ela não está quebrada — ele fala. — Então, aquilo não representava ela.<br />

Eu zombo.<br />

— Ah, tá.<br />

— É por isso que ela está te afastando, seu idiota — diz ele.<br />

Não entendo, então gesticulo e espero.<br />

— Você a vê como essa pequena coisa quebrada que precisa cuidar. Ela não precisa disso. Ela<br />

po<strong>de</strong> ter se quebrado no passado, mas não está quebrada agora. Ela já juntou os pedaços. Friday<br />

construiu uma vida para si mesma e você está tentando mudar isso. É como se ela estivesse


construindo uma fortaleza ao seu redor, tijolo por tijolo, porra, e você po<strong>de</strong> achar que é uma fortaleza<br />

muito fechada, mas não é. Sabe por quê?<br />

Sento e apenas olho para ele.<br />

— Quer saber por quê? — ele pergunta.<br />

Concordo. Meu coração está na garganta.<br />

— Porque é on<strong>de</strong> ela vive, <strong>Paul</strong>. É o lar <strong>de</strong>la. É seguro e ela se mantém a salvo, além <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>la.<br />

Ela o construiu sozinha. Então, quando você tenta não apenas <strong>de</strong>rrubá-la, mas tirá-la <strong>de</strong> lá, você está<br />

estragando tudo o que ela construiu. É por isso que ela está te rejeitando. Não por que ela não te ame,<br />

acredito que ela ama. Mas porque você precisa que ela mu<strong>de</strong> para você, mas ela é inteligente <strong>de</strong>mais<br />

para fazer isso.<br />

Pigarreio, sem conseguir falar nada.<br />

— Enten<strong>de</strong> agora? — ele pergunta. Quando entrou, ele estava numa posição dura e <strong>de</strong> confronto,<br />

mas, agora, ele está suavizando e olha para mim com aqueles olhos azuis que parecem tanto com os<br />

da nossa mãe.<br />

— Entendo — falo.<br />

Ele caminha em minha direção e me dá um tapa na testa.<br />

— Seu filho da puta idiota — ele fala rindo, me puxa contra seu peito e dá um tapinha em minhas<br />

costas. Ele me afasta e olha em meus olhos.<br />

— Agora, <strong>de</strong>scubra o que precisa fazer.<br />

De repente, a porta se abre e Friday entra. Ela bate o anúncio falso que fiz sobre a mesa, a palma<br />

da mão batendo na ma<strong>de</strong>ira. Eu pulo. Não consigo evitar.<br />

— Que porra é essa? — ela resmunga.<br />

Logan se afasta e sai, fechando a porta.<br />

Sento-me e apoio os cotovelos nos braços da ca<strong>de</strong>ira. Quero pegá-la, mas sei que isso não vai<br />

me levar a lugar algum. Então, pego o papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>baixo da sua mão e o rasgo lentamente em duas<br />

partes. Deixo-o cair no cesto <strong>de</strong> lixo.<br />

Ela dá um passo para trás e coloca a mão sobre o coração.<br />

— Por que você fez isso? — ela sussurra. — Eu gostei.<br />

Meu coração acelera.<br />

— Não era a coisa certa a fazer — respondo.<br />

— Por que não? — ela pergunta.<br />

Passo a mão no meu rosto.<br />

— Vai me <strong>de</strong>ixar entrar em sua fortaleza com você? — <strong>de</strong>ixo escapar.<br />

Ela franze a testa e parece tão bonitinha, que quero beijá-la, mas sei que não posso.<br />

— O quê?<br />

Levanto e vou até ela.<br />

— Essa fortaleza on<strong>de</strong> você mora? Vai me <strong>de</strong>ixar viver lá com você?<br />

— De que porra você está falando? — ela pergunta e coloca as mãos nos quadris, me olhando.<br />

— Não quero <strong>de</strong>rrubar suas pare<strong>de</strong>s — falo. Ela tem uma mecha <strong>de</strong> cabelo presa em seus lábios.<br />

Eu a afasto e a coloco atrás da sua orelha. — Só quero viver <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las com você. Merda. — falo,<br />

erguendo as mãos. — Eu amo a porra das suas pare<strong>de</strong>s. Cada tijolo. Mas, me <strong>de</strong>ixe entrar. Deixe-me<br />

ficar lá com você. Então, se você <strong>de</strong>scobrir que me ama, me convi<strong>de</strong> para ficar. Mas, me <strong>de</strong>ixe<br />

entrar.


Respiro fundo e olho para ela.<br />

— Você bateu a cabeça no caminho para o trabalho?<br />

Rio e esfrego a testa.<br />

— Não, mas Logan me <strong>de</strong>u uma sacudida moral.<br />

— Então, o que diabos está errado com você?<br />

— Estou apaixonado por você, Friday! — falo. — Porra, eu amo você, sua irritante,<br />

<strong>de</strong>sagradável e gostosa, <strong>de</strong> um jeito que não consigo tirá-la da cabeça. — Bato com a mão na testa,<br />

como se estivesse batendo na porta. — Estou apaixonado por você.<br />

Fico <strong>de</strong> joelhos na frente <strong>de</strong>la, que dá um passo para trás. Me aproximo, até que consigo encostar<br />

a testa em sua barriga.<br />

— Estou apaixonado por você. — Olho para ela. — Estou <strong>de</strong> joelhos e não vou te obrigar a casar<br />

ou fazer algo que você não queira. Só me <strong>de</strong>ixe entrar e ser feliz com você.<br />

— Não vai me convencer a casar com você?<br />

Balanço a cabeça, olhando para ela como um cachorrinho.<br />

— Não vai me chantagear, recusando-se a ter intimida<strong>de</strong>, até que eu aceite o que você quer?<br />

— Não.<br />

— Vai parar <strong>de</strong> ser idiota?<br />

Sorrio.<br />

— Não sei nada sobre isso.<br />

— Você tem testículos — ela fala e dá <strong>de</strong> ombros. — Não posso ter tudo, posso? — Ela se<br />

ajoelha na minha frente, mor<strong>de</strong> o lábio e me olha.<br />

— Fala — peço.<br />

Ela me olha.<br />

— Falar o quê?<br />

— Tudo o que você está pensando.<br />

— Estou pensando que meus joelhos estão doendo sobre essa porra <strong>de</strong> chão, e estou querendo<br />

saber quanto tempo você vai me fazer ficar aqui.<br />

Rio. Deus, ela é tão contraditória!<br />

Ela segura meu rosto.<br />

— Hoje à noite, posso fazer o jantar? — ela pergunta.<br />

Meu coração faz aquele tamborilar novamente.<br />

— Como um encontro?<br />

Ela balança a cabeça para trás e para a frente como se estivesse pesando suas palavras.<br />

— Acho que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> encontro.<br />

— Então, sim, eu adoraria. — Então, eu me lembro. — Mas vou estar com Hayley esta noite.<br />

Ela se ilumina.<br />

— Bom. — Ela me dá um beijo rápido e sorri. — Porque isso é o máximo <strong>de</strong> trio que você vai<br />

ter comigo. — Ela aponta para o chão. — Posso levantar agora?<br />

— Levanta. — Fico <strong>de</strong> pé também. Ela se encosta em mim, envolvendo os braços na minha<br />

cintura.<br />

— Então, isso significa que você não quer se casar comigo? — ela pergunta com a voz abafada<br />

contra meu peito. As palavras <strong>de</strong>la tocam a tatuagem que acabei <strong>de</strong> fazer e que ar<strong>de</strong> um pouco. Mas<br />

não a afasto. Não quero que ela veja.


— Não disse isso.<br />

— Você não disse o contrário.<br />

Afasto-a um pouco e olho para seu rosto.<br />

— Você está me dizendo que quer se casar comigo?<br />

Ela balança a cabeça e balança o <strong>de</strong>do para mim.<br />

— Mas quero <strong>de</strong>ixar a porta aberta.<br />

Ah, caramba. Ela está abrindo a porra <strong>de</strong> uma porta e eu nem sequer tive que ameaçá-la,<br />

chantageá-la ou atormentá-la.<br />

— Tudo bem — respondo.<br />

— E, <strong>Paul</strong> — ela fala. —, nunca mais fique <strong>de</strong> joelhos novamente, a menos que você fique assim<br />

para lamber minha boceta, porque essa porra me faz sentir estranha.<br />

Um sorriso aparece em meus lábios, mesmo que eu queira parecer feroz. Finalmente, jogo a<br />

cabeça para trás e rio.<br />

Ela me abraça mais uma vez e volta para sua área <strong>de</strong> trabalho. Vejo Logan se aproximar e bater<br />

na mão <strong>de</strong>la em comemoração.<br />

— Pelo que foi isso? — ela pergunta.<br />

Logan sorri.<br />

— Fui abraçado na noite passada.<br />

— Man<strong>de</strong>i bem — ela fala e bate na mão <strong>de</strong>le novamente. Ele sorri para mim e balança a cabeça.<br />

Ele aponta para ela e fala por sinais comigo.<br />

“Ela é a melhor”.<br />

“Eu vi isso”, Friday fala por sinais <strong>de</strong> forma dramática para ele.<br />

“Quis dizer para você”, ele faz os sinais para mim, com força.


F R I D A Y<br />

G<br />

osto <strong>de</strong> me mover pela cozinha <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Gosto ainda mais quando ele anda atrás <strong>de</strong> mim e envolve<br />

seus braços ao meu redor quando estou <strong>de</strong> pé, no fogão. Ele finge que vai roubar um pedaço <strong>de</strong><br />

frango da panela, mas pressiona os lábios em meu ombro e fica lá, seu hálito quente soprando em<br />

meu pescoço. Eu o alcanço e passo a mão em seu pescoço, puxando-o para que eu possa beijá-lo.<br />

Então, ele coloca um pedaço <strong>de</strong> frango na boca e sorri.<br />

— Isso é muito bom — ele fala, balançando a cabeça.<br />

Reviro os olhos.<br />

— Que bom que você gosta do meu frango.<br />

— Oh, não estava falando sobre o frango — ele fala, vagueando o olhar pelo meu corpo. Meus<br />

mamilos endurecem e meus batimentos cardíacos aceleram.<br />

A porta se abre, e ele não pula para longe <strong>de</strong> mim. Ele está ao meu lado como se pertencesse ali.<br />

Hayley vem correndo até a porta, vestindo um tutu <strong>de</strong> balé, chinelo e meia-calça cor <strong>de</strong> rosa. Ela se<br />

lança nos braços <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> e ele dança com ela pela cozinha. Adoro vê-los assim.<br />

Kelly surge em seguida e parece um pouco atormentada, enquanto sopra o cabelo da frente dos<br />

olhos.<br />

— Estou morrendo <strong>de</strong> pressa — ela fala, jogando a bolsa <strong>de</strong> Hayley no chão. Seu olhar encontra<br />

o meu e ela sorri. — Oh, oi, Friday — ela me cumprimenta. — Não sabia que você estaria aqui.<br />

<strong>Paul</strong> fala com outro pedaço <strong>de</strong> frango na boca.<br />

— Ela mora aqui — ele fala. —, como minha namorada. — Ele pisca para mim. — Em tempo<br />

integral.<br />

Meu rosto fica quente. Uma nuvem passa pelo rosto <strong>de</strong> Kelly, mas ela se vira e sorri para mim<br />

novamente. É nítido que ela não quer, mas disfarça.<br />

— Muito feliz por vocês — ela fala e puxa Hayley lhe dando um abraço. De repente, ela se<br />

levanta e coloca a mão sobre a cabeça <strong>de</strong> Hayley, beliscando-a como se ela fosse um cachorro. —<br />

Alguém teve problemas no balé por soltar uma bomba com f...<br />

<strong>Paul</strong> <strong>de</strong>monstra espanto. Ele olha para o balcão e para o rosto <strong>de</strong> sua filha.<br />

— Você soltou uma bomba com f...<br />

Hayley olha para o rosto <strong>de</strong> Kelly, as sobrancelhas franzidas.<br />

— Não soltei uma bomba. Man<strong>de</strong>i a professora se fu...<br />

Kelly coloca a mão sobre sua boca.<br />

— Não precisa repetir. Nós já enten<strong>de</strong>mos. — Ela olha para <strong>Paul</strong>. — Conversa com ela?


— Vamos falar sobre isso — garante ele.<br />

— Oh, e ela tem uma apresentação na próxima semana! — Ela corre para fora da porta.<br />

— Estarei lá — <strong>Paul</strong> fala. A porta se fecha e ele se senta no chão, em frente a Hayley. — O que<br />

conversamos sobre essa palavra?<br />

Ela abaixa a cabeça e vai para o quarto. Então, volta com uma moeda <strong>de</strong> vinte e cinco centavos.<br />

<strong>Paul</strong> a pega e coloca em um pote sobre a gela<strong>de</strong>ira. Olho para ele confusa.<br />

— Pote do castigo — ele sussurra. — Toda vez que ela fala palavrão, tem que pagar. E se me<br />

pegar falando palavrão, eu tenho que pagar. — Vejo uma nota <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dólares lá. — Ele ri. — Sam<br />

paga antecipadamente.<br />

— Vou à falência — falo. Tenho que tomar cuidado com o que falo perto <strong>de</strong> Hayley, apesar <strong>de</strong> ser<br />

o único momento em que penso sobre minha boca suja.<br />

— Provavelmente. — Ele ri e põe a mesa. Hayley se senta em uma ca<strong>de</strong>ira e ele pega um prato<br />

para ela. Todos nós sentamos e temos uma refeição realmente agradável, enquanto Hayley conta<br />

sobre a sua semana. Observo os dois juntos e meu coração <strong>de</strong>rrete, comovida com o carinho que <strong>Paul</strong><br />

tem com ela.<br />

— Você está bem? — ele pergunta <strong>de</strong>pois que limpo a mesa e coloco os pratos na máquina <strong>de</strong><br />

lavar. Hayley corre para brincar em seu quarto e nós dois vamos para o sofá. Ele se senta ao meu<br />

lado e passa o braço em volta dos meus ombros. É bom e eu me inclino para ele.<br />

— Estou ótima. — Ficamos em silencio por um tempo, então, penso em algo. — Posso te mostrar<br />

algo? — Estremeço por <strong>de</strong>ntro, sem saber o que ele vai pensar sobre isso.<br />

— Você po<strong>de</strong> me mostrar o que quiser <strong>de</strong>pois que Hayley for para a cama — ele sussurra. Meu<br />

estômago se aperta. Ele beija a ponta do meu nariz.<br />

— Não, não é isso — falo. Embora, esteja pensando em mostrar isso a ele um pouco mais tar<strong>de</strong>.<br />

Acho que ele está pronto para ser tomado. — É outra coisa. Está pronto para isso?<br />

Ele balança a cabeça, olhando-me com curiosida<strong>de</strong>.<br />

Vou até meu quarto e pego uma pequena caixa <strong>de</strong> sapatos na prateleira. Minhas mãos tremem<br />

quando a seguro. Estou com medo. Mas agarro-a com força, coloco-a <strong>de</strong>baixo do braço, respiro<br />

fundo e volto para a sala <strong>de</strong> estar. Sento-me ao lado <strong>de</strong>le, que olha para a caixa com uma expressão<br />

preocupada.<br />

— O que é isso? — ele pergunta, inclinando-se para frente.<br />

Abro a tampa e tiro um monte <strong>de</strong> fotos. Entrego uma a ele.<br />

— Este é Jacob — falo. Meus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas e eu nem sequer tento contê-las.<br />

Deixo-as cair pelos meus cílios e bochechas. <strong>Paul</strong> as enxuga, mas não quero. Quero sentir tudo,<br />

porque me forcei a não sentir nada por muito tempo.<br />

— Essa é <strong>de</strong> quando ele nasceu. — Aponto para a pequena trouxinha <strong>de</strong> pele rosada e cabelo<br />

escuro. <strong>Paul</strong> olha da foto para mim.<br />

— Ele se parece com você — diz ele.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Ele se parece mais com o pai, eu acho. — As malditas lágrimas continuam caindo. Não estou<br />

chorando. É como se alguém tivesse aberto uma barragem emocional em mim e não consigo fechar.<br />

Não quero fechar.<br />

— O que aconteceu com o pai <strong>de</strong>le? — <strong>Paul</strong> pergunta.<br />

— Morreu — respondo. Preciso fazer uma pausa e limpar a garganta. — Overdose. Li no jornal,


alguns anos após Jacob ter nascido.<br />

— Sinto muito.<br />

Eu fungo.<br />

— Também sinto. — Sei que preciso explicar e, pela primeira vez, eu quero. — Nós éramos<br />

jovens, e usávamos maconha, entre outras coisas, mas parei com tudo quando <strong>de</strong>scobri que estava<br />

grávida <strong>de</strong> Jacob. Ele não parou. Não conseguiu. Foi muito triste quando não pu<strong>de</strong> mais estar com<br />

ele. Eu não tinha mais ninguém. Mas não o tinha, tampouco. Ele pertencia às drogas, sabe?<br />

Ele balança a cabeça. Entrego-lhe mais fotos e ele olha para elas. Segurei-as tanto que elas estão<br />

com orelhas nas pontas. Ele está com uma <strong>de</strong> Jacob com três meses.<br />

— Não dá para dizer que ele não se parece com você. Olhe para esses olhos! Ele é tão lindo.<br />

Meus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas <strong>de</strong> novo, mas sorrio. Ele é perfeito. E era muito bom ouvir<br />

alguém dizer isso.<br />

— Olhe para esse sorriso! — <strong>Paul</strong> fala rindo, quando vê uma mais recente. — É igual ao seu!<br />

Sorrio. Ele tem razão.<br />

— On<strong>de</strong> está sua família, Friday? — ele pergunta.<br />

— Não sei — respondo. Coloco a cabeça em seu ombro, enquanto ele olha as fotos, <strong>de</strong>bruçado<br />

em uma pilha, apontando o quanto Jacob se parece comigo. — Eles me expulsaram quando fiquei<br />

grávida.<br />

<strong>Paul</strong> pressiona seus lábios em minha testa e não diz nada.<br />

— Eu achava que sabia tudo naquela época. — Rio e enxugo os olhos com a barra do vestido. —<br />

Mas não sei nada.<br />

— Já pensou em procurá-los?<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Não. Nunca. — Aponto para fotos do meu filho. — Essa é a mãe <strong>de</strong>le. O nome <strong>de</strong>la é Jill. Ela<br />

é quem me manda fotos <strong>de</strong> ocasiões especiais. Esse é o primeiro <strong>de</strong>nte que nasceu e o primeiro que<br />

caiu. Essa é do seu primeiro passo. Isso não fazia parte do acordo. Ela só me manda por que quer<br />

que eu saiba como ele está indo. — Tento sorrir por entre as lágrimas. — E ele está indo tão bem. É<br />

inteligente. E eles po<strong>de</strong>m mandá-lo para a faculda<strong>de</strong> e escolas especiais. Ele toca piano e pratica<br />

esportes. E Jill disse que ele gosta <strong>de</strong> pintar. — Minha voz falha e eu não fico aborrecida por isso.<br />

— Claro que sim. Você é sua mãe.<br />

— Só quis fazer o que era melhor para ele, sabe? — Desta vez, uso a manga <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> para enxugar<br />

os olhos. Pisco com força tentando limpar a minha visão.<br />

— Isso é o que os pais fazem. Fazemos o que é o melhor para os nossos filhos. — Ele me beija<br />

suavemente. — Obrigado por me mostrar isso.<br />

— Obrigado por olhá-las. — Pego a caixa e retiro as cartas. — Ela me escreve longas cartas.<br />

Quer ler?<br />

Ele parece surpreso.<br />

— Posso?<br />

Concordo.<br />

— Se você quiser. — Meu coração está doendo e sinto que estou pendurada numa corda bamba,<br />

apenas esperando que um vento forte me balance e me <strong>de</strong>rrube num barranco cheio <strong>de</strong> cobras e<br />

jacarés.<br />

— Quero.


Ele agarra a minha corda bamba e a estabiliza, como eu preciso que ele faça, com apenas<br />

algumas palavras simples. Eu quero.<br />

— Vou brincar com Hayley — falo.<br />

Me levanto e vou para o quarto <strong>de</strong> Hayley. Quando viro no corredor, posso ouvi-lo abrir a<br />

primeira carta. Já as li um milhão <strong>de</strong> vezes. Sei todas as palavras <strong>de</strong> cor.<br />

Não sei porque quis compartilhá-las com ele, exceto pelo fato <strong>de</strong> que ele me ama. E já que ele<br />

me ama, quero <strong>de</strong>ixá-lo entrar. Ele prometeu não <strong>de</strong>rrubar minhas pare<strong>de</strong>s, mas quer entrar comigo.<br />

E, já que ele quer, vou <strong>de</strong>ixar.<br />

Ele me chama <strong>de</strong> volta.<br />

— Friday! — ele grita e olha para um dos envelopes.<br />

— O quê? — pergunto, voltando a encará-lo<br />

— Seu verda<strong>de</strong>iro nome é...<br />

— Não diga isso! — peço. — Nunca mais quero ouvir esse nome novamente. — Essa pessoa não<br />

existe mais.<br />

Ele sorri para mim.<br />

— Estou honrado por conhecer a pessoa que você era. — Seu rosto suaviza. — E a pessoa que<br />

você é.<br />

Balanço a cabeça e me viro. Posso ouvir sua risada pelo corredor.<br />

— Ei, Hayley — falo e me sento, pegando um dos brinquedos. Ela tem uma coleção <strong>de</strong> Barbie,<br />

mas prefere brincar com Legos e blocos <strong>de</strong> construção. Talvez, ela vá ser engenheira um dia. Ou,<br />

quem sabe, artista como seu pai. Pego um dos bonecos e o faço beijar a Barbie e ela ri.<br />

— Acho que eles estão apaixonados — sussurro.<br />

— Como você e meu pai — ela respon<strong>de</strong> calmamente.<br />

Eu concordo. E a emoção obstrui minha garganta novamente. Viro a cabeça e tusso, e, então,<br />

<strong>de</strong>spejo uma caixa <strong>de</strong> Legos no chão.<br />

— Acho que a Barbie precisa <strong>de</strong> uma fortaleza — falo.<br />

Ela balança a cabeça, e começamos a construir uma fortaleza <strong>de</strong> plástico juntas, porque, às vezes,<br />

uma garota precisa <strong>de</strong> uma porra <strong>de</strong> uma fortaleza.


P A U L<br />

F<br />

ico surpreso ao <strong>de</strong>scobrir que passaram duas horas quando finalmente fecho a tampa da caixa<br />

<strong>de</strong> segredos <strong>de</strong> Friday e a coloco ao meu lado. Movimento minha cabeça para frente e para trás,<br />

estalando e alongando o pescoço, pois fiquei sentado numa posição só por muito tempo. Mas, uma<br />

vez que comecei a ler, simplesmente não consegui parar.<br />

A mãe adotiva <strong>de</strong> Jacob, Jill, tinha aberto seu coração nas cartas. Não havia dúvidas sobre isso:<br />

ela queria que Friday fosse parte da vida do seu filho. Se não quisesse, não teria estendido a mão<br />

para ela com a emoção sincera com que fez.<br />

Jill estava casada há <strong>de</strong>z anos, quando ela e o marido adotaram Jacob. Ele era seu primeiro e<br />

único filho. Durante anos, Jill esten<strong>de</strong>u a mão a Friday freneticamente, pedindo-lhe que fosse visitar<br />

Jacob. Ela queria que Friday se encontrasse com ele. Ela não cometeu qualquer erro em suas<br />

palavras. Jill era a mãe <strong>de</strong>le e sempre será, mas acreditava que Friday também podia ter um lugar em<br />

sua vida. E eu concordo com ela.<br />

Levanto e vou dar uma olhada em Friday e Hayley, mas balanço quando chego ao quarto da minha<br />

filha. As duas estão dormindo na cama com um livro aberto sobre a barriga. Friday vestiu um pijama<br />

e parece que estava lendo para Hayley quando ambas adormeceram. Mas, o que aperta meu coração<br />

é que seus narizes estão voltados um para o outro, suas respirações tão próximas, compartilhando o<br />

ar, e a mão da minha filha abrigada na <strong>de</strong> Friday.<br />

Tiro uma foto mental, porque não quero nunca, nunca mesmo, esquecer o que estou sentindo.<br />

Clique! Clique! Clique! Gravo a imagem em minha cabeça, porque meu coração está tão feliz, que<br />

parece pronto para estourar e não quero <strong>de</strong>ixar esse momento passar.<br />

Não as acordo. Em vez disso, pego alguns dos brinquedos que Hayley <strong>de</strong>ixou no chão, ao redor<br />

do quarto. Coloco suas bonecas na prateleira <strong>de</strong> cima e seus caminhões e carrinhos Matchbox no<br />

cesto ao pé da sua cama.<br />

Solto uma risada ao ver que elas construíram uma gran<strong>de</strong> casa com blocos <strong>de</strong> construção e que<br />

colocaram um dos bonecos lá <strong>de</strong>ntro com a Barbie. Olho mais <strong>de</strong> perto. <strong>Os</strong> rostos <strong>de</strong>les estão juntos?<br />

Parece quase como se eles estivessem se beijando.<br />

Friday se sentou e brincou com a minha filha por duas horas seguidas, leu para ela e caiu no sono<br />

em sua cama. Quero ver isso por todas as noites, pelo resto da vida. Quero acordar Friday e levá-la<br />

para a minha cama, mas há algo que preciso fazer antes.<br />

Existe uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ela vá me odiar por isso, mas preciso fazer. Vou até a sala, pego<br />

meu telefone e faço uma busca na internet. É uma gran<strong>de</strong> violação da privacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Friday, eu sei,


mas não posso evitar. Ela tem um filho e precisa conhecê-lo. E ele precisa conhecê-la também. Disco<br />

apenas dois números errados antes <strong>de</strong> encontrá-la.<br />

— Oi, é a Jill? — pergunto.<br />

— Sim — a mulher respon<strong>de</strong>.<br />

— Você tem um filho chamado Jacob?<br />

— Sim — ela respon<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong>sta vez, há uma pergunta em seu tom. — Quem é?<br />

— Meu nome é <strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong>, e sou amigo da Friday. Bem, ela é minha namorada. Vou me casar com<br />

ela, assim que conseguir fazê-la dizer sim.<br />

A linha fica em silêncio.<br />

— Ainda está aí?<br />

— Sim, estou aqui.<br />

— Estava esperando que talvez pudéssemos conversar.<br />

— Sim, acho que <strong>de</strong>veríamos — ela respon<strong>de</strong> e a porra do meu coração incha.<br />

DESLIGO O TELEFONE e passo a mão pelo meu rosto. Ou selei meu <strong>de</strong>stino e fiz com que Friday jamais<br />

aceite se casar comigo ou ela vai me amar um pouco mais. Não vou saber, até amanhã.<br />

Volto para o quarto <strong>de</strong> Hayley e as olho um pouco mais. Elas viraram agora, <strong>de</strong> modo que estão<br />

<strong>de</strong> lado uma para a outra, e a mão <strong>de</strong> Hayley ainda está na <strong>de</strong> Friday. Clique!<br />

Curvo-me e passo a mão pelo cabelo <strong>de</strong> Friday. Ela se agita, seus olhos abrindo lentamente. Ela<br />

pisca para mim e sorri.<br />

— Adormecemos? — ela sussurra.<br />

— Sim. — Desenrolo Hayley do aperto <strong>de</strong> Friday e a coloco <strong>de</strong>baixo das cobertas. Hayley por<br />

dormir mesmo que esteja chovendo canivete, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esteja escuro lá fora, então, não me preocupo<br />

com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acordá-la. Friday se inclina e pressiona os lábios na bochecha <strong>de</strong> Hayley.<br />

— Eu me diverti com ela, esta noite — ela sussurra.<br />

Aponto em direção a casa gran<strong>de</strong> que elas fizeram.<br />

— Vi que ficaram ocupadas.<br />

— Fizemos uma fortaleza para a Barbie.<br />

Essa palavra me faz sorrir.<br />

— A Barbie precisa uma fortaleza?<br />

— Todas as meninas precisam <strong>de</strong> uma. A Barbie não tem pai, então, ela precisava mais do que a<br />

maioria. — Ela encolhe os ombros. — Hayley e eu discutimos tudo isso quando ela tentou me<br />

convencer <strong>de</strong> que meninas com papais fortes não precisam <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pare<strong>de</strong>s. — Ela coloca a mão<br />

em meu peito e olha para mim, piscando aqueles olhos ver<strong>de</strong>s. Ela é tão linda. — Você sempre vai<br />

proteger o coração <strong>de</strong>la. E, se alguma coisa acontecer com você, tem quatro irmãos que vão fazer o<br />

mesmo. Assim, Hayley não vai precisar <strong>de</strong> uma fortaleza.<br />

Entendi. E ela tinha razão.<br />

— Vocês conversaram sobre coisas tão profundas?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Sim. É uma fortaleza foda, você não acha?<br />

Beijo sua testa.


— Fodona. Assim como você.<br />

Ela inclina a cabeça no meu peito e eu seguro sua nuca com a palma da minha mão.<br />

— Mas não sou, <strong>Paul</strong>. Tenho medo todos os dias. Apenas escondo isso bem.<br />

— Eu te assusto?<br />

— Às vezes.<br />

— E agora? — pergunto.<br />

— Não tenho medo agora. — Sua voz é tão suave que mal posso ouvi-la.<br />

Eu a pego no colo e ela envolve seus braços magros ao redor do meu pescoço.<br />

— E agora?<br />

— Não. — Ela sorri para mim.<br />

Nós caminhamos para a porta.<br />

— Luz — falo.<br />

Ela apaga a luz, e eu a levo para o meu quarto.<br />

— E agora? — pergunto.<br />

— Não — ela diz baixinho. Solto suas pernas e ela <strong>de</strong>sliza lentamente pelo meu corpo. — Eu<br />

quero o que você quer — ela sussurra.<br />

Eu congelo. Seguro seu rosto e ela me olha, minhas palmas sobre suas bochechas.<br />

— Tem certeza?<br />

— Sim.<br />

Eu a beijo. Beijar Friday não é como beijar qualquer outra mulher no mundo. Ela tem gosto <strong>de</strong><br />

tudo o que eu sempre quis. Ela se aproxima <strong>de</strong> mim, passando os braços ao redor do meu pescoço,<br />

enquanto coloca a língua na minha boca, tocando a minha.<br />

— Deus — suspiro e tenho que afastá-la um pouco para que eu consiga pegar ar.<br />

Ela sorri e puxa a camisa do pijama sobre a cabeça. Ela não está usando sutiã e isso me <strong>de</strong>ixa<br />

com água na boca. Mas, antes que eu possa tocá-la, ela está empurrando a parte <strong>de</strong> baixo do pijama.<br />

Então, fica nua, e eu estava certo. Ela é quase completamente <strong>de</strong>pilada lá, mas não totalmente.<br />

— O que há <strong>de</strong> errado? — ela pergunta, seus olhos seguindo os meus para sua boceta bonita.<br />

— Você é tão linda — falo a ela. — E eu te amo pra caralho.<br />

Ela baixa os olhos por um segundo e sobe na cama, seu traseiro redondo no ar por um segundo.<br />

Chego para a frente, dou um tapa e ela resmunga em protesto.<br />

— Não posso acreditar que você fez isso! — ela grita, parecendo ofendida.<br />

— Oh, acredite. — Subo na cama e tiro o jeans. Seu olhar vai para o meu pau, e ela lambe os<br />

lábios. Gozei em sua boca, esta manhã, e quero gozar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, agora. — Preciso usar<br />

preservativo? — pergunto.<br />

— Você acha que po<strong>de</strong> me <strong>de</strong>ixar mais grávida? — ela pergunta, os lábios inclinados naquele seu<br />

sorriso peculiar que é adorável.<br />

— Não — grunho. — Só não sei se você estaria preocupada com outras coisas.<br />

— Eu vi seus exames. E você viu os meus.<br />

Trabalhamos com materiais que exige que façamos exames regularmente.<br />

— Não faço isso sem há muito tempo — admito. — Acho que não vou durar muito tempo.<br />

Ela ri.<br />

— Então, vamos ter que fazer isso duas vezes.<br />

Isso aí.


— Se você insiste. — Eu rio, passando por cima <strong>de</strong>la e me apoiando sobre os cotovelos, em<br />

cada lado da sua cabeça. Olho para seu rosto e sei que, em minha alma, vou estar com essa mulher<br />

pelo resto da minha vida. Vou <strong>de</strong>itar em sua cama todas as noites, até o dia em que eu morrer. E<br />

quando eu estiver velho <strong>de</strong>mais para transar com ela, vou segurá-la. E ela vai me segurar. Para<br />

sempre.<br />

— O que você está pensando? — ela pergunta.<br />

Afasto meu cabelo do rosto.<br />

— Tem certeza <strong>de</strong> que você quer saber? — Não tenho certeza <strong>de</strong> que ela está pronta para encarar<br />

a verda<strong>de</strong>.<br />

Mas ela assente.<br />

— Sim.<br />

— Estava pensando em como quero ficar colado em você quando ficarmos velhos e fazer coisas<br />

incríveis para você.<br />

— E se eu não quiser seu velho traseiro em cima <strong>de</strong> mim? — ela pergunta e eu congelo, porque,<br />

<strong>de</strong> repente, sinto medo. Mas ela segura meu rosto e me obriga a olhar para ela. — E seu eu quiser<br />

ficar por cima?<br />

Eu rio e enterro meu rosto em seu pescoço. Seu cheiro quase me oprime e levanto a cabeça e a<br />

beijo.<br />

— Po<strong>de</strong> ficar por cima quando quiser.<br />

— Exceto hoje — ela sussurra.<br />

— Quer ficar por cima hoje? — pergunto. Droga, vou rolar e puxá-la para cima <strong>de</strong> mim. Isso não<br />

vai ferir meu orgulho.<br />

— Não — ela sussurra. — Quero que você me leve para on<strong>de</strong> está indo.<br />

— Não quero ir sem você — respondo.<br />

Ela aponta entre nós.<br />

— Então, é melhor se ocupar, garotão. Você tem trabalho a fazer.<br />

Ela me faz rir. Olho para os seios <strong>de</strong>la e percebo que ela colocou os piercings <strong>de</strong> volta. Envolvo<br />

meus lábios ao redor do esquerdo e o acaricio com a língua. Ela segura minha nuca, me puxando para<br />

mais perto <strong>de</strong>la. Meu pau está acomodado no ápice <strong>de</strong> suas coxas e posso sentir seu calor ao meu<br />

redor. Posiciono-o na entrada da sua fenda, on<strong>de</strong> meu piercing vibra contra seu clitóris e ela<br />

estremece. Beijo e lambo seus seios, sentindo seu braço e pescoço se arrepiarem. Amo o fato <strong>de</strong> que<br />

posso provocá-la assim. Ela tem linhas finas na lateral do corpo, provavelmente da sua primeira<br />

gravi<strong>de</strong>z e eu passo a língua suavemente. Gosto <strong>de</strong> ver esse lado <strong>de</strong>la, porque suas cicatrizes<br />

compõem uma boa parte <strong>de</strong> quem ela é.<br />

— <strong>Paul</strong> — ela murmura.<br />

Levanto a cabeça e olho para ela.<br />

— Estou oficialmente com medo — ela diz.<br />

Paro o que estou fazendo.<br />

— De mim?<br />

Ela bufa.<br />

— Não, <strong>de</strong> que você nunca chegue a minha boceta por estar passando a língua por todos os<br />

lugares que não lá — ela resmunga.<br />

— Caramba, você é tão mandona — falo, mas <strong>de</strong>slizo para baixo, afastando suas coxas para que


eu possa ficar entre elas. Afasto-as, as <strong>de</strong>ixando aberta. — Me dê espaço — falo. — Tenho ombros<br />

largos.<br />

— Não sou contorcionista — ela bufa, mas abre mais as pernas. Sua boceta está molhada e<br />

brilhante, e posso ver o pequeno pedaço <strong>de</strong> ouro por entre suas dobras, on<strong>de</strong> ela tem piercing.<br />

Honestamente, nunca beijei uma boceta com tanto metal. Mas, com certeza, estou disposto.<br />

Como ela está me dificultando as coisas, não vou <strong>de</strong>vagar. Chupo seu clitóris com força.<br />

Ela grita e se remexe em minha boca. Afasto o piercing com a ponta do <strong>de</strong>do e, muito gentilmente,<br />

o mantenho fora do caminho. Chupo seu clitóris e ela segura os lençóis com força, fecha os olhos e<br />

mor<strong>de</strong> o lábio inferior.<br />

Ela está quase lá, então, <strong>de</strong>slizo dois <strong>de</strong>dos em seu calor e movimento-os contra o pequeno local<br />

esponjoso <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, que espero que a <strong>de</strong>ixe louca.<br />

— Então, isso existe — ela suspira.<br />

Rio contra seu clitóris e ela rosna.<br />

— Faça isso <strong>de</strong> novo.<br />

Solto um gemido, sugando-a com movimentos suaves até que, <strong>de</strong> repente, seu corpo se contorce.<br />

Ela segura minha cabeça e empurra meu rosto contra a boceta. Eu lambo e chupo até que mal posso<br />

respirar, sentindo os tremores em seu corpo arqueado. Tiro os <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Friday me<br />

observa colocá-los na boca e lambê-los. Ela está tão molhada que tem uma poça embaixo <strong>de</strong>la, sobre<br />

os lençóis. Amo saber que fui eu que provoquei isso. Limpo meu rosto nos lençóis e subo o corpo até<br />

que estejamos nariz com nariz. Ela me beija, sua língua <strong>de</strong>slizando em minha boca <strong>de</strong> uma forma que<br />

ninguém mais fez antes.<br />

— Me come — ela fala. Olho em seus olhos, <strong>de</strong>sejando corrigi-la e dizer que vou fazer amor<br />

com ela, mas sei que isso não me levará a lugar algum. Ela agarra meus cabelos e sinto que já tive o<br />

suficiente. Já a fiz gozar algumas vezes e mereço ter um pouco do que quero. Entrelaço meus <strong>de</strong>dos<br />

nos seus e os seguro contra a cama. Ela luta por um momento e, então, sussurra — Tudo bem. — Ela<br />

acalma sob o meu peso.<br />

— Do meu jeito — falo.<br />

Ela treme.<br />

— Tudo bem.<br />

Ela foca o olhar em meu peito e vê a borboleta.<br />

— Quando você fez isso? — ela pergunta.<br />

— Hoje.<br />

— Por quê?<br />

— Porque eu te amo e quero mantê-la perto do meu coração.<br />

— A borboleta não está quebrada.<br />

— Nem você.<br />

Ela ofega e lágrimas enchem seus olhos. Não <strong>de</strong>ixo <strong>de</strong> enxuga-las. Seguro suas mãos e pressiono<br />

contra sua fenda lisa, cutucando sua entrada.<br />

— Você é tão apertada — Minha voz gutural e rouca.<br />

Beijo-a. Empurro e encontro resistência.<br />

— Relaxe e me <strong>de</strong>ixe entrar. — Ela está tão molhada que está escorregadia. — Me <strong>de</strong>ixa entrar,<br />

Friday.<br />

Ela vira a cabeça e olha para longe <strong>de</strong> mim.


Sussurro em seu ouvido.<br />

— Você não tem que dizer que me ama. Posso esperar. Ainda assim, vou te amar, não importa o<br />

que aconteça.<br />

Ela sussurra algo, mas seus olhos se fecham e a cabeça <strong>de</strong>la está virada para longe <strong>de</strong> mim.<br />

— O que você disse? — Paro <strong>de</strong> empurrar. Paro <strong>de</strong> tentar entrar nela.<br />

Ela vira o rosto para o meu.<br />

— Eu quero — ela fala suavemente.<br />

— Quer o quê? — sussurro <strong>de</strong> volta. Posso sentir seu calor ao meu redor, mas não totalmente.<br />

— Dizer que te amo — ela fala, meneia os quadris e seu corpo relaxa. Um sorriso aparece em<br />

seu rosto e eu afundo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, até o final. — Eu te amo — ela fala novamente. Suas mãos se<br />

soltam e ela toca meu rosto. — Amo você, <strong>Paul</strong>.<br />

Estou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la profundamente, mas não posso me mexer. Só consigo olhar para seu rosto, pois<br />

jamais vi tal aceitação e confiança em seus olhos ver<strong>de</strong>s. Ela geralmente é tão cautelosa, mas está<br />

aberta, em baixo <strong>de</strong> mim, permitindo que eu entre nela <strong>de</strong> todas as formas possíveis. Seus pés se<br />

apoiam em minha panturrilha e ela está aberta e confiante.<br />

— Estou <strong>de</strong>ntro.<br />

Ela balança a cabeça e uma lágrima <strong>de</strong>sliza pela lateral do seu rosto. Capturo-a com os lábios,<br />

seu gosto salgado como a essência mais doce contra meus lábios.<br />

— Você está <strong>de</strong>ntro.<br />

Então, eu me movo. Deslizo para fora e para <strong>de</strong>ntro. Seus quadris inclinam para que ela possa me<br />

encontrar e eu afundo totalmente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Sento para que eu possa olhar para baixo entre nós e<br />

vejo Friday me receber. Quando puxo para fora, meu pau está totalmente molhado e nunca foi tão<br />

bom.<br />

— Não vou conseguir segurar por muito tempo.<br />

— Faça amor comigo, <strong>Paul</strong> — ela pe<strong>de</strong>.<br />

Friday me olha nos olhos. Seguro-a pelos ombros e a puxo para mim, fazendo o que ela pediu.<br />

Faço amor com ela. Entro e saio do seu corpo, seus gemidos me estimulando. Ela murmura palavras<br />

doces <strong>de</strong> amor e carinho em meu ouvido. Fecho os olhos tentando segurar um pouco mais, mas ela é<br />

muito apertada. É como uma luva <strong>de</strong> seda quente, enrolada em meu pau, me apertando com força.<br />

Ela <strong>de</strong>rrete ao meu redor, suas pare<strong>de</strong>s me apertando com ainda mais força e eu paro <strong>de</strong> me<br />

mover. Sinto-a tremer e, mesmo sem me mexer, gozo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Mergulho profundamente em seu<br />

corpo, empurrando meu pau, com medo <strong>de</strong> machucá-la, enquanto ela sussurra em meu ouvido:<br />

— Mais, mais <strong>Paul</strong>.<br />

Meu pau está tão sensível que preciso parar <strong>de</strong> me mover. Olho para ela e digo a única coisa que<br />

me vem à mente:<br />

— Uau. — Mal consigo respirar.<br />

Ela ri e eu <strong>de</strong>slizo para fora. Estremeço, o atrito molhado sendo quase doloroso.<br />

— Você está bem? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça e escon<strong>de</strong> o rosto em meu peito, parecendo tímida <strong>de</strong> repente.<br />

— Tem certeza?<br />

— Sim. Apenas me sentindo muito exposta. Foi muito intenso.<br />

Deito <strong>de</strong> costas e a puxo para se <strong>de</strong>itar sobre meu peito.<br />

— Nunca tive uma relação assim.


Minha respiração ainda está irregular, assim como a <strong>de</strong>la. Ela apoia o queixo na mão e <strong>de</strong>senha<br />

um círculo ao redor da minha tatuagem.<br />

— Amei isso <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

Não digo o que quero, com medo <strong>de</strong> que ela não fale fora do auge da paixão.<br />

— Falei aquilo <strong>de</strong> coração — ela <strong>de</strong>ixa escapar.<br />

Olho para ela.<br />

— O que significou?<br />

Ela escon<strong>de</strong> o rosto, mas posso ouvi-la.<br />

— Significou o que as palavras disseram. Falei <strong>de</strong> coração.<br />

— Eu sei. — Eu rio e beijo sua testa. — Sei que falou.<br />

Sei que ela falou <strong>de</strong> coração e é por isso que o que vou fazer para ela amanhã parece ainda mais<br />

assustador.


F R I D A Y<br />

P<br />

aul me acorda na manhã seguinte antes <strong>de</strong> o sol nascer. Ele está escondido atrás <strong>de</strong> mim, e minha<br />

bunda é embalada por suas coxas. Ele segura meus seios, acariciando os mamilos suavemente,<br />

enquanto beija meu pescoço e ombro.<br />

— Está acordada? — ele pergunta baixinho, erguendo os lábios por apenas um momento, e<br />

colocando-os <strong>de</strong> volta na minha pele, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo que eles fiquem.<br />

— Agora estou. — Cubro sua mão com a minha e indico que ele po<strong>de</strong> aplicar mais pressão. Ele é<br />

tão cuidadoso. Acho que é porque eu disse que meus seios estão sensíveis.<br />

Posso senti-lo atrás <strong>de</strong> mim. Ele está quente, duro e pronto. Levanto a perna, abrindo espaço e ele<br />

entra em mim, seu membro quente me enchendo. Ele murmura ao lado da minha orelha.<br />

— É tão bom. Gosto <strong>de</strong> acordar com você na minha cama.<br />

Fecho os olhos e o <strong>de</strong>ixo me comer lentamente, sentindo-o entrar e sair, sua barriga dura batendo<br />

em minha bunda a cada vez que ele me penetra.<br />

— Caramba, Friday, não consigo me segurar quando estou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você.<br />

Sua mão <strong>de</strong>sliza pela minha barriga, seus <strong>de</strong>dos alcançando meu clitóris e pressionando<br />

insistentemente, manipulando meu piercing, colocando a pressão perfeita em seu toque.<br />

Ele segura minha perna e me vira, sem tirar o pau <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. Ele me abre ainda mais,<br />

acariciando minha boceta enquanto continua os movimentos <strong>de</strong> entra e sai. Sua mão puxa a minha até<br />

meus seios.<br />

— Toque-os para que eu possa ver.<br />

<strong>Paul</strong> se apoia nos cotovelos e olha para meus seios, lambendo os lábios, sem parar <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizar<br />

lentamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim.<br />

Ele sorri quando olho em seus olhos e toco meu piercing <strong>de</strong> mamilo. Não é preciso muito. Isso é<br />

o suficiente para me fazer chegar lá. Gozo, tremendo enquanto ele prolonga meu orgasmo, seus <strong>de</strong>dos<br />

rápidos e firmes, enquanto ele <strong>de</strong>dilha meu clitóris, tirando tudo <strong>de</strong> mim. Então, ele levanta, ergue<br />

meu joelho na direção do meu seio e coloca seu peso sobre ele, movendo-se ainda mais<br />

profundamente. Eu grito, mas seus lábios cobrem os meus.<br />

Ele sussurra.<br />

— Shh.<br />

Tento me segurar, mas não consigo. Então, ele mantém a minha boca ocupada com a sua língua,<br />

bombeando para <strong>de</strong>ntro e para fora, seus movimentos rápidos e frenéticos.<br />

— Vou gozar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você.


Concordo. Mantenho os olhos fechados pois a sensação <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> se movendo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim é<br />

mais do que posso suportar. Mas, quando abro os olhos e o vejo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim, sinto meu corpo<br />

ofegar e o prazer me toma. Não é como o orgasmo anterior, mas é gostoso. Só então, quando estou<br />

começando a relaxar <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong>le, ele finalmente começa a gozar.<br />

— Estou gozando — ele adverte. —, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você. — Seus olhos se fecham, e ele resmunga,<br />

seu pau pulsando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim quase dolorosamente, mas é uma sensação incrível.<br />

Ele solta minha perna, cai sobre meu peito e beija meu ombro. Seu peso é tão gostoso que não<br />

quero que ele se mexa nunca mais. Mas ele se afasta. Tento segurá-lo, mas ele se esquiva.<br />

— Já volto. — Ele beija minha bochecha e se afasta. Vejo-o vestir uma boxer e ele corre para o<br />

banheiro. Um minuto <strong>de</strong>pois, ele está <strong>de</strong> volta com uma toalhinha morna e molhada, e me limpa. —<br />

Sente-se um pouco — ele pe<strong>de</strong>, puxando uma camiseta sobre a minha cabeça e, em seguida, minha<br />

calcinha. É como se ele estivesse vestindo uma boneca, mas estou totalmente inútil, pelo menos nos<br />

próximos minutos. — Gosto <strong>de</strong> você molinha assim — diz ele com um sorriso.<br />

— Que porra você está fazendo? — pergunto, minha voz grogue e rouca.<br />

— Hayley vai entrar aqui em um minuto.<br />

Empurro as cobertas.<br />

— Eu <strong>de</strong>veria ir para o meu quarto.<br />

Ele puxa as cobertas sobre mim e <strong>de</strong>ita comigo.<br />

— Não — ele fala. — Fique.<br />

Estou muito cansada para protestar. Mal posso pensar, muito menos reclamar. Viro-me e ele<br />

coloca a perna sobre o meu traseiro, me puxando contra ele. Seus <strong>de</strong>dos acariciam minhas costas<br />

para cima e para baixo, enquanto volto a dormir. O conforto tranquilo toma conta <strong>de</strong> mim.<br />

Sinto um tap, tap, tap ao lado do meu nariz e abro os olhos, encontrando olhos tão azuis quanto os<br />

<strong>de</strong> <strong>Paul</strong>, me observando.<br />

— Hayley — falo, passando a mão sobre os olhos. O sol mal começou a nascer.<br />

<strong>Paul</strong> senta-se, apoiando em seu cotovelo e olha para mim.<br />

— Volte a dormir, Hayley — ele fala.<br />

— O sol está brilhando — ela fala.<br />

— Não, não está — ele respon<strong>de</strong>. Então, ele passa por cima <strong>de</strong> mim, a segura e a puxa por cima<br />

do meu corpo. Ela <strong>de</strong>ita entre nós e se aconchega. Ela fecha os olhos e boceja. — Volte a dormir —<br />

ele diz a ela novamente.<br />

Ela rola para o lado, <strong>de</strong> frente para mim, e me olha por um segundo, o seu olhar curioso, mas não<br />

triste, aborrecido ou qualquer uma das coisas com que me preocupei. Sua respiração infantil está tão<br />

próxima que a sinto em meu queixo, o que me faz <strong>de</strong>rreter por <strong>de</strong>ntro.<br />

<strong>Os</strong> <strong>de</strong>dos dos pés <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> se entrelaçam aos meus e ele puxa meu pé para <strong>de</strong>scansar no seu. Ele<br />

está me tocando. Ele quer me tocar. Estendo a mão em direção a sua cabeça, e ele coloca a palma da<br />

mão <strong>de</strong>baixo da bochecha e fecha os olhos. Há um leve sorriso em seu rosto quando ele cai no sono.<br />

E há um sorriso no meu também. É um sentimento que me <strong>de</strong>ixa quase tonta <strong>de</strong> tanta paz. Nunca<br />

imaginei que ele me proporcionaria paz. Mas ele consegue. E eu gosto.<br />

ACORDO COM UM pé empurrando com força contra a minha testa. Abro os olhos e vejo que <strong>Paul</strong> tem um


pé sobre seu estômago, mas ele ainda está dormindo. Hayley virou-se e está <strong>de</strong> frente para os pés da<br />

cama.<br />

Me mexo lentamente, tentando não acordá-la quando afasto seu pé, mas no minuto em que me<br />

movo ela fala:<br />

— O sol está brilhando.<br />

<strong>Paul</strong> ri. Sua voz está rouca do sono, e ele resmunga quando o joelho <strong>de</strong> Hayley bate em sua<br />

virilha.<br />

— Quieta — ele adverte e me olha. — Dormir com Hayley é como dormir com um polvo <strong>de</strong><br />

tênis. Eu <strong>de</strong>veria tê-la avisado.<br />

Hayley se senta. Ela está absolutamente adorável com seu cabelo bagunçado. Suas bochechas são<br />

cor <strong>de</strong> rosa e seus olhos brilhantes. Ela é linda e inocente, embrulhada num adorável pacote pequeno.<br />

Não consigo evitar <strong>de</strong> me perguntar se já fui tão ingênua, tão confiante.<br />

Provavelmente não.<br />

— Po<strong>de</strong>mos comer waffle? — Hayley pergunta.<br />

<strong>Paul</strong> olha para mim e arqueia a sobrancelha.<br />

— Waffle?<br />

— Com morangos e pedaços <strong>de</strong> chocolate e chantilly. — Ela lambe os lábios. — E <strong>de</strong>pois,<br />

vamos ao parque.<br />

<strong>Os</strong> olhos <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> nublam por um momento e eu me pergunto porquê. Mas Hayley começa a<br />

remexer os pés com animação e eu agarro um <strong>de</strong>les, fazendo cócegas. Ela ri e se joga na cama.<br />

— Waffle? — <strong>Paul</strong> pergunta, ajeitando o travesseiro sob a cabeça e olha para mim.<br />

Eu concordo.<br />

— Waffle.<br />

— Parque? — ele pergunta, mas não me olha nos olhos. Que estranho. Será que ele está distraído<br />

por Hayley estar na cama com a gente? Não sei.<br />

— Claro. — Empurro as cobertas e me alongo.<br />

— Sua calcinha é <strong>de</strong> flores — Hayley fala, olhando meus quadris cobertos por uma calcinha<br />

florida. Ela olha para o pai. — Posso ter uma calcinha <strong>de</strong> flores? — Ela puxa a calça do pijama para<br />

baixo e me mostra a <strong>de</strong>la. — A minha só tem listras. — Puxo minha camiseta para baixo.<br />

— O que eu te disse sobre mostrar sua calcinha para as pessoas? — <strong>Paul</strong> pergunta.<br />

Ela revira os olhos para ele.<br />

— Friday é uma menina — diz ela.<br />

Disfarço meu riso, porque <strong>Paul</strong> não está rindo. Olho para ele por cima do ombro, seus olhos<br />

encontram os meus, e eles queimam. Assim como eu.<br />

— Sei que ela é uma menina. — Seus olhos vagueiam cima e para baixo em minhas costas. —<br />

Definitivamente uma menina.<br />

— Precisamos pegar waffles para você bem rápido — Hayley diz a <strong>Paul</strong>. — Você parece estar<br />

com fome. — Ela fala com naturalida<strong>de</strong>, e não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> rir neste momento.<br />

<strong>Paul</strong> me lança um olhar <strong>de</strong> advertência, e eu ergo as mãos.<br />

— O quê? Não pu<strong>de</strong> evitar.<br />

Mas, agora que estou sentada, a náusea me atinge.<br />

Me remexo na cama.<br />

— Pegue uma lata <strong>de</strong> Ginger Ale para Friday — <strong>Paul</strong> pe<strong>de</strong> a Hayley. — Sua barriga está doendo.


Hayley corre para fora do quarto e volta com uma lata, como <strong>Paul</strong> pediu. Ela abre, toma um gole<br />

e a entrega para mim. Ela sorri e limpa a boca com a mão.<br />

— O que eu disse a você sobre tomar a bebida das pessoas?<br />

— Mas é a Friday — ela fala e pisca aqueles olhos azuis para mim. Sou a Friday. A namorada <strong>de</strong><br />

<strong>Paul</strong>, o que me torna algo importante em sua vida. É meio assustador, saber que sou alguma coisa<br />

para ela. Mas é bom.<br />

— Sua barriga está melhorando? — ela pergunta.<br />

— Ainda não.<br />

Ela se senta com as pernas cruzadas na minha frente.<br />

— Talvez você só precise fazer cocô — ela fala, me olhando muito séria.<br />

<strong>Paul</strong> cai <strong>de</strong> volta na cama, segurando o estômago enquanto ri. Ele ri tanto que as lágrimas caem.<br />

Ele enxuga os olhos e vai buscar bolachas para mim, rindo pelo caminho.<br />

Sam para e enfia a cabeça para <strong>de</strong>ntro do quarto. Fico feliz por estar usando uma das camisetas<br />

compridas <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Sam sorri para mim.<br />

— Talvez você <strong>de</strong>vesse tentar — ele fala. —, apenas no caso <strong>de</strong> você precisar fazer cocô. —<br />

Jogo um travesseiro na cabeça <strong>de</strong>le. Ele se abaixa e o travesseiro passa por ele. Sam faz um olhar<br />

ofendido. — Você não jogou um travesseiro em Hayley.<br />

Pego o <strong>de</strong>do <strong>de</strong>la e o puxo.<br />

— Porque eu gosto <strong>de</strong>la. — Ela sorri para mim e olha presunçosamente para Sam. Ele contorce o<br />

rosto como se estivesse chateado.<br />

— Gosto <strong>de</strong> você, também — Hayley diz calmamente quando Sam sai da porta.<br />

Eu po<strong>de</strong>ria me acostumar com essa coisa <strong>de</strong> família.<br />

<strong>Paul</strong> volta com um pacote <strong>de</strong> bolachas, abre-o e me entrega um. Mordisco a beirada.<br />

Ele se inclina e beija minha bochecha.<br />

— Só para você saber — ele diz baixinho: — Nunca dormi com uma mulher aqui, quando Hayley<br />

está em casa.<br />

Meu coração aperta no peito e minha barriga tremula. Sei que isso é importante para ele.<br />

— Então, não importa o que aconteça, não quebre o coração <strong>de</strong>la, está bem? — ele pergunta<br />

baixinho. Seus olhos azuis olham para os meus. — Ter você abraçada a ela e ao seu pai, faz com que<br />

ela encare isso <strong>de</strong> forma especial. Tenha isso em mente, tá?<br />

Há algo quase ameaçador em seu tom, mas não tenho i<strong>de</strong>ia do porque ele parece reticente. Queria<br />

saber.<br />

SENTO-ME NUM banco do parque tão cheia <strong>de</strong> waffle que provavelmente nunca mais vou me mexer<br />

novamente. Talvez eu precisasse que <strong>Paul</strong> me levasse <strong>de</strong> volta para casa.<br />

Hayley corre e <strong>Paul</strong> chama por ela:<br />

— Fique on<strong>de</strong> eu possa vê-la! — Ela revira os olhos e ele resmunga. — Espero conseguir acabar<br />

com esse hábito <strong>de</strong>la, antes que ela se torne adolescente.<br />

Sorrio.<br />

— Boa sorte.<br />

Ele segura minha mão. Passamos tanto tempo assim, que nossas palmas ficam suadas.


— Às vezes, sinto que não consigo chegar perto o suficiente <strong>de</strong> você — ele fala, mas não me<br />

olha. Ele está olhando para on<strong>de</strong> Hayley está subindo nas barras.<br />

Coço a cabeça.<br />

— Não acho que po<strong>de</strong>mos chegar muito mais perto do que ontem à noite.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Sexo é fácil. É o resto que é difícil.<br />

Olho para o seu perfil porque ele ainda não está olhando para mim.<br />

Aproveito o seu comentário e zombo.<br />

— Não diria que fiz sexo fácil.<br />

Seu olhar se volta para mim.<br />

— Não fizemos sexo.<br />

Levanto um <strong>de</strong>do e abro um sorriso.<br />

— Eu, com certeza, me lembro.<br />

Mas ele me corta.<br />

— Eu também. Lembro <strong>de</strong> ter dito que te amo e você me dizendo que se sentia da mesma forma. E<br />

fizemos amor louco e apaixonado, como jamais fizemos. E, então, fizemos novamente. Depois, minha<br />

filha <strong>de</strong>itou na cama com nós dois e foi a melhor coisa que aconteceu. — Ele se vira para mim. —<br />

Quero uma família, Friday. Não apenas uma transa. Uma qualquer para trepar é fácil <strong>de</strong> encontrar.<br />

Você, por outro lado... — Sua voz se cala. — Você é escorregadia pra cacete, mas quero tanto que<br />

você seja minha que mal consigo me segurar. Quero estar com você pela próxima semana, o próximo<br />

ano, a cada dia.<br />

— Estou com você — eu digo, hesitante. Não sei quanto mais <strong>de</strong> um compromisso posso lhe<br />

oferecer. Já ofereci a ele mais do que já pensei ser possível oferecer a alguém.<br />

Ele se inclina e paira sobre meus lábios.<br />

— Eu te amo pra caralho — Ele me olha nos olhos por um minuto e, então, corre até Hayley.<br />

Observo-os brincar e, quando estou prestes a me levantar, uma mulher se senta ao meu lado.<br />

— Manhã bonita, não é? — ela pergunta e suspira pesadamente, mas é um bom barulho. Não é<br />

frustrado ou confuso. É apenas confortável.<br />

Olho para o céu azul.<br />

— Está realmente um dia bonito — respondo e sorrio para ela. Ela não está olhando para mim,<br />

então ela nem sequer ver meu sorriso.<br />

Ela aponta para Hayley.<br />

— É sua?<br />

Concordo, mas me assusto, porque ela não é. Mas é como se fosse.<br />

— É do meu namorado.<br />

— Ela é adorável.<br />

Um sorriso surge no canto dos meus lábios. Apesar <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r levar qualquer crédito por ela.<br />

— Obrigada.<br />

Vejo um menino com cabelos castanhos correr e falar com <strong>Paul</strong>.<br />

— Ele é o seu? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Sim.<br />

— Ele é adorável, também. — Ele realmente é. É alto e magro. Então ele olha para cima, e seus


olhos encontram os meus. Eu suspiro. Conheço aqueles olhos. Já os vi antes. Foi apenas uma vez na<br />

vida, mas nunca, nunca os esqueci. Meu olhar se volta para a mulher ao meu lado.<br />

— Por favor, não fique com raiva — diz ela. — Conversei com seu namorado.<br />

Meu coração está tão apertado na garganta que não consigo soltar um som, nem mesmo o soluço<br />

que está enterrado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. Sento-me inclinada para a frente, balançando na borda do assento,<br />

porque agora que o vi, não consigo <strong>de</strong>sviar o olhar novamente. Ele sorri, e posso ver o sorriso<br />

peculiar do seu pai, aquele que ele tinha quando o conheci, e sei, sem sombra <strong>de</strong> dúvidas, que este<br />

menino é meu filho.<br />

— Você está bem? — ela pergunta em voz baixa. Ela se vira para mim no banco. — Por favor,<br />

não culpe o seu namorado. Eu só queria conhecê-la. Jacob ainda não sabe quem você é e não vai<br />

saber, a menos que você diga que quer.<br />

Posso ouvi-la, mas não posso falar. Me levanto e caminho muito lentamente até on<strong>de</strong> Jacob está<br />

<strong>de</strong> pé com Hayley. Sinto que há uma corrente magnética entre nós, e eu não po<strong>de</strong>ria ficar longe <strong>de</strong>le,<br />

mesmo que eu quisesse. Quero tanto tocá-lo. Quero sentir a pulsação em seu braço magro e ver seu<br />

peito subir e <strong>de</strong>scer enquanto ele respira. Quero tirar seus sapatos e contar os <strong>de</strong>dos dos pés, porque<br />

nunca cheguei a fazer isso. Eu realmente queria fazer isso.<br />

Paro ao lado <strong>de</strong>le e me agacho.<br />

— Oi — digo em voz baixa. Estou surpresa que o ruído tenha saído da minha garganta, por que<br />

ainda sinto como se fosse sufocar.<br />

— Oi — ele diz calmamente. Ele olha para Jill, e ela levanta o polegar. Mas não se levanta.<br />

Vejo-a enxugar uma lágrima do rosto.<br />

— Conheceu minha amiga, Hayley? — pergunto.<br />

Ele balança a cabeça. <strong>Paul</strong> continua tentando pren<strong>de</strong>r meu olhar no <strong>de</strong>le, mas não permito.<br />

— Sou Friday — falo. Sou a sua mãe e te amo mais do que qualquer coisa do mundo. As<br />

palavras chegam aos meus lábios e eu as engulo. — Qual o seu nome?<br />

Jacob corre para a mãe e diz algo para ela. Ela pega a gran<strong>de</strong> bolsa a seus pés e retira uma caixa,<br />

entregando-a a ele que volta a correr. Ele não me disse seu nome, mas tudo bem. Prefiro saber que<br />

ele toma cuidado com estranhos. Sou uma estranha, afinal.<br />

Jacob se senta na calçada e abre a caixa. Ele pega um pedaço <strong>de</strong> giz grosso e pergunta:<br />

— Quer <strong>de</strong>senhar comigo?<br />

Sento-me ao lado <strong>de</strong>le.<br />

— Que cor <strong>de</strong>vo usar?<br />

Ele me dá um pedaço azul <strong>de</strong> giz.<br />

— Este.<br />

Então, me sento por horas e <strong>de</strong>senho com meu filho na calçada. Desenhamos arco-íris, dragões e<br />

até mesmo flores para sua mãe. Olho ao redor e vejo a calçada repleta <strong>de</strong> nossos <strong>de</strong>senhos. Não há<br />

um espaço sequer para mais nada.<br />

— Você é muito boa — ele fala e sorri, me <strong>de</strong>ixando ver o espaço on<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>nte <strong>de</strong>veria estar.<br />

— Você também. — Levanto a mão e toco o alto da sua cabeça. Fecho os olhos e respiro fundo,<br />

<strong>de</strong>ixando minha mão tocar nos fios sedosos. Tiro a mão mais rápido do que queria, porque ele me<br />

olha <strong>de</strong> um jeito engraçado.<br />

Olho e vejo <strong>Paul</strong> sentado, conversando com Jill. Ele se levanta e grita para nós.<br />

— Vamos pegar o almoço. Já voltamos!


Faço sinal <strong>de</strong> positivo e levanto-me indo atrás <strong>de</strong> Hayley e Jacob nos balanços.<br />

— Me empurre! — Hayley grita.<br />

— Me empurre! — Jacob grita ao mesmo tempo. Dou uma risada e coloco minhas mãos nas<br />

costas <strong>de</strong> ambos, <strong>de</strong> pé entre eles, e os empurro.<br />

Um ou dois minutos mais tar<strong>de</strong>, <strong>Paul</strong> e Jill voltam com cachorros-quentes e bebidas. As crianças<br />

correm para a mesa. Coloco as mãos nos bolsos e caminho <strong>de</strong>vagar. <strong>Paul</strong> e Jill se sentam lado a lado<br />

na mesa e as crianças do outro lado.<br />

— Sente-se ao meu lado! — Hayley pe<strong>de</strong>.<br />

— Não, do meu! — Jacob fala. Sento entre eles e <strong>Paul</strong> me dá um cachorro-quente. Jacob se<br />

aproxima tanto <strong>de</strong> mim que posso sentir sua coxa contra a minha. O calor do seu pequeno corpo<br />

envolve o meu e me aquece. Fecho os olhos por um momento e apenas respiro, apreciando a<br />

sensação <strong>de</strong> ter o meu filho sentado ao meu lado.<br />

As crianças engolem os cachorros-quentes e estão prontos para voltar a brincar. <strong>Paul</strong> se levanta<br />

com eles e os segue, <strong>de</strong>ixando-me com Jill.<br />

— Você não se parece nada com o que eu esperava — diz ela calmamente.<br />

— O que você esperava? — Dou uma mordida no meu cachorro-quente.<br />

Ela sorri.<br />

— Algo menos colorido.<br />

Coloco a mão na boca e falo, com a boca cheia.<br />

— Cor não é algo ruim.<br />

Ela solta um suspiro.<br />

— Esperava uma menina <strong>de</strong> cara lavada, com uma expressão oprimida, lamentando a vida. Estou<br />

feliz por que não foi o que encontrei. — Ela fecha os olhos, aguarda um instante e os abre novamente.<br />

—Bem, estou feliz por que não foi o que encontrei.<br />

— Às vezes, é assim que sou. — Olho para Jacob, e ele sorri em nossa direção.<br />

— Às vezes, é assim que todos nós somos. — Ela cobre a minha mão com a <strong>de</strong>la. — Posso<br />

contar algo que ninguém mais sabe? Bem, exceto o meu marido.<br />

— Por favor, faça.<br />

— Quando eu tinha vinte anos, fiquei grávida.<br />

Todo o ar em meu corpo me abandona e eu engasgo com o cachorro quente.<br />

Antes que eu possa falar, ela levanta a mão para me impedir.<br />

— Tive que tomar uma <strong>de</strong>cisão muito difícil. E fiz um aborto. Não estava apaixonada pelo pai e<br />

não achava que conseguiria lidar com aquilo sozinha.<br />

— Uau. — Não sei mais o que dizer.<br />

— O que você fez <strong>de</strong>u muita força. — Seus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas, mas ela pisca,<br />

balançando a mão na frente do rosto.<br />

— Assim como o que você fez — falo isso com todo o meu coração.<br />

— Temos que fazer o que é preciso para sobrevivermos.<br />

Coloco meu cachorro-quente para o lado, porque não posso engoli-lo, mesmo que eu quisesse.<br />

— Durante um tempo, achei que não conseguir engravidar tinha sido meu castigo por ter feito o<br />

aborto.<br />

Posso enten<strong>de</strong>r porque ela se sentiu assim. Mas eu sabia que não era por isso. O universo não<br />

funciona <strong>de</strong>sse jeito.


— Jacob é a melhor coisa que po<strong>de</strong>ria ter acontecido para nós. Nós o amamos muito.<br />

Ainda não consigo acreditar no quanto ele é lindo. Ele está olhando para <strong>Paul</strong>, com as mãos nos<br />

quadris, e <strong>Paul</strong> está brincando com ele. Não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> sorrir também.<br />

— Não fique muito brava com ele, está bem? — ela pe<strong>de</strong>. — Ele te ama tanto.<br />

Eu concordo. Sei que ele ama. E não tive tempo suficiente para processar o que ele fez hoje.<br />

— Sinto muito termos emboscado você. — Ela parece sincera. Mas posso dizer que ela está feliz<br />

com a maneira como as coisas se <strong>de</strong>senrolaram. Eu também.<br />

— Ele ligou para você? — pergunto.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Na noite passada.<br />

Depois que lhe mostrei a minha caixa <strong>de</strong> segredos, ele usou a informação e a encontrou. Não<br />

consigo evitar, mas me sinto traída.<br />

— Po<strong>de</strong>mos vê-la novamente, um dia?<br />

Eu concordo. Agora que estive tão perto <strong>de</strong> Jacob, não acho que po<strong>de</strong>ria ficar distante. Era quase<br />

mais fácil não saber on<strong>de</strong> estava, o que estava fazendo, como se parecia, cheirava ou sorria.<br />

— Ele se parece com você — diz ela.<br />

— Ele se parece com o pai, também.<br />

— Você tem fotos <strong>de</strong>le? Adoraria que Jacob visse quando ele estiver pronto<br />

Olho para ela.<br />

— Ele sabe que outra pessoa <strong>de</strong>u à luz a ele?<br />

Ela coloca a mão em seu peito.<br />

— Ele sabe que ele cresceu em meu coração enquanto crescia na barriga <strong>de</strong> outra pessoa.<br />

Gosto disso. Gosto muito.<br />

— Quero que você tenha qualquer lugar que queira ter na vida <strong>de</strong>le. Po<strong>de</strong> ser apenas o da doce<br />

moça que encontramos no parque, um dia, ou a mulher que <strong>de</strong>u à luz a ele. Você escolhe.<br />

Eu concordo. Estou subitamente embargada pela emoção. Uma lágrima quente rola pelo meu<br />

rosto, e eu a afasto.<br />

— Estou grávida — falo.<br />

Suas sobrancelhas arqueiam.<br />

— Devo dar parabéns? — ela pergunta olhando para <strong>Paul</strong> e <strong>de</strong>pois para mim.<br />

— Não é <strong>de</strong>le. Me ofereci para ser barriga <strong>de</strong> aluguel para dois amigos.<br />

Seu olhar fica suave.<br />

— Então, talvez seja melhor esperar e <strong>de</strong>cidir o que dizer a ele mais tar<strong>de</strong>. Não quero que ele<br />

pense que eu simplesmente <strong>de</strong>sisto <strong>de</strong> todos os meus bebês. — Coloco a mão em meu ventre.<br />

— Quando vai parar <strong>de</strong> se torturar? — ela pergunta e apoia o queixo na palma da mão. —<br />

Fazemos o melhor que po<strong>de</strong>mos com o que temos.<br />

Aceno e fico <strong>de</strong> pé. Dou a volta na mesa e ela fica <strong>de</strong> pé na minha frente. Abro os braços e ela me<br />

abraça com força, sussurrando em meu ouvido.<br />

— Obrigada.<br />

Não sei se ela está me agra<strong>de</strong>cendo por ter me conhecido ou por eu ter dado o meu filho a ela, ou<br />

qualquer outra coisa que não sei o que é.<br />

— De nada — murmuro.<br />

— Jacob! — Ela chama por cima do meu ombro. — É hora <strong>de</strong> irmos.


Jacob corre e para na minha frente. Ele segura um pedaço <strong>de</strong> giz roxo.<br />

— Quer ficar com esse? — ele pergunta. — É a minha cor favorita.<br />

Seguro o giz e agacho.<br />

— Muito obrigada. — Quero <strong>de</strong>sesperadamente abraçá-lo, mas tenho medo.<br />

De repente, Jacob se joga sobre mim e seus braços envolvem meu pescoço. Caio suavemente<br />

para trás e nós rolamos no chão. Não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> rir quando ele me abraça. Envolvo meus<br />

braços ao redor <strong>de</strong>le e viro a cabeça para que eu possa sentir seu cabelo. Ele tem aquele cheiro <strong>de</strong><br />

menino que me lembra o ar livre e shampoo.<br />

Finalmente, ele começa a se contorcer e percebo que o segurei por muito tempo então, o solto.<br />

Mas não foi tempo suficiente, no entanto. Nem mesmo perto. Ele dá um passo para trás e envolve os<br />

braços ao redor das pernas <strong>de</strong> Jill.<br />

— Friday po<strong>de</strong> vir brincar comigo um dia? — ele pergunta.<br />

Jill assente.<br />

— Me ligue — respondo.<br />

Eles vão embora juntos, <strong>de</strong> mãos dadas, e eu os observo até que eles <strong>de</strong>saparecem <strong>de</strong> vista. <strong>Paul</strong><br />

vem em minha direção com a mão <strong>de</strong> Hayley na sua.<br />

— Está com raiva <strong>de</strong> mim? — ele pergunta erguendo a cabeça e olhando para mim como um<br />

cachorrinho curioso.<br />

— Não estou brava.<br />

Toco o alto da cabeça <strong>de</strong> Hayley e falo:<br />

— Hayley, nos vemos mais tar<strong>de</strong>, tá? Tenho que dar um recado e preciso correr.<br />

Ela balança a cabeça, e eu corro.<br />

— Friday — <strong>Paul</strong> me chama, mas não me viro. Mal consigo enxergar com as lágrimas que turvam<br />

meus olhos, mas estou <strong>de</strong>terminada a sair dali, antes que alguém as veja cair.


P A U L<br />

M<br />

erda. Estraguei tudo. Tudo parecia estar indo tão bem e ela parecia feliz pra caramba. Ver<br />

Friday com o filho era como observar chocolate ser <strong>de</strong>rrubado sobre sorvete. Quente e suave, eles<br />

simplesmente pertenciam um ao outro. Ver os dois juntos era mágico. Era o que tinha que ser. Meu<br />

único arrependimento era não tê-la avisado <strong>de</strong> que iriamos encontrá-los. Passo a mão pelo cabelo,<br />

frustrado.<br />

Hayley puxa minha mão.<br />

— On<strong>de</strong> Friday vai?<br />

O mais longe <strong>de</strong> mim que pu<strong>de</strong>r, imagino.<br />

— Ela disse que precisava dar um recado. Não sei.<br />

Ela pisca para mim, seus olhos azuis arregalados.<br />

— Ela vai para casa mais tar<strong>de</strong>?<br />

Não sei.<br />

— Acho que sim.<br />

— Por que ela está brava com você? — Ela é toda a inocência e admiração.<br />

— Por que você acha que ela está brava comigo? — Estreito meus olhos para ela.<br />

— Parecia que ela ia chorar.<br />

Porra. Parecia mesmo. Pego meu telefone e ligo para Matt.<br />

— Oi — eu digo.<br />

— Que porra você quer? — ele respon<strong>de</strong>, mas seu tom é brincalhão.<br />

— Hayley quer ir até aí tocar a barriga da Sky.<br />

— Oh — ele murmura, coloca a mão sobre o telefone e diz algo a alguém. — Traga a pequena. A<br />

barriga da Sky estará esperando.<br />

Espero um instante.<br />

— O que há <strong>de</strong> errado?<br />

— Acho que errei.<br />

— Friday?<br />

— Sim.<br />

— Seriamente?<br />

— Sim.<br />

— Quer que a gente fique com Hayley para que você possa conversar com a Friday?<br />

— Só quero subir com ela e segurar sua mão. — Esfrego a palma da mão pelo meu rosto.


— Quão longe você está?<br />

— Cinco minutos.<br />

Ele <strong>de</strong>sliga na minha cara. O<strong>de</strong>io quando ele faz isso. Ensinei boas maneiras a eles.<br />

Olho para Hayley.<br />

— Quer ver se os bebês <strong>de</strong> Matt e Sky estão chutando?<br />

Ela coloca as mãos nos quadris.<br />

— Você está <strong>de</strong>piando.<br />

Faço uma expressão confusa.<br />

— Estou o quê?<br />

— Depiando. Me fazendo pensar numa coisa quando quero pensar sobre outra. Como o porquê<br />

Friday estava chorando.<br />

Coço a cabeça.<br />

— Depiando?<br />

— Depiando — ela fala novamente e ergue as mãos como se estivesse bloqueando golpes <strong>de</strong><br />

karatê. — Depiando.<br />

— Ah! Disfarçando! — Dou uma risada. — Sim, estou disfarçando. Tudo bem por você?<br />

— Ainda vou po<strong>de</strong>r ver a barriga <strong>de</strong> Sky?<br />

Concordo com a cabeça, e ela sorri. Aparentemente, disfarçar é aceitável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os bebês <strong>de</strong><br />

Matt estejam envolvidos.<br />

Bato na porta da casa <strong>de</strong> Matt quando chegamos e uma menina vestida apenas com um tutu rosa e<br />

roxo a abre.<br />

— Oi — diz Mellie.<br />

Hayley olha para mim, revira os olhos, pega a mão <strong>de</strong> Mellie, e a leva para o quarto para se<br />

vestir.<br />

Matt está na cozinha fazendo o jantar.<br />

— On<strong>de</strong> está Sky — pergunto.<br />

— Tomando um banho. — Ele <strong>de</strong>speja uma massa quente em um coador.<br />

— Uma das suas filhas abriu a porta vestindo nada além <strong>de</strong> um tutu.<br />

Ele sorri.<br />

— Contanto que não seja Seth, não me importo. — Ele pensa sobre isso por um segundo e, em<br />

seguida, acrescenta: — E se fosse Seth, espero que ele escolha um com tons do outono, para<br />

combinar com seus olhos.<br />

— Cara, assim vou fazer você reapren<strong>de</strong>r a agir como homem.<br />

Ele ri.<br />

— Pelo menos, consegui transar.<br />

Fico corado e <strong>de</strong>svio o olhar.<br />

— Oh — ele murmura. — Então é isso.<br />

Pego a sala<strong>de</strong>ira e misturo a salada, empurrando as cenouras para o fundo porque o<strong>de</strong>io cenouras<br />

e não acho que elas <strong>de</strong>vam estar em uma salada.<br />

— Como foi? — ele pergunta baixinho. Ele não quer <strong>de</strong>talhes. Só quer ter certeza <strong>de</strong> que está<br />

tudo bem, e eu sei disso.<br />

— A terra tremeu. — Solto um gemido e jogo a cabeça para trás. — Prefeito pra caralho. —<br />

Fecho os olhos.


Ouço o barulho <strong>de</strong> passos e abro os olhos para ver Sky entrando na cozinha. Ela passa os braços<br />

ao redor <strong>de</strong> Matt e o abraça. Ela não consegue apertá-lo muito, com a barriga no caminho, mas é<br />

doce <strong>de</strong> se ver. Ele a beija por cima do ombro.<br />

— Ei, <strong>Paul</strong> — ela fala, passa por mim e passa a mão pelo meu cabelo. Então, ela me puxa<br />

levemente pelos fios e beija minha testa, o que me faz sorrir. — O que houve? — ela pergunta.<br />

Matt coloca a mão ao redor da boca e sussurra.<br />

— Ele e Friday treparam e <strong>de</strong>pois ele abriu a boca e fez algo estúpido. Mas ainda não me contou<br />

o que foi.<br />

Ela se senta e olha para mim.<br />

— Não trepei com ela — resmungo.<br />

Ela inclina a cabeça e sorri para mim.<br />

— Mas fez algo estúpido.<br />

— O que faz você pensar isso? — resmungo.<br />

— Porque você tem testículos. — Ela ergue as mãos, pega a tigela <strong>de</strong> salada e olha para ela. —<br />

O que aconteceu com todas as cenouras? — ela pergunta.<br />

Matt solta uma risada.<br />

— Então, o que você fez? — Sky pergunta enquanto remexe na tigela até encontrar uma cenoura e<br />

a joga na boca.<br />

— Eu me excedi — falo em voz baixa.<br />

Sky olha para Matt e arqueia uma sobrancelha. Ele lhe dá um aceno sutil.<br />

— É por causa do segredinho <strong>de</strong>la? — Ela aponta para a barriga.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Não me importo que ela esteja grávida. — Bem, eu me importo, porque queria que o bebê<br />

fosse meu. Mas esse é o único motivo.<br />

— Quem está grávida? — Seth pergunta quando entra na cozinha e pega uma garrafa <strong>de</strong> água.<br />

Matt sorri para ele.<br />

— Contanto que não seja você, não me importa.<br />

Seth revira os olhos e caminha <strong>de</strong> volta para a sala <strong>de</strong> estar.<br />

— Bem, se não foi sobre a barriga <strong>de</strong> aluguel... — Sky começa.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Trata-se <strong>de</strong> algo mais. Eu meio que enfiei meu nariz on<strong>de</strong> não <strong>de</strong>via. Mas ela realmente<br />

precisava que alguém fizesse isso.<br />

— Talvez, ela quisesse ter feito isso no seu próprio tempo — Sky diz suavemente.<br />

— Agora, ela está louca comigo e nem sei para on<strong>de</strong> ela foi.<br />

Matt aponta uma espátula para a porta.<br />

— Vá atrás <strong>de</strong>la e veja se po<strong>de</strong> consertar. Deixe Hayley brincando com a barriga <strong>de</strong> Sky por um<br />

tempo.<br />

Sky sorri e balança a cabeça.<br />

— As meninas gostam <strong>de</strong>ssa coisa <strong>de</strong> gêmeos.<br />

Levanto-me e empurro a ca<strong>de</strong>ira.<br />

— Não vou <strong>de</strong>morar — falo. — Tem certeza <strong>de</strong> que vocês não se importam? —Como se eles<br />

precisassem <strong>de</strong> outra criança.<br />

— O que é mais um? — Sky pergunta. Ela balança a mão ao redor. — Depois <strong>de</strong> um tempo, você


simplesmente para <strong>de</strong> contá-los. Alguém vai gritar quando quiserem algo. Ou quando alguém estiver<br />

sangrando.<br />

— A minha é a loira — falo. Ela vai tomar conta da sua multidão. — Por enquanto, pelo menos.<br />

— Oh, é bom saber. Talvez, possamos alimentar essa. — Sky olha para Matt, que assente. —<br />

Ficar <strong>de</strong> olho na <strong>de</strong> cabelo amarelo. Alimentá-la. Entendido. — Ela bate continência.<br />

Dou uma risada. Eles são fofos juntos.<br />

Beijo Hayley, mostro a barriga <strong>de</strong> Sky para ela, sinto alguns chutes duplos e, então, saio. Vou até<br />

o estúdio, mas Friday não está lá. No apartamento também não. Paro na porta, assustado ao sentir<br />

falta <strong>de</strong> algumas coisas no armário. Ela tinha maquiagem e outras coisas ali, mas agora não há nada.<br />

Vou até o armário e abro a porta. Sua mala sumiu. Bato contra a pare<strong>de</strong>, sentindo como se tivesse<br />

levado um chute no estômago.<br />

Ela se foi.<br />

Ligo para todos os meus irmãos, mas ninguém a viu. Ligo para as namoradas e esposas, mas<br />

ninguém sabe <strong>de</strong>la. Ligo para Garrett e Cody, que também não sabem <strong>de</strong>la, mas que agora estão<br />

preocupados. Assim como meus irmãos. Nos organizamos para procurá-la pela cida<strong>de</strong>, cada um indo<br />

para um lado. Mas, tenho certeza <strong>de</strong> uma coisa. Ela não vai reaparecer até que queira ser encontrada.<br />

Não tenho dúvidas disso.


F R I D A Y<br />

A<br />

rrasto minha mala até o cemitério. Sei que é estranho e não sei para on<strong>de</strong> vou <strong>de</strong>pois daqui, mas<br />

não podia esperar um minuto para vir. Sei que ele está aqui, mas não sei on<strong>de</strong>. Preciso parar na<br />

administração, que é um pequeno edifício cercado por flores. Abro a porta e entro. É legal lá <strong>de</strong>ntro.<br />

A moça olha para minha mala e, então, para mim.<br />

— Sinto muito, mas você não po<strong>de</strong> se mudar para cá se ainda está respirando e, <strong>de</strong>finitivamente,<br />

você está — ela fala, mascando o chiclete e eu gosto <strong>de</strong>la imediatamente.<br />

— Preciso encontrar uma sepultura, mas não sei ao certo como. — Ando <strong>de</strong> um lado para o outro,<br />

sem conseguir ficar parada no lugar.<br />

Ela vai para o computador.<br />

— Você tem um nome?<br />

Concordo com um aceno. O nome está ali, bem na ponta da minha língua.<br />

— Po<strong>de</strong> me dizer?<br />

— O nome <strong>de</strong>le é Travis Conway. — Essa é a primeira vez que falo seu nome em muito tempo.<br />

— Você é parente?<br />

— Isso importa?<br />

Ela sorri.<br />

— Não, só estava sendo intrometida.<br />

Ela anota algo e caminha até a mim. Pegando um mapa, ela <strong>de</strong>senha linhas e setas ao redor do<br />

cemitério para que eu possa encontrar o local.<br />

— Se tiver qualquer problema, é só me avisar.<br />

— Obrigada.<br />

— Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar aqui, se quiser. — Ela olha para a minha mala.<br />

Abro-a e pego a minha caixa <strong>de</strong> sapatos.<br />

— Tem certeza <strong>de</strong> que você não se importa?<br />

Ela a puxa para atrás da sua mesa e sinto que vai ficar em segurança. Saio do escritório com a<br />

caixa <strong>de</strong> sapatos <strong>de</strong>baixo do braço e o mapa na outra mão. Abro-o e sigo as setas. É uma caminhada<br />

bem longa. Percebo que ele teve um funeral financiado pelo Estado, então está em uma área lotada.<br />

Ele não tem sequer uma lápi<strong>de</strong>. Tem um pequeno pedaço <strong>de</strong> plástico no chão, com seu nome.<br />

Ando mais um pouco e me sento ao lado da sua pequena placa <strong>de</strong> plástico.<br />

— Ei, Trav — falo suavemente. O vento sopra, levanta meu cabelo e eu fecho os olhos. Ele fazia<br />

algo assim nos bons tempos: vinha por trás <strong>de</strong> mim, levantava meus cabelos e beijava minha nuca.


Era doce, gentil e me fazia sentir amada.<br />

É fácil pensar que ele está me <strong>de</strong>ixando saber que ainda está aqui, mas provavelmente, é apenas o<br />

vento. Sei disso. É a necessida<strong>de</strong> do ser humano <strong>de</strong> conforto. Quero pensar que ele está lá e seguro.<br />

E é o que faço.<br />

— Trouxe algo para te mostrar — falo. Abro z caixa e tiro as fotos que olhei tão carinhosamente<br />

através dos anos. Meu coração se aperta enquanto passo por elas, olhando-as como se nunca tivesse<br />

visto antes. — Ele é tão bonito — sussurro e minha voz falha. — Fizemos algo tão certo, Trav. —<br />

Olho para o céu e espero. Então, o vento ergue meu cabelo <strong>de</strong> novo e, <strong>de</strong>sta vez, os pelos em meus<br />

braços se arrepiam.<br />

— Eu o conheci hoje. Nem sabia que ia acontecer. Fui para o parque com meu namorado e ele<br />

havia orquestrado o encontro com o nosso filho. O nome do meu namorado é <strong>Paul</strong> e ele é fabuloso.<br />

Ele tem uma filha e uma família que ele ama mais do que qualquer coisa. — Suspiro. — Bem,<br />

conheci nosso filho hoje. E ele se parece muito com você. Posso ver o seu sorriso nele e seu senso<br />

<strong>de</strong> humor. Ele bufa quando ri, do jeito que você fazia.<br />

Passo meu <strong>de</strong>do pela placa <strong>de</strong> plástico, <strong>de</strong>sejando que não fosse assim.<br />

— Me <strong>de</strong>sculpe por nunca ter vindo aqui, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que você morreu. Li a respeito no jornal. Não sei<br />

se você sentiu dor ou simplesmente, puf, se foi. Mas acho que foi bom. Dizem que é melhor ter<br />

certeza do que não saber, mas acho que prefiro assim. Prefiro acreditar que você está em paz. Isso<br />

faz <strong>de</strong> mim uma pessoa ingênua? Provavelmente sim. Mas não me importo. Só o fato <strong>de</strong> você não<br />

estar aqui já é uma tragédia.<br />

O vento se agita novamente e ergue meus cabelos.<br />

Gesticulo e fungo.<br />

— Eu entendo! — falo. — Você está aqui! — Meus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas, e elas<br />

finalmente transbordam. De um jeito que mal me <strong>de</strong>ixa respirar, durando mais tempo do que <strong>de</strong>veria.<br />

Mas não consigo parar. É muito difícil.<br />

Quando minhas lágrimas diminuem, toco a pequena placa e penso em tudo que ele precisa saber.<br />

— O nome do nosso filho é Jacob e ele tem ótimos pais. O nome <strong>de</strong>la é Jill, mas não sei o nome<br />

do pai <strong>de</strong>le. Ele é bastante talentoso nas artes, pratica esportes e gosta <strong>de</strong> música — Aponto para a<br />

testa como se ele pu<strong>de</strong>sse me ver. — E tem o seu topete! Oh meu Deus, era tão adorável. Você não<br />

tem i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como ele é bonito.<br />

Espero alguns instantes, observando ao redor.<br />

— Só queria lhe dizer que ele está bem. É isso. Achei que você merecia saber. Não importa o<br />

que aconteceu com a gente, ele era seu também, e você não po<strong>de</strong> saber nada sobre ele, porque <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> um tempo, não encontrei mais você. — Aponto para o meu peito. — Fiz o melhor que pu<strong>de</strong>.<br />

Realmente fiz. Fiz tudo o que sabia fazer! Queria que ele fosse cuidado. Nem sabia se teria o que<br />

comer no dia seguinte, e não podia fazer isso com ele. Sei que você po<strong>de</strong> não gostar da minha<br />

escolha, mas tive que fazer uma, e uma que fosse melhor para ele. Eu o queria. Mas queria mais que<br />

ele estivesse seguro. Isso faz sentido? — Falo como se ele estivesse aqui comigo. Deixo o orgulho<br />

<strong>de</strong> lado e falo tudo. Acho que Travis precisa ouvir.<br />

— Eu o amo — falo. — E sei que você o ama também. Eles querem que eu volte a vê-lo e vou<br />

fazer isso. Eles estão mesmo dispostos a dizer-lhe quem sou e <strong>de</strong>ixar que ele me conheça como a<br />

mulher que <strong>de</strong>u à luz a ele. Ainda não consigo acreditar nessa parte. Eles são boas pessoas. E ele é<br />

feliz.


Paro, porque não sei mais o que dizer.<br />

— Ele é feliz, Travis. Feliz e saudável. E fizemos algo maravilhoso. Ele vai continuar a fazer<br />

coisas brilhantes. E eu só queria te dizer isso. Isso é tudo. — Eu me levanto e bato a poeira da calça<br />

jeans.<br />

Olho para baixo, on<strong>de</strong> Travis <strong>de</strong>scansa, e uma sensação <strong>de</strong> paz me envolve. Meus cabelos<br />

levantam novamente e, <strong>de</strong>sta vez, juro que sinto lábios tocarem na minha nuca. Meus pelos se eriçam<br />

e um arrepio envolve minha coluna, mas é uma boa sensação.<br />

— Obrigada — sussurro ao vento.<br />

Volto a administração e a moça atrás da mesa pergunta:<br />

— Encontrou o que estava procurando?<br />

Concordo. Achei isso e muito mais.<br />

— O que seria necessário para fazer uma lápi<strong>de</strong> para ele? — pergunto.<br />

Ela masca seu chiclete.<br />

— Pedra apenas ou bronze?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Algo bom.<br />

— Cerca <strong>de</strong> dois mil. — Ela olha atentamente para mim. Pego minha bolsa e tiro o talão <strong>de</strong><br />

cheques. Ganhei cinco mil. Além disso, Jacob po<strong>de</strong> querer vir aqui um dia e não quero que ele veja o<br />

túmulo do pai <strong>de</strong>scuidado. Além disso, Travis merece mais.<br />

Ela empurra um formulário para mim.<br />

— Posso preencher as datas. Basta colocar suas informações e o que você quer escrito.<br />

Penso sobre isso por um instante e escrevo as palavras: Pai e amigo amado. Porque é o que ele<br />

era. Amado. Por mim, principalmente. Ele era valioso. Todos somos apenas por existirmos, não é?<br />

Gosto <strong>de</strong> acreditar que sim.<br />

Preencho o cheque e entrego o formulário.<br />

— Por favor, po<strong>de</strong> me avisar quando estiver pronto?<br />

Ela balança a cabeça e eu puxo a mala para fora.<br />

— Friday? — Ouço alguém chamar. Olho para cima e vejo Henry saindo pela mesma porta que<br />

eu.<br />

Henry é um amigo dos <strong>Reed</strong>. Ele era o porteiro do prédio <strong>de</strong> Emily e sua esposa teve um aci<strong>de</strong>nte<br />

vascular cerebral. Pouco tempo <strong>de</strong>pois, ele conheceu Logan e Emily. Todos os rapazes <strong>Reed</strong><br />

ajudaram com a mudança para que ele pu<strong>de</strong>sse trazer sua esposa da casa <strong>de</strong> repouso <strong>de</strong> volta para<br />

casa. Ela morreu no ano passado e ele ficou sozinho. Ele tem filhos e netos, e sua neta, Faith, está<br />

esperando seu primeiro bisneto. Apesar disso tudo, Henry nunca vacilou. Ele sofria, mas sua fé nunca<br />

falhou.<br />

— Henry — falo e ergo meus braços para abraçá-lo, porque é isso que faço sempre que o vejo.<br />

— O que você está fazendo aqui?<br />

— Estava visitando minha Nan — ele fala e olha para a minha mala com um olhar curioso. — E<br />

você?<br />

— Negócio inacabado — eu digo.<br />

Ele pega a alça da minha mala e começa a puxar pela rua.<br />

— O que está fazendo, Henry? — pergunto. Corro para alcançá-lo.<br />

Ele olha para mim por cima do ombro.


— Parece que você tem uma boa história para contar e eu amo uma boa história.<br />

— Mas...<br />

— Sou um homem velho e solitário — diz ele. — Tenha pena <strong>de</strong> mim.<br />

— Henry — eu protesto.<br />

— Tenho uma casa vazia e muito tempo. — Ele coloca o braço livre em volta dos meus ombros e<br />

me puxa para perto <strong>de</strong>le. — Faça-me feliz e venha tomar chá comigo.<br />

— Só chá? — pergunto.<br />

— Oh, o chá é para agora cedo. À noite, teremos pipoca e um filme. — Seus olhos brilham. —<br />

Vou <strong>de</strong>ixá-la se sentar na ca<strong>de</strong>ira massageadora que Faith me <strong>de</strong>u no Natal.<br />

Arqueio a sobrancelha.<br />

— Ah, bem, vou me sentar nela. — Ele balança a mão como se estivesse <strong>de</strong>scartando a i<strong>de</strong>ia.<br />

— Henry — digo suavemente. — Posso cuidar <strong>de</strong> mim mesma.<br />

— Nunca duvi<strong>de</strong>i disso — diz ele com firmeza. — Sou um homem velho e solitário. Venha me<br />

fazer companhia por um dia ou dois.<br />

— Tem certeza? — Observo seu rosto para ter certeza <strong>de</strong> que ele está 100% certo <strong>de</strong> que quer<br />

que eu vá com ele. E sua expressão <strong>de</strong>monstra certeza.<br />

— Quero ouvir tudo — ele fala. — Adoro uma boa história <strong>de</strong> amor.<br />

Dou uma risada.<br />

— Que tal uma história <strong>de</strong> amor ruim?<br />

Ele parece triste <strong>de</strong> repente.<br />

— Isso não existe — ele fala. Em seguida, sorri. — Vou <strong>de</strong>ixar você escolher o filme.<br />

Vou com Henry, porque não há nenhum outro lugar no mundo on<strong>de</strong> eu preferiria estar agora.<br />

De repente, ele se vira para mim e pergunta:<br />

— Preciso bater na cabeça do <strong>Paul</strong>? Ele não fez nada estúpido, não é?<br />

Eu rio.<br />

— Não. Eu só precisava <strong>de</strong> algum tempo.<br />

— O tempo é a única coisa que não po<strong>de</strong>mos fazer crescer — ele fala, parecendo melancólico.<br />

— Mantenha isso em mente.<br />

Eu vou. Vou mesmo.


P A U L<br />

É<br />

meio da noite, e não consigo dormir. Friday se foi há cinco dias. Claro, sei on<strong>de</strong> ela está. Henry<br />

me ligou. Mas também me avisou que iria bater minha cabeça com um taco <strong>de</strong> beisebol se eu ousasse<br />

bater em sua porta. Ele é um velho doce, mas acho que ele estava falando sério.<br />

Sei que Friday falou com Emily e Reagan, e que almoçou com Matt, um dia <strong>de</strong>sta semana. Mas<br />

nenhum <strong>de</strong>les quis me dizer o que aconteceu ou o que foi dito. São todos traidores.<br />

Friday nem mesmo foi trabalhar. Não tenho a menor i<strong>de</strong>ia do que ela está fazendo, mas não está<br />

falando comigo. Eu mereço. Sei que sim. Deveria ter falado com ela em vez <strong>de</strong> tirar a escolha <strong>de</strong><br />

suas mãos. Ela é adulta. Eu <strong>de</strong>veria ter esperado que ela dissesse que estava pronta. Ela se abriu<br />

comigo sobre seu filho, a porra do meu coração disparou e eu sabia que ela tinha um problema.<br />

Pensei que podia resolvê-lo. Mas <strong>de</strong>veria tê-la <strong>de</strong>ixado resolver sozinha. Ela tem todo o direito <strong>de</strong><br />

estar brava. Só espero que ela se acalme em breve, porque sinto a falta <strong>de</strong>la como louco.<br />

Não tê-la no estúdio diariamente me faz sentir como se alguém tivesse roubado meu coração. Ela<br />

não está ao redor, encantando as pessoas, nem <strong>de</strong>senhando alguma coisa bonita que faz com que os<br />

meus clientes sorriam.<br />

Ela está sumida.<br />

Pego o telefone e envio uma mensagem <strong>de</strong> texto a ela.<br />

Eu: Hayley tem uma apresentação amanhã. Ela quer saber se você virá.<br />

Espero com os <strong>de</strong>dos pairando sobre o aparelho.<br />

Nada. Não recebo nada.<br />

Coloco o celular sobre a cama e soco o travesseiro, fazendo com que ele vire uma bola em baixo<br />

da minha cabeça.<br />

De repente, o telefone faz um barulho e eu o pego como se fosse um viciado em busca <strong>de</strong> mais<br />

uma dose;<br />

Ela: Não use Hayley como isca.<br />

Eu: Vou usar tudo o que pu<strong>de</strong>r.<br />

Silêncio. Nenhuma resposta.<br />

Eu: Por favor, me perdoe. Volte para casa.<br />

Ela: Não acho que seja uma boa i<strong>de</strong>ia.<br />

Eu: Acho que é a melhor i<strong>de</strong>ia que já tive.<br />

Ela: Que horas será a apresentação?<br />

Sim! Graças a Deus!


Eu: Sete. Você virá?<br />

Ela: Vou. Mas só porque Hayley me pediu.<br />

Respiro fundo. Sinto como se a corda ao redor do meu peito tivesse afrouxado.<br />

Eu: Aceito tudo que você quiser me dar.<br />

Ela não envia mais mensagens e minhas pálpebras estão ficando pesadas, então envio uma última<br />

mensagem.<br />

Eu: Sempre cui<strong>de</strong>i das pessoas, por toda minha vida. Meu trabalho era resolver os problemas<br />

<strong>de</strong> todos e me certificar <strong>de</strong> que tudo estava bem. Você não era minha responsabilida<strong>de</strong> e eu<br />

<strong>de</strong>veria ter percebido isso. Quero que você seja minha igual e não alguém que tenho que cuidar.<br />

Prometo não fazer isso novamente. E quando eu faço uma promessa, eu cumpro. Vou falar com<br />

você e ouvir você falar. Nem sempre farei o que você quer. Mas prometo não tomar <strong>de</strong>cisões por<br />

você novamente.<br />

Ela não vai respon<strong>de</strong>r. Soube disso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes <strong>de</strong> enviar a mensagem. Coloco o telefone em<br />

baixo do meu travesseiro, só por garantia, e fecho os olhos. Sonho com seus lábios vermelhos e<br />

aquele sorriso perfeito. E, pela primeira vez em toda a semana, não acordo ávido por algo que não<br />

tenho.


F R I D A Y<br />

H<br />

enry mantém horários estranhos. São duas da manhã e ele lá em baixo, trabalhando em sua loja<br />

<strong>de</strong> relógios. Faith ficou aqui até a meia-noite, trabalhando com ele, até que seu marido, Daniel, veio<br />

buscá-la.<br />

Desço as escadas e vou até o andar inferior. Henry espalhou as partes <strong>de</strong> um relógio, e as<br />

pequenas engrenagens estão sobre a mesa na frente <strong>de</strong>le.<br />

Ele sorri para mim e balança a cabeça.<br />

— Minha Nan costumava <strong>de</strong>scer as escadas <strong>de</strong>sse jeito. Ela me trazia café e lanche, por que, às<br />

vezes, ficava tão absorto no trabalho, que me esquecia <strong>de</strong> comer.<br />

— No que você está trabalhando? — pergunto, entregando-lhe uma xícara <strong>de</strong> café.<br />

Ele toma um gole e sorri para mim por cima da borda.<br />

— Obrigado — ele fala. Seus olhos brilham. Ele faz um gesto para o que está na frente <strong>de</strong>le. —<br />

Este relógio não está cooperando — diz ele. — É um cretino teimoso, mas me recuso a <strong>de</strong>ixá-lo<br />

ganhar. — Ele ri, pega uma engrenagem pequena e mostra para mim. — Está vendo isso? Às vezes,<br />

são as pequenas coisas que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma enorme quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sintomas. Você tem que<br />

cavar muito fundo para encontrá-la, e quase precisa <strong>de</strong>smantelar a coisa toda. Mas, se estiver<br />

disposto a cavar ainda mais, quase sempre chega lá.<br />

Ele começa a montar o relógio novamente, usando lentes <strong>de</strong> aumento que fazem com que seus<br />

olhos pareçam enormes.<br />

Sento-me ao lado <strong>de</strong>le e coloco os pés para cima, girando na ca<strong>de</strong>ira em um círculo como uma<br />

criança. Ele balança a cabeça.<br />

— Faith costumava fazer isso quando era pequena. Ela ainda faz, quando está <strong>de</strong> mal humor. É<br />

geralmente um sinal <strong>de</strong> que ela quer falar.<br />

Me inclino para a frente, apoio o cotovelo no balcão e coloco o queixo sobre a palma da mão<br />

virada para cima.<br />

— Do que você mais sente falta, Henry? — pergunto suavemente.<br />

Ele nem sequer olhar para cima.<br />

— Sinto falta do barulho — diz ele. — Minha Nan costumava tagarelar. Ela falava o tempo todo.<br />

A mulher nunca se calava. Eu costumava beijá-la para que ela se calasse por um instante. — Ele<br />

respira fundo. — Sim. Sinto falta do barulho. — Ele olha para mim e sorri. — Tem sido muito bom<br />

ter você aqui esta semana — ele fala. — Ter barulho em casa é uma coisa boa.<br />

— Obrigada por me escon<strong>de</strong>r.


Ele bufa.<br />

— Deixe-me adivinhar. Está na hora <strong>de</strong> você voltar para a sua família.<br />

Um sorriso surge no canto dos meus lábios.<br />

— <strong>Paul</strong> me mandou uma mensagem.<br />

Ele franze a testa.<br />

— Ah, é? — Ele sorri. — O que ele disse?<br />

— Ele praticamente disse que é um idiota e que não agirá assim <strong>de</strong> novo.<br />

Henry ri.<br />

Minha voz diminui <strong>de</strong> tom.<br />

— Ele disse que tem cuidado das pessoas por toda a sua vida e que sempre foi sua<br />

responsabilida<strong>de</strong> resolver os problemas <strong>de</strong> todos. É um hábito difícil <strong>de</strong> quebrar. — Giro minha<br />

ca<strong>de</strong>ira novamente. — O que você acha?<br />

— Acho que ele te ama. — Ele olha para cima e encolhe os ombros. — É o que acho. Ele te ama.<br />

Você o ama. Isso é óbvio. O que mais você precisa saber?<br />

Respiro fundo e giro.<br />

— Que ele não vai me <strong>de</strong>ixar? Nem me trair? Que jamais vai me <strong>de</strong>ixar sozinha? Que vai me<br />

amar até o fim dos tempos?<br />

Paro <strong>de</strong> girar, mas não consigo abrir a boca, porque tudo isso parece estúpido, até mesmo para<br />

mim.<br />

Henry coloca suas ferramentas para baixo.<br />

— Vou te dizer uma coisa. Eu escolheria passar cinco minutos com a minha Nan a nunca ter<br />

ficado com ela. Se eu tivesse cinco maravilhosos minutos e <strong>de</strong>pois vivesse num inferno, eu me<br />

lembraria dos cinco minutos o tempo todo, e isso me ajudaria a enfrentar as dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Observo-o. Ele não parece triste.<br />

— As pessoas guardam as coisas ruins, mas ouça bem moça bonita, quando você estiver velha<br />

como eu, você apren<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ixar essa merda toda no fundo da mente e revive os bons momentos. São<br />

eles que ficam na sua cabeça. Que te dão força. E te mantém <strong>de</strong> pé.<br />

— Tenho sido estúpida, não?<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Você tem sido cuidadosa.<br />

Abri minha alma para Henry naquela primeira noite que ele me trouxe para casa. Não assistimos<br />

ao filme. Nos sentamos por horas, e ele ouviu toda a minha história. Disse a ele coisas que nunca<br />

disse a ninguém. Disse a ele coisas que eu nem sabia que estavam tão profundamente enterrados em<br />

mim, até que elas pularam da minha boca.<br />

— <strong>Paul</strong> cria os garotos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ele era um — Henry fala. — Ele cresceu rápido. Mas, por<br />

<strong>de</strong>ntro, ele ainda é um jovem tolo, assim como todos nós somos. — Ele sorri. — E você po<strong>de</strong> dizer a<br />

ele que eu disse isso.<br />

— Ele nem sequer tentou vir aqui me ver.<br />

O rosto <strong>de</strong> Henry cora.<br />

— Isso po<strong>de</strong> ser por minha culpa.<br />

— O que você quer dizer?<br />

— Posso tê-lo ameaçado com um taco <strong>de</strong> beisebol. — Ele coça a cabeça careca.<br />

— Henry — protesto, mas gosto do fato <strong>de</strong> que ele está cuidando <strong>de</strong> mim. Gosto muito e isso me


<strong>de</strong>ixa feliz.<br />

— Você precisava <strong>de</strong> tempo.<br />

— Acho que está na hora <strong>de</strong> voltar para casa. O que você acha?<br />

— Acho que é a melhor i<strong>de</strong>ia que ouvi durante toda a semana. — Ele pega a beira da minha<br />

ca<strong>de</strong>ira e me faz girar, me fazendo rir.<br />

— Quer ir comigo a apresentação <strong>de</strong> Hayley?<br />

Ele esfrega as mãos.<br />

— Mal posso esperar. Adoro ver as meninas pulando naqueles sapatos estranhos e com aquelas<br />

saias fofas. O que po<strong>de</strong>ria ser melhor?<br />

Levanto-me e pressiono um beijo na bochecha <strong>de</strong> Henry.<br />

— Gostaria que você fosse meu avô, Henry — digo a ele.<br />

— Algum dia, quando você se casar, posso levá-la até o altar. Então, guar<strong>de</strong> meu lugar.<br />

— É isso aí, Henry.<br />

Subo e arrumo minhas coisas. Está na hora <strong>de</strong> ir para casa.<br />

HENRY E EU paramos on<strong>de</strong> o recital está sendo realizado. Meus nervos estão à flor da pele quando<br />

toco a campainha. Henry coloca a mão no meu ombro. — Fica fria — ele fala e sorri. — Falei<br />

certo? Aprendi com Pete.<br />

Balanço a cabeça.<br />

— Você não <strong>de</strong>ve repetir o que Pete diz, Henry. Não é saudável. — Rio da sua expressão<br />

aborrecida.<br />

A porta se abre, e Jacob está na porta. Sua mãe está bem atrás <strong>de</strong>le. Jacob vê Henry e dá alguns<br />

passos para trás, até a perna <strong>de</strong> Jill, e envolve seus braços ao redor <strong>de</strong>la, escon<strong>de</strong>ndo o rosto.<br />

Henry enfia a mão no bolso da camisa e tira um doce. Ele esten<strong>de</strong> para Jacob. Ele olha para a<br />

mãe e ela assente. Ele esten<strong>de</strong> a mão, pega o doce e Henry faz um amigo novo.<br />

— Obrigada por me <strong>de</strong>ixar levá-lo — eu digo a Jill.<br />

— Obrigada por ligar. Fiquei preocupada, achando que nunca mais a veria <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sábado. —<br />

Ela solta o ar pesadamente.<br />

— Po<strong>de</strong> me ligar, se quiser, tá? — falo. — Prometo aten<strong>de</strong>r o telefone.<br />

— Tenho um encontro — ela sussurra <strong>de</strong> forma dramática. — Duvido, sinceramente, que vou<br />

ligar para você. Mas po<strong>de</strong> me ligar se precisar <strong>de</strong> mim.<br />

Estendo a mão para Jacob, e ele encaixa a sua minúscula na minha. Fecho os olhos e respiro<br />

fundo. Ele ainda não sabe quem eu sou. Ele acha que sou apenas uma amiga <strong>de</strong> Hayley e ele quer ir<br />

comigo assisti-la dançar. Ele não tem i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que cresceu <strong>de</strong>ntro do meu corpo, que é uma parte <strong>de</strong><br />

mim. Mas estou mais perto <strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> contar.<br />

Seguro a bolsa que Jill me dá e ela se abaixa e beija Jacob na testa. Ela permanece sobre ele e<br />

imagino que ela esteja sentindo aquele cheiro <strong>de</strong> menino, assim como eu fiz no parque.<br />

Então, ela se afasta, acena para nós e saímos <strong>de</strong> mãos dadas. Meu filho tem sua mão na minha e<br />

estamos andando na rua, juntos, como duas pessoas qualquer, andando pela porra <strong>de</strong> uma rua.<br />

Henry faz uns passos <strong>de</strong> dança na calçada, ao nosso lado, e ensina a Jacob no caminho até o<br />

local. Ao chegarmos lá, eles já se tornaram gran<strong>de</strong>s amigos, dançando lado a lado. Jacob ri e Henry


gargalhada, e me sinto tão feliz que po<strong>de</strong>ria estourar.<br />

Então, vejo <strong>Paul</strong>.


P A U L<br />

O<br />

lho na direção do público através da cortina no palco.<br />

— Ela já chegou? — Matt pergunta por cima do meu ombro esquerdo. Ele apoia o queixo e olha<br />

para fora, com o rosto muito perto do meu.<br />

— Sai do meu ombro — reclamo.<br />

Ele dá um passo para trás.<br />

— Acho que isso é um não — ele fala. — Ela disse que viria, certo?<br />

Eu concordo.<br />

— Por Hayley. Não por mim. Porque eu a fiz se sentir culpada.<br />

— Ei, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que funcione — ele fala e sorri.<br />

— Vai a merda — falo.<br />

Hayley corre até a mim e puxa a perna da minha calça. Ela me esten<strong>de</strong> o arco <strong>de</strong> cabelo.<br />

— Meu arco caiu.<br />

— On<strong>de</strong> está sua mãe? — pergunto.<br />

Ela aponta para o público e vejo que Kelly está sentada com seu noivo. Ela olha ansiosamente<br />

em direção ao palco, batendo o pé.<br />

Coloco o cabelo <strong>de</strong> Hayley para trás e encaixo o arco no lugar. Queria que Kelly ficasse com ela,<br />

para que eu pu<strong>de</strong>sse continuar procurando por Friday. Mas, rapidamente percebo o quanto isso é<br />

egoísta e faço o que preciso. Arrumo o cabelo <strong>de</strong> Hayley <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela era bebê e continuo<br />

arrumando agora, especialmente quando algo dá errado. Fodam-se os estereótipos <strong>de</strong> género. Papai<br />

manda ver.<br />

Sei que pego no pé <strong>de</strong> Matt sobre a coisa da masculinida<strong>de</strong>, mas a verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>finição disso é<br />

fazer o que precisa na hora certa. Não importa se é pren<strong>de</strong>r o cabelo <strong>de</strong> uma menina, trocar o óleo do<br />

carro ou lavar a louça. Se precisa fazer, tem que fazer. Isso é masculinida<strong>de</strong>. É incutir em nossas<br />

filhas que os pais po<strong>de</strong>m e vão fazer tudo o que precisa ser feito.<br />

Quero participar <strong>de</strong> tudo no que diz respeito a minha filha. Quero ser a referência <strong>de</strong> homem para<br />

ela. Vou tratá-la como uma princesa, porque se não fizer isso, ela po<strong>de</strong> se pren<strong>de</strong>r ao primeiro cara<br />

que a tratar bem. Então, sim, abro as portas do carro, a levo para encontros e compro flores para ela<br />

sem motivo. Porque quero que ela saiba que é digna <strong>de</strong> todas essas coisas. E arrumo seu cabelo.<br />

Dou um tapinha em seu traseiro e ela faz uma carranca para mim, mas logo sorri e corre <strong>de</strong> volta<br />

para suas amigas. Todas estão usando meia calça, tutu e collants cor <strong>de</strong> rosa. Elas usam arco cor <strong>de</strong><br />

rosa no cabelo e parece um gran<strong>de</strong> elefante rosa na sala. Um gran<strong>de</strong> elefante mesmo, já que a sala


está lotada. Elas estão animadas, girando ao redor. Muito rosa em movimento.<br />

Ouço a professora <strong>de</strong> dança começar seu primeiro discurso. Matt olha para mim e conduz suas<br />

duas meninas — que também estão vestidas <strong>de</strong> rosa — na direção do grupo on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam estar.<br />

Abro novamente uma beirada da cortina e olho para fora. Eu a vejo e a droga do meu coração para.<br />

Friday está sentada com Reagan e Emily. Ao lado <strong>de</strong>la, está Henry. Do seu outro lado... quem é<br />

aquele? Ah, meu Deus. Aquele é Jacob. Meu coração acelera e me sinto quase tonto. Ela trouxe seu<br />

filho. Trouxe Jacob. Isso <strong>de</strong>ve significar que as coisas estão indo bem.<br />

— É ele? — Matt pergunta do lado direita do meu ombro. Seu queixo quase <strong>de</strong>scansando na<br />

minha camisa, e eu não tento afastá-lo.<br />

— Você sabe? — pergunto.<br />

Ele balança a cabeça.<br />

— Sempre soube.<br />

— O quê? — A respiração que eu estava segurando escapa.<br />

— Friday e eu costumávamos passar muito tempo sozinhos no estúdio. — Ele dá <strong>de</strong> ombros. —<br />

Nós conversávamos.<br />

— Sobre isso? — Não posso acreditar que ela lhe disse.<br />

— Quando Pete fez a tatuagem <strong>de</strong>la — ele fala e olha para mim timidamente —, nós dois<br />

sabíamos. Ela não contou <strong>de</strong>talhes, mas sabíamos que ela teve um filho.<br />

— Por que diabos você não me contou? — Me sinto como o marido traído, não consigo evitar.<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— O segredo não era meu.<br />

Queria que alguém tivesse me dito.<br />

— Você estava tão ocupado tentando entrar nas calças <strong>de</strong>la, que não a conhecia. Não a Friday<br />

verda<strong>de</strong>ira.<br />

— Isso não é verda<strong>de</strong>.<br />

— É.<br />

— Não, não é.<br />

— É. Verda<strong>de</strong>. Sim. — Ele olha para mim. — Você viu a garota glamorosa que todo mundo vê.<br />

— Há muito mais nela do que apenas isso.<br />

— Você estava transando com Kelly, então não tinha espaço para ver algo mais nela.<br />

Ele tem razão. Passo a mão no rosto. Ele está certíssimo.<br />

— Certo — respondo.<br />

— Ele é bonito — Matt fala, balançando a cabeça na direção da plateia. — O filho <strong>de</strong>la. Se<br />

parece com ela.<br />

— Ele é muito parecido com ela. Em muitos aspectos.<br />

— Ele é a razão pela qual ela parou <strong>de</strong> falar com você? — pergunta Matt.<br />

— Mais ou menos. — Eu coço a cabeça.<br />

— Acha que ela vai falar com você hoje?<br />

— Não vou lhe dar escolha.<br />

Ele aperta meu ombro.<br />

— Bom. — Ele me olha mim por um minuto, piscando aqueles olhos azuis para mim. — O que<br />

vale a pena não se consegue sem lutar.<br />

Finjo dar um soco em seu ombro.


— Está na hora — falo.<br />

Ele sorri.<br />

A música começa, e a cortina se abre. Matt e eu saímos do caminho. Pete, Sam, e Logan estão<br />

ajudando também. Estamos esperando no palco para que possamos montar o cenário a cada<br />

apresentação. Seth é o responsável pela música. Ele está <strong>de</strong> pé, com fones no ouvido e a mesa <strong>de</strong><br />

som na sua frente.<br />

Matt observa a apresentação <strong>de</strong> perto, porque Mellie está neste grupo. Ela dança, mas parece<br />

como uma corrida no parque.<br />

— Acho que a minha filha é a melhor do grupo — ele fala sorrindo tanto, que posso ver todos os<br />

<strong>de</strong>ntes em sua boca.<br />

— Até que outra das suas crianças esteja lá. Aí, será a melhor também. — Bato em seu ombro.<br />

— Com certeza — ele fala.<br />

Matt é o melhor pai que já vi. Muito melhor do que o nosso foi. O nosso não conseguia sequer<br />

diferenciar Pete <strong>de</strong> Sam.<br />

— On<strong>de</strong> você apren<strong>de</strong>u a ser um pai tão incrível?<br />

Seu olhar encontra o meu e ele não <strong>de</strong>svia.<br />

— Com você, idiota.


F R I D A Y<br />

S<br />

ento-me com Reagan e Emily. Kelly e seu namorado estão bem na nossa frente. Ela me apresenta<br />

e eu gosto <strong>de</strong>le. Gosto muito. Particularmente, não gosto do fato <strong>de</strong> que ela transava com ele e <strong>Paul</strong><br />

ao mesmo tempo, e não consigo <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> me perguntar se ele sabia disso. Mas não tenho nada a ver<br />

com isso, apesar <strong>de</strong> achar que ele merece mais.<br />

Jacob está sendo realmente comportado. Ele se senta na beira da ca<strong>de</strong>ira quando a apresentação<br />

começa.<br />

— Não consigo ver — ele reclama.<br />

Em seguida, pula em meu colo. Ele senta seu corpo magrinho sobre o meu e se inclina para trás,<br />

<strong>de</strong> modo que a sua cabeça <strong>de</strong>scansa em meu ombro, e se aconchega. Ele ainda cheira a ar livre,<br />

shampoo e quero mantê-lo assim para sempre. Meus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas e pisco<br />

furiosamente. Henry enfia a mão no bolso e me entrega um lenço <strong>de</strong> algodão. Aceno para ele. Vou me<br />

manter por perto, prometo a mim mesma.<br />

— Consegue ver agora? — pergunto a Jacob. Ele balança a cabeça e seu rosto encosta no meu.<br />

Fecho os olhos e aproveito o momento.<br />

Vejo uma das meninas <strong>de</strong> Matt, a mais nova, e ela dança com o grupo. Aponto-a para Jacob e<br />

digo a ele quem ela é, e ele bate palmas para ela quando eu faço. Deus, ela é tão adorável. Ela<br />

tropeça nos próprios pés algumas vezes e, uma vez, ela quase bate o rosto no chão.<br />

Suspiro e Jacob se senta. Parece que ela está prestes a chorar. Mas Matt corre para o palco,<br />

segura ela, limpa a poeira do seu traseiro, e começa a fazer a coreografia com as meninas. Mellie<br />

pula para cima e para baixo com ele. Ele parece ridículo: um homem enorme, todo tatuado, dançando<br />

com aquelas meninas <strong>de</strong> rosa. Mas ele dança, porque ela precisa <strong>de</strong>le. Ele se afasta, assim que ela<br />

consegue voltar a dançar, e sai do palco.<br />

Sky bate palmas e balança a cabeça. Ela ama cada segundo disso, tenho certeza.<br />

Hayley e Joey, a filha mais velha <strong>de</strong> Matt, estão na mesma classe, uma vez que são da mesma<br />

ida<strong>de</strong>, então elas dançam juntas a próxima dança. Posso ver <strong>Paul</strong> pela cortina, e só a visão <strong>de</strong>le faz<br />

meu coração pular em meu peito. Senti falta <strong>de</strong>le. Senti falta <strong>de</strong> tudo isso. Senti falta <strong>de</strong> ter uma<br />

família.<br />

A turma seguinte é ainda mais <strong>de</strong>sajeitada que a anterior, mas é fofo <strong>de</strong> se ver. Preciso me<br />

oferecer para pintar os cenários no próximo ano. Eles precisam <strong>de</strong> algo um pouco mais criativo.<br />

Próximo ano? Estou realmente planejando estar o próximo ano com Hayley e <strong>Paul</strong>? Acho que<br />

sim.


Jacob parece satisfeito sentado em meu colo, e eu amo tê-lo tão perto <strong>de</strong> mim. Nunca me atrevi a<br />

sonhar que pu<strong>de</strong>sse ter uma vida assim, maravilhosa. Eu não tinha casa, estava grávida, perdida e<br />

com medo. Agora tenho Henry, a figura <strong>de</strong> um avô honorário ao meu lado, meu filho no colo, meu<br />

namorado e sua filha no palco, além <strong>de</strong> todos os seus irmãos, suas namoradas e esposas. Estou feliz.<br />

E não mudaria nada.<br />

Quando Hayley termina, coloco Jacob ao meu lado, para que possamos aplaudi-la <strong>de</strong> pé. Assobio<br />

alto e ouço outro ao meu lado. Olho para baixo e vejo que Jacob está fazendo o mesmo. Ele assobia<br />

<strong>de</strong> novo e Kelly coloca as mãos nos ouvidos na nossa frente.<br />

— Faz <strong>de</strong> novo — sussurro, com um sorriso. Ele faz e Kelly fecha a cara. — Pronto, agora está<br />

bom — falo.<br />

Sento-me e ele volta para o meu colo. A professora vai até o microfone e fala rapidamente,<br />

agra<strong>de</strong>cendo as meninas. Depois que uma turma <strong>de</strong> alunas mais velhas termina <strong>de</strong> dançar, ela fala que<br />

haverá outra performance.<br />

Ela sorri.<br />

— Tivemos que convencer esses caras, mas eles eram fáceis <strong>de</strong> se conquistar. — Ela aponta para<br />

a cortina, que se abre lentamente. — Esses são os <strong>Reed</strong>, dançando You Belong With Me, <strong>de</strong> Taylor<br />

Swift.<br />

A cortina se abre e <strong>Paul</strong>, Matt, Logan, Sam e Pete estão <strong>de</strong> pé, em fila. Todos usam jeans e<br />

camiseta e é possível ver todas as suas tatuagens. Eles são tão lindos, que mal consigo acreditar que<br />

um <strong>de</strong>les é meu. Vejo Hayley, Joey e Mellie em pé ao lado do palco, todas esperando ansiosamente<br />

para assistir seus papais e tios.<br />

Seth começa a música. Ele mixou <strong>de</strong> forma que a batida é uma espécie <strong>de</strong> hip-hop, mas você<br />

ainda consegue ouvir a letra. É uma música sobre amor não correspondido e perceber que o que você<br />

queria estava bem ali na sua frente o tempo todo, mas que você foi estúpido para enxergar. É cantada<br />

pelo ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> uma garota, então algumas das palavras não se encaixam exatamente para os<br />

meninos, o que torna tudo ainda mais engraçado.<br />

<strong>Os</strong> <strong>Reed</strong> dançam bem. Muito bem. Acho que todas as mulheres do auditório se sentam na beira do<br />

assento para não <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ver seus quadris se mexendo. <strong>Paul</strong> pega Matt e o gira uma vez, Sam faz o<br />

mesmo com Pete. Não consigo parar <strong>de</strong> rir. Até Logan dança, e posso imaginar como <strong>de</strong>ve ter sido<br />

difícil para ele apren<strong>de</strong>r a coreografia quando ele sequer po<strong>de</strong> ouvir a música da mesma forma que<br />

os outros. Ele po<strong>de</strong> apreciar a música, mas <strong>de</strong> um jeito diferente.<br />

Quando a música está terminando, Matt, Pete, Logan, e <strong>Paul</strong> apontam para o público quando as<br />

palavras: “Você pertence a mim” soa. Matt aponta para Sky. Pete aponta para Reagan e Logan para<br />

Emily, que está segurando o bebê no colo. E <strong>Paul</strong> aponta na minha direção. Esses quatro homens<br />

pulam do palco e vêm em nossa direção. Eles cantam e dançam por todo o caminho.<br />

Com o canto do olho, vejo Kelly se levantar para interceptar <strong>Paul</strong>, mas ele nem sequer a nota. Ele<br />

aponta na minha direção e canta a última frase “Você pertence a mim”, no meu ouvido. Ele me pega e<br />

me gira ao redor, e nunca me senti tanta felicida<strong>de</strong> em toda a minha vida.<br />

A música para e todo mundo olha para o palco. Sam se sentou nele e parece triste. Ele segura um<br />

cartaz dizendo: Disponível.<br />

Depois disso, ele não estará disponível por muito tempo, porque cada mulher lá agora tem uma<br />

queda por todas os <strong>Reed</strong>, e ele é o único que não está comprometido.<br />

Amo que eles sejam tão bobos e amorosos. E eles não escon<strong>de</strong>m seu jeito <strong>de</strong> ser. Não fazem


jogo. Apenas amam. Amam pra valer.<br />

— Te amo tanto — eu digo a <strong>Paul</strong>.<br />

Seus olhos encaram os meus e ele quase parece surpreso.<br />

— Sério? — ele pergunta.<br />

Eu concordo.<br />

— Amo sim.<br />

— Vai voltar para casa esta noite? — ele pergunta em voz baixa.<br />

Eu concordo.<br />

— Que bom. É on<strong>de</strong> você pertence.


P A U L<br />

S<br />

enti falta <strong>de</strong> tê-la em meus braços. Abraço Friday com força. Quero apertar sua bunda e puxá-la<br />

para o meu colo, mas tem muita gente ao redor. Levanto a ponta da minha camiseta e limpo a testa.<br />

— Você pertence a mim — falo, quando a canção termina.<br />

Pertence mesmo. Ela é minha e nunca mais quero <strong>de</strong>ixá-la ir embora.<br />

Estico o braço e bato o punho contra o <strong>de</strong> Jacob, quando solto Friday.<br />

— Preciso ficar para ajudar a arrumar tudo — digo a ela.<br />

— Tudo bem. Preciso levar Jacob para casa.<br />

Afasto uma mecha <strong>de</strong> cabelo <strong>de</strong> sua testa e a coloco para atrás da orelha.<br />

— Depois, preciso pegar minha mala na casa <strong>de</strong> Henry.<br />

— Vai voltar para casa — repito, adorando ouvir isso. Casa. Nosso lar.<br />

— Sim, estou voltando para casa. — Ela cora e imagino se ela está pensando o mesmo que eu.<br />

Sinto um aperto em meu braço e olho para cima. Kelly está <strong>de</strong> pé e não parece muito feliz.<br />

— Posso falar com você? — ela pergunta batendo o pé e bufando. Aparentemente seu noivo se<br />

foi, porque não o vejo em qualquer lugar.<br />

— Po<strong>de</strong> esperar? — pergunto.<br />

— Esperar? — ela pergunta, sua voz cada vez mais alta. As pessoas se voltam para nos olhar. —<br />

Sou a mãe da sua filha e você quer que eu espere? — Ela aponta para seu peito e parece que eu atingi<br />

seu rosto.<br />

— Caramba, Kelly, po<strong>de</strong> parar com o teatro? Me dê um minuto. — Puxo o rosto <strong>de</strong> Friday e a<br />

beijo rapidamente. Quando levanto a cabeça, Kelly está correndo na direção do palco, on<strong>de</strong> Hayley<br />

está <strong>de</strong> pé. Ela não espera por mim.<br />

— É melhor você ir e resolver logo isso — Friday fala.<br />

Solto um suspiro.<br />

— O que você acha que é?<br />

Ela aperta os lábios com tanta força que uma linha branca se forma.<br />

— Ela está quase ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> ciúmes — Friday fala.<br />

— Não, Kelly não — protesto. Kelly não sente ciúmes. Saímos com outras pessoas durante anos<br />

e isso nunca a incomodou. Apesar <strong>de</strong> que ela teve uma crise <strong>de</strong> ciúmes no apartamento, no outro dia.<br />

Será?<br />

Friday aponta o <strong>de</strong>do na direção <strong>de</strong> Kelly.<br />

— Ela está com ciúmes. Marque minhas palavras.


— Merda.<br />

— Vá falar com ela e fazer suas coisas. Vejo você em casa. — Ela fica na ponta dos pés e me<br />

beija <strong>de</strong> novo. Isso é tão bom que não quero nunca mais parar. Mas, pelo menos, agora eu a tenho<br />

para sempre. Ela vai embora <strong>de</strong> mãos dadas com Jacob. Henry vai com eles.<br />

Não consigo encontrar Kelly, então começo a retirar as coisas do palco e levo para uma sala nos<br />

fundos, sendo ajudado por meus irmãos. Estou na sala, inclinado pegando um papel, quando sinto<br />

uma mão em minhas costas. Espero que seja Friday e que ela tenha vindo me encontrar, porque não<br />

po<strong>de</strong> ficar sem mim. Mas, quando me levanto, Kelly está colada em mim. Seus lábios tocam os meus.<br />

Na verda<strong>de</strong>, seus lábios esmagam os meus. Seguro seu ombro e a afasto.<br />

— Caralho, Kells! — falo e a empurro. Ela me olha como se eu estivesse louco. Limpo a boca<br />

com as costas das mãos. — Que diabos foi isso? — Quero lavar a boca e cuspir, porque meus beijos<br />

agora pertencem a Friday. — Por que você fez isso?<br />

— Acho que cometi um erro, <strong>Paul</strong> — ela fala. — Sei que causei isso ao concordar em me casar e<br />

contar sobre isso a você. Isso o afastou, mas terminei tudo essa noite. — Ela contorce as mãos.<br />

— Terminou o quê?<br />

— O noivado, bobo. — Ela ri como se eu soubesse do que raios ela está falando. — Terminei<br />

com ele.<br />

— Por que você faria uma coisa estúpida como essa?<br />

— Vi o jeito que você estava me olhando durante a música — ela respon<strong>de</strong>.<br />

— Eu não estava olhando para você.<br />

Ela coloca as mãos nos quadris.<br />

— Você me olhou bem nos olhos. Estava cantando diretamente para mim e isso me fez ver como<br />

fui tola. Posso tolerar seus irmãos. Posso sim. Eu vou.<br />

— Eu não estava cantando para você, Kells — eu digo. — Estava cantando para Friday. Era tudo<br />

para ela.<br />

— Não — ela sussurra e aponta para o peito. — Foi para mim.<br />

— Não — respondo com firmeza. — Você e eu terminamos. Era para Friday. Lamento que você<br />

tenha entendido mal.<br />

Ela dá um passo para trás. E, <strong>de</strong>sta vez, parece como se eu tivesse a esbofeteado.<br />

— Por que ela?<br />

Dou <strong>de</strong> ombros.<br />

— Porque ela é a Friday. — Não sei mais o que dizer.<br />

— Mas o que há <strong>de</strong> especial nela?<br />

— Tudo.<br />

Ela olha para mim.<br />

— Dê-me uma lista.<br />

— Não preciso <strong>de</strong> lhe dar uma lista.<br />

— Dê-me razões.<br />

— Por que você está com ciúmes? — finalmente pergunto.<br />

— Nós estávamos bem juntos — diz ela calmamente.<br />

— Sim, estávamos bem, até que não estávamos mais. Você <strong>de</strong>ve voltar com seu namorado.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Acabou.


— Bom — eu digo.<br />

— O que você quer dizer?<br />

— Enquanto dormia com ele e dizia que o amava, você dormia comigo <strong>de</strong>pois, Kells. Ele merece<br />

mais. Ele precisa ter uma mulher que o ame pra caralho e que nunca olhe para outro cara. E, se ela<br />

pensasse em algo, que fosse apenas uma fantasia, para ser colocada em prática com ele. — Balanço a<br />

cabeça. Nem sei como dar voz aos meus pensamentos. — Sinto muito que você tenha entendido<br />

errado.<br />

— Estava esperançosa. Acho que entendi errado.<br />

— Você não está apaixonada por mim. Você quer o que po<strong>de</strong>ria ter sido.<br />

Ela balança a cabeça, e seus olhos se enchem <strong>de</strong> lágrimas.<br />

— Apenas me diga por que ela.<br />

— Ela me ama. Ama a minha filha. Minha família. Adora o meu negócio e meu trabalho. Ela<br />

adora a agitação da minha vida. Posso vê-la em minha vida daqui há cinquenta anos. É por isso que a<br />

escolhi. Então, não me beije <strong>de</strong> novo. — Olho feio para ela.<br />

— Sinto muito — diz ela.<br />

— Somos amigos, Kells — digo a ela. — Mas não espere que eu fique com ela e caia na cama<br />

com você, porque isso nunca vai acontecer. E não tente se colocar entre nós. Enten<strong>de</strong>u?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Entendi.<br />

— Ótimo. — Ajeito minha camisa por falta <strong>de</strong> coisa melhor a fazer. — Um dia, você vai<br />

encontrar o cara certo. E quando o fizer, vai ver estrelas. Vai sentir isso dos <strong>de</strong>dos dos pés a ponta<br />

dos cabelos.<br />

— E você sente isso por ela.<br />

— Sim. — Eu nem sequer precisava pensar sobre isso.<br />

— Certo — ele fala. — Vou para casa me escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> constrangimento.<br />

— Não há por que se sentir constrangida.<br />

— Você vai esquecer que isso aconteceu, certo?<br />

— Já está esquecido.<br />

— Vai contar isso a ela?<br />

— Sim. — Não vou guardar segredos.<br />

— Certo. — Ela suspira pesadamente, se vira, ergue o queixo e sai da sala.<br />

Que diabos foi isso?<br />

ENTREI NO APARTAMENTO, seguido por Hayley. Ela ainda está <strong>de</strong> tutu, com fome. Então, faço sanduíches<br />

e guardo um para Friday, porque ela <strong>de</strong>ve chegar em breve. Estou feliz <strong>de</strong>mais com isso.<br />

Hayley come seu sanduíche e batatas fritas, e eu a mando tomar banho. Ela está cansada. Leio<br />

uma história rápida após a chuveirada e a coloco na cama. Assim que acabo, ouço uma batida na<br />

porta. Espero que seja Friday e que ela tenha esquecido da chave, mas, quando abro, encontro dois<br />

policiais com seus quepes <strong>de</strong>baixo do braço.<br />

Ah, merda, o que um dos meus irmãos fez agora?<br />

— Sr. <strong>Reed</strong>? — Um <strong>de</strong>les pergunta e olha para o seu bloco <strong>de</strong> notas.


— Sim. — Meu coração acelera. E se alguém estiver ferido? Ou envolvido num aci<strong>de</strong>nte?<br />

— Sr. <strong>Paul</strong> <strong>Reed</strong>? — ele pergunta.<br />

Concordo com a cabeça porque duvido que um sussurro po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar minha garganta.<br />

— Po<strong>de</strong>mos entrar?<br />

Dou um passo para o lado e eles entram. Caminham até o sofá e se sentam. Um <strong>de</strong>les pega um<br />

documento. Ele olha para mim.<br />

— Po<strong>de</strong> me confirmar se você é o filho do Sr. Max <strong>Reed</strong>, que mora neste en<strong>de</strong>reço?<br />

— Sim. Mas ele não mora aqui. Ele foi embora há muito tempo.<br />

Ele olha para mim com cautela.<br />

— Mas já morou aqui?<br />

— Sim, ele é meu pai.<br />

O olhar do homem se torna simpático.<br />

— Sinto muito, Sr. <strong>Reed</strong>, mas não temos boas notícias. Um antigo armazém, do outro lado da<br />

cida<strong>de</strong>, foi <strong>de</strong>molido e o corpo do seu pai foi encontrado lá.<br />

Sento-me na ca<strong>de</strong>ira, sem conseguir ficar <strong>de</strong> pé.<br />

— O quê? Por todo esse tempo ele tem estado na cida<strong>de</strong>?<br />

— Fomos alertados <strong>de</strong> que um corpo havia sido encontrado durante a <strong>de</strong>molição.<br />

Passo uma mão pelo rosto.<br />

— Há quanto tempo o seu pai foi embora?<br />

— Fazem anos.<br />

— Isso faz mais sentido, então — diz ele. — O legista falou que a morte ocorreu há anos. — Ele<br />

puxa uma foto da pilha <strong>de</strong> documentos e me mostra. Desvio os olhos rapidamente, tendo visto o<br />

suficiente. Lembro-me daquela camisa como se tivesse sido ontem. Era a sua favorita. Ele a usava o<br />

tempo todo e minha mãe odiava, porque tinha um palavrão nas costas, com a foto <strong>de</strong> alguém erguendo<br />

o <strong>de</strong>do do meio.<br />

— Ele estava usando essa camisa no dia em que partiu. — O dia em que eu o expulsei. Esfrego<br />

os olhos.<br />

— Ele provavelmente morreu nessa época. Talvez, até mesmo, neste dia. É difícil dizer. Seu<br />

corpo estava relativamente bem preservado, pois estava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um freezer, no porão do edifício.<br />

Ah, caramba. Levanto-me e ando <strong>de</strong> um lado para o outro. A bile sobe pela minha garganta, mas<br />

eu a engulo.<br />

— Seria possível que você fosse até a <strong>de</strong>legacia conosco? — ele pergunta.<br />

— Tenho uma filha — eu digo.<br />

— Po<strong>de</strong> chamar alguém para ficar com ela? — Ele soa gentil, mas é firme. Percebo que não<br />

tenho escolha.<br />

Concordo e pego o telefone. Mas não posso ligar para meus irmãos. Se fizesse isso, teria que<br />

contar a eles que nosso pai morreu no dia em que eu o expulsei. Mas eu os <strong>de</strong>ixei pensar que ele<br />

simplesmente nos <strong>de</strong>ixou. Mas não foi o que aconteceu. Eu o man<strong>de</strong>i embora. E, agora, ele está<br />

morto.<br />

Faço uma ligação.<br />

— Oi, Kells, po<strong>de</strong> vir até aqui e ficar com a Hayley? — pergunto. — Tenho que fazer uma coisa.<br />

— Por quê? — ela pergunta.<br />

— É uma emergência.


— Por que eu?<br />

— Porque você é a porra da mãe e preciso que você venha até aqui e a pegue — falo. — Que a<br />

leve para casa com você.<br />

— Estou indo. Estou a caminho.<br />

Merda, estou prestes a mexer num vespeiro, mas não posso contar aos meus irmãos ainda.<br />

Simplesmente não posso.


F R I D A Y<br />

F<br />

ico feliz quando Henry e eu entregamos Jacob. Henry lhe ensinou a brincar com o jogo <strong>de</strong> bater<br />

na mão e eles brincaram a noite toda. Jacob era realmente muito bom e tirava a mão muito<br />

rapidamente. Quero pensar que tenho algo a ver com o fato <strong>de</strong> ele ser um garoto tão bom, mas não<br />

tenho certeza <strong>de</strong> que é o caso.<br />

Quando o entregamos, pu<strong>de</strong> ouvir Jill <strong>de</strong>scer as escadas e seus cabelos estavam bagunçados,<br />

então, posso imaginar o encontro que ela teve esta noite. Espero que eles tenham se divertido e fico<br />

satisfeita por saber que eles têm uma relação tão boa. Ela entra com Jacob e me convida para que eu<br />

volte, <strong>de</strong> preferência num dia em que o marido esteja em casa, mas não na cama, para que eu possa<br />

conhecê-lo. Eu concordo. Vou adorar.<br />

Depois, Henry e eu vamos para casa. Encaixo meu braço no <strong>de</strong>le e nos damos as mãos.<br />

— Quando conheci Nan, ela fazia meu coração acelerar, só <strong>de</strong> fazer o que você está fazendo —<br />

ele fala baixinho. — Ela me tocava e era como se um raio tivesse me acertado.<br />

— Sinto muito por fazê-lo se lembrar.<br />

— Shh. Amo as lembranças. Elas me mantém <strong>de</strong> pé. — Ele toca a ponta do meu nariz, eu fecho os<br />

olhos e rio <strong>de</strong>le. — Quando você for tão velha quanto eu, espero que você tenha pelo menos meta<strong>de</strong><br />

das minhas boas lembranças.<br />

— Espero que sim.<br />

— É bom ter planos.<br />

Caminhamos tranquilamente para sua casa. Pego minha mala.<br />

— Obrigada por cuidar <strong>de</strong> mim, Henry — digo em voz baixa e beijo seu rosto.<br />

— Obrigado por me dar algo com me preocupar — diz ele. — Às vezes, é solitário quando você<br />

está velho e por conta própria. É bom ter um problema para resolver.<br />

— Principalmente quando não é seu. —Eu rio.<br />

— Prefiro que se torne meu — ele fala e eu acredito nele.<br />

— Eu te amo, Henry — eu digo.<br />

— Também te amo, garota — ele fala e sorri para mim. Ele me puxa para si e me abraça com<br />

força, me segurando apenas o tempo suficiente. — Vá encontrar o seu futuro — diz ele.<br />

E eu vou.<br />

Estou quase tonta quando chego ao apartamento <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Entro e puxo a minha mala para o quarto.<br />

Mas paro <strong>de</strong> repente quando vejo Kelly <strong>de</strong> pé, na cozinha, usando apenas uma camiseta <strong>de</strong> <strong>Paul</strong>. Que<br />

merda é essa?


— Oi, Kelly — consigo dizer.<br />

Ela sorri para mim por cima <strong>de</strong> uma xícara <strong>de</strong> café.<br />

— O que você está fazendo aqui?<br />

— Ah, <strong>Paul</strong> me ligou. Ele disse que precisava <strong>de</strong> mim. — Ela sorri <strong>de</strong> novo, mas é ácida e quase<br />

doloroso <strong>de</strong> se olhar. — Então, ele saiu.<br />

— Por que você está usando a camiseta <strong>de</strong>le?<br />

Ela encolhe os ombros.<br />

— Vou passar a noite.<br />

— Para on<strong>de</strong> ele foi?<br />

— Saiu com dois policiais. Foi meio assustador.<br />

O quê?<br />

— E você simplesmente o <strong>de</strong>ixou ir?<br />

Ela encolhe os ombros novamente.<br />

— Quem diabos é você? — pergunto. — Você simplesmente o <strong>de</strong>ixou ir?<br />

— Ele pediu que eu viesse para cá, por causa da Hayley. — De repente, seu sorriso <strong>de</strong>saparece,<br />

e ela parece preocupada. — Merda. Fiquei tão animada por ele ter ligado para mim que nem sequer<br />

questionei o porquê.<br />

— Você simplesmente o <strong>de</strong>ixou ir com eles? — Quando percebo que estou gritando, forço um tom<br />

gentil em minha voz, para não acordar Hayley.<br />

Pego o telefone.<br />

— Matt — falo e conto o que sei, que é quase nada. — Te encontro lá.<br />

— Não posso acreditar que você não fez qualquer pergunta — falo a Kelly.<br />

Saio correndo em direção à porta e ela parece um pouco envergonhada. Pego um táxi para a<br />

<strong>de</strong>legacia e todos os irmãos e suas companheiras estão chegando. Matt <strong>de</strong>ve ter <strong>de</strong>ixado suas meninas<br />

com Seth, porque elas não estão lá. Logan está com Kit no bebê conforto. Entramos juntos e Matt vai<br />

procurar esclarecimentos.<br />

Ele volta e parece um pouco chocado. Ele afunda em uma ca<strong>de</strong>ira.<br />

— É sobre nosso pai — ele fala. — Ele morreu.<br />

— On<strong>de</strong> está <strong>Paul</strong>? — pergunto.<br />

— Já foi embora. — Matt encolhe os ombros.<br />

— Papai morreu? — Sam pergunta.<br />

Matt concorda.<br />

— O oficial disse que <strong>Paul</strong> parecia realmente chateado. Se culpando.<br />

— Por que ele faria isso? — Pete pergunta.<br />

Matt dá <strong>de</strong> ombros novamente.<br />

— Quem está com Hayley, se estamos todos aqui? — Reagan pergunta. Ela olha <strong>de</strong> um irmão<br />

para outro.<br />

— A mãe <strong>de</strong>la — respondo. — Ela estava na casa <strong>de</strong>le, quando saí.<br />

— Ela está na casa do <strong>Paul</strong>? — Matt pergunta.<br />

— Ele a chamou.<br />

— Por que ele iria chamá-la, em vez <strong>de</strong> um <strong>de</strong> nós?<br />

— O que aconteceu?<br />

— On<strong>de</strong> ele está?


Todos estão falando ao mesmo tempo e não consigo ouvir qualquer um <strong>de</strong>les.<br />

— Precisamos nos dividir e encontrá-lo — Logan sugere.<br />

Matt concorda.<br />

— Sei on<strong>de</strong> ele está. — Eu fico <strong>de</strong> pé. — Vou buscá-lo.<br />

— On<strong>de</strong> ele está? — Matt pergunta.<br />

— Vou buscá-lo. Não se preocupe.<br />

— Você tem que nos dizer alguma coisa — Pete exige.<br />

— Vou levá-lo para casa. Po<strong>de</strong>m ir para lá e me esperem. — Saio e pego um táxi. Sei exatamente<br />

on<strong>de</strong> ele está.


P A U L<br />

O<br />

projetor é bem mais difícil <strong>de</strong> se ajeitar do que me lembro. Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito insistir e <strong>de</strong><br />

soltar ainda mais palavrões, consigo colocá-lo para funcionar. O cinema está totalmente escuro,<br />

exceto pela tela que lança um leve brilho no lugar. Esse cinema, em particular, é pequeno, tem<br />

ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira velhas, quase sem estofamento sobre elas. Mas este é o único lugar que meu pai<br />

e eu ficávamos sozinhos.<br />

Costumávamos nos esgueirar até aqui, no meio da noite, quando os meninos estavam na cama, e<br />

assistíamos a filmes antigos juntos. Às vezes, trazíamos pipoca <strong>de</strong> casa e ficávamos a noite inteira<br />

assistindo filme após filme. Sento-me numa ca<strong>de</strong>ira do meio.<br />

Não acho que alguém tenha estado aqui há um longo tempo, pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poeira sobre as<br />

ca<strong>de</strong>iras. Não me importa. Sento-me <strong>de</strong> qualquer jeito e vejo a tela cintilar. Não há som, porque não<br />

consegui <strong>de</strong>scobrir como colocá-lo, mas posso assistir ao filme e recordar. Meu pai não foi sempre<br />

um cara ruim. Ele era esquecido e nunca foi muito responsável, mas minha mãe era o oposto, fazendo<br />

com que eles se complementassem bem. Ele se importava com o que ela não ligava e vice-versa.<br />

Depois que minha mãe morreu, não havia ninguém para mantê-lo em equilíbrio, o que o fazia parecer<br />

um filho da mãe. Mas ele não era. Era um cara solitário. Estava sozinho.<br />

Ouço a porta se abrir atrás <strong>de</strong> mim e os pelos da nuca se arrepiam. É ela. Sempre sei quando é<br />

ela. O cheiro <strong>de</strong>la me envolve antes que eu a veja, e ela não diz uma palavra quando se senta ao meu<br />

lado.<br />

Ela está tranquila, apenas assiste ao filme comigo. Quando a bobina para, a sala fica um pouco<br />

mais brilhante, porque as luzes continuam acesas.<br />

— Foi divertido. Qual é o próximo? — ela pergunta. Sua voz ecoa na sala vazia, mesmo que<br />

esteja falando em voz baixa.<br />

— Por que você está aqui? — pergunto.<br />

Sua mão cobre a minha.<br />

— Porque você precisava <strong>de</strong> mim. — Ela aperta minha mão suavemente.<br />

— Vá para casa, Friday — resmungo.<br />

Mas ela não vai. Ela só fica lá, em silêncio.<br />

— Por que não coloca um outro filme?<br />

— Não quero ver outro filme.<br />

Coloco a cabeça para trás e fecho os olhos.<br />

— Por que não me ligou? — ela pergunta em voz baixa.


— Não conseguia <strong>de</strong>scobrir como contar o que houve.<br />

— Nem para mim?<br />

— Nem para você.<br />

— Por quê? — Sua voz é suave.<br />

— Porque me sinto tão culpado que é como se alguém tivesse esfaqueando meu estômago.<br />

— Culpado com o quê?<br />

— Eu menti, Friday. Caramba, eu menti, tá? — Menti para as pessoas que amo e, provavelmente,<br />

nunca vão me perdoar.<br />

— Mentiu sobre o quê?<br />

— Papai não nos <strong>de</strong>ixou. Eu o man<strong>de</strong>i embora.<br />

— Por que você fez isso? — A voz <strong>de</strong>la é tão baixa, que mal posso ouvi-la.<br />

— Não importa.<br />

— Claro que importa. — Sinto-a se mexer e ela sobe em meu colo. Ela coloca uma perna em<br />

cada lado dos meus quadris e eu seguro seu traseiro e a empurro contra mim. Ela grita, porque me<br />

mexo tão rápido que ela se assusta. Mas, preciso <strong>de</strong>la. Preciso senti-la contra mim. Preciso <strong>de</strong>la<br />

sobre mim. Preciso <strong>de</strong>la. Ela segura meu rosto. — Por que você o expulsou?<br />

— Fui para casa no meio do dia e o encontrei na cama da minha mãe, com outra mulher. Ele era<br />

muito cuidadoso em não nos <strong>de</strong>ixar vê-lo com outras mulheres, mas eu já tinha ouvido falar que ele<br />

estava namorando alguém. Mas ele não nos contou. Eu o encontrei com ela. Eu nem <strong>de</strong>veria estar lá.<br />

— Continue. — Ela toca meu lábio inferior com a ponta do polegar e eu o mordisco. Ela sorri e<br />

<strong>de</strong>scansa em meu peito.<br />

— Minha mãe havia partido há um ano, mas senti como se ele estivesse enfiando uma faca em sua<br />

memória.<br />

— Posso enten<strong>de</strong>r isso.<br />

— Estava com raiva e era maior do que ele, então, eu o empurrei para fora da cama. Ele tentou se<br />

explicar, mas eu não quis ouvir. Man<strong>de</strong>i a mulher embora e ele ficou realmente irritado. Ele tentou<br />

me pegar, mas não conseguiu, então <strong>de</strong>i um soco em seu estômago e bati na cara <strong>de</strong>le. E o man<strong>de</strong>i<br />

embora. Não o <strong>de</strong>ixei sequer pegar uma muda <strong>de</strong> roupa. Nada.<br />

Ela não diz nada.<br />

— Então, disse aos meus irmãos que ele foi embora.<br />

— Oh, <strong>Paul</strong> — ela fala calmamente.<br />

— A polícia me mostrou uma foto do seu cadáver. Havia uma marca em sua bochecha. Foi on<strong>de</strong><br />

eu bati nele. Estava usando meu novo anel <strong>de</strong> formatura, o que provocou a marca. Tudo indica que<br />

ele morreu logo após a nossa briga.<br />

— <strong>Paul</strong>. — Ela balança a cabeça. — Não é sua culpa.<br />

— É minha culpa. Achei que passaríamos um período com raiva, mas que ele voltaria. Mas<br />

jamais voltou. Então, eu o culpava. Mas, por todo esse tempo, ele estava morto. Nunca mais ouvi<br />

falar <strong>de</strong>le. Não até que alguém encontrou o seu corpo morto em um congelador.<br />

Uma lágrima rola em meu rosto e ela pega com seus lábios. Ela segura meu rosto e enxuga minhas<br />

lágrimas.<br />

— Eu o expulsei. É minha culpa. E, agora, tenho que dizer a meus irmãos que fiz isso. Que ele<br />

nunca foi embora por que quis. Que foi por minha culpa.<br />

— É perfeitamente natural querer proteger a memória <strong>de</strong> sua mãe. Você não o matou. Ele era um


homem adulto. Não temos como saber por que ou como ele foi parar no congelador, mas você não o<br />

colocou lá.<br />

— Minha última lembrança é a briga.<br />

— Não, não é. Se fosse, você não estaria aqui. — Ela olha ao nosso redor. — Esta é a sua última<br />

memória, este lugar perfeito, <strong>Paul</strong>, e esses momentos perfeitos que você teve com ele. Você sabe<br />

disso.<br />

— Friday — falo. — Não sei o que fazer.<br />

— Vai fazer o que sempre fez, idiota — Ela ri. — Vai seguir em frente com honestida<strong>de</strong> e<br />

integrida<strong>de</strong>. Isso é o que está em seu coração.<br />

— Tenho que contar a verda<strong>de</strong> a eles.<br />

— Sim, você tem.<br />

— Venha aqui — falo e a puxo contra meu peito. — Eu te amo tanto.<br />

Ficamos sentados assim, até que sinto seus lábios em meu pescoço. Ela ronrona contra a minha<br />

pele e me belisca <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira.<br />

— Você me consertou — eu digo.<br />

— Você não estava quebrado.<br />

— Eu não estava inteiro até você voltar.<br />

— Nem eu.<br />

— Quero você.<br />

— Eu sou sua. — Ela suga minha orelha e mordisca, lambendo meu piercing e rolando-o<br />

suavemente. Meu pau começa a pulsar e pressiona insistentemente contra meu jeans.<br />

Ela está usando um daqueles vestidos que ela gosta, então, levanto a saia e seguro seus quadris.<br />

Inclino a cabeça e lambo a pele exposta <strong>de</strong> seus seios.<br />

— Quero tocá-los — digo contra sua pele.<br />

Ela encolhe os ombros e baixa as alças, empurrando o vestido para baixo. Com a mão em suas<br />

costas, eu a puxo para mim e ela se levanta um pouco para que eu possa chegar a seus seios. Eles são<br />

tão lindos, a pele branca como alabastro na luz suave da sala. Ela geme e eu a levo em minha boca.<br />

Seguro sua calcinha e a puxo.<br />

— Você vai para casa sem calcinha — murmuro em sua orelha. Ela treme e assente. Rasgo a<br />

calcinha no quadril e a puxo para fora do meu caminho. Preciso estar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Preciso <strong>de</strong>la agora.<br />

Não posso mais esperar. Não posso parar;<br />

Desabotoo a minha calça e a empurro para baixo apenas o suficiente, junto com a minha boxer.<br />

Ela me segura e aperta meu eixo. Suspiro.<br />

— Me fo<strong>de</strong> — falo. — Me fo<strong>de</strong> agora.<br />

Ela levanta e posiciona-me em seu centro. Em seguida, afunda lentamente. Arqueio meus quadris,<br />

entrando profundamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la.<br />

— Você é tão bom — ela sussurra. — Tão gran<strong>de</strong>.<br />

— Estou te machucando? — Paro e <strong>de</strong>ixo-a <strong>de</strong>scansar em mim, sua fenda parecendo seda me<br />

revestindo.<br />

Ela se mexe e eu penetro completamente.<br />

— Quantas vezes você se masturbou enquanto estive fora? — ela pergunta contra meus lábios.<br />

— Nenhuma.<br />

Ela ri e me aperta em seu interior.


— Está dizendo a verda<strong>de</strong>?<br />

— Vai <strong>de</strong>scobrir quando eu gozar como um garoto <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis anos se não parar <strong>de</strong> fazer isso.<br />

— Ela está me apertando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, e sinto que estou me <strong>de</strong>sfazendo.<br />

— Fazer o quê? — Friday sussurra e me aperta novamente.<br />

Seguro seus quadris e a puxo para cima e para baixo, montando meu pau.<br />

Ela grita meu nome.<br />

— <strong>Paul</strong>! Ah, <strong>Paul</strong>!<br />

Ela está tão molhada que até minhas bolas estão escorregadias. Continuo a puxá-la para cima e<br />

para baixo, segurando com firmeza.<br />

— Ah, Friday, preciso que você goze.<br />

Ela olha em meus olhos, ajusta os nossos corpos e se inclina para trás <strong>de</strong> modo que fica apoiada<br />

nas mãos. Olho para baixo e vejo meu pau enterrado nela. Ele está brilhante sobre a luz fraca. Suas<br />

pernas estão abertas e posso ver o piercing em sua boceta. Coloco a mão lá e começo a massagear<br />

enquanto ela monta em meu pau. Preciso fechar os olhos, sem condições <strong>de</strong> observar seus seios se<br />

moverem. Mas, mesmo assim, posso sentir sua respiração, quente e úmida.<br />

— Goza para mim — peço. — Por favor.<br />

Ela grita. Quando se acalma e suas pare<strong>de</strong>s me or<strong>de</strong>nham, apertando com força, enquanto toco<br />

seu clitóris em pequenos círculos com firmeza, do jeito que ela gosta, ela goza e me <strong>de</strong>ixa tocá-la até<br />

que empurra minha mão.<br />

— Agora você — diz ela.<br />

Friday continua me montando com sua fenda úmida, mais e mais, adiando o gozo pelo máximo <strong>de</strong><br />

tempo que consigo. Posso ouvir o som dos nossos corpos juntos.<br />

De repente, ela puxa meu cabelo.<br />

— Abra os olhos — ela pe<strong>de</strong>. — Olhe para mim.<br />

Abro e é como se eu pu<strong>de</strong>sse ver sua alma me olhando.<br />

— Eu te amo tanto — ela fala.<br />

— Vou gozar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> você — aviso.<br />

— Eu sei.<br />

De repente, ela fica ainda mais molhada, sua boca se abre e percebo que ela está gozando<br />

novamente. Ela está gozando no meu pau e eu me junto a ela, bombeando por todo o clímax, enquanto<br />

ela olha nos meus olhos.<br />

— Eu te amo — falo, enquanto meu pau começa a amolecer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la.<br />

Ela cai sobre meu peito. Estremeço ao sair do seu corpo apertado, e já estou pensando em<br />

quando posso fazer isso <strong>de</strong> novo.<br />

— Acho que nunca vou querer que você use preservativo, após o nascimento do bebê.<br />

— Que bom, por que vou <strong>de</strong>ixá-la grávida, logo <strong>de</strong>pois que você <strong>de</strong>r à luz.<br />

— Tá bom — ela respon<strong>de</strong> e sinto seu sorriso contra o meu peito.<br />

Puxo seu cabelo para que ela possa me olhar.<br />

— Tá bom?<br />

— Sim. Me engravi<strong>de</strong>. Por favor. Faça um bebê comigo. Faça nossa família maior. — Ela abre<br />

os braços. — Quero que ela seja enorme.<br />

— Tá bom — eu sussurro.<br />

— Você entrou, <strong>Paul</strong>.


— Sim, entrei. — Entrei em sua fortaleza mais do que jamais sonhei que ela <strong>de</strong>ixaria.<br />

Ficamos sentados lá por um tempo que não sei precisar. Até que chega a hora <strong>de</strong> ir.<br />

— Preciso ir e conversar com meus irmãos — falo.<br />

— Eu sei. — Uso a calcinha rasgada para nos limpar e vestimos a nossa roupa. Desligo o<br />

projetor e saímos da mesma forma sorrateira. Só que, <strong>de</strong>sta vez, estamos <strong>de</strong> mãos dadas.<br />

Chegamos ao apartamento e não fico surpreso em encontrar meus irmãos e suas companheiras lá.<br />

Eles estão calmos quando entramos. Friday resolve ir vestir o pijama — já que ela não está <strong>de</strong><br />

calcinha — e fico com os rapazes. Eles merecem uma explicação.<br />

— Sinto muito — falo.<br />

— Por quê? — Matt resmunga. Posso dizer que ele está com raiva.<br />

— Por fazer vocês esperarem. Eles me <strong>de</strong>ram a notícia, e eu pirei um pouco.<br />

— Por quê? — Logan pergunta.<br />

— Culpa.<br />

— Por quê? — Desta vez, é Pete.<br />

— Ele não nos <strong>de</strong>ixou — eu <strong>de</strong>ixo escapar. — Eu o man<strong>de</strong>i embora.<br />

— Nós sabemos — diz Sam. — Sempre soubemos.<br />

— O quê? — Fico <strong>de</strong> pé. — Como diabos vocês sabem?<br />

— Sam estava em casa naquele dia — Matt fala. — Ele fugiu da escola e estava escondido no<br />

armário. Ele ouviu a coisa toda.<br />

— Você sabia.<br />

— Sim — Sam respon<strong>de</strong>.<br />

— Sempre soube.<br />

— Sim — ele repete.<br />

— Sinto muito — eu digo. — Não queria que ele tivesse morrido.<br />

Eles olham <strong>de</strong> um para o outro. Finalmente Matt fala.<br />

— Por que você acha que o matou?<br />

— Eu o man<strong>de</strong>i embora e ele morreu. Se eu não tivesse feito isso, ele ainda po<strong>de</strong>ria estar vivo.<br />

— O <strong>de</strong>stino é uma vadia inconstante — Matt fala. — Se alguém sabe disso, esse alguém sou eu.<br />

— Você, honestamente, acha que tem po<strong>de</strong>r suficiente para mudar o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> alguém? Você não<br />

é assim tão impressionante — Logan fala e ri.<br />

— Mas...<br />

— Mas nada — Matt fala. — Você não é responsável por isso. Ponto final.<br />

— Vocês não estão com raiva <strong>de</strong> mim?<br />

Todos eles se levantam e me abraçam. Eles me apertam e me giram até que eu solto uma risada e<br />

grito.<br />

— Já está bom.<br />

Eles se afastam um pouco, mas nunca estão longe. Sei disso.<br />

— Vou enterrar nosso pai ao lado da mamãe — eu digo.<br />

— Vamos planejar um velório e tudo mais — Matt fala.<br />

— Ok. — Sorrio. Sinto como se o peso do mundo tivesse sido tirado dos meus ombros.<br />

Meus irmãos, Emily, Sky e Reagan começam a ir embora. Mas, quando as meninas estão saindo,<br />

ouço Friday perguntar.<br />

— Esperem, on<strong>de</strong> está Kelly?


Emily bufa.<br />

— Mandamos a vadia embora. Ela estava andando pela casa como se fosse a dona, usando uma<br />

camiseta do <strong>Paul</strong>. Merda.<br />

Friday bate na mão das três e tenho que balançar a cabeça para sua brinca<strong>de</strong>ira. Ela entrelaça os<br />

<strong>de</strong>dos nos meus e me puxa para o quarto.<br />

Assim que <strong>de</strong>itamos na cama, a porta se abre e Hayley salta no meio.<br />

— O sol está brilhando — ela fala.<br />

— Não, não está — respondo a ela. — Volte a dormir. — Ela se aconchega entre nós e fica<br />

confortável. Friday estica a mão para mim, eu viro a palma da mão para cima e coloco meu rosto<br />

nela.<br />

Eu te amo, ela murmura para mim.<br />

— Também te amo — digo em voz alta.<br />

— Eu também? — Hayley pergunta.<br />

— Você também — falo, beijo sua bochecha e me aconchego na palma da mão <strong>de</strong> Friday.<br />

Eu entrei.


F R I D A Y<br />

A<br />

lgum tempo <strong>de</strong>pois<br />

O APARTAMENTO ESTÁ tão cheio que mal consigo me mover. Todos os irmãos <strong>de</strong> <strong>Paul</strong> estão aqui com as<br />

namoradas e esposas. Cody e Garrett também, junto com seu bebê, Tuesday. Hayley e Joey estão<br />

brigando para saber quem vai brincar com ela primeiro, mas Matt fala:<br />

— Há bebês o suficiente pela casa. — Ele aponta para um dos seus bebês. Um é o pequeno<br />

Matty, seu filho, e a outra é Hope, sua filha. Nós a chamamos <strong>de</strong> Hoppy na maior parte do tempo,<br />

porque ela é muito mais ativa do que Matty. Eles têm quase <strong>de</strong>zoito meses.<br />

Estamos juntos para assistirmos a um episódio <strong>de</strong> <strong>Reed</strong>’s, o reality show baseado no estúdio <strong>de</strong><br />

tatuagem. Temos visto alguns episódios e este é o primeiro em que Tuesday aparece. Ela faz um ano<br />

hoje, e isso foi filmado há um tempo atrás.<br />

Já sei que isso vai me trazer muitas lembranças, então tenho uma caixa <strong>de</strong> lenços pronta. E tenho<br />

<strong>Paul</strong>. Sempre tenho <strong>Paul</strong>, não importa para o quê.<br />

Uma batida soa na porta, e os membros da Fallen from Zero — a banda <strong>de</strong> Emily — chegam.<br />

Elas estão neste episódio já que aconteceu <strong>de</strong> eu entrar em trabalho <strong>de</strong> parto enquanto assistia a seu<br />

show.<br />

Fallen from Zero é um grupo feminino. A única coisa que elas têm em comum é o fato <strong>de</strong> terem<br />

crescido no mesmo lar adotivo. Emilio e Marta Vasquez cuidavam <strong>de</strong> crianças que ninguém mais<br />

queria, eles pegavam os que tinham mais problemas e tentava ajudá-los. Não podiam ajudar a todos,<br />

mas ajudavam muita gente.<br />

Sam abre a porta e se afasta para <strong>de</strong>ixá-las entrar. Observo quando seus olhos caem na bunda da<br />

baterista. Ele mor<strong>de</strong> o lábio inferior, faz um barulho e Logan dá um soco em seu ombro.<br />

“Para com isso”, Logan fala por sinais.<br />

Sam respon<strong>de</strong> a ele do mesmo jeito.<br />

“Droga, Logan. Aquela bunda parece um daqueles balanços <strong>de</strong> varanda. Eu po<strong>de</strong>ria me<br />

balançar nela todos os dias”.<br />

“Cara, cale-se” Logan diz, suas mãos voando <strong>de</strong>scontroladamente.<br />

“Eu sei, eu sei”, Sam continua. É ru<strong>de</strong> falar por sinais na frente das pessoas que não sabem o<br />

que estamos dizendo, mas, você viu as coxas? Quero elas ao meu redor”. Ele <strong>de</strong>senha uma figura <strong>de</strong>


ampulheta no ar com as mãos. “Apresente-me”, diz ele. “Ela tem um traseiro gostoso <strong>de</strong>mais.<br />

Aposto que ela ia gostar do meu cupcake”. Ele empurra o ombro <strong>de</strong> Logan novamente. “Quero<br />

conhecê-la”. Ele aponta para que Logan chame a sua atenção. “Por favor”. Ele coloca as mãos<br />

como se estivesse implorando.<br />

Vejo tudo do sofá e é como assistir a um <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> trem. Sam não conhece essas meninas ainda,<br />

nenhuma <strong>de</strong>las, mas nós a conhecemos muito bem. Sabemos que Peck, a menina que chamou sua<br />

atenção, não é alguém com quem ele <strong>de</strong>ve tentar se dar bem.<br />

Logan cutuca o ombro <strong>de</strong> Peck. Em seguida, fala com ela por sinais:<br />

“Peck, gostaria que você conhecesse meu irmão, o homem mais idiota do planeta”. Ele acena<br />

para Sam, cuja boca se abre.<br />

— Oh, merda — Sam fala. — Ela é surda.<br />

“Surda não”, ela respon<strong>de</strong> por sinais. “Posso ouvir”.<br />

“E po<strong>de</strong> falar por sinais”.<br />

“Parece que sim”. Ela sorri para ele.<br />

“Sou Sam. Sou um idiota. E gosto do seu traseiro. E das suas coxas”. Ele aponta para a<br />

cozinha. “Quer um cupcake?<br />

Seu rosto está vermelho e a sala explo<strong>de</strong> em gargalhadas.<br />

Ela puxa as baquetas para fora do bolso e bate com elas levemente no balcão. Em seguida, ela<br />

abre a boca e diz Oi. É algo que Peck costuma fazer. Sam observa as baquetas enquanto ela conversa<br />

com Reagan e Emily. Quando ela acaba <strong>de</strong> falar, as baquetas param <strong>de</strong> se mover.<br />

Sam se afasta. Ele começou a jogar no futebol profissional, após se formar na faculda<strong>de</strong>. Então,<br />

enquanto passávamos tempo com Wren, Finch, Lark, Star, e Peck, ele estava sempre ocupado.<br />

— Você <strong>de</strong>veria dizer a ela que é jogador <strong>de</strong> futebol profissional e que ganha uma boa grana.<br />

Essa é a única forma <strong>de</strong> salvá-lo, agora — Logan fala e ri.<br />

Sam levanta o <strong>de</strong>do do meio.<br />

— Foda-se.<br />

Sam se senta no chão, ao lado do sofá. <strong>Paul</strong> está sentado aos meus pés com a minha perna por<br />

cima do ombro. Ele esfrega o peito do meu pé, e eu adoro que ele ainda goste <strong>de</strong> fazer isso.<br />

— Vai começar — falo e ligo a TV bem alta, porque não conseguimos ouvir nada com todas as<br />

crianças juntas.<br />

As lágrimas não começam até chegar ao meio do episódio, e elas são, principalmente, <strong>de</strong> Garrett<br />

e Cody. Assistimos à chegada <strong>de</strong> Tuesday ao mundo. Deixamos que fosse gravado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

usassem uma micro câmera presa na minha cabeça. Então, quando aparecem as cenas da minha<br />

barriga na TV, quase posso sentir o peso <strong>de</strong>la em mim, agora. Fecho os olhos e volto ao dia em que<br />

Tuesday nasceu. Segurei-a por um momento, enquanto Cody e Garrett choravam um sobre o outro e,<br />

então, a entreguei a eles. Ela não era minha.<br />

Eles agora tinham sua família e eram felizes. Assim como eu.<br />

Todos nós rimos <strong>de</strong> algumas cenas no estúdio. Não fazemos i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> como o episódio será, mas<br />

até agora, tem sido muito mais a respeito <strong>de</strong> nossos clientes do que sobre nós.<br />

Nosso negócio cresceu tanto que compramos a loja ao lado, aumentamos em oito cabines e<br />

contratamos vários artistas novos. As pessoas esperam por meses, para serem tatuados por um <strong>de</strong><br />

nós.<br />

O episódio termina, mas todos ficam. Ninguém está com pressa <strong>de</strong> ir para casa. Eles nunca estão.


O apartamento está sempre cheio e há tantos bebês aqui que nunca parece se acalmar. Mas nós<br />

amamos como as coisas são. Não queremos mudá-las. Nunca.<br />

As pessoas começam a se espalhar, e Sam continua tentando se aproximar <strong>de</strong> Peck. Vejo-os do<br />

outro lado da sala. Ela o evita e olha para ele <strong>de</strong> um jeito engraçado. Aqui, ela está em seu elemento,<br />

porque todo mundo fala por sinais, para que ela não tenha que falar a não ser que queria — ou seja,<br />

quase nunca.<br />

Então, Sam para ao meu lado.<br />

— O que há com ela? — ele pergunta.<br />

— Não sei do que você está falando — digo secamente.<br />

Ele revira os olhos.<br />

— Sim, você sabe.<br />

De repente, Peck está bem atrás <strong>de</strong>le e bate em seu ombro. Ela não para <strong>de</strong> bater as baquetas<br />

enquanto fala.<br />

— Você po<strong>de</strong>ria simplesmente me perguntar — ela fala calmamente.<br />

Ele se levanta.<br />

— Continuo dando bola fora — ele fala e ela balança a cabeça. — Estou sendo ru<strong>de</strong>. Não é da<br />

minha conta.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Peck é diminutivo <strong>de</strong> quê? — ele pergunta.<br />

Ela bate na mesa e faz um sinal.<br />

— Woodpecker? Pica-pau? — ele pergunta. — Seu nome significa Pica-pau?<br />

Ela balança a cabeça e sorri. Com o cabelo e olhos castanhos, ela é impressionante.<br />

Absolutamente <strong>de</strong>slumbrante. E quando ela sorri, tudo se ilumina.<br />

Ele olha para suas companheiras <strong>de</strong> banda.<br />

— Então, vocês todas têm nomes <strong>de</strong> pássaros.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Nós o adotamos quando caímos do ninho – por isso o nome Fallen from Zero. — Ela bate o<br />

tempo todo em que está falando. Quando para <strong>de</strong> falar, a batida para. — Você quer saber sobre a<br />

batida, certo? — ela pergunta, revira os olhos e suspira,<br />

Sam sorri.<br />

— Eu, particularmente, não ligo para elas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que você continue a falar comigo.<br />

Toc. Toc. Seus olhos se estreitam.<br />

— Isso te incomoda?<br />

— Porra, eu adoro isso — diz ele.<br />

Ela cora.<br />

Isso que é bonito nos <strong>Reed</strong>. Eles olham além da superfície. É sempre assim.<br />

Sam e Peck vão para um canto tranquilo conversar. Vejo-a recusar os cupcakes algumas vezes,<br />

ainda que ele continue a tentar alimentá-la.<br />

— O que é engraçado? — Matt pergunta, se sentando ao meu lado.<br />

— Seu irmão estúpido parece ter encontrado seu jogo.<br />

Aponto para Sam. Matt arqueia a sobrancelha.<br />

— Essa po<strong>de</strong> ser um <strong>de</strong>safio.<br />

Eu sorrio.


— Vai ser divertido <strong>de</strong> assistir.<br />

De repente, sinto uma dor em toda a minha barriga.<br />

Matt se senta.<br />

— Oh, merda — diz ele. — <strong>Paul</strong>!<br />

<strong>Paul</strong> está parado do outro lado da sala e, quando me vê, fica louco. Ele toma o lugar <strong>de</strong> Matt ao<br />

meu lado e coloca as mãos na minha barriga enorme. Passei o dia todo sentindo dor, mas achei que<br />

era apenas as contrações <strong>de</strong> Braxton-Hicks. Parece que eu estava enganada.<br />

— Está na hora? — <strong>Paul</strong> pergunta.<br />

— Acho que sim. — Já passei por isso duas vezes, então tenho uma boa i<strong>de</strong>ia do que está<br />

acontecendo. — Devemos, provavelmente, nos apressar.<br />

Quando Tuesday nasceu, fiquei em trabalho <strong>de</strong> parto por uma hora e meia. Isso mesmo. Apenas<br />

uma hora e meia. Então, <strong>de</strong>sta vez, por esse motivo, provavelmente, <strong>de</strong>vemos ir.<br />

Logan joga as chaves do carro para <strong>Paul</strong> e vai para pegar sua filha. Emily pega minha bolsa e<br />

vamos todos para o corredor. Até as meninas da banda vem. Elas dizem que são intrometidas, mas<br />

estão se tornando parte da família.<br />

<strong>Paul</strong> leva a minha bolsa e vamos para o carro <strong>de</strong> Logan.<br />

— Eu me sinto mal por usarmos o carro <strong>de</strong> Logan — Outra dor me atinge e sinto que posso me<br />

partir ao meio.<br />

— Ele vai dar um jeito <strong>de</strong> chegar lá — <strong>Paul</strong> fala, colocando o cinto <strong>de</strong> segurança em Hayley. Ela<br />

está ansiosa, aguardando este bebê. Ela ama seus primos, mas tenho a sensação <strong>de</strong> que ela não vai<br />

<strong>de</strong>ixar ninguém pegar neste bebê antes <strong>de</strong>la. Ainda não sabemos o que vai ser. Decidimos pela<br />

surpresa.<br />

Chegamos ao hospital rapidamente, Pete e Logan logo atrás <strong>de</strong> nós.<br />

Logan pega sua chave <strong>de</strong> volta e vai estacionar. Emily tira Kit da ca<strong>de</strong>irinha e caminhamos<br />

juntos. Emily beija minha bochecha.<br />

— Vá se instalar. Nos vemos em breve. — Ela leva Hayley com ela, apesar dos protestos da<br />

menina.<br />

A enfermeira fecha a cara para o número <strong>de</strong> pessoas que trouxemos conosco. Até Garrett e Cody<br />

vieram com Tuesday, e o quarto está absolutamente lotado. Esta é a minha família.<br />

Coloco o avental e <strong>Paul</strong> se senta ao meu lado. Ele esteva comigo durante o parto <strong>de</strong> Tuesday e<br />

segurou a minha mão o tempo todo, mas este é diferente. Este é o nosso.<br />

De repente, um garoto <strong>de</strong> cabelos castanhos coloca a cabeça para <strong>de</strong>ntro do quarto.<br />

— Oi — diz Jacob. Jill vem atrás <strong>de</strong>le e me beija na bochecha. — Viemos para ver o bebê. —<br />

Ele toca minha barriga. — Eu cresci aí, também — ele fala para meu estômago, os lábios muito perto<br />

do avental do hospital. Ele olha para mim e sorri. Jacob per<strong>de</strong>u outro <strong>de</strong>nte na semana passada,<br />

quando estava em nossa casa. Então, estou começando a participar <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong> seus momentos<br />

importantes. Jill e eu somos boas amigas.<br />

— É verda<strong>de</strong> — falo. — Acho que o bebê está pronto para sair.<br />

Ele dá um passo para trás.<br />

— Agora mesmo?<br />

Eu concordo.<br />

— Ewww — diz ele. — On<strong>de</strong> está a Hayley? — Ele foge fora para encontrar Hayley. Jill acena<br />

para mim da porta, indo atrás <strong>de</strong>le. Não sabia que eles vinham, mas <strong>de</strong>veria ter imaginado.


— Ligou para eles? — pergunto a <strong>Paul</strong>.<br />

Ele dá <strong>de</strong> ombros.<br />

— Talvez.<br />

Me inclino e o beijo.<br />

— Te amo tanto.<br />

Mal sou ligada aos monitores quando sinto a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empurrar.<br />

— Acho que está na hora.<br />

<strong>Paul</strong> pula e chama uma enfermeira. A sala é subitamente preenchida com médicos e enfermeiros,<br />

e o verda<strong>de</strong>iro trabalho começa. <strong>Paul</strong> conversa comigo o tempo todo, nunca saindo do meu lado. Ele<br />

é a minha rocha. E acho que sou a sua.<br />

Este vai ainda mais rápido do que o nascimento <strong>de</strong> Tuesday. Puta merda, isso dói.<br />

— Está quase lá — diz <strong>Paul</strong>.<br />

— Gostaria que você calasse a boca — eu digo.<br />

— Foda-se — ele resmunga, enxugando a testa com um pano úmido.<br />

— Foda-se — digo a ele.<br />

<strong>Os</strong> enfermeiros olham um para o outro com preocupação, mas é assim que somos. É o que sempre<br />

fomos.<br />

— Está saindo a cabeça, pai! — o médico fala.<br />

<strong>Paul</strong> não solta a minha mão, mas olha para baixo para ver seu bebê vir ao mundo. Seus olhos<br />

brilham com lágrimas e eu empurro. Sinto como se fosse empurrar para sempre, quando finalmente a<br />

dor facilita a pressão. Abro os olhos e vejo uma bagunça sangrenta em minha barriga.<br />

— É um menino — diz o médico.<br />

<strong>Paul</strong> se inclina para mim e encosta seu rosto ao lado do meu.<br />

— Nosso menino — diz ele. — Ele é nosso.<br />

Eu concordo. Sei que é. <strong>Paul</strong> corta o cordão e eu coloco minha mão em nosso filho e ele olha<br />

para mim. Em seguida, começa a gritar. A enfermeira se aproxima para levá-lo <strong>de</strong> mim.<br />

— Só um minuto — eu digo. Olho para baixo, em seus olhos, e sei que este veio para ficar. O<br />

peso <strong>de</strong>le na minha barriga é tão diferente do peso <strong>de</strong>le <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. Ele pisca e sua pele torna-se<br />

ainda mais roxa enquanto ele grita. Conto os <strong>de</strong>dos das mãos e pés, só porque posso. — Tudo bem —<br />

falo.<br />

Ela o leva <strong>de</strong> mim para limpá-lo.<br />

— Ele é perfeito — eu digo.<br />

— Como você. — <strong>Paul</strong> encosta o nariz ao lado do meu e sinto o respingo quente <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suas<br />

lágrimas. Ele a enxuga.


P A U L<br />

T<br />

enho um filho. Enxugo meus olhos com a camisa e saio para a sala <strong>de</strong> espera. Todos estão lá.<br />

Quando viramos tantos? Até Henry está aqui. Hayley corre para mim e salta para os meus braços.<br />

— É um menino! — Digo a todos eles. — Três quilos e oitocentas gramas, sessenta centímetros<br />

<strong>de</strong> comprimento, e ele está aqui! — PJ. <strong>Paul</strong> Junior. Escolhemos os nomes tanto para menina quanto<br />

para menino, há meses atrás. Não posso acreditar que tenho um filho.<br />

Hayley grita e todos aplau<strong>de</strong>m. Entrego Hayley para Emily e volto para estar com Friday, porque<br />

não há outro lugar que eu queira estar. Depois <strong>de</strong> estar tudo limpo, as enfermeiras <strong>de</strong>ixam Hayley e<br />

Jacob entrarem por um instante. Em seguida, entra a família e o bebê é apreciado por todos. Friday<br />

está cansada, mas seu trabalho <strong>de</strong> parto foi muito rápido. Mas ela não tem dormido bem, por isso ela<br />

provavelmente está exausta.<br />

As pessoas começam a ir embora. Matt e Sky levam Hayley para casa com eles, e quando o<br />

quarto está finalmente vazio, me sento com Friday e coloco meu braço ao redor <strong>de</strong>la na cama.<br />

Estamos sozinhos. Estou surpreso que ela não pareça um <strong>de</strong>sastre emocional; ela está muito calma e<br />

fria. Já fez isso duas vezes, mas nunca com um bebê que levaria para casa.<br />

— Quero apren<strong>de</strong>r a amamentar — ela fala calmamente. — Posso fazer isso, certo?<br />

— Você po<strong>de</strong> fazer qualquer coisa que queira.<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Fizemos um bom trabalho. — Uma lágrima <strong>de</strong>sliza por sua bochecha, mas ela não a enxuga.<br />

Friday ainda me <strong>de</strong>ixa louco, mas também está mais aberta e honesta sobre seus sentimentos do que<br />

nunca. Ou, pelo menos, é comigo.<br />

A consultora <strong>de</strong> lactação vem e lhe ensina como alimentar o bebê. Nunca vi nada mais doce do<br />

que a visão <strong>de</strong>la com meu bebê em seu seio. Ela recua e diz que é mais difícil do que Sky e Emily<br />

fizeram parecer.<br />

— Você vai pegar o jeito — digo a ela.<br />

— Jura? — ela pergunta e sorri para mim.<br />

— Já quebrei alguma promessa a você?<br />

Ela balança a cabeça.<br />

— Nunca.<br />

Ela me prometeu que me amaria para sempre, quando nos casamos. Ela prometeu que po<strong>de</strong>ria<br />

resistir a qualquer tempesta<strong>de</strong> que surgisse em nosso caminho, e temos resistido. Ela não po<strong>de</strong> me<br />

prometer a perfeição, mas me prometeu que seria minha, e isso é tudo que preciso.


Ela fecha os olhos enquanto nosso bebê mama em seu peito. Percebo que o peito está tampando o<br />

nariz do bebê, então me aproximo e abro um espaço com o <strong>de</strong>do, para que ele possa respirar. Ela<br />

abre os olhos.<br />

— Você ainda está cuidando <strong>de</strong> mim.<br />

— Você me <strong>de</strong>ixou viver em sua fortaleza, Friday. Vou protegê-la até o dia em que eu morrer. Eu<br />

prometo. — Eu a beijo suavemente e observo o nosso bebê, enquanto ela o alimenta pela primeira<br />

vez. Tiro uma foto mental dos dois. Clique! Clique! Mas não vou compartilhá-la com ninguém. Esta<br />

imagem é apenas para mim.


L E I A O S D E M A I S L I V R O S D A S É R I E I R M Ã O S R E E D :<br />

Tatuagem, toque e tentação<br />

Sagaz, sexy e secreto<br />

Calmamente, cuidadosamente, completamente<br />

Balas e beijos<br />

Enfim encontrando esperança<br />

A revanche <strong>de</strong> Reagan e o encerramento do enlace <strong>de</strong> Emily<br />

O maravilhoso milagre <strong>de</strong> Matt

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