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CIDADES, POLÍTICAS URBANAS<br />
REDISTRIBUTIVAS E A CRISE<br />
Eduardo Marques<br />
Semanticamente, crises são momentos (transitórios)<br />
decisivos de deterioração de certas condições, a partir dos<br />
quais ocorrem desenlaces, para pior ou para melhor. No Brasil, após<br />
um período de grande (e excessivo) otimismo, impasses e problemas<br />
de várias ordens se impuseram, interrompendo ou revertendo<br />
os ganhos sociais dos últimos anos e instaurando perplexi<strong>da</strong>de e<br />
incertezas quanto ao futuro.<br />
Essas crises têm já claros impactos negativos em nossas ci<strong>da</strong>des,<br />
por meio do desemprego, que<strong>da</strong> <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, elevação <strong>da</strong> pobreza e provavelmente<br />
também <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de habitacional, além de redução<br />
<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de investimento dos governos. Entretanto, se nos<br />
ativermos demais a esses impactos, veremos apenas a crise social na<br />
ci<strong>da</strong>de e a deterioração social cíclica, que tendem a se reduzir com a<br />
melhora <strong>da</strong> conjuntura. A ideia de crise urbana, na ver<strong>da</strong>de, já vinha<br />
sendo mobiliza<strong>da</strong> de forma constante desde os anos 1970, mas para<br />
descrever características estruturais do urbano brasileiro, ao invés<br />
de especificar grandes pontos de mu<strong>da</strong>nça que representam conjunturas<br />
críticas. Existe em nossas ci<strong>da</strong>des, entretanto, um ponto de não<br />
retorno no sentido de crise. Trata-se do risco colocado no momento<br />
para a agen<strong>da</strong> urbana diversifica<strong>da</strong>, redistributiva e participativa que<br />
vinha lentamente tornando nossas ci<strong>da</strong>des menos desiguais, mais<br />
funcionais e mais civis desde os anos 1980. Este texto se propõe a<br />
caracterizar essa crise, sumarizando as trajetórias de nossas ci<strong>da</strong>des,<br />
suas políticas e suas transformações e especulando sobre possíveis<br />
desdobramentos futuros.<br />
As ci<strong>da</strong>des brasileiras e suas políticas<br />
[1] Exceto quando explicitado,<br />
os <strong>da</strong>dos demográficos citados têm<br />
como fonte o site do IBGE (www.<br />
ibge.gov.br/home).<br />
[2] ONU, 2009.<br />
Em 2010 o Brasil tinha aproxima<strong>da</strong>mente 85% de sua população<br />
em ci<strong>da</strong>des. 1 Grande parte dessa população vivia em aglomerações de<br />
grande porte e metrópoles, sendo previsto que o Brasil teria doze <strong>da</strong>s<br />
22 maiores ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> América Latina em 2015, incluindo a maior —<br />
São Paulo — e a terceira maior — Rio de Janeiro. 2 Essa rede urbana<br />
foi construí<strong>da</strong> por um acelerado processo de urbanização que levou<br />
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