Minas em Cena Motors 2017

COMPORTAMENTO • Pense Diferente
Insights para um mundo mutante
A HORA DO MINDFULLNESS
LOUIS BURLAMAQUI*
Mindfulness tem origem na
língua (nativa do subcontinente
indiano) chamada
“Pali” (que significa linha, norma),
mais especificamente na palavra
“Sati”, que corresponde à faculdade
psicológica da consciência
plena no agora. A essência remete
ao budismo, porém, é uma prática
sem viés religioso, filosófico ou
esotérico. Sua tradução literal é
“mente plena”, que também pode
ser entendida como “atenção plena”,
e que consiste no método de
trabalhar a mente para, intencionalmente,
trazer de volta o foco para o
tempo presente.
É em sua essência um estado
psicológico onde a atenção no presente
é feita de forma intencional e
totalmente consciente. É uma atitude
de disponibilidade em aceitar
os pensamentos, sensações corporais,
emoções, lembranças como
elas são sem recriminá-las ou reagir
de modo automático/habitual.
Dentro desse entendimento
de ‘atenção plena’ há trabalhos no
sentido de explorar esse conceito
na prática meditativa. A palavra
meditar vem do latim ‘meditare’,
que significa ‘voltar-se para o centro’,
sendo esse centro o interior
do ser – humano. Porém, ao contrário
da meditação tradicional,
que busca a interrupção do pensamento,
no mindfulness a pessoa
deve deixar seus pensamentos e
emoções fluírem livremente, sem
julgamentos sobre eles. Diz respeito
a observar objetos do tempo
presente como a respiração, o
movimento do corpo ou sensações
corporais (objetos do “Eu”),
tendo-os como estímulos ou âncoras
que centralizam a atenção
do indivíduo, para que a cada momento
ele possa se concentrar no
seu agora.
88 MINAS EM CENA
A NECESSIDADE DE VIVER NO AGORA
Tornar-se consciente de cada momento
é trabalhar a consciência observadora
do agora como forma de
questionar-se, conhecer-se e aceitar-
-se. Entretanto, o fluxo de pensamentos
é ininterrupto, oscilando a todo o
momento entre o passado e o futuro,
com pouco ou nenhum foco total no
presente. Considera-se pensamentos
e emoções do passado traumas, lembranças,
culpas, arrependimentos,
ressentimentos. Já do futuro, sonhos,
aspirações, objetivos, metas, ansiedades
pela espera de algo.
A mente parece querer a todo
momento abster-se do tempo presente.
É comum focar muito no que
se foi feito (passado) e no que se irá
fazer (futuro), visto que o passado dá
uma noção de identidade, e o futuro
dá uma ideia de um tempo ao qual
se conquistará a almejada felicidade.
O uso do celular ou do computador,
hoje em dia, são exemplos da
não presença no agora. As pessoas
se reúnem para almoços, confraternizações
familiares, eventos de trabalho,
mas basta um pouco de atenção
para perceber que elas estão em outra
“dimensão”: a virtual. O contato
presencial, assim, perde sua qualidade,
pois os indivíduos estão fisicamente
no local, mas mentalmente
pensando no que precisam fazer, ou
nas coisas que deviam ter feito. Dão
maior crédito ao que ainda virá, do
que ao que está acontecendo, ou ainda
focam no que já passou, esquecendo-se
do que pode ser feito no
presente. Mesmo juntas, as pessoas
estão como que separadas, sem conexão
umas com as outras, conexão
esta que é substituída pela pessoa
não presente, ou seja, a virtual.
Ao contemplar os dilemas do
foco no “depois”, o ato de esperar
para muitos é angustiante, pois
se refere ao futuro, e, dessa forma,
um tempo que ainda não chegou.
Isso quer dizer que esperar muito
é um estado mental de negação
do presente e exaltação do futuro,
colocando-o como o mais importante
e é típico de pessoas ansiosas.
Para quem pronuncia frases como
“Quando eu conseguir alcançar minha
meta serei feliz”, o aqui e o agora
nunca são suficientemente bons.
Uma pessoa com qualidade de
vida é aquela que foca no agora,
mesmo tendo uma noção relativa
do tempo. Esse alguém quando
tem uma meta, por exemplo, sabe
muito bem aonde quer chegar,
mas mantém a atenção no passo
que está dando no presente.
DICAS SIMPLES PARA UMA
ATENÇÃO NO AGORA
• Comece o dia devagar, pois o
dia tende a ser agitado por si só.
• Nas refeições, sente-se e sinta
o gosto dos alimentos. Evite comer
em pé ou andando.
• Mude as rotas e comece a prestar
atenção em outros lugares,
pessoas e situações.
• Algumas vezes ao dia, pare e
escute os sons do ambiente.
• Pelo menos três vezes ao dia,
pare para alongar o corpo.
• Pratique a auto-observação:
sem julgamentos, comece a
prestar atenção nos seus hábitos,
atitudes e pensamentos recorrentes.
O que eles têm a te dizer?
*Escritor, empresário, terapeuta e músico - louisbur@gmail.com
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