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COMPORTAMENTO • Mobilidade Urbana<br />
Crédito Wolf Wagner<br />
Um olhar crítico sobre o<br />
TRÂNSITO DE BH<br />
DIAGNÓSTICO E SUGESTÕES DE INTERVENÇÕES<br />
JOSÉ APARECIDO RIBEIRO*<br />
Belo Horizonte vive período conturbado<br />
<strong>em</strong> relação ao t<strong>em</strong>a<br />
mobilidade urbana. O trânsito<br />
é um dos principais probl<strong>em</strong>as que<br />
afetam a vida de milhões de pessoas<br />
diariamente. O estresse não escolhe<br />
classe, n<strong>em</strong> tampouco meio de transporte.<br />
No carro, no ônibus, no metrô,<br />
no taxi, e até caminhando pelas ruas,<br />
o que se vê é lentidão, e sensação de<br />
impotência diante da realidade.<br />
Cruzar a cidade fica cada vez<br />
mais difícil, d<strong>em</strong>orado e arriscado.<br />
O trânsito está parado s<strong>em</strong>pre<br />
nos mesmos lugares. O t<strong>em</strong>a deixou<br />
de ser assunto para especialistas,<br />
e hoje precisa ser discutido<br />
no campo da saúde pública, do<br />
b<strong>em</strong>-estar e da economia urbana.<br />
Belo Horizonte está parando e<br />
pouco ou nada t<strong>em</strong> sido feito pelo<br />
poder público para permitir uma<br />
mobilidade urbana com fluidez.<br />
METRÔ: MITO OU REALIDADE?<br />
A cidade não precisa e não t<strong>em</strong><br />
dinheiro para metrô, seu custo de<br />
construção é inviável economicamente.<br />
Os modais recomendados<br />
pela engenharia, capazes de substituir<br />
o metro são: Monotrilho e VLT.<br />
Importante esclarecer que, para ser<br />
viável, metrô exige um fluxo de 60<br />
mil passageiros hora/pico/sentido.<br />
O km de metrô subterrâneo custa<br />
R$ 700 milhões e, ao contrário do<br />
que se pensa, não é prioridade.<br />
José Aparecido Ribeiro<br />
MONOTRILHO E VLT, CONJUGADOS<br />
COM BRT E METRÔ DE SUPERFÍCIE<br />
SÃO VIÁVEIS E POSSÍVEIS<br />
BH possui atualmente uma d<strong>em</strong>anda<br />
de 30 mil passageiros hora/<br />
pico/sentido, transportados <strong>em</strong><br />
ônibus, 70% deles convencionais,<br />
s<strong>em</strong> ar-condicionado, desconfortáveis<br />
e s<strong>em</strong> apelos capazes de<br />
provocar mudanças de hábitos <strong>em</strong><br />
qu<strong>em</strong> usa o transporte individual.<br />
Exist<strong>em</strong> 130 km de projetos de<br />
monotrilho viáveis, prontos, esperando<br />
por vontade política. Monotrilho<br />
carrega até 48 mil passageiros<br />
e custa cinco vezes menos que<br />
o metrô. A escolha de um desses<br />
modais ou dos dois, conjugados<br />
com ônibus convencionais e BRT,<br />
garante transporte de boa qualidade<br />
para os próximos 100 anos.<br />
OBRAS ESTRUTURAIS: FAZÊ-<br />
-LAS OU NÃO? DESAFIO É PRIO-<br />
RIZAR AS MAIS IMPORTANTES<br />
Embora algumas obras de infraestrutura<br />
tenham sido feitas nos<br />
dois últimos governos, <strong>em</strong>baladas<br />
pelo advento da Copa do Mundo<br />
<strong>em</strong> 2014, (corredores da Cristiano<br />
Machado e Antônio Carlos/Pedro<br />
I) Via 710 sendo concluída, a cidade<br />
ainda possui um passivo bastante<br />
significativo. Já são 40 anos<br />
s<strong>em</strong> construir trincheiras, viadutos,<br />
túneis e elevados. A região Centro<br />
Sul é a que mais sofre com a infraestrutura<br />
defasada, pois concentra<br />
o maior volume de trafego.<br />
FALTA COMPROMISSO COM A<br />
FLUIDEZ - SINAIS DE TRÂNSITO<br />
EM EXCESSO E SEM SINCRONIA<br />
O traçado da capital não contribui<br />
para a fluidez do tráfego.<br />
Porém, para piorar o número de<br />
sinais v<strong>em</strong> aumentando e já ultrapassa<br />
os 1.100 equipamentos.<br />
A maioria deles s<strong>em</strong> sincronia ou<br />
sincronizados <strong>em</strong> ondas vermelhas<br />
para impedir a fluidez. O que<br />
gera estresse e risco de acidentes,<br />
quando o motorista tenta recuperar<br />
t<strong>em</strong>po perdido <strong>em</strong> sinais<br />
ou engarrafamentos. Os sinais já<br />
não dão conta do volume de tráfego<br />
nos horários de pico.<br />
FROTA DE VEÍCULOS CAMINHAN-<br />
DO PARA A CASA DOS 1,8 MILHÃO<br />
DE UNIDADES E OS GARGALOS<br />
PERMANECEM IMEXÍVEIS<br />
Com volume <strong>em</strong> crescimento<br />
permanente, ausência de intervenções<br />
de engenharia nos mais<br />
de 150 gargalos que a cidade<br />
possui e que esperam por intervenções<br />
de engenharia, a cidade<br />
caminha para o caos. Trânsito parado<br />
significa queima desnecessária<br />
de combustível, perda de<br />
t<strong>em</strong>po e milhares de toneladas<br />
de CO2 na atmosfera.<br />
O PLANMOB (PLANO DE MOBI-<br />
LIDADE) - CICLOVIAS VAZIAS<br />
Desenhado pela PBH <strong>em</strong> 2008,<br />
e desconhecido da maioria da população,<br />
o Planmob traça metas<br />
para a mobilidade até 2030, tendo<br />
como foco medidas de restrição ao<br />
uso do carro, incentivo a bicicleta,<br />
BRT e caminhadas. Porém, desconsidera<br />
o fato de a cidade não oferecer<br />
clima e topografia adequados<br />
para a prática do ciclismo, transporte<br />
coletivo de baixa qualidade<br />
e topografia que não incentiva a<br />
caminhada. Os 87 km de ciclovias<br />
existentes passam a maior parte do<br />
t<strong>em</strong>po vazias, ou são usados por<br />
atletas que representam 0,6% da<br />
população. Enquanto isso, espaço<br />
<strong>em</strong> vias saturadas são disputados<br />
literalmente ‘à tapa e no grito’ por<br />
motoristas irritados com o trânsito.<br />
GARGALOS CRÔNICOS QUE<br />
SOMAM MAIS DE 150<br />
No Planmob, obras de infraestrutura<br />
para desatar gargalos crônicos<br />
e permitir fluidez não são sequer<br />
consideradas. A BHTrans não<br />
consegue eleger as mais importantes<br />
e n<strong>em</strong> tampouco intervir<br />
proativamente para evitar engarrafamentos<br />
nos pontos nevrálgicos<br />
do trânsito. O efetivo da BH-<br />
Trans desapareceu das ruas. Obras<br />
são consideradas pelos gestores<br />
da PBH como paradigma, <strong>em</strong>bora<br />
sejam inevitáveis e urgentes.<br />
CARRO NÃO SAI DE CENA<br />
Dados do Ipea mostram que a<br />
indústria automobilística representa<br />
23% do PIB nacional e 15% da mão<br />
de obra economicamente ativa. A<br />
taxa de motorização do Brasil, que é<br />
de 25%, ainda é baixa se comparada<br />
à Norte Americana, que é de 90%,<br />
e à Europeia, que ultrapassa 70%.<br />
Vale l<strong>em</strong>brar que o brasileiro é apaixonado<br />
por carro, atribuindo a ele<br />
mais do que o significado de meio<br />
de transporte, mas status, liberdade,<br />
símbolo de ascensão social, mobilidade,<br />
sonho de consumo e objeto<br />
de desejo número um.<br />
ROTAS ALTERNATIVAS<br />
A cidade possui mais de 50<br />
rotas alternativas que, se b<strong>em</strong> asfaltadas,<br />
sinalizadas e conhecidas<br />
pela população, pod<strong>em</strong> tirar dos<br />
grandes corredores milhares de<br />
veículos. Estima-se que 20% do<br />
tráfego dos corredores saturados<br />
pod<strong>em</strong> ser distribuídos pelas rotas<br />
alternativas que cruzam os bairros,<br />
ligando as várias regiões da cidade.<br />
ASFALTO RUIM: MURUNDUS E<br />
DESNÍVEIS NO PISO<br />
O piso asfáltico de BH está <strong>em</strong><br />
péssimo estado de conservação.<br />
Um olhar atento às ruas e avenidas<br />
da capital é possível notar que são<br />
poucas as que não possu<strong>em</strong> r<strong>em</strong>endos.<br />
A maioria dos bairros nunca<br />
receberam recapeamento. Milhares<br />
de km de vias são intransitáveis. Se<br />
já não bastasse o desgaste natural,<br />
não existe fiscalização quanto ao<br />
uso do subsolo. Gasmig, C<strong>em</strong>ig,<br />
Copasa e <strong>em</strong>presas de fibra ótica<br />
cortam as ruas da cidade e não<br />
devolv<strong>em</strong> o asfalto com a mesma<br />
qualidade. O serviço de fechamento<br />
de valas é feito por <strong>em</strong>preiteiros<br />
s<strong>em</strong> compromisso com a estética<br />
urbana. Tampas de ferro desniveladas,<br />
murundus, valas que danificam<br />
os veículos se multiplicam, s<strong>em</strong> que<br />
haja punição ou obrigatoriedade de<br />
correção dos serviços mal feitos.<br />
ANEL RODOVIÁRIO<br />
O trânsito de BH t<strong>em</strong> sido<br />
afetado <strong>em</strong> toda a sua extensão<br />
quando acontece um<br />
acidente no Anel Rodoviário.<br />
Acidentes recentes com carretas<br />
atravessadas na via param<br />
a cidade, gerando engarrafamentos<br />
gigantes que chegam<br />
a durar mais de 6 horas. Há<br />
menos de 2 meses, a responsabilidade<br />
sobre a gestão do<br />
Anel Rodoviário voltou para o<br />
DNIT. Esteve desde 2012 sob a<br />
tutela do estado. Pela primeira<br />
vez, <strong>em</strong> 20 anos, há esperança<br />
de que obras serão feitas para<br />
minimizar os riscos de aciden-<br />
90 MINAS EM CENA<br />
MINAS EM CENA 91