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A <strong>jogada</strong>.....<br />

O GOL DE CARLOS ALBERTO:<br />

BRASIL-ITÁLIA, <strong>final</strong> <strong>do</strong> Mundial <strong>de</strong> <strong>1970</strong><br />

Minuto: 86<br />

Resulta<strong>do</strong>: Brasil 4-1 Itália<br />

J<br />

onatan Alba<br />

Fotos: Gettyimages<br />

BRASIL<br />

4 1 ITÁLIA<br />

Os <strong>gol</strong>s <strong>de</strong> Zidane<br />

na <strong>final</strong> <strong>do</strong> Mundial<br />

98’, a parábola<br />

impossível <strong>de</strong><br />

Roberto Carlos,<br />

a obra <strong>de</strong> arte <strong>de</strong><br />

Pelé em Suécia<br />

1958’... Jonatan<br />

Alba, colabora<strong>do</strong>r<br />

em Fútbol-Táctico<br />

e treina<strong>do</strong>r nível<br />

III, analisa <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

outro ponto <strong>de</strong><br />

vista os <strong>gol</strong>s<br />

mais importantes<br />

na história <strong>do</strong><br />

futebol. Tantos que<br />

escon<strong>de</strong>m gran<strong>de</strong>s<br />

acertos, mas<br />

também graves<br />

erros táticos.


LA A JOGADA JUGADA<br />

O GOL DE CARLOS ALBERTO: Final <strong>do</strong> Mundial <strong>1970</strong>.<br />

Nesta ocasião nos remontamos ao Mundial <strong>de</strong> Futebol <strong>do</strong> México em <strong>1970</strong>, para ver nada menos que a gran<strong>de</strong> <strong>final</strong><br />

entre Brasil e Itália.<br />

É uma verda<strong>de</strong>ira viagem futebolística no tempo, on<strong>de</strong> cada <strong>de</strong>talhe <strong>do</strong> jogo nos ensina <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vimos e a<br />

exponencial evolução que faz que hoje em dia o mesmo esporte pareça outro.<br />

Não são equiparações <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res, com esses shorts curtos que lhe cortavam a circulação, ou essas camisetas sem<br />

nomes. Nem sequer esses números que não passavam <strong>do</strong> 25. Se fazemos um pequeno zoom veremos como tinha<br />

ban<strong>de</strong>irinhas <strong>de</strong> escanteio situa<strong>do</strong>s também on<strong>de</strong> se<br />

cruzavam as linhas <strong>de</strong> banda e o centro <strong>do</strong> campo.<br />

assim ser mais preciso e potente na busca <strong>do</strong> ataque<br />

e superar por cima qualquer tipo <strong>de</strong> pressão. Por<br />

tanto, as equipes não pressionavam nem arriscavam<br />

atrás, apenas po<strong>de</strong>mos ver transições no jogo, os<br />

ataques eram centros a área on<strong>de</strong> os dianteiros e rivais<br />

competiam pela bola. Se a <strong>jogada</strong> não tinha êxito, a<br />

equipe repregada tranquilamente e muito <strong>de</strong>vagar, sem<br />

apenas velocida<strong>de</strong> enquanto o rival se incorporava ao<br />

ataque.<br />

Como é lógico, quan<strong>do</strong> o zero a zero <strong>de</strong>saparecia<br />

<strong>do</strong> placar, se assumiam alguns riscos mais, mas<br />

pouco mais. Os dianteiros atacavam e ponto, não<br />

tinha trabalho <strong>de</strong>fensivo, uma vez que perdiam a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>gol</strong>, voltavam andan<strong>do</strong> ao centro <strong>do</strong><br />

campo, inclusive em ocasiões po<strong>de</strong>mos ver como os<br />

<strong>de</strong>fesas passam conduzin<strong>do</strong> a bola a seu la<strong>do</strong> sem que<br />

eles reajam. A evolução tática que introduziu esta regra<br />

fez que mudasse tu<strong>do</strong>, a preparação física tinha que ser<br />

maior, a técnica <strong>do</strong> passe e o conhecimento <strong>do</strong> novo<br />

jogo hoje em dia são muito diferentes.<br />

Ou como as assistências médicas (barrena em mãos)<br />

saltavam ao campo quan<strong>do</strong> o viam oportuno e era o<br />

árbitro quem tinha que colocá-los fora se pensava que<br />

não era necessário ou que estava provocan<strong>do</strong> uma<br />

perda <strong>de</strong> tempo.<br />

Quan<strong>do</strong> se produzia uma falta eram os próprios<br />

joga<strong>do</strong>res os que se situavam na distância oportuna<br />

para colocar a barreira, da<strong>do</strong> que na maioria <strong>de</strong><br />

ocasiões o árbitro nem sequer o comprovava. Durante a<br />

<strong>final</strong> entre Brasil e Itália po<strong>de</strong>mos observá-lo inclusive<br />

em um livre indireto <strong>de</strong>ntro da área, on<strong>de</strong> os joga<strong>do</strong>res<br />

da Itália se colocam a distância que eles acreditam<br />

oportuna e o árbitro não me<strong>de</strong> e a dá por boa.<br />

Muitíssimas curiosida<strong>de</strong>s, a estas po<strong>de</strong>ríamos<br />

acrescentar que Brasil não fez nenhuma mudança na<br />

<strong>final</strong> ou que eram os extremos os que em ocasiões<br />

tiravam <strong>de</strong> banda em vez <strong>de</strong> seus companheiros <strong>de</strong><br />

corre<strong>do</strong>r. Mas o que sem dúvida é a maior diferença<br />

com a bola atual, o que mu<strong>do</strong>u a tática <strong>de</strong>ste esporte,<br />

foi a modificação da regra da cessão ao <strong>gol</strong>eiro nos anos<br />

90. Esta pequena modificação o mu<strong>do</strong>u tu<strong>do</strong>: a tática, o<br />

jogo e até os <strong>gol</strong>eiros.<br />

Um futebol muito diferente ao <strong>de</strong> agora<br />

Ven<strong>do</strong> a <strong>final</strong>, observamos que as equipes não<br />

pressionam nunca a saída da bola, lógico; o <strong>gol</strong>eiro<br />

busca na linha da gran<strong>de</strong> área a um companheiro<br />

que se a <strong>de</strong>volva para po<strong>de</strong>r pegá-la com a mão e<br />

26<br />

/ EDIÇAO 82 FUTBOL-TACTICO


EL LA ANÁLISIS JUGADA<br />

Os erros da Itália e o brilhantismo <strong>do</strong> Brasil<br />

A <strong>jogada</strong> começa em um arremesso lateral da Itália, que realiza um ataque contra um Brasil reprega<strong>do</strong> com o placar<br />

muito favorável (3-1). Per<strong>de</strong>m a bola perto da área da ‘canarinha’, que começa seu ataque sem pressa... Deste mo<strong>do</strong>,<br />

não po<strong>de</strong>mos falar <strong>de</strong> contra-ataque, pois <strong>de</strong>ixa que Itália se or<strong>de</strong>ne (mal por certo).<br />

passada com a incorporação ao ataque <strong>de</strong> Carlos Alberto. Com a chegada <strong>do</strong> lateral direito se produziu a<br />

superiorida<strong>de</strong>: três contra <strong>do</strong>is. O central esquer<strong>do</strong> quis sair a tapar lhe, pois o lateral (muito centra<strong>do</strong>) tinha<br />

saí<strong>do</strong> ao encontro <strong>de</strong> Pelé. Cúmulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spropósitos nos movimentos <strong>de</strong>fensivos <strong>de</strong> uma linha que tentou cobrir o<br />

primeiro erro, com uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> erros posteriores.<br />

Logo Carlos Alberto <strong>de</strong>fine <strong>de</strong> maneira soberbia diante <strong>do</strong> <strong>gol</strong>eiro, mas se nos fixamos bem, também tem outras<br />

opções <strong>de</strong> passe para que a <strong>jogada</strong> acabe em <strong>gol</strong>, pois os <strong>de</strong>fensores, já não sabiam por on<strong>de</strong> chegavam os <strong>gol</strong>pes,<br />

tinham <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> livres <strong>de</strong> marca a outros <strong>do</strong>is joga<strong>do</strong>res brasileiros.<br />

Itália realiza uma pequena pressão com os meios<br />

e atacantes em zona <strong>de</strong> três quartos sobre Brasil.<br />

A bola chega a Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong>, que tem magia nas<br />

chuteiras e regateia facilmente até quatro rivais em<br />

uma ação errônea da ‘azzurra’, que <strong>de</strong>stinada quatro<br />

joga<strong>do</strong>res para um roubo estéril <strong>de</strong> bola na que<br />

não tem nenhuma pressão nem intensida<strong>de</strong>, já que<br />

o resto <strong>de</strong> companheiros estavam muito longe da<br />

ação. Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong>, com facilida<strong>de</strong>, ce<strong>de</strong> a bola a seu<br />

lateral esquer<strong>do</strong> e este realiza um passe longo a seu<br />

companheiro <strong>de</strong> banda que era Jairzinho, quem tinha<br />

muda<strong>do</strong> <strong>de</strong> banda com Rivelino instantes antes.<br />

Esse passe evi<strong>de</strong>nciou a gran<strong>de</strong> distância que tinha<br />

entre a linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, quase pregada a sua área com o<br />

resto da equipe italiana. O que permitiu aos atacantes<br />

brasileiros enfrentar-se sozinhos contra uma nervosa<br />

linha <strong>de</strong> quatro.<br />

Recebe Jairzinho, direito, e conduz para <strong>de</strong>ntro<br />

acomodan<strong>do</strong>-se a sua perna boa pois estava na banda<br />

trocada. Nesta condução seu lateral lhe segue na<br />

marca, <strong>de</strong>sfazen<strong>do</strong> a linha, ainda que a meu enten<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>cisão correta, já que por essa banda não tinham<br />

perigos adicionais, pois o resto <strong>de</strong> joga<strong>do</strong>res estavam<br />

longe da <strong>jogada</strong>.<br />

O principal erro o comete o central direito italiano,<br />

Pierluigi Cera, sain<strong>do</strong> da linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas para ajudar<br />

a seu lateral no roubo da bola. Porque? Se o adversário<br />

já estava bem coberto por seu companheiro, o lateral<br />

direito, para que sai da linha, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> sozinho <strong>do</strong>is<br />

<strong>de</strong>fesas em dita linha. Este movimento é a chave <strong>do</strong><br />

<strong>gol</strong>: ao sair o central, <strong>de</strong>ixou a seu outro central e<br />

lateral esquer<strong>do</strong> contra <strong>do</strong>is talentosos brasileiros.<br />

Uma situação <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> numérica perigosíssima<br />

para a meta italiana que além disso se viu sobre<br />

Resumin<strong>do</strong>, o <strong>gol</strong> <strong>de</strong> Carlos Alberto é um <strong>do</strong>s mais bonitos na história <strong>de</strong> um Mundial, mas também são três graves<br />

erros no sistema <strong>de</strong>fensivo da Itália:<br />

1.- Deixar que<br />

vejamos a exibição<br />

<strong>de</strong> Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong>.<br />

Superan<strong>do</strong> com<br />

facilida<strong>de</strong> a quatro<br />

adversários.<br />

2.- A enorme<br />

distância<br />

entrelinhas que<br />

tinha entre os<br />

<strong>de</strong>fensores e os<br />

meios italianos, os<br />

quais são gran<strong>de</strong>s<br />

culpáveis <strong>do</strong> <strong>gol</strong>,<br />

já que se sua ajuda<br />

tivesse chega<strong>do</strong>,<br />

a linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

não teria que ter-se<br />

<strong>de</strong>scomposto para<br />

tapar a Jairzinho e<br />

a Pelé. Repregan<strong>do</strong><br />

tivessem<br />

proporciona<strong>do</strong><br />

a sua <strong>de</strong>fesa a<br />

superiorida<strong>de</strong><br />

numérica<br />

necessária.<br />

3.- Os movimentos<br />

<strong>de</strong>fensivos <strong>de</strong><br />

Pierluigi Cera e as<br />

consequências <strong>do</strong>s<br />

ajustes posteriores.<br />

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