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Alessa B.<br />
<strong>ASAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>BORBOLETA</strong>
B. Alessa<br />
Rio de Janeiro/Rio de Janeiro: Edição Independente,<br />
<strong>2011</strong>. 49 p.<br />
Rio de Janeiro <strong>2011</strong>.<br />
Todos os direitos reservados<br />
Esta obra está licenciada sob uma Licença<br />
Creative Commons<br />
Capa: Axills<br />
Produção Editorial:<br />
Samuel Achilles<br />
<strong>2011</strong><br />
<strong>Trovart</strong> <strong>Publications</strong><br />
2
Sumário<br />
Prefácio ....................................................................................................................................... 5<br />
Existencial .................................................................................................................................. 7<br />
Poema do amor em gozo ............................................................................................................ 8<br />
Despedida ................................................................................................................................... 9<br />
Com louvor e com ternura ........................................................................................................ 10<br />
A Dor ........................................................................................................................................ 11<br />
Soneto d’anunciação ................................................................................................................. 12<br />
Adormecido .............................................................................................................................. 13<br />
Versos perturbados ................................................................................................................... 14<br />
Minuano .................................................................................................................................... 15<br />
Existencial II ............................................................................................................................. 16<br />
Velha infância ........................................................................................................................... 17<br />
Menstrual .................................................................................................................................. 18<br />
Outono n’alma .......................................................................................................................... 19<br />
Abraço do adeus ....................................................................................................................... 20<br />
Epifania ..................................................................................................................................... 21<br />
Inquietude ................................................................................................................................. 22<br />
Espectral ................................................................................................................................... 23<br />
Olhos de ébano ......................................................................................................................... 24<br />
Vivere ....................................................................................................................................... 25<br />
Temporal ................................................................................................................................... 26<br />
Sangra teu verso ....................................................................................................................... 27<br />
Sonata ....................................................................................................................................... 28<br />
Speculum .................................................................................................................................. 29<br />
Aqueles olhos ........................................................................................................................... 30<br />
Pela janela ................................................................................................................................. 31<br />
Epílogo ..................................................................................................................................... 32<br />
Menino de asas ......................................................................................................................... 33<br />
Ressurreição.............................................................................................................................. 34<br />
Tuo petto ................................................................................................................................... 35<br />
Filosofal .................................................................................................................................... 36<br />
Castanhos .................................................................................................................................. 37<br />
Partida ....................................................................................................................................... 38<br />
Pluvial ....................................................................................................................................... 39<br />
La passion ................................................................................................................................. 40<br />
Nevasca ..................................................................................................................................... 41<br />
Saudade ..................................................................................................................................... 42<br />
Tuas mãos ................................................................................................................................. 43<br />
Imortal ...................................................................................................................................... 44<br />
Amor em peito flébil enlouquece... .......................................................................................... 45<br />
Posfácio .................................................................................................................................... 46<br />
Minibiografia ........................................................................................................................ 48<br />
Contatos com a autora .............................................................................................................. 49<br />
3
Cada poema um casulo rompido,<br />
Uma borboleta que se projeta no ar,<br />
Voando em busca do desconhecido,<br />
Voando, voando, pra não mais voltar.<br />
Alessa B.<br />
4
PREFÁCIO<br />
De repente, não mais que de repente, no singelo bater de asas de uma<br />
borboleta em um canto qualquer do Universo, toda uma mudança é gerada e<br />
uma cadeia de acontecimentos quase que instantânea vem perturbar<br />
diretamente nosso equilíbrio vital. É o Destino que se nos impõe.<br />
Ele não pergunta se estamos preparados ou não para recebê-lo. Apenas<br />
age. E espera uma resposta. Expulsa-nos do conforto e da segurança da<br />
crisálida com que nos protegemos do mundo. Intima-nos a libertar nossas<br />
borboletas interiores para que elas batam suas asas e interfiram de alguma<br />
forma nessa dinâmica existencial também.<br />
Meus versos são as asas dessas borboletas que a vida constantemente me<br />
instiga e me obriga a libertar. São essas inúmeras borboletas, que após<br />
passarem pelos estágios de ovo, larva e pupa dentro da minha alma, ganham<br />
existência própria e voam ao sabor dos ventos, se desprendendo do ventre de<br />
seu criador.<br />
São versos nômades que transitam pelas reentrâncias do tempo e do<br />
espaço, e no afã da transcendência percorrem diversas veredas temáticas numa<br />
inquietude também constante.<br />
Em poucas e definitivas palavras pode-se dizer que meu verso é borboleta<br />
que voa na imensidão, efêmero; porém, bem perto do chão.<br />
Alessa B.<br />
Curitiba, PR, 2010<br />
5
Passa a nuvem<br />
Por cima de mim<br />
Depressa e sem fim.<br />
Alessa B.<br />
6
EXISTENCIAL<br />
A existência precede<br />
e governa a essência.<br />
Jean-Paul Sartre<br />
Se num sopro de pó surjo no mundo,<br />
Folha virgem expelida na estrada,<br />
Que eu redija em mim um ente fecundo<br />
Tracejando meu destino entre o Nada.<br />
Que ao existir eu confira meu valor<br />
E neste plano erga minha essência.<br />
Se não vim do ventre dum Criador,<br />
Que em Terra abrace eu a transcendência!<br />
E se ao morrer, findar em cois‟alguma,<br />
Poeira consumida... caos do Universo,<br />
Orvalho amanhecido em fria escuma,<br />
Desfeito nos vãos do tempo perverso,<br />
De todas as coisas, quero só uma:<br />
Que eu dilua... mas que fique meu verso.<br />
7
POEMA DO AMOR EM GOZO<br />
Amo-te como um bicho, simplesmente<br />
De um amor sem mistério e sem virtude<br />
Com um desejo maciço e permanente.<br />
E de te amar assim, muito e amiúde<br />
É que um dia em teu corpo de repente<br />
Hei de morrer de amar mais do que pude.<br />
Vinicius de Moraes<br />
Amo-te pela beleza com que me cativas,<br />
Pelos mistérios sutis dos teus encantos,<br />
Pelas tuas artes, artimanhas e lascívias...<br />
Nas horas insensatas de gozos e de prantos.<br />
Amo-te pela força com que tu me arrebatas,<br />
Quando meu olhar desaparece no teu vulto.<br />
Pela doce gentileza com que tu maltratas,<br />
Cada expressão calorosa do meu culto...<br />
Amo-te pelo simples apetite de amar-te<br />
E sentir vivo teu amor sob as entranhas.<br />
Por entender que és de mim a contraparte,<br />
Maldito que me arfas e me ganhas...<br />
8
<strong>DE</strong>SPEDIDA<br />
E este amor que assim me vai fugindo<br />
É igual a outro amor que vai surgindo,<br />
Que há-de partir também... nem eu sei quando...<br />
Florbela Espanca<br />
Foste embora...<br />
Não hoje,<br />
Nem ontem,<br />
Nem agora.<br />
Aos poucos,<br />
Talvez,<br />
A cada hora.<br />
Silenciosamente,<br />
Sorrateiramente<br />
Fechaste a porta<br />
Atrás de ti.<br />
E o vazio<br />
Da tua presença<br />
Permaneceu<br />
Em mim.<br />
9
COM LOUVOR E COM TERNURA<br />
Se te amei! Se minha vida só queria<br />
Pela tua viver,<br />
No silêncio do amor e da ventura<br />
Nos teus lábios morrer!<br />
Álvares de Azevedo<br />
Amei-te com louvor e com ternura<br />
Em todo vão de tempo e cada hora,<br />
Vertida nesse amor me fiz tão pura<br />
Aos teus pés como quem um Anjo adora.<br />
Oh! Quanto frenesi, quanta ventura<br />
Sagrados braços pela noite afora!<br />
Do instante a magia só perdura...<br />
Do anoitecer até a branda aurora.<br />
Tão louca! Mil quimeras no meu peito<br />
Lancei à luz candente desse olhar!<br />
Amei-te com amor mais insuspeito,<br />
A gêmea alma que retrata o par.<br />
Oh! Deste-me amor tão putrefeito,<br />
Cadáver roto que se lança ao mar.<br />
10
A DOR<br />
Ao meu irmão (in memoriam)...<br />
Ai, doido sonho! Uma estação passou-se<br />
E tantas glórias, tão risonhos planos<br />
Desfizeram-se em pó!<br />
[...]<br />
Tu dormes no infinito seio<br />
Do Criador dos seres! [...]<br />
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?<br />
No vulto solitário de uma estrela.<br />
Cântico do calvário – Fagundes Varela<br />
Certeira vem a Dor, rasgando sonhos,<br />
Mil dardos de cilício tão vorazes,<br />
São golpes lancinantes, que medonhos<br />
N‟alma vertem violentos e mordazes.<br />
Espasmos de remorsos eu componho<br />
Em versos tão doídos e fugazes.<br />
E todas as palavras que deponho<br />
São rasgos mais profundos, pertinazes.<br />
Ai, quem dera deter as mãos do Fado,<br />
Retê-las gentilmente entre as minhas...<br />
Irmão, tu não estarias „encantado‟,<br />
Deixando-me na Terra tão sozinha!<br />
Que fazer dum destino destroçado,<br />
Se dessa vida nada se adivinha?<br />
11
SONETO D’ANUNCIAÇÃO<br />
Consola-me este horror, esta tristeza,<br />
Porque a meus olhos se afigura a Morte<br />
No silêncio total da Natureza.<br />
Bocage<br />
Quem és tu, quem és tu, súbita visão,<br />
Que te levantas no frio da alvorada?<br />
Vens oculta em véus de densa cerração,<br />
Tens na meiga face a alva descorada...<br />
Erras pelo céu esplêndida aparição,<br />
Bela e doce na aurora perfumada!<br />
Tens os santos óleos da extrem‟unção...<br />
Vens derramar nest‟alma desgraçada!<br />
Onde nos vimos dantes? És um anjo?<br />
És celeste, és graciosa... Tens porte!<br />
És por quem em sonhos me desarranjo?<br />
A quem invoco, buscando minha sorte?<br />
Por quem às madrugadas me constranjo?<br />
Não! És tu, és tu, ó gélida Morte!<br />
12
ADORMECIDO<br />
Para A. de Azevedo<br />
Dorme, ó anjo de amor! No teu silêncio<br />
O meu peito se afoga de ternura<br />
E sinto que o porvir não vale um beijo<br />
E o céu um teu suspiro de ventura!<br />
Sereno, ao calor da Cheia ele dormia...<br />
Sobre alcova de rosas derramado.<br />
Em sono respirava incenso e poesia...<br />
No véu da noite, negro e perfumado.<br />
Era um anjo do céu na bruma sombria<br />
Pelo braço de Morpheu acalentado,<br />
Que de sonhos s‟afogava e se nutria...<br />
Em nuvens d‟algodão, o meu amado!<br />
Muito belo! O corpo descansando...<br />
Doce boca os lábios entreabrindo...<br />
Formas másculas o leito revirando...<br />
Não censures a mim, amante lindo!<br />
Em ti – às escuras eu rio chorando,<br />
Em ti – às claras eu choro sorrindo!<br />
13
VERSOS PERTURBADOS<br />
Passa em tropel febril a cavalgada<br />
Das paixões e loucuras triunfantes!<br />
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!<br />
Florbela Espanca<br />
Qual vela acesa num altar sagrado<br />
Ardo na penumbra oca do teu sonho,<br />
Sou o teu desejo casto e malogrado,<br />
Teu medo taciturno e mais medonho.<br />
Comigo teu eu demente e perturbado,<br />
Perpassa cada verso que componho…<br />
Sou teu chamado quente e desastrado,<br />
Na esfera do teu sono mais bisonho!<br />
És o meu canto louco em pensamento,<br />
O soluço delirante em meu ouvido,<br />
Um mosaico agastado e marulhento,<br />
Vagando no limite dos sentidos.<br />
Sou das ânsias tuas o sacramento,<br />
És da doce angústia minha o aldeído.<br />
14
MINUANO<br />
Este ventinho vai cruzando a cainhada<br />
Se misturando com o frio da madrugada,<br />
É o Minuano do Rio Grande que se expande<br />
Quando seu verde fica branco de geada...<br />
Gaúcho Sulino<br />
Em cismar sozinha em noites frias<br />
No silêncio sombrio das madrugadas,<br />
Me reporto sempre àqueles dias<br />
De paisagens brancas e invernadas.<br />
Pranteando a terra, alva e macia,<br />
Nas querências ermas, pelas estradas.<br />
Das manhãs mudando a geografia,<br />
Penetrava até a alma da gauchada.<br />
A geada forte que já se vinha,<br />
Com a força bruta de um tirano,<br />
Com espora, rédea, arreio, bainha,<br />
O gaudério rápido, soberano.<br />
E deixando um tremor pela espinha<br />
Açoitando os pagos o Minuano.<br />
15
EXISTENCIAL II<br />
E, ao transcorrer desse diamante bruto,<br />
A Vida toda se consubstancia,<br />
Tal um século, às vezes, num minuto!<br />
Hermes Fontes<br />
Que os anos se acumulam é o certo,<br />
P‟ra cada indivíduo sobre a Terra.<br />
E que o medo e o fracasso andam perto...<br />
Daquele que em si mesmo mais se encerra!<br />
E que percorre pela vida o seu deserto...<br />
Onde o sonho em esquivança mais enterra,<br />
E no anseio d‟encontrar um vão aberto,<br />
Eis que calado em si, ao mundo berra!<br />
“Que melhor não ter nascido”, pondera –<br />
Angustiado à angústia do não-ser...<br />
Não ter descido a este plano, quem dera...<br />
Um leão por dia pra matar e pra vencer!<br />
O existir não possui sala de espera,<br />
Quem não vive não sabe o que é viver!<br />
16
VELHA INFÂNCIA<br />
À criança perdida no meio da estrada...<br />
Mas que busco afinal, que miragem acalma<br />
tão inquieta procura em um mundo já findo?<br />
Mario Quintana<br />
Senil ocaso que no Céu se finda,<br />
Nas vagas ondulosas sobre o tempo,<br />
Ah! Súbita em mim procuro ainda...<br />
Vestígios da criança lá no vento.<br />
Nas páginas nefandas da memória<br />
A vejo como se tão feliz fosse!<br />
Em trechos mal escritos, a história...<br />
Contada em nacos de algodão doce!<br />
Brinquedos espalhados pelo quarto,<br />
Os galhos balançando no cipreste,<br />
Pegando-lhe nas mãos, com ela parto<br />
No vão descomunal do arco-celeste,<br />
Com quem às noites, sozinha, reparto,<br />
Infância sombria que de ocos se veste.<br />
17
MENSTRUAL<br />
Leitor, se me perguntares<br />
Donde me saem tantos versos,<br />
Eu te respondo:<br />
Não construo versos, eu os menstruo,<br />
menstruo-os como o sangue da Virgem,<br />
vertido no coágulo duma ferida perene<br />
que me consome a Alma,<br />
Casulo de seda onde rebentam<br />
Meus Eus,<br />
Esta Borboleta que voa e revoa<br />
Continuamente dentro de mim.<br />
E assim eu menstruo versos,<br />
Que me circulam nas trompas,<br />
Versos que vão e que vem<br />
Que vem e que vão...<br />
E nesse ciclo menstrual de versos<br />
Hei de sangrar poesia até a última gota,<br />
Até o derradeiro ruflar de asas.<br />
18
OUTONO N’ALMA<br />
Se tu viesses [...]<br />
A essa hora dos mágicos cansaços<br />
Quando a noite de manso se avizinha,<br />
E me prendesses toda nos teus braços...<br />
Florbela Espanca<br />
Se tu viesses amar-me agora à noitinha,<br />
À hora em que Vênus no céu resplandece,<br />
Quando a monotonia do outono adivinha,<br />
Este silêncio imemorial que o peito aborrece.<br />
Oh, que tamanha felicidade esta minha!<br />
A esperar-te num leito de estrelas celestes,<br />
Abraçar em ti o universo em água marinha,<br />
Desnudando mistérios e prazeres terrestres!<br />
Se viesses amar-me, meu bem, à hora vadia,<br />
Quando no peito esta dor mais s‟enterra,<br />
Revestida em nuances e tons de nostalgia<br />
Como as sombras que caem sobre a Terra...<br />
A hora em que a noite voraz abraça o dia<br />
E uma lágrima de saudade o olhar dilacera...<br />
Ah, se viesses, meu bem...<br />
19
ABRAÇO DO A<strong>DE</strong>US<br />
Lerás porém algum dia<br />
Meus versos d’alma arrancados,<br />
De amargo pranto banhados,<br />
Com sangue escritos.<br />
Ainda uma vez, adeus! – Gonçalves Dias<br />
Aquela noite sob a bruma fria<br />
Em que até a Lua s‟entristecia,<br />
Quando de mi, já tarde, te despedias<br />
Em minh‟alma uma sombra caía...<br />
E no peito uma sensação tão vazia!<br />
Pois que naquele singelo abraço,<br />
Dizias-me, tu, Amigo – Adeus –<br />
E não sabias!<br />
20
EPIFANIA<br />
Mas esse tempo de encantos,<br />
Que nunca julguei ter fim,<br />
Não é hoje para mim<br />
Mais que morta e seca flor!...<br />
Do gênio mau completou-se<br />
A primeira profecia:<br />
Era o que o Gênio dizia<br />
No seu riso mofador.<br />
Laurindo Rabelo<br />
Ornei-te nos mil panos e tecidos<br />
Das belas e venustas fantasias,<br />
Sopradas entre véus tão coloridos,<br />
Sofismas de meus impulsos e magia.<br />
E nesses anos todos tão perdidos<br />
Saudando-te em mesuras todo dia,<br />
Um sonho tão intenso, tão nutrido...<br />
E nada além de falsa alegoria!<br />
O vento, meu amigo, soprou forte,<br />
Teus panos e retalhos descobria...<br />
Nas mãos trazia ele minha sorte,<br />
Tirou-me dessa longa anestesia:<br />
– “Mata-o, dê-lhe a sonhada Morte,<br />
Dispa-se de tão tola idolatria!”<br />
21
INQUIETU<strong>DE</strong><br />
Por que é que no silêncio da noite<br />
nos assusta falar em voz alta?<br />
Aparição – Vergílio Ferreira<br />
Escuta o gemido pela Terra,<br />
São vozes abafadas nos cansaços,<br />
As ondas refluindo nas esferas,<br />
Suspensas na penumbra dos espaços.<br />
A vida-solidão que nos espera<br />
Vertida nos espasmos mais escassos,<br />
Que cada ser humano reverbera,<br />
Pisando na voragem dos seus passos.<br />
Escuta estes ecos trespassando,<br />
Cantigas nas cavernas, entredentes.<br />
São gritos de angústia tremulando,<br />
Memórias recolhidas num ausente.<br />
Na célula pendendo e latejando<br />
A dor oculta que tod‟alma sente.<br />
22
ESPECTRAL<br />
Mas eu que sempre te segui os passos<br />
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços<br />
E o teu suspiro como foi profundo!<br />
Cruz e Souza<br />
Teus passos eu segui na noite fria,<br />
A náusea desgarrada dos teus ossos,<br />
Escarro purulento, a hemorragia<br />
Sangrando pelos vãos dos teus destroços.<br />
Dos males fui medo e agonia<br />
Soprando no interior dos teus remorsos,<br />
Teu anjo torto e negro – anjo guia –<br />
Que afoga-te no fundo de mil poços!<br />
Tão pálido descansas no jazigo,<br />
Os vermes te rasgando a débil carne,<br />
A alma que habitou em ti, amigo,<br />
De ti se retirou no desencarne.<br />
Não temas, não receie o perigo,<br />
Somente o de vir atormentar-me!<br />
23
OLHOS <strong>DE</strong> ÉBANO<br />
[...] olhos tão negros, tão belos, tão puros,<br />
Assim é que são;<br />
[...]<br />
Às vezes, oh! Sim, derramam tão fraco,<br />
Tão frouxo brilhar,<br />
Que a mim parece que o ar lhes falece<br />
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece<br />
Me fazem chorar.<br />
Gonçalves Dias<br />
Oh! Que tens nestes olhos que olham pra mim?<br />
Olhos tão belos, tão puros, tão negros,<br />
Talhados no mais branco e denso marfim!<br />
Oh! Que tens nestes olhos que olham assim?<br />
Olhos tão meigos, tão doces, tão frouxos,<br />
Desertos de tantas tristezas sem fim!<br />
Teus olhos que derramam os mistérios<br />
Das trevas em infaustos, ermos jardins,<br />
Cismando em espera a aura, tão sérios<br />
Em pesares dormentes, mágoas afins.<br />
Teus olhos que me banham nos etéreos<br />
Silêncios dessas noites, véus de cetim.<br />
De ébano perscrutam brandos, aéreos<br />
Em amores ocultos, céus de carmim.<br />
24
VIVERE<br />
[...] a Filosofia é o único bálsamo<br />
que podemos aplicar aos ferimentos<br />
que recebemos de todos os lados.<br />
Voltaire<br />
Sofrer e só sofrer é lei da Vida,<br />
Destino de quem vive neste plano.<br />
Se toda a existência tem feridas,<br />
Viver é sempre um ato desumano!<br />
Se tua alma pretendes protegida<br />
Dos logros e malogros tão mundanos,<br />
Oh! Mera ilusão, cedo perdida<br />
Diante do mais leve desengano!<br />
Ninguém tem a sua vida tão bonita<br />
Sem dores ou desgraças no caminho,<br />
A viagem é morosa na desdita<br />
Trançada na ferida dos espinhos.<br />
Mas é a condição de quem habita<br />
Um mundo em constante desalinho.<br />
25
TEMPORAL<br />
O tempo não passa por mim:<br />
É de mim que ele parte,<br />
Sou eu sendo, vibrando.<br />
Vergílio Ferreira<br />
Bem veja, a vida passa num segundo,<br />
Momentos tão fugazes, fugidios,<br />
Espasmo prazeroso, tão profundo,<br />
Um grito agonizante nos vazios.<br />
Os sonhos se renovam pela aurora,<br />
Qual flor campestre, sem demora turge,<br />
Quem sonha não espera, é agora,<br />
Depressa a vida passa, o tempo urge!<br />
Sob as asas de Chronos vão-se os anos,<br />
A sorte que se esvai pela roleta,<br />
Levando tantos sonhos, tantos planos,<br />
Perdidos na elipse de um cometa.<br />
Os erros tolos todos tão humanos,<br />
Vagando nas entranhas, mil facetas.<br />
26
SANGRA TEU VERSO<br />
Escreve com sangue e aprenderás que sangue é espírito.<br />
Nietzsche<br />
Teu verso sangra, deixa qu‟ele venha<br />
Da rocha mais volátil do teu ente.<br />
Poeta, não estanques, não detenhas,<br />
Permite qu‟ele flua levemente...<br />
Teu verso sangra e tira toda senha,<br />
Qu‟escorra pela pena tão somente.<br />
Que à Musa ele obedeça e obtenhas<br />
Os versos mais bonitos que tu sentes.<br />
Poeta tens os versos mais sonoros,<br />
Que poucas liras podem se atrever,<br />
Poesia sei que tens em cada poro,<br />
Um sonho de volúpia e de prazer,<br />
Vai, tece esses versos qu‟eu adoro,<br />
Oh, tu és Vate e bem sabes como ser!<br />
27
SONATA<br />
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,<br />
entre o fogo e a água.<br />
Pablo Neruda<br />
Astuto sempre chega de mansinho,<br />
Quieto, sorrateiro e com vagar,<br />
Seduz-me lentamente, com carinho,<br />
No colo põe, subjuga e faz sonhar.<br />
Me joga docemente no teu ninho,<br />
E logo no teu peito vou a voejar,<br />
Vagando em mil espaços, mil caminhos,<br />
Contigo sigo ébria em céu e mar.<br />
Em transe junto a ti, eu me reviro,<br />
Me entrego sem pudor em abandono,<br />
Suspensa na vazão deste retiro,<br />
Qual folha na paisagem de outono,<br />
Deixando em pleno voo um meu suspiro,<br />
Em teus braços me encanto, débil Sono!<br />
28
SPECULUM<br />
E esse amor tende a recompor<br />
a antiga natureza, procurando<br />
de dois fazer um só, e assim,<br />
restaurar a antiga perfeição.<br />
Platão<br />
Eu quero amar-te suave, de mansinho,<br />
Senhor dos meus anseios, minh‟alma.<br />
A ti oferecer o mundo, meu carinho,<br />
Doce amparo, abraço, tua calma.<br />
Eu quero ser refúgio, o teu ninho,<br />
Proteção que te conforta e te acalma.<br />
Ser pra ti a direção, um caminho,<br />
Espelho teu d‟água, a tua alma.<br />
No céu ser o teu astro mais bonito,<br />
Estrela azul que te eleva, te espalma...<br />
Amor, contigo absorver o infinito,<br />
Em êxtase enlaçá-lo, nossas palmas.<br />
No Tempo nosso afeto sendo escrito,<br />
Amor maior, dois seres, um‟alma.<br />
29
AQUELES OLHOS<br />
Mas ai que mil estrelas pingam em meus olhos,<br />
Molhando todos os meus sonhos infaustos e inglórios!<br />
Alessa B.<br />
Onde estão aqueles olhos,<br />
Doces olhos de outrora,<br />
Olhos esgazeados de encanto<br />
Que expressavam tanto afeto?<br />
Terá ele ido embora?<br />
Terão eles se perdido noutro canto?<br />
Oh, e eu que os desejo tanto, tanto!...<br />
30
PELA JANELA<br />
E sobre mim, silenciosa e triste,<br />
A via-láctea se desenrolava<br />
Como um jorro de lágrimas ardentes.<br />
Olavo Bilac<br />
Passavas na calçada,<br />
Vi-te pela janela,<br />
Olhei-te com ternura,<br />
Seguindo teus passos...<br />
Paraste na esquina,<br />
Esperavas por alguém<br />
Exatamente como um dia<br />
Esperaste a mim também!<br />
Não fui tua namorada,<br />
Não estive no lugar dela,<br />
Não te dei os beijos que devia,<br />
Agora me resta apenas<br />
Olhar-te pela janela.<br />
31
EPÍLOGO<br />
Vinte anos do reino da Lua terão passado<br />
Por sete mil anos outro terá sua Monarquia<br />
Quando o Sol prender o passar de seus dias<br />
Então estará completa e finda a minha profecia!<br />
Nostradamus<br />
A noite vai se erguendo contra a Lua<br />
As vozes definhando no infinito,<br />
Espasmos da sujeira em Terra nua<br />
No caos horripilante e circunscrito.<br />
A chaga bem aberta, toda crua,<br />
Derrame de desgraças sobre o Mito.<br />
É do homem a soberba que recua<br />
Num uivo doloroso e tão bonito.<br />
E tudo soterrado pela treva<br />
Nas cinzas abissais da solidão,<br />
O vento, água, fogo... tudo leva<br />
O ser humano à plena salvação.<br />
Pó seco transcendente... que eleva<br />
A vida macerada em convulsão.<br />
32
MENINO <strong>DE</strong> <strong>ASAS</strong><br />
L’Amour est un oiseau rebelle,<br />
Que nul ne peut apprivoiser.<br />
Et c’est bien en vain qu’on l’appelle<br />
C’est lui qu’on vient de nous refuser…<br />
O amor é um pássaro rebelde – Maria Callas<br />
Deixai aberta as folhas do destino,<br />
Ó, mortais, que Ele vem sem ser chamado,<br />
Soprando os mais bonitos, doces hinos,<br />
Vem em voo, cego, lento e descuidado.<br />
Amor é como chamo esse menino,<br />
Que com seu arco e setas bem trajado,<br />
Na sanha de inocentes desatinos,<br />
Os vossos peitos sangra, o abusado!<br />
E tendo a chaga presa em vosso ente,<br />
Queima-vos o seio noite afora,<br />
E nessa febre louca e insistente,<br />
Mil sonhos e desejos vossa alma doura.<br />
Criança fútil, tola e inconsequente,<br />
Que a vossa ilusão sustém, devora...<br />
33
RESSURREIÇÃO<br />
Avante! os mortos ficarão sepultos...<br />
Mas os vivos que sigam, sacudindo<br />
Como o pó da estrada os velhos cultos!<br />
Antero de Quental<br />
Meus ossos lancei-os à tumba fria<br />
No solo das esferas sepulcrais,<br />
A carne putrefata tão macia,<br />
Festim pros intestinos verminais...<br />
Da Morte eu retirei a fantasia<br />
Imersa pelas várzeas, lodaçais,<br />
Despojo d‟alma fétida e sombria<br />
Que vaga nos espaços abissais.<br />
É vulto transitando pelas eras<br />
Do tempo que transcorre pelos dedos,<br />
Anseios das angústias, das esperas...<br />
A busca contumaz por bom enredo.<br />
A Fênix renascida das crateras,<br />
Das vastas tempestades e do medo.<br />
34
TUO PETTO<br />
Em ti, dentro de ti, no teu regaço<br />
Não há triste destino nem má sorte.<br />
Florbela Espanca<br />
Se pouso meu cansaço no teu peito<br />
Qual onda confluída nas areias,<br />
Ah! Nele m‟entorpeço, faço leito,<br />
Alívio nas marés altas... mais cheias.<br />
Remanso do meu sono mais perfeito<br />
Nos teus braços... colada às tuas veias,<br />
Calor em que repouso e m‟estreito,<br />
Abrigo das esferas mais alheias.<br />
E neste porto forte, tão seguro,<br />
Baía mansa, terna... cristalina,<br />
A minh‟alma inteira eu esconjuro<br />
Nas águas densas, quentes, tão albinas.<br />
Amor tão pleno, ébrio, mais maduro,<br />
E alma em alma, a carne se aglutina.<br />
35
FILOSOFAL<br />
E o homem, coitado, vai seguindo;<br />
A estrada da Vida, às vezes rindo,<br />
Ou chorando, conforme a emoção.<br />
Victorino Carriço<br />
Da Vida só a Morte é bem certa,<br />
A sombra à espreita no caminho,<br />
Em cada passo uma trilha aberta,<br />
Viver é caminhar, andar sozinho.<br />
Amor que vem matreiro, nos acerta,<br />
Remanso na jornada, belo ninho.<br />
Oh! Tantos sonhos n‟alma nos enxerta<br />
Qual rosas tatuadas sobre o linho!<br />
Preciso é tomar nossa estrada,<br />
Qual o pobre, miserável retirante,<br />
Que da matéria não se leva nada,<br />
Longínquo é o rumo, tão mutante!<br />
Essência turva, bamba, transformada,<br />
Num passo torto, falso, lancinante.<br />
36
CASTANHOS<br />
E é-me tão nítido esse tempo lindo...<br />
Luas... auroras... Posso até retê-las<br />
Nas mãos, o seu tamanho comprimindo!<br />
[...]<br />
E em teus cabelos debulhando estrelas!<br />
Humberto Rodrigues Neto<br />
Os teus cabelos fartos tão castanhos,<br />
Deitados na penumbra dos meus dedos,<br />
Naquelas belas horas, doce antanho,<br />
Em que tudo, Amor eram folguedos.<br />
Oh! Um amor tão vasto, tão tamanho,<br />
Que a ti, eu dediquei como o meu credo,<br />
Agora com saudades eu me apanho,<br />
Queimando no infortúnio d‟um degredo!<br />
Em sonhos ainda toco teus cabelos<br />
Num gesto de ternura tão aflito,<br />
Buscando-te voraz, em atropelos,<br />
Em transe sigo louca no meu grito.<br />
Movendo mundos, corto mil apelos,<br />
Nas sendas trepidantes do infinito.<br />
37
PARTIDA<br />
Os amantes se amam cruelmente<br />
e com se amarem tanto não se vêem.<br />
[...]<br />
E eles quedam mordidos para sempre.<br />
Deixaram de existir, mas o existido<br />
continua a doer eternamente.<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
S‟eu tivesse tido tempo<br />
Para preparar-me à tua partida,<br />
Para quem sabe dissuadir-te<br />
De tal idéia estapafúrdia,<br />
Não estaria eu agora ness‟angústia,<br />
Amaldiçoando a minha vida...<br />
S‟eu tivesse tido tempo<br />
Para preparar-me à tua ausência,<br />
Para quem sabe convencer-te<br />
Do disparate de tal atitude,<br />
Não estaria eu agora em incompletude<br />
Abrindo as janelas da demência...<br />
38
PLUVIAL<br />
Oh! ninguém sabe como a dor é funda,<br />
Quanto pranto s’engole e quanta angústia,<br />
A alma nos desfaz!<br />
Casimiro de Abreu<br />
Cai a chuva fortemente neste peito,<br />
Um jorro de tristeza visceral,<br />
Que chove mais intensa quando deito,<br />
Torrente lacrimosa, intra-venal.<br />
Angústia flagelada sobre o leito,<br />
Soluço retumbante, um temporal.<br />
A dor dum sonho fértil liquefeito,<br />
Num pranto amargurado e pluvial!<br />
Cortando céu de chumbo, causticante,<br />
O peito castigado na neblina,<br />
A chuva segue em fúria abundante,<br />
Descendo em pedra oca, cristalina.<br />
E cada chuva nunca é bastante,<br />
Pra sempre tempestade na retina!<br />
39
LA PASSION<br />
Tudo aquilo que engana parece libertar um encanto. Platão<br />
Et notre sang, épris de qui le va saisir,<br />
Coule pour tout l’essaim éternel du désir.<br />
Mallarmé<br />
Paixão devassa vosso humano peito,<br />
É úlcera na pele que não sente.<br />
O músculo sangrando com efeito,<br />
Ardendo pela artéria tão demente!<br />
Um mal que não traduz, um desconceito,<br />
Um bem que se consome num repente,<br />
Afã de sonhos loucos, tão perfeitos,<br />
Volúpias e delírios envolventes!<br />
Machuca e rasga e fere ardilosa,<br />
A seta bem ornada na malícia,<br />
Que bem certeira bate, vem, repousa<br />
Na chaga dolorosa qual carícia.<br />
Vivaz como a vermelha e bela rosa,<br />
Que se desfaz em falhas de imperícia.<br />
40
NEVASCA<br />
Neve que me embala como um berço divino,<br />
Neve da minha dor, neve do meu destino!<br />
Augusto dos Anjos<br />
Aqui dentro de mim a branca neve,<br />
Levita vagamente, impermanência.<br />
E pálida, plangente, tão de leve,<br />
Em flocos cai em pérfida cadência.<br />
Castelos alvos vem e circunscreve,<br />
Em névoas na memória, confidência.<br />
Instante doloroso, que tão breve,<br />
Desenha na paisagem tua ausência!<br />
E num tremor voraz e liquefeito,<br />
Cristais de gelo vagam sob a casca...<br />
Um grito oculto salta deste peito,<br />
Sacado lá do fundo da nevasca!<br />
E vendo escorrer na alma contrafeito,<br />
Meu sonho reduzido vejo em lascas!<br />
41
SAUDA<strong>DE</strong><br />
Um desejo de estar perto<br />
De quem está longe de nós;<br />
Um ai, que não sei ao certo<br />
Se é um suspiro ou uma voz!<br />
Bastos Tigre<br />
Em círculo nodoso neste peito,<br />
Os rastros da saudade em toda parte,<br />
Correndo pleno sobre infausto leito,<br />
Desejo teu na alma esparsa arde.<br />
Mil pés em solo estéril imperfeito,<br />
Pisando vão no impulso de tocar-te,<br />
Dispersos como pássaros afeitos<br />
Bem cegos rumo ao sol em fim de tarde.<br />
Suspiros no caminho derramando,<br />
Os ecos do silêncio fugidio,<br />
Teu nome coração vai-me soprando,<br />
Vertendo em todo canto um desvario!<br />
Em cada sombra vou-te procurando,<br />
Mas só vejo o teu vulto no vazio!<br />
42
TUAS MÃOS<br />
Mãos etéricas, diáfanas, de enleios,<br />
de eflúvios e de graças perfumadas,<br />
[...]<br />
Mãos onde vagam todos os segredos,<br />
onde dos ciúmes tenebrosos, tredos,<br />
circula o sangue apaixonado e forte.<br />
Cruz e Sousa<br />
Tuas mãos que seguravam entre as minhas<br />
Finesses de ternura, um bem querer,<br />
Naquelas quentes tardes que tu vinhas<br />
Amar-me com volúpia e com prazer.<br />
Trançadas sobre o linho nossas linhas,<br />
Mil ondas sinuosas no entardecer.<br />
As mãos que deleitosas eu retinha...<br />
Se foram para nunca mais me preencher!<br />
Ah! Tanto que te amei, e não sabia,<br />
Amado, que loucura, insensatez!<br />
Mas hoje minhas tardes tão vazias,<br />
Fenecem em amarga estupidez!<br />
A vida, de repente, algum dia,<br />
Nos junte n‟algum sonho, outra vez...<br />
43
IMORTAL<br />
Cento e sete anos de glória<br />
Tens imortal tricolor<br />
Os feitos da tua história<br />
Canta o Rio Grande com amor!<br />
Lupicínio Rodrigues<br />
Azul celeste, ó meu Rio Grande<br />
Em glórias festejado com louvor,<br />
Teu nome brilha lá no Céu distante,<br />
Estrela imortal do nosso amor!<br />
Tornaste este povo mais gigante,<br />
Alçando desta raça o seu valor.<br />
Vai, segue firme, sempre adiante<br />
Na marcha, incansável Tricolor!<br />
Contigo juntos sempre seguiremos<br />
Com alma, pensamentos, coração,<br />
Teu hino pelos pampas ergueremos,<br />
Nos jogos empunhando teu brasão.<br />
Teu manto para sempre vestiremos,<br />
Honrando tua história e tradição.<br />
44
AMOR EM PEITO FLÉBIL ENLOUQUECE...<br />
Ah, dura lei de Amor, que não consente<br />
quietação numa alma que é cativa!<br />
Camões<br />
Amor em peito flébil enlouquece<br />
Da mais sensata à forte criatura,<br />
Nas veias arde solto, vem e tece<br />
Etéreo fogo numa ampla captura.<br />
Ah! Na alma corre fundo, permanece,<br />
Trançando o coração bem nas alturas!<br />
Razão que lentamente desvanece<br />
O véu cerzido em vasta tessitura.<br />
Qual chama fulminante sobre o gelo,<br />
Brutal agito em doce calmaria,<br />
Querer e não querer em atropelo,<br />
Do amor sorrir num grito de agonia.<br />
E sendo todo já não dá de sê-lo<br />
Maior Amor que a própria fantasia.<br />
45
POSFÁCIO<br />
Os caracteres que tivestes diante de teus olhos são a estréia de Alessa B.<br />
no mundo das edições literárias na Rede, sua primeira compilação de poesias,<br />
escolhidas para mexerem com tua emoção, invadirem tua alma, entremearem-se<br />
por teus pensamentos e habitarem tua memória por tempo indefinido.<br />
Com versos essencialmente femininos e envolventes, que lhe nascem das<br />
entranhas e deságuam em mares de lirismo puro, à flor da pele, a poeta tem na<br />
Musa (a Poesia) a inspiração suprema, dedicando a ela todo o seu estro. Como<br />
um bardo que dedilha sua lira em forma de vocábulos e percorre os caminhos<br />
misteriosos do idioma versado de forma encantadora, mergulha em termos e<br />
imagens poéticas, submersa em idéias concomitantemente turvas e brilhantes.<br />
Sua marca é a sensibilidade, o etéreo fruto de anos de vida dedicados à arte da<br />
escrita poética. A sensualidade que emana de seus poemas é trabalhada,<br />
metafórica, “menstrual”, enfatizando seu lirismo latente.<br />
Eis uma de suas auto descrições em versos, o que diz muito sobre sua<br />
forma “uterina” de poetar:<br />
“Não construo versos, eu os menstruo,<br />
menstruo-os como o sangue da Virgem,<br />
vertido no coágulo duma ferida perene<br />
que me consome a Alma (...)”<br />
Sendo integrante de uma jovem safra de poetas querendo compartilhar<br />
seu amor à arte, Alessa é prova cabal de que para dar à luz sua verve não é<br />
necessário lançar mão de irreverências ou originalidades sem sentido, em nome<br />
de um modernismo muito em voga atualmente, de que, pelo contrário, para isso<br />
bastam sua dedicação constante e laboriosa e seu talento nato.<br />
Lendo-a, podemos nos certificar de que a poesia possui uma finalidade<br />
em si mesma, que não precisa significar nem se auto justificar, basta “ser” e<br />
exalar seus fluidos.<br />
Parabéns, pois, caríssimo(a) leitor(a) privilegiado(a) que “pegou carona”<br />
nas asas da borboleta e viajou com ela pelo universo mágico da linguagem, da<br />
sensibilidade e da imaginação...<br />
Por Magmah<br />
46
Ai, palavras, ai, palavras,<br />
Íeis pela estrada afora,<br />
Erguendo asas muito incertas,<br />
Entre verdade e galhofa,<br />
Desejos do tempo inquieto,<br />
Promessas que o mundo sopra...<br />
Cecília Meireles<br />
47
MINIBIOGRAFIA<br />
Nascida na capital do Rio Grande do Sul, reside atualmente em Curitiba,<br />
Paraná. Formada em Letras e pós-graduada em Teoria Literária, atua como<br />
professora. Alessandra Bertazzo, cujo pseudônimo é Alessa B. tem uma<br />
convivência de longa data com a Poesia, escrevendo seus versos desde os 14<br />
anos quando conheceu a obra de Vinicius de Moraes e encantou-se.<br />
É admiradora da poesia clássica e tem como alguns de seus ícones,<br />
Camões, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa,<br />
Olavo Bilac, Bocage, Mario Quintana, entre outros, por que afinal, “o mundo é<br />
grande” e a Literatura universal também.<br />
Participa regularmente de concursos literários, alcançando resultados<br />
bastante expressivos. Tem participação nas antologias do I Concurso de Poesias<br />
Revista Literária Scortecci 2010 e do IV Festival de Sonetos Chave de Ouro<br />
2010, bem como na antologia do Concurso Nacional de Poesias “O que o amor<br />
inspirou”, da Editora Taba Cultural, de 2009.<br />
48
CONTATOS COM A AUTORA<br />
Recanto das Letras<br />
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=63043<br />
Alquimia, Arte & Poesia<br />
http://transversu.blogspot.com/<br />
Livros, Cinema & Literatura<br />
http://literanaveia.blogspot.com/<br />
E-mail: ale-bertazzo@hotmail.com<br />
<strong>Trovart</strong> <strong>Publications</strong><br />
49
Com versos essencialmente femininos e envolventes, que<br />
lhe nascem das entranhas e deságuam em mares de lirismo<br />
puro, à flor da pele, a poeta tem na Musa (a Poesia) a<br />
inspiração suprema, dedicando a ela todo o seu estro. Como<br />
um bardo que dedilha sua lira em forma de vocábulos e<br />
percorre os caminhos misteriosos do idioma versado de forma<br />
encantadora, mergulha em termos e imagens poéticas,<br />
submersa em ideias concomitantemente turvas e brilhantes.<br />
Sua marca é a sensibilidade, o etéreo fruto de anos de vida<br />
dedicados à arte da escrita poética. A sensualidade que emana<br />
de seus poemas é trabalhada, metafórica, “menstrual”,<br />
enfatizando seu lirismo latente.<br />
Magmah<br />
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