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SONETO D’ANUNCIAÇÃO<br />
Consola-me este horror, esta tristeza,<br />
Porque a meus olhos se afigura a Morte<br />
No silêncio total da Natureza.<br />
Bocage<br />
Quem és tu, quem és tu, súbita visão,<br />
Que te levantas no frio da alvorada?<br />
Vens oculta em véus de densa cerração,<br />
Tens na meiga face a alva descorada...<br />
Erras pelo céu esplêndida aparição,<br />
Bela e doce na aurora perfumada!<br />
Tens os santos óleos da extrem‟unção...<br />
Vens derramar nest‟alma desgraçada!<br />
Onde nos vimos dantes? És um anjo?<br />
És celeste, és graciosa... Tens porte!<br />
És por quem em sonhos me desarranjo?<br />
A quem invoco, buscando minha sorte?<br />
Por quem às madrugadas me constranjo?<br />
Não! És tu, és tu, ó gélida Morte!<br />
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