GAZETA DIARIO 494
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Foz do Iguaçu, terça-feira, 30 de janeiro de 2018<br />
MORTE NA ADUANA<br />
Cidade<br />
11<br />
Caso Ademir Gonçalves permanece sem<br />
respostas após um ano de investigações<br />
Família aguarda resultados da exumação realizada no dia 31 de outubro;<br />
demora no processo preocupa advogados de defesa<br />
Da assessoria<br />
Reportagem<br />
Ademir foi abordado por servidores da Receita<br />
Federal, quando retornava do trabalho no dia 28<br />
de janeiro do ano passado<br />
Corpo da vítima foi exumado na presença de peritos, familiares e advogados<br />
de defesa; resultado deve sair no início de fevereiro<br />
Um ano após a morte<br />
de Ademir Gonçalves<br />
Costa, a família ainda<br />
aguarda respostas sobre<br />
o que de fato aconteceu<br />
na tarde do dia 28 de janeiro<br />
de 2017, na aduana<br />
da Ponte Internacional<br />
da Amizade. Diversos<br />
laudos, múltiplas<br />
versões e nenhuma conclusão<br />
da verdadeira<br />
causa mortis da vítima,<br />
apontada preliminarmente<br />
como intoxicação<br />
exógena.<br />
De acordo com os advogados<br />
de defesa da família,<br />
o processo segue<br />
sem grandes avanços<br />
desde a exumação do<br />
corpo no dia 31 de outubro<br />
do ano passado, e<br />
apenas com o resultado<br />
do inquérito por parte<br />
da Polícia Federal, o<br />
caso poderá ter uma<br />
nova repercussão. Ao<br />
todo, foram coletadas 20<br />
amostras biológicas que<br />
passam por análise em<br />
Brasília a fim de pesquisar<br />
todas as substâncias<br />
encontradas no primeiro<br />
laudo.<br />
"O delegado pediu<br />
um prazo de 90 dias após<br />
a exumação, mas eles<br />
querem prolongar o máximo<br />
possível para que<br />
a população esqueça.<br />
Nós iremos contestar<br />
duramente caso os resultados<br />
venham de forma<br />
absurda como no primeiro<br />
inquérito. Acreditamos<br />
no trabalho da<br />
Polícia Federal, mas<br />
neste caso, o corporativismo<br />
tem falado mais<br />
alto", disse o advogado<br />
Almir José dos Santos.<br />
Ademir, na época<br />
com 39 anos, trabalhava<br />
como vendedor em<br />
Ciudad del Este, no Paraguai.<br />
Na data dos fatos,<br />
ele retornava do<br />
país vizinho em um mototáxi,<br />
quando foi abordado<br />
por servidores da<br />
Receita Federal. Na ocasião,<br />
os fiscais alegaram<br />
que o rapaz havia resistido<br />
à ordem para descer<br />
do veículo e acabou sendo<br />
preso.<br />
Algemado e com as<br />
calças arriadas, a vítima<br />
foi exposta a ação de um<br />
spray de pimenta e colocada<br />
em uma sala na<br />
aduana, onde passou<br />
mal e acabou morrendo.<br />
Essa foi a versão relatada<br />
pelos servidores, no<br />
entanto, os familiares<br />
afirmam que Ademir foi<br />
vítima de tortura e abuso<br />
de autoridade, visto<br />
que o corpo apresentava<br />
diversos hematomas.<br />
O primeiro inquérito<br />
por parte da PF inocentou<br />
os fiscais com base<br />
em um laudo que apontava<br />
a causa da morte<br />
como sendo por intoxicação<br />
causada pelos fármacos<br />
Lidocaína, Fenacetina,<br />
Sildenafil e Clobenzorex,<br />
que teriam<br />
sido ingeridos.<br />
Insatisfeita com a<br />
conclusão do processo, a<br />
família da vítima solicitou<br />
uma reavaliação dos<br />
fatos, apresentando uma<br />
nova versão formulada<br />
paralelamente pelo perito<br />
criminal Sergio Hernandez,<br />
juntamente com<br />
o farmacologista Leandro<br />
Molina, que contestava<br />
os dados apresentados<br />
pelo delegado, apontando<br />
que a morte teria<br />
sido causada por asfixia<br />
direta e indireta e não<br />
pela ingestão de substâncias<br />
tóxicas.<br />
Uma sensação<br />
de vazio<br />
De acordo com o perito<br />
Hernandez, o laudo avaliado<br />
pela Polícia Federal para<br />
concluir o inquérito teria<br />
sido fraudado para denegrir<br />
a imagem de Ademir e para<br />
justificar a ação dos<br />
servidores da Receita, visto<br />
que no documento<br />
particular não foram<br />
encontrados vestígios de<br />
drogas no corpo da vítima.<br />
Diante da divergência de<br />
informações, o juiz da 5ª<br />
Vara Federal de Foz do<br />
Iguaçu, Edilberto Barbosa<br />
Clementino, determinou que<br />
um novo processo fosse<br />
aberto com base em novos<br />
exames, a partir da<br />
exumação do corpo de<br />
Ademir. O procedimento foi<br />
realizado na presença de<br />
peritos, familiares e<br />
advogados de defesa. O<br />
resultado deve ficar pronto<br />
no início de fevereiro.<br />
Para a família, a sensação é<br />
de vazio e dúvidas que eles<br />
esperam finalmente sanar<br />
com o resultado dos novos<br />
exames. "São inúmeros<br />
pontos de interrogação<br />
porque queremos saber de<br />
fato o que ocorreu. É um<br />
sofrimento que não termina<br />
principalmente para as<br />
crianças que ficaram sem o<br />
pai. Tudo o que queremos<br />
são respostas, porque o que<br />
fizeram com o Ademir foi<br />
injusto", contou a ex-esposa<br />
da vítima, Adriana da Silva.