disso, a esquerda radical encontra-se numa situação quase inescapável: qual será o argumento para não aceitar uma nova solução governativa se o Partido socialista a propôr? Se em 2015 foi pelo “medo da direita”, o que poderá ser em 2019? A verdade é que o Bloco de Esquerda encontra-se hoje hóstil das manobras do Partido Socialista e enfraquecido em termos membros, de activistas, actividade e programa, e é hoje um partido céptico em relação a debates estratégicos sérios e divergentes. Este debate estratégico não é sobre se se deve disputar o poder institucional ou não, mas qual o papel e quais as prioridades atribuídos por um partido de esquerda radical às instituições. Se fizermos a análise de que as instituições devem ser utilizadas como megafones para as nossas reinvindicações políticas, mas que a capacidade de transformar a sociedade não se assenta nas margens do poder institucional – o lugar para o qual nos relegámos. Então, temos que continuar a construir instrumentos de organização política que trabalham nas instituições, que as dispute e aprende com os seus mecanismos, mas mantendo um pé firme fora destas. Mesmo num momento de refluxo das mobilizações sociais, cabe à esquerda radical tentar reconstruí- -los, reconectá-los e acumular o Poder necessário para os confrontos. Para que isso aconteça, precisamos de partidos que trabalhem democraticamente, em interligação, que dêem voz e Poder às suas bases, que crie diversos protagonistas, que democratize os processos da democracia em si. Esta é a única maneira pela qual os mecanismos e comportamentos do poder institucional - ou nas margens deste - não mudem o modus operandi e, mas também a estratégia fundadora dos partidos de novo tipo. Esta baseia-se na ideia de organizar no mesmo projecto político a base de descontentamento do antigos partidos sociais democratas, dos movimentos anti-capitalistas e de outras forças da sociedade. Se, pelo contrário, estes partidos estabelecerem como estratégia a mera revitalização dos partidos da antiga social-democracia, desconectando-se das forças mais críticas, perder-se-ão nas obscuridades das instituições e começarão a reproduzir formas, comportamentos e processos da democracia burguesa com medo de resultados eleitorais fracos. Não desenvolvendo, assim, uma estratégia que seja capaz de transformar a sociedade e muito menos um instrumento político capaz de o fazer. O passo em frente necessário não é uma simples figura de retórica. Implica pensa radicalmente práticas e prioridades. A esquerda radical tem de trabalhar pela base, de reinventar a democracia para a fazer crescer pelas raízes, para construir o movimento popular, para ajudar a que colectivos auto-organizados floresçam, para reavivar o movimento laboral, para construir uma frente anti-austeridade social e política que emirja como uma real alternativa tanto contra a austeridade leve como para a dura. O momento não é o melhor - mas será cada vez mais difícil se nos relegarmos a gerir o possível já existente em fez de tornar possível o que é necessário. “Este debate estratégico não é sobre se se deve disputar o poder institucional ou não, mas qual o papel e quais as prioridades atribuídos por um partido de esquerda radical às instituições” 6 | PRAXIS MAG
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