Contraceção de Emergência_13º Congresso das Farmácias
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CONTRACEÇÃO<br />
DE EMERGÊNCIA:<br />
QUANTO MAIS CEDO MELHOR<br />
| <strong>13º</strong> CONGRESSO DAS FARMÁCIAS<br />
| Centro <strong>de</strong> <strong>Congresso</strong>s <strong>de</strong> Lisboa<br />
| 18 a 20 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2018<br />
GRPT:139/12/18<br />
1
CONTRACEÇÃO<br />
DE EMERGÊNCIA:<br />
QUANTO MAIS CEDO MELHOR<br />
<strong>Contraceção</strong> <strong>de</strong> <strong>Emergência</strong> – Interações e Contraindicações foi o tema do simpósio patrocinado<br />
pela Ge<strong>de</strong>on Richter no âmbito do <strong>13º</strong> <strong>Congresso</strong> <strong>das</strong> <strong>Farmácias</strong>, evento bianual organizado pela<br />
Associação Nacional <strong>das</strong> <strong>Farmácias</strong> (ANF), que este ano teve como palco o Centro <strong>de</strong> <strong>Congresso</strong>s <strong>de</strong><br />
Lisboa. A sessão, em que participaram farmacêuticos comunitários <strong>de</strong> todo o país, teve como oradores<br />
Luís Rocha, membro da Direção Norte da Or<strong>de</strong>m dos Farmacêuticos; Dr.ª Joana Pinto, Farmacêutica<br />
do Centro <strong>de</strong> Informação do Medicamento (CEDIME), da Associação Nacional <strong>das</strong> <strong>Farmácias</strong> e a<br />
Doutora Maria João Carvalho, Ginecologista, membro da Socieda<strong>de</strong> Portuguesa da Contracepção e<br />
docente na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra.<br />
Na sua comunicação, a Dr.ª Joana Pinto centrou-se na<br />
importância da atuação do farmacêutico comunitário, enquanto<br />
profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais próximo da população,<br />
no apoio à <strong>de</strong>cisão informada <strong>das</strong> mulheres que a ele recorrem<br />
nas situações <strong>de</strong> risco que recomendam o recurso<br />
à <strong>Contraceção</strong> <strong>de</strong> <strong>Emergência</strong> (CE) como última oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> prevenir a gravi<strong>de</strong>z após uma Relação Sexual<br />
Não Protegida (RSNP). Um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />
<strong>de</strong> primeira gran<strong>de</strong>za, que levou a Organização Mundial<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) a incluir o levonorgestrel na lista dos medicamentos<br />
essenciais da OMS e pela Direção Geral <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> (DGS) na lista <strong>de</strong> contracetivos para disponibilização<br />
gratuita no SNS (orientação 010/2015).<br />
Dr.ª Joana Pinto sublinhou a importância <strong>de</strong> se valorizarem<br />
todos os contactos feitos pelas mulheres, neste contexto,<br />
como oportunida<strong>de</strong>s para a promoção da importância<br />
do uso correto <strong>de</strong> um método contracetivo na<br />
prevenção da gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada após uma relação<br />
sexual não protegida ou ina<strong>de</strong>quadamente protegida.<br />
“A CE é segura e po<strong>de</strong> ser utilizada sempre que a mulher<br />
estiver em risco <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada. Não é abortiva<br />
e portanto, em caso <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, a sua utilização não<br />
provoca abortamento nem aumenta o risco <strong>de</strong> malformações<br />
fetais” salientou, para logo acrescentar: “o aconselhamento<br />
por profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> tem como objetivo,<br />
promover uma utilização mais segura da contraceção e diminuir<br />
riscos. Riscos que vão muito para além daqueles que<br />
po<strong>de</strong>ríamos pensar associados à utilização do medicamento:<br />
riscos muito maiores que po<strong>de</strong>m advir <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z<br />
in<strong>de</strong>sejada, do recurso à interrupção voluntária da gravi<strong>de</strong>z,<br />
ou mesmo do uso repetido <strong>de</strong> contraceção <strong>de</strong> emergência”.<br />
Aos colegas presentes, a especialista sublinhou ainda que<br />
muito embora se tratem <strong>de</strong> medicamentos com muito poucas<br />
reações adversas relata<strong>das</strong> - e mesmo estas, muito<br />
raras - o uso recorrente <strong>de</strong> CE suscita preocupações e cuidados<br />
por parte dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por exemplo,<br />
2
nas situações em que a mulher não tem indicação clínica<br />
para a utilização da contraceção hormonal.<br />
“No fundo”, sintetizou, “qualquer mulher que chega à farmácia<br />
e peça um contracetivo oral <strong>de</strong> emergência, por vezes<br />
não o pe<strong>de</strong> diretamente e expõe dúvi<strong>das</strong> sobre se, <strong>de</strong><br />
facto, precisa <strong>de</strong>le ou não; se está ou não em risco <strong>de</strong> estar<br />
grávida. Para essa mulher, o que temos é a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> intervir em prol <strong>de</strong> uma maior educação, segurança,<br />
utilização mais correta e mais segura do contracetivo<br />
que já usa ou <strong>de</strong> um método contracetivo mais seguro”.<br />
As situações mais comuns que chegam às farmácias são<br />
as falhas contracetivas, casos em que a mulher não estava<br />
a utilizar contraceção (tratando-se, portanto, <strong>de</strong> uma<br />
relação sexual <strong>de</strong>sprotegida) ou porque não estava a<strong>de</strong>quadamente<br />
protegida, ou ainda por falha contracetiva.<br />
A Dr.ª Joana Pinto alertou para as situações que resultam <strong>de</strong><br />
mitos, muito presentes ainda hoje, pese a informação disponível,<br />
como a i<strong>de</strong>ia, ainda muito enraizada, <strong>de</strong> que uma mu-<br />
A CE é segura e po<strong>de</strong> ser utilizada<br />
sempre que a mulher estiver em<br />
risco <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada.<br />
Não é abortiva e portanto, em caso<br />
<strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, a sua utilização não<br />
provoca abortamento nem aumenta<br />
o risco <strong>de</strong> malformações fetais.<br />
lher, “que até faz contraceção hormonal regularmente, <strong>de</strong>ve<br />
fazer intervalos e pausas. Situação que, frequentemente,<br />
conduz a situações <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada ou ao recurso<br />
à contraceção oral <strong>de</strong> emergência. É esta <strong>de</strong>sinformação<br />
que po<strong>de</strong>mos ajudar a quebrar”, exortou a palestrante.<br />
Prof.ª Dr.ª Maria João Carvalho, Dr. Luís Rocha e Dr.ª Joana Pinto<br />
3
SEGURANÇA E “QUANTO MAIS CEDO, MELHOR”<br />
A especialista recordou algumas i<strong>de</strong>ias-chave que balizam<br />
a forma como os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pensam a<br />
utilização da CE: antes <strong>de</strong> mais relaciona<strong>das</strong> com a eficácia.<br />
“A eficácia é semelhante entre as pilulas hormonais<br />
conheci<strong>das</strong>. E sabemos que quanto mais cedo a<br />
contraceção <strong>de</strong> emergência é feita, melhor (é por isso<br />
que <strong>de</strong>ve ser utilizada logo, o mais cedo possível)”.<br />
Todavia, alertou, “não obstante a elevada taxa <strong>de</strong> eficácia,<br />
<strong>de</strong>ve-se sempre informar a mulher que a eficácia<br />
do contracetivo regular é sempre superior, conferindo<br />
maior segurança (seja porque é mais eficaz em termos<br />
<strong>de</strong> efeito, seja porque não está <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do fator tempo,<br />
nem do momento do ciclo em que é tomado)”.<br />
Presente “<strong>de</strong>ve também estar sempre a certeza <strong>de</strong> que<br />
a contraceção hormonal não protege contra doenças<br />
CONTRACEÇÃO DE EMERGÊNCIA<br />
Esquema 1<br />
Menor eficácia que os métodos contracetivos regulares<br />
A procura da <strong>Contraceção</strong> <strong>de</strong> <strong>Emergência</strong> constitui uma<br />
oportunida<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sperdiçada para incentivar<br />
o uso <strong>de</strong> <strong>Contraceção</strong> regular.<br />
sexualmente transmissíveis (DST). E ainda, que sendo<br />
um medicamento <strong>de</strong> toma única, com uma ação limitada<br />
no tempo, faz com que alguns dos efeitos adversos a<br />
que <strong>de</strong>vemos estar atentos na contraceção regular (tromboembolismos,<br />
cancro da mama, etc.), não se coloquem<br />
para a contraceção oral <strong>de</strong> emergência”, acrescentou.<br />
Relativamente às situações concretas em que ocorre o<br />
recurso à CE, a Dr.ª Joana Pinto caracterizou duas situações<br />
possíveis: “a mulher que vem e que pe<strong>de</strong> diretamente<br />
o contracetivo oral <strong>de</strong> emergência, sem colocar<br />
questões;” e “a mulher que tem dúvi<strong>das</strong> e que nos vem<br />
perguntar se precisa <strong>de</strong> recorrer ao contracetivo oral <strong>de</strong><br />
emergência. Nestes casos, <strong>de</strong>ve-se procurar indagar<br />
se, por um lado, estava ou não a fazer contracetivo,<br />
e por outro, <strong>de</strong> que tipo <strong>de</strong> falha no contracetivo que<br />
estava a usar é que suspeita?”<br />
Também po<strong>de</strong> passar, informou, “pelo momento do ciclo<br />
em que a mulher está”. Aqui, salvaguarda, “tendo a consi<strong>de</strong>ração<br />
a enorme variabilida<strong>de</strong> do período fértil, corre-se<br />
um risco significativo quando, ao fazer contas, tentamos<br />
perceber se a mulher está ou não em risco” Isto porque,<br />
explicou, “São muitos poucos os dias em que po<strong>de</strong>mos<br />
assumir que não há risco <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z caso tenha havido<br />
uma relação sexual <strong>de</strong>sprotegida (em teoria, nos três primeiros<br />
dias do ciclo)”. Assim, se a mulher tem a mínima<br />
dúvida sobre a regularida<strong>de</strong> do seu ciclo ou em que dia<br />
do ciclo estava, é preferível o recurso à contraceção<br />
oral <strong>de</strong> emergência. “Aquilo que queremos, a todo o custo,<br />
é evitar uma gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada ou evitar o recurso a<br />
uma interrupção voluntária da gravi<strong>de</strong>z”, justificou.<br />
INIBIÇÃO DA OVULAÇÃO: O EFEITO PRETENDIDO<br />
Os mecanismos <strong>de</strong> ação da<br />
contraceção hormonal <strong>de</strong><br />
emergência são idênticos.<br />
O efeito, nos dois casos, é<br />
sempre a inibição da ovulação.<br />
Os mecanismos <strong>de</strong> ação da contraceção hormonal <strong>de</strong><br />
emergência são idênticos. O efeito, nos dois casos, é<br />
sempre a inibição da ovulação. A eficácia às 24 horas,<br />
que é quando focamos essencialmente o momento ótimo<br />
para a utilização do contracetivo oral <strong>de</strong> emergência, não<br />
tem diferenças significativas entre os dois métodos. E aqui<br />
a gran<strong>de</strong> diferença coloca-se em saber até quando é que<br />
<strong>de</strong>ve ser aconselhado: para além <strong>das</strong> 72 horas, o levonorgestrel<br />
já não <strong>de</strong>ve ser utilizado, <strong>de</strong>vendo-se aconselhar<br />
a utilização do acetato <strong>de</strong> ulipristal.<br />
4
UM BOM PERFIL DE SEGURANÇA<br />
Outro dos aspetos abordados pela Dr.ª Joana Pinto foi o<br />
da segurança, para afirmar que “a CE é segura e não<br />
está associada a nenhum efeito adverso grave”. De<br />
facto, prosseguiu, “os efeitos secundários (cefaleias, náuseas,<br />
vómitos, tonturas, aumento da sensibilida<strong>de</strong> mamária<br />
e dores pélvicas) são raros, ligeiros, transitórios e sem<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapêutica adicional”.<br />
“Não está recomendada a utilização <strong>de</strong> antieméticos profiláticos<br />
por rotina”. Se ocorrerem vómitos num intervalo<br />
até 3 horas após a toma <strong>de</strong> levonorgestrel ou acetato <strong>de</strong><br />
ulipristal <strong>de</strong>ve repetir a CE com administração prévia <strong>de</strong><br />
um antiemético ou optar pelo DIU <strong>de</strong> Cobre.<br />
Com o uso <strong>de</strong> levonorgestrel a menstruação po<strong>de</strong> antecipar<br />
1 a 2 dias e com o uso <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> ulipristal po<strong>de</strong><br />
atrasar 2 dias. A maioria <strong>das</strong> mulheres irá menstruar <strong>de</strong>ntro<br />
dos 7 dias do período expectável. “O levonorgestrel e o<br />
acetato <strong>de</strong> ulipristal não têm interferência na duração e no<br />
volume do fluxo menstrual. Mas há situações que <strong>de</strong>vem<br />
merecer uma atenção especial do farmacêutico”.<br />
Por exemplo, “se uma qualquer mulher, numa primeira<br />
A CE é segura e não está associada<br />
a nenhum efeito adverso grave.<br />
De facto, os efeitos secundários<br />
são raros, ligeiros, transitórios e<br />
sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapêutica<br />
adicional. Não está recomendada<br />
a utilização <strong>de</strong> antieméticos<br />
profiláticos por rotina.<br />
CONTRAINDICAÇÕES<br />
Esquema 2<br />
• As contraindicações reconheci<strong>das</strong> aos contracetivos orais<br />
combinados não se aplicam à CE hormonal.<br />
• O uso repetido e frequente po<strong>de</strong> ter efeitos nefastos quando<br />
estão presentes condições clínicas nas quais seja contraindicada<br />
a <strong>Contraceção</strong> hormonal regular.<br />
Acetato <strong>de</strong> Ulipristal:<br />
Não é recomendada a utilização em caso <strong>de</strong> asma grave<br />
tratada por um glucocorticoi<strong>de</strong> oral.<br />
O levonorgestrel e o acetato <strong>de</strong><br />
ulipristal não têm interferência<br />
na duração e no volume do fluxo<br />
menstrual. Mas há situações que<br />
<strong>de</strong>vem merecer uma atenção<br />
especial do farmacêutico.<br />
vez que recorre à farmácia à procura <strong>de</strong> contraceção <strong>de</strong><br />
emergência (com quem até tentámos uma abordagem<br />
com maior ou menor sucesso mas dá indicação <strong>de</strong> que<br />
foi uma situação pontual), repete a procura <strong>de</strong> contraceção<br />
<strong>de</strong> emergência, então, garantidamente, estamos perante<br />
uma mulher a quem <strong>de</strong>vemos sugerir contracetivo<br />
regular (até salientando o facto <strong>de</strong> que a contraceção <strong>de</strong><br />
emergência é um medicamento seguro que po<strong>de</strong> ser tomado<br />
sem recurso prévio à consulta médica e sem vigilância<br />
médica, o que não é verda<strong>de</strong> quando se torna recorrente,<br />
particularmente no mesmo ciclo)”. Não está sequer<br />
recomendada a utilização <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> ulipristal por<br />
mais <strong>de</strong> uma vez no mesmo ciclo e ao contrário do levonorgestrel,<br />
a utilização recorrente <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> ulipristal<br />
aumenta sempre os riscos associados. Apenas no caso do<br />
acetato <strong>de</strong> ulipristal, há uma outra situação para a qual é<br />
recomendada precaução, que é o <strong>de</strong> doentes com asma<br />
grave, tratados com glucocorticoi<strong>de</strong>s orais. Uma situação<br />
que se pren<strong>de</strong> com a própria natureza da molécula: <strong>de</strong> facto,<br />
o acetato <strong>de</strong> ulipristal, para além da enorme ativida<strong>de</strong><br />
que tem para os recetores dos progestagénios, tem também,<br />
laboratorialmente i<strong>de</strong>ntificada, uma ativida<strong>de</strong> para os<br />
recetores dos glucorticoi<strong>de</strong>s e, portanto, po<strong>de</strong> haver uma<br />
redução da eficácia do glucocorticoi<strong>de</strong> oral.<br />
A palestrante recordou ainda que em 2014, a Agência Europeia<br />
<strong>de</strong> Medicamentos (EMA) “proce<strong>de</strong>u a uma revisão<br />
<strong>de</strong> segurança relativa à utilização do levonorgestrel e do<br />
acetato <strong>de</strong> ulipristal em mulheres em situações <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong>.<br />
Isto porque foram publicados alguns dados que levavam<br />
a crer que a eficácia pu<strong>de</strong>sse estar reduzida na situação<br />
<strong>de</strong> obesida<strong>de</strong>. No entanto, a conclusão foi <strong>de</strong> que não<br />
era relevante, que o benefício da utilização da contraceção<br />
<strong>de</strong> emergência supera qualquer risco. De facto, explicou a<br />
especialista, “ainda que a eficácia possa estar ligeiramente<br />
diminuída, a utilização faz sempre sentido. Obviamente se<br />
o período menstrual não vem no momento <strong>de</strong>vido, <strong>de</strong>ve<br />
ser feito um teste <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z para confirmar que não há<br />
gravi<strong>de</strong>z. Mas isto é verda<strong>de</strong> quer estejamos a falar <strong>de</strong> uma<br />
mulher com peso aumentado ou com peso normal”.<br />
5
CE E AMAMENTAÇÃO<br />
“Numa mulher que esteja a amamentar, muito embora<br />
possa ocorrer uma passagem para o leite materno, ela<br />
é mínima, no caso do levonorgestrel. Uma informação<br />
corroborada por diversos estudos”, salientou a Dr.ª Joana<br />
Pinto. De facto, “a passagem para o leite materno i<strong>de</strong>ntificada<br />
nos estudos foi <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 0,1%, pelo que <strong>de</strong><br />
acordo com as indicações mais recentes, basta que o<br />
levonorgestrel seja tomada logo após a amamentação e<br />
não antes, para que se obviem eventuais riscos”.<br />
Não há contraindicação na continuida<strong>de</strong> da amamentação.<br />
Já com o acetato <strong>de</strong> ulipristal, não é recomendada<br />
a amamentação durante uma semana após a toma. A<br />
mulher <strong>de</strong>ve tomar também após amamentar e <strong>de</strong>pois<br />
interromper durante aquele período o aleitamento. Se<br />
preten<strong>de</strong> continuar a amamentar após essa semana, <strong>de</strong>ve<br />
ser aconselhada a continuar a fazer a excreção e a eliminação<br />
do leite materno <strong>de</strong> forma a estimular a lactação.<br />
Numa mulher que esteja a amamentar,<br />
muito embora possa ocorrer uma<br />
passagem para o leite materno, ela é<br />
mínima, no caso do levonorgestrel.<br />
AMAMENTAÇÃO<br />
Levonorgestrel<br />
• Deve ser tomado,<br />
<strong>de</strong> preferência,<br />
logo após<br />
ter amamentado.<br />
Acetato <strong>de</strong> Ulipristal<br />
Esquema 3<br />
• Não é recomendada a amamentação<br />
durante uma semana após a toma.<br />
• Manter excreção e eliminação do leite<br />
materno <strong>de</strong> forma a estimular a lactação.<br />
INTERAÇÕES… CINÉTICAS<br />
Abordando as interações, a Dr.ª Joana Pinto <strong>de</strong>stacou que<br />
as principais, “quando se fala na contraceção <strong>de</strong> emergência<br />
hormonal, são interações cinéticas e que têm a<br />
ver com situações em que o metabolismo possa estar aumentado<br />
e em que os níveis atingidos no organismo não<br />
sejam suficientes para esta taxa <strong>de</strong> eficácia, que é reconhecida”.<br />
Estas ocorrem em situações em que há toma<br />
simultânea, ou não, <strong>de</strong> medicamentos que po<strong>de</strong>m estimular<br />
o metabolismo quer <strong>de</strong> um quer <strong>de</strong> outro fármaco.<br />
Tratam-se <strong>de</strong> fármacos que aumentam a expressão <strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>terminada enzima responsável pelo metabolismo<br />
do fármaco. Uma vez induzida a expressão aumentada<br />
<strong>de</strong>sta enzima, ainda que a toma do medicamento<br />
seja suspensa, a enzima continua disponível (daí este intervalo<br />
<strong>de</strong> segurança que é mantido). “Ainda que uma<br />
mulher tenha tomado um antibiótico (que é, reconhecidamente,<br />
um indutor enzimático) mas tenha interrompido<br />
essa toma há duas semanas, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar<br />
que o metabolismo do fármaco está aumentado. Tem<br />
<strong>de</strong> haver um período suficiente para a normalização da<br />
expressão <strong>de</strong>sta enzima acontecer e aí <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> haver<br />
este risco”. Este período foi fixado em 28 dias.<br />
Como recomendação, a palestrante sugeriu às farmácias<br />
que têm integrada informação que lhes permite a<br />
INTERAÇÕES<br />
Antibióticos Anticonvulsivantes Antiretrovíricos<br />
Rifampicina<br />
Rifabutina<br />
Carbamazepina<br />
Oxcarbamazepina<br />
Fenitoína<br />
Primidona<br />
Fenobarbital<br />
Lamotrigina<br />
Topiramato<br />
* IBP: Omeprazol, Esomeprazol, Lansoprazol e outros<br />
Lopinavir<br />
Ritonavir<br />
Saquinavir<br />
Nelfinavir<br />
Atazanavir<br />
Efavirenz<br />
Nevirapina<br />
Eravirina<br />
Rilpivirina<br />
Esquema 4<br />
Medicamentos indutores enzimáticos, tais como os Inibidores da<br />
bomba <strong>de</strong> Protões (IBP*) – CYP3A4<br />
Outros<br />
Erva <strong>de</strong> São João<br />
Griseofulvina<br />
Risco <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> eficácia<br />
Durante o tratamento e até 28 dias após o término<br />
1.ª linha: DIU <strong>de</strong> cobre<br />
2.ª linha: Levonorgestrel 3 mg, dose única<br />
O acetato <strong>de</strong> ulipristal não é recomendado<br />
6
verificação <strong>de</strong> interações, que simulem a dispensa em<br />
simultâneo <strong>de</strong> um contracetivo <strong>de</strong> emergência e <strong>de</strong> um<br />
fármaco que suspeitam que possa interferir no metabolismo<br />
(anticonvulsivantes, terapêutica antirretroviral,<br />
antifúngicos, certos tipos <strong>de</strong> antibióticos). “Se os dois<br />
medicamentos interagem, temos o aviso que nos diz se<br />
há ou não aumento <strong>de</strong> interação por aumento <strong>de</strong> metabolismo.<br />
Então, o que fazer? A alternativa <strong>de</strong> primeira linha é<br />
o recurso ao dispositivo intrauterino <strong>de</strong> cobre (e para isso<br />
a mulher <strong>de</strong>ve ser encaminhada para uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser dispensado este método contracetivo)”<br />
explicou. Caso a mulher não queira, prosseguiu,<br />
“é possível aconselhar o levonorgestrel em dose dupla,<br />
que garante não uma igual eficácia, mas uma eficácia<br />
suficiente para pensarmos que a mulher possa estar em<br />
menor risco <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada. O acetato <strong>de</strong><br />
ulipristal não é recomendado em dose dupla”.<br />
Ainda no que respeita a interações, a Dr.ª Joana Pinto<br />
sublinhou que “o uso simultâneo não é recomendado. A<br />
mulher tem tanto medo <strong>de</strong> engravidar que acredita que<br />
“se um é bom, dois é melhor”. Ora, a verda<strong>de</strong> é que tomar<br />
os dois ao mesmo tempo não está recomendado. Tendo<br />
sido utilizado o acetato <strong>de</strong> ulipristal não <strong>de</strong>ve ser utilizado<br />
levonorgestrel antes <strong>de</strong> passarem cinco dias”.<br />
Ainda no que respeita à opção pelo levonorgestrel ou pelo<br />
acetato <strong>de</strong> ulipristal, a palestrante explicou que “quando<br />
a mulher já faz uma contraceção regular mas, por um esquecimento<br />
da toma do contracetivo, suspeita que possa<br />
estar em risco <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z, então a toma do acetato <strong>de</strong><br />
ulipristal po<strong>de</strong> reduzir a ação efetiva dos contracetivos<br />
hormonais”. No caso <strong>de</strong> a mulher ter feito a contraceção<br />
<strong>de</strong> emergência, <strong>de</strong>ve utilizar uma método-barreira fiável.<br />
Já no caso do levonorgestrel, se pensarmos em contracetivos<br />
orais combinados, não é significativa a redução<br />
<strong>de</strong> eficácia. Já se pensarmos nos progestativos, po<strong>de</strong><br />
haver uma redução <strong>de</strong> eficácia. Quando é utilizada a contraceção<br />
hormonal <strong>de</strong> emergência, o mais seguro é, sem<br />
dúvida, a utilização do contracetivo-barreira fiável. Po<strong>de</strong><br />
ainda surgir uma outra situação: no recurso à contraceção<br />
<strong>de</strong> emergência, mulheres que tencionavam iniciar<br />
a contraceção hormonal (por indicação médica)<br />
mas que ainda não a tinham iniciado (as recomendações<br />
mais recentes apontam para o início da contraceção<br />
hormonal <strong>de</strong> imediato, sem esperar pelo início do<br />
ciclo - “Quick-Start”). É frequente a indicação para que<br />
a mulher espere pelo início do ciclo para iniciar a contraceção<br />
hormonal regular. Ora, é preciso não esquecer que<br />
neste período, em que está à espera pelo início do ciclo,<br />
po<strong>de</strong> ter surgido uma situação que leve a mulher a recear<br />
a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma gravi<strong>de</strong>z. Procurando essa mulher<br />
um contracetivo oral <strong>de</strong> emergência, po<strong>de</strong> ser recomendado<br />
o início da toma imediata do contracetivo hormonal.<br />
Esta toma imediata reduz o risco <strong>de</strong> que a mulher possa estar<br />
numa mesma situação <strong>de</strong> relação sexual <strong>de</strong>sprotegida.<br />
A terminar, a Dr.ª Joana Pinto abordou um <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro aspeto<br />
<strong>de</strong> segurança. Po<strong>de</strong> haver também uma alteração do<br />
ciclo: “po<strong>de</strong> haver antecipação ou atraso da menstruação<br />
seguinte. Apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r haver essa variação, <strong>de</strong>ve ser<br />
sempre recomendado um teste <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z. Quer tenha<br />
sido tomado levonorgestrel e haja um atraso superior a<br />
cinco dias, quer tenha sido tomado o acetato <strong>de</strong> ulipristal<br />
e haja um atraso superior a sete dias. Naquela situação<br />
em que a mulher até já tinha a caixinha da pílula em casa<br />
e na sequência da contraceção <strong>de</strong> emergência iniciou<br />
<strong>de</strong> imediato o contracetivo hormonal regular, passado 28<br />
dias <strong>de</strong>ve ser feito um teste <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z se não houver hemorragia<br />
<strong>de</strong> privação. Isto porque, explicou, “há sempre<br />
o risco <strong>de</strong> o contracetivo hormonal <strong>de</strong> emergência não ter<br />
sido efetivo, não ter sido tomado no período <strong>de</strong>vido, ter<br />
havido uma outra situação <strong>de</strong> relação sexual <strong>de</strong>sprotegida<br />
ou ter havido uma segunda relação sexual <strong>de</strong>sprotegida<br />
entre a toma da contraceção <strong>de</strong> emergência e a<br />
altura em que se consi<strong>de</strong>ra que o contracetivo hormonal<br />
começa a ser efetivo”.<br />
Quando se fala na contraceção<br />
<strong>de</strong> emergência hormonal, são<br />
interações cinéticas e que têm<br />
a ver com situações em que<br />
o metabolismo possa estar<br />
aumentado e em que os níveis<br />
atingidos no organismo não sejam<br />
suficientes para esta taxa <strong>de</strong><br />
eficácia, que é reconhecida.<br />
Dr.ª Joana Pinto<br />
7
KEDP/DAC31N