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08 Cidade Foz do Iguaçu, terça-feira, 29 de janeiro de 2019<br />
Fábio Campana<br />
Os criminosos de Brumadinho<br />
Os responsáveis pelo múltiplo homicídio, culposo ou<br />
doloso, seguido de destruição ambiental não são<br />
poucos. A lista é tão extensa quanto a dos inscritos no<br />
Departamento de Propinas da Odebrecht. A fila de<br />
acusados pelo desastre de Brumadinho começa pelo<br />
ex-governador Fernando Pimentel, cujo descaso pela<br />
vida dos mineiros foi escancarado pela reprise da<br />
erupção de horror em Mariana. O segundo, com<br />
certeza, é o presidente da Vale, Fabio Schvartsman. É<br />
reincidente. Tem o desplante de afirmar que não tem<br />
palavras para descrever o sofrimento que lhe causou<br />
o rompimento de mais uma barragem.<br />
A fila continua com os integrantes da Agência<br />
Nacional de Águas e da Agência Nacional de<br />
Mineração, infiltrados no Ministério de Minas e<br />
Energia, parlamentares que impedem o<br />
endurecimento da legislação, ineptos fantasiados de<br />
promotores de Justiça e magistrados que, poupam de<br />
punições os delinquentes que produzem tsunamis de<br />
rejeitos. Fora o resto.<br />
Se vingar a tradição, ninguém será responsabilizado,<br />
ninguém será punido.<br />
Porta arrombada<br />
A contemplação do passado informa que o Brasil se<br />
habituou a só colocar fechadura em porta<br />
arrombada. Para que essa deformação repulsiva<br />
deixe de obstruir o caminho que encurta a chegada<br />
ao futuro civilizado, é preciso transformar em marco<br />
zero o drama que assombrou novamente o mundo.<br />
Os autores da tragédia de Brumadinho são casos de<br />
polícia. Têm de aprender que já não existem<br />
condenados à perpétua impunidade. A direção da<br />
empresa merece exemplares castigos financeiros.<br />
Todos os envolvidos no crime merecem cadeia.<br />
Tudo bem<br />
No primeiro boletim médico divulgado pelo Hospital<br />
Albert Einstein após o encerramento da cirurgia para<br />
retirada da bolsa de colostomia, a equipe médica<br />
informa que o presidente Jair Bolsonaro "encontra-se<br />
clinicamente estável, consciente, sem dor". O<br />
documento foi divulgado às 17h desta segunda-feira,<br />
28. O procedimento durou cerca de sete horas e foi<br />
concluído com êxito, de acordo com ele.<br />
Beto e mais nove<br />
Os agentes público denunciados pelo Ministério<br />
Público Federal são 10: Beto Richa, Deonilson Roldo,<br />
Ezequias Moreira, Ricardo Rached, Nelson Leal Junior,<br />
José "Pepe" Richa Filho, Antonio Carlos "Cabeleira"<br />
Cabral, Maurício de Sá Ferrante, José Alfredo Gomes<br />
Stratmann e Aldair Wanderley Petry.<br />
Empresários na chincha<br />
Além dos agente públicos, o MPF denunciou 22<br />
dirigentes das seis empresas concessionárias do<br />
pedágio no Paraná. Gente de grosso calibre.<br />
Grossa bandalheira<br />
Nós pagamos essa conta. O Ministério Público<br />
Federal calcula que os aumentos nas tarifas de<br />
pedágio concedidos ao longo dos últimos oito anos<br />
renderam às seis concessionárias que administram o<br />
Anel de Integração um faturamento extra de R$ 8,5<br />
bilhões. Os reajustes não foram proporcionais às<br />
obras previstas; muitas delas nem foram iniciadas.<br />
Alvaro quer CPI da Vale<br />
Demorou para acontecer. Diante de um horror tão<br />
grande que comoveu toda a Nação, políticos não<br />
deixariam de tentar aproveitar a oportunidade para<br />
surfar na desgraça alheira. Alvaro Dias quer uma CPI<br />
da Vale para brilhar. Outro paranaense, que volta à<br />
Câmara, Maurício Fruet, tenta empinar a CPI de<br />
Brumadinho.<br />
MORTE NA ADUANA<br />
Família de Ademir Gonçalves<br />
faz protesto na aduana da<br />
Ponte da Amizade<br />
Dois anos já se passaram desde a morte do vendedor, mas até agora a família<br />
não tem certeza sobre o que realmente aconteceu no dia 28 de janeiro de 2017<br />
Da redação<br />
Reportagem<br />
Familiares e amigos<br />
de Ademir Gonçalves<br />
Costa, que morreu durante<br />
uma abordagem da Receita<br />
Federal, na aduana<br />
Brasil/Paraguai, em 28 de<br />
janeiro de 2017, reuniram-se<br />
na manhã de ontem<br />
(28), na entrada da<br />
Ponte da Amizade, para<br />
relembrar o caso e pedir<br />
justiça. Com cartazes, balões<br />
e faixas, o grupo realizou<br />
um manifesto pacífico<br />
pelos dois anos da<br />
morte do vendedor.<br />
O inquérito aberto<br />
para investigar o caso foi<br />
encerrado em novembro<br />
do ano passado, pela Polícia<br />
Federal em Foz do<br />
Iguaçu, com base nos resultados<br />
dos laudos de<br />
toxicologia e de renecropsia<br />
emitidos pelo Instituto<br />
Nacional de Criminalística<br />
de Brasília (DF).<br />
Conforme os documentos,<br />
Ademir morreu por<br />
intoxicação exógena causada<br />
pela ingestão dos<br />
fármacos Clobenzorex,<br />
Sildenafil, Fenacetina e<br />
Lidocaína. Essas substâncias,<br />
segundo a Polícia<br />
Federal, são comumente<br />
encontradas em<br />
comprimidos de drogas<br />
fabricadas no Paraguai.<br />
Os laudos apontam ainda<br />
que não foram detectados<br />
sinais de violência<br />
física no corpo da vítima.<br />
"A gente tem feito algumas<br />
apreensões de comprimidos<br />
que são uma espécie<br />
de ecstasy produzido<br />
no Paraguai, onde estas<br />
substâncias são encontradas.<br />
O laudo aponta<br />
a quantidade de cada<br />
uma no corpo da vítima.<br />
Essas mesmas substâncias<br />
já haviam sido detectadas<br />
nos primeiros laudos<br />
elaborados pela Polícia<br />
Científica do Paraná",<br />
Fotos: reprodução Rede Massa<br />
Familiares e amigos usaram faixas e cartazes para pedir justiça e<br />
relembrar os dois anos da morte de Ademir<br />
disse o delegado Emerson<br />
Rodrigues, em entrevista<br />
coletiva à imprensa em<br />
dezembro de 2018.<br />
A família do vendedor<br />
contesta a conclusão do<br />
caso e defende que Ademir<br />
morreu por asfixia causada<br />
por spray de pimenta e<br />
por agressão. "Ainda gritamos<br />
por justiça, pois<br />
eles não fizeram nada<br />
para tentar esclarecer e<br />
querem denegrir a imagem<br />
dele, fazer acreditar<br />
que todos os hematomas<br />
e a morte foi causada por<br />
ele mesmo. Nós, a família,<br />
temos os laudos dos<br />
nossos peritos, e confio<br />
na palavra deles. O Ademir<br />
jamais faria nada contra<br />
sua própria vida e<br />
nunca teve nada com a<br />
polícia ou uso de drogas",<br />
afirmou a ex-esposa da<br />
vítima, Adriana da Silva.<br />
Peritos contratados<br />
pela família de Ademir<br />
apontam que houve excesso<br />
na abordagem dos<br />
fiscais da Receita Federal<br />
e que a quantidade das<br />
substâncias químicas encontradas<br />
no corpo do<br />
vendedor não seria suficiente<br />
para causar a morte<br />
dele. "O que queremos<br />
é que os responsáveis paguem,<br />
foi um abuso de<br />
poder e força, já que ele<br />
não tinha nada de errado<br />
com ele no momento da<br />
abordagem", disse Silva.<br />
Para a Polícia Federal,<br />
a quantidade de spray de<br />
pimenta usada pelos fiscais<br />
não tem relação com<br />
a morte do vendedor.<br />
"Nós identificamos as<br />
substâncias, os peritos<br />
fizeram a análise, e não<br />
foram detectadas as duas<br />
substâncias Nonivamida<br />
e Capsaicina [usadas na<br />
fabricação do spray], por<br />
isso a gente afasta a hipótese<br />
de intoxicação",<br />
afirmou o delegado Emerson<br />
Rodrigues.<br />
O inquérito finalizado<br />
pela PF foi encaminhado<br />
ao Ministério Público,<br />
que pediu o arquivamento<br />
do caso. Os advogados<br />
da família devem ainda<br />
apresentar um novo laudo<br />
antes que o juiz tome<br />
a decisão. "A defesa irá<br />
contestar nesses próximos<br />
dias todo o laudo<br />
apresentado pela Polícia<br />
Federal com relação à<br />
morte do Ademir, tendo<br />
em vista que as substâncias<br />
encontradas no corpo<br />
da vítima são insuficientes<br />
para causar morte<br />
e o inquérito é cheio de<br />
falhas. Nos próximos dias<br />
também nossos peritos<br />
irão apresentar o laudo<br />
elaborado por eles", declarou<br />
o advogado Almir José<br />
dos Santos.<br />
Família de Ademir Gonçalves ainda espera por<br />
respostas sobre a causa da morte do vendedor