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Portfólio Carol Schiller

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PORTFÓLIO<br />

<strong>Carol</strong>ina <strong>Schiller</strong>


Ida dos alunos do CAp à aula de análise<br />

Dos alunos que foram assistir a aula de análise ano passado, gostaria de<br />

narrar especialmente o impacto no Lucas (casaco cinza, bermuda azul). Durante<br />

o ano era fácil perceber que ele tinha muita facilidade em matemática mas<br />

pouquíssima motivação em sala de aula. Ficava distraído, dormia, conversava...<br />

Mas sempre que chamado a participar sabia muito bem o que responder. A<br />

desmotivação acabava influenciando nas avaliações. Ele ia bem o suficiente<br />

para tirar uma nota tranquila, mas era evidente que não fazia toda a prova com<br />

vontade. Durante a aula de análise, no entanto, ele foi o que ficou mais atento.<br />

Todos curtiram muito, mas o Lucas ficou tão encantado que me perguntou se<br />

poderia frequentar o curso (no caso não poderia porque tinha aula no CAp no<br />

mesmo horário). Não apenas isso, mudou completamente o comportamento nas<br />

minhas aulas, começou a participar e procurar materiais complementares,<br />

pediu indicação de livros que abordassem matemática de forma interessante.<br />

Realmente foi um divisor de águas para ele.


– Suas experiências como aluno da educação básica em aulas de<br />

matemática:<br />

∗ uma que você identifique como uma boa prática do professor e uma<br />

inadequada;<br />

Como estudante do Colégio Pedro II – Humaitá, tive experiências de aulas<br />

de matemática majoritariamente caretas e tradicionais. Dentre as mesmas,<br />

alguns professores conseguiam que esse formato de aula fosse bem aproveitado<br />

pelos alunos ou que as aulas fossem eficientes dentro de uma determinada<br />

lógica. Penso que algo que identifiquei como uma boa prática foi, em<br />

contraponto a professores que usavam de coerção e medo nas aulas de<br />

matemática, uma relação afetuosa com a turma já fazia com que a aula rendesse<br />

bem mais, mesmo que ambas as formas de ensino fossem tradicionais. Algo<br />

bastante básico, mas que rendeu um choque tão grande em mim, pois tinha<br />

passado anos tendo aula com professores majoritariamente (procurando aqui<br />

uma palavra alternativa a “escrotos”) rígidos que, mesmo sempre tendo alguma<br />

facilidade para matemática tinha me convencido de que não gostava da matéria.<br />

Ficou claro que alguns desses professores explicavam bem, mas que a relação<br />

com a turma era tão ruim que gerava bloqueio de aprendizado dos alunos, que<br />

estavam muito mais preocupados em passar desapercebidos durante as aulas.<br />

Portanto quando finalmente tive aula com uma professora que, além da<br />

preocupação com o conteúdo, se preocupava com os seres humanos, percebi<br />

que nesse cenário poderia de fato pensar na matemática pela matemática em<br />

si. É lógico que a admiração por uma professora assim ajudou a perceber que o<br />

que eu considerava ser uma facilidade em matemática na verdade era um gosto<br />

mal desenvolvido. Mesmo tendo hoje uma prática que em vários elementos<br />

diferem da dela, sou eternamente grata e tenho uma admiração enorme pela<br />

pessoa que me apresentou uma alternativa e ajudou a seguir essa profissão que<br />

tanto amo.


∗ uma que na época você tenha considerado uma boa prática do professor,<br />

mas que hoje você avalie de outra forma;<br />

Logo após me formar no Pedro II, decidi que gostaria de ser professora de<br />

matemática. Essa não foi uma decisão tomada durante o ano letivo e não foi<br />

uma decisão fácil para mim por n motivos. Porém, logo que decidi que seguiria<br />

carreira de professora escrevi um relato meu do que considerava ser um bom<br />

professor. Lá eu dizia que tinha escrito esse relato porque sabia que conforme<br />

os anos fossem passando eu teria dificuldade de me lembrar das minhas reais<br />

impressões como aluna da escola básica e que essas impressões poderiam ser<br />

úteis quando eu começasse a dar aula. De fato, eu tinha uma parte de razão,<br />

pois ao ler o que escrevi estranhei muito o quanto minha visão mudou.<br />

Considero um bom sinal: se eu fosse a mesma de quando terminei o Ensino<br />

Médio a universidade teria falhado miseravelmente em minha formação. Mas o<br />

que eu mais estranhei dentre as anotações foi que eu dava um valor enorme ao<br />

“respeito” que o professor recebia de uma turma. Lá eu dizia que embora tenham<br />

muitos outros fatores importantes, “ter respeito da turma” era algo<br />

imprescindível. Engraçado como hoje essa não é uma preocupação minha. Pelo<br />

menos não no sentido que estava escrito. É claro que ninguém gosta de ser<br />

desrespeitado, mas não era esse o significado por trás da palavra “respeito”, que<br />

ali simbolizava uma relação marcada pela hierarquia.


– Suas experiências como aluno de graduação em cursos de formação de<br />

professores:<br />

∗ uma que você identifique como uma boa prática do professor;<br />

Uma prática que considerei muito interessante e tenho tentado adotar<br />

sempre que possível (apesar de que ano passado não consegui) foi inspirada<br />

pela professora Ana Teresa, em Didática I e II. Ao final do curso ela entregava<br />

uma ficha para que os alunos avaliassem o semestre de aulas com ela. Lá havia<br />

perguntas bastante objetivas (por ex.: a professora cumpria o horário<br />

determinado para a aula? Você se sentia confortável para tirar dúvidas durante<br />

as aulas?) , pois acredito que o intuito não era que a ficha se tornasse um muro<br />

de lamentações nem um espaço para inflar o ego do professor, e sim uma forma<br />

de estar atenta à sua prática, às impressões dos alunos e ao que melhorar no<br />

próximo semestre (estou falando do meu entendimento da ficha, nunca<br />

perguntei à professora qual era de fato o objetivo). No final, também havia<br />

espaço para comentários gerais. Considero não só uma prática boa como<br />

também corajosa. Passar tal ficha é ter que lidar com respostas sinceras e<br />

muitas vezes não estamos preparados para isso. Fiz parecido em 2017 e não foi<br />

fácil ler as respostas, mas me ajudaram a repensar algumas práticas minhas.<br />

Infelizmente ano passado perdi o momento de fazer novamente.<br />

∗ uma que você identifique como uma prática inadequada do professor;<br />

Durante a disciplina de álgebra 1, os resultados da turma na primeira<br />

prova do semestre foram bastante ruins. No dia de entregar as provas corrigidas<br />

o professor deu um discurso sobre o quão ruins foram as provas e disse, de<br />

forma direta, que os alunos deveriam repensar se era aquele curso que<br />

gostariam de seguir mesmo, pois pelas provas a maioria não teria aptidão para<br />

tal. Ou seja, além de ir mal na prova, a maioria dos alunos foi indicada a desistir.<br />

Parabéns para esse professor por ter não ter entendido nada sobre o que é<br />

ensinar.


– Suas experiências como professor:<br />

∗ uma que você considere uma boa prática;<br />

Eu possuo ainda pouca prática como professora, me formei em 2016.2 e<br />

trabalhei como professora formada durante os dois anos seguintes e o ano atual,<br />

2019. Por isso, muito do que faço em sala de aula ainda é sem certeza de qual<br />

caminho seria o melhor para seguir. Considero que uma boa prática minha<br />

durante o ano passado foi não ignorar os acontecimentos marcantes (e foram<br />

muitos) que aconteceram em 2018. É comum que a aula de matemática seja<br />

reservada para de forma exclusiva para o “conteúdo”, como se fosse uma<br />

matéria totalmente a parte do que acontece fora da sala de aula e que não deve<br />

se envolver. No entanto, ano passado, dei aula em dias seguintes a<br />

acontecimentos que, na minha cabeça, seriam impossíveis de serem ignorados.<br />

Como por exemplo a morte da Marielle. Aconteceu em uma quarta feira e eu<br />

tinha um teste marcado na sexta. Considerei que não fazia sentido aplicar o<br />

teste como se não tivesse algo muito maior acontecendo. Adiei a avaliação e usei<br />

o tempo da aula para me posicionar e ouvir os alunos. Foi um dia que, acima<br />

de tudo, aprendi demais. Os depoimentos e as discussões que foram levantadas<br />

por eles marcaram minha (ainda curta) trajetória profissional. No final do dia,<br />

um aluno agradeceu pelo tempo usado para o assunto e disse que não era uma<br />

prática comum, principalmente vindo de professores das “exatas”. Que mesmo<br />

aqueles que “tinham a obrigação” de abordar o assunto (no caso se referindo a<br />

professores das matérias “de humanas”) falavam durante 20 min e voltavam ao<br />

conteúdo. Esse feedback me fez entender a importância que o posicionamento<br />

de um professor de matemática pode ter. Algo difícil de esquecer, principalmente<br />

nos tempos que estamos passando atualmente.


∗ uma que você já tenha considerado uma boa prática, mas que hoje você<br />

avalie de outra forma;<br />

Durante (principalmente) o primeiro ano de minha prática profissional,<br />

era muito comum que eu assumisse uma postura de tentar convencer os alunos<br />

de que a matemática seria relevante para a vida deles por sua aplicabilidade em<br />

todas as áreas profissionais e do dia-a-dia. Penso que eu adotava essa postura<br />

de forma pouco reflexiva e, na minha antiga opinião, era uma forma de ajudar<br />

que os alunos se envolvessem com o conteúdo e valorizassem o que estava sendo<br />

ensinado. A verdade é que hoje vejo esse discurso como falacioso, uma vez que<br />

ao mesmo tempo nem a matemática está em tudo e o “estar em tudo” da<br />

matemática é tão real quanto o de qualquer outra área de conhecimento, basta<br />

adequarmos o olhar ao que queremos. Penso que essa cultura ajuda a associar<br />

a matemática a algo superior e mais necessário de ser aprendido do que as<br />

outras disciplinas, afinal “está em tudo”. Além disso, cultivar que a matemática<br />

está presente em todas as áreas da vida do aluno acaba por ter o efeito inverso<br />

do esperado, pois a aplicação forçada da matemática faz com que os alunos se<br />

distanciem do conteúdo. Ao invés de se convencerem de que a matemática é<br />

aplicável em determinada situação, ficam convencidos de que aquela aplicação<br />

não diz respeito a eles de forma alguma.<br />

– Uma discussão sobre visões e percepções de alunos da educação básica<br />

sobre a disciplina de matemática, a partir de sua experiência como<br />

professor;<br />

Esse ano tive a experiência de dar aula de estatística para o 3º ano do<br />

CAp, o que foi algo muito enriquecedor para mim. Primeiro pois é uma matéria<br />

que considero extremamente central no conhecimento matemático necessário<br />

para compreensão de mundo dos alunos. Segundo porque foi um desafio para<br />

mim pois eu tive poucas (ou nenhuma) oportunidades de refletir sobre<br />

estatística voltada para o ensino durante a graduação, já que a única disciplina<br />

de estatística presente no currículo não tem esse foco. Mas principalmente<br />

porque a discussão sobre estatística abre espaço para uma discussão que eu<br />

AMO, que é a suposta neutralidade da matemática e as formas de manipulação<br />

através de gráficos e números. Portanto, na aula introdutória abordei a


matemática como meio de manipulação nas mídias e tentei discutir se a<br />

matemática poderia ser considerada uma ciência neutra. Os próprios alunos<br />

defendiam que sim, o que para mim reflete a cultura criada acerca da<br />

matemática. Eles defendem que não entendem e ao mesmo tempo que é neutra,<br />

quase como se uma ciência superior a tudo. Logo, me parece fácil a conclusão<br />

de que a matemática se torna um instrumento de poder defendido de certa<br />

forma pelos próprios alunos. Ora, se eles não entendem e aceitam como algo<br />

indiscutível, tudo que envolva matemática ganha um aspecto de verdade e de<br />

argumento final. O que me deixou mais impactada é que esses alunos entendem<br />

muito de matemática e mesmo assim consideram que não. Imagina aqueles que<br />

de fato não têm acesso a essa forma de conhecimento?<br />

– Uma referência a uma peça de artes cênicas ou plásticas que revele visões<br />

e percepções culturais sobre a matemática;<br />

A peça “A vida de Galileu”, de Brecht, é uma que faz referência direta à<br />

matemática de uma forma completamente diferente da que entendemos hoje.<br />

Quando fiz leitura da peça, anos atrás, lembro de ter ficado admirada com a<br />

forma que eram descritas a matemática e a filosofia, totalmente opostas ao que<br />

estava habituada. Em especial, no trecho destacado abaixo:<br />

“O senhor sabe que os cursos de matemática não garantem frequência à<br />

universidade. A matemática, por assim dizer, não é uma arte nutritiva. Não que<br />

a República não a tenha na mais alta conta. Embora ela não seja tão necessária<br />

como a filosofia, nem tão útil quanto a teologia, aos conhecedores ela proporciona<br />

infinito prazer!” (p.13)<br />

Seria possível imaginar uma fala dessa hoje? De que a filosofia é que é<br />

necessária e procurada em cursos universitários, mas que a matemática é uma<br />

arte que proporciona infinito prazer?


– Uma resenha de um artigo publicado em periódico acadêmico da área,<br />

uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado, sobre um tema<br />

relacionado com as discussões conduzidas no portfólio;<br />

Título do artigo: Efeitos de poder e verdade do discurso da Educação<br />

Matemática<br />

Autora: Lisete Bampi<br />

Local: Revista – Educação e Realidade (1999)<br />

Qualis: A1<br />

Link:<br />

http://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/55810/3390<br />

6<br />

Resenha<br />

O artigo discute os discursos dominantes da área da Educação<br />

Matemática, a partir de uma perspectiva pós-estruturalista, com especial<br />

enfoque na produção de Michel Foucault e descreve alguns resultados da<br />

pesquisa feita para a dissertação escrita pela mesma autora, na UFRGS, com<br />

orientação de Corazza. A perspectiva foucaultiana adotada dá específica atenção<br />

às condições históricas nas quais diversos discursos são elaborados. Por isso,<br />

a autora dá muito destaque para as produções acerca da Etnomatemática,<br />

tendência da Educação Matemática que estava em alta durante a época da<br />

realização da pesquisa.<br />

O objetivo do trabalho foi analisar os discursos produzidos pela Educação<br />

Matemática para perguntar pelos efeitos de verdade que eles produzem. Em<br />

uma concepção foucaultiana, todo tipo de discurso produz saberes, e a autora<br />

pretende identificar quais são os produzidos a partir dos discursos da Educação<br />

Matemática. Para tal, fez uma leitura crítica de publicações sobre Educação<br />

Matemática (em livros, revistas, artigos, etc) para, a partir daí analisar os<br />

discursos presentes e dominantes em muitas das publicações. Por exemplo, a<br />

autora destaca que as produções de Ubiratan D’Ambrósio eram intensamente<br />

referenciadas nas produções desde a década de 80 e, por isso, é um autor<br />

especialmente analisado durante o artigo.<br />

Para começar a fazer a análise de discurso, é destacado que a Educação<br />

Matemática deve ser compreendida como uma forma de discurso. Nesse sentido,<br />

diferencia-se as áreas de Ensino de Matemática e de Educação Matemática.<br />

Entende-se que a primeira possui interesse nas áreas de Matemática e de<br />

Didática, enquanto a segunda seria mais abrangente, levando em consideração<br />

outras contribuições como, por exemplo, de Sociologia, Filosofia, Psicologia, etc.<br />

A autora diz que não fazia parte da proposta dela estudar as mudanças<br />

que ocorreram ou poderia vir a ocorrer no discurso da Educação Matemática,<br />

nem os ideais de progresso etc: “Tratei de colocar a Educação Matemática em


seu campo de funcionamento e mostrar que esse discurso, apesar de se<br />

inscrever em uma matriz crítica, apresenta, do ponto de vista de uma<br />

perspectiva pós-estruturalista foucaultiana, efeitos determinados de poder e<br />

verdade: sua vontade de totalização e de cidadania plena.”<br />

O aspecto totalizante do discurso da Educação Matemática é destacado<br />

diversas vezes, por aparecer em trabalhos de muitos autores importantes (como<br />

D’Ambrosio e Borba). Uma tendência da época era propor um “enfoque holístico”<br />

do conhecimento, ou seja, que estivesse no cotidiano, em todas as partes da<br />

sociedade como um todo. Para a autora, essa seria uma das principais<br />

estratégias de discurso da área. Ao se dizer que a Matemática é um<br />

conhecimento total, ligado a tudo, um saber harmônico, imutável, capaz de<br />

apreender a totalidade, cria-se também a necessidade de aprendê-la, pois,<br />

senão, haverá uma lacuna de conhecimento que afetará o indivíduo que não a<br />

compreende em todas as suas esferas sociais. Como a própria autora diz,<br />

A noção de uma matemática presente na cultura, no dia-a-dia, na natureza,<br />

ligada à realidade concreta, relacionada com o mundo atual é uma estratégia<br />

central na pretensão da constituição de um saber que abarque não somente<br />

problemas epistemológicos, mas também sociais, culturais e políticos.<br />

A ideia de uma área de conhecimento que está presente em tudo é<br />

reforçada por um discurso que preza pelo caráter transdisciplinar, que<br />

aproxima distintos campos de saber e pela Matemática cidadã, que dá ao<br />

indivíduo meios para interpretar e crescer em cidadania. Desta forma, a<br />

Matemática seria um campo tanto necessário quanto suficiente para a<br />

compreensão de todas as interpretações de mundo que conhecemos (a<br />

matemática está em tudo e é usada para interpretar tudo – é problema e<br />

solução).<br />

A partir da interpretação de embasamento foucaultiano, podemos dizer<br />

que todo discurso produz poder e saber, que ganham estatuto de “verdade”<br />

sobre o objeto ao qual se refere. Assim, passam a ter efeito de verdade e são<br />

aceitos na nossa cultura e no nosso cotidiano. As estratégias do discurso da<br />

Educação Matemática acima citadas foram encontradas em textos direcionados<br />

a professores e professoras e adotados em cursos de formação de<br />

professores/as. É um discurso extremamente sedutor e facilmente repetido em<br />

práticas pedagógicas. Dentro desta lógica, se encontram citações de trechos de<br />

D’Ambrósio, que diz que ao considerarmos as “direções que tomou o<br />

pensamento na evolução da humanidade”, encontraremos na “Matemática o<br />

campo mais fértil para a Educação” (1993, p.103), e isso é o que pode garantir<br />

que essa disciplina “permaneça, naturalmente, como central nos currículos<br />

escolares de todo o mundo” (ib., p.103).<br />

A partir do discurso da Educação Matemática que posiciona a<br />

Matemática como saber central e essencial para uma vida consciente, realizada


e ativa, são produzidas verdades, tanto em esfera epistemológica quanto<br />

política. Exemplo disso é a citação de um artigo publicado pela revista The<br />

Economist de Londres, com o título “You can’t be a citizen of the XXth century<br />

without Mathematics”.<br />

Para finalizar, a autora reforça que<br />

“É importante observar que as práticas totalizantes do discurso da Educação<br />

Matemática não são produzidas por um poder repressivo, violento, interessado<br />

em manter os indivíduos no mesmo lugar. Ao contrário, é um poder que seduz,<br />

que forma saber e produz discurso constitutivo de tais práticas. É um poder<br />

estratégico, que se exerce na promessa de propiciar liberdade, de gerar<br />

cidadania e de transformar a sociedade.”<br />

Observações:<br />

Algo extremamente importante na obra de Foucault e que senti que foi<br />

positivamente apropriado pela autora é de colocar em suspensão e sob suspeita<br />

diversos elementos sem determinar se os mesmos são “bons” ou “maus”. Como<br />

destacado no artigo, o próprio Foucault diz que, ao analisar unidades dadas,<br />

suas configurações e contradições, “não se trata, é claro, de recusá-las<br />

definitivamente mas sacudir a quietude com a qual as aceitamos; mostrar que<br />

elas não se justificam por si mesmas, que são sempre o efeito de uma<br />

construção.” (1987, p.29)<br />

Referências:<br />

D’AMBRÓSIO, A educação matemática e a reincorporação da matemática à<br />

história e à filosofia. In: __ o Seminário Internacional de Educação Matemática<br />

do Rio de Janeiro, 1, 1993, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: UFRJ, 1993.<br />

p. 9 1 - 1 04.<br />

FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense<br />

Universitária, 1987<br />

BRECHT, Bertold. A vida de Galileu. Retirado do site:<br />

https://www.marxists.org/portugues/brecht/1938/mes/galileu.pdf

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