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Entrevista com Suely Bispo<br />
Suely Bispo nasceu na Bahia, mas é capixaba por<br />
adoção. Formada em História, Mestre em Literatura é no<br />
campo das artes que ela se destacou. Sua presença de mais<br />
de 20 anos nos palcos capixabas foi entrecortada por uma<br />
produção consistente de poemas, lançados em obras como<br />
Desnudalma. Além disso, envolveu-se em outros assuntos<br />
como a produção artística, a dança e a numerologia.<br />
Contribuiu como mais uma voz em favor da herança africana<br />
e das causas da negritude. Recentemente, sua trajetória<br />
ganhou mais projeção quando interpretou a personagem<br />
“Doninha”, na novela “Velho Chico”, da Rede Globo. Nesta<br />
entrevista, <strong>para</strong> os alunos do 4º ano integrado em rede de<br />
computadores, a atriz reflete sobre sua carreira, poesia, sua<br />
experiência como professora, o processo criativo, entre<br />
outras questões que rondam a alma de uma grande atriz e<br />
poetisa.<br />
Você apesar de nascer na Bahia veio <strong>para</strong> o Espírito<br />
Santo quando criança, tal mudança impactou de alguma<br />
maneira na sua formação artística?(Carlos Alexandre e<br />
David Segóvia)<br />
Eu cheguei ao Espírito Santo bem jovem e foi aqui que me<br />
tornei artista. Na Bahia cheguei a fazer dança afro, mas era<br />
uma fase em que não sabia o que seria da vida. Entretanto,<br />
não houve impacto significativo, foi aqui que desenvolvi meu<br />
potencial artístico.<br />
Como surgiu o seu amor pela literatura? Alguém te<br />
influenciou nesse gosto? (Dayner Allan e Jhennyfer<br />
Carolline)<br />
Pelo que eu lembro, desde criança sempre gostei de ler<br />
muito e estudar. Acho que foi aí que começou esse<br />
amor, essa prática de leitura. Eu me lembro de que na minha casa tinha uma estante, uma coleção de capa<br />
dura de Jorge Amado, os romances, eu era criança e peguei <strong>para</strong> ler. Tinha uns oito ou nove anos, não<br />
entendia muito bem. Os livros de Jorge Amado não eram <strong>para</strong> criança, mas eu gostava de ler assim mesmo.<br />
Na adolescência gostava de Machado de Assis, de ler e estudar. Mas, também, tinha a referência do meu<br />
pai que lia muito jornal.<br />
Em ser atriz, como isso apareceu <strong>para</strong> você? O convite de Margareth Maia nos anos 90 foi importante<br />
<strong>para</strong> seguir esse caminho ou você já planejava explorar esse campo? (Mayrianne)<br />
O caminho <strong>para</strong> atriz a princípio não foi planejado. Eu comecei a sentir o desejo de fazer teatro aqui no<br />
Espírito Santo. A primeira peça que eu fiz foi em 1987 no teatro amador. Eu falo 20 anos porque em 1996<br />
veio meu registro de atriz profissional. Assim, eu coloco que assumi ser atriz mesmo quando resolvi tirar<br />
meu registro profissional. A minha primeira peça foi em 1987 se chamava Gangue do Beijo, um texto de José<br />
Louzeiro. Fui dirigida por Armando Mecenas. Ali, eu trabalhei com vários atores que depois continuaram sua<br />
carreira no Espirito Santo, Dudu Guimarães, Tereza de Almeida, Verônica Gomes, entre outros. Era uma<br />
peça com muita gente, juvenil, se passava em uma escola e era bem divertido. Eu era muito tímida também,<br />
certa vez tive um ataque de timidez em que sumi do palco. Fiquei com medo de ir <strong>para</strong> frente do palco de<br />
novo. Fiquei trabalhando nos bastidores. Fiz contrarregragem, fiz sonoplastia e fiz operação de som. Eu<br />
gostava muito dessa parte técnica do teatro, coisa que gosto até hoje. Às vezes acontece de eu fazer o som<br />
de uma peça. Quando Margareth me chamou <strong>para</strong> voltar ao teatro, no nosso grupo Guardiões da Poesia, eu<br />
voltei à frente da cena de novo. Foi no início dos anos 1990, em 1991, por aí. Depois veio o convite do Teatro<br />
Experimental Capixaba <strong>para</strong> eu entrar no processo criativo da peça Fausto de Goethe. Um texto clássico do<br />
romantismo alemão, que nós adaptamos <strong>para</strong> realidade do Brasil do terceiro mundo, favela, mostrando a<br />
pobreza, a miséria. Foi ali com essa peça que me profissionalizei. Vocês podem encontrar na internet. Essa<br />
peça tinha uma linguagem múltipla de teatro, vídeo e dança. Nas redes sociais vocês podem encontrar<br />
vídeos, são imagens fortes, mesmo <strong>para</strong> os dias de hoje.<br />
ISABELLE SANTANA SE APRESENTA A VOCÊS COMO:<br />
Uma menina que, desde pequena questionava a Deus o porquê de ter a pele mais escura, o cabelo cheio e<br />
o nariz de batata em que, desde pequena aprendeu a se odiar, não por causa da sua família, mas pelas<br />
pessoas que tinha ao seu redor.<br />
Uma menina que, <strong>para</strong> tentar se sentir melhor e mais aceitável pela sociedade, alisava o cabelo <strong>para</strong><br />
abaixar o volume que tinha. Uma menina que nunca entendeu o porquê de sempre ser chamada de macaca<br />
com o intuito de ser ofendida. Uma menina que sempre questionava o porquê de não poder ser qualquer<br />
outro animal, mas sempre o macaco. Uma menina que chorava de soluçar, porque não se achava bonita e<br />
se sentia rejeita pela merda de padrão que a sociedade criou. Uma menina que não compreendia porque a<br />
lápis era chamado de “cor de pele” se não representava a pele dela. Uma menina que em todas as novelas<br />
que assistiu, a escrava sempre tinha que ser preta. Pois é, essa menininha inocente, que desde pequena<br />
aprendeu a se odiar era eu.<br />
Com o passar do tempo eu fui me aceitando e aceitando a historia dos meus antepassados, antepassados<br />
que lutaram muito <strong>para</strong> conquistar cada direito que tenho hoje. Passei não somente a me aceitar, como me<br />
orgulhar pela história da minha etnia e por fazer parte dela.<br />
Amadureci com o passar do tempo e com as pessoas que entraram em minha vida (vale ressaltar que uma<br />
dessas pessoas são os professores (as) desta escola e os meus colegas do 1 ano), que me fizeram crescer<br />
não somente intelectualmente, mas também culturalmente, formando essa garota cheia de amor próprio<br />
que sou hoje!<br />
Aprendi que, a única coisa que as pessoas têm igual, são as diferenças e que devemos respeitá-las e<br />
aceitá-las como são. Apesar de tudo que tenho visto, acredito na evolução das pessoas e quero deixar<br />
como refle, duas frases de Nelson Mandela ,uma pessoa que me representa muito:<br />
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar <strong>para</strong> mudar o mundo.”<br />
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para<br />
odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”<br />
Se você se sente como eu me sentia, vou falar uma frase que minha mãe costuma me dizer: “Você é muito<br />
linda garota!”.<br />
Sou Isabelle Santana!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!<br />
08 29