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Por uma consciência negra em novembro e nos demais meses!<br />
Experiência sociológica no <strong>FDR</strong><br />
Sara Alves da Costa¹<br />
No Brasil, o racismo está presente nas relações<br />
sociais desde o processo de colonização e perpassa<br />
em toda nossa história, invisibilizando identidades,<br />
causando exclusão socioeconômica e genocídio dos<br />
povos indígenas e negros. Infelizmente, apesar da<br />
abolição da escravatura, nunca houve superação<br />
efetiva da exclusão de negros(as) que foram relegados<br />
a uma sociedade discriminatória, sem que tivessem<br />
suporte <strong>para</strong> se estabelecerem (SILVA, 2007). Dessa<br />
forma, <strong>para</strong> se promover a equidade étnico-racial é<br />
necessário o combate do racismo em todos os espaços<br />
sociais, inclusive na escola.<br />
Foi com muita luta que os movimentos sociais<br />
negros conquistaram a Lei 10.639/2003, que determina<br />
a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afrobrasileira<br />
e africana em todas as disciplinas da<br />
Educação Básica. Essa lei tem como objetivo central a<br />
desconstrução da herança racista e a valorização das<br />
diferentes etnias que formaram a nação. Para tanto,<br />
Gomes (2005) destaca que é necessário rever os<br />
projetos políticos pedagógicos, os currículos escolares<br />
e as práticas de ensino, visando o empoderamento da identidade de estudantes negros(as) no espaço<br />
escolar, contrariando assim, o legado eurocêntrico ainda persistente na educação.<br />
Conforme Freire (1996), <strong>para</strong> se promover a igualdade, é preciso que as escolas tenham uma ação<br />
educativa que desfaça e refaça mentalidades. No que diz respeito à educação <strong>para</strong> as relações étnicoraciais<br />
e a equidade, as escolas precisam se comprometer não apenas no mês de novembro, mas em todo o<br />
ano letivo. Deste <strong>mod</strong>o, em 2015, desenvolvemos na EEEM Professor Fernando Duarte Rabelo o “Projeto<br />
Sankofa: desconstruindo o racismo e denegrindo a escola”.<br />
Promovemos esse projeto na disciplina de Sociologia, em<br />
conjunto com os estudantes do 3º ano do ensino médio , com<br />
a colaboração dos(as) universitários(as) bolsistas do<br />
PIBID/CSO.<br />
O título “Projeto Sankofa: desconstruindo o racismo e<br />
denegrindo a escola”, pode parecer, à primeira vista, um tanto<br />
<strong>para</strong>doxal. De fato, sua escolha se deu com o propósito de<br />
instigar a curiosidade e até mesmo o desconforto de quem o<br />
ouve e/ou ler. A aluna que o propôs deu a seguinte<br />
justificativa: “Sankofa é um símbolo de origem africana que<br />
mistura o presente e o passado, trazendo transformações. Já<br />
o slogan, usando o termo ressignificado “denegrir”, tem como<br />
objetivo a essencialidade de tornar negro o espaço escolar”.<br />
Tal justificativa nos sensibilizou, pois apresentava uma<br />
tentativa de suplantar o uso pejorativo da expressão denegrir<br />
e trazia consigo a demanda de enegrecer o espaço escolar<br />
historicamente embranquecido.<br />
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades pelo Instituto de Ensino do Espírito Santo, Bacharel e Licenciada em<br />
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atua como professora de Sociologia <strong>para</strong> o ensino médio e como supervisora do<br />
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - Pibid/Ciências Sociais/UFES.<br />
Cientistas negros que você deveria conhecer<br />
1. Milton Santos, geógrafo<br />
Milton Almeida dos Santos, mais conhecido como Milton Santos, foi um geógrafo<br />
brasileiro nascido em 3 de maio de 1926 em Brotas de Macaúbas, Bahia. Iniciou a<br />
faculdade de direito na Universidade Federal da Bahia aos 18 anos de idade. Milton<br />
sempre foi muito ativo na política. Após se formar em direito fez concurso <strong>para</strong><br />
professor catedrático no colégio municipal de ilhéus e em 1958 concluiu um<br />
doutorado em geografia na universidade de Strasbourg na França. Em 1963, o<br />
governador da Bahia o nomeou presidente da comissão de planejamento<br />
econômico.<br />
Enquanto exerceu o cargo tratou de temas de política econômica e planejamento<br />
regional, a partir de uma perspectiva cientifica. Em 1964 foi preso em decorrência<br />
do golpe militar. Após sair do Brasil foi <strong>para</strong> França aonde viveu até 1971. Recebeu o<br />
título de Doutor Honoris Causa na universidade Toulouse-Le-Mirail, o primeiro dos<br />
20 que recebeu ao longo da vida. Após deixar a França trabalhou em diversos<br />
países como Canadá, Estados Unidos e Venezuela. Enquanto vivia na Venezuela<br />
foi contratado pela Faculdade de Engenharia de Lima <strong>para</strong> elaborar um trabalho<br />
sobre pobreza urbana na América latina. Quando retornou ao Brasil em 1977 tinha<br />
um papel muito grande nas mudanças estruturais do ensino e pesquisa da<br />
geografia no Brasil. Em 1978 iniciou carreira na USP e posteriormente na UFRJ. Ao voltar <strong>para</strong> São Paulo tornou-se<br />
professor de geografia da USP. Milton foi o primeiro nativo de um pais de terceiro mundo a receber o prêmio Vatrin Lud.<br />
Escreveu diversos livros como ''O espaço dividido'' e ''A natureza do espaço'' Morreu em São Paulo no dia 24 de junho<br />
de 2001 aos 75 anos.<br />
Citação famosa: ''Existem apenas duas classes sociais, a dos que não comem e as do que não dormem com medo<br />
da revolução dos que não dormem''<br />
Grupo: Rafael Moraes, Amanda Tabosa, Thays Oliveira, Larissa Oliveira e Martha<br />
2. Sônia Guimarães, professora do ITA<br />
Sônia Guimarães é uma das poucas cientistas negras do Brasil. Quando criança,<br />
era a segunda melhor aluna da sala e adorava matemática. No primário, ficou entre<br />
as cinco melhores da classe. Estudava de tarde, mas quem se destacava tinha a<br />
chance de ir <strong>para</strong> a turma da manhã. Sonia não foi porque foi preterida pela filha de<br />
uma das funcionárias, que havia pleiteado a vaga. “Quem tiraram? A pretinha. Eu<br />
me senti depreciada por isso”, lembra ela. A hoje professora de Física no Instituto<br />
Tecnológico da Aeronáutica(ITA), uma das instituições de ensino mais<br />
conceituadas e concorridas do país, lembra que essa não foi a única passagem de<br />
racismo que a marcou em sua vida. Mas, apesar da torcida contra, conseguiu o<br />
primeiro título de doutorado em física concedido a uma mulher negra brasileira.<br />
Ela possui muitas graduações na área da ciencia, dente elas: Licenciatura Ciências<br />
- Duração Plena pela Universidade Federal de São Carlos (1979), mestrado em<br />
Física Aplicada pelo Instituto de Física e Química de São Carlos - Universidade de<br />
São Paulo (1983) e doutorado (PhD) em Materiais Eletrônicos - The University Of<br />
Manchester Institute Of Science And Technology (1989). Atualmente é professora<br />
adjunto do Instituto Tecnológico da Aeronáutica ITA e Gerente do Projeto de<br />
Sensores de Radiação Infravermelha - SINFRA, do Instituto Aeronáutica e Espaço - IAE, do Comando-Geral de<br />
Tecnologia Aeroespacial CTA. Tornou-se também voluntária ensinando inglês <strong>para</strong> que outros jovens negros realizem<br />
seus sonhos de uma formação no exterior.<br />
Frase: "Necessitamos de mais mulheres negras em posição de destaque acadêmico. Não adianta ser a única. Se<br />
formos muitas e em várias posições hierárquicas, isso vai melhorar"<br />
Grupo: Guilherme Thompson, Talita Loureiro, Leticia Medici, Carla Gonçalves, Maria Eduarda França<br />
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