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Semente-crioula-cuidar-multiplicar-e-partilhar

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CAPÍTULO 1<br />

CAPÍTULO 1<br />

A <strong>Semente</strong> Crioula:<br />

porta de entrada<br />

para a agroecologia<br />

Graças a Deus a agroecologia já está se espalhando bastante aqui<br />

na nossa região. Antes era uma venenarada de matar por aqui. Teve<br />

muito caso de agricultor que foi intoxicado, teve gente que até morreu.<br />

E o outro problema, terrível, é o endividamento. Tem muito por aí: o<br />

agricultor acha que vai ganhar mais dinheiro seguindo o pacotão da<br />

agricultura convencional, daí pega crédito, compra semente melhorada,<br />

adubo, veneno, maquinário e tudo mais. Até colhe uma produção<br />

boa. Mas na conta final, não tira quase nada ou fica até devendo. Pior<br />

ainda quando é contrato com empresa, que dura vários anos. É o caso<br />

do fumo. Muitas vezes a família toda fica trabalhando quase de graça,<br />

só para conseguir cumprir o contrato. E o pior é que agora já estão chegando<br />

por aí essas sementes transgênicas. É tudo de ruim: mais veneno,<br />

mais contaminação, mais dependência e endividamento... as empresas<br />

vendem a ilusão de que essas sementes novas vão resolver todos os problemas<br />

da agricultura, mas é justamente o contrário!<br />

Meu pai foi um dos primeiros a começar a falar de agroecologia por<br />

aqui. O mais bonito dessa idéia é que ela junta a proteção da natureza,<br />

a saúde de quem planta, a saúde de quem come, e ainda possibilita a<br />

autonomia do agricultor. Quer coisa melhor do que não depender dos<br />

bancos e das grandes empresas? Ter um sítio diversificado e produzir<br />

quase tudo o que consome? Produzir suas próprias sementes?!<br />

E o que a experiência foi mostrando é que ter semente própria e de<br />

qualidade é o primeiro passo para a produção agroecológica.<br />

Imagine uma semente de empresa. Primeiro, a gente tem que lembrar<br />

que fizeram nela o tal do melhoramento genético pela lógica das<br />

empresas. Essas sementes foram feitas para dar boa resposta à aplicação<br />

de adubos químicos e venenos. Depois, elas próprias foram produzidas<br />

com adubos e venenos, ou seja, já chegam contaminadas. E pra piorar<br />

tudo, elas são caras de doer! Tem semente de milho que custa mais de<br />

R$ 300,00 o saco, e ainda por cima é um saco meio vazio, com sementes<br />

contadinhas...<br />

As sementes <strong>crioula</strong>s são o contrário de tudo isso.<br />

Elas sempre estiveram com os agricultores. Sendo<br />

cultivadas e selecionadas ano após ano por nossas<br />

famílias, elas atendem às nossas necessidades e estão<br />

adaptadas às condições da nossa região e aos nossos<br />

sistemas de produção. E tudo isso sem precisar dos<br />

venenos e nem dos adubos químicos.<br />

Além disso, as sementes <strong>crioula</strong>s não são todas iguaizinhas como as<br />

sementes das empresas. Numa mesma variedade <strong>crioula</strong>, tem uma grande<br />

variação entre as sementes, e é isso o que dá mais resistência às<br />

pragas e doenças. Veja o tempo, por exemplo, que está cada vez mais<br />

incerto: tem hora que faz verão no inverno, vem geada na primavera,<br />

frio de puxar as blusas já perto do verão... E as secas então! A semente<br />

<strong>crioula</strong> é que nem a gente: ano a ano ela aprende a viver no lugar!<br />

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CAPÍTULO 1

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