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31-3-2016<br />

SEMANA 3<br />

CRÓNICA<br />

INTERNACIONAL<br />

• Ângelo Alves<br />

Os «clientes»<br />

No dia 22 de Março Bruxelas foi alvo de ataques terroristas<br />

reivindicados pelo «Estado Islâmico» (ou ISIS, ou<br />

ISIL ou DAESH) em que morreram 35 pessoas e mais de<br />

300 ficaram feridas. No dia 25, a cidade iraquiana de Alexandria<br />

foi vítima de um outro ataque terrorista reivindicado<br />

igualmente pelo «ISIS» em que morreram 32 pessoas e<br />

80 foram feridas. No dia 27 em Lahore, no Paquistão, um<br />

ataque reivindicado pelo autodenominado «Jamaat ul Ahrar»<br />

(uma cisão dos talibã) matou 72 pessoas e feriu 359.<br />

Poderíamos continuar com dezenas<br />

Não há<br />

hipocrisia<br />

que apague<br />

a evidência<br />

de outros relatos de ataques terroristas<br />

ou de conflitos militares que só no<br />

ano de 2014 vitimaram directamente<br />

cerca de 200 000 seres humanos.<br />

Conflitos alimentados pelos complexos<br />

industriais militares das grandes potências<br />

imperialistas, num negócio de<br />

biliões, dominado pela NATO, em que seis dos seus membros<br />

(EUA, França, Alemanha, Itália, Espanha, Dinamarca)<br />

são responsáveis por 56% do total de «exportações» de<br />

armas em todo o mundo (com os EUA à cabeça com 33%)( 1 ),<br />

tendo como seus principais «clientes» países como a Turquia,<br />

Israel, o Egipto, Marrocos, a Jordânia, os Emirados Árabes<br />

Unidos, o Qatar e… a Arábia Saudita, o segundo maior importador<br />

de armamento do Mundo, apenas suplantado pela<br />

Índia.<br />

Olhando para esta lista de «clientes» da NATO faz-se luz<br />

sobre uma afirmação de sempre do PCP: é preciso combater<br />

o terrorismo nas suas causas, e uma das causas é a política<br />

do militarismo e da guerra, da ingerência, da agressão<br />

a estados soberanos e de terrorismo de Estado. Do mesmo<br />

modo que os taliban e a própria Al-Qaeda foram criados, financiados,<br />

«educados» e treinados pela CIA para combater<br />

o «inimigo soviético» e controlar o Afeganistão, também o «moderno»<br />

terrorismo «islâmico» é um resultado da acção das<br />

potências imperialistas mundiais que visam redividir o Médio<br />

Oriente mantendo a sua supremacia económica e militar<br />

na região ou dos seus «clientes» regionais. Numa recente<br />

entrevista a um diário português o presidente do Instituto Islâmico<br />

Britânico afirmava que «o ISIS não apareceu do nada,<br />

sempre existiu, o ISIS é a Arábia Saudita»( 2 ). Tem razão,<br />

quer abordemos a afirmação do ponto de vista ideológico (o<br />

Wahhabismo e o Salafismo são a base ideológica comum do<br />

regime ditatorial saudita, do ISIS e da Al Qaeda) quer do<br />

ponto de vista do papel da Arábia Saudita, e seus aliados<br />

no «Conselho de Cooperação do Golfo», na estratégia imperialista<br />

de redivisão sectária e confessional na região, e em<br />

particular na Síria.<br />

Estão já hoje abundantemente documentadas as ligações<br />

dos principais «clientes» da NATO no Médio Oriente aos grupos<br />

de mercenários e criminosos que actuam na Síria. O fortalecimento<br />

do «ISIS» resulta da criação do «Exército Sírio<br />

Livre» que nas suas fileiras integra ou integrou organizações<br />

terroristas como a «Frente Al-Nusra» e o «ISIS» e cujos «combatentes»<br />

foram treinados em campos de treino na Turquia.<br />

«Exército» de «libertadores» que teve como um dos seus principais<br />

«dirigentes» Ibrahim al-Badri, o actualmente conhecido<br />

«califa» Abu Bakr al-Bagdadi, o «chefe» do «Estado Islâmico»<br />

no Iraque e Síria, com conhecidas ligações ao senador<br />

norte-americano John Mc-Cain.<br />

Não há hipocrisia que apague a evidência: o terrorismo que<br />

assola o continente europeu nasceu do caos criado pelas<br />

sucessivas intervenções imperialistas no Médio Oriente,<br />

na Ásia Central e em África. Nasceu da guerra que desde a<br />

primeira invasão do Iraque no século passado foi feita a todos<br />

os estados da região do Médio Oriente que cometerem<br />

esse terrível crime de não se vergar à dominação imperialista.<br />

O terrorismo que vimos em Bruxelas alimenta-se ideologicamente<br />

do ódio emanado das teorias do «choque de civilizações»<br />

e também do racismo e xenofobia presentes nas políticas<br />

europeias ditas de migrações. Mas não só. As armas,<br />

os veículos, os enormes «custos operacionais» de organizações<br />

terroristas como estas não caem do céu. E o rasto do dinheiro<br />

leva-nos, mais uma vez, à NATO e aos seus «clientes».<br />

( 1 ) Trends in international arms transfers, 2015 - Stockholm International<br />

Peace Research Institute<br />

( 2 ) https://www.publico.pt/mundo/noticia/o-estado-islamico-sempre-existiue-a-arabia-saudita-1716649?page=-1<br />

EDITORIAL<br />

DINAMIZAR<br />

A LUTA<br />

Esta semana e como era expectável pela sua<br />

conformidade constitucional foi promulgado<br />

pelo Presidente da República o Orçamento<br />

do Estado para o presente ano. Com a sua promulgação<br />

concluiu-se um processo em que PSD/CDS<br />

e a União Europeia tudo fizeram para inviabilizar<br />

qualquer inversão de rumo na sua política de exploração<br />

e empobrecimento e no qual o PCP com<br />

a sua iniciativa e proposta deu um contributo decisivo<br />

para responder a problemas urgentes dos trabalhadores<br />

e do povo português.<br />

O Presidente da República convocou para a próxima<br />

semana a sua primeira reunião do Conselho<br />

de Estado não deixando de causar estranheza o convite<br />

que dirigiu aos presidentes do Banco Central Europeu<br />

e do Banco de Portugal para nela participarem.<br />

Foi ontem apresentado pelo Governo na Assembleia<br />

da República o Plano Nacional de Reformas<br />

com debate público até final de Abril. Trata-<br />

-se de um programa que, tal como o previsto Progra -<br />

ma de Estabilidade, resulta das imposições da União<br />

Europeia, a elaborar no âmbito do chamado Semestre<br />

Europeu e no quadro do qual se visa assegurar a interferência<br />

e ingerência na definição das políticas macroeconómicas<br />

nacionais. Imposições que são, em<br />

grande medida, a causa dos graves problemas que<br />

o País enfrenta.<br />

Sem prejuízo da sua participação no debate, o<br />

PCP sublinha desde já, como frisou o camarada Jerónimo<br />

de Sousa ontem na AR, que o que se impõe<br />

definir e assegurar antes de mais são as condições<br />

para o desenvolvimento soberano do País, afirmando<br />

uma política liberta de imposições externas, que recupere<br />

os instrumentos de controlo público de sectores<br />

essenciais à promoção do desenvolvimento nacional<br />

e capaz de pôr Portugal a produzir a ritmos<br />

de crescimento que não podem ser os da última década<br />

e meia. Uma política que dê resposta à continua<br />

transferência de milhares de milhões de euros<br />

anuais em juros da dívida pública, libertando mais<br />

meios dirigidos ao investimento produtivo e ao desenvolvimento<br />

social.<br />

No plano internacional, à medida que se aprofunda<br />

a crise estrutural do capitalismo a situação vai-<br />

-se tornando mais complexa e perigosa. Os atentados<br />

terroristas em Bruxelas com as movimentações da<br />

extrema direita fascista e xenófoba que lhes surgem<br />

associadas e as medidas securitárias em preparação;<br />

as movimentações golpistas no Brasil ainda de desfecho<br />

imprevisível; as manobras de deses tabilização<br />

e ingerência em Angola são alguns dos exemplos mais<br />

actuais desta crise que suscita novas preocupações<br />

e impõe a necessidade de dinamização da luta dos<br />

trabalhadores e dos povos em defesa da paz, da liberdade,<br />

da soberania e independência nacionais,<br />

da justiça e do progresso social.<br />

Depois de amanhã comemora-se o 40.º aniversário<br />

da aprovação e promulgação da Constituição<br />

da República Portuguesa. O PCP leva a efeito<br />

ao longo do ano um vasto conjunto de iniciativas<br />

com o objectivo central de valorizar a Constituição<br />

de Abril e os conteúdos progressistas que mantém,<br />

“Em defesa da Constituição<br />

e dos valores de Abril<br />

”<br />

alertar para as ameaças e atentados constantes de<br />

que são alvo as conquistas e os direitos que nela permanecem<br />

inscritos, e ainda denunciar os perigos para<br />

o regime democrático de projectos tendentes para<br />

a sua revisão.<br />

Depois de amanhã, dia 2, realizar-se-á, pelas 15<br />

horas no Fórum Lisboa a sessão político-cultural comemorativa<br />

com a participação do Secretário-geral<br />

do PCP.<br />

A Constituição, como refere o camarada Jerónimo<br />

de Sousa em entrevista publicada nesta edição<br />

do Avante!, «apesar de ter sido empobrecida e<br />

enfraquecida por sucessivas revisões e de muitas das<br />

suas normas não terem sido efectivadas, é uma Constituição<br />

que continua do lado dos trabalhadores, do<br />

povo e da democracia, que comporta e projecta muitos<br />

dos valores de Abril».<br />

Aacção do PCP prossegue a vários níveis e diferentes<br />

dimensões: com a realização de centenas<br />

de assembleias, plenários e reuniões já a decorrer<br />

nesta primeira fase preparatória do seu XX<br />

Congresso, com as iniciativas de aniversário e a campanha<br />

nacional de fundos a quatro semanas do seu<br />

termo a exigir um acrescido esforço de alargamento<br />

de contactos. Avança também a preparação da<br />

Festa do Avante!, a venda da EP e a campanha de<br />

divulgação do Avante!.<br />

Sublinha-se de novo a importância política da iniciativa<br />

do PCP sobre o controlo público da Banca<br />

realizada na semana passada com cerca de 200 participantes.<br />

Anteontem decorreu o Encontro de Reformados<br />

em Almada com a participação do Secretário-geral<br />

do Partido e uma grande participação<br />

e intervenção de reformados.<br />

No dia 5 de Abril, será a vez da iniciativa em<br />

torno da renegociação da dívida e, logo a seguir, sobre<br />

as questões do euro.<br />

Na Assembleia da República destaca-se o debate<br />

no passado dia 23 sobre as questões da precarieda<br />

de, com o PCP a questionar o Governo sobre a<br />

necessidade de medidas políticas de combate a este<br />

autêntico flagelo social e sobre o qual apresentou um<br />

conjunto de iniciativas legislativas.<br />

Desenvolve-se também a luta de massas.<br />

O PCP recebeu uma delegação da CGTP-IN<br />

que apresentou as conclusões do seu XIII Congresso,<br />

com as reflexões e as grandes linhas de intervenção<br />

sindical para os próximos anos.<br />

Hoje tem lugar a manifestação da juventude em<br />

Lisboa e, em Braga, produtores de leite manifestar-<br />

-se-ão junto à Agro.<br />

Desenvolvem-se lutas em diversas empresas e<br />

das populações em torno das acessibilidades.<br />

Avança também por todo o País a preparação<br />

das comemorações do 25 de Abril e do 1.º de Maio.<br />

Apesar dos avanços conseguidos na actual fase<br />

da situação política, a defesa da Constituição<br />

e dos valores de Abril está claramente associada à<br />

exigência do PCP da concretização de uma política<br />

patriótica e de esquerda pela qual nos continuaremos<br />

a bater.


4 SEMANA<br />

3 1 -3 -2 01 6<br />

O<br />

terrorismo<br />

ACTUAL<br />

«Tantas histórias. Quantas perguntas»<br />

• Manuel Rodrigues<br />

é uma velha arma<br />

das classes dominantes. Sob as<br />

formas mais diversas, foi usado para<br />

«justificar» guerras, invasões, ocupações,<br />

colonizações, operações de<br />

saque e os processos mais bárbaros<br />

de centralização e concentração da<br />

riqueza nas mãos dos monopólios.<br />

Foi um fenómeno desta natureza que<br />

levou o PCP a definir o fascismo em<br />

Portugal como «ditadura terrorista<br />

dos monopólios (associados ao imperialismo)<br />

e dos latifundiários». Assume<br />

as facetas mais diversas conforme<br />

os tempos, circunstâncias e lugares<br />

para ocultar a sua real natureza<br />

e objectivos. Manifesta-se também<br />

nas violentas explosões que provocam<br />

destruição, caos, sofrimento e<br />

morte. Ceifa vidas às dezenas, centenas<br />

ou milhares, das formas mais<br />

impiedosas e cruéis, incluindo nas<br />

guerras que promove. Não selecciona<br />

idade, género, credo. O seu fim<br />

Apoucos dias de se assinalar o<br />

quadragésimo aniversário da<br />

aprovação da Constituição da República<br />

Portuguesa na Assembleia Constituinte<br />

e da sua promulgação, de seguida,<br />

pelo Presidente da República,<br />

General Costa Gomes, muito ouviremos<br />

falar desse documento fundamental,<br />

garante de direitos do povo<br />

português, o mais avançado de quantos<br />

há na Europa, e que por isso foi<br />

atacada, mutilada e merece,<br />

ainda hoje, a atenção e<br />

o ódio dos que querem<br />

parar a roda da história.<br />

Marcelo Rebelo de<br />

Sousa, que continua a<br />

preencher tempo de antena<br />

nas televisões, rádios e<br />

até nas revistas cor-de-rosa,<br />

procurando agradar a<br />

gregos e troianos, não<br />

apenas porque goste de<br />

é fomentar o medo que sirva de terreno<br />

fértil ao irracional germinar de<br />

atitudes de desistência e afastamento<br />

da política e de aceitação acrítica<br />

e passiva da ordem estabelecida tornada<br />

mais agressiva com a liquidação<br />

das liberdades e garantias individuais<br />

e colectivas. Em nome duma<br />

suposta «segurança», que afinal<br />

mais não é do que uma ordem<br />

antidemocrática, repressiva e<br />

xenófoba.<br />

Face da mesma moeda são<br />

as manifestações de força da extrema<br />

direita, dos grupos nazis, neonazis,<br />

fascistas e protofascistas (que as<br />

classes e os poderes dominantes<br />

apoiam de forma mais encoberta ou<br />

aberta conforme as suas necessidades<br />

e conveniências no momento).<br />

Criado o «clima político» propício,<br />

seguem-se geralmente as invasões e<br />

ocupações; as violações à soberania<br />

e independência nacionais; as pressões<br />

e ingerências nos assuntos internos<br />

e a desestabilização política<br />

dos estados.<br />

Não foi isto que vimos na actuação<br />

da rede terrorista-bombista em Portugal<br />

contra a nossa Revolução de<br />

Abril e para tentar impedir a consagração<br />

das suas conquistas na nossa<br />

Constituição?<br />

Não será isto que estamos<br />

a ver nas medidas securitárias<br />

na França e na Bélgica?<br />

Não será isto que «justifica»<br />

o tratamento cruel e desumano dado<br />

aos refugiados pela UE e pela NA-<br />

TO? Não foi isto que já vimos no<br />

bombardeamento da Jugoslávia, na<br />

invasão do Afeganistão e do Iraque,<br />

na agressão à Líbia, nos avanços do<br />

fascismo na Ucrânia, na ocupação<br />

da Palestina por Israel, nos ataques<br />

à Síria?<br />

Lembrando Brecht, «tantas histórias,<br />

quantas perguntas».<br />

Para que serve uma privatização<br />

• Margarida Botelho<br />

A Constituição<br />

AAmarsul é uma empresa criada em 1997, com capitais<br />

exclusivamente públicos, com 51 por cento<br />

do Estado português, através da EGF, e 49 por cento<br />

dos nove municípios da Península de Setúbal, para a valorização<br />

e tratamento de resíduos sólidos urbanos.<br />

Em Julho do ano passado, o governo PSD-CDS vendeu<br />

a EGF a um grupo privado onde pontuam<br />

as empresas Mota-Engil e SUMA, entre outras.<br />

Além da privatização, prolongou o prazo de exploração<br />

da empresa até 2034.<br />

Os novos donos da Amarsul impuseram desde<br />

a primeira hora um modelo de gestão que<br />

piora o serviço e dificulta a relação com os municípios,<br />

que são simultaneamente accionistas<br />

com praticamente metade da empresa e os únicos clientes.<br />

Ontem, dia 30, realizou-se a Assembleia-geral de accionistas.<br />

À hora do fecho da edição do Avante! não se<br />

sabe ainda como decorreu. Mas o que se sabe é suficiente:<br />

no relatório e contas de 2015 da empresa, a Mota-Engil<br />

levou a proposta de repartir os lucros da empresa,<br />

qualquer coisa à volta de seis milhões de euros.<br />

Lucros para os quais praticamente não contribuiu, porque<br />

geriu a empresa menos de metade do ano, lucros<br />

ganhos à custa dos trabalhadores e das populações.<br />

Lucros que ao longo dos 17 anos de vida da Amarsul<br />

foram sempre reinvestidos na empresa: ou contribuindo<br />

para não aumentar as tarifas pagas pelos municípios e<br />

utentes, ou investidos em melhorias de serviços, instalações,<br />

equipamentos e segurança dos trabalhadores.<br />

Os municípios da Península de Setúbal recusam<br />

essa redistribuição de lucros. Defendem<br />

que, à semelhança dos anos anteriores, sejam<br />

usados para melhorar o serviço e impedir o<br />

crescimento da tarifa. Dizem os novos donos da<br />

Amarsul que a lei impede que os lucros sejam<br />

usados para esse fim. Uma lei à sua medida, feita pelo<br />

governo que diligentemente os serviu.<br />

No fundo, aqui está um belo exemplo da diferença<br />

entre a gestão pública e a gestão privada. De um lado,<br />

a «gestão» de um gigante económico, que quer lucro e<br />

depressa. Do outro, o interesse público, defendido por<br />

municípios comprometidos com os trabalhadores e as<br />

populações. A luta contra a privatização da EGF continua!<br />

• João Frazão<br />

ver os os seus índices de popularidade<br />

em alta, mas antes porque sabe<br />

que isso pode tornar a sua voz inquestionável<br />

para as amplas massas populares,<br />

também se pronunciou sobre<br />

esse acontecimento maior da democracia<br />

portuguesa.<br />

No passado domingo, num texto publicado<br />

no DN, Marcelo tece considerações<br />

sobre a Constituição da República<br />

Portuguesa que não podem deixar<br />

de causar estranheza,<br />

designadamente as referências<br />

de que «a vida de um<br />

Estado não se esgota na sua<br />

Constituição, nem deve mitificar<br />

uma obra que como<br />

qualquer outra realização<br />

humana, é imperfeita», ou<br />

a saudação aos que ele apelida<br />

de «reconstituintes», ou<br />

seja os que nestes 40 anos<br />

tudo fizeram para a descaracterizar.<br />

Estranheza porque o que deve ser<br />

salientado é que a vida de um Estado<br />

e a acção dos seus agentes encontra<br />

os seus limites e deve ser orientada<br />

por essa mesma Constituição, a lei<br />

das leis que, não sendo intocável, deve<br />

ser defendida por todos e, em primeiro<br />

lugar pelo primeiro magistrado<br />

na nação.<br />

Declarações estranhas também porque<br />

escritas pouco mais de 15 dias<br />

depois de ter jurado defender, cumprir<br />

e fazer cumprir a Constituição.<br />

Marcelo pode achar que a CRP é mais<br />

ou menos perfeita, mas a ele, enquanto<br />

Presidente da República, que até<br />

jurou a sua tomada de posse sobre a<br />

versão original, aprovada em 1976,<br />

cumpre, não enaltecer aqueles que a<br />

amputaram nas sucessivas revisões,<br />

ou abrir portas a novos recortes, mas<br />

honrar aquele juramento!<br />

FRASES<br />

“<br />

[Passos Coelho] é o líder ideal agora,<br />

daqui por um ano não sei.<br />

”(Morais Sarmento,<br />

Antena 1, 24.3.16)<br />

“<br />

Com enorme dificuldade poderá ser<br />

candidato a primeiro-ministro daqui a três<br />

anos.<br />

”<br />

(Idem, ibidem)<br />

“[Assunção] Cristas é uma espécie de<br />

tranquilizante entre duas lideranças políticas:<br />

Portas e Nuno Melo. Nuno Melo é um<br />

líder claro, Cristas é uma coisa simpática,<br />

in between.<br />

”<br />

(Idem, Ibidem)<br />

“<br />

A liderança do dr. Ricardo Salgado vai<br />

dar-nos em Portugal uma situação parecida<br />

com o caso 'Lava-Jato' no Brasil. Depois<br />

irão ver quem foram os responsáveis,<br />

se eu, o BdP ou o ex-primeiro-ministro.<br />

(José Maria Ricciardi, ”<br />

Expresso, 25.3.16)<br />

“<br />

A 'Lava-Jato' é necessária, importante<br />

e não deve ser paralisada em hipótese nenhuma,<br />

doa a quem doer.<br />

” (Frei Beto,<br />

Público, 26.3.16)<br />

“<br />

Mas não concordo com os métodos autoritários<br />

do juiz Sérgio Moro. Ele trata<br />

suspeitos como criminosos, adora ser mediático<br />

e age como se fosse a encarnação<br />

da Justiça brasileira.<br />

”<br />

“<br />

(Idem, ibidem)<br />

Portugal perdeu em quatro anos 1100<br />

professores no Ensino Superior, que se reformaram<br />

ou emigrara.<br />

” (Manuel Heitor,<br />

Expresso, 25.3.16)<br />

“<br />

Bancos têm dinheiro a custo zero do<br />

BCE mas travam empréstimos às empresas.<br />

”<br />

(Título do Diário de Notícias,<br />

27.3.16)<br />

“<br />

Insto o Governo e a administração pública<br />

a serem muito rigorosos na execução<br />

do Orçamento (...) é esse rigor que pode<br />

fazer face a uma evolução económica menos<br />

positiva.<br />

” (Marcelo Rebelo de Sousa,<br />

TSF, 28.3.16)<br />

“<br />

O Presidente demarcou-se em demasia<br />

do PSD, o que pode dificultar a sua relação<br />

com a oposição, que vai estar crispada,<br />

ou os seus apelos aos consensos.<br />

(Cristina Azevedo, ”<br />

RTP2, 28.3.16)<br />

“[Cavaco Silva] foi uma pessoa de enorme<br />

importância para o PSD e faz todo o<br />

sentido homenageá-lo no congresso.<br />

(Joaquim Ferreira do Amaral, ”<br />

Diário de Notícias, 29.3.16)


31-3-2016<br />

EM FOCO 7<br />

vozes se levantam contra. Mas como é<br />

que se pode estar contra isso e<br />

simultaneamente estar de acordo com o<br />

avanço da União Bancária que<br />

precisamente prevê essa deslocalização<br />

e centralização? Do nosso ponto de<br />

vista esta contradição é insanável. O<br />

que serve o interesse nacional é o<br />

controlo público da banca. A política<br />

patriótica e de esquerda que propomos,<br />

com os eixos centrais nela definidos,<br />

demonstra que há outro rumo possível.<br />

É fácil? É simples? Claro que não. Mas<br />

partindo da necessidade há que afirmar<br />

a possibilidade de uma política<br />

alternativa com a ruptura com essas<br />

opções e políticas dominantes.<br />

Em Dezembro, há Congresso do Partido<br />

A participação dos militantes<br />

é «uma das nossas maiores<br />

riquezas»<br />

O PCP realiza este ano o seu XX<br />

Congresso. Como vês a sua<br />

preparação? Achas que nesta nova<br />

situação política, que como tens<br />

afirmado é de grande exigência, o<br />

Congresso poderá ser de alguma<br />

forma secundarizado?<br />

No Comité Central consideramos que<br />

não podemos fechar para Congresso,<br />

mas que também não o podemos<br />

secundarizar. Acreditamos que o<br />

colectivo partidário, as organizações e<br />

militantes do Partido vão demonstrar<br />

que a preparação do Congresso se faz<br />

profundamente associada à acção e à<br />

luta quotidianas.<br />

Se estamos a discutir e a tomar<br />

medidas para o reforço do Partido nas<br />

empresas e locais de trabalho, essa<br />

discussão é inseparável do projecto de<br />

Teses-Resolução Política que temos que<br />

construir nas diversas fases que<br />

decidimos. Se estamos a discutir o final<br />

da campanha nacional de fundos<br />

estaremos a discutir, em termos<br />

congressuais, a questão dos fundos do<br />

Partido. Se olharmos e reflectirmos<br />

sobre o mundo em que vivemos,<br />

discutimos a situação internacional, a<br />

correlação de forças, os perigos e<br />

potencialidades que dela decorrem e a<br />

contribuição que daremos, no<br />

Congresso, como Partido patriótico e<br />

internacionalista. O mesmo se pode<br />

dizer em relação à situação nacional e à<br />

intensificação e desenvolvimento da<br />

luta de massas e ao trabalho político<br />

unitário do Partido.<br />

Mas a actividade do Partido é,<br />

neste momento, particularmente<br />

intensa...<br />

Sim, temos neste momento em curso<br />

iniciativas muito diversas, como a<br />

campanha contra a precariedade e a<br />

acção de contacto com reformados e<br />

pensionistas. Mas não temos que<br />

discutir isto do ponto de vista das teses<br />

congressuais, onde cada um pode dar<br />

uma contribuição para que o Partido<br />

encontre o caminho mais certo, mais<br />

seguro e mais sólido para continuar a<br />

afirmar a sua perspectiva de que é<br />

possível uma vida melhor?<br />

Que importância atribuis à<br />

participação dos militantes e<br />

organizações do Partido na<br />

preparação e construção do<br />

Congresso?<br />

Creio que esta é uma questão decisiva.<br />

Há que fazer um esforço para ir o mais<br />

longe possível no envolvimento dos<br />

militantes e organizações. A nossa<br />

participação, o nosso contributo, pode<br />

muitas vezes não ser um tratado<br />

teórico, mas uma das maiores riquezas<br />

do nosso colectivo é precisamente a de<br />

poder contar com a opinião dos<br />

militantes, por mais singela que seja.<br />

O Comité Central não decidiu<br />

documentos acabados, como acontece<br />

noutros partidos, em que o chefe, ou<br />

candidato a chefe, leva uma moção que<br />

o militante assina de cruz, sem<br />

discussão da essência, da substância.<br />

Esta diferença demonstra na prática a<br />

«profunda democracia interna» de que<br />

tantas vezes falamos e que também se<br />

vai verificar no Congresso, com a<br />

participação do nosso colectivo<br />

partidário em torno desta ideia: «como<br />

é que melhor podemos servir o nosso<br />

Partido?»<br />

De que modo poderá o Congresso<br />

articular-se com as muitas e<br />

exigentes medidas de reforço do<br />

Partido já em curso e potenciar esse<br />

mesmo reforço?<br />

Apesar de muitas vezes não parecer, a<br />

organização do Partido e o seu reforço<br />

continuam a ser a pedra angular quer do<br />

nosso projecto e da sua viabilização<br />

como do fortalecimento da nossa acção,<br />

intervenção e luta. A organização e o seu<br />

reforço não é «mais uma tarefa», é uma<br />

questão fundamental com um sentido<br />

dialéctico: mais organização, melhor<br />

intervenção/ mais intervenção, melhor<br />

organização. A concretização da<br />

campanha de reforço do Partido será<br />

parte integrante das conclusões do<br />

Congresso.<br />

Há hoje quem considere que a<br />

organização «não está a dar» e que são<br />

precisas «novas fórmulas», mas o que a<br />

realidade demonstra é precisamente a<br />

importância decisiva da organização do<br />

Partido.<br />

Nas tuas intervenções costumas<br />

sublinhar a existência de um<br />

Projecto de emancipação e libertação<br />

Estamos a dois dias das comemorações do<br />

40.º aniversário da aprovação e promulgação<br />

da Constituição da República Portuguesa de<br />

1976. Faz sentido continuar a defender esta<br />

Constituição?<br />

Faz todo o sentido. Apesar de ela ter sido<br />

empobrecida e enfraquecida por sucessivas revisões<br />

e de muitas das suas normas não serem efectivadas,<br />

é uma Constituição que continua do lado dos<br />

trabalhadores, do povo e da democracia, que<br />

comporta muitos dos valores de Abril. Basta reparar<br />

no ódio que sectores da direita política e económica<br />

continuam a ter em relação à Constituição,<br />

procurando sempre uma oportunidade de a rever<br />

para a mutilar...<br />

Essa expressão, «valores de Abril», que passou a constar no próprio título<br />

do Programa do Partido na sequência das alterações aprovadas no XIX<br />

Congresso, que conteúdo tem?<br />

Os valores de Abril expressam Revolução e conquistas, direitos que ela consagrou,<br />

tal como a soberania e a independência nacionais. Quando um jovem luta pela<br />

escola pública, contra as propinas, está a lutar pelos valores de Abril. Quando<br />

trabalhadores exigem trabalho com direitos estão a defender os valores de Abril.<br />

Quando as populações defendem o seu direito à saúde, à educação e à protecção<br />

social na doença, na infância, na velhice e no desemprego, o acesso à Justiça e o<br />

efectivo direito à criação e fruição cultural estão, na realidade, a afirmar os valores<br />

de Abril. Mesmo que não lhes chamem assim... A expressão tem este carácter<br />

intrínseco, resultante da Revolução de Abril.<br />

Outra expressão constante no Programa do Partido é a «Democracia<br />

Avançada», assumida como etapa da luta pelo socialismo e pelo<br />

comunismo. Que democracia é esta?<br />

Nós consideramos que essa é uma etapa do processo de emancipação e de<br />

libertação dos trabalhadores e dos povos que tem, nos seus conteúdos<br />

programáticos, respostas mais avançadas do que a própria Constituição da<br />

República. É uma democracia política, económica, social e cultural (a que se junta<br />

a vertente da soberania e da independência nacionais), que rompe com a política<br />

de direita e as imposições do capital monopolista. Responde a muitas das grandes<br />

questões e objectivos por que lutamos numa sociedade socialista.<br />

Mas esta etapa não define ficar-se por aí. Não perdemos uma perspectiva de<br />

horizonte mais largo, a construção do socialismo e do comunismo, num processo de<br />

transformação que resultará da luta do nosso Partido mas fundamentalmente da<br />

luta do nosso povo.<br />

Tens referido, nomeadamente em iniciativas de comemoração do 95.º<br />

aniversário do Partido, que o ideal e o projecto comunistas continuam<br />

actuais. Como se pode materializar em Portugal e no mundo de hoje, a<br />

viverem uma crise tão profunda, esse projecto e esse ideal?<br />

O nosso ideal e nosso projecto comportam esse sonho milenar do ser humano de se<br />

libertar da exploração de um homem por outro homem, um sonho que não morre<br />

nem acaba. Mesmo numa correlação de forças tão desfavorável aos trabalhadores e<br />

aos povos, quando resistir é já vencer e com a inquietação que nos percorre tendo<br />

em conta a situação que hoje existe à escala planetária, temos aquela confiança que<br />

nos vem da convicção de quem acredita no ser humano e no seu anseio de<br />

liberdade e emancipação. E depois, estaremos de acordo que, apesar de tudo, «o<br />

mundo move-se».<br />

Este Partido, que fez agora 95 anos, conheceu as situações mais dramáticas ao<br />

longo do seu percurso, foi capaz de seguir em frente e quer ir mais além. Sem este<br />

Partido, com a sua identidade, a sua ideologia, a sua natureza, o seu projecto e o<br />

seu ideal, estaríamos hoje confrontados com ainda mais retrocessos. Os<br />

trabalhadores e povo português precisam deste Partido. 95 anos é um tempo curto<br />

na vida de um povo, mas foi um tempo suficiente na vida de um Partido para<br />

mostrar a validade e actualidade do seu projecto e do seu ideal.<br />

ambiente de unidade, coesão e<br />

confiança no Partido. As<br />

contradições de um processo tão<br />

acidentado como este, que o PCP,<br />

com a sua intervenção<br />

determinante, contribuiu para criar,<br />

não poderão perturbar esse clima,<br />

com reflexos negativos na<br />

preparação do próprio Congresso?<br />

É verdade que a solução política<br />

encontrada comporta complexidades,<br />

mas aquilo que sentimos nas grandes<br />

iniciativas de comemoração do 95.º<br />

aniversário do Partido foi precisamente<br />

esse ambiente de unidade, confiança e<br />

coesão. Preocupações? Dúvidas?<br />

Incertezas? Sim, quem não as tiver anda<br />

distraído. Mas o que prevalece é a<br />

confiança no nosso Partido. Foi assim<br />

em Lisboa, no Porto, em Setúbal, no<br />

Alentejo, no Tortosendo. A forma como<br />

se ouve as posições do Partido, como se<br />

sublinha este ou aquele aspecto, leva-me<br />

a afirmar com toda a segurança que<br />

existe de facto unidade e coesão no<br />

PCP.<br />

O Comité Central decidiu não haver<br />

razões para a alteração do<br />

Programa e dos Estatutos do<br />

Partido neste Congresso. Queres<br />

explicitar essas razões?<br />

No anterior Congresso, realizámos uma<br />

discussão aprofundada em torno das<br />

alterações do Programa e dos Estatutos.<br />

Lendo e relendo hoje esses documentos<br />

fundamentais para a vida do Partido – e<br />

essa revisitação é importante ser feita –<br />

consideramos que mantém uma grande<br />

actualidade e validade. É esta a razão.


PCP<br />

8 31-3-2016<br />

Mais espaço, mais Festa.<br />

Futuro com Abril<br />

Rigor e audácia<br />

Falta um mês para terminar a<br />

campanha de fundos lançada pelo<br />

PCP para a compra da Quinta do<br />

Cabo. Ao longo dos últimos 17<br />

meses, as organizações e sectores do<br />

Partido empenharam-se no sucesso<br />

da iniciativa «Mais espaço, mais Festa<br />

– Futuro com Abril». São múltiplos<br />

os exemplos de criatividade e<br />

capacidade de trabalho.<br />

Não menos importante no<br />

cumprimento de um objectivo<br />

ambicioso como a compra de um<br />

terreno no valor de 950 mil euros é o<br />

rigor e a audácia – tanto mais notável<br />

tratando-se de um Partido Comunista<br />

que, mantendo as suas características<br />

e identidade, afirma e preserva a sua<br />

independência face ao capital<br />

também no plano financeiro. Estes<br />

foram dois aspectos salientados por<br />

Luís Fernandes e Carlos Chaparro,<br />

ambos do Comité Central (CC) do<br />

PCP, que em conversa com o Avante!<br />

abordaram o curso da campanha de<br />

fundos no distrito de Lisboa.<br />

À discussão e subsequente aceitação<br />

da meta financeira proposta pelos<br />

organismos executivos do CC à<br />

Organização Regional, correspondeu<br />

a definição dos moldes de<br />

acompanhamento estreito da<br />

respectiva satisfação. Naturalmente<br />

com as correspondentes medidas de<br />

direcção ao nível da distribuição de<br />

quadros e da periodicidade da<br />

discussão e centralização das verbas,<br />

bem como da assumpção pelos mais<br />

responsáveis de compromissos<br />

próprios, dando, dessa forma, o<br />

exemplo.<br />

Bons exemplos são o ocorrido em<br />

duas freguesias de Lisboa. Numa,<br />

aproveitou-se o conhecimento da<br />

realidade concreta e o<br />

reconhecimento de que goza um<br />

camarada para ganhar contributos<br />

daqueles que, não militando no PCP<br />

ou não estando tão próximos da vida<br />

quotidiana do colectivo comunista,<br />

identificam no Partido e na Festa do<br />

Avante! valor e futuro.<br />

Noutra freguesia, o trabalho assentou<br />

num colectivo de camaradas quase<br />

em exclusividade dedicados à tarefa.<br />

Assim, o que se verificou no distrito<br />

de Lisboa foi que à dinâmica<br />

inaugural – francamente positiva e<br />

ultrapassando mesmo as melhores<br />

perspectivas, havendo casos de<br />

pessoas que se dirigiram aos centros<br />

de trabalho do PCP para<br />

contribuírem para a compra da<br />

Quinta do Cabo, relataram Luís<br />

Fernandes e Carlos Chaparro –<br />

correspondeu a redefinição, uma e<br />

outra vez, do objectivo financeiro a<br />

atingir.<br />

Bom resultado<br />

Neste momento, a meta que a<br />

Organização Regional de Lisboa do<br />

PCP visa alcançar é mais do dobro<br />

da inicial, sendo que a percentagem<br />

da sua execução ronda os 80 por<br />

cento. Várias foram as organizações e<br />

sectores que acompanharam este<br />

movimento. Casos dos sectores<br />

Empresas de Lisboa, da Função<br />

Pública, das Comunicações Águas e<br />

Saneamento e Energia ou da Saúde,<br />

e das concelhias da Amadora,<br />

Cascais e Loures.<br />

A cerca de quatro semanas de<br />

darmos por encerrada a campanha<br />

«Mais espaço, mais Festa – Futuro<br />

com Abril», importa, naturalmente,<br />

fazer um derradeiro esforço.<br />

Insistindo no rigor da concretização<br />

dos compromissos individuais e<br />

colectivos assumidos, mas também na<br />

audácia.<br />

Audácia suportada na certeza de que<br />

o propósito político da recolha de<br />

fundos foi compreendido e assimilado<br />

pela generalidade dos membros do<br />

Partido, antes de mais, mas<br />

igualmente por muitos não membros<br />

do PCP, aos quais importa que nos<br />

dirijamos. Audácia, voltando a falar<br />

com muitos militantes e amigos que<br />

tendo já contribuído, manifestam<br />

disponibilidade para voltar a fazê-lo.<br />

Audácia, convencendo eleitos,<br />

membros de organizações de massas,<br />

entre outros, que ainda não<br />

abordaram quem possa contribuir, a<br />

que o façam. Audácia, sempre,<br />

levando a cabo algumas iniciativas e<br />

convívios cujo resultado possa<br />

complementar os objectivos<br />

financeiros almejados. Para que no<br />

fim, e até eventualmente na iniciativa<br />

pública com que a DORL equaciona<br />

encerrar a campanha, possamos<br />

todos assinalar mais um importante<br />

triunfo do grande colectivo<br />

partidário.<br />

Portos de Setúbal, Sesimbra e Lisboa<br />

PCP contra fusão<br />

O PCP está contra a anunciada fusão das administrações<br />

dos portos de Setúbal, Sesimbra<br />

e Lisboa, reafirmando que a dinamização da<br />

actividade portuária requer a manutenção da<br />

autonomia.<br />

O PCP quer criar<br />

um movimento<br />

de opinião contra<br />

a medida<br />

Num comunicado do Executivo<br />

da Direcção da Organização<br />

Regional de Setúbal,<br />

datado de dia 18, o<br />

PCP garante que a solução<br />

apontada pelo Governo «não<br />

responde às necessidades<br />

da actividade económica<br />

da região e ao desenvolvimento<br />

e modernização da<br />

actividade portuária». Os<br />

comunistas consideram que<br />

a medida, que surge coberta<br />

pelo alegado objectivo<br />

de conseguir maior articulação<br />

administrativa e coordenação<br />

estratégica, é<br />

mesmo contrária ao desenvolvimento<br />

da actividade na<br />

região.<br />

Partindo da ideia de que<br />

a justa e necessária «visão<br />

e gestão integradas do conjunto<br />

das infra-estruturas<br />

portuárias da região e do<br />

País» não pressupõe de forma<br />

nenhuma a «fusão indiscriminada<br />

das administrações<br />

portuárias», o PCP<br />

lembra ainda que a decisão<br />

de fundir as administrações<br />

portuárias não rompe<br />

com o caminho de privatização<br />

e entrega ao capital<br />

estrangeiro deste importante<br />

e estratégico sector.<br />

E mais, aprofunda as<br />

condições para a desvalorização<br />

de actividades tradicionais,<br />

como a pesca, e<br />

para o desinvestimento nas<br />

actividades marítimas ou<br />

turísticas.<br />

A decisão anunciada pelo<br />

Governo, garante ainda<br />

o PCP, não tem em conta<br />

as especificidades e valências<br />

dos portos de Setúbal<br />

e Sesimbra que, «no quadro<br />

de uma única administração,<br />

tenderão a uma ainda<br />

maior desvalorização».<br />

O que se impunha era, pelo<br />

contrário, a dinamização<br />

O sector portuário tem que valorizar as diversas actividades<br />

ligadas ao mar<br />

dos portos de Setúbal e Sesimbra,<br />

com investimento<br />

público e modernização das<br />

suas infra-estruturas. O Partido<br />

realça ainda que a medida<br />

agora anunciada também<br />

não corresponde aos<br />

interesses dos trabalhadores<br />

portuários, que há muito<br />

lutam pela contratação<br />

colectiva, pela melhoria dos<br />

salários e condições de trabalho<br />

e contra a precariedade<br />

que grassa no sector.<br />

Desenvolver o sector<br />

e a região<br />

O reforço da actividade<br />

portuária nos estuários do<br />

Tejo e do Sado é, para o<br />

PCP, uma questão estrutural<br />

para o desenvolvimento<br />

e progresso económico<br />

e social da Península de<br />

Setúbal. Para que seja uma<br />

realidade, acrescenta-se no<br />

comunicado, é necessário<br />

libertar o sector dos interesses<br />

dos grupos monopolistas.<br />

A administração portuária<br />

única para os portos<br />

de Setúbal e Sesimbra, que<br />

o PCP defende, insere-se<br />

no desenvolvimento do sector<br />

no quadro de uma visão<br />

estratégica nacional.<br />

Entre as medidas concretas<br />

que o PCP propõe para<br />

desenvolver o sector portuário<br />

na região conta-se<br />

desde logo o aumento do<br />

investimento público, a modernização<br />

das infra-estruturas<br />

e a ampliação da actividade<br />

portuária no Barreiro,<br />

com a instalação de<br />

um terminal de contentores<br />

(sem desactivação das<br />

actividades instaladas na<br />

margem Norte). O PCP advoga<br />

ainda a construção de<br />

um porto de pesca na Trafaria,<br />

uma doca e lota para<br />

descarga do pescado e<br />

a melhoria das infra-estruturas<br />

existentes nos portos<br />

de pesca de Setúbal e Sesimbra.<br />

Unidade e vigilância<br />

Num comunicado distribuído aos trabalhadores<br />

do complexo dos Olivais da Câmara<br />

Municipal de Lisboa, a célula do<br />

Partido apela a que permaneçam unidos<br />

e vigilantes face à ausência de respostas<br />

por parte da maioria PS a alguns dos problemas<br />

que os afectam. O PCP denuncia,<br />

particularmente, a «ausência de investimento<br />

nas condições de trabalho», que se<br />

revela na falta de materiais e de meios. O<br />

mau estado de conservação e manutenção<br />

das viaturas põe mesmo em risco quer<br />

os trabalhadores que as operam quer os<br />

próprios munícipes.<br />

Para o Partido, a reestruturação dos<br />

serviços da Câmara Municipal, a reorganização<br />

administrativa da cidade e a transferência<br />

de competências para as juntas<br />

de freguesia alterará em breve a realidade<br />

do complexo dos Olivais. Por clarificar<br />

ficam, porém, algumas questões: «qual<br />

é o plano para a renovação alargada da<br />

frota de remoção? O trabalho que deveria<br />

ser realizado nas oficinas irá continuar a<br />

ser realizado “fora”? As condições de trabalho<br />

correspondem às necessidades para<br />

desenvolver as funções atribuídas para<br />

cerca de 400 trabalhadores? Existe capacidade<br />

de resposta no refeitório para<br />

este número de trabalhadores?»


31-3-2016<br />

PCP<br />

9<br />

Campanha nacional passa por Almada<br />

PCP reclama a valorização das pensões<br />

«Nesta luta em defesa dos reformados, pensionistas<br />

e idosos podem continuar a contar<br />

com o PCP», afirmou, anteontem, em Almada,<br />

Jerónimo de Sousa.<br />

Apresentar<br />

propostas<br />

e defender<br />

os interesses<br />

dos reformados<br />

e pensionistas<br />

No encontro com reformados,<br />

realizado na União<br />

dos Reformados, Pensionistas<br />

e Idosos do Concelho<br />

de Almada, estiveram<br />

cerca de duas centenas de<br />

pessoas.<br />

No âmbito da campanha<br />

nacional «Valorizar pensões<br />

e reformas, combater a pobreza,<br />

dar dignidade à vida»,<br />

promovida pelo PCP<br />

e a decorrer até 18 de<br />

Abril, em Almada falou-se<br />

do momento actual e perspectivou-se<br />

a necessidade<br />

de prosseguir a reivindicação<br />

e a luta por uma outra<br />

política que tenha em conta<br />

o direito a uma vida com<br />

dignidade.<br />

A abrir os trabalhos, Virgolino<br />

Rodrigo, da Direcção<br />

Regional de Setúbal do<br />

PCP, salientou que, a par<br />

da questão da valorização<br />

das reformas, outros problemas<br />

«afectam a qualidade<br />

de vida dos reformados<br />

e pensionistas». Deu<br />

conta de «um número elevado<br />

de utentes sem médico<br />

de família», assim como<br />

da «dificuldade no acesso<br />

aos serviços da Segurança<br />

Social» e da «falta de lares<br />

e de outros equipamentos<br />

de apoio à terceira idade».<br />

Noutras intervenções, como<br />

a de Joaquim Gonçalves,<br />

da Confederação MUR-<br />

PI, alertou-se para o agravamento,<br />

nos últimos quatro<br />

anos, da «situação social<br />

e económica dos reformados,<br />

pensionistas e idosos»<br />

e abordou-se a actual<br />

situação política, que aponta<br />

no «sentido da inversão»<br />

das práticas do anterior governo,<br />

«sendo o descongelamento<br />

de algumas reformas<br />

e pensões a expressão<br />

mais evidente e mais positiva».<br />

Josélia Xavier, da Inter-<br />

-reformados/CGTP-IN, destacou<br />

a necessidade de «continuar<br />

a luta no combate às<br />

injustiças que nos foram impostas».<br />

Iniciativa<br />

Jerónimo de Sousa, por<br />

seu lado, acentuou que, no<br />

âmbito do Orçamento do<br />

Estado para 2016, o PCP<br />

propôs e tomou a iniciativa<br />

para melhorar a vida dos<br />

reformados e pensionistas.<br />

«Apresentámos a proposta<br />

de aumento extraordinário,<br />

já este ano, das pensões<br />

e reformas em 10 euros»,<br />

assegurando que, «ao<br />

descongelamento das pensões<br />

alcançado, também<br />

em 2016, se juntasse uma<br />

trajectória de recuperação<br />

do seu valor real». Lamentavelmente,<br />

não foi aprovada<br />

uma outra proposta<br />

dos comunistas, que visava<br />

«tornar mais justas as regras<br />

de actualização anual<br />

das reformas», criticou.<br />

Em Lisboa, um colectivo<br />

determinado<br />

Reunida a 16 de Março, a Direcção da<br />

Organização Regional de Lisboa (DORL)<br />

do PCP analisou a situação económica e<br />

social dos trabalhadores e do povo no distrito,<br />

e centrou a sua discussão em temas<br />

como a luta de massas pela defesa, recuperação<br />

e conquista de direitos e por uma<br />

política patriótica e de esquerda, a iniciativa<br />

política e o reforço do Partido ou o<br />

início da preparação do XX Congresso.<br />

Numa nota de imprensa, a DORL sublinha<br />

que «os desenvolvimentos de carácter<br />

positivo» registados na vida política<br />

nacional são inseparáveis «da longa e<br />

persistente luta dos trabalhadores e do<br />

povo», nomeadamente contra as opções<br />

materializadas nos sucessivos planos de<br />

estabilidade e crescimento (PEC) e no<br />

pacto de agressão subscrito por PS, PSD<br />

e CDS.<br />

Valorizando o importante papel desempenhado<br />

pelos trabalhadores do distrito<br />

de Lisboa nos avanços alcançados e considerando<br />

que estes são prova da justeza<br />

das suas reivindicações e, em simultâneo,<br />

um exemplo de que a luta vale a pena, a<br />

DOR de Lisboa saúda a luta que os trabalhadores<br />

levaram a cabo pelos salários,<br />

direitos e postos de trabalho em diversas<br />

empresas – na Seda Ibérica, Printer,<br />

Sevirail, Diário Económico, Novo Banco<br />

– e apela à mobilização para as várias acções<br />

de luta agendadas no distrito.<br />

A luta dos estudantes do Ensino Secundário<br />

pela resolução de problemas concretos<br />

e em defesa da Escola pública, gratuita<br />

e de qualidade, e a do Ensino Superior<br />

exigindo mais e melhor Acção Social<br />

Escolar e contra a política de subfinanciamento<br />

e de aumento das propinas, é outro<br />

elemento a que o PCP no distrito de Lisboa<br />

dá destaque, como o é a manifestação<br />

de jovens trabalhadores agendada para<br />

hoje, às 14h30, em Lisboa, por iniciativa<br />

da Interjovem/CGTP-IN.<br />

Colectivo determinado<br />

A DORL faz uma avaliação muito positiva<br />

da intensa actividade levada a cabo<br />

pelo Partido no distrito – «expressão de<br />

um colectivo partidário determinado» –<br />

e, como exemplo, refere as dezenas de<br />

iniciativas de comemoração dos 85 anos<br />

do «Avante!» e dos 95 anos do PCP; a<br />

concretização da campanha «Mais Direitos,<br />

mais Futuro. Não à precariedade!»;<br />

a iniciativa-debate sobre os transportes na<br />

Área Metropolitana de Lisboa; e o encontro<br />

de quadros sobre a acção do Partido<br />

nas empresas e locais de trabalho, agendado<br />

para dia 16 de Abril.<br />

A DORL assinala ainda que o colectivo<br />

está fortemente empenhado na preparação<br />

e concretização da 40.ª Festa do<br />

Avante!, bem como na campanha de fundos<br />

«Mais Espaço, Mais Festa – Futuro<br />

com Abril», e que deu início à discussão<br />

sobre o XX Congresso do PCP, tendo como<br />

base a resolução do Comité Central<br />

de 4 e 5 de Março.<br />

Para o PCP, «o envelhecimento não é um fardo social ou uma sobrecarga para as finanças<br />

públicas», sublinhou Jerónimo de Sousa<br />

Chumbadas foram também<br />

as propostas sobre a<br />

reversão das parcerias público-privadas;<br />

o aumento<br />

da contribuição extraordinária<br />

sobre o sector energético;<br />

um adicional de dois<br />

por cento de derrama estadual<br />

sobre empresas com<br />

rendimentos tributáveis superiores<br />

a 35 milhões de<br />

euros; lançamento de um<br />

imposto sobre o património<br />

superior a um milhão<br />

de euros.<br />

«Falaram mais alto os<br />

condicionamentos das opções<br />

do Governo do PS» e<br />

a sua «recusa em se libertar<br />

das imposições europeias<br />

e de outros constrangimentos<br />

externos favoráveis<br />

ao capital monopolista que<br />

domina o País», lembrou.<br />

Compromissos<br />

Entretanto, o PCP vai continuar<br />

a intervir para «cumprir<br />

os seus compromissos»,<br />

de forma a assegurar, entre<br />

outras medidas, a «autonomia<br />

económica e social dos<br />

reformados, pensionistas e<br />

idosos, através da elevação<br />

dos seus rendimentos», o<br />

«cumprimento do direito à<br />

saúde, concretizado pelo<br />

Serviço Nacional de Saúde,<br />

com serviços públicos de<br />

proximidade», a «efectivação<br />

do direito à mobilidade<br />

e ao transporte público»,<br />

a «criação de uma rede pública<br />

de equipamentos e<br />

serviços públicos de apoio<br />

à terceira idade» e o «incentivo<br />

à participação na<br />

vida social, política e cultural».<br />

«A gravidade dos problemas<br />

que estão colocados na<br />

vida dos portugueses exige<br />

uma permanente luta<br />

dos trabalhadores, dos reformados<br />

e do nosso povo.<br />

Mas exigem também acção<br />

e intervenção dentro das<br />

instituições, nomeadamente<br />

na Assembleia da República,<br />

onde vamos continuar<br />

a apresentar propostas<br />

e a defender os interesses<br />

dos reformados e pensionistas»,<br />

afirmou Jerónimo<br />

de Sousa.<br />

Comboio da Festa do Avante!<br />

Rápido, barato, divertido<br />

Para quem vive na grande<br />

Lisboa, chegar à Festa<br />

do Avante! é fácil e barato,<br />

graças à grande oferta de<br />

transportes públicos existente<br />

(com facilidades especiais<br />

nos dias da Festa) e aos<br />

muitos lugares de estacionamento<br />

ao dispor dos visitantes<br />

em vários parques nas<br />

imediações da Quinta da<br />

Atalaia. Para quem vier de<br />

mais longe, do Norte, também<br />

há várias opções, mas<br />

nenhuma tão barata e agradável<br />

como o Comboio da Festa do Avante!,<br />

que uma vez mais é organizado pela<br />

Juventude Comunista Portuguesa. Nele,<br />

vai-se «em festa para a Festa», garante a<br />

JCP.<br />

O comboio parte no dia 2 de Setembro,<br />

sexta-feira, de Braga, passando por Nine,<br />

Famalicão, Porto, Gaia, Ovar, Aveiro,<br />

Coimbra B, Pombal, Entroncamento e<br />

Santarém, de onde segue directamente<br />

para a estação dos Foros de Amora, com<br />

transporte gratuito dos passageiros<br />

para a zona do acampamento<br />

e da Festa em autocarros<br />

vai-e-vem. Após a Festa,<br />

o regresso será na segunda-feira<br />

de manhã, também<br />

com vai-e-vem gratuitos para<br />

a estação de Foros da Amora,<br />

com o percurso inverso.<br />

De modo a mobilizar os jovens<br />

a que visitem a Festa do<br />

Avante!, a JCP lembra que<br />

ela celebra este ano o seu<br />

40.º aniversário e que, com<br />

o novo terreno, será maior e<br />

terá «muitas novidades». Certo é, uma vez<br />

mais, o «mesmo ambiente de fraternidade,<br />

solidariedade e camaradagem», muita<br />

música em mais de 10 palcos, teatro,<br />

cinema, dança, artes plásticas, tradições<br />

e cultura de todo o País e do mundo.<br />

Sobre o comboio, a JCP promete mais<br />

informações para breve. Com novidades.<br />

As reservas podem ser feitas desde já através<br />

do endereço de correio electrónico<br />

geral@jcp.pt.


10 PCP<br />

31-3-2016<br />

Controlo público da banca<br />

Desenvolvimento e soberania<br />

Reconstituir um poderoso sector público financeiro<br />

é, tal como o controlo da moeda e a libertação<br />

do País de outros constrangimentos, condição<br />

essencial para impulsionar o progresso económico<br />

e social num Portugal soberano. Esta a<br />

ideia-mestra confirmada no seminário que o PCP<br />

realizou fez anteontem uma semana.<br />

Sobre a iniciativa em que<br />

falaram economistas, professores<br />

e investigadores, dirigentes<br />

sindicais, associativos<br />

e um ex-gestor<br />

bancário, e dirigentes e deputados<br />

do PCP – tendo a<br />

mesma sido encerrada pelo<br />

Secretário-geral do Partido,<br />

publicou o Avante!, a semana<br />

passada, uma notícia<br />

na qual releva os aspectos<br />

centrais da intervenção feita<br />

na ocasião por Jerónimo<br />

de Sousa. Entre estes estão<br />

o combate à especulação financeira<br />

e à dependência e<br />

controlo externos de um sector<br />

vital, a reserva dos recursos<br />

para o investimento<br />

produtivo e a reorientação<br />

da política de crédito para<br />

as necessidades de desenvolvimento<br />

soberano nacional<br />

e para a elevação das<br />

condições de vida dos trabalhadores<br />

e do povo.<br />

A actualidade do tema na<br />

análise e intervenção dos comunistas<br />

justifica, porém,<br />

que voltemos ao assunto,<br />

abordando elementos aduzidos<br />

por outros oradores. O<br />

objectivo das privatizações<br />

impostas com a política de<br />

direita foi «a recuperação capitalista<br />

e monopolista» em<br />

Portugal, como a «definiu rigorosamente<br />

o PCP», lembrou<br />

Agostinho Lopes, para<br />

quem, nesse sentido, a alienação<br />

da banca e dos seguros<br />

tiveram primazia no<br />

processo de privatizações<br />

conduzido até 1996. Sucessivos<br />

governos PSD e PS<br />

tiveram como propósito,<br />

sob diversos pretextos e elaboradas<br />

concepções, usar a<br />

banca privatizada como instrumento<br />

para que os grupos<br />

económicos reconstituídos<br />

fossem «a base da condução<br />

e desenvolvimento<br />

das privatizações noutros<br />

sectores e áreas», garantindo<br />

mais e novos negócios e<br />

o domínio do capital financeiro<br />

«nas novas empresas<br />

privatizadas».<br />

Pela via da «centralização<br />

e concentração do capital»,<br />

capturaram o poder político,<br />

disse ainda Agostinho Lopes,<br />

para quem, face aos<br />

factos que emergem do processo<br />

histórico, existe legitimidade<br />

e razão para questionar<br />

a privatização do<br />

Persistem<br />

graves perigos<br />

e quem criou<br />

o problema<br />

não é capaz<br />

de os resolver<br />

sector financeiro, porquanto<br />

esta destruiu valor e delapidou<br />

riqueza, foi maná da<br />

arrecadação nem sempre lícita<br />

de fortunas, a contrastar<br />

com o saldo de prejuízos<br />

acumulados a vários títulos<br />

pelo Estado.<br />

Jorge Pires, da Comissão<br />

Política do Partido, salientou,<br />

por seu lado, que desde<br />

a vaga privatizadora iniciada<br />

há 25 anos a banca<br />

tem sido instrumento de<br />

lucro e não do desenvolvimento<br />

do povo e do País.<br />

Acresce o «sentimento de<br />

Situação explosiva<br />

No seminário organizado pelo PCP,<br />

Carlos Carvalhas considerou que «a<br />

crise das dívidas públicas (…) verificou-<br />

-se no essencial na Zona Euro» porque<br />

os estados «ficaram prisioneiros dos<br />

mercados». Ora, neste sentido, os<br />

custos daí resultantes devem «ser<br />

endossados ao BCE e aos países que se<br />

opuseram à [sua] intervenção»,<br />

impedindo os países de se financiarem<br />

junto daquele.<br />

Claro é também, hoje, que não são os<br />

custos com as funções sociais do Estado<br />

e os serviços públicos os responsáveis<br />

pelo endividamento dos estados. Mas<br />

apesar de «estarmos mais<br />

acompanhados [nesta apreciação]», tal<br />

como noutras matérias, «passado o<br />

pânico», «o sistema financeiro mundial<br />

voltou às práticas de sempre»,<br />

lamentou o membro do CC do PCP.<br />

Lembrando que os 28 bancos que<br />

detêm «uma boa parte da dívida dos<br />

estados», detêm, igualmente, «um<br />

poder que não é comparável com<br />

a fraqueza dos estados», Carlos<br />

Carvalhas advertiu que a persistência<br />

de «produtos derivados» e da «”bolha”<br />

das dívidas soberanas» coloca nos<br />

píncaros o potencial explosivo de uma<br />

nova crise, tanto mais que a «solução»<br />

seguida foi a injecção de mais liquidez.<br />

Ilustrativo de que persistem graves<br />

perigos e de que quem criou o<br />

problema não é capaz de o resolver,<br />

é o projecto da chamada União<br />

Bancária, explicou, por sua vez,<br />

o deputado do PCP no Parlamento<br />

Europeu Miguel Viegas.<br />

Na União Bancária, integram-se «os<br />

mecanismos de resolução e supervisão»<br />

e o sistema de garantia. Este último<br />

«marca passo» por ser o único «voltado<br />

para os depositantes», realçou, antes de<br />

criticar o mecanismo de supervisão por<br />

O debate sobre o controlo público da banca promovido pelo PCP confirmou a justiça<br />

da apreciação e propostas do Partido<br />

impunidade» dos «responsáveis<br />

pela actual situação»<br />

em virtude da factura que os<br />

portugueses suportam para<br />

salvar um sector que se demitiu<br />

do «papel de apoio à<br />

economia e às famílias».<br />

retirar capacidade de intervenção<br />

soberana sobre o sistema financeiro aos<br />

estados nacionais, centralizando-a num<br />

BCE que já falhou como supervisor, e<br />

de qualificar o mecanismo de resolução<br />

como «um enorme embuste que visa<br />

apenas disfarçar o propósito de<br />

aprofundar a integração financeira da<br />

UE» e que engana os povos com a falsa<br />

ideia de que não voltarão a pagar<br />

a factura das falências.<br />

Neste quadro, assume pertinência<br />

a formulação feita na iniciativa pelo<br />

deputado do PCP na Assembleia da<br />

República, Miguel Tiago: uma vez que<br />

«a forma como as instituições (...) se<br />

comportam no quadro do sistema<br />

financeiro capitalista determina a sua<br />

própria falência, mais ou menos<br />

acelerada, mas incontornável, a questão<br />

não é se “irá o banco colapsar”, mas<br />

“quando irá o banco colapsar”».<br />

Para Miguel Tiago, «sendo que é o<br />

próprio capitalismo, a sua forma de<br />

funcionar, a necessidade imperiosa<br />

e incontornável de crescimento e<br />

acumulação dos grupos capitalistas,<br />

a causa do funcionamento da banca<br />

como um verdadeiro sorvedouro de<br />

recursos produzidos pelo trabalho,<br />

todas as soluções de regulação e<br />

supervisão, particularmente as que<br />

realizadas por entidades cuja principal<br />

característica é a tão proclamada<br />

“indepedência”, ficarão sempre aquém<br />

do necessário». Por isso, concluiu,<br />

«o controlo público da banca, exigindo<br />

uma variedade de soluções adaptadas<br />

a cada situação e a cada instituição,<br />

e com vista ao controlo público total<br />

do sistema financeiro, é a única forma<br />

que, não menosprezando a importância<br />

do sector financeiro, se nos coloca<br />

como solução para quebrar o ciclo<br />

de acumulação e colapso».<br />

Pontos nos is<br />

«A crise de 2008 veio tornar<br />

mais clara uma situação<br />

que há muito o PCP vinha<br />

denunciando: a financeirização<br />

da economia com a<br />

transferência de avultadas<br />

verbas do sector produtivo<br />

para a especulação financeira,<br />

a utilização do dinheiro<br />

dos depositantes para a cedência<br />

de créditos para as<br />

empresas dos próprios grupos<br />

bancários e aos amigos,<br />

sem qualquer tipo de garantia<br />

de retorno na maioria<br />

dos casos, e a distribuição<br />

de avultadas somas em dividendos<br />

pelos accionistas,<br />

mesmo quando a situação<br />

dos bancos aconselhava<br />

prudência, nomeadamente<br />

o reforço das provisões para<br />

as avultadas imparidades»,<br />

frisou ainda Jorge Pires,<br />

que concluiu: «a experiência<br />

[o mito da robustez da<br />

banca nacional e o da capitalização<br />

desta, que é, afinal,<br />

a capitalização dos mega-<br />

-bancos europeus que a adquirem<br />

expurgada de «toxicidade»]<br />

tem mostrado<br />

que a banca pública é a única<br />

maneira de conservar o<br />

sistema bancário nacional».<br />

Em defesa do sistema de<br />

crédito público, bem como<br />

da moeda soberana, pronunciou-se<br />

igualmente Octávio<br />

Teixeira, que insistiu<br />

que a banca privada se transformou<br />

em «sujas lavandarias<br />

que promovem a evasão<br />

fiscal e o branqueamento de<br />

capitais, e continuam a especular<br />

delapidando a utilidade<br />

social das poupanças<br />

dos cidadãos». O economista<br />

e membro do PCP criticou,<br />

igualmente, a estratégia<br />

do Banco Central Europeu<br />

de «criação de uma rede<br />

de alguns poucos grandes<br />

bancos na Zona Euro», a<br />

qual considerou «desastrosa<br />

para os interesses de Portugal»,<br />

na medida em que reduziria<br />

«ao mínimo os sistemas<br />

bancários de base nacional».<br />

Inversamente, permanece<br />

actual a «necessidade<br />

estrutural da nacionalização<br />

da banca», desde que,<br />

advertiu, a tal corresponda<br />

uma «socialização da banca<br />

pública», isto é, que seja o<br />

accionista Estado a «definir<br />

as orientações estratégicas»».<br />

De entre essas orientações<br />

estratégicas, tem de constar<br />

a valorização dos trabalhadores<br />

do sector, os quais,<br />

«nos últimos anos, com o seu<br />

trabalho, proporcionaram<br />

elevados lucros e encheram<br />

os bolsos dos banqueiros e<br />

accionistas privados».<br />

Em contrapartida, denunciou<br />

Joaquim Batalha,<br />

coordenador do Sindicato<br />

dos Trabalhadores da Actividade<br />

Financeira, para<br />

além da destruição de sete<br />

mil postos de trabalho entre<br />

2010 e 2014, «no plano<br />

da relações de trabalho,<br />

os bancos têm conseguido,<br />

com a cumplicidade da UGT<br />

e dos governos, aumentar a<br />

precariedade e a desregulamentação<br />

no trabalho, diminuir<br />

as remunerações<br />

reais, aumentar as cargas<br />

horárias e destruir direitos<br />

elementares».<br />

CAMARADAS FALECIDOS<br />

Fernando Fernandes Carvalho<br />

Faleceu recentemente o camarada Fernando Fernandes Carvalho.<br />

Encontrava-se organizado em São Julião do Tojal, em<br />

Loures.<br />

Jaime Alberto Maria Oliveira<br />

O camarada Jaime Alberto Maria Oliveira faleceu recentemente.<br />

Estava organizado em Santo Antão do Tojal, em Loures.<br />

Manuel Lopes<br />

O camarada Manuel Lopes, de 86 anos, faleceu no passado<br />

dia 22. Trabalhou no Arsenal do Alfeite e estava organizado na<br />

Freguesia do Feijó, em Almada.<br />

*<br />

Aos familiares e amigos dos comunistas falecidos, o colectivo<br />

do Avante! manifesta sentidas condolências.


3 1 -3 -2 01 6<br />

PCP 1 1<br />

AVEIRO<br />

Arte e transformação<br />

A Biblioteca Municipal de Aveiro<br />

acolheu recentemente um debate do<br />

PCP sobre «Arte: ferramenta de<br />

transformação social», que contou<br />

com as intervenções com Ruben de<br />

Carvalho e Jorge Sarabando e a<br />

moderação do dirigente local do<br />

Partido Filipe Guerra. Perante um<br />

auditório repleto, falou-se das várias<br />

formas de expressão artística e da<br />

sua ligação com a luta dos<br />

trabalhadores e dos povos, deu-se<br />

exemplos de artistas militantes e<br />

abordou-se a indissociável ligação<br />

entre a produção artística e a<br />

liberdade, assim como a relação<br />

dialéctica entre a arte e a<br />

transformação da sociedade. De<br />

entre muitas referências, citou-se o<br />

exemplo de Álvaro Cunhal, também<br />

ele um artista de reconhecido mérito<br />

em várias disciplinas (como a<br />

literatura e a pintura) e autor do<br />

ensaio «A Arte, o Artista e a<br />

Sociedade», em que aborda<br />

precisamente estas matérias,<br />

sublinhando o cariz necessariamente<br />

livre e libertador do acto artístico.<br />

AÇORES<br />

Porto às escuras<br />

Na sequência de uma visita ao porto<br />

do Topo, na ilha de São Jorge, o<br />

deputado do PCP na Assembleia<br />

Legislativa Regional dos Açores,<br />

Aníbal Pires, entregou um<br />

requerimento questionando o<br />

Governo Regional sobre a avaria na<br />

iluminação do porto, que dura há<br />

cerca de dois meses sem que se<br />

saiba ainda quando será reparada. O<br />

eleito comunista lembra que a avaria<br />

de dois dos quatro projectores – que<br />

deixa o porto praticamente às escuras<br />

– segue-se aos danos verificados na<br />

grua, que trouxe «graves dificuldades<br />

à varagem e saída de embarcações e<br />

que só recentemente foi<br />

solucionada». Lembrando que os<br />

habitantes da vila de Topo estão há<br />

anos à espera das obras de<br />

ampliação e beneficiação do seu<br />

porto, «prometidas e reprometidas»<br />

pelas autoridades, o PCP salienta não<br />

haver qualquer justificação para que<br />

não seja assegurado o «mínimo em<br />

termos de conservação da infra-<br />

-estrutura e dos seus equipamentos».<br />

CINFÃES<br />

Direito à saúde<br />

O PCP denuncia, num comunicado<br />

da Comissão Concelhia de Cinfães de<br />

dia 23, que os utentes do Serviço de<br />

Urgência Básica do concelho estão<br />

há um mês privados do aparelho de<br />

radiologia dessa unidade de saúde,<br />

alegadamente por se encontrar<br />

avariado. Esta situação leva a que os<br />

utentes necessitados desse tipo de<br />

exame tenham que ser transportados<br />

para o Hospital de Penafiel, «com<br />

todas as consequências negativas<br />

para os doentes, pela demora no<br />

diagnóstico, pelas viagens, pelos<br />

longos tempos de espera, pelos<br />

incómodos para familiares e amigos<br />

que têm de os acompanhar».<br />

Denunciando toda esta situação, o<br />

PCP quer saber o que efectivamente<br />

se passa com o aparelho e com os<br />

técnicos de radiologia daquela<br />

unidade de saúde. A questão foi já<br />

encaminhada para o Grupo<br />

Parlamentar do PCP.<br />

Octávio<br />

Augusto<br />

Membro<br />

da Comissão<br />

Política<br />

Lutar por direitos<br />

C<br />

hama-se Maria. Enviou-nos um email onde<br />

relatava a situação vivida na fábrica em<br />

que trabalha. Pedia a nossa ajuda.<br />

Respondemos pedindo mais elementos e um contacto<br />

telefónico para que pudéssemos conversar mais em<br />

pormenor. Estabelecido o contacto, combinamos uma<br />

reunião. Disse que trazia mais duas colegas. Vieram três<br />

trabalhadoras.<br />

“<br />

A consciência<br />

de classe a transformar-<br />

-se em consciência<br />

”<br />

política<br />

A empresa foi visitada pelo anterior<br />

ocupante do Palácio de Belém.<br />

Na ocasião foi referenciada como<br />

uma empresa exemplar. As trabalhadoras<br />

– a maioria das muitas centenas<br />

de postos de trabalho são ocupados<br />

por mulheres – ainda pensaram<br />

fazer alguma coisa para, durante<br />

a visita, chamarem a atenção para<br />

os seus problemas ou não<br />

comparecerem no local de trabalho<br />

nesse dia. Não se sentiram seguras<br />

nem apoiadas. Não se fez nem uma<br />

coisa nem outra.<br />

Maria revela-se muito bem preparada,<br />

sabe ao que vem, fundamenta<br />

as suas denúncias com documentação.<br />

Marcámos outra reunião, Maria<br />

informa que vai trazer mais colegas.<br />

Assim foi. Agora são seis, todas mulheres<br />

e jovens. Já estão todas sindicalizadas.<br />

O sindicato vai intervir<br />

junto da administração e da Autoridade<br />

para as Condições de Trabalho.<br />

Elas vão prosseguir a sua acção<br />

de sensibilização junto de outros colegas.<br />

É preciso vencer o medo. Nesta,<br />

como em muitas outras empresas,<br />

os trabalhadores só têm deveres,<br />

os direitos ficam à porta.<br />

Reina o medo, os colegas falam<br />

entre si com cuidado, o esquema é<br />

conhecido. Sistemas de vigilância,<br />

controlo apertado, coacção.<br />

Paira a ameaça de encerramento<br />

da empresa e a sua deslocalização<br />

para Espanha. O rol de ilegalidades<br />

e discriminações é imenso: o Contrato<br />

Colectivo de Trabalho caducou,<br />

por iniciativa da associação patronal,<br />

pois claro. Se antes, com contrato,<br />

já faziam o que queriam, agora<br />

é o regabofe completo!<br />

Não há horários de trabalho afixados,<br />

muitos dos trabalhadores não<br />

têm cópia do contrato que assinaram.<br />

Há trabalhadoras com contrato a<br />

termo incerto há 17 anos! Outras há<br />

10, 12, 15 anos!<br />

As categorias profissionais não batem<br />

com as funções que cada uma<br />

desempenha.<br />

Formação profissional é uma miragem.<br />

Conduz-se empilhadores sem<br />

formação ou com a licença caducada.<br />

Uma máquina avaria, o tempo<br />

em que esteve parada é descontado<br />

nos prémios dos respectivos trabalhadores!<br />

Cortes indevidos nos subsídios de<br />

férias e de Natal e ainda durante o<br />

período pós-parto.<br />

Estás a chegar ao fim do contrato?<br />

Sugerem que te despeças para<br />

seres readmitido passados poucos<br />

dias com outro contrato! E para dar<br />

um ar sério à coisa, mudas de serviço!<br />

Mas esta empresa para além de<br />

exemplar é moderna. Faz regularmente<br />

questionários aos trabalhadores,<br />

para fazer de conta que os leva<br />

em consideração. Dizem para responder<br />

à vontade, que é confidencial<br />

mas, quem os recolhe, escreve<br />

por fora, a lápis, o nome do respectivo<br />

trabalhador!<br />

Se alguém faz um comentário mais<br />

arrojado, a resposta é invariavelmente<br />

a mesma: Podem dar-se por satisfeitas<br />

com as ótimas condições que<br />

aqui têm… lá fora está muita gente<br />

que gostava de estar no vosso lugar…<br />

Um Partido insubstituível<br />

Vem tudo isto a propósito da campanha<br />

oportunamente lançada pelo<br />

nosso Partido sob o lema Mais direitos,<br />

mais futuro, não à precariedade.<br />

É uma evidência que como resultado<br />

da política de direita, toda ela<br />

conduzida ao serviço do capital e<br />

em confronto com os mais elementares<br />

direitos de quem trabalha, a<br />

precariedade transformou-se numa<br />

importante arma do patronato contra<br />

os trabalhadores e os seus direitos,<br />

com os resultados que estão à<br />

vista.<br />

Por aqui se percebe o porquê do<br />

ostensivo e sistemático desrespeito<br />

pela Constituição, o ataque ao movimento<br />

sindical de classe e um tão<br />

grande empenhamento pela consagração<br />

da caducidade da contratação<br />

colectiva.<br />

De um lado, patronato com as costas<br />

quentes, do outro os trabalhadores<br />

impotentes para lhe fazer frente.<br />

Seria um final perfeito para o filme<br />

daqueles que vivem à conta da<br />

exploração de quem trabalha. Mas<br />

a coisa complica-se quando estes se<br />

apercebem das injustiças e transformam<br />

a sua revolta em consciência<br />

de classe. E com essa consciência<br />

se apercebem da importância de se<br />

unirem em torno da sua organização<br />

de classe e de lutarem pelos seus<br />

direitos.<br />

É uma luta por direitos, pela melhoria<br />

das condições de trabalho e<br />

de vida, mas é também uma luta pela<br />

dignidade e pela liberdade.<br />

Na próxima reunião, que já ficou<br />

apalavrada, por certo virão ainda<br />

mais algumas trabalhadoras.<br />

Tomaram consciência da importância<br />

de se organizarem, de se unirem,<br />

de se sindicalizarem…<br />

Não resistiremos a perguntar-lhes,<br />

em particular à Maria, o porquê de<br />

se ter dirigido a nós, ao PCP e não<br />

a outros. Estamos certos de qual será<br />

a resposta: o reconhecimento do<br />

papel, único e insubstituível, deste<br />

Partido na defesa dos direitos dos<br />

trabalhadores. Ou seja, a consciência<br />

de classe a transformar-se em<br />

consciência política.<br />

Maria és bem-vinda, tu e as outras<br />

trabalhadoras!


ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA<br />

1 2 31 -3-201 6<br />

Em causa a dignidade e os direitos dos trabalhadores<br />

Combate ao flagelo da precariedade<br />

A precariedade laboral tornou-se um flagelo<br />

social que atinge cerca de um milhão e duzentos<br />

mil trabalhadores, sendo hoje um factor de<br />

tremenda instabilidade e injustiça social.<br />

Apostado em alterar este<br />

quadro está o PCP que,<br />

depois da entrega recente<br />

de diplomas seus visando<br />

esse objectivo, levou o tema<br />

no dia 23 ao plenário<br />

da AR em debate de actualidade.<br />

Dando continuidade à<br />

campanha nacional iniciada<br />

a 18 de Fevereiro –<br />

«Mais Direitos, Mais Futuro<br />

– Não à Precariedade»,<br />

assim se chama a acção em<br />

curso junto dos trabalhadores<br />

nas empresas –, este<br />

debate constitui-se numa<br />

importante achega para<br />

que o Parlamento, em colaboração<br />

com o Governo,<br />

dê os passos necessários<br />

com vista a minorar o problema<br />

e a que sejam criadas<br />

condições de prestação<br />

de trabalho que respeitem<br />

a dignidade dos trabalhadores.<br />

É que falar em precariedade<br />

do trabalho, para<br />

os trabalhadores a ela sujeitos,<br />

como salientou o deputado<br />

comunista António<br />

Filipe na intervenção final,<br />

é falar da «precariedade da<br />

própria vida».<br />

A deputada Rita Rato,<br />

no arranque do debate, fora<br />

mesmo mais longe e<br />

considerou que a precariedade<br />

do emprego é a<br />

«precariedade da família,<br />

da formação, das qualificações<br />

e da experiência profissional,<br />

é a precariedade<br />

do perfil produtivo e da<br />

produtividade do trabalho».<br />

Precariedade que afecta<br />

vários sectores de actividade,<br />

na indústria, no comércio,<br />

nas pequenas e grandes<br />

superfícies comerciais,<br />

os trabalhadores da cultura,<br />

da investigação científica,<br />

os serviços públicos.<br />

Fragilidades<br />

Dupla penalização<br />

Uma das áreas onde se faz sentir de forma mais notória<br />

a precariedade é a do sistema científico e tecnológico<br />

nacional, nomeadamente no que se refere aos bolseiros<br />

de investigação científica.<br />

Trata-se de jovens altamente qualificados que são<br />

submetidos a um regime de precariedade injusto e que<br />

prejudica não só a sua capacidade de produção científica<br />

como a estabilidade das próprias instituições em que<br />

prestam o seu trabalho, como salientou no debate o<br />

deputado comunista Miguel Tiago. Situação esta que é<br />

«duplamente penalizadora» não só porque os afecta<br />

pessoalmente (degrada os seus direitos e a qualidade de<br />

vida, não assegura estabilidade e mantém em suspenso<br />

o seu próprio futuro), como atinge também as instituições<br />

que não sabem muito bem com que corpo de<br />

investigadores podem contar de um ano para o outro.<br />

Contestada pelo parlamentar do PCP foi, por outro lado,<br />

a ideia defendida por sucessivos governos de que a<br />

precariedade no mundo da ciência e da tecnologia é<br />

necessária para que os trabalhadores produzam. «Não<br />

podia ser mais errada», sublinhou Miguel Tiago, convicto<br />

de que tanto as instituições como os trabalhadores apenas<br />

têm a perder com a precariedade.<br />

O que falta, pois, no caso dos bolseiros de investigação<br />

científica, são soluções, que, na perspectiva do PCP,<br />

passam à cabeça pelo fim dessa condição temporária de<br />

bolseiro e sua integração numa carreira. Integração essa<br />

que para aqueles que estão a obter o grau de doutorado<br />

deve ser uma carreira de iniciação à investigação científica<br />

(como o PCP já propôs em diploma). Necessário é também,<br />

noutro plano, incorporar todos aqueles que já são<br />

doutorados na carreira de investigação científica, uma<br />

vez que, como foi dito, esta carreira «não abre há décadas<br />

no País, apesar das necessidades serem gritantes».<br />

A um posto<br />

de trabalho<br />

permanente deve<br />

corresponder<br />

um vínculo de<br />

trabalho efectivo<br />

E no debate não faltaram<br />

os exemplos, pela voz dos<br />

deputados comunistas, de<br />

trabalhadores jovens e menos<br />

jovens cujo vínculo laboral<br />

é precário.<br />

Ficou sobretudo claro<br />

que a fragilidade da relação<br />

laboral, traduzida na<br />

precariedade, é uma «fragilidade<br />

da posição dos trabalhadores<br />

a todos os níveis».<br />

Trata-se de contratos<br />

a termo em desrespeito pela<br />

lei, do uso abusivo de<br />

recibos verdes, de trabalho<br />

encapotado pelo regime<br />

de prestação de serviços,<br />

de bolsas de<br />

investigação ou estágios<br />

profissionais, de trabalho<br />

temporário sem observância<br />

de regras.<br />

«O precário não tem direitos.<br />

É afectado por situações<br />

inaceitáveis de baixos<br />

salários, por horários<br />

alargados e arbitrários (têm<br />

horas para entrar mas não<br />

têm horas para sair), são<br />

praticamente proibidos de<br />

exercer os seus direitos sindicais»,<br />

sumariou António<br />

Filipe, expondo no fundo<br />

as razões que estão na base<br />

da exigência de mudança<br />

da situação presente.<br />

Deste debate resultou<br />

igualmente claro que a precariedade<br />

não é uma inevitabilidade.<br />

«Não caiu do<br />

céu», observou Rita Rato,<br />

lembrando que a precariedade<br />

é fruto de sucessivas<br />

alterações à legislação<br />

laboral que a generalizaram,<br />

tal como degradaram<br />

as condições de trabalho e<br />

liquidaram direitos laborais<br />

e sociais.<br />

Mas a precariedade é<br />

também «uma opção do patronato,<br />

uma medida de<br />

acentuação da exploração<br />

dos trabalhadores», acrescentou<br />

António Filipe, convicto<br />

de que as empresas<br />

impõem a precariedade aos<br />

trabalhadores para «aumentarem<br />

o lucro dos seus accionistas».<br />

Maus exemplos<br />

Praga atinge a Cultura<br />

Universo que também não escapa à<br />

precariedade é o da Cultura. Aqui, o<br />

fenómeno assume proporções tais que se<br />

transformou numa praga que espolia os<br />

trabalhadores do «seu presente, do seu<br />

direito ao trabalho, do seu direito a<br />

constituir família, do seu direito à<br />

estabilidade», roubando-lhes um «futuro<br />

digno», como salientou no debate a<br />

deputada comunista Ana Mesquita. São<br />

actores, actrizes, técnicos, artistas plásticos,<br />

trabalhadores de arqueologia, enumerou,<br />

lembrando quantos deles têm hoje<br />

«reformas miseráveis» não obstante a vida<br />

inteira de trabalho e dedicação à Cultura.<br />

Um quadro que em nada difere, afinal,<br />

daquele que caracteriza a vida dos<br />

restantes trabalhadores que enfrentam o<br />

mesmo problema.<br />

Trazidos para primeiro plano foram ainda<br />

os mais recentes casos de denúncia de<br />

A precariedade laboral é sinónimo de insegurança, baixos salários e limitação de direitos<br />

fundamentais<br />

Ponto muito sublinhado<br />

pela bancada comunista foi<br />

ainda o de que o Estado<br />

não pode dar maus exemplos.<br />

«Não pode ser o maior<br />

patrão a prazo existente no<br />

nosso País, não pode dar<br />

o mau exemplo que tem<br />

dado de substituir emprego<br />

tão necessário nos serviços<br />

públicos por programas<br />

precários em que os<br />

trabalhadores são miseravelmente<br />

remunerados, não<br />

são reconhecidos enquanto<br />

trabalhadores de pleno<br />

direito, e, no final desses<br />

programas, são lançados<br />

mais uma vez para uma situação<br />

de desemprego, sendo<br />

substituídos por outras<br />

pessoas na mesma situação»,<br />

enfatizou António Filipe.<br />

Eliminar a substituição<br />

de empregos necessários<br />

nos serviços públicos pelas<br />

chamadas medidas activas<br />

de emprego – «uma enorme<br />

indignidade», como foi<br />

classificada pela bancada<br />

comunista –, é assim uma<br />

exigência.<br />

Foi sobretudo realçado<br />

o dever indeclinável do Estado<br />

de «garantir a legalidade<br />

das relações de trabalho»,<br />

bem como de dar<br />

não só o exemplo no público<br />

como de fiscalizar rigorosamente<br />

o cumprimento<br />

da legislação laboral no que<br />

se refere ao sector privado,<br />

para além de garantir<br />

falsos recibos verdes em diversas estruturas<br />

e salas de espectáculos. Instituições onde<br />

a oferta de trabalho é acompanhada de<br />

uma descrição pormenorizada das funções<br />

a desempenhar – local, remuneração e<br />

até fardamento – mas a contratação é sob<br />

o regime de prestação de serviços. Ana<br />

Mesquita, dando exemplos, referiu-se<br />

concretamente ao CCB, ao Teatro Nacional<br />

de São João, Teatro Nacional de S. Carlos,<br />

Teatro Camões e a Serralves.<br />

Exemplo flagrante é ainda o dos<br />

arqueólogos. Não obstante serem tantas<br />

e tantas vezes sujeitos a horários e a local<br />

de trabalho fixos, prestando serviço anos<br />

a fio para as mesmas empresas, muitos<br />

estão condenados ao trabalho a recibo<br />

verde. E por causa disso, observou a<br />

deputada do PCP, «quantos não tiveram<br />

de abandonar a profissão e emigrar,<br />

deixando o País mais pobre e mais vazio».<br />

a efectividade dos direitos<br />

constitucionais e legais de<br />

todos os trabalhadores.<br />

Papel da ACT<br />

A bancada comunista<br />

chamou igualmente a atenção<br />

para a necessidade de<br />

encetar com urgência um<br />

combate implacável aos falsos<br />

recibos verdes, às situações<br />

em que o trabalho<br />

subordinado é encapotado<br />

e em que os trabalhadores<br />

são obrigados a inscrever-<br />

-se como empresários em<br />

nome individual.<br />

Como é igualmente indispensável<br />

que a verificação<br />

dos elementos definidores<br />

do contrato de trabalho<br />

seja prova suficiente<br />

da existência desse contrato<br />

de trabalho e que as situações<br />

de falsos recibos<br />

verdes sejam automaticamente<br />

convertidas e reconhecidas<br />

como contratos<br />

de trabalho com todos os<br />

direitos inerentes.<br />

Também neste plano, como<br />

foi salientado, a Autoridade<br />

para as Condições<br />

de Trabalho (ACT) assume<br />

um papel decisivo. Daí a<br />

exigência de que esta entidade<br />

possa ver reforçados<br />

os seus meios humanos e<br />

repensadas as suas competências<br />

e efectividade das<br />

suas decisões, por forma a<br />

que possam ser dissuasoras.<br />

A reter das posições assumidas<br />

no debate pela bancada<br />

comunista fica ainda<br />

a sua defesa da limitação<br />

da admissibilidade da contratação<br />

a termo, a conversão<br />

de contratos a termo<br />

em contratos permanentes<br />

e a adopção de mecanismos<br />

sancionatórios suficientemente<br />

dissuasores do<br />

recurso à precariedade laboral.


31 -3-201 6<br />

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 1 3<br />

Propostas do PCP<br />

Das iniciativas legislativas do PCP de combate à<br />

precariedade que aguardam por agendamento na AR<br />

fazem parte propostas, de que se destaca as seguintes:<br />

– Transformar a presunção de contrato de trabalho<br />

em prova efectiva da existência de contrato de trabalho;<br />

– Reduzir as situações em que é possível recorrer à<br />

contratação a termo; revogar os contratos especiais<br />

de muito curta duração;<br />

– Reduzir a duração do contrato a termo certo para<br />

o máximo de três anos;<br />

– Impedir o recurso a medidas públicas activas de<br />

emprego, para responder a necessidades permanentes<br />

dos serviços públicos, empresas e outras entidades;<br />

– Estabelecer sanções económicas, fiscais e<br />

contributivas para as entidades patronais que recorram<br />

a formas de contratação precária;<br />

– Adoptar um Plano Nacional de Combate à<br />

Precariedade Laboral;<br />

– Reforçar os meios e competências da ACT.<br />

As más soluções do PSD<br />

Do debate resultou claro que o PSD não tem nenhuma<br />

proposta ou solução para o problema da precariedade<br />

laboral que não seja a prossecução da mesma política<br />

que conduziu à situação actual.<br />

Isso mesmo ficou patente na intervenção do deputado<br />

Pedro Roque, que a toda a espécie de argumentos<br />

recorreu para justificar a precariedade laboral, desde<br />

questões internacionais à economia global, passando<br />

pela União Europeia, pela evolução da nossa economia<br />

ou pela execução orçamental. O que levou António<br />

Filipe, interpelando o deputado laranja, a concluir<br />

que o PSD «não tem mais nada a oferecer que não<br />

seja as más soluções, as más provas dadas da sua<br />

governação».<br />

O futuro suspenso<br />

O recurso ao trabalho temporário e aos recibos verdes<br />

– aos falsos recibos verdes – para assegurar<br />

necessidades permanentes é uma das faces visíveis<br />

dessa chaga que é a precariedade laboral.<br />

A dura realidade de quem – e são centenas de<br />

milhares de trabalhadores – está sujeito a um contrato<br />

de seis meses, de três meses ou até mesmo contratos<br />

de uma semana, vivendo a permanente incerteza de<br />

não saber se o mesmo é renovado, de qual a data do<br />

último salário que levará para casa.<br />

A deputada comunista Diana Ferreira deu o exemplo<br />

concreto do trabalhador de uma multinacional da<br />

indústria alimentar que, contratado por uma empresa<br />

de trabalho temporário e não pela empresa onde<br />

trabalha, «vê os seus contratos renovados até ao limite<br />

para depois ser "mandado" para casa "por uns<br />

tempos", para depois voltar a ser contratado pela<br />

mesma empresa de trabalho temporário, para o mesmo<br />

posto e trabalho, para as mesmas funções que<br />

desempenhava anteriormente».<br />

Recurso a empresas intermediárias – «autênticas<br />

fábricas de exploração», acusou – que é prática<br />

corrente em vários sectores, como o da energia, da<br />

grande distribuição, das telecomunicações, atingindo<br />

inclusive o próprio sector público.<br />

E a este propósito não podem deixar de ser registadas<br />

as palavras sobre esta matéria do ministro do Trabalho,<br />

Solidariedade e Segurança Social e a intenção por si<br />

declarada de proceder a um reforço da ACT, através,<br />

nomeadamente, numa primeira fase, de um concurso<br />

para a colocação de 83 novos inspectores. «Esta é<br />

uma diferença. Este é um caminho distinto daquele<br />

que foi seguido ao longo de vários anos de efectiva<br />

desvalorização da ACT», sublinhou, numa crítica ao<br />

anterior executivo do PSD/CDS.<br />

O que se espera é que as preocupações de Vieira da<br />

Silva tenham tradução em medidas concretas, de<br />

modo a combater a «inaceitável proliferação da<br />

precariedade», foram os votos de Diana Ferreira.<br />

Valorização das longas carreiras contributivas<br />

Um imperativo de justiça<br />

democracia<br />

Mesmo que a carreira contributiva tenha sido<br />

de 40 anos de descontos para a Segurança Social<br />

um desfecho é inevitável para quem pretenda<br />

reformar-se antes dos 65 anos: sofrer<br />

uma pesada redução no valor das suas pensões<br />

É inaceitável<br />

regressar ao<br />

tempo em que se<br />

era obrigado a<br />

trabalhar até ao<br />

limite das forças<br />

.<br />

Actualmente é assim e,<br />

porque se trata de uma situação<br />

manifestamente injusta,<br />

o Grupo Parlamentar<br />

do PCP quis vê-la<br />

alterada. E nesse exacto<br />

sentido apontava o projecto<br />

de lei da sua autoria que<br />

esteve em debate na semana<br />

transacta, iniciativa que<br />

acabou por ser inviabilizada<br />

pelos votos contra do<br />

PSD, CDS e PS.<br />

Com este chumbo da<br />

proposta do PCP que visava<br />

garantir o acesso à reforma<br />

sem penalizações ou<br />

reduções a quem tenha 40<br />

anos de descontos para a<br />

Segurança Social impedida<br />

foi assim a correcção<br />

dessa enorme iniquidade<br />

que é uma pessoa ter uma<br />

longa carreira contributiva<br />

iniciada aos 14, 15, 16<br />

anos – e são milhares os<br />

trabalhadores nestas condições,<br />

muitos deles em<br />

sectores particularmente<br />

desgastantes –, e estar inibida<br />

de se reformar porque<br />

sujeita a brutais penalizações.<br />

A deputada comunista<br />

Rita Rato deu o exemplo<br />

concreto de uma trabalhadora<br />

têxtil que tenha iniciado<br />

a sua vida activa e a<br />

sua contribuição para a Segurança<br />

Social aos 16 anos.<br />

Hoje, depois de 40 anos<br />

de contribuições (e com 56<br />

anos), pode aceder ao regime<br />

de flexibilização uma<br />

vez que tem mais do que<br />

55 anos de idade e 30 de<br />

contribuições.<br />

O que acontece, porém,<br />

é que com a aplicação do<br />

factor de redução há um<br />

«corte de 36 por cento no<br />

valor da pensão desta trabalhadora,<br />

já de si muito<br />

baixa, pois foi construída<br />

com base em descontos sobre<br />

o salário mínimo nacional»,<br />

explicou Rita Rato.<br />

E por este exemplo se<br />

pode ver o alcance e a justeza<br />

da medida preconizada<br />

pelo PCP no seu projecto<br />

de lei e que, basicamente,<br />

visava garantir o<br />

acesso à reforma sem penalizações<br />

ou reduções, independentemente<br />

da idade,<br />

aos trabalhadores com<br />

um mínimo de 40 anos de<br />

carreira contributiva.<br />

Uma medida absolutamente<br />

justa não só pelo respeito<br />

que é devido a estes<br />

trabalhadores que tanto deram<br />

já ao País, como pela<br />

AR aprova voto do PCP<br />

Solidariedade com os presos<br />

políticos saaráuis<br />

Há milhares de trabalhadores que apesar de terem<br />

mais de 40 anos de descontos estão inibidos de se reformar<br />

porque sofrem uma pesada penalização<br />

razão simples de que, como<br />

foi sublinhado, é inaceitável<br />

«regressar ao tempo<br />

em que as pessoas eram<br />

obrigadas a trabalhar até<br />

ao limite das suas vidas e<br />

das suas forças».<br />

Juntamente com o diploma<br />

do PCP esteve em debate<br />

uma petição dinamizada<br />

pela CGTP-IN em<br />

2013, subscrita por mais<br />

de 60 mil cidadãos, insurgindo-se<br />

«contra o roubo<br />

nas pensões e o aumenta<br />

da idade de reforma», na<br />

altura em que o anterior<br />

governo PSD/CDS desferiu<br />

um profundo ataque aos<br />

direitos e à dignidade dos<br />

reformados e pensionistas.<br />

A Assembleia da República aprovou dia 23 um voto<br />

do PCP de solidariedade para com os presos políticos<br />

saaráuis detidos em Marrocos e em greve de fome.<br />

Os dois pontos do voto foram votados em separado, o<br />

primeiro dos quais – onde se apela às autoridades marroquinas<br />

para que libertem os presos políticos saaráuis<br />

– recolheu os votos favoráveis de PS, PCP, PEV, BE e<br />

PAN, contra do PSD e a abstenção do CDS.<br />

No segundo ponto, onde a AR «manifesta o seu apoio<br />

aos esforços para alcançar uma solução justa para o<br />

Saara Ocidental, que passará necessariamente pela efectivação<br />

do direito à autodeterminação do povo saaráui,<br />

de acordo e no respeito das deliberações pertinentes da<br />

ONU, dos princípios da sua Carta e do direito internacional»,<br />

votaram favoravelmente as mesmas bancadas<br />

que haviam aprovado já o ponto anterior, optando PSD<br />

e CDS pelo voto contra.<br />

No texto recorda-se que os 13 presos políticos saaráuis<br />

foram detidos pelas autoridades marroquinas em 2010,<br />

aquando do violento desmantelamento por estas levado<br />

a efeito do «acampamento de protesto de Gdeim Izik<br />

realizado por milhares de saaráuis em defesa dos seus<br />

direitos, incluindo o direito à autodeterminação do povo<br />

saaráui».<br />

Sentenciados com penas de 20 anos de prisão a prisão<br />

perpétua por um tribunal militar, num julgamento<br />

que diversas entidades consideram ferido de ilegalidade<br />

e nulo – denunciado é o «ambiente de coação» que<br />

rodeou a sua realização, «violação de procedimentos, ausência<br />

de apresentação de provas e o facto de se tratar<br />

de uma condenação de civis ditada por um tribunal militar»,<br />

lê-se no voto –, é depois de cinco anos de cativeiro,<br />

e face à «contínua negação dos seus direitos», que<br />

13 dos presos políticos detidos em Gdeim Izik decidem<br />

iniciar a greve de fome exigindo justiça e a sua liberdade<br />

Ȯ voto lembra também que o Secretário-geral da ONU,<br />

em recente visita aos acampamentos de refugiados saaráuis,<br />

sublinhou a necessidade de uma solução política<br />

para o conflito no Saara Ocidental.<br />

Valorizada no texto apresentado pela bancada do PCP<br />

é, por outro lado, a persistente e firme luta protagonizada<br />

desde há quatro décadas pelo povo saaráui «contra a<br />

ilegal ocupação do seu território e pelo respeito e concretização<br />

do seu direito à autodeterminação», objectivo<br />

reconhecido pelas Nações Unidas, que há cerca de 25<br />

anos estabeleceu a Missão das Nações Unidas para o Referendo<br />

no Saara Ocidental.<br />

Por fim, nos seus considerandos, o voto não deixa de<br />

salientar que nos termos da Constituição da República,<br />

«Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação<br />

e independência e ao desenvolvimento, bem como<br />

o direito à insurreição contra todas as formas de<br />

opressão».


14 TRABALHADORES<br />

31-3-2016<br />

Enfermeiros<br />

Um abaixo-assinado<br />

contra a contratação com<br />

vínculos precários no<br />

Centro Hospitalar Lisboa<br />

Central foi posto a circular<br />

pelo Sindicato dos<br />

Enfermeiros Portugueses.<br />

No documento, recorda-se<br />

que a carência de<br />

enfermeiros no CHLC<br />

«há muito é denunciada e<br />

combatida», destacando-se<br />

a greve de 26 de Agosto<br />

de 2014, pela admissão<br />

de mais profissionais e por<br />

horários dignos. A falta de<br />

pessoal de Enfermagem<br />

«provocou a redução do<br />

número de enfermeiros<br />

por turno, a realização<br />

de trabalho extraordinário<br />

programado, centenas<br />

de feriados não gozados,<br />

redução de folgas, o<br />

aumento de ritmos de<br />

trabalho, aumento do<br />

absentismo associado<br />

a acidentes de trabalho,<br />

“burnout”». Perante uma<br />

necessidade permanente,<br />

os postos de trabalho<br />

devem ser ocupados por<br />

enfermeiros com vínculos<br />

efectivos. Reivindica-se<br />

que acabem os contratos<br />

a prazo e que se tornem<br />

efectivos os actuais<br />

vínculos precários.<br />

Sem direito<br />

No mesmo CHLC,<br />

o SEP/CGTP-IN exigiu<br />

anteontem a clarificação<br />

de uma medida de<br />

limitação do direito<br />

à parentalidade. Desde<br />

finais do ano passado,<br />

tem sido usada uma nota<br />

informativa dirigida<br />

às chefias, para negar<br />

o horário flexível a<br />

enfermeiros com filhos até<br />

12 anos de idade. A nota<br />

«não circula livremente<br />

pelos serviços, sendo<br />

apresentada aos visados e<br />

posteriormente recolhida»,<br />

e nela alega-se que o<br />

exercício desse direito<br />

agrava o défice de<br />

funcionamento à tarde, à<br />

noite e ao fim-de-semana.<br />

Alguns enfermeiros,<br />

«sentindo-se pressionados,<br />

acabaram por “aceitar”<br />

o retorno ao horário de<br />

turnos», protestou a<br />

direcção regional de<br />

Lisboa do SEP, que voltou<br />

a defender a contratação<br />

de pessoal.<br />

Sem plano<br />

O pagamento<br />

fraccionado da dívida<br />

aos enfermeiros por horas<br />

de «qualidade» começou<br />

a ser feito pela<br />

administração do CH<br />

Lisboa Ocidental, mas sem<br />

o plano de pagamentos<br />

que esta se comprometeu<br />

há dois anos a apresentar<br />

e que o SEP exige discutir,<br />

para atenuar a penalização<br />

em IRS.<br />

Hoje à tarde, em Lisboa, por emprego com direitos<br />

Juventude sai em luta<br />

Promovida pela CGTP-IN e pela Interjovem, sua<br />

organização autónoma, tem hoje lugar uma manifestação<br />

nacional da juventude trabalhadora, da<br />

Praça Luís de Camões para a Assembleia da República.<br />

A Juventude Comunista<br />

Portuguesa apelou à participação<br />

dos jovens trabalhadores<br />

nesta manifestação,<br />

«exigindo um combate firme<br />

à precariedade, estabilidade<br />

no emprego e aumentos salariais,<br />

condições que permitam<br />

aos jovens construir o<br />

seu futuro no nosso País».<br />

Numa nota divulgada pela<br />

JCP, considera-se que «é<br />

fundamental que nos dias<br />

de hoje a juventude dê continuidade<br />

à luta pelos seus direitos,<br />

seja na escola, seja no<br />

trabalho, exigindo uma vida<br />

digna e pela defesa tudo o<br />

que conquistámos com a Revolução<br />

de Abril».<br />

A propósito da manifestação<br />

comemorar o Dia Nacional<br />

da Juventude, a JCP recorda<br />

que 28 de Março de<br />

1947 foi «um dia representativo<br />

daquela que foi a luta<br />

da juventude contra o fascismo,<br />

pela liberdade, pela paz<br />

e por uma vida melhor». Naquele<br />

dia estavam «milhares<br />

de jovens a participar nos<br />

acampamentos organizados<br />

pelo MUD Juvenil, em Bela<br />

Mandil (Olhão) e em São<br />

Pedro de Moel (Marinha<br />

Grande), aos quais o regime<br />

Uma delegação da CGTP-<br />

-IN, constituída pelo Secretário-geral,<br />

Arménio Carlos,<br />

e por Ana Avoila, Ana<br />

Pires, Deolinda Machado e<br />

Fernando Gomes, membros<br />

da Comissão Executiva do<br />

Conselho Nacional, reuniu-se<br />

na segunda-feira, dia 28, no<br />

centro de trabalho do PCP na<br />

Rua Soeiro Pereira Gomes,<br />

por uma delegação do Partido,<br />

que integrou Jerónimo de<br />

Sousa, Secretário-geral, Francisco<br />

Lopes, Jorge Pires, Patrícia<br />

Machado e Paulo Raimundo,<br />

membros da Comissão<br />

Política do Comité Central.<br />

O encontro foi solicitado<br />

pela Intersindical Nacional,<br />

com o objectivo de apresentar<br />

as conclusões do seu<br />

XIII Congresso e as grandes<br />

linhas da intervenção sindical<br />

ali definidas para os próximos<br />

anos.<br />

Em declarações aos jornalistas,<br />

no final da reunião,<br />

Jerónimo de Sousa realçou<br />

que «há um sentimento de esperança,<br />

que a CGTP-IN assumiu<br />

no seu Congresso, demonstrando<br />

que vale a pena<br />

A juventude<br />

não vergou<br />

à repressão<br />

imposta<br />

pelo fascismo<br />

fascista respondeu com violência».<br />

A data «simboliza a<br />

luta da juventude pela defesa<br />

dos seus direitos» e é «um<br />

dia de luta pelo presente e<br />

pelo futuro».<br />

«Abrir caminho para o futuro»<br />

foi o motivo destacado<br />

pela Interjovem para comparecer<br />

hoje, às 14h30, na<br />

Praça Luís de Camões, «porque<br />

temos direito à habitação,<br />

à saúde e à cultura», «temos<br />

direito a ter um País que produz<br />

e se desenvolve industrialmente,<br />

que aproveita os<br />

recursos naturais para a pesca<br />

e a agricultura, que não<br />

está dependente e subjugado<br />

aos interesses externos». E<br />

também «porque temos direito<br />

a trabalhar e viver em<br />

Portugal, a construir uma<br />

vida no nosso País, com salários<br />

dignos, com estabilidade,<br />

com valorização do<br />

Encontro da CGTP-IN com o PCP<br />

O combate à precariedade de emprego foi um dos temas em discussão na reunião<br />

lutar, vale a pena persistir»,<br />

depois de, particularmente<br />

nos últimos quatro anos, os<br />

trabalhadores portugueses<br />

terem sido «flagelados por<br />

uma política injusta de empobrecimento<br />

e exploração».<br />

«A nova solução política e os<br />

conteúdos do Orçamento do<br />

Estado e de algumas medidas<br />

de valorização do trabalho do<br />

trabalho e dos trabalhadores<br />

constituem um sinal de esperança<br />

para milhões de<br />

trabalho e dos trabalhadores»,<br />

como se afirma numa<br />

nota que foi divulgada no dia<br />

28.<br />

Evocando os acontecimento<br />

de 1947, a Interjovem/<br />

/CGTP-IN realçou que o dia<br />

28 de Março ficou «associado<br />

à luta da juventude, mesmo<br />

nas piores condições de<br />

repressão, por uma vida melhor<br />

dentro do nosso País».<br />

Foi a luta daqueles jovens e<br />

do povo que «levou, após<br />

anos de resistência, à Revolução<br />

de Abril e às conquistas<br />

que ela nos trouxe» e que<br />

são «demasiado valiosas para<br />

serem esquecidas». O 25 de<br />

portugueses que lutaram muito<br />

e resistiram a uma ofensiva<br />

tremenda», assinalou o Secretário-geral<br />

do PCP.<br />

Arménio Carlos reafirmou<br />

que a confederação pugna<br />

por «medidas imediatas para<br />

pôr fim à precariedade»,<br />

que «não pode ser a regra»<br />

nos vínculos laborais, e<br />

também à política de baixos<br />

salários a que ela está associada<br />

e que gera pobreza. O<br />

Secretário-geral da CGTP-IN<br />

É um dia de luta<br />

pelo presente<br />

e pelo futuro<br />

Abril «consagrou o direito à<br />

liberdade e libertou o povo e<br />

a juventude das amarras da<br />

repressão policial e da censura»,<br />

«mas foi mais longe, ao<br />

garantir o direito à greve, à<br />

habitação, à saúde, à cultura<br />

e à livre manifestação» e ao<br />

erguer «pilares fundamentais<br />

da nossa economia»,<br />

como a nacionalização de<br />

sectores estratégicos e a reforma<br />

agrária, e ao assegurar<br />

o salário mínimo nacional e<br />

proclamar o direito ao trabalho<br />

e ao trabalho com direitos,<br />

impondo a estabilidade<br />

de emprego como regra,<br />

referiu a Interjovem.<br />

defendeu que «é preciso responder<br />

aos problemas», pois<br />

a precariedade «já não se limita<br />

aos contratos a prazo» e<br />

«atingiu níveis preocupantíssimos<br />

relativamente a outro<br />

tipo de relações de trabalho».<br />

São necessárias medidas<br />

«que ponham termo a esta<br />

desregulação permanente»,<br />

salientou, lembrando que a<br />

precariedade é também «a<br />

antecâmara do desemprego».<br />

Professores<br />

Têm vínculos precários<br />

mais de 53 mil docentes,<br />

muitos deles em flagrante<br />

situação ilegal, denunciou<br />

a Fenprof, em conferência<br />

de imprensa, dia 28.<br />

A federação salientou que<br />

este problema grave<br />

«afecta docentes, escolas<br />

e qualidade do ensino»<br />

e para ele «urge um<br />

combate decidido»,<br />

citando «a fórmula que<br />

consta da lista de medidas<br />

acordadas entre o partido<br />

do Governo e os que<br />

viabilizaram a actual<br />

solução governativa».<br />

Depois de recordar<br />

«a situação gravíssima que<br />

se vive na Educação, após<br />

quatro anos de destruição<br />

de postos de trabalho e de<br />

direitos laborais e sociais»,<br />

a Fenprof encarou «com<br />

satisfação a inscrição<br />

daquela prioridade no<br />

programa do Governo, não<br />

tendo sido alheio a esse<br />

facto a posição assumida<br />

pelos partidos que lhe dão<br />

apoio parlamentar, como<br />

se confirmou pelas<br />

posições conjuntas que<br />

divulgaram». A federação<br />

decidiu realizar um<br />

levantamento das situações<br />

de precariedade que<br />

afectam os docentes,<br />

e divulgar os dados que<br />

obtiver, para<br />

«consciencializar a opinião<br />

pública para a gravidade<br />

do problema e a<br />

necessidade de ser<br />

resolvido». A Fenprof, que<br />

apelou à participação na<br />

manifestação de hoje,<br />

divulgou dez propostas<br />

concretas, dirigidas ao<br />

governo, grupos<br />

parlamentares, autarquias<br />

e entidades empregadoras<br />

privadas, propondo-se<br />

estabelecer calendários<br />

com vista à sua<br />

negociação.<br />

Artistas<br />

O fim dos recibos<br />

verdes e a sua conversão<br />

em contratos de trabalho,<br />

no âmbito de uma acção<br />

geral de combate à<br />

precariedade, destaca-se<br />

nas medidas defendidas<br />

pelos sindicatos<br />

representativos dos<br />

trabalhadores das áreas<br />

do espectáculo e do<br />

audiovisual, que<br />

divulgaram, no dia 14,<br />

um documento conjunto,<br />

ao qual expressaram<br />

apoio, sob a forma de<br />

abaixo-assinado, cerca de<br />

mil pessoas, entre as quais<br />

diversas personalidades.<br />

É defendida pelos<br />

sindicatos, STE e CENA,<br />

a criação de um regime de<br />

contratação destes<br />

profissionais, que os<br />

enquadre na lei geral do<br />

Trabalho, para criar<br />

estabilidade profissional<br />

e pessoal.


31-3-2016 EM FOCO 15<br />

40 anos da Constituição de Abril<br />

Mais actual<br />

do que nunca<br />

Conquista<br />

de valor<br />

supremo<br />

«As forças reaccionárias<br />

fizeram tudo, sobretudo<br />

nos últimos tempos, para<br />

impedir a aprovação e a<br />

promulgação da<br />

Constituição actual. Porque<br />

viram que a Constituição,<br />

no fim de contas, não<br />

correspondia àquilo que<br />

elas queriam que fosse,<br />

mas, pelo contrário,<br />

consagrou as liberdades e<br />

as conquistas<br />

fundamentais da<br />

Revolução. Consideramos<br />

por isso que é legítimo<br />

considerar a Constituição<br />

agora aprovada e<br />

promulgada como uma<br />

conquista das forças<br />

revolucionárias<br />

portuguesas, do nosso<br />

povo, dos militares de Abril.<br />

(...)<br />

Hoje é um dia importante:<br />

foi aprovada a Constituição<br />

da República Portuguesa.<br />

É uma data que será uma<br />

data histórica porque esta<br />

Constituição é um<br />

instrumento valioso para a<br />

defesa da nossa<br />

democracia».<br />

(Álvaro Cunhal no comício do<br />

PCP realizado em Odivelas no<br />

dia 2 de Abril de 1976, data em<br />

que a Assembleia Constituinte<br />

aprovou a Constituição)<br />

Quarenta anos nos separam da<br />

aprovação em 2 de Abril de<br />

1976 da Constituição da<br />

República Portuguesa, esse<br />

momento marcante – e<br />

seguramente um dos seus pilares<br />

fundadores – do nosso regime<br />

democrático.<br />

Bastaria isso para justificar um<br />

suplemento como é este que o<br />

Avante! dedica à nossa Lei<br />

Fundamental.<br />

A Constituição acolheu e consagrou<br />

as aspirações, a participação,<br />

intervenção e conquistas dos<br />

trabalhadores, tudo o que de<br />

melhor e fundamental foi<br />

conquistado pelo povo português<br />

na gesta libertadora que foi a<br />

Revolução democrática do 25 de<br />

Abril, esse processo em que as<br />

massas populares intervieram com a<br />

sua força criadora lado a lado com<br />

os gloriosos capitães de Abril.<br />

Como texto «democrático e<br />

avançado» que é – assim o define o<br />

PCP desde a primeira hora –,<br />

também por isso sobre ele recaíram<br />

os mais violentos ataques de quem<br />

nunca suportou o irromper da<br />

liberdade, nunca se conformou com<br />

as parcelas de domínio perdido,<br />

nunca perdoou as conquistas e<br />

avanços revolucionários.<br />

E foi assim que em sucessivas<br />

vagas, pela mão do PSD e do CDS,<br />

com a cobertura quando não<br />

empenhamento do PS, procuraram<br />

em sete revisões constitucionais<br />

empobrecê-la, mutilá-la, esvaziar-<br />

-lhe o seu conteúdo emancipador<br />

em todas as esferas da vida. Travar<br />

o seu sentido transformador na<br />

direcção de uma sociedade de<br />

progresso, mais livre e justa, foi<br />

sempre, afinal, o grande objectivo<br />

que animou os percursores dos<br />

processo de revisão constitucional.<br />

E no entanto, apesar dos golpes<br />

sofridos, de vilipendiada, da<br />

desfiguração de que foi alvo, a<br />

Constituição resistiu e continua a<br />

ser portadora de um projecto de<br />

democracia que «coloca, como<br />

indissociáveis, as suas vertentes<br />

política, económica, social e<br />

cultural, aliadas à defesa da<br />

soberania e independência<br />

nacionais», como sublinhou o<br />

Secretário-geral do PCP, Jerónimo<br />

de Sousa, na entrevista que<br />

concedeu ao Avante! por ocasião do<br />

30.º aniversário da Constituição.<br />

É essa matriz consagradora de um<br />

regime de amplas liberdade e<br />

Dia memorável<br />

direitos – que perdura intacta e é<br />

capaz de resistir à erosão do tempo<br />

– que faz da Constituição um texto<br />

avançadíssimo e, porventura, mais<br />

actual do que nunca. Porque,<br />

enquanto referente de valores e<br />

princípios, transporta em si a força<br />

inspiradora de um projecto<br />

galvanizante como é a construção<br />

de um Portugal livre e democrático,<br />

de progresso e justiça social.<br />

Não foi só a aprovação da Constituição pelos deputados constituintes que fez da sessão de<br />

2 de Abril de 1976 uma data e um momento históricos. Para lá da atmosfera em que os<br />

trabalhos decorreram – por duas vezes os constituintes cantaram o hino nacional e não<br />

faltaram os vivas à II República –, a conferir ao acontecimento um carácter ainda mais<br />

excepcional esteve a própria promulgação, nesse mesmo dia, à noite – em S. Bento e não<br />

em Belém –, da Lei Fundamental pelo Presidente da República.<br />

«Foi uma decisão da mais alta importância com a qual o Presidente Costa Gomes prestou<br />

um notável serviço à democracia e ao País», viria a sublinhar Álvaro Cunhal na sua obra<br />

«A Revolução Portuguesa, o passado e o futuro».<br />

Essa promulgação, num acto<br />

contínuo à aprovação do texto<br />

constitucional, funcionou como<br />

medida preventiva face ao clima de<br />

conspiração, intriga e agitação<br />

antidemocrática das forças<br />

reaccionárias, que, vendo gorada a<br />

sua tentativa de instrumentalizar a<br />

Constituição e de a pôr ao serviço<br />

da contra-revolução, passaram a<br />

fazer tudo para a denegrir, exigindo,<br />

inclusivamente, que fosse submetida<br />

a referendo.


16 31-3-2016<br />

Força inspiradora<br />

Constituição<br />

da República<br />

Prêambulo<br />

A 25 de Abril de 1974, o<br />

Movimento das Forças Armadas,<br />

coroando a longa resistência do<br />

povo português e interpretando<br />

os seus sentimentos profundos,<br />

derrubou o regime fascista.<br />

Libertar Portugal da ditadura,<br />

da opressão e do colonialismo<br />

representou uma transformação<br />

revolucionária e o início de uma<br />

viragem histórica da sociedade<br />

portuguesa.<br />

A Revolução restituiu<br />

aos portugueses os direitos<br />

e liberdades fundamentais.<br />

No exercício destes direitos<br />

e liberdades, os legítimos<br />

representantes do povo reúnem-se<br />

para elaborar uma Constituição<br />

que corresponde às aspirações<br />

do País.<br />

A Assembleia Constituinte<br />

afirma a decisão do povo<br />

português de defender a<br />

independência nacional, de<br />

garantir os direitos<br />

fundamentais dos cidadãos, de<br />

estabelecer os princípios<br />

basilares da democracia, de<br />

assegurar o primado do Estado<br />

de Direito democrático e de abrir<br />

caminho para uma sociedade<br />

socialista, no respeito da<br />

vontade do povo português,<br />

tendo em vista a construção de<br />

um país mais livre, mais justo e<br />

mais fraterno.<br />

A Assembleia Constituinte,<br />

reunida na sessão plenária de 2<br />

de Abril de 1976, aprova e<br />

decreta a seguinte Constituição<br />

da República Portuguesa...<br />

Aideia de que «Portugal tem futuro<br />

com a Constituição de Abril» é,<br />

seguramente, uma das que<br />

melhor exprime o sentido aglutinador e<br />

de progresso, a confiança, a força<br />

colectiva que emana da Lei<br />

Fundamental, texto indissolúvel da<br />

Revolução do 25 de Abril e que assume<br />

ter por horizonte a construção de uma<br />

sociedade melhor, mais justa e solidária.<br />

Não obstante a continuada ofensiva<br />

contra os direitos e as conquistas<br />

alcançadas pelos trabalhadores e o povo,<br />

a verdade é que as forças reaccionárias<br />

nunca conseguiram suprimir um<br />

«conjunto de princípios e normas» que<br />

são garante e «dão suporte a um<br />

verdadeiro projecto de desenvolvimento<br />

soberano do País».<br />

Em Abril de 2014, intervindo na<br />

iniciativa de aniversário da Constituição,<br />

Jerónimo de Sousa constatava essa<br />

realidade e destacava o facto de aquelas<br />

forças não terem conseguido apagar o<br />

«projecto de democracia avançada que a<br />

Constituição da República projecta para<br />

o futuro de Portugal».<br />

Mais, lembrava o Secretário-geral do<br />

PCP, a Constituição continua a ser «das<br />

mais progressistas da Europa», onde se<br />

inscrevem «importantes direitos políticos,<br />

económicos, sociais e culturais», nela<br />

subsistindo os princípios da soberania<br />

popular, «visando a realização da<br />

democracia económica, social e cultural<br />

e o aprofundamento da democracia<br />

participativa».<br />

Normas e princípios que se entretecem<br />

Constituição respira Abril<br />

Interveniente activo no processo de construção da<br />

Constituição, pela acção dos seus deputados<br />

constituintes, o PCP destacou-se nestes 40 anos por<br />

ser a força política que mais cerrou fileiras<br />

(procurando a convergência com outras forças e<br />

sectores democráticos) em defesa da Lei Fundamental<br />

e que corajosa e empenhadamente se opôs a todas as<br />

iniciativas que visaram a sua desfiguração e<br />

empobrecimento.<br />

Batalhas travadas em todas as frentes, nos planos<br />

institucional e da luta de massas, em defesa de Abril e<br />

da Constituição, contra os ataques dos que ao serviço dos<br />

interesses monopolistas apostavam na desforra e em fazer<br />

regredir as conquistas da Revolução.<br />

Uma acção sem paralelo em defesa<br />

das liberdades e dos direitos que<br />

teve expressão pública de<br />

múltiplas formas e maneiras. Com<br />

uma motivação: chegar às pessoas,<br />

fosse por campanhas e acções de<br />

sensibilização, sessões, debates,<br />

folhetos, cartazes, exposições, ou<br />

pelas páginas do Avante!. Sempre<br />

com o mesmo objectivo: debater,<br />

esclarecer, mobilizar. Com a<br />

Constituição. Por Abril.<br />

num todo coerente, que acolhe e garante<br />

as mais amplas liberdades e direitos,<br />

sempre num horizonte de justiça social e<br />

progresso, elevando a nossa Lei<br />

Fundamental à categoria de um corpo<br />

único de valores que comporta em si a<br />

força de um projecto de futuro. Como<br />

adiante se verá. O que explica, aliás, a<br />

razão pela qual é tão atacada e suscita<br />

tanto ódio e raiva por parte das classes<br />

dominantes.<br />

Princípios fundamentais<br />

Em matéria de relações internacionais,<br />

por exemplo, o texto constitucional<br />

afirma que Portugal se rege, entre outros<br />

dispositivos, pelo respeito dos direitos<br />

humanos, dos direitos dos povos, da<br />

igualdade entre os estados, da solução<br />

pacífica dos conflitos. E preconiza a<br />

abolição do imperialismo, do<br />

colonialismo e de todas as formas de<br />

agressão, nela se defendendo<br />

simultaneamente o desarmamento geral e<br />

a dissolução dos blocos político-militares.<br />

Já no plano das tarefas fundamentais<br />

do Estado, é expresso o propósito de<br />

«promover o bem-estar e a qualidade de<br />

vida do povo e a igualdade real entre os<br />

portugueses, bem como a efectivação dos<br />

direitos económicos, sociais, culturais e<br />

ambientais».<br />

«Todos os cidadãos têm a mesma<br />

dignidade social e são iguais perante a<br />

lei», proclama a Constituição no plano<br />

dos direitos, liberdades e garantias,<br />

onde vários artigos asseguram, por<br />

exemplo, o direito de todos à Justiça, o<br />

direito à vida – «a vida humana é<br />

inviolável», diz o artigo 24.º –, o direito à<br />

liberdade e à segurança. Como<br />

garantidas são a liberdade de imprensa,<br />

o direito de reunião e manifestação, ou a<br />

liberdade de associação.<br />

Direitos inalienáveis<br />

Em matéria de direitos económicos,<br />

sociais e culturais, no texto<br />

constitucional pode ler-se que «todos têm<br />

direito ao trabalho», cabendo ao Estado,<br />

para cumprir tal desígnio, a «execução de<br />

políticas de pleno emprego». Outros<br />

direitos dos trabalhadores têm<br />

igualmente consagração constitucioal,<br />

como sejam à retribuição justa, à<br />

«prestação do trabalho em condições de<br />

higiene, segurança e saúde, à conciliação<br />

da vida profissional com a vida familiar,<br />

«ao repouso e aos lazeres».<br />

Não menos relevantes são outros direitos<br />

e deveres sociais que a Constituição<br />

consagrou, como o direito à segurança<br />

social e à saúde (este por via de um<br />

Serviço Nacional de Saúde universal,<br />

geral e tendencialmente gratuito), o<br />

direito a uma habitação condigna, o<br />

direito a um ambiente ecologicamente<br />

sustentável, à protecção da família, à<br />

protecção da maternidade e da<br />

paternidade, do direito à educação e à<br />

cultura, assegurando a gratuitidade do<br />

ensino na escolaridade obrigatória e o<br />

seu carácter progressivamente gratuito<br />

nos restantes graus de ensino.


EM FOCO<br />

17<br />

de futuro<br />

Ao serviço das pessoas<br />

A «subordinação do poder económico<br />

ao poder político democrático» é uma<br />

das disposições que figura no domínio<br />

da organização económica, área onde<br />

a Constituição continua a atribuir ao<br />

Estado importantes missões e de<br />

carácter prioritário, como sejam a de<br />

elevar o bem-estar social e económico, a<br />

qualidade de vida das pessoas, a justiça<br />

social e a garantia da igualdade de<br />

oportunidades, bem como a coesão<br />

económica e social de todo o território.<br />

Destaque também para a garantia que é<br />

dada à coexistência de três sectores de<br />

propriedade dos meios de produção<br />

(público, privado e cooperativo e social)<br />

e, noutro aspecto, para a imposição de<br />

que o investimento estrangeiro seja<br />

disciplinado em ordem a desenvolver o<br />

País, defender a soberania e os<br />

interesses dos trabalhadores.<br />

Dispositivos constitucionais para o<br />

aumento da produção na agricultura e<br />

na indústria, bem como para o «apoio<br />

às pequenas e médias empresas»,<br />

encontram-se no articulado do texto<br />

constitucional no capítulo das políticas<br />

agrícola, comercial e industrial,<br />

ressaltando, na área financeira e<br />

fiscal, entre os objectivos desta, uma<br />

«repartição justa dos rendimentos e da<br />

riqueza», visando o IRS, em particular,<br />

a «diminuição das desigualdades».<br />

Organização do poder político<br />

No que toca à organização do poder<br />

político, a Constituição afirma, logo à<br />

partida, que o poder pertence ao povo,<br />

sendo garantida a separação e<br />

interdependência entre os órgãos de<br />

soberania. Garantida pelos comandos<br />

constitucionais é a independência dos<br />

tribunais (sujeitos apenas à Lei), e a<br />

autonomia do Ministério Público, com o<br />

Direitos laborais<br />

No plano dos direitos dos trabalhadores a Constituição não é neutra e<br />

assume de forma inequívoca a sua defesa, ou seja, toma partido por aquela<br />

que é a parte mais desprotegida na relação laboral.<br />

E tanto assim é que lhes conferiu dignidade e os incluiu no Título dos<br />

«Direitos, Liberdades e garantias», dedicando-lhes um capítulo – Capítulo III<br />

– Direitos, Liberdades e Garantias dos Trabalhadores, onde se encontram<br />

vertidos ao longo de cinco artigos, entre outros aspectos, a garantia da<br />

segurança no emprego, os direitos de intervenção das comissões de<br />

trabalhadores na vida das empresas, a liberdade sindical como forma de<br />

assegurar a construção da unidade dos trabalhadores na defesa dos seus<br />

interesses, o direito do exercício de actividade sindical nas empresas, os<br />

direitos das associações sindicais (nomeadamente quanto à contratação<br />

colectiva), o direito à greve e a proibição do lock-out.<br />

seu estatuto próprio.<br />

No que se refere à organização do<br />

Estado, o texto constitucional consagra<br />

a existência das autonomias regionais,<br />

do poder local democrático, das regiões<br />

administrativas.<br />

Uma administração pública ao serviço<br />

do interesse público, desburocratizada e<br />

próxima das populações é o que<br />

determina outro dispositivo<br />

constitucional, sendo, ainda, num outro<br />

artigo, conferido aos cidadãos o «direito<br />

de ser informados pela administração».<br />

No que se refere à democracia<br />

participativa, a Constituição dedica um<br />

capítulo às organizações de moradores,<br />

reconhecendo a existência de<br />

Comissões de Moradores como forma<br />

de organização de base do poder local,<br />

com direito de petição perante as<br />

autarquias locais quanto a assuntos do<br />

seu interesse.<br />

Direitos, liberdades<br />

e garantias<br />

Nunca, muito provavelmente, a Constituição foi tão vilipendiada e sujeita<br />

a uma tão dura prova de fogo como nos últimos quatro anos de governo<br />

PSD/CDS, tais foram os ataques e violações dirigidos à Lei<br />

Fundamental pela acção política daqueles partidos, visando subvertê-la,<br />

fragilizá-la.<br />

Esses ataques tiveram nos trabalhadores, reformados, as classes e camadas não<br />

monopolistas da população em geral o seu alvo preferencial – esse é mesmo o<br />

traço comum que desponta em todos eles – o que em si mesmo é revelador da<br />

importância da Constituição e do que ela verdadeiramente representa e<br />

comporta na sua dimensão inigualável de texto soberano no qual estão inscritos<br />

os direitos, liberdades e garantias dos portugueses.<br />

O governo do PSD e do CDS actuou quase sempre à margem da Constituição e<br />

até, em bom rigor, em assumido confronto com a mesma. Os efeitos da sua<br />

política sobre a vida das pessoas e do País foram terríveis. E só não foram mais<br />

devastadores porque a isso se opôs a luta organizada dos trabalhadores, das<br />

populações e de quem – como o PCP – sempre esteve ao lado de ambos.<br />

No seguimento da luta o próprio Tribunal Constitucional acabou por intervir<br />

travando medidas particularmente negativas.<br />

Ataques sofrem reveses<br />

O primeiro revés constitucional da<br />

maioria PSD/CDS foi o chumbo da<br />

suspensão do pagamento do subsídio<br />

de férias ou de Natal a funcionários<br />

públicos e pensionistas, medida<br />

incluída logo no Orçamento do Estado<br />

para 2012.<br />

Posteriormente, num contexto da<br />

grande luta de massas travada em<br />

defesa da Constituição da República<br />

Portuguesa e contra as suas sucessivas<br />

violações, referindo-se ao OE de<br />

2013, conclui o Tribunal<br />

Constitucional (TC) que a suspensão<br />

do subsídio de férias no sector público<br />

mantém a desigualdade já verificada<br />

no parecer relativo ao OE do ano<br />

anterior. E chumba, além desse artigo,<br />

outros três, relacionados com a sua<br />

aplicação aos contratos de docência,<br />

com a suspensão do pagamento de 90<br />

por cento do subsídio de férias a<br />

aposentados e reformados (por<br />

violação do princípio da igualdade) e<br />

com taxas sobre o subsídio de<br />

desemprego e por doença (por<br />

violação do princípio da<br />

proporcionalidade).<br />

Em 2014 o TC volta a chumbar três<br />

dos quatro artigos em análise, a<br />

pedido de deputados das oposições,<br />

incluindo os cortes dos salários dos<br />

funcionários públicos acima dos 675<br />

euros. Os outros artigos considerados<br />

inconstitucionais foram o que aplicava<br />

taxas de cinco por cento sobre o<br />

subsídio de doença e de seis por cento<br />

sobre o subsídio de desemprego e o<br />

que alterava o cálculo das pensões de<br />

sobrevivência. Além destas normas,<br />

recorde-se, o TC já se havia<br />

pronunciado contra outros diplomas<br />

com impacto orçamental, como o<br />

regime jurídico da requalificação dos<br />

trabalhadores da administração<br />

pública, alterações ao Código do<br />

Trabalho e a convergência de pensões.<br />

Os direitos dos trabalhadores foram<br />

assim o alvo privilegiado dos golpes de<br />

PSD e CDS, como aconteceu quando<br />

prolongaram o não pagamento do<br />

trabalho extraordinário, quando<br />

alteraram para pior o Código do<br />

Trabalho com vista à facilitação dos<br />

despedimentos e seu<br />

embaratecimento, quando procederam<br />

a cortes no valor do trabalho<br />

suplementar, ou quando atacaram a<br />

contratação colectiva – direito<br />

fundamental dos trabalhadores<br />

reconhecido pela Constituição –,<br />

pretendendo, dessa forma, agravar a<br />

exploração de quem trabalha. Sabiam<br />

PSD e CDS, que por essa via,<br />

simultaneamente, atacavam os<br />

sindicatos, ou seja, a democracia,<br />

atendendo a que a contratação<br />

colectiva é uma peça central da acção<br />

sindical.<br />

Escalada<br />

Mas os ataques ao regime democrático<br />

ocorreram também quando PSD e<br />

CDS tentaram transferir para o TC as<br />

suas próprias responsabilidades pelas<br />

medidas e política inconstitucionais,<br />

numa linha litigante com aquele órgão<br />

de soberania, comprometendo o<br />

regular funcionamento das instituições.<br />

E não deve ser esquecido que o<br />

governo PSD/CDS, na sua reiterada<br />

violação da Constituição chegou a<br />

tentar impor uma espécie de estado de<br />

excepção constitucional não declarado<br />

e até a defender sanções jurídicas para<br />

os juízes do TC que tivessem a ousadia<br />

de decidir contra a vontade do<br />

executivo.


18 EM FOCO<br />

31-3-2016<br />

Revisões constitucionais<br />

Os direitos estão cá!<br />

Cronologia<br />

1982 – Extinção do<br />

Conselho da Revolução;<br />

diminuição de poderes do<br />

Presidente da República;<br />

criação do Tribunal<br />

Constitucional.<br />

1989 – Esvaziamento dos<br />

limites materiais, com o fim<br />

da irreversibilidade das<br />

nacionalizações e do<br />

«princípio da apropriação<br />

colectiva dos principais<br />

meios de produção e solos»;<br />

eliminação de referência à<br />

Reforma Agrária.<br />

1992 – Adaptação do texto<br />

constitucional aos princípios<br />

do Tratado de Maastricht.<br />

1997 – Redução do<br />

número de deputados e<br />

admissão de círculos<br />

uninominais;<br />

constitucionalização de<br />

limitações do direito à<br />

greve; eliminação da<br />

referência à obrigatoriedade<br />

do serviço militar.<br />

2001 – Adaptação para<br />

aprovar Convenção que<br />

criou o Tribunal Penal<br />

Internacional, tornando<br />

possível a extradição de<br />

portugueses.<br />

2004 – Introdução de<br />

artigo com norma que<br />

subordina a legislação<br />

portuguesa, incluindo a<br />

própria Constituição, ao<br />

direito comunitário;<br />

aprofundamento da<br />

autonomia políticoadministrativa<br />

das regiões<br />

autónomas dos Açores e<br />

Madeira.<br />

2005 – Aditamento de<br />

novo artigo para possibilitar<br />

a realização de referendo<br />

sobre a aprovação da mal<br />

chamada «Constituição<br />

Europeia».<br />

Éna revisão de 1989, com<br />

o cavaquismo imperante<br />

e o PS enredado nas suas<br />

cedências, que a Constituição<br />

sofre um dos mais violentos<br />

ataques. Atingida é sobretudo<br />

a área económica, embora os<br />

estragos se tenham feito sentir<br />

também no campo social.<br />

São eliminados o princípio da<br />

irreversibilidade das<br />

nacionalizações (estabelecendo<br />

a reprivatização da titularidade<br />

ou de direitos de exploração<br />

dos meios de produção e<br />

outros bens nacionalizados) e<br />

a referência constitucional à<br />

Reforma Agrária<br />

(a transferência da posse útil<br />

da terra aos que nela<br />

trabalham através da<br />

expropriação dos latifúndios e<br />

explorações capitalistas).<br />

Marca negativa que ficou desta<br />

segunda revisão constitucional<br />

foi também a introdução do<br />

carácter tendencialmente<br />

gratuito do Serviço Nacional<br />

de Saúde (SNS), expediente<br />

usado para abrir a porta às<br />

taxas moderadoras. Desde aí o<br />

custo suportado pelos utentes<br />

foi sempre a aumentar,<br />

desmentindo a garantia de PS<br />

Horizonte de progresso<br />

«Num quadro em que o exercício dos direitos emerge como questão essencial,<br />

a Constituição da República não só constitui um factor de condicionamento<br />

da ofensiva e de legitimação da luta em sua defesa como mantém no seu<br />

texto, apesar de sucessivas revisões, princípios e disposições susceptíveis de<br />

constituírem orientação para políticas económicas e sociais capazes de, pela<br />

mão de um governo patriótico e de esquerda, retomar soluções e perspectivas<br />

de dimensão democrática e de progresso social.»<br />

(Da Resolução Política aprovada no XIX Congresso do PCP, em Dezembro<br />

de 2012)<br />

e PSD de que o «tendencial»<br />

apontaria para a gratuitidade.<br />

Mas sendo verdade que a<br />

Constituição sofreu ao longo<br />

dos processos de revisão fortes<br />

investidas que a mutilaram em<br />

domínios essenciais no plano<br />

económico, por acção das<br />

forças políticas que em<br />

sucessivos governos<br />

executaram a política de<br />

direita, agindo inclusivamente<br />

à margem da lei (por violação,<br />

omissão ou não efectivação do<br />

preceituado na Lei<br />

Fundamental), é igualmente<br />

um facto indesmentível que as<br />

forças mais conservadoras no<br />

plano dos direitos dos<br />

trabalhadores e na área social<br />

nunca conseguiram, como<br />

pretendiam, levar a água ao<br />

seu moinho. Apesar de todas<br />

as tentativas – e foram várias<br />

–, e não obstante aqui ou ali<br />

terem feito mossa, o que é<br />

indesmentível é que os direitos<br />

não foram eliminados, estão<br />

cá, são elementos constitutivos<br />

do regime democrático como o<br />

direito ao trabalho com<br />

direitos, o direito à saúde, ao<br />

ensino, à segurança social, à<br />

justiça social.<br />

Uma história<br />

de ataques<br />

e resistência<br />

Eleitos a 25 de Abril de 1975 por sufrágio directo e<br />

universal, na primeira e mais concorrida eleição<br />

livre em Portugal (91% dos cidadãos recenseados),<br />

os 250 deputados constituintes tiveram como única e<br />

exclusiva missão redigir a Constituição, tarefa que viria a<br />

estar concluída dez meses depois com a sua aprovação a 2<br />

de Abril de 1976.<br />

Saída da Revolução de Abril, a Constituição rompeu<br />

com a concepção anterior do Estado fascista e<br />

implantou um regime baseado na soberania popular, no<br />

pluralismo de expressão e organização política<br />

democrática, no respeito e na garantia de efectivação<br />

dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e<br />

interdependência de poderes, visando a realização da<br />

democracia económica, social e cultural e o<br />

aprofundamento da democracia participativa.<br />

Desde então, foram sete os processos de revisão a que a<br />

Lei Fundamental foi<br />

sujeita. Subjacente, em<br />

todos eles, o intuito das<br />

forças conservadoras de<br />

esvaziar o seu sentido<br />

avançado e emancipador<br />

através de alterações que<br />

representaram uma linha<br />

de regressão e retrocesso<br />

em aspectos fulcrais das<br />

conquistas democráticas,<br />

sociais e políticas obtidas<br />

pelo povo português após<br />

a Revolução do 25 de<br />

Abril.<br />

Todas as revisões – pelo<br />

conteúdo e pela forma –<br />

foram assim, no<br />

essencial, executadas sob<br />

o impulso não do<br />

aperfeiçoamento e<br />

melhoria da Constituição<br />

mas do seu<br />

empobrecimento,<br />

amputando-a de<br />

elementos centrais da<br />

nova estrutura económica criada com a Revolução e de<br />

direitos sociais e laborais.<br />

Como sublinhava Jerónimo de Sousa em entrevista ao<br />

Avante! por ocasião do 30.º aniversário da Constituição<br />

(30/3/2006), aludindo às revisões constitucionais<br />

negociadas entre o PS e o PSD, com o apoio do CDS,<br />

«aquilo que teve uma perspectiva estratégica foi de facto<br />

a liquidação da nova estrutura económica criada com a<br />

Revolução – isso é que era determinante, a devolução<br />

do poder económico ao grande capital – para de<br />

seguida, obviamente, com as revisões, sobretudo na de<br />

1997, dirigir o ataque contra os direitos dos<br />

trabalhadores, designadamente o direito à greve (através<br />

da chamada criação dos serviços mínimos)».


31-3-2016 TRABALHADORES<br />

19<br />

Por melhores salários e mais justiça<br />

Páscoa em greve<br />

Na Carristur, nos CTT, na Servirail e em hotéis<br />

do Algarve, os trabalhadores passaram a<br />

Páscoa em luta, com greves e acções de rua,<br />

para exigirem aumentos salariais e mais justiça<br />

na distribuição da riqueza criada.<br />

Mesmo com lucros<br />

muito elevados, as<br />

empresas insistem<br />

em agravar a<br />

exploração<br />

No dia 24, quinta-feira,<br />

os trabalhadores da Servirail,<br />

empresa do Grupo<br />

Newrest que assegura serviços<br />

de bar e restaurante<br />

em comboios, sob a marca<br />

Latitudes, fizeram greve praticamente<br />

a cem por cento<br />

(apenas não aderiu uma trabalhadora,<br />

como referiu o<br />

Sindicato da Hotelaria do<br />

Norte) e reuniram-se nas<br />

estações de Campanhã, no<br />

Porto, e de Santa Apolónia,<br />

em Lisboa. Foi confirmada<br />

a realização de outro<br />

dia de greve, na segundafeira,<br />

28, que veio a ter um<br />

nível de adesão idêntico,<br />

como já tinha sucedido no<br />

dia 4.<br />

A par de aumento dos<br />

salários, a luta tem por objectivos<br />

reivindicar o pagamento<br />

de subsídios em atraso<br />

e do subsídio de refeição<br />

retirado, respeito pelos<br />

horários de trabalho,<br />

incluindo o regime de folgas<br />

no armazém, a publicação<br />

do Acordo de Empresa<br />

em vigor e, em geral,<br />

respeito pelos direitos<br />

– como foi referido nas informações<br />

da Fesaht/CGTP-<br />

-IN e dos sindicatos.<br />

Com o sector de hotelaria<br />

e turismo a bater recordes<br />

sucessivos nos seus resultados<br />

anuais desde 2012,<br />

os trabalhadores das unidades<br />

hoteleiras e campos<br />

de golfe do Grupo JJW no<br />

Algarve fizeram greve no<br />

dia 25, Sexta-feira Santa,<br />

assim destacando o seu protesto<br />

contra o roubo patronal<br />

no pagamento do trabalho<br />

suplementar e em dias<br />

feriados.<br />

Durante uma concentração,<br />

ao final da manhã, em<br />

Vale do Lobo, frente ao<br />

Hotel Dona Filipa, foi aprovada<br />

e entregue à direcção<br />

da filial portuguesa da multinacional<br />

uma moção, afirmando<br />

que os trabalhadores<br />

perderam 12 por cento<br />

do poder de compra, só nos<br />

últimos quatro anos de governo<br />

PSD/CDS, enquanto<br />

os seus salários não são aumentados<br />

há cerca de dez<br />

anos. Na ocasião, o coordenador<br />

do Sindicato da<br />

Hotelaria do Algarve disse<br />

à agência Lusa que a negação<br />

de actualização salarial<br />

é generalizada neste<br />

sector e provoca descontentamento<br />

em toda a região.<br />

No dia 24, trabalhadores<br />

do Crowne Plaza, em Vilamoura,<br />

distribuíram aos<br />

clientes um comunicado a<br />

denunciar a falta de aumentos<br />

salariais há oito<br />

anos e a recusa patronal a<br />

pagar o trabalho suplementar<br />

prestado em anos anteriores.<br />

Também por aumentos<br />

de salários, de forma a repor<br />

o poder de compra, e<br />

Frente ao Hotel Dona Filipa concentraram-se trabalhadores<br />

do Grupo JJW<br />

Na Praça da Figueira reuniram-se durante a greve trabalhadores<br />

da Carristur<br />

Foto Lusa<br />

pela negociação do contrato<br />

colectivo sem perda de<br />

direitos, tinha decorrido já<br />

no dia 21, frente à sede da<br />

associação patronal APH-<br />

ORT, no Porto, uma concentração<br />

com mais de uma<br />

centena de dirigentes e delegados<br />

sindicais da hotelaria,<br />

restauração, bebidas<br />

e similares. Foi aí manifestado<br />

apoio a uma jornada<br />

nacional de luta neste sector,<br />

que terá lugar no dia<br />

5 de Abril.<br />

Privado... e público<br />

Teve «níveis de adesão<br />

fortíssimos, superiores a 90<br />

por cento», a greve na Carristur,<br />

nos dias 25, 26 e<br />

27, como referem a Fectrans/CGTP-IN<br />

e o Sindicato<br />

dos Trabalhadores dos<br />

Transportes Rodoviários e<br />

Urbanos de Portugal, num<br />

comunicado de terça-feira,<br />

29. A luta, pelo pagamento<br />

de salários de acordo com<br />

o contrato colectivo do sector<br />

privado, assinado com<br />

a Antrop, inclui ainda a realização<br />

de paralisações parciais<br />

no dia 24 e entre 28<br />

de Março e 1 de Abril. Foi<br />

decidido efectuar ontem uma<br />

concentração junto do Ministério<br />

do Trabalho, para<br />

exigir a intervenção do Governo<br />

na resolução deste<br />

conflito.<br />

Ao ministro do Ambiente<br />

foi dirigida, dia 24, uma<br />

pergunta do deputado comunista<br />

Bruno Dias, reclamando<br />

medidas para impedir<br />

as ilegalidades da administração.<br />

Há anos que<br />

a Carristur optou por aplicar<br />

o contrato do sector privado,<br />

cujas tabelas salariais<br />

não eram revistas desde<br />

1997; o contrato foi negociado<br />

no final de 2015,<br />

com melhorias, e a Carristur<br />

pagou pelos novos valores<br />

em Janeiro. No mês<br />

seguinte voltou a aplicar os<br />

valores antigos, alegando<br />

que tal resulta de ser uma<br />

empresa pública.<br />

Além desta estratégia de<br />

contenção dos salários, na<br />

pergunta foi também reflectida<br />

a denúncia sindical<br />

de violação da lei da<br />

greve, porque motoristas<br />

da Carris foram chamados<br />

para substituir grevistas.<br />

Após a concentração de<br />

dia 24 e o plenário de dia<br />

25, na Praça da Figueira,<br />

os trabalhadores desfilaram<br />

na baixa lisboeta, distribuindo<br />

comunicados em<br />

quatro línguas sobre a luta.<br />

Na STCP, os dias 25 e<br />

27 foram abrangidos por<br />

uma greve contra o corte<br />

de 50 por cento da remuneração<br />

das horas trabalhadas<br />

em feriados.<br />

Prémio é o outro<br />

Em Cabo Ruivo,<br />

no arranque da<br />

greve dos CTT, o<br />

Secretário-geral da<br />

CGTP-IN, Arménio<br />

Carlos esteve com<br />

o piquete<br />

Na estação de Campanhã manifestaram-se trabalhadores<br />

da Servirail em greve<br />

Na estação de Santa Apolónia, os trabalhadores da Servirail<br />

receberam a solidariedade de Rita Rato, deputada do<br />

PCP<br />

Com a Páscoa perturbada<br />

pelas manobras e pressões<br />

«informais» para os<br />

dissuadir da opção de luta,<br />

os trabalhadores das empresas<br />

do Grupo CTT entraram<br />

em greve às zero<br />

horas de segunda-feira, dia<br />

28, com uma adesão superior<br />

a 75 por cento. A luta<br />

foi convocada pelo sindicato<br />

com maior representatividade<br />

e o único que recusou<br />

a proposta final da<br />

administração, no dia 23.<br />

Para o Sindicato Nacional<br />

dos Trabalhadores dos Correios<br />

e Telecomunicações,<br />

tal proposta foi «ofensiva»,<br />

com «aumentos de miséria»<br />

(entre 33 e 47 cêntimos<br />

por dia, resultado de<br />

um aumento mínimo de dez<br />

euros e 1,3 por cento, 0,9<br />

e 0,7 conforme os níveis<br />

salariais), depois de seis<br />

anos sem actualização da<br />

tabela salarial, enquanto<br />

os CTT acumulam lucros<br />

de várias dezenas de milhões<br />

de euros.<br />

O SNTCT, da Fectrans/<br />

/CGTP-IN, condenou também<br />

a intenção da administração<br />

de reservar verbas<br />

para prémios, exigindo<br />

que elas fossem aplicadas<br />

nos salários-base, e<br />

lembrando que um prémio<br />

de mais de 900 mil euros<br />

foi pago ao presidente da<br />

administração.<br />

Bosch<br />

Estiveram em greve, no<br />

dia 24, os trabalhadores<br />

da Bosch Car Multimédia,<br />

em Braga, devido à falta<br />

de disponibilidade da<br />

empresa para negociar o<br />

Caderno Reivindicativo de<br />

2016. O SITE Norte<br />

informou que são exigidos<br />

aumentos salariais de 40<br />

euros para todos, sem<br />

discriminação, e também<br />

se reclama a passagem a<br />

efectivos dos<br />

trabalhadores com<br />

vínculos precários a<br />

laborar há mais de seis<br />

meses, a redução da<br />

carreira de operador<br />

especializado e a<br />

valorização das carreiras e<br />

da antiguidade. O<br />

sindicato da<br />

Fiequimetal/CGTP-IN<br />

salientou que são os<br />

trabalhadores que<br />

contribuem para os lucros<br />

fabulosos que a empresa<br />

tem vindo a apresentar,<br />

adiantando que nos<br />

plenários foi debatida a<br />

continuação da luta.<br />

Inapal<br />

Uma série de greves de<br />

duas horas por dia<br />

começou esta terça-feira,<br />

dia 29, na Inapal<br />

Plásticos, para exigir que<br />

os salários praticados em<br />

Leça do Balio sejam<br />

equiparados aos que<br />

vigoram na unidade fabril<br />

de Palmela, como se<br />

explica no pré-aviso<br />

entregue pelo SITE Norte.<br />

Jado<br />

Em luta desde dia 10,<br />

por aumentos salariais<br />

dignos, os trabalhadores<br />

da Jado Ibéria, em Braga,<br />

fizeram greve no dia 24 e<br />

concentraram-se à porta<br />

da empresa, onde<br />

receberam a solidariedade<br />

de Carla Cruz, deputada<br />

do PCP.<br />

Seda<br />

Uma semana de greves<br />

de duas horas em cada<br />

período de trabalho<br />

deverá terminar amanhã,<br />

na Seda Ibérica. A luta foi<br />

convocada pelo SITE<br />

CSRA, porque a<br />

administração não<br />

assumiu compromissos<br />

relativamente à correcção<br />

das injustiças na<br />

distribuição dos salários e<br />

à abertura de um caminho<br />

para garantir a igualdade<br />

de oportunidades. Uma<br />

informação divulgada pela<br />

Fiequimetal recorda que<br />

foi desconvocada uma<br />

greve, no início do mês,<br />

mas a administração da<br />

empresa de embalagens<br />

de Paço de Arcos não<br />

aceitou negociar o<br />

caderno reivindicativo e<br />

decidiu actualizar os<br />

salários em apenas 1,5<br />

por cento.


20 TRABALHADORES<br />

31 -3-201 6<br />

Psicólogos<br />

A redução do número<br />

de psicólogos nas escolas<br />

surge como «uma nota<br />

muito triste» no estudo<br />

que a direcção-geral de<br />

Estatísticas da Educação e<br />

Ciência divulgou, a<br />

propósito da Educação<br />

Especial, e que revela um<br />

corte de 88 profissionais<br />

em apenas um ano (de<br />

489 para 401) –<br />

comentou o Sindicato<br />

Nacional dos Psicólogos.<br />

A opacidade quanto a<br />

números, a<br />

indisponibilidade para<br />

discutir justas<br />

reivindicações, por parte<br />

do Ministério da<br />

Educação, e a<br />

necessidade de promover<br />

a estabilização dos<br />

profissionais foram<br />

colocadas pelo SNP, em<br />

Janeiro, aos grupos<br />

parlamentares. Na nota de<br />

imprensa que publicou dia<br />

23, o sindicato reafirma<br />

que «há trabalho a fazer<br />

para que o ano lectivo de<br />

2016-2017 possa ser,<br />

definitivamente, o ano da<br />

mudança no que concerne<br />

à psicologia escolar e da<br />

educação» e interroga se<br />

«existe vontade política».<br />

Professores<br />

A negociação<br />

obrigatória com os<br />

sindicatos não está a ser<br />

respeitada em diversos<br />

processos legislativos e<br />

decisórios, protestou a<br />

Federação Nacional dos<br />

Professores, que no dia<br />

23 reiterou a urgência de<br />

realizar a reunião pedida<br />

ao ministro da Educação.<br />

«Em tempos que se dizem<br />

novos, há procedimentos<br />

que, por serem de outros<br />

tempos, deverão,<br />

obrigatoriamente, ser<br />

alterados», reclama-se<br />

numa nota do<br />

Secretariado Nacional da<br />

Fenprof, que critica a<br />

«moda» de realizar<br />

consultas públicas, mesmo<br />

quando a negociação é<br />

obrigatória. São apontados<br />

alguns casos de<br />

incumprimento da<br />

negociação: o início de um<br />

Plano Nacional de<br />

Formação Contínua, a<br />

mobilidade dos<br />

professores por doença, a<br />

organização dos horários<br />

dos docentes e o conteúdo<br />

funcional das<br />

componentes lectiva e não<br />

lectiva, a contratação de<br />

professores, e mesmo o<br />

Orçamento do Estado,<br />

estando por realizar uma<br />

reunião para esclarecer<br />

como será possível, em<br />

ano de reposição integral<br />

dos salários, reduzir em<br />

mais de 300 milhões de<br />

euros a verba prevista<br />

para recursos humanos<br />

nos ensinos básico e<br />

secundário.<br />

Observações sindicais sobre o Dia Mundial da Água<br />

Água pública e emprego<br />

No dia 22 de Março, a CGTP-IN e o STAL<br />

lembraram que no Mundo e em Portugal está<br />

muito por fazer, para ir ao encontro do lema<br />

deste ano do Dia Mundial da Água e conseguir<br />

«melhor água, melhor emprego».<br />

A data é assinalada desde<br />

a Conferência das Nações<br />

Unidas sobre Desenvolvimento<br />

e Ambiente (Rio<br />

de Janeiro, 1992), destacando<br />

em cada ano um tema.<br />

Água e trabalho, em foco<br />

nas comemorações de<br />

2016, constituem «dois direitos<br />

humanos fundamentais,<br />

suportes da vida, dos<br />

direitos sociais e da construção<br />

de uma sociedade<br />

justa e solidária». Numa<br />

nota publicada pelo Sindicato<br />

Nacional dos Trabalhadores<br />

da Administração<br />

Local e Regional, Empresas<br />

Públicas, Concessionárias<br />

e Afins, começa-se por<br />

registar que «quer a água,<br />

quer o trabalho, continuam<br />

inacessíveis para milhões<br />

de seres humanos,<br />

num mundo em que a concentração<br />

e centralização<br />

da riqueza é cada vez mais<br />

chocante», acompanhada<br />

por «mercantilização e predação<br />

da natureza e dos<br />

recursos naturais».<br />

O STAL/CGTP-IN recorda<br />

que, nos Objectivos do<br />

Desenvolvimento Sustentável<br />

que os estados-membros<br />

da ONU aprovaram<br />

em Setembro de 2015,<br />

consta um capítulo (Objectivo<br />

6) designado «Água<br />

potável e saneamento», a<br />

exigir que os governos assegurem<br />

até 2030 o acesso<br />

universal a água potável<br />

segura e acessível, e a serviços<br />

de saneamento e higiene.<br />

Contudo, «os governos<br />

continuam a apostar<br />

no sector privado para o financiamento<br />

dos Objectivos<br />

de desenvolvimento»,<br />

enquanto «as multinacionais,<br />

com a conivência de<br />

vários governos e, no caso<br />

da Europa, da própria Comissão<br />

Europeia, estão<br />

mais perto de controlarem<br />

os serviços públicos, incluindo<br />

a água e o saneamento,<br />

cujo potencial de<br />

lucro é enorme, através dos<br />

tratados ditos de “livre comércio”».<br />

Em Portugal, a política<br />

seguida nos últimos anos<br />

teve efeitos «devastadores»<br />

no direito à água e no estado<br />

deste sector: quebras<br />

severas nas funções públicas<br />

de protecção e fiscalização<br />

da qualidade da<br />

água; estrangulamento financeiro<br />

das autarquias e<br />

Os governos<br />

devem assegurar<br />

até 2030 o<br />

acesso universal<br />

a água potável<br />

destruição do emprego público<br />

local; cortes impostos<br />

às empresas públicas.<br />

Tudo isto contribuiu para<br />

degradar a qualidade da<br />

prestação dos serviços públicos<br />

de água e saneamento<br />

Ȯs trabalhadores sofreram<br />

duros golpes nos seus<br />

rendimentos. No Grupo<br />

Águas de Portugal, os custos<br />

laborais caíram de<br />

28 900 euros, por ano e<br />

por trabalhador, em 2007,<br />

para 23 700 euros, em<br />

2012 (dados da ERSAR,<br />

de 2014). Também na distribuição<br />

de água «em baixa»,<br />

estes custos laborais<br />

desceram de 19 800 euros<br />

para 17 200 euros.<br />

O STAL considera que<br />

o resultado das últimas<br />

eleições legislativas «constituiu<br />

uma derrota da estratégia<br />

privatizadora e<br />

abriu perspectivas de uma<br />

mudança de políticas».<br />

Reafirmando o seu «empenho<br />

em defesa do Projecto<br />

de Lei “Pelos direitos<br />

individuais e comuns à<br />

água”, apresentado pela<br />

campanha “Água é de todos”<br />

na passada legislatura»<br />

o sindicato vai prosseguir<br />

o combate pelo reforço<br />

e valorização do papel das<br />

autarquias na prestação dos<br />

serviços de águas; pela reversão<br />

das fusões das empresas<br />

multimunicipais; pelo<br />

reforço do investimento<br />

nos serviços públicos, criando<br />

emprego e valorizando<br />

os trabalhadores.<br />

Por fim, o STAL manifesta<br />

o seu apoio à «Iniciativa<br />

de Cidadania Europeia<br />

“A água é um direito<br />

humano”», promovida pela<br />

Federação Sindical Europeia<br />

de Serviços Públicos,<br />

e «solidariza-se com<br />

as lutas dos povos e dos<br />

trabalhadores de todo o<br />

mundo, na luta pelo direito<br />

à água, contra a privatização<br />

deste bem essencial<br />

à vida».<br />

Força para mudar<br />

Com serviços públicos é melhor assegurada a defesa dos<br />

interesses dos trabalhadores e da população<br />

De novo feriados<br />

A CGTP-IN, numa nota<br />

do seu departamento para<br />

o Desenvolvimento Sustentável,<br />

assinala que, em<br />

apoio àquela iniciativa de<br />

cidadania europeia, foram<br />

recolhidas mais de um milhão<br />

e 800 mil assinaturas,<br />

«exigindo que a água seja<br />

reconhecida como um direito<br />

humano, um bem público<br />

e não uma mercadoria».<br />

Se o Parlamento<br />

Europeu «apoiou o pedido»,<br />

já a Comissão Europeia<br />

«continua parada e<br />

ainda não propôs uma nova<br />

legislação».<br />

Em Portugal, a Intersindical<br />

«não pode deixar de<br />

apoiar as iniciativas legislativas<br />

actualmente em discussão<br />

no Parlamento, que<br />

visam a não privatização<br />

da água, a não mercantilização<br />

do abastecimento público<br />

da água, do saneamento<br />

de águas residuais<br />

e da gestão de resíduos urbanos»,<br />

notando que ainda<br />

está a recolher apoios a<br />

petição «Em defesa dos<br />

serviços públicos de água,<br />

saneamento e resíduos».<br />

A CGTP-IN declara-se<br />

«particularmente atenta à<br />

defesa da água como recurso<br />

público e universal»<br />

e «defende os serviços públicos<br />

de água, saneamento<br />

e resíduos, a salvaguarda<br />

do bem-estar das<br />

populações, os direitos laborais<br />

dos que trabalham<br />

nestas áreas e as atribuições<br />

e competências das<br />

autarquias». É feito um<br />

alerta quanto às consequências<br />

da política de privatização<br />

do governo PSD/<br />

/CDS, particularmente quanto<br />

ao poder atribuído à entidade<br />

reguladora (ERSAR)<br />

para definir as tarifas, à revelia<br />

das autarquias e visando<br />

a «recuperação total<br />

dos custos», o que levará<br />

a um aumento generalizado<br />

dos preços.<br />

No dia 28, segunda-feira, depois de o<br />

primeiro-ministro ter assinado a referenda<br />

(último acto antes de se iniciar a execução<br />

de um diploma legal) da lei da Assembleia<br />

da República que repõe os quatro<br />

feriados eliminados em 2013, promulgada<br />

no dia 18 pelo PR, a CGTP-IN reafirmou<br />

que esta reposição «constitui uma medida<br />

de justiça social e é o resultado prático<br />

da luta desenvolvida pelos trabalhadores<br />

e trabalhadoras nos últimos anos» e «vem<br />

mostrar, mais uma vez, que não há inevitabilidades<br />

e que vale a pena continuar a<br />

lutar pela valorização do trabalho e a dignificação<br />

dos trabalhadores, indissociáveis<br />

de uma efectiva mudança de política».<br />

Na mesma nota em que valoriza a devolução<br />

dos feriados (Corpo de Deus, Implantação<br />

da República, Todos-os-Santos<br />

e Restauração da Independência), a CGTP-<br />

-IN chamou a atenção para a restituição<br />

dos 25 dias de férias e a revogação das<br />

alterações da legislação laboral que «eliminaram<br />

ou enfraqueceram direitos individuais<br />

e colectivos dos trabalhadores»,<br />

entendendo que «a correcção dessas injustiças<br />

se impõe com igual força e quanto<br />

antes».<br />

Novo Banco<br />

O plano de rescisões<br />

«por mútuo acordo»,<br />

desencadeado no Grupo<br />

Novo Banco, foi tratado<br />

pelo Sindicato dos<br />

Trabalhadores da<br />

Actividade Financeira<br />

numa reunião com a<br />

Autoridade para as<br />

Condições do Trabalho. O<br />

Sintaf/CGTP-IN reafirmou<br />

na ACT «denúncias de<br />

práticas ilegais» a que<br />

ainda não obteve resposta<br />

e salientou que os<br />

trabalhadores vivem «num<br />

clima de absoluta<br />

intimidação e pressão<br />

inaceitáveis», com<br />

«reuniões à americana»<br />

para pressionar a<br />

aceitação das rescisões,<br />

«inclusivamente<br />

transmitindo informações<br />

que contrariam a lei». Na<br />

nota de imprensa que no<br />

dia 23 foi divulgada pela<br />

comissão sindical naquele<br />

grupo financeiro, alerta-se<br />

para situações como a<br />

«dispensa de trabalho» e<br />

para o facto de a rescisão<br />

não dar direito a subsídio<br />

de desemprego, pois<br />

nenhuma das empresas foi<br />

declarada em<br />

reestruturação. O Sintaf<br />

afirma que «não é certo<br />

que o Grupo Novo Banco<br />

possa recorrer a um<br />

despedimento colectivo»,<br />

apela à solidariedade<br />

entre os trabalhadores,<br />

que se deve expressar no<br />

cumprimento escrupuloso<br />

do horário de trabalho.<br />

Portway<br />

«É possível travar o<br />

caminho de crescente<br />

exploração dos<br />

trabalhadores do<br />

handling», «travar o<br />

despedimento colectivo na<br />

Portway» e «impor à<br />

Ryanair que respeite as<br />

leis da República», afirma<br />

o Sector dos Transportes<br />

da Organização Regional<br />

de Lisboa do PCP, num<br />

comunicado em que<br />

informa os trabalhadores<br />

do sector sobre o projecto<br />

de resolução que o<br />

Partido apresentou na AR<br />

e que irá a plenário nas<br />

próximas semanas. No<br />

documento, datado de 21<br />

de Março, apela-se à<br />

«indispensável luta para<br />

impor ao patronato do<br />

sector uma contratação<br />

colectiva» e «exigir do<br />

Estado português que<br />

adopte outra postura»,<br />

dando «exemplos<br />

concretos do que pode e<br />

deve ser feito<br />

rapidamente» e<br />

recordando as respostas<br />

que deveriam ter sido<br />

dadas, pela ANAC e pelos<br />

governos central e<br />

regional, quando a<br />

Ryanair avançou com o<br />

fraudulento e ilegal self-<br />

-handling nos Açores.


31 -3-201 6<br />

NACIONAL 21<br />

Reparação do IP3<br />

A Assembleia Municipal de Penacova aprovou por<br />

unanimidade, no dia 27 de Fevereiro, uma proposta<br />

apresentada por Eduardo Ferreira, eleito da CDU,<br />

onde se apela à Infraestruturas de Portugal, IP, e ao<br />

Ministério do Planeamento e das Infraestruturas que<br />

promovam a reparação e beneficiação do troço do<br />

IP3, entre Coimbra e o nó do IC6, com carácter de<br />

urgência. Por esta via, com um nível de sinistralidade<br />

elevado, passam cerca de 18 mil veículos por dia, com<br />

elevada percentagem de pesados de mercadorias.<br />

Na proposta exige-se ainda o melhoramento dos<br />

acessos à Freguesia de Oliveira do Mondego, onde<br />

continuam a faltar os caminhos paralelos para trânsito<br />

local e máquinas agrícolas, mas também a ligação ao<br />

Parque Industrial de Alagôa/Telhado. Propõe-se que<br />

os terrenos anexos à zona Industrial da Alagôa, que<br />

estavam reservados para a instalação da área de<br />

serviço de Figueira de Lorvão, sejam transferidos para<br />

o domínio municipal, para permitir o prolongamento<br />

da estrada da zona industrial até à Rotunda da<br />

Alagôa.<br />

O IP 3 é o principal acesso a Penacova e o corredor<br />

que melhor se articula com as grandes vias de tráfego<br />

da região Centro, nomeadamente com a A1 para<br />

Norte e para Sul, com a A14 para Oeste, com a A24<br />

para Norte interior, com a A25 para Este e Espanha e<br />

com o IC6 e o IC12 para a Beira Interior.<br />

Defender a saúde<br />

No dia 19, durante um encontro com a população, a<br />

CUSPAS – Associação de Utentes dos Serviços<br />

Públicos da União de Freguesias do Alto<br />

Seixalinho, Santo André e Verderena aprovou<br />

uma moção onde se exige «mais médicos, enfermeiros<br />

e profissionais de saúde para o Centro de Saúde de<br />

Santo André».<br />

No documento reclama-se ainda, entre outras<br />

medidas, a «construção do centro de saúde no Alto<br />

Seixalinho, cujo terreno foi cedido pela Câmara do<br />

Barreiro»; que «os utentes de Santo André,<br />

transferidos injustamente para a Unidade de Saúde<br />

Familiar de Santo António, devem regressar, com<br />

carácter urgente, ao Centro de Saúde de Santo André»,<br />

e a «defesa do Centro Hospitalar do Barreiro/Montijo».<br />

Discriminação intolerável<br />

No voto apresentado pelo PCP sobre o Dia<br />

Internacional da Mulher, aprovado no dia 16 por<br />

unanimidade no Parlamento Regional dos Açores, o<br />

deputado Aníbal Pires denunciou a discriminação<br />

intolerável a que são sujeitas as trabalhadoras<br />

açorianas, nomeadamente em termos salariais.<br />

Segundo o eleito do PCP, as mulheres açorianas<br />

recebiam em média, no ano de 2013, menos 89 euros<br />

do que os homens, um fosso que cresce,<br />

paradoxalmente, quanto mais elevadas são as<br />

qualificações e a posição dentro das empresas.<br />

No Dia da Igualdade Salarial, assinalado a 6 de<br />

Março, o Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV)<br />

considerou «completamente inaceitável» que as<br />

mulheres ainda tenham de trabalhar mais de dois<br />

meses do que os homens para conseguirem ganhar o<br />

mesmo. «Estes fenómenos de desigualdade e de<br />

discriminação em função do género contrariam a<br />

evolução social e a luta pela igualdade, e têm de ser<br />

urgentemente eliminados», salienta o PEV.<br />

Fundos comunitários<br />

Bernardino Soares, presidente da Câmara de Loures,<br />

anunciou, no dia 22, que o município pretende<br />

candidatar-se a fundos comunitários para poder<br />

realizar obras – no Caneiro e na Ribeira do Prior<br />

Velho – que minimizem o problema das cheias na<br />

cidade de Sacavém.<br />

Em declarações à Lusa, o eleito do PCP explicou que<br />

essa intenção foi manifestada ao ministro do<br />

Ambiente, tendo a tutela «mostrado abertura» para<br />

que a autarquia avance com a candidatura.<br />

A verba necessária para as duas intervenções, que não<br />

são da competência da Câmara de Loures, ronda os<br />

cinco milhões de euros. «Não nos vamos colocar de<br />

fora de uma solução para um problema com este<br />

impacto. A autarquia nunca irá contribuir com uma<br />

verba inferior a 1,5 milhões de euros», perspectivou<br />

Bernardino Soares, adiantando que o município está já<br />

a trabalhar nos projectos e nas condições para a<br />

candidatura.<br />

CNA apresenta propostas na audição do PCP<br />

A crise do leite<br />

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA)<br />

participou, no dia 21 , numa audição pública,<br />

promovida pelo Grupo Parlamentar do PCP,<br />

sobre a crise do leite.<br />

Na iniciativa, realizada<br />

na Assembleia da República,<br />

João Dinis, dirigente da<br />

CNA, começou por lembrar<br />

que, no dia 14 de<br />

Março, mais de três mil<br />

agricultores, a maior parte<br />

dos quais produtores de<br />

leite, manifestaram-se em<br />

Matosinhos em protesto e<br />

reclamação «perante a mais<br />

grave crise da pecuária nacional<br />

e do subsector do<br />

leite em particular (sem esquecer<br />

a carne suína)».<br />

No protesto, onde desfilaram<br />

mais de 300 tractores,<br />

voltou-se a apresentar<br />

«propostas e reclamações,<br />

que, se tidas na devida<br />

conta pelo Ministério da<br />

Agricultura – entre outros<br />

órgãos de soberania – podem<br />

contribuir para resolver<br />

graves problemas», salientou<br />

João Dinis.<br />

Na sua intervenção, o dirigente<br />

da CNA deu ainda<br />

a conhecer que, hoje, fruto<br />

dos últimos 30 anos de<br />

Política Agrícola Comum<br />

(PAC), existem «pouco mais<br />

de cinco mil» produtores<br />

de leite em Portugal (continente<br />

e Açores), num universo<br />

que chegou a ser de<br />

75 mil.<br />

Tudo isto depois de o<br />

sector do leite ter cumprido<br />

«à risca o receituário do<br />

sistema», uma vez que «organizou-se<br />

e desenvolveu<br />

um sector cooperativo leiteiro<br />

com enorme capacidade<br />

instalada; concentrouse;<br />

modernizou-se, apurou<br />

a genética e a produtividade<br />

dos seus efectivos; investiu<br />

o que tinha e o que<br />

não tinha, e por isso ficou<br />

hipotecado na banca; supostamente<br />

tornou-se “competitivo”»,<br />

ilustrou.<br />

Promover<br />

a produção<br />

nacional<br />

e aumentar o<br />

consumo interno<br />

Propostas<br />

Depois da grande manifestação em Matosinhos,<br />

realizada no dia 14, os produtores voltam a manifestar-<br />

-se em Braga<br />

Produtores manifestam-se<br />

em Braga<br />

A luta continua<br />

Hoje, 31, os produtores de leite e carne voltam<br />

à rua com uma concentração em Braga, frente<br />

à Feira Internacional de Agricultura AGRO.<br />

O protesto, promovido pela Associação<br />

Portuguesa de Produtores de Leite e Carne<br />

(APPLC), tem como objectivo sensibilizar a<br />

população para o consumo de leite e carne<br />

nacional; exigir a regulação pública da<br />

produção de leite no espaço europeu; reclamar<br />

mais fiscalização nos produtos importados;<br />

clamar ao Governo que tome medidas para<br />

salvaguardar a produção nacional.<br />

Em declarações à Lusa, José Lobato,<br />

presidente da APPLC, salientou que, «neste<br />

momento, a crise está instalada» no sector do<br />

leite e carne, que está «a vender o produto<br />

abaixo do custo de produção», numa situação<br />

«insuportável». «Já desapareceu um conjunto<br />

de explorações e daqui a um ano, se não forem<br />

tomadas medidas, muitas outras vão<br />

desaparecer», assegurou.<br />

Na audição, João Dinis<br />

elencou três propostas que<br />

«continuam a ser reclamações<br />

principais» da CNA.<br />

A primeira visa «a reposição<br />

de mecanismos públicos<br />

de controlo da<br />

produção e do mercado»,<br />

como «eram as “quotas<br />

leiteiras” nacionais/<br />

/individuais que a União<br />

Europeia (UE) eliminou<br />

no período entre 2008 e<br />

2015», uma «contingência<br />

que muito contribui para a<br />

difícil situação caracterizada<br />

pela falta de escoamento<br />

do leite e pelos baixos<br />

preços à produção». Neste<br />

sentido, informou que os<br />

preços à produção são, em<br />

média, de 27 cêntimos por<br />

litro de leite, enquanto os<br />

custos atingem os 33 cêntimos,<br />

«pelo que os produtores<br />

estão a perder muito<br />

dinheiro para continuarem<br />

a produzir».<br />

A segundo reclamação,<br />

também dirigida ao ministro<br />

da Agricultura e à UE,<br />

prende-se com a «regulação<br />

– pela via legislativa<br />

– da actividade (especulativa)<br />

dos hipermercados<br />

que promovem<br />

as importações sem controlo<br />

eficaz, que especulam e<br />

esmagam, em baixa, os<br />

preços à produção nacional<br />

de leite e carne (e de<br />

outros factores de produção).<br />

Por último, exige-se o<br />

«combate à especulação<br />

com os preços dos factores<br />

de produção». O<br />

dirigente da CNA salientou,<br />

por isso, a necessidade<br />

de se «considerar a isenção<br />

temporária do pagamento<br />

das contribuições<br />

mensais dos produtores de<br />

leite para a Segurança Social<br />

– e não apenas de um<br />

desconto de 50 por cento<br />

do custo dessas contribuições<br />

mensais» e a «retoma<br />

do desconto para a electricidade<br />

“verde”».<br />

João Dinis considerou,<br />

ainda, um «erro» as ajudas<br />

– pagas pelo Orçamento<br />

comunitário ou pelo Orçamento<br />

nacional – para reduzir<br />

a produção nacional.<br />

Como solução, o dirigente<br />

da CNA defendeu uma<br />

«mudança estratégica», capaz<br />

de «promover a produção<br />

nacional e, com ela,<br />

aumentar o consumo interno<br />

de bens agro-alimentares,<br />

o que implica o controlo<br />

sistemático das importações<br />

desnecessárias<br />

que podem ser restringidas<br />

sem sequer extravasar os<br />

constrangimentos impostos<br />

pelas normas comunitárias».


22 NACIONAL<br />

31 -3-201 6<br />

Porto privatiza limpeza<br />

Negócio ruinoso<br />

A CDU manifestou-se contra a privatização da<br />

limpeza na cidade do Porto, um negócio que<br />

trará prejuízos aos trabalhadores e munícipes.<br />

Sector do táxi<br />

A Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas<br />

e Médias Empresas (CPPME) manifestou preocupação<br />

com o «funcionamento não licenciado e isento de impostos<br />

da multinacional Uber», em concorrência desleal com o<br />

sector do táxi, que é «altamente regulado e taxado».<br />

Em nota de imprensa, divulgada no início do mês, a<br />

CPPME acusa o anterior governo de «cumplicidade por<br />

omissão com a ilegalidade», comportamento que «motivou<br />

a justa revolta do sector do táxi», e recorda que o Instituto<br />

da Mobilidade e dos Transportes (IMT) «reconheceu a<br />

razão que assiste ao sector», tendo afirmado que «os<br />

serviços alegadamente prestados através da empresa<br />

Uber configuram uma violação da legislação específica<br />

dos transportes».<br />

Neste sentido, salienta a CPPME, «têm razões as<br />

associações do sector – a FPT, associada da CPPME, e<br />

a ANTRAL – quando afirmam que a Uber não passa<br />

facturas, não paga impostos, não desconta para a<br />

Segurança Social, não paga o PEC, não paga IRC, nem<br />

IVA», como pagam os empresários do táxi.<br />

De igual forma, os veículos da Uber «não são<br />

inspeccionados especialmente para o desenvolvimento<br />

da actividade de transporte de passageiros», os<br />

trabalhadores «não têm certificado de aptidão e registo<br />

no IMT» e os veículos «não têm seguros especiais com<br />

cobertura alargada como os táxis», nem «são licenciados<br />

para a actividade e os valores cobrados não são alvo de<br />

aprovação junto da Direcção Geral das Actividades<br />

Económicas, como os táxis».<br />

No dia 1, na sequência de declarações do ministro do<br />

Ambiente, que afirmou que a Uber é ilegal e «não é um<br />

operador de transportes», a FPT pediu a suspensão da<br />

multinacional e reclamou o «reforço da fiscalização», que<br />

deverá passar por um aumento das coimas aplicadas à<br />

Uber, aos proprietários das viaturas e aos motoristas.<br />

Resolver problemas<br />

Com a aprovação do Orçamento do Estado para 2016<br />

«estão criadas condições legais e financeiras» para que<br />

«sejam tomadas as medidas necessárias à resolução dos<br />

problemas existentes» na região, defende, em comunicado,<br />

divulgado no dia 23, a Comissão de Utentes da Saúde<br />

do Médio Tejo.<br />

Exige-se, por isso, a «colocação de mais médicos de<br />

família nos cuidados primários/centros de saúde», a<br />

«contratação de mais especialistas para o Centro Hospitalar<br />

do Médio Tejo» e a «reabertura da medicina interna em<br />

Tomar».<br />

Vida activa<br />

O Município da Moita vai aderir à RUTIS – Associação<br />

Rede de Universidades da Terceira Idade. A proposta<br />

foi aprovada por unanimidade na reunião pública da<br />

Câmara, que se realizou no dia 23.<br />

Foram ainda aprovadas, também por unanimidade, as<br />

normas de funcionamento da Universidade Sénior da<br />

Moita, um projecto da autarquia dirigido à população<br />

sénior do concelho que pretende, acima de tudo, promover<br />

o bem-estar social da população, desenvolvendo um<br />

conjunto de actividades para potenciar o intercâmbio de<br />

saberes através do ensino, da formação, do<br />

desenvolvimento social e pessoal, da solidariedade social,<br />

do convívio e do lazer.<br />

A Câmara do Porto aprovou,<br />

no dia 22, a abertura<br />

de um concurso para a<br />

concessão da recolha e<br />

transporte de resíduos indiferenciados<br />

e a limpeza<br />

do espaço público da totalidade<br />

do concelho, mantendo-se<br />

apenas sob responsabilidade<br />

municipal a<br />

recolha selectiva multinaterial<br />

(recicláveis).<br />

Em nota de imprensa, a<br />

CDU considerou estas propostas<br />

«extremamente gravosas»<br />

para a cidade do<br />

Porto e para a sua população,<br />

e lembra que «a concessão<br />

da limpeza em 50<br />

por cento da área da cidade<br />

transformou-se num sorvedouro<br />

de dinheiros públicos<br />

que ultrapassaram,<br />

em muito, os valores anunciados<br />

em termos de valor<br />

base do concurso público<br />

e os próprios valores adjudicados».<br />

«Considerando os valores<br />

orçamentados para<br />

2015 e 2016, caso estes<br />

sejam cabalmente executados,<br />

podemos inferir que<br />

se gastou com a concessão<br />

mais 26,4 milhões de euros<br />

do que inicialmente<br />

previsto e mais 19,2 milhões<br />

de euros face ao adjudicado»,<br />

denunciam os<br />

eleitos do PCP.<br />

«Remake<br />

dos argumentos<br />

outrora<br />

apresentados»<br />

Publicidade enganosa<br />

A coligação Rui Moreira/CDS/PS<br />

apresentou, agora,<br />

uma proposta para a<br />

concessão da limpeza na totalidade<br />

da cidade por cerca<br />

de 10 milhões de euros/ano,<br />

ou seja, um valor<br />

muito próximo daquele que<br />

tem pago anualmente por<br />

50 por cento da área da cidade<br />

(embora incluindo os<br />

recicláveis).<br />

«A forma como a nova<br />

proposta é apresentada, bem<br />

ao jeito de publicidade enganosa,<br />

parece um remake<br />

dos argumentos outrora<br />

apresentados pela anterior<br />

gestão PSD/CDS», acusam<br />

os comunistas, salientando<br />

que o valor base do concurso<br />

«é deliberadamente desfasado<br />

da realidade» e «mais<br />

não visa do que fazer crer<br />

que a privatização dos serviços<br />

de limpeza se traduzirá<br />

em vantagens para o município<br />

que, depois e na prática,<br />

se transformarão na<br />

continuidade de um processo<br />

de sorvedouro dos dinheiros<br />

públicos que serão<br />

pagos pelos munícipes».<br />

Trabalhadores<br />

afectados<br />

A CDU contesta, de igual<br />

forma, o facto de a concessão<br />

não respeitar a maioria<br />

dos trabalhadores afectos à<br />

limpeza urbana, que «deixarão<br />

de exercer funções,<br />

dado que o serviço deixará,<br />

pura e simplesmente, de fazer<br />

parte das competências<br />

municipais» e «nem sequer<br />

está prevista a sua transferência<br />

para o concessionário».<br />

Por outro lado, este «negócio»<br />

corporiza a «destruição<br />

das competências do<br />

município do Porto em matéria<br />

de limpeza urbana».<br />

«A entrega, por oito anos,<br />

da totalidade da limpeza a<br />

privados, significará desmantelar<br />

um serviço e abdicar<br />

dessas competências»,<br />

PEV interroga Governo<br />

O deputado José Luís Ferreira, do Grupo Parlamentar<br />

do Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV), entregou,<br />

há dias, na Assembleia da República, uma pergunta em<br />

que questiona o Governo, através do Ministério da Saúde,<br />

sobre o eventual encerramento das extensões de saúde<br />

de Alcofra, Cambra, Campia e Queirã, face à criação<br />

de uma unidade de saúde familiar (USF) em Vouzela,<br />

distrito de Viseu.<br />

Para os ecologistas, o encerramento destes serviços representa<br />

mais uma dificuldade no acesso destas populações<br />

aos serviços de saúde de proximidade. «No geral,<br />

estas quatro freguesias distam mais de dez quilómetros<br />

ficando o município «nas<br />

mãos do concessionário,<br />

perdendo capacidade num<br />

eventual processo de reversão<br />

da concessão por incumprimento<br />

do concessionário<br />

e dificultando a remunicipalização<br />

do serviço no final<br />

do período da concessão»,<br />

denunciam os eleitos<br />

comunistas.<br />

Empresa municipal<br />

Aprovada foi também, no<br />

dia 22, a constituição de<br />

uma empresa municipal que<br />

assumirá a gestão de resíduos<br />

urbanos e limpeza pública.<br />

«Esta é mais uma proposta<br />

que se traduz numa<br />

incapacidade de lidar com<br />

os serviços municipais e que<br />

visa permitir «agilizar» a intervenção<br />

municipal, designadamente<br />

em matéria de<br />

contratação pública e de<br />

contratação e gestão de recursos<br />

humanos», refere a<br />

CDU.<br />

Ilha de São Jorge<br />

Medidas avulsas na Urzelina<br />

Anteontem, 29, Aníbal Pires, deputado do PCP na<br />

Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores,<br />

apresentou um requerimento questionando o Governo<br />

Regional sobre a obra de protecção da estrada regional<br />

da Urzelina, na Ilha de São Jorge.<br />

Em causa está a destruição de um arco de pedra<br />

basáltica que era um ponto de interesse turístico. Para<br />

além disso, a obra acabou por se resumir à deposição<br />

de grandes quantidades de pedra solta, sem a construção<br />

de muros de suporte ou muralha de protecção, situação<br />

que faz antever novos problemas no futuro, tendo em<br />

conta a forte erosão pela acção do mar naquela zona.<br />

Para o PCP, «a protecção das orlas costeiras é um<br />

trabalho exigente e delicado, pela necessidade de conciliar<br />

a protecção do ambiente natural e a devida segurança<br />

de pessoas e bens, perante os processos de erosão<br />

costeira», o que não é compatível «com intervenções<br />

arbitrárias, pouco fundamentadas tecnicamente e não<br />

discutidas com a população local».<br />

«A exigência ambiental e a necessidade de proteger<br />

as construções e as estruturas têm de ser harmonizadas<br />

através de processos de discussão pública, prudência e<br />

uma abordagem cautelosa, que não se verifica neste<br />

caso», salienta o PCP.<br />

da sede do concelho, apresentando acessibilidades em<br />

termos de transportes públicos muito limitadas e caras,<br />

o que é ainda mais significativo se tivermos em conta<br />

que se trata de uma população muito envelhecida, com<br />

dificuldades de mobilidade e parca em recursos económicos»,<br />

lê-se no texto da pergunta.<br />

Num outro documento, divulgado esta semana, o PEV<br />

interrogou o Executivo PS sobre a falta de manutenção<br />

do parque infantil de Caldas da Felgueira, no concelho<br />

de Nelas, que se encontra numa «preocupante situação<br />

de estado de abandono», que é «susceptível de colocar<br />

em causa a segurança dos seus utilizadores».


31-3-2016<br />

NACIONAL<br />

23<br />

Debate no Porto<br />

No dia 20 de Abril, a Confederação Portuguesa das<br />

Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) vai<br />

realizar um debate/colóquio, às 15 horas, no Auditório de<br />

Inquilinos do Norte de Portugal, no Porto. A iniciativa<br />

conta com as intervenções de Jorge Pisco, vice-presidente<br />

da CPPME, e de Pedro Carvalho, economista, que<br />

abordarão, respectivamente, os temas «Fundos<br />

comunitários – Portugal 2020» e «Fiscalidade e<br />

sustentabilidade das empresas».<br />

Reposição da travessia<br />

A Câmara de Almada tomou conhecimento, no dia 19, que<br />

a Transtejo, empresa concessionária da travessia fluvial<br />

entre Lisboa e Almada, tinha suspendido a ligação<br />

Trafaria/Porto Brandão/Belém.<br />

Dois dias depois, 21, em ofício dirigido ao presidente do<br />

Conselho de Administração da Transtejo, a autarquia<br />

solicitou, formalmente, informação detalhada sobre a<br />

situação relatada pela comunicação social, nomeadamente<br />

no que respeita às razões objectivas e previsão de duração<br />

da suspensão do serviço de que a empresa é<br />

concessionária.<br />

Pelo menos até ao dia 24, a Administração da Transtejo<br />

não forneceu qualquer informação. Neste quadro, a<br />

autarquia exige «a reposição imediata do serviço<br />

interrompido, de modo a fazer cessar os graves prejuízos<br />

que a situação acarreta para as populações e actividade<br />

económica do concelho de Almada».<br />

Muralha a ruir<br />

Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, manifestou<br />

preocupação com a degradação da muralha da cidade, que<br />

no sector Poente está em risco de ruir. Em declarações à<br />

Lusa, no dia 21, deu ainda a conhecer que o município<br />

tem já uma rubrica aberta no orçamento para reabilitar<br />

aquele sector da muralha, que não é suficiente para cobrir<br />

o custo total, pelo que é preciso obter apoio financeiro do<br />

Estado, através da Direcção Regional de Cultura do<br />

Algarve.<br />

Museu reaberto<br />

O Museu Municipal de Arqueologia de Serpa, fechado há<br />

10 anos, reabriu no dia 24, após obras de requalificação<br />

do edifício e de renovação da colecção, num investimento<br />

de um milhão de euros.<br />

As intervenções foram promovidas pela Câmara de Serpa,<br />

em parceria com a Direcção Geral do Património Cultural,<br />

a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, o Museu<br />

Nacional de Arqueologia e o Instituto Português de Museus.<br />

Decisões erradas<br />

Uma «pesada factura», de cerca de 400 mil euros, vai ter<br />

de ser paga às empresas concorrentes do processo de<br />

privatização da água no concelho de Odivelas, denunciam,<br />

em nota de imprensa, os vereadores da CDU na autarquia.<br />

Esta situação deve-se a «decisões erradas» da anterior<br />

gestão PS/PSD. Para os eleitos do PCP, a verba «deveria<br />

ser canalizada para intervir em domínios de competência<br />

municipal onde existem graves deficiências».<br />

Dia Mundial da Água<br />

Promovida pelo Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV), no<br />

Dia Mundial da Água, 22 de Março, mais de uma centena<br />

de pessoas participaram numa marcha do Rio Alviela, em<br />

Vaqueiros, símbolo da luta das populações contra a<br />

poluição e em defesa do direito a um bom ambiente e ao<br />

desenvolvimento.<br />

Plano de Investimento<br />

A Comissão para a Defesa da Linha do Oeste vai<br />

promover, no dia 22 de Abril, às 21 horas, no salão nobre<br />

da Junta de Freguesia do Pópulo, nas Caldas da Rainha,<br />

uma sessão pública de debate sobre o Plano de<br />

Investimento na Linha do Oeste, que o actual Governo<br />

anunciou recentemente.<br />

Sessão pública<br />

A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa acolhe,<br />

amanhã, dia 1 de Abril, às 18 horas, na sala 5.2, uma<br />

sessão pública sobre «As relações entre os EUA e Cuba».<br />

A iniciativa, promovida pela Associação de Amizade<br />

Portugal-Cuba, conta com a participação de Johana<br />

Tablada, embaixadora de Cuba em Portugal, Augusto<br />

Fidalgo e Armanda Fonseca Carvalho, respectivamente,<br />

presidentes da Associação e da Mesa da Assembleia da<br />

Associação.<br />

Na Madeira, CDU denuncía objectivos do TTIP<br />

Aumento da exploração<br />

A conclusão e aplicação do TTIP significará<br />

para Portugal e, em particular, para a Região<br />

Autónoma da Madeira, uma acrescida destruição<br />

do aparelho produtivo, alerta a CDU.<br />

As pequenas e<br />

médias empresas<br />

confrontar-se-ão<br />

com mais e<br />

maiores<br />

dificuldades<br />

Em conferência de imprensa,<br />

realizada no dia 22,<br />

no Funchal, Edgar Silva,<br />

membro do Comité Central<br />

do PCP, referiu que os impactos<br />

do Acordo de Parceria<br />

Transatlântica de Comércio<br />

e Investimento, mais<br />

conhecido pela sua designação<br />

em inglês, TTPI (Transatlantic<br />

Trade and Investment<br />

Partnership), serão<br />

«especialmente negativos»<br />

para os produtores agrícolas<br />

da Região Autónoma<br />

da Madeira, nomeadamente<br />

de banana e do vinho,<br />

«produtos de vital importância<br />

para a economia regional,<br />

para o tecido produtivo<br />

e para a subsistência<br />

de muitas famílias».<br />

«Com o TTIP», advertiu<br />

o também responsável pela<br />

Organização Regional da<br />

Madeira, «as pequenas e<br />

médias empresas confrontar-se-ão<br />

com mais e maiores<br />

dificuldades, o que levará<br />

certamente ao encerramento<br />

de muitas delas e,<br />

consequentemente, à destruição<br />

de postos de trabalho,<br />

perda de receita fiscal<br />

e aumento das pressões sobre<br />

a Segurança Social».<br />

O TTIP visa atingir igualmente<br />

os serviços públicos<br />

– como a Saúde, a Educação,<br />

a protecção social ou<br />

o abastecimento de água<br />

–, procurando criar as condições<br />

que permitam a sua<br />

privatização e entrega aos<br />

grandes grupos económicos<br />

e financeiros, nomeadamente,<br />

através da adjudicação<br />

de contratos públicos,<br />

por via das denominadas<br />

parcerias público-privadas,<br />

acompanhada pelo<br />

enfraquecimento das cláusulas<br />

sociais e ambientais<br />

que enquadram estes serviços<br />

essenciais.<br />

«Como a realidade tem<br />

vindo a comprovar, tal terá<br />

um desastroso impacto<br />

na vida dos trabalhadores<br />

e das populações, com a<br />

perda do acesso universal<br />

garantido pelos serviços públicos,<br />

o aumento do preço<br />

e a diminuição na qualidade<br />

do serviço prestado,<br />

a que se acresce a eliminação<br />

de postos de trabalho<br />

e de direitos dos trabalhadores<br />

nestes serviços», observou<br />

Edgar Silva.<br />

Rejeição<br />

Depois de ter apresentado<br />

as razões fundamentais<br />

que sustentam a oposição<br />

ao TTIP, o dirigente comunista<br />

anunciou que a CDU<br />

vai avançar, através dos<br />

seus deputados na Assembleia<br />

Legislativa da Região<br />

Autónoma da Madeira, com<br />

Em função das grandes<br />

transnacionais<br />

O TTIP, que está a ser negociado entre a União Europeia<br />

e os Estados Unidos da América desde Junho de 2013,<br />

tem como objectivo a criação de uma grande área<br />

liberalizada de comércio e investimento, que representará<br />

quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial<br />

e um mercado agregado de 800 milhões de pessoas,<br />

incorporando cerca de 40 por cento do comércio mundial.<br />

A concretizar-se, este acordo significará a criação do<br />

maior espaço de comércio e investimento liberalizado do<br />

planeta, e prevê a eliminação de todas as tarifas<br />

alfandegárias (que em média se situarão actualmente nos<br />

quatro por cento), bem como a remoção de outras<br />

barreiras não tarifárias, como normas constitucionais,<br />

legais ou regulamentares consideradas como susceptíveis<br />

de entravar o denominado livre comércio e investimento<br />

– barreiras que podem ser de natureza jurídica, social,<br />

sanitária, ambiental, técnica ou outra.<br />

O TTIP, ao procurar reduzir e eliminar protecções<br />

existentes e prevenir o surgimento de futuras protecções<br />

face ao comércio de mercadorias e serviços, ao<br />

investimento e à livre circulação de capitais, visa,<br />

fundamentalmente, controlar, determinar e normalizar<br />

em função dos interesses das grandes transnacionais as<br />

leis e regulamentos que enquadram o comércio, as<br />

relações laborais, os serviços públicos, o investimento<br />

público e privado, a segurança alimentar e o ambiente,<br />

entre outras.<br />

a apresentação de um voto<br />

de protesto e com perguntas<br />

à Comissão Europeia,<br />

através dos deputados<br />

do PCP no Parlamento Europeu,<br />

sobre o assunto.<br />

«O TTIP subverte claramente<br />

a Constituição da República<br />

Portuguesa (CRP)<br />

e o próprio regime democrático,<br />

na medida em que<br />

institucionalizaria um regime<br />

jurídico especial para<br />

o poder económico que se<br />

sobreporia e estaria em confronto<br />

com o princípio constitucional<br />

que consagra que<br />

todos são iguais perante a<br />

Lei (artigo 13.º da CRP) e<br />

com o enquadramento constitucional<br />

para o investimento<br />

estrangeiro que estipula<br />

que este deve cingir-se à<br />

“contribuição para o desenvolvimento<br />

do País”, à “defesa<br />

dos interesses dos trabalhadores”<br />

e da “independência<br />

nacional”», destacou.<br />

A conferência de imprensa<br />

contou ainda com a presença<br />

de Ricardo Lume,<br />

deputado na Assembleia<br />

Legislativa da Região Autónoma<br />

da Madeira, e de<br />

Herlanda Amado, dirigente<br />

do PCP.<br />

Ponte vai ligar o Barreiro ao Seixal<br />

A ponte ferroviária que unia o Barreiro ao Seixal<br />

foi derrubada por um barco da Siderurgia Nacional<br />

em 1969 e nunca mais foi recuperada<br />

As câmaras do Barreiro e<br />

do Seixal anunciaram, na segunda-feira,<br />

28, que vão avançar<br />

com uma candidatura a<br />

fundos comunitários para a<br />

construção de uma ponte pedonal<br />

e ciclável entre os dois<br />

concelhos.<br />

«A ponte pedonal e ciclável<br />

irá aproveitar a estrutura da<br />

antiga ponte do Seixal e integra-se<br />

na rede de ciclovias<br />

que temos estado, aos poucos,<br />

a construir no Barreiro», afirmou<br />

o presidente da autarquia,<br />

Carlos Humberto, citado pela Lusa.<br />

O projecto dos dois municípios, de cerca de quatro milhões<br />

de euros, vai concorrer a fundos comunitários e só<br />

irá avançar se garantir financiamento. «Ainda não abriram<br />

os concursos ao Plano de Mobilidade, mas pensamos<br />

que, durante 2016, vão abrir as candidaturas», salientou<br />

o autarca do Barreiro.<br />

Joaquim Santos, presidente da Câmara do Seixal referiu,<br />

por seu lado, que o objectivo<br />

é «devolver as zonas ribeirinhas às<br />

populações». «Este projecto insere-<br />

-se na ideia de trazer o rio para mais<br />

perto das pessoas. Esta ligação vai<br />

unir duas terras com uma ligação<br />

umbilical, há cerca de 50 anos, que<br />

se perdeu com a destruição da ponte<br />

ferroviária que existia», lembrou.<br />

Ambos os autarcas explicaram<br />

que este projecto é autónomo da ligação<br />

rodoviária que tem sido pretendida,<br />

considerando que a mesma<br />

continua a ser «essencial».<br />

«A ponte rodoviária, que se situará<br />

no limite de Santo André, mantém-se como algo muito<br />

importante e estamos a trabalhar para a sua eventual<br />

concretização», disse Carlos Humberto.<br />

«Vamos lutar para que a Administração Central avance<br />

com a ponte rodoviária Barreiro/Seixal e também com o<br />

prolongamento do Metro Sul do Tejo. A ponte rodoviária<br />

e esta pedonal são coisas distintas mas ambas importantes»,<br />

acrescentou Joaquim Santos.


24 31 -3-201 6<br />

EUROPA<br />

Quem semeia ventos<br />

· João Pimenta Lopes<br />

No passado dia 22 de<br />

Março, Bruxelas<br />

acordou ao som de<br />

explosões no átrio de partidas do<br />

Aeroporto Internacional de<br />

Zaventem e na estação de Metro de<br />

Maelbeek. As hediondas acções,<br />

reclamadas a meio da tarde desse<br />

dia pelo autoproclamado Estado<br />

Islâmico, resultaram na morte de<br />

pelo menos 35 pessoas e mais de<br />

três centenas de feridos, e<br />

trouxeram de novo, após os<br />

atentados de Novembro em Paris, o<br />

espectro do terrorismo em solo da<br />

União Europeia. Mais uma vez as<br />

acções desta, como de outras<br />

organizações terroristas, têm lugar<br />

em zonas públicas, tendo como alvos<br />

cidadãos comuns, de forma<br />

aleatória.<br />

Os meios de comunicação social<br />

dominantes alimentam agora a<br />

máquina do medo, que sempre se<br />

aproveita destes momentos para<br />

prosseguir os seus fins e aprofundar<br />

a sua propaganda. Ao longo da<br />

última semana e meia, tem feito uso<br />

à exaustão dos acontecimentos<br />

daquele dia e dos desenvolvimentos<br />

na Bélgica e noutros países como a<br />

França, a Alemanha ou até Portugal.<br />

As buscas, as detenções, as<br />

suspeitas, os casos paralelos que<br />

podem ou não ter alguma ligação,<br />

os sacos e mochilas suspeitos, a<br />

possibilidade de novos atentados, as<br />

grandes operações policiais<br />

transmitidas em directo, as<br />

constantes referências aos «árabes»,<br />

ou «muçulmanos», enchem páginas<br />

de jornais e horas de telejornais.<br />

Uma filosofia do medo que põe cada<br />

cidadão a olhar por sobre o ombro,<br />

promovendo o desconforto e a<br />

desconfiança doutrem, motivada por<br />

traços culturais ou nacionais,<br />

canalizando-o nomeadamente para<br />

os árabes e outras minorias. Uma<br />

filosofia que alimenta a extrema-<br />

-direita fascista, num enquadramento<br />

que lhes é permissivo. Assim se<br />

explicam os acontecimentos em<br />

Bruxelas no domingo, onde as<br />

autoridades permitiram que centenas<br />

de fascistas interrompessem<br />

manifestações públicas de<br />

solidariedade pelos mortos e de<br />

apelo à paz, com agressões e<br />

cânticos racistas.<br />

Das causas do terrorismo, salvo<br />

raras excepções, pouco ou nada é<br />

dito. Só da necessidade de reforçar<br />

de intervir militarmente aqui e ali e<br />

de implementar as medidas<br />

securitárias, mais questionáveis<br />

ainda quando assentes numa<br />

concepção racista, xenófoba e<br />

antidemocrática que a União<br />

Europeia vem aprofundando. Acções<br />

que acelerarão a criação de um<br />

Registo Europeu de Identificação de<br />

Passageiros (ou seja, a recolha e<br />

arquivamento de todas as<br />

informações de viagens e pessoais<br />

dos passageiros aéreos no espaço da<br />

União Europeia), limitações à livre<br />

circulação de pessoas em solo<br />

europeu enquanto que o capital, a<br />

exploração e as grandes<br />

multinacionais se continuam a<br />

«movimentar» livremente. Promove-<br />

-se assim uma gigantesca base de<br />

dados, partilhada, nomeadamente<br />

com os EUA, de todos os cidadãos<br />

europeus que atravessem fronteiras,<br />

criando perfis de cidadãos, com<br />

extensa compilação de dados<br />

pessoais.<br />

E enquanto os jornais se enchem<br />

das investigações, passa de fininho<br />

o agravamento das condições dos<br />

refugiados que tentam chegar à<br />

Europa e as consequências das<br />

criminosas políticas da União<br />

Europeia. Omite-se as condições<br />

degradantes e inimagináveis em que<br />

dezenas de milhares de homens,<br />

mulheres e crianças se concentram<br />

na fronteira com a Macedonia em<br />

Idomeni. Omite-se o encerramento<br />

e transformação dos centros de<br />

«acolhimento» na Grécia em<br />

autênticos campos de concentração<br />

e deportação, onde se criminalizam<br />

refugiados e migrantes. Omite-se a<br />

criminosa acção no mar Egeu, onde<br />

foi aplaudida a presença da NATO,<br />

com tentativas registadas de<br />

afundamento de embarcações por<br />

parte das forças turcas.<br />

Omite-se o papel da Turquia, em<br />

colaboração com o Ocidente, na<br />

violenta repressão do povo curdo,<br />

nos crimes cometidos em Cizre<br />

(autênticos actos de terrorismo de<br />

Estado), nos bombardeamentos na<br />

Síria, no financiamento e apoio ao<br />

Estado Islâmico ou à Jabhat al-<br />

-Nusra (uma facção da Al-Qaeda na<br />

Síria), força que tem igualmente sido<br />

apoiada por Israel no combate ao<br />

Hezbollah (aliados do regime sírio a<br />

combater no terreno),<br />

nomeadamente na fronteira dos<br />

montes Golãs, território que Israel<br />

ocupa há décadas. Como omissos<br />

têm sido os impunes assassinatos do<br />

exército israelita de crianças e<br />

adolescentes palestinianos nos<br />

últimos dias.<br />

Tão pouco tiveram a mesma<br />

cobertura mediática os criminosos<br />

atentados terroristas ocorridos no<br />

Iraque no dia 25, vitimando pelo<br />

menos 30 pessoas e ferindo mais de<br />

90, ou no Paquistão no dia 27,<br />

onde morreram mais de 70 pessoas<br />

e mais de 300 pessoas ficaram<br />

feridas, sobretudo mulheres e<br />

crianças.<br />

A listagem seria interminável dos<br />

grupos e actos terroristas, a que o<br />

imperialismo tem fechado os olhos,<br />

apoiado, promovido, financiado,<br />

alimentado, já para não falar dos<br />

actos terroristas que tão «nobres»<br />

democracias têm imposto.<br />

Terrorismo que como o PCP não se<br />

tem cansado de afirmar serve<br />

sempre os mais obscuros e<br />

reaccionários interesses.<br />

Sejamos claros. Qualquer acto<br />

terrorista que ceife vidas inocentes<br />

indiscriminadamente, merece firme<br />

condenação e forte combate. O<br />

terrorismo só se combate com<br />

políticas de paz, de respeito pela<br />

soberania dos estados, de<br />

cooperação entre os povos, e pela<br />

ruptura com as políticas de direita<br />

que se impõem na Europa.<br />

A juventude tem tido uma presença destacada no combate à regressão dos direitos<br />

Franceses contra Lei do Trabalho<br />

Luta de todos<br />

Trabalhadores e estudantes realizam hoje em<br />

toda a França uma grande jornada de luta pela<br />

retirada do projecto de lei do trabalho, que<br />

inclui greves em todos os sectores.<br />

A retrógrada proposta de<br />

lei foi aprovada, dia 24, em<br />

Conselho de Ministros, numa<br />

versão mais amenizada<br />

em relação ao projecto inicial.<br />

Porém, os recuos do<br />

governo Hollande-Valls, depois<br />

das grandes manifestações<br />

realizadas nas últimas<br />

semanas por sindicatos<br />

e organizações de estudantes,<br />

não alteraram a essência<br />

da reforma laboral,<br />

concebida na raiz para atacar<br />

o horário das 35 horas,<br />

facilitar despedimentos e<br />

agravar a exploração, em<br />

particular, dos jovens trabalhadores.<br />

Por isso, no dia em que<br />

os ministros aprovaram a<br />

lei para posterior debate no<br />

parlamento, quatro centrais<br />

Greves<br />

e manifestações<br />

exigem retirada<br />

do projecto<br />

sindicais e numerosas organizações<br />

estudantis voltaram<br />

a manifestar-se nas<br />

principais cidades francesas,<br />

exigindo a retirada completa<br />

do projecto.<br />

A União Nacional de Estudantes<br />

de França estimou<br />

em 150 mil o número de<br />

jovens que participaram nas<br />

acções de dia 24. Em Paris,<br />

Nantes, Rouen, Lyon,<br />

Grenoble, Besançon, Bordéus<br />

ou ainda Marselha as<br />

ruas encheram-se de protestos<br />

e palavras de ordem<br />

Desigualdade no Reino Unido<br />

Alarga-se fosso<br />

intergeracional<br />

contra a «Lei Khomri», nome<br />

da ministra do Trabalho,<br />

Myriam El Khomri, responsável<br />

pelo diploma.<br />

Desta vez, porém, a pressão<br />

dos contingentes policiais<br />

resultou em confrontos<br />

violentos e dezenas de<br />

detenções. As câmaras de<br />

televisão registaram imagens<br />

chocantes de uso desproporcionado<br />

da força contra<br />

adolescentes. O próprio<br />

ministro do Interior, Bernard<br />

Cazeneuve, foi forçado<br />

a reconhecer os «excessos»<br />

policiais e a anunciar<br />

a abertura de uma investigação,<br />

prometendo sanções<br />

adequadas.<br />

Para hoje, 31, está anunciada<br />

uma jornada de luta<br />

ainda mais ampla do que a<br />

de dia 9, data em que mais<br />

de meio milhão de trabalhadores,<br />

estudantes e reformados<br />

repudiaram a ofensiva<br />

contra os direitos laborais.<br />

A desigualdade social e de oportunidades<br />

entre as novas e as velhas gerações<br />

acentuou-se nos últimos anos e ameaça<br />

tornar o Reino Unido num país «permanentemente<br />

dividido».<br />

A conclusão é da Comissão para a Mobilidade<br />

Social e a Pobreza Infantil, uma<br />

entidade governamental, que acompanha<br />

as questões sociais.<br />

O seu presidente, Alan Milburn, alertou<br />

para a gravidade da situação, apelando<br />

ao governo que tome medidas urgentes<br />

no sentido de dar mais oportunidades<br />

aos jovens no acesso à educação, ao mercado<br />

de trabalho e à habitação.<br />

Na apresentação do estudo, Milburn,<br />

antigo ministro trabalhista, salientou que<br />

a ideia de que as novas gerações teriam<br />

uma vida melhor do que as anteriores «é<br />

parte da trama que unia a sociedade no<br />

seu conjunto».<br />

Porém, o relatório da Comissão, que incluiu<br />

uma sondagem de opinião, mostra<br />

que é o contrário que está a ocorrer.<br />

Um quinto dos inquiridos receia que o<br />

Estado invista cada vez menos em serviços<br />

públicos, criando maiores dificuldades<br />

aos jovens. E a maioria (54%) considera<br />

que a vida dos jovens será pior dos<br />

que a dos seus pais e avós, contra apenas<br />

20 por cento que se manifestam optimistas.<br />

«Tanto o nosso relatório como a sondagem<br />

indicam que chegámos a um ponto<br />

crítico, e se estas tendências se mantiverem<br />

tornar-nos-emos uma nação permanentemente<br />

dividida».<br />

Milburn salientou ainda que menos de<br />

metade dos jovens britânicos tem recursos<br />

para aceder a habitação própria. A<br />

chamada «Geração Y» ou «Geração do<br />

Milénio», jovens que nasceram entre os<br />

anos 80 e 2000, tem de fazer face a propinas<br />

universitárias muito mais elevadas<br />

do que as gerações anteriores, altos preços<br />

da habitação e uma carestia de vida<br />

sem precedentes.<br />

Nos últimos 30 anos, os jovens deixaram<br />

de ser pessoas bem remuneradas,<br />

com recursos para comprarem casa e constituírem<br />

família, e tornaram-se «parentes<br />

pobres» da sociedade.


31 -3-201 6 EUROPA<br />

25<br />

Fusão<br />

na banca<br />

italiana<br />

Os bancos italianos Banco<br />

Popolare e Banca Popolare<br />

di Milano acordaram, dia<br />

24, fundir-se para criar o<br />

terceiro maior grupo<br />

bancário do país, a seguir<br />

ao Unicredit e Intesa<br />

Sanpaolo.<br />

A operação surge na<br />

sequência do acordo entre<br />

o governo italiano e a<br />

Comissão Europeia que<br />

permite ao Estado ajudar<br />

a banca a fazer face ao<br />

grande volume de crédito<br />

malparado, num montante<br />

de 200 mil milhões de<br />

euros, o qual pesa sobre a<br />

economia.<br />

O novo colosso bancário<br />

conta com activos avaliados<br />

em 170 mil milhões de<br />

euros, cerca de 25 mil<br />

trabalhadores e perto de<br />

quatro milhões de clientes,<br />

detendo quotas de mercado<br />

entre os dez e os 15 por<br />

cento, nas regiões mais<br />

ricas de Itália.<br />

Credit Suisse<br />

acelera<br />

reestruturação<br />

O Credit Suisse, o segundo<br />

maior banco helvético,<br />

anunciou, dia 21, o<br />

alargamento do programa<br />

de reestruturação, com<br />

vista a reduzir custos no<br />

montante de 3,9 mil<br />

milhões de euros até 2018.<br />

Entre outras medidas, a<br />

instituição prevê a<br />

supressão de mais dois mil<br />

postos de trabalho na sua<br />

divisão Global Markets,<br />

elevando para seis mil o<br />

número de empregos<br />

extintos desde Outubro<br />

passado.<br />

O emagrecimento passa<br />

pela redução da sua<br />

presença nos mercados do<br />

continente americano e<br />

europeu. Após ter registado<br />

prejuízos em Fevereiro<br />

último, o banco pretende<br />

assim «resistir às difíceis<br />

condições de mercado».<br />

Polónia recusa<br />

refugiados<br />

A primeira-ministra da<br />

Polónia, Beata Szydlo,<br />

afirmou, dia 23, que o país<br />

não vai aceitar refugiados<br />

ao abrigo do mecanismo<br />

europeu de repartição de<br />

candidatos a asilo.<br />

A governante declarou que,<br />

depois dos atentados<br />

ocorridos na véspera<br />

em Bruxelas, «somos<br />

obrigados, antes de tudo,<br />

a velar pela segurança dos<br />

nossos cidadãos»,<br />

considerando que entre os<br />

migrantes «também há<br />

terroristas».<br />

Antes, o governo polaco<br />

tinha aceitado receber<br />

cerca de sete mil<br />

refugiados.<br />

ONG condenam acordo entre UE e Turquia<br />

Expulsão injusta e desumana<br />

Um conjunto de organizações que prestavam<br />

auxílio aos refugiados na Grécia decidiram<br />

suspender a sua actividade na sequência do<br />

acordo entre a União Europeia e a Turquia.<br />

O acordo com a Turquia,<br />

subscrito, dia 20, pelos<br />

chefes de Estado e de Governo<br />

da União Europeia<br />

com o governo de Ancara,<br />

transformou os campos de<br />

passagem de refugiados em<br />

campos de «detenção», segundo<br />

considerou o Alto<br />

Comissariado das Nações<br />

Unidas para os Refugiados<br />

(ACNUR).<br />

Na nova situação, a agência<br />

da ONU foi a primeira<br />

a suspender a colaboração<br />

com as autoridades europeias.<br />

«Não vamos trabalhar<br />

em centros de detenção.<br />

Os refugiados estão<br />

retidos, o que é contrário<br />

à nossa política, pelo que<br />

não vamos ajudar a identificá-los<br />

e a registá-los»,<br />

declarou, dia 22, a porta-<br />

-voz do ACNUR, Melissa<br />

Fleming.<br />

Seguiram-se os Médicos<br />

Sem Fronteiras, o Comité<br />

Internacional de Socorro<br />

e o Conselho Norueguês<br />

para os Refugiados, entre<br />

outras organizações que<br />

Detenções<br />

arbitrárias<br />

violam normas<br />

internacionais<br />

recusaram ser «instrumentalizadas<br />

para operações<br />

de expulsões massivas» e<br />

tornarem-se «cúmplices de<br />

um sistema injusto e desumano».<br />

Posição semelhante assumiu<br />

a organização Médicos<br />

do Mundo, para a qual<br />

o acordo com a Turquia representa<br />

a «sentença de<br />

morte da Convenção de<br />

Genebra», que estabelece<br />

os direitos dos refugiados.<br />

No mesmo sentido pronunciou-se<br />

a ONG Save the<br />

Children, ao anunciar a<br />

suspensão da sua presença<br />

em vários centros de refugiados<br />

nas ilhas gregas.<br />

A organização deixou claro<br />

que não pretende participar<br />

«num sistema que<br />

inclui detenções ilegais e<br />

injustificadas de crianças<br />

e famílias que chegam à<br />

Grécia».<br />

As novas regras levaram<br />

a ONG Better Days For<br />

Moria (BDFM), criada expressamente<br />

para auxiliar<br />

migrantes chegados à ilha<br />

grega de Lesbos, a abandonar<br />

o local.<br />

Durante quatro meses os<br />

voluntários acolheram milhares<br />

de pessoas que precisavam<br />

de ajuda. Mas na<br />

última semana tudo mudou.<br />

O centro de registo<br />

de Moria transformou-se<br />

numa prisão. Enclausurados,<br />

os migrantes já não<br />

podem aceder às instalações<br />

da BDFM.<br />

A ilegalidade do procedimento<br />

foi denunciada pelo<br />

Alto Comissário das Nações<br />

Unidas para os Direitos<br />

Humanos, Zeid Ra'ad<br />

Al Hussein.<br />

O responsável máximo<br />

da ONU pelos direitos humanos<br />

manifestou-se, dia<br />

24, muito preocupado com<br />

a «detenção arbitrária de<br />

imigrantes e refugiados»,<br />

incluindo crianças, sublinhando<br />

que se trata de<br />

uma «prática que viola uma<br />

série de normas internacionais».<br />

Os centros de recepção na Grécia transformaram-se em locais de detenção de migrantes<br />

Indiferença<br />

e repressão<br />

Recorde-se que o acordo<br />

UE-Turquia, em vigor<br />

desde dia 20, determina<br />

que todos os recém-chegados<br />

à Grécia sejam deportados<br />

para a Turquia, cabendo<br />

a este país recambiá-los<br />

para os respectivos<br />

países de origem.<br />

A ordem foi implacavelmente<br />

cumprida sem qualquer<br />

prazo de tolerância.<br />

Ainda a tinta não tinha secado<br />

e já as autoridades<br />

turcas haviam detido e expulsado<br />

30 afegãos requerentes<br />

de asilo, segundo<br />

denunciou John Dalhuisen,<br />

director-adjunto do programa<br />

Europa e Ásia da Amnistia<br />

Internacional.<br />

Indiferentes às dezenas<br />

de milhares de migrantes<br />

que se encontram encurralados,<br />

vários países europeus<br />

anunciaram o reforço<br />

dos efectivos para o<br />

contingente do Frontex e<br />

para a Agência Europeia<br />

de Asilo. Também não faltarão<br />

meios para expulsar<br />

migrantes do espaço europeu.<br />

Mas ao mesmo tempo<br />

que se fecham as rotas no<br />

Leste e se aperta a vigilância<br />

no mar Egeu, centenas<br />

de milhares de migrantes<br />

concentram-se no Norte da<br />

Líbia, aguardando uma<br />

oportunidade para tentar a<br />

travessia em direcção a<br />

Lampedusa.<br />

De acordo com o ministro<br />

francês da Defesa, Jean-Yves<br />

Le Drian, cerca<br />

de 800 mil refugiados estarão<br />

actualmente na costa<br />

da Líbia em busca de<br />

transporte.<br />

O mesmo responsável<br />

adiantou, dia 24, que a UE<br />

tenciona enviar navios de<br />

guerra para impedir embarcações<br />

com migrantes<br />

de realizarem a travessia a<br />

partir da Líbia.<br />

Irlandeses comemoram<br />

centenário da revolta da Páscoa<br />

Centenas de milhares de pessoas<br />

encheram, dia 27, as ruas de Dublin,<br />

para marcar o centésimo aniversário<br />

da Revolta da Páscoa, levantamento<br />

popular contra o domínio<br />

britânico que abriu caminho para<br />

a independência da Irlanda.<br />

As comemorações marcaram os<br />

seis dias da revolta na semana santa<br />

de 1916, durante os quais foram<br />

tomados edifícios estratégicos por toda<br />

a capital e declarada a República<br />

Irlandesa.<br />

A data foi assinalada com uma parada<br />

militar, incluindo tanques e aeronaves<br />

militares, e um desfile de<br />

forças de emergência.<br />

O presidente irlandês, Michael Higgins,<br />

deu início às cerimónias colocando<br />

uma coroa de flores na antiga<br />

prisão de Kilmainham Gaol, onde os<br />

britânicos executaram os líderes revolucionários,<br />

e depois outra no General<br />

Post Office, que serviu de quartel-general<br />

dos revoltosos.<br />

Uma banda militar tocou a melodia<br />

«Danny Boy» e foi lida a proclamação<br />

de 1916, declarando «o direito<br />

do povo da Irlanda à propriedade<br />

da Irlanda».<br />

As forças coloniais britânicas esmagaram<br />

a revolta em cerca de seis<br />

dias, mas não conseguiram asfixiar<br />

a luta popular pela independência.<br />

Em 1922 a Irlanda é reconhecida<br />

como Estado livre mas ainda dentro<br />

do império britânico, e depois em<br />

1948 já como república independente<br />

da coroa britânica.<br />

Alemanha<br />

aumenta pensões<br />

O governo alemão<br />

anunciou, dia 21, uma<br />

revalorização das pensões<br />

de reforma, já a partir de<br />

1 de Julho, no valor de<br />

4,25 por cento na parte<br />

Oeste do país e de 5,96<br />

por cento na parte Leste.<br />

Trata-se do maior aumento<br />

relativo dos últimos 23<br />

anos que irá beneficiar<br />

20,6 milhões de<br />

reformados e pensionistas<br />

alemães, segundo declarou<br />

Andrea Nahles, ministra<br />

do Trabalho e Assuntos<br />

Sociais.<br />

Andrea Nahles recordou<br />

que o último aumento<br />

significativo das pensões<br />

teve lugar em 1993,<br />

quando o governo subiu as<br />

prestações em 5,55 por<br />

cento no Oeste e 4,36 por<br />

cento no Leste.<br />

O seu impacto hoje é<br />

todavia maior devido à<br />

reduzida inflação e às<br />

baixas taxas de juro.<br />

De acordo com a ministra,<br />

o aumento resulta da «boa<br />

situação do mercado<br />

laboral, do crescimento da<br />

economia e do aumento<br />

dos salários».<br />

A medida visa ainda<br />

reduzir a diferença que<br />

continua a separar as<br />

pensões no Leste do país,<br />

cujo valor médio passará<br />

de 92,6 por cento para<br />

94,1 por cento das<br />

prestações pagas no Oeste.<br />

Na Alemanha, as pensões<br />

de reforma estão indexadas<br />

à evolução do emprego e<br />

dos salários. Estes últimos<br />

registaram uma subida de<br />

2,5 por cento em 2015,<br />

melhoria que, como<br />

reconhece o gabinete de<br />

estatísticas da Alemanha<br />

(Destatis), em parte se<br />

deveu à introdução do<br />

salário mínimo no país.<br />

Bélgica<br />

bombardeia Síria<br />

O primeiro-ministro belga,<br />

Charles Michel, confirmou<br />

a intenção de o seu governo<br />

enviar brevemente caças<br />

F-16 para bombardear a<br />

Síria, alegadamente para<br />

combater o grupo terrorista<br />

«Estado Islâmico».<br />

O governante fez o anúncio,<br />

dia 25, após um encontro<br />

com o secretário de Estado<br />

dos EUA, Jonh Kerry,<br />

acrescentando que o<br />

mandato da missão será<br />

discutido no parlamento.<br />

A Bélgica está em estado<br />

de alerta máximo desde dia<br />

22, na sequência das<br />

explosões no aeroporto de<br />

Zaventem e no Metro de<br />

Bruxelas, que fizeram 31<br />

vítimas mortais e cerca de<br />

300 feridos.<br />

As autoridades encerraram<br />

as fronteiras com a França<br />

e reforçaram o controlo das<br />

instalações nucleares.


2 6 INTERNACIONAL<br />

31 -3-201 6<br />

•<br />

Desafio crucial<br />

em Cabo Verde<br />

Em Cabo Verde, o<br />

MpD (Movimento<br />

para a Democracia),<br />

de direita, ganhou as recentes<br />

eleições legislativas e vai governar<br />

nos próximos cinco anos.<br />

O PAICV (Partido Africano da<br />

Independência de Cabo Verde), do<br />

primeiro-ministro José Maria<br />

Neves, que governou durante três<br />

legislaturas, passa à oposição.<br />

O MpD venceu em todas as ilhas,<br />

obteve 54 por cento dos votos e<br />

elegeu 40 deputados, de um total<br />

de 72 do parlamento cabo-<br />

-verdiano. O PAICV, com 38 por<br />

cento dos votos, assegurou 29<br />

assentos e a UCID (União Cabo-<br />

-verdiana Independente e<br />

Democrática) conquistou três<br />

mandatos, mais um do que nas<br />

anteriores eleições, todos pelo<br />

círculo de S. Vicente. Os três<br />

outros partidos concorrentes<br />

obtiveram no conjunto 0,5 por<br />

cento da votação e não elegeram<br />

qualquer representante. A taxa de<br />

abstenção subiu para 34 por cento,<br />

num universo de 350 mil eleitores<br />

inscritos.<br />

A líder do PAICV desde finais de<br />

2014, Janira Hopffer Almada,<br />

declarou que «respeita o veredicto<br />

do povo», garantiu que fará uma<br />

«oposição construtiva» e anunciou<br />

que a direcção do partido analisará<br />

em breve os resultados eleitorais.<br />

O presidente do MpD, Ulisses<br />

Correia e Silva, um gestor de 54<br />

anos, será o próximo primeiro-<br />

-ministro e tomará posse em Abril.<br />

Antigo secretário de Estado e<br />

ministro das Finanças de governos<br />

dos anos 90 e autarca da Praia até<br />

há poucos meses, promete fazer<br />

crescer a economia sete por cento<br />

ao ano, criar 45 mil postos de<br />

trabalho durante a legislatura,<br />

alargar o ensino obrigatório até ao<br />

12.º ano, tornar o Estado «mais<br />

eficiente e menos gastador».<br />

Já depois das eleições, numa<br />

entrevista à televisão estatal, citada<br />

pelo Expresso das Ilhas, o novo<br />

chefe do governo explicou que<br />

pretende «criar todas as condições<br />

para um bom ambiente de<br />

negócios, para estimular o<br />

investimento privado interno e<br />

atrair o investimento externo, para<br />

termos impostos baixos». Para<br />

concretizar tais objectivos, conta<br />

com a ajuda divina: «Peço a Deus<br />

todos os dias para não ser atingido<br />

pela doença do poder, porque às<br />

vezes o poder adoece as pessoas.<br />

Ter os pés no chão, saber que<br />

estou a prestar um serviço público<br />

ao meu país, que eu vou governar<br />

para todos os cabo-verdianos, que<br />

eu vou governar com sentido de<br />

integração, de coesão e vou criar<br />

todas as condições para que os<br />

cabo-verdianos sejam realmente os<br />

actores e beneficiários do<br />

desenvolvimento».<br />

Embora tenham apresentado<br />

Carl os Lopes Perei ra<br />

O<br />

programas eleitorais com poucas<br />

diferenças, o PAICV está filiado na<br />

Internacional Socialista e o MpD<br />

na Internacional da Democracia do<br />

Centro (IDC), associada ao Partido<br />

Popular Europeu, da democracia<br />

cristã, e que em África integra<br />

partidos como a Unita, de Angola,<br />

a Renamo, de Moçambique, e a<br />

ADI, no poder em S. Tomé e<br />

Príncipe.<br />

Três eleições em 201 6<br />

Os Estados Unidos, onde vivem<br />

milhares de cabo-verdianos,<br />

saudaram as «bem-sucedidas<br />

eleições legislativas de 20 de<br />

Março, que foram uma vez mais<br />

livres e justas». As eleições e a<br />

mudança de poder «reafirmam a<br />

posição de Cabo Verde como um<br />

modelo de democracia em África»,<br />

lê-se numa nota de imprensa do<br />

Departamento de Estado.<br />

Washington, que mantém boas<br />

relações com a Praia, manifestou<br />

vontade de «prosseguir a parceria<br />

com Cabo Verde para fortalecer a<br />

governação, promover o<br />

crescimento económico e o<br />

desenvolvimento e estabelecer uma<br />

cooperação duradoura em matéria<br />

de segurança regional».<br />

Também o presidente da<br />

República de Cabo Verde felicitou<br />

Ulisses Silva. «Venceu a<br />

democracia cabo-verdiana.<br />

Parabéns aos vencedores. Honra<br />

aos vencidos! A democracia<br />

continuou a funcionar e triunfou»,<br />

escreveu nas redes sociais.<br />

Jorge Carlos Fonseca, eleito em<br />

2011 com o apoio do MpD, deverá<br />

apresentar-se a um segundo<br />

quinquénio, nas eleições<br />

presidenciais previstas para o final<br />

deste ano.<br />

O PAICV ainda não escolheu<br />

candidato, mas a imprensa cabo-<br />

-verdiana tem admitido a<br />

possibilidade de José Maria Neves<br />

entrar na corrida – o que o ex-<br />

-líder do partido e primeiro-<br />

-ministro cessante ainda não<br />

confirmou.<br />

Antes das presidenciais, haverá<br />

eleições autárquicas, já que o novo<br />

governo deverá marcá-las para o<br />

Verão e fazer o movimento que o<br />

sustenta beneficiar da dinâmica de<br />

vitória conseguida nas legislativas.<br />

Neste momento, o MpD e os seus<br />

aliados locais controlam 14<br />

municípios e o PAICV tem maioria<br />

em oito câmaras.<br />

As eleições de 2016 constituem,<br />

assim, um desafio crucial para o<br />

PAICV, herdeiro do legado<br />

histórico da luta de libertação<br />

nacional na Guiné-Bissau e em<br />

Cabo Verde dirigida por Amílcar<br />

Cabral. E que governou com<br />

reconhecido êxito um total de 30<br />

dos 40 anos do Cabo Verde<br />

independente, fruto dessa luta.<br />

Guerra no Iémen<br />

Milhares pela paz<br />

A capital do Iémen foi palco de uma gigantesca<br />

manifestação contra a intervenção militar<br />

saudita quando se cumpre um ano sobre a<br />

agressão.<br />

protesto em defesa da<br />

paz realizado em Sanaa,<br />

dia 26, foi convocado pelo<br />

partido do ex-presidente<br />

Ali Saleh, que aproveitou<br />

a ocasião para fazer<br />

uma rara aparição pública<br />

nos últimos meses. Ao seu<br />

lado estiveram altos responsáveis<br />

das milícias hutí,<br />

entre as quais o seu líder,<br />

que acusam a coligação<br />

liderada pela Arábia<br />

Saudita de promover um<br />

genocídio no país.<br />

De acordo com as Nações<br />

Unidas, a guerra no<br />

Iémen já provocou 6300<br />

mortos, mais de metade<br />

(3218) civis. A direcção<br />

«rebelde», por seu lado,<br />

calcula em quase nove mil<br />

o número de vítimas civis<br />

em resultado da agressão<br />

saudita, entre as quais cerca<br />

de 2800 crianças e mulheres.<br />

Dezenas de instalações<br />

hospitalares, incluindo<br />

algumas operadas por<br />

organizações humanitárias<br />

internacionais, foram atingidas<br />

pelos bombardeamento<br />

da aviação de Riade.<br />

Caças bombardeiros sauditas<br />

sobrevoaram a manifestação<br />

de sábado, sem<br />

no entanto conseguirem<br />

desmobilizar a multidão.<br />

Quando se cumpre um<br />

ano sobre o início da campanha<br />

bélica no território,<br />

Quase nove mil<br />

civis foram<br />

mortos pelos<br />

bombardeamentos<br />

sauditas<br />

Tribunal angolano<br />

dita sentença<br />

O Tribunal Provincial de Luanda condenou<br />

os 17 cidadãos angolanos, que estão<br />

a ser julgados desde Novembro passado,<br />

a penas que vão dos dois a oito anos<br />

e seis meses de prisão, pelos crimes, entre<br />

outros, de actos preparatórios de rebelião<br />

e associação de malfeitores. A defesa<br />

e o Ministério Público anunciaram<br />

que iriam apresentar recurso para o Tribunal<br />

Supremo de Angola.<br />

Face à instrumentalização deste processo<br />

em Portugal, o PCP, reafirmando a defesa<br />

do direito de opinião e manifestação<br />

e dos direitos políticos, económicos e sociais<br />

em geral, tem sublinhado a importância<br />

do respeito pela soberania da República<br />

de Angola, do direito do seu povo<br />

a decidir – livre de pressões e ingerências<br />

externas – o seu presente e futuro,<br />

incluindo da escolha do caminho para a<br />

superação dos reais problemas de Angola<br />

e a realização dos seus legítimos anseios<br />

Ṙeiterando a defesa dos direitos e garantias<br />

dos cidadãos angolanos – e não<br />

se pronunciando sobre as motivações dos<br />

o presidente Abd Hadi -<br />

reconhecido pela Arábia<br />

Saudita, onde se refugiou<br />

aquando da tomada da capital<br />

pelos que o contestam,<br />

considerou, por seu<br />

lado, que o país «está muito<br />

mais seguro» desde o<br />

início da intervenção armada<br />

Ḋia 25, três atentados<br />

suicidas atribuídos ao autoproclamado<br />

Estado Islâmico<br />

fizeram 22 mortos no<br />

Iémen. Dois dias antes, os<br />

EUA afirmaram ter liquidado<br />

dezenas de combatentes<br />

e destruído um campo<br />

de treino supostamente<br />

instalado no território pela<br />

Al-Qaida na Península Arábica.<br />

Tais acontecimentos<br />

não parecem perturbar a<br />

apreciação de Hadi, que a<br />

partir de Riade fez ainda<br />

saber que «será concluída<br />

uma marcha triunfal para<br />

libertar todo o país».<br />

De paz e não de guerra,<br />

falou, ao invés, Ali Saleh,<br />

que na iniciativa de massas<br />

ocorrida em Sanaa garantiu<br />

que «as nossas mãos<br />

continuam estendidas para<br />

uma paz que traga justiça<br />

à população iemenita<br />

(…), a paz que vai estabelecer<br />

um futuro seguro para<br />

o nosso povo e para a<br />

nossa pátria», disse, citado<br />

pela Lusa.<br />

O ex-presidente defende<br />

«um diálogo directo com a<br />

Arábia Saudita» mas rejeita<br />

liminarmente deixar o<br />

poder a Hadi, que qualifica<br />

de «traidor». Não é claro<br />

se o recomeço das negociações<br />

de paz agendadas<br />

para o dia 18 de Abril,<br />

no Koweit, sob a égide das<br />

Nações Unidas, será nos<br />

moldes propostos por Ali<br />

Saleh. Aparentemente seguro<br />

é que ambas as partes<br />

em conflito se vão abster<br />

de combates a partir do<br />

dia 10 do próximo mês.<br />

Ao fim de 12 meses de<br />

guerra, todas as carências<br />

no Iémen foram agudizadas.<br />

Cerca de 80 por cento<br />

dos iemenitas (20 milhões<br />

de pessoas) dependem<br />

total ou parcialmente<br />

de ajuda humanitária. Para<br />

além dos já referidos<br />

hospitais, os bombardeamentos<br />

sauditas também<br />

destruíram cerca de mil escolas,<br />

25 mesquitas e 40<br />

monumentos, alguns classificados<br />

pela Unesco como<br />

Património Mundial. O<br />

conjunto das infra-estruturas<br />

– saneamento básico,<br />

energia, entre outras –, encontra-se<br />

severamente afectado.<br />

cidadãos angolanos envolvidos neste processo,<br />

nem sobre a forma como as autoridades<br />

angolanas intervieram no decurso<br />

deste –, o PCP tem igualmente reiterado<br />

que cabe às autoridades judiciais angolanas<br />

o tratamento deste ou de outros<br />

processos que recaiam no seu âmbito, no<br />

quadro do normal funcionamento das<br />

suas instituições e de acordo com a sua<br />

ordem jurídico-constitucional.<br />

Neste sentido, e não esquecendo a longa<br />

guerra de subversão e agressão externa<br />

que foi imposta ao povo angolano e<br />

que tantos sofrimentos e destruição causou,<br />

o PCP tem sublinhado que não acompanha<br />

campanhas que, procurando envolver<br />

cidadãos angolanos em nome de<br />

uma legítima intervenção cívica e política,<br />

visam efectivamente pôr em causa o<br />

normal funcionamento das instituições angolanas<br />

e desestabilizar de novo a República<br />

de Angola, com a invocação de argumentos<br />

e pretextos já utilizados para<br />

justificar a ingerência externa exercida sobre<br />

outros países, nomeadamente no continente<br />

africano.


31 -3-201 6<br />

INTERNACIONAL<br />

27<br />

Argentinos repudiaram ditadura e visita de Obama<br />

Regresso ao passado rejeitado<br />

A visita de Barack Obama e os 40 anos da<br />

instauração da ditadura foram pretextos para<br />

os argentinos contestarem o retrocesso promovido<br />

pelo presidente Mauricio Macri, que<br />

cumpriu cem dias de mandato.<br />

O presidente<br />

dos EUA saudou<br />

o «regresso<br />

da Argentina»<br />

Nos dias 23 e 24 de<br />

Março, coincidindo com a<br />

visita de Barack Obama ao<br />

país e com os 40 anos da<br />

instauração da ditadura na<br />

Argentina (1976-1983),<br />

milhares de pessoas concentraram-se<br />

no centro da<br />

capital, Buenos Aires. O<br />

dia 24 de Março, assinalado<br />

como o dia da Memória,<br />

Verdade e Justiça em<br />

homenagem aos cerca de<br />

30 mil desaparecidos durante<br />

regime fascista liderado<br />

por Rafael Videla, aos<br />

milhares de executados,<br />

detidos ou torturados, e às<br />

crianças retiradas às mães<br />

quando estavam no cárcere,<br />

foi instituído em 2006<br />

pelo então presidente Néstor<br />

Kirchener.<br />

Durante as presidências<br />

de Néstor e Cristina Kirchener<br />

(2006-2015) e em<br />

resultado de medidas tomadas<br />

pelos mandatários,<br />

mais de 630 pessoas foram<br />

julgadas e condenadas por<br />

violações dos direitos humanos<br />

durante a ditadura.<br />

De 1984 a 2006, o número<br />

de processos foram quatro.<br />

No passado mês de Dezembro,<br />

vários presos a<br />

quem são atribuídos crimes<br />

de lesa-humanidade<br />

foram colocados em liberdade<br />

com a complacência<br />

do presidente Maurício Macri.<br />

Nesse sentido, a visita<br />

do presidente dos EUA ao<br />

país, justamente no dia 24<br />

de Março e no contexto de<br />

uma forte conflitualidade<br />

social e contestação à orientação<br />

ultra-reaccionária<br />

do executivo, teve para as<br />

organizações e forças progressistas<br />

e de esquerda<br />

argentinas um significado<br />

simbólico.<br />

Sem perdão<br />

Os argentinos rejeitam o País submisso ao imperialismo norte-americano<br />

Barack Obama procurou<br />

demarcar-se do apoio político<br />

e logístico que os<br />

EUA deram à ditadura ao<br />

prestar homenagem às vítimas<br />

e ao referir timidamente<br />

a violação dos direitos<br />

humanos. Caucionou,<br />

porém, o ensejo de Maurício<br />

Macri de «olhar para o<br />

futuro» e soterrar o genocídio<br />

e o terrorismo de Estado<br />

praticados com o [documentado]<br />

estímulo dos<br />

mais altos responsáveis políticos<br />

de Washington, acusaram<br />

organizações e participantes<br />

na marcha realizada<br />

dia 24 sob a consigna<br />

«sem direitos não há democracia».<br />

Este lema remete, por<br />

outro lado, para a situação<br />

de autêntico regresso ao<br />

passado noutros planos. Os<br />

argentinos não esquecem<br />

e pretendem justiça pelos<br />

crimes cometidos entre<br />

1976 e 1983. Uma sondagem<br />

publicada segundafeira,<br />

28, pelo diário página<br />

12, indica que oito em<br />

cada dez argentinos repudiam<br />

a ditadura, e que 60<br />

por cento dos inquiridos<br />

considera que o actual governo<br />

deve perseguir e julgar<br />

os responsáveis por delitos<br />

contra os direitos humanos.<br />

Reclamam, no entanto,<br />

e com o mesmo vigor, contra<br />

a orientação reaccionária<br />

imposta desde que<br />

Mauricio Macri foi empossado<br />

chefe de Estado, de<br />

que servem de exemplo a<br />

vaga de despedimentos e<br />

a perseguição de trabalhadores<br />

contratados na administração<br />

central e local<br />

(algumas estimativas indicam<br />

que são já mais de<br />

100 mil); a censura de<br />

perspectivas e informação<br />

críticas (suspensão da Senado<br />

TV e de programas<br />

na televisão estatal, anúncio<br />

da retirada do sinal da<br />

Telesurtv); o favorecimento<br />

dos grande capital (derrogação<br />

da retenção de lucros<br />

da exploração mineira<br />

e da agro indústria,<br />

acordo com os fundos especulativos<br />

pela emissão<br />

de mais 15 mil milhões de<br />

dólares de dívida soberana,<br />

levantamento das restrições<br />

à conversão de<br />

moeda nacional em dólares<br />

e à sua exportação); o<br />

fim da subsidiação da electricidade<br />

provocando aumentos<br />

de até 500 por<br />

cento, bem como agravamentos<br />

sucessivos na tarifa<br />

de gás para as famílias<br />

e MPME; a repressão dos<br />

protestos populares e imposição<br />

de tectos salariais,<br />

etc.<br />

Tudo promovido pelo governo<br />

de Mauricio Macri<br />

nos primeiros cem dias, o<br />

qual Barack Obama saudou<br />

como exemplo do «regresso<br />

da Argentina à liderança<br />

regional» e ao seio<br />

da «economia global», e<br />

com quem subscreveu uma<br />

série de acordos que fazem<br />

lembrar os famigerados tratados<br />

de Livre Comércio.<br />

Saara Ocidental reclama solução<br />

Familiares dos presos políticos saaráuis em greve de<br />

fome desde 1 de Março agendaram, para anteontem à<br />

tarde, um protesto frente ao Ministério da Justiça<br />

marroquino para alertar para a situação em que se<br />

encontram os 13 encarcerados. Na sexta-feira, 25,<br />

familiares e amigos dos detidos, alvo de processo após<br />

o desmantelamento violento do acampamento de Gdaim<br />

Izik, em Novembro de 2010, já se haviam manifestado.<br />

A iniciativa dos presos ocorre quando o reino de<br />

Marrocos impossibilita o exercício da Missão das Nações<br />

Unidas (Minurso), tendo como últimos episódios o<br />

encerramento do gabinete de ligação militar em Dakhla<br />

No Brasil, contra o golpe<br />

No rescaldo das grandes acções de massas realizadas<br />

dia 18, sob convocatória de diversas forças políticas e sociais<br />

brasileiras, milhares de pessoas manifestaram-se no<br />

dia 24 em defesa da democracia, contra o golpe articulado<br />

por sectores da direita e em defesa dos direitos dos<br />

trabalhadores.<br />

Em São Paulo, cerca de 30 mil pessoas deram corpo à<br />

maior mobilização do dia. Reunidos no Largo da Batata,<br />

os manifestantes marcharam em seguida até às instalações<br />

da TV Globo, que acusam de estar envolvida na «trama<br />

golpista» e de ter «um histórico de casos que atentam contra<br />

a democracia».<br />

No dia anterior, 23 de Março, as seis principais centrais<br />

sindicais do Brasil reuniram-se em São Paulo num<br />

acto contra a destituição de Dilma Rousseff e de apoio a<br />

Lula da Silva, que esteve presente como convidado.<br />

Entretanto, as estruturas de luta contra o golpe, promovem<br />

hoje, 31, um Dia Nacional de Mobilização sob o lema<br />

«Em defesa da democracia: golpe nunca mais; contra<br />

o ajuste fiscal: por outra política económica; em defesa<br />

dos direitos: contra a reforma da Previdência».<br />

Em nota divulgada após a reunião da sua Comissão Política,<br />

segunda-feira, 28, o Partido Comunista do Brasil<br />

(PCdoB) considerou o protesto agendado para hoje uma<br />

das batalhas decisivas que se aproximam. Outra terá lugar<br />

no próximo dia 9 de Abril com a realização da Assembleia<br />

Popular em defesa da Democracia», em São Paulo.<br />

O PCdoB salienta «a necessidade de ampliarmos cada<br />

vez mais a resistência democrática» e apela a que a mobilização<br />

contra o golpe seja mantida «nas ruas, nas redes,<br />

nas universidades, nas instituições».<br />

Dois pesos, duas medidas<br />

No dia 23, o portal UOL divulgou uma lista apreendida<br />

no âmbito das investigações Lava Jato, em que surgem<br />

os nomes de mais de 200 políticos, de 18 partidos, suspeitos<br />

de terem recebido dinheiro ilícito da construtora<br />

Odebrecht. Entre os nomes divulgados encontram-se os<br />

de destacados golpistas como Aécio Neves, José Serra ou<br />

Eduardo Cunha. Lula e Dilma não constam da lista.<br />

O juiz Sérgio Moro, que não teve pejo em divulgar à comunicação<br />

social escutas ilegais feitas à Presidente da República<br />

– uma conversa telefónica entre ela e Lula da Silva<br />

na véspera da tomada de posse deste como ministro –,<br />

agora decretou o segredo de justiça, alegando «imunidade».<br />

e a expulsão da maioria dos peritos civis internacionais.<br />

O vice-porta-voz da ONU, Farhan Haq, considerou que<br />

sem uma efectiva missão de paz é impossível cumprir o<br />

mandato que lhe está atribuído no território e apelou à<br />

intervenção do Conselho de Segurança (CS).<br />

Acrescem o precedente da expulsão dos mandatados<br />

pela ONU (que a ser seguido por outros países poderia<br />

ocorrer sempre que estes se tornem incómodos,<br />

lembrou Haq), e, por outro lado, o risco de eclosão de<br />

mais graves conflitos entre ocupantes e ocupados.<br />

A Frente Polisário, por seu lado, advertiu para o<br />

perigo de uma escalada militar e apelou ao CS para que<br />

ordene a Marrocos «que recue na sua decisão e<br />

aproveite para convocar as partes à mesa das<br />

negociações para ajustar as modalidades de um<br />

referendo [sobre a autodeterminação do Saara<br />

Ocidental]. Até ao momento, o CS das Nações Unidas<br />

não foi capaz de adoptar uma posição conjunta nos<br />

termos reclamados pela Polisário e pela República<br />

Árabe Saaráui Democrática (RASD).<br />

A tensão entre o governo marroquino e as Nações<br />

Unidas foi desencadeada a propósito da visita do<br />

secretário-geral da ONU aos acampamentos de refugidos<br />

saaráuis na Argélia, bem como a zonas libertadas da<br />

RASD, no início do mês de Março, tendo sido recebido<br />

por milhares de pessoas que reclamaram a<br />

independência.<br />

Ban-Ki-moon aproveitou a deslocação para qualificar<br />

a situação do Saara Ocidental de ocupação, apelou a<br />

Marrocos para que aplique as resoluções das Nações<br />

Unidas sobre o conflito e considerou inaceitável a<br />

tragédia do povo saaráui. Em resposta, o governo de<br />

Marrocos promoveu uma manifestação de insulto a Ban<br />

Ki-moon, em Rabat, levando ao cancelamento da visita<br />

que este previa fazer ao Saara Ocidental ocupado.


28 ARGUMENTOS<br />

3 1 -3 -2 01 6<br />

TEATRO<br />

• José Carlos Faria<br />

ODia Mundial do Teatro, que se celebra<br />

a 27 de Março, foi criado<br />

em 1961 pelo Instituto Internacional<br />

do Teatro, um organismo da UNESCO. O<br />

propósito era naturalmente consagrar a importância,<br />

a visibilidade e o «direito de cidade», político<br />

e social, de que esta forma de expressão artística<br />

O teatro pode dizer-nos tudo<br />

PALAVRAS CRUZADAS<br />

beneficiara logo na sua origem, apesar de, posteriormente,<br />

em determinados períodos históricos,<br />

tal lhe ter sido sonegado. Na Grécia da Antiguidade<br />

Clássica, theatron significava «o sítio de onde<br />

se vê», monumento urbano, portanto, cujo nome<br />

se tornou extensível à designação das formas<br />

que acolhia. A condição imprescindível da presença<br />

do Teatro no coração da Polis está também<br />

patente, por exemplo, no Tratado de Arquitectura<br />

do romano Vitrúvio quando preconizava que<br />

«depois de escolhido o local para o Forum, há<br />

que escolher o local para o Teatro».<br />

O Teatro «feito da mesma matéria com que são<br />

feitos os sonhos», é um simulacro (engendrado<br />

pelo real), uma mentira que fala verdade, projecção<br />

potenciada de alegrias, angústias, prazeres e<br />

anseios que preenchem a vida da gente, atento a<br />

tudo o que o rodeia («o Mundo é um palco» dizia<br />

Shakespeare), premonitório, persuasivo e daí, ao<br />

divertir e ensinar, pela sua capacidade de sedução<br />

e mobilização, alvo das pulsões de censura<br />

por parte da grande Ordem instituída.<br />

Num tempo marcado por dualidades e oposições<br />

– Estado/mercado; público/privado; global/local;<br />

individual/colectivo; inclusão/exclusão<br />

– e com crescente precariedade e insegurança, o<br />

Teatro, ainda e sempre, é capaz de assumir uma<br />

dimensão revolucionária enquanto ruptura transgressora<br />

que destrói as convenções existentes,<br />

promovendo uma transformação profunda apta a<br />

congregar as consciências. O Teatro afirma-se assim<br />

como espaço democrático de Liberdade onde<br />

ela é estrangulada pela «democracia» mediática<br />

de massas. A lei do dinheiro tenta colonizar e<br />

capturar as acções dos homens e o capitalismo a<br />

isso chama-lhe liberdade. Porém, qualquer sociedade<br />

incapaz de reconhecer outro valor senão o<br />

dinheiro divinizado, torna-se um empreendimento<br />

sem cultura, ou seja uma empresa de bárbaros.<br />

O Teatro é pois um meio precioso para que<br />

o desenvolvimento não seja apenas avaliado em<br />

termos abstratos de números gerados pelos negócios<br />

mas sim através do contributo humano, concreto<br />

e sensível, expresso por uma visão autónoma<br />

do mundo.<br />

Perante um poder supranacional cujos instrumentos<br />

são a finança, o controlo das tecnologias<br />

e da produção de informações e conhecimentos,<br />

poder supremo no qual a solidariedade se esvai e<br />

se favorece o impulso para um individualismo feroz<br />

e sem escrúpulos que pode até resvalar para<br />

a ilegalidade, o Teatro contrapõe tendencialmente<br />

uma comunidade de iguais, apetrechados com<br />

as armas duma progressiva capacidade crítica. A<br />

igualdade vai então a par com o conhecimento.<br />

Não esse confinado à elite, mas o direito inalienável<br />

de aceder a um conjunto de bens públicos<br />

fundamentais que são justamente o conhecimento,<br />

a educação e a cultura. Porque o monopólio<br />

do conhecimento pela classe dominante denota<br />

afinal a capacidade de impor uma visão totalizante<br />

e por essa via controlar e submeter os gestos<br />

dos cidadãos. A injustiça criada face ao que<br />

sabe perante o que não sabe, entre aquele que<br />

vê e o que não pode ver, não é menor nem menos<br />

grave do que aquela estabelecida entre o que<br />

tem e o que não tem.<br />

O Teatro é um factor de emancipação<br />

Como lembra o encenador russo Anatoli Vassiliev,<br />

na mensagem deste ano, «o Teatro pode dizer-nos<br />

tudo. (…) Entre todas as artes públicas só<br />

o teatro nos dá aquela palavra que passa de boca<br />

em boca, o gesto que vai de mão em mão, de<br />

corpo para corpo, o olhar nos olhos. O Teatro<br />

não precisa de intermediários para funcionar entre<br />

os seres humanos. O Teatro constitui a parte<br />

mais transparente da luz, (…) ele é a essência da<br />

própria luz brilhando nos quatro cantos do mundo<br />

Ḋo que sem dúvida não necessitamos é de um<br />

teatro do terror quotidiano – seja individual ou<br />

colectivo, do que não necessitamos é o teatro de<br />

cadáveres e sangue nas ruas e praças, nas capitais<br />

e províncias, um teatro falso de choques entre<br />

religiões e grupos étnicos»…<br />

HORIZONTAIS: 1 - O bicho da seda; arrancar, com o sacho, as ervas daninhas. 2 -<br />

2<br />

Combinar; homem que faz ou vende doces. 3 - Sétima nota da escala musical; fruto da<br />

3<br />

cidreira; auroque. 4 - Primeira mulher, mãe da humanidade (Bíbl.); a lama, a camada de<br />

lodo depositada pelas cheias nas margens do rio; fileira. 5 - Elegante; camada gordurosa do<br />

4<br />

leite; o espaço aéreo. 6 - Concede; vir a pertencer. 7 - Aquele; fluido aeriforme; mulher<br />

5<br />

que cria criança alheia; palavra havaiana que designa lavas ásperas e escoriáceas. 8 - Falar<br />

muito baixo; pessoa importante, influente. 9 - Indica lugar, tempo, modo, causa, fim e 6<br />

outras relações; duro; óculo. 10 - O bagaço de que se faz a água-pé; antigamente; contr. da<br />

7<br />

prep. a com o art. def. os. 11 - Bebida alcoólica, proveniente da destilação do melaço;<br />

coisa roubada; graceja. 12 - Asilo ou hospital de leprosos; extremidade aguçada. 13 - 8<br />

Examinar a exactidão de; apregoar ou vender em leilão.<br />

9<br />

VERTICAIS: 1 - Apoio; hospedaria grande e luxuosa; caminhava para lá. 2 - Azeitona;<br />

desaparecer. 3 - Forma antiga de mim; escudeiro; apogeu. 4 - Caixa de madeira, revestida 1 0<br />

de couro cru e com tampa convexa; soltar a voz (o leão); imensidade (fig.). 5 - Irídio (s.q.);<br />

1 1<br />

escrivão público, tabelião; 21.ª letra do alfabeto grego. 6 - Acontecimentos; prestar<br />

juramento. 7 - Aquele que edita; força motriz. 8 - Composição poética de assunto elevado 1 2<br />

e destinada ao canto; antiga possessão portuguesa na costa da Índia; nome próprio<br />

1 3<br />

masculino. 9 - Pêlo comprido do pescoço e da cauda do cavalo, bem como de outros<br />

animais; considerado no conjunto ou em globo. 10 - Campo de cereais; destituído de<br />

cauda. 11 - Lamento; espécie de sofá mais largo do que os vulgares e sem costas; letra grega correspondente a p. 12 - Que não está cozido; abatimento;<br />

conjunto de coisas descritas e enumeradas. 13 - Tempo; fruto da ateira; noroeste (abrev.). 14 - Árvore leguminosa cesalpinácea; grande artéria que<br />

nasce no ventrículo esquerdo do coração e a partir da qual o sangue arterial é conduzido a todo o corpo. 15 - A segunda nota da escala natural;<br />

penhor; fechar (as asas) para descer mais rapidamente.<br />

HORIZONTAIS: 1 - Bombice; sachar. 2 - Aliar; doceiro. 3 - Si; cidra; uro. 4 - Eva; nateiro; ala. 5 - Airoso; nata; ar. 6 - Outorga; obvir. 7 - Os; gás;<br />

ama; aa. 8 - Tugir; magnata. 9 - Em; rijo; luneta. 10 - Lia; outrora; aos. 11 - Rum; roubo; ri. 12 - Gafaria; ponta. 13 - Aferir; leiloar.<br />

VERTICAIS: 1 - Base; hotel; ia. 2 - Oliva; sumir. 3 - Mi; aio; auge. 4 - Baú; rugir; mar. 5 - Ir; notário; fi. 6 - Casos; jurar. 7 - Editor; motor. 8 - Ode;<br />

Goa; Rui. 9 - Crina; global. 10 - Seara; anuro. 11 - Ai; otomana; pi. 12 - Cru; abate; rol. 13 - Hora; ata; NO. 14 - Olaia; aorta. 15 - Ré; arras; siar.<br />

1<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5<br />

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31 -3-201 6 ARGUMENTOS<br />

29<br />

UM LIVRO POR MÊS<br />

• Domingos Lobo<br />

Jacarandá, espécie exótica, é<br />

árvore pouco comum na paisagem<br />

do burgo portuense,<br />

como o será no geral do País. Árvore, como<br />

as palmeiras, das nossas errâncias de<br />

medir o tamanho do mundo e o nosso peso<br />

nele. Nostálgicos sinais das lonjuras<br />

perdidas.<br />

Jacarandá é título de livro, estranho e<br />

entranhado título para um livro elaborado<br />

página a página como quem a terra<br />

dura lavra, sobre memórias feridas de um<br />

tempo de temores e sombras; livro vindo,<br />

rumor e febre, das colheitas do medo,<br />

dos dias aziagos, ungido sobre os ossos<br />

de um tempo de pesadelos e assombros,<br />

de palavras mudas ou percutidas em signos<br />

de tribo nas paredes nuas, nos húmus<br />

dos cárceres.<br />

A palavra serena, o peculiar acervo linguístico<br />

de Francisco Duarte Mangas,<br />

poeta de planuras, serras e caminhos áridos,<br />

de transumâncias, de espécies cinegéticas<br />

e animais limpos, a perscrutar o<br />

sentido histórico, na matéria ardente deste<br />

romance, de um tempo de chuvas e de<br />

más colheitas. De crimes e de embustes.<br />

De traições. De medos estribando-se nos<br />

ramos de um Jacarandá metafórico, que<br />

prolonga e suspende, através dos mecanismos<br />

ficcionais, a realidade dos dias<br />

agrestes dos finais dos anos 1930, num<br />

Porto tolhido de medos e de impudência.<br />

Jacarandá avistado, nos desvarios do<br />

medo, através de exígua gelosia nas masmorras<br />

geladas da PVDE da Rua do Heroísmo.<br />

Ramos de serenidade e luz representando<br />

a magia de um mundo outro,<br />

mundo de ventos e vozes, de largos<br />

espaços, da mudança cíclica das estações,<br />

da vida crescendo como todas as flores<br />

do mundo nos seus sinais perenes – vozes,<br />

risos, abraços, um beijo breve.<br />

Noite aqui, diz o preso, sempre, dia é<br />

lá fora, onde o sol alumia e aquece as manhãs<br />

azuis da liberdade quotidianamente<br />

inventada. Como os signos inscritos nas<br />

folhas do jacarandá ondulando ao vento.<br />

Uma cela húmida de bolores e febres,<br />

de um tempo estrumado ao avesso dos<br />

lumes, e nela um homem, pés doridos<br />

das noites de estátua, trambolhos que já<br />

não cabem nos sapatos velhos de tanto<br />

caminho andando, tanta senha e contrasenha<br />

decorada nas tarefas de vencer a<br />

Nos catres da Rua do H eroísmo<br />

Jacarandá, de Francisco Duarte Mangas<br />

noite, os temores do escuro e a cegueira;<br />

uma cela num subterrâneo sinistro. Tempo<br />

de medos e dos mecanismos que o inventam<br />

e percutem; um jacarandá imaginado<br />

para além do verosímil, como a bicicleta<br />

de Luís Veiga Leitão a iludir de<br />

fuga os dias do terror: Tu disseste: olha o<br />

jacarandá florido, fica rente à felicidade.<br />

Porto, anos trinta, ainda os rumores da<br />

Guerra Civil de Espanha a despertar de<br />

vigília os olhos das esquinas; passeiam-<br />

-se pelas ruas, colados à caliça, às rugas<br />

do granito, sombras de fantasmas serão,<br />

de tão esquivas e assustadas, clandestinos<br />

rojos, ou apenas homens sem chão,<br />

apátridas nos tumultos das baionetas dos<br />

lusos Viriatos e dos mouros franquistas;<br />

um punhado que resiste ao sufoco, que<br />

busca o ar lavado dos espaços da dignidade;<br />

uns e outros sabendo que nos subterrâneos<br />

da opressão as moscas crescem<br />

na imundície, sujam o silêncio. Todos a<br />

tentar fugir à tortura da Casa del Campo,<br />

lugar de rituais de iniciação, métodos de<br />

tortura herdados da Idade Média e das<br />

labaredas inquisidoras, bons tempos, pensa<br />

o inspector-chefe António de Faria,<br />

com sórdida placidez dos predadores compulsivos;<br />

métodos de antanho remoçados<br />

MEMÓRIA<br />

31 de Março de 1821<br />

– Fim da Inquisição em Portugal<br />

O Tribunal do Santo Ofício, comummente designado por<br />

Inquisição, foi instituído em Portugal em 1536, no reinado<br />

de D. João III. Visto como uma «nova arma de centralização<br />

régia», que permitiu perseguir e liquidar o crescente poder<br />

dos cristãos-novos considerados pela coroa portuguesa como<br />

uma ameaça, o tribunal eclesiástico tinha oficialmente como<br />

missão inquirir dos desvios da fé católica, das heresias e<br />

práticas pagãs, mas estendeu-se a muitas outras áreas, incluindo<br />

a censura de livros. Os processos, geralmente secretos,<br />

baseavam-se em denúncias, mesmo anónimas, boatos e<br />

suspeições de todo o tipo. Os inquisidores podiam prender,<br />

julgar, castigar, torturar e condenar à morte sem que aos<br />

acusados fosse dada possibilidade de defesa. Durante os seus<br />

285 anos de vigência em Portugal, o Tribunal, considerado<br />

santo nos meios e nos fins, processou dezenas de milhares<br />

de pessoas e condenou milhares à fogueira; muitas outras<br />

morreram na prisão à espera de julgamento. O Tribunal do<br />

Santo Ofício foi extinto um ano depois da vitória de revolução<br />

liberal (1620) por decisão das cortes gerais do reino.<br />

pelos pressurosos ensinamentos das SS e<br />

outros comparsas da mesma fornada.<br />

Ecoam pelas redacções dos jornais, rumores<br />

de crimes vários, principalmente<br />

de um, pelo insólito, inexplicável, inaudito,<br />

o da Rua de Bonjardim. Crime que<br />

o inspector da PVDE, António de Faria,<br />

com a conivência matreira das gazetas,<br />

tenta atribuir a «grupos de malfeitores»,<br />

aos comunistas e a refugiados rojos, enquanto<br />

vai deglutindo postas de pescada<br />

frita, pescada de Vila do Conde e só essa,<br />

tratando os empregados por serviçais<br />

no jeito de desprezo e humilhação que os<br />

serventuários do regime, arvorando poses<br />

feudais, gostavam de exibir perante<br />

os subalternos.<br />

Jacarandá fala-nos de um Porto secreto,<br />

da soturnidade sinistra dos corredores<br />

do medo, de celas subterrâneas onde<br />

o bolor das pedras e das palavras sem<br />

eco habitam, de um tempo de fugas e traições,<br />

de quem, de tão vergastado pelo<br />

absurdo, pelas dores na carne, pelas sevícias<br />

sem nome exercidas sobre frágil<br />

corpo, a deslassar por dentro, se deixa<br />

tolher de estupefacção. Amor e fuga. Crónica<br />

modelar magnificamente contada por<br />

Francisco Duarte Mangas, de um rachado,<br />

de quem não teve, como José Magro<br />

e tantos outros, capacidade de ir para<br />

além da dor, de estar preso por fora, e livre<br />

em mim. Crónica de um tempo de algozes<br />

e de rasteiras cumplicidades, de<br />

predadores viciados nos jogos da insídia<br />

e do logro. Caça ao homem, não ao homem<br />

vulgar, aos que temem os rugidos<br />

do vento, mas ao homem que pensa, age<br />

e se inquieta. Insuportável perigo o de<br />

pensar, sobretudo quando se pensa à margem<br />

das regras impostas pelos manuais<br />

dos inquisidores e da usura que os move.<br />

Quantos homens perdidos nos labirintos<br />

escusos e húmidos das celas da Rua<br />

do Heroísmo – e lembro aqui o depoimento<br />

de José Perafita, que o poeta Papiniano<br />

Carlos nos legou em A Memória<br />

Com Passaporte –, com o olhar febril, magoado,<br />

o sangue derramado pelas práticas<br />

dos torturadores, julgaram ver, na dorida<br />

alucinação que sobreleva os dias e<br />

noites de estátua, um jacarandá a florir,<br />

mágica visão seria de outros espaços, outras<br />

fronteiras da honra, para lá dos muros<br />

da prisão? A quantos, sobressaltados<br />

de temor, surgiu, em exígua janela de<br />

clausura, um jacarandá a florir, essa árvore<br />

exótica de outras lonjuras, espaços<br />

de sol e liberdade.<br />

Jacarandá, árvore de vertigens, espantar<br />

os medos, modo de sonhar a liberdade,<br />

de respirar, de imaginar de árvore/uma<br />

asa 1 . É isso, uma asa a tocar o céu dos limites,<br />

da fuga sonhada e improvável: eu<br />

vi: na parede ao fundo/as árvores voam<br />

e/poisavam na leveza dos pássaros. 2<br />

Tempos bárbaros estes sobre os quais<br />

se debruça a língua de Francisco Duarte<br />

Mangas, língua cerzida a pulso neste livro<br />

maduro, extremo e enxuto. Ainda nele<br />

adivinhamos a prosa de Aquilino e Torga,<br />

esse rumor acre dos espaços da transumância,<br />

de Carlos de Oliveira, no dizer<br />

de Manuel Gusmão, dado que somos<br />

todos ladrões que roubamos a ladrões (Manuel<br />

António Pina); mas esta fala é já outra<br />

e transformada, atrela-se a uma indiscutível<br />

identidade, personaliza-se, é distinta<br />

no substantivo poético que a enforma,<br />

nos tempos e nos modos de dizer a<br />

tirania dos dias ignaros.<br />

A escrita de Jacarandá, este sáfaro, belíssimo<br />

romance de Francisco Duarte Mangas,<br />

ao percorrer um dos períodos de<br />

maior baixeza moral da nossa história recente,<br />

ilidindo nesse fluxo histórico a essência,<br />

numa visão justa, conceptual e esteticamente<br />

inovadora, transporta-nos para<br />

os territórios fermentes da sedução,<br />

através do exacto acervo das palavras com<br />

memória, devolvendo-nos os lanhos, o estupor<br />

de um tempo e, dele, a dignidade<br />

ainda ferida dos seus clamores e infâmias.<br />

Nessa técnica modelar reside o seu<br />

segredo e a sua singularidade: a exímia<br />

fórmula de juntar o rigor poético a uma<br />

exemplar arte narrativa.<br />

1<br />

Verso do poema IV de “Infância”,<br />

do livro A Fome Apátrida das Aves,<br />

de F. D. Mangas – Ed.<br />

2<br />

Modode Ler.<br />

idem<br />

Jacarandá, de Francisco<br />

Duarte Mangas<br />

Edição Teodolito


TELEVISÃO<br />

3 0 3 1 -3 -2 01 6<br />

TVISTO<br />

• Correi a da Fonseca<br />

A estrada<br />

da morte<br />

Atelevisão deu-<br />

-nos a tristíssima<br />

notícia (e como<br />

ela, a televisão portuguesa,<br />

parece gostar delas, das notícias<br />

tristíssimas!): doze portugueses<br />

emigrados tinham morrido a<br />

meio da noite, numa estrada de<br />

França, quando vinham a<br />

caminho de Portugal para aqui<br />

celebrarem a Páscoa junto de<br />

famílias, de amigos, de lugares<br />

para onde a saudade chamava.<br />

Vinham da Suíça, eram treze,<br />

número considerado aziago, mas<br />

o azar que os vitimou não tinha<br />

a ver com crendices antigas mas<br />

sim com as razões ou sem-razões<br />

muito reais e concretas que os<br />

haviam levado a empreender<br />

uma viagem longa em más<br />

condições de segurança. Sabese<br />

que os treze viajavam numa<br />

carrinha com lotação para seis<br />

pessoas, que seguiam dia e noite<br />

sem adequadas pausas para<br />

descanso, que tinham escolhido<br />

uma estrada difícil mas sem o<br />

custo de portagens que uma<br />

autoestrada implicaria. Quanto<br />

ao condutor, sabemos que era<br />

um jovem de dezanove anos sem<br />

habilitações adequadas aquele<br />

tipo de veículo e de condução,<br />

mas é fácil imaginar que havia<br />

sido o condutor possível para<br />

uma aventura pequena mas<br />

muito desejada, também muito<br />

arriscada. Foi o único<br />

sobrevivente da desgraça, mas<br />

não podemos imaginar que<br />

género de difícil sobrevivência<br />

terá ao longo de anos, de toda<br />

a existência que lhe resta e que<br />

poderá ser longa, com a<br />

memória das doze mortes que<br />

resultaram talvez do seu<br />

cansaço, porventura de alguma<br />

inexperiência e de alguma<br />

audácia excessiva, saídas afinal<br />

das suas mãos ainda tão jovens<br />

e já tão duramente marcadas.<br />

Necessário, urgente, justo<br />

Podemos, é claro, fazer o que<br />

tantas vezes é feito nas mais<br />

variadas situações:<br />

responsabilizar as vítimas pelo<br />

que lhes acontece. Neste caso,<br />

perguntarmos porque é que<br />

aquele punhado de emigrantes<br />

portugueses não escolheu,<br />

usando de adequada prudência,<br />

viajar em três carros confiáveis,<br />

de preferência topo-de-gama,<br />

conduzidos por profissionais<br />

que decerto o fariam desde que<br />

bem pagos. Ou optar por outro<br />

meio de transporte, avião ou<br />

autocarro que oferecesse<br />

garantias de segurança. A<br />

resposta, porém, não é difícil<br />

de adivinhar: porque um dia<br />

haviam partido para a Suíça<br />

não apenas para escaparem à<br />

penúria que os rondava ou que<br />

até já os teria capturado, mas<br />

também com o sonho de uma<br />

vida confortável com os filhos a<br />

estudarem e a conseguirem um<br />

emprego bem pago, até com a<br />

miragem da construção de uma<br />

bonita casa em Portugal que<br />

substituísse a velha casa de<br />

onde talvez tivessem partido.<br />

Não se diga que era um<br />

projecto excessivo: futuro para<br />

os filhos, presente sustentável<br />

para os pais, tecto confortável,<br />

velhice com segurança, nada<br />

disto configura alguma ambição<br />

desrazoada e é aliás um cenário<br />

vivido pelas camadas sociais<br />

que não se sentem obrigadas a<br />

emigrar porque se vão<br />

governando muito bem por cá,<br />

felizmente para elas,<br />

infelizmente para os que<br />

indirectamente lhes vão<br />

assegurando a qualidade de<br />

vida. Não seria, pois, um<br />

projecto excessivo, mas era um<br />

projecto exigente, e uma das<br />

prováveis ou indispensáveis<br />

exigências era a de ganhar o<br />

melhor salário possível e dele<br />

gastar o mínimo, arrecadar o<br />

máximo, para que o sonho<br />

mantivesse alguma consistência.<br />

Para isso haviam atravessado a<br />

fronteira, dito adeus a<br />

familiares e lugares a caminho<br />

de um futuro incerto mas na<br />

certeza de um presente que se<br />

tornara insuportável. Nunca<br />

teriam ouvido falar de uma<br />

estrada francesa a que<br />

chamavam «da morte» e que<br />

aliás decerto milhares de outros<br />

percorreram dela saindo<br />

incólumes. O que eles também<br />

não sabiam, como o não sabem<br />

muitos outros que nunca foram<br />

vítimas de acidentes trágicos, é<br />

que muitas vezes a própria<br />

emigração é, quando forçada<br />

pelas circunstâncias, uma<br />

espécie de outra «estrada da<br />

morte» onde morre o mais que<br />

legítimo direito de sobreviver<br />

no país em que se nasceu e aí<br />

ter filhos, tecto, conforto<br />

mínimo e esperança. Sabemolo<br />

muitos de nós. E sabemos<br />

que é necessário e urgente<br />

fechar essa outra estrada, não<br />

apenas para que cesse alguma<br />

hecatombe de portugueses em<br />

estradas francesas mas<br />

sobretudo porque os que<br />

morrem nos fazem falta. E por<br />

isso é necessário e urgente,<br />

além de justo, que haja lugar<br />

aqui para cada um deles.


31-3-2016 AGENDA 31<br />

Alcobaça<br />

– Sábado, 2, às 20h00, jantar<br />

comemorativo do 40.º aniversário<br />

da Constituição, no<br />

Restaurante «O Caçador», Casal<br />

da Areia, Alcobaça, com<br />

Vladimiro Vale, da Comissão<br />

Política do PCP.<br />

Alenquer<br />

– Sábado, 2, às 20h00,<br />

jantar/convívio comemorativo<br />

do 40.º aniversário da Constituição,<br />

organizado pela Célula<br />

do Carregado, nas instalações<br />

do Rancho Folclórico<br />

do Carregado, com Domingos<br />

Abrantes. Há um momento<br />

cultural com poesia e música de<br />

intervenção.<br />

Algarve<br />

– Domingo, 3, às 10h00,<br />

Reunião de Quadros sobre a<br />

40.ª Festa do Avante!, no Salão<br />

da Junta de Freguesia de<br />

Olhão (Praça de Agadir), com<br />

Pedro Lago da direcção da<br />

Festa, e Vasco Cardoso, da Comissão<br />

Política.<br />

Almada<br />

– Sexta-feira, 1, às 15h00,<br />

Encontro com Pescadores na<br />

Costa da Caparica, junto à<br />

Lota, com o deputado Bruno<br />

Dias.<br />

– Sábado, 2, às 10h00,<br />

em Almada, banca para a<br />

Campanha de Fundos da Quinta<br />

do Cabo, mais Avante!, na<br />

Praça MFA, em Almada Ainda,<br />

às 9h30, em Cacilhas, banca<br />

Iniciativas comemorativas<br />

do 95. o aniversário<br />

Almada<br />

– Hoje, 31, às 19h30, almoço/convívio<br />

da Célula da<br />

CMA/SMAS, no Restaurante «O<br />

Laranjinha», Cova da Piedade,<br />

com Paulo Raimundo, da Comissão<br />

Política.<br />

– Sábado, 16, às 12h30, almoço<br />

da Freguesia da Trafaria,<br />

no CT da Trafaria.<br />

Bélgica<br />

– Sábado, 2, almoço na<br />

APEB, Bruxelas, com Paulo<br />

Loya, do CC.<br />

Campo Maior<br />

– Domingo, 10, às 17h00,<br />

lanche/convívio na Sede do<br />

Partido nos Cantos de Baixo,<br />

com João Dias Coelho, da Comissão<br />

Política.<br />

Castro Marim<br />

– Sábado, 2, almoço no Restaurante<br />

«Manel D’Água», em<br />

Castro Marim, com Celso<br />

Costa, do CC.<br />

Castro Verde<br />

– Sábado, 9, às 16h00, promovida<br />

pela Comissão de Freguesia<br />

de São Marcos da<br />

Atabueira, sessão pública no<br />

Centro Cultural de São Marcos<br />

da Atabueira.<br />

Crato<br />

– Domingo, 10, às 13h00,<br />

almoço/convívio, no Recinto de<br />

Festas da Freguesia de Monte<br />

da Pedra, Crato, com João<br />

Dias Coelho, da Comissão Política.<br />

França<br />

– Domingo, 10, almoço<br />

em Nanterre, com o deputado<br />

ao Parlamento Europeu Miguel<br />

Viegas.<br />

Outras reuniões e iniciativas<br />

Fundão<br />

– Sexta-feira, 1, às 20h00,<br />

jantar/convívio, no Restaurante«O<br />

Júlio», com Manuel Rodrigues,<br />

da Comissão Política.<br />

Nisa<br />

– Sábado, 9, jantar/convívio,<br />

na Garagem da União de Freguesias<br />

(na Zona Industrial, ao<br />

lado das bombas da GALP).<br />

Inscrições: 933331981,<br />

932681296.<br />

Óbidos<br />

– Sábado, 2, às 20h00,<br />

jantar, com José Carlos Faria,<br />

da DORLEI.<br />

Ourique<br />

– Sábado, 9, às 13h00, promovido<br />

pela Comissão de Freguesia<br />

de Garvão, almoço no<br />

Café «Nascer do Sol», em Garvão.<br />

Santiago do Cacém<br />

– Sexta-feira, 8, jantar com<br />

trabalhadores da Autarquia de<br />

Santiago do Cacém.<br />

Sesimbra<br />

– Sábado, 2, às 20h00,<br />

jantar promovido pela Organização<br />

das freguesias do Castelo<br />

e Santiago. na Sociedade<br />

Musical Sesimbrense, com<br />

Francisco Lopes, da Comissão<br />

Política.<br />

Setúbal<br />

– Sexta-feira, 1, às 12h45,<br />

almoço, promovido pelo Sector<br />

Sindical da ORS, no CT concelhio<br />

do Seixal, com Paulo<br />

Raimundo, da Comissão Política.<br />

Vila de Rei<br />

– Domingo, 3, às 15h00,<br />

exibição do filme «José e Pilar»,<br />

do cineasta Miguel Gonçalves<br />

Mendes, no Museu Geodesia.<br />

de venda do Avante!, na Praça<br />

Gil Vicente, Cacilhas.<br />

– Sexta-feira, 8, às 15h00,<br />

em Almada, Encontro com<br />

Reformados, no CT Concelhio,<br />

com Fernanda Mateus, da<br />

Comissão Política.<br />

– Sábado, 9, às 10h00,<br />

em Almada, banca para a<br />

Campanha de Fundos da Quinta<br />

do Cabo, na Praça MFA, em<br />

Almada. Ainda, às 15h00, na<br />

Trafaria, plenário sobre o XX<br />

Congresso do PCP, no CT da<br />

Trafaria.<br />

– Sábado, 16, às 10h00, em<br />

Almada, banca para a Campanha<br />

de Fundos da Quinta do<br />

Cabo, na Praça MFA, em Almada.<br />

Ainda, às 14h45, em<br />

Cacilhas, plenário preparatório<br />

da Assembleia da Organização<br />

Concelhia de Almada, com eleição<br />

de delegados, no CT Concelhio,<br />

e, às 16h00, plenário<br />

idêntico no Pragal, no CT do<br />

Pragal<br />

Cascais<br />

– Domingo, 10, às 10h00,<br />

Rali apeado, organizado pela<br />

Comissão de Freguesia de Alcabideche,<br />

no âmbito da campanha<br />

de divulgação da Festa do<br />

Avante!. A prova, que tem início<br />

no CT de Alcabideche, é<br />

seguida, às 13h00, de um almoço,<br />

também neste CT. As<br />

inscrições devem ser feitas até<br />

24 horas antes do início da prova,<br />

nos CT de Alcabideche, Parede<br />

e São Domingos de Rana,<br />

ou para 933430887 (Manuel<br />

Galhofo), 934692225 (António<br />

M. Pereira), ou 967216567<br />

(Francisco Ferrer), e no próprio<br />

dia até 1 hora antes da prova.<br />

Para o almoço as inscrições são<br />

até às 20h00 do dia 7 de Abril.<br />

Elvas<br />

– Domingo, 3, às 16h00,<br />

lanche/convívio no Pavilhão<br />

Multiusos da Terrugem, com<br />

Jerónimo Loios, da DRA.<br />

Entroncamento<br />

– Quinta-feira, 7, às<br />

21h00, plenário, no âmbito da<br />

preparação do XX Congresso<br />

do PCP, no CT do Entroncamento,<br />

com Octávio Augusto,<br />

da Comissão Política.<br />

Guimarães<br />

– Sábado, 2, às 15h00,<br />

plenário de militantes da Zona<br />

de Pevidém, preparatório da<br />

XIV Assembleia Concelhia e<br />

do XX Congresso do PCP,<br />

abrangendo as freguesias de Selho<br />

S. Jorge, Gondar, Serzedelo,<br />

Silvares Selho S. Cristóvão,<br />

Candoso S. Martinho. Candoso<br />

S. Tiago e Mascotelos.<br />

Leiria<br />

– Segunda-feira, 4, Roteiro<br />

de pesca e agricultura,<br />

com a visita de um deputado do<br />

PCP, incluindo encontro com<br />

agricultores em Pombal, Alcobaça<br />

e Bombarral, e um outro<br />

encontro com pescadores e<br />

Sindicato da Indústria Conserveira<br />

em Peniche.<br />

Lisboa<br />

– Hoje, 31, às 14h40, plenário<br />

de Reformados Bancários,<br />

no CT Vitória.<br />

Litoral Alentejano<br />

– Sábado, 2, Alcácer do<br />

Sal: às 15h00, plenário de militantes,<br />

preparatório do XX<br />

Congresso do PCP, no Barrancão,<br />

Alcácer do Sal.<br />

– Domingo, 3, Odemira: às<br />

10h00, reunião e almoço/convívio<br />

em Luzianes, Odemira.<br />

– Sexta-feira, 8, Sines: às<br />

17h30, debate sobre os 40<br />

anos da Constituição, em<br />

CAS, Sines.<br />

Iniciativas<br />

dos Reformados<br />

– Sábado, 2, Alcácer do<br />

Sal, no Mercado Mensal.<br />

– Terça-feira, 5, Alcácer<br />

do Sal: contactos na AURPI-<br />

CAS e Residência AURPICAS,<br />

Alcácer do Sal. Santiago do<br />

Cacém: contactos na Casa do<br />

Povo do Cercal e Centro de Dia<br />

Sonega, Santiago do Cacém.<br />

– Quarta-feira, 6, Santiago<br />

do Cacém, contactos na<br />

Casa do Povo de Alvalade e no<br />

Centro de Dia de Vale d’Água,<br />

Santiago do Cacém.<br />

– Quinta-feira, 7, Santiago<br />

do Cacém: contactos nos<br />

Centros de Dia de Ermidas e<br />

Abelas, Santiago do Cacém.<br />

Alcácer do Sal, contactos na<br />

Santa Casa da Misericórdia de<br />

Torrão, Alcácer do Sal.<br />

Loures<br />

– Segunda-feira, 4, às<br />

20h00, Jantar «Mulheres de<br />

Abril», comemorativo do 40.º<br />

aniversário da Constituição,<br />

no Hotel VIP, Santa Iria de<br />

Azóia, com a deputada Rita<br />

Rato e Bernardino Soares,<br />

presidente da Câmara Municipal<br />

de Loures. Animação cultural<br />

com a fadista Esmeralda<br />

Amoedo. Inscrições: PCP/Santa<br />

iria de Azóia (218018215),<br />

Iria Madruga (219565205),<br />

Dina Góis (933250749 ou<br />

924436553).<br />

Moita<br />

– Hoje, 31, no âmbito da<br />

Campanha Nacional junto<br />

dos Reformados, plenário de<br />

militares reformados da Freguesia<br />

de Alhos Vedros, no CT<br />

de Alhos Vedros.<br />

Oeiras<br />

– Domingo, 3, às 13h00,<br />

convívio de militantes e amigos<br />

da Freguesia de Queijas, no<br />

CT de Queijas.<br />

Via Franca de Xira<br />

– Quinta-feira, 14, às<br />

18h00, plenário de militantes da<br />

Célula da CM/SMAS de Vila<br />

Franca de Xira, preparatório do<br />

XX Congresso do PCP, no CT<br />

de VFX.<br />

Vila Nova de Gaia<br />

– Sexta-feira, 1, às 21h30,<br />

plenário de militantes das organizações<br />

de Canelas, Pedroso,<br />

Perosinho e Serzedo,<br />

na Junta de Freguesia de Perosinho.<br />

– Sábado, 9, às 15h30,<br />

plenário das organizações de<br />

Mafamude, Vilar do Paraíso,<br />

Santa Marinha e São Pedro<br />

da Afurada, no CT de Gaia.<br />

Ainda, às 21h00, plenário das<br />

organizações de Arcozelo e<br />

São Félix da Marinha, na Rua<br />

do Morangal, 148, Arcozelo,<br />

Gaia.<br />

Loures<br />

– Domingo, 3, Jornadas Autárquicas da<br />

CDU na Freguesia de Bucelas, visita às localidades<br />

e contacto com a população:<br />

10h00, Freixial; 14h30, Chamboeira.<br />

URAP<br />

União de Resistentes<br />

Antifascistas Portugueses<br />

Homenagem aos Tarrafalistas<br />

Sábado, 2 de Abril, às 11h00<br />

Romagem ao Mausoléu dos Tarrafalistas,<br />

no Cemitério do Alto de São João<br />

Esta romagem assinala os 80 anos<br />

da chegada da primeira leva de presos<br />

ao Campo de Concentração do Tarrafal<br />

Jerónimo de Sousa<br />

Secretário-geral do PCP<br />

Hoje – 31<br />

18h30 – Lisboa<br />

Reunião Distrital de Quadros do PCP<br />

Sobre o XX Congresso<br />

Com os trabalhadores e o povo,<br />

pela democracia e o socialismo<br />

Casa do Alentejo<br />

Sábado – 2<br />

15h00 – Lisboa<br />

Sessão Política e Cultural Comemorativa<br />

do 40.º Aniversário da Constituição<br />

Fórum Lisboa (Av. Roma, 14)<br />

Terça-feira – 5<br />

17h30 – Lisboa<br />

Sessão Pública<br />

Renegociação da dívida condição para<br />

o desenvolvimento e soberania nacional<br />

Casa do Alentejo<br />

Sábado e Domingo – 9 e 10<br />

X Congresso<br />

da Organização<br />

da Região Autónoma<br />

dos Açores<br />

Com o PCP mais Forte<br />

Construir um Futuro<br />

Melhor para os Açores<br />

Centro Cívico de Santa<br />

Clara, Ponta Delgada<br />

VIII Assembleia da Organização Concelhia<br />

da Guarda<br />

Sábado, 2, às 15h00, no CT de Gonçalo<br />

XXIII Assembleia da Organização<br />

da Célula da Festa do Avante!<br />

Sábado, 9, às 10h30<br />

na Atalaia, Amora, Seixal, na Sala da Comissão<br />

de Campo. (Segue-se almoço/convívio, às 13h00,<br />

no Restaurante de Apoio<br />

VIII Assembleia da Organização<br />

da Freguesia do Laranjeiro<br />

Sábado, 9, às 9h00, no CIRL, Laranjeiro<br />

Seminário<br />

«A União Bancária – um passo mais<br />

na integração capitalista europeia»<br />

GUE/NGL – PCP<br />

Quinta-feira, 7, às 14h30 no Seminário de Vilar<br />

(Rua Arcediago Van Zeller, 50) 4050-621 Porto<br />

com Miguel Viegas, deputado do PCP<br />

ao Parlamento Europeu,<br />

João Ferreira, membro do CC e deputado do PCP<br />

ao Parlamento Europeu<br />

Fábio De Masi, deputado do Die Linke (Alemanha)<br />

ao Parlamento Europeu<br />

Andreas Vyras, membro do CC do AKEL – Chipre<br />

Mads Hadberg, da Aliança Vermelha Verde – Dinamarca<br />

Jaime Toga, membro da Comissão Política do CC do PCP,<br />

Ângelo Alves, membro da Comissão Política do CC do PCP


32<br />

ÚLTIMAS<br />

A TALHE DE FOICE<br />

• Anabela Fino<br />

31-3-2016<br />

Jogo sujo<br />

O seminário luso-brasileiro de Direito que hoje<br />

termina em Lisboa com o debate do sugestivo<br />

tema «Constituição e Crise – A Constituição<br />

no contexto das crises política e económica»<br />

provocou um significativo bruaá nos dois lados<br />

do Atlântico e teve a particularidade de ficar<br />

marcado tanto pelas presenças como pelas<br />

ausências registadas.<br />

Apresentado pelos organizadores como sendo<br />

«puramente académico» e não tendo «dimensão<br />

política», como afirmou o constitucionalista<br />

Jorge Miranda, o evento reuniu na Faculdade<br />

de Direito da Universidade de Lisboa algumas<br />

das figuras mais badaladas da direita política<br />

brasileira que nos últimos tempos se destacaram<br />

na sanha contra a presidente Dilma Rousseff,<br />

o que não deixa de ser curioso.<br />

Não menos sui generis é o facto de uma boa<br />

parte dos distintos participantes que acorreram<br />

a Portugal para debitar sobre Direito<br />

e Constituição estarem indiciados pela Justiça<br />

brasileira por crimes de corrupção, entre outros,<br />

e fazerem parte da clique organizada que<br />

à revelia da Constituição do seu país se propõe<br />

levar a cabo um verdadeiro golpe de estado para<br />

destituir a presidente democraticamente eleita<br />

e contra a qual não impende qualquer acusação<br />

de crime de responsabilidade.<br />

Igualmente peculiar é a data escolhida para este<br />

evento «puramente académico» e sem «dimensão<br />

política», a saber, de 29 a 31 de Março. É difícil<br />

de engolir que com tanto académico e tanto<br />

político concentrado por metro quadrado<br />

a nenhum tenha ocorrido a simbologia da data,<br />

mais a mais estando em debate um tema como<br />

«Constituição e crise»: faz hoje precisamente<br />

52 anos que ocorreu o golpe militar que derrubou<br />

o presidente eleito João Goulart e instaurou<br />

no Brasil uma ditadura militar que durante<br />

21 anos prendeu, matou, torturou, explorou<br />

o povo e cerceou os seus mais elementares direitos.<br />

Há quem acredite em coincidências, é certo, mas<br />

quando nas ruas de São Paulo e de outras<br />

grandes metrópoles os «coxinhas» (nome dado<br />

à burguesia) desfilam – com as bábás a reboque<br />

para lhes tomar conta dos filhos ou levar<br />

a lancheira – aos gritos de «golpe militar»,<br />

mandaria o bom senso, no mínimo, evitar<br />

situações de tão evidente paralelismo.<br />

Prudentes foram o Presidente da República,<br />

Marcelo Rebelo de Sousa, e o líder do PSD,<br />

Passos Coelho, que mal deram com o gato<br />

escondido com o rabo de fora deste dito evento<br />

«puramente académico» e «sem dimensão<br />

política» logo foram tirando o cavalinho da<br />

chuva no respeitante à sua participação,<br />

invocando as sempre oportunas dificuldades<br />

de agenda.<br />

Após quatro derrotas eleitorais sucessivas (2002,<br />

2008, 2010 e 2014), a direita brasileira procura<br />

alcançar através do golpe o que não conseguiu<br />

com o voto popular. O que está em causa não são<br />

os problemas – e muitos são – que Brasil enfrenta.<br />

O que está em causa é um projecto neoliberal que<br />

não olha a meios para atingir<br />

os seus fins. Que alguns portugueses se prestem<br />

ao jogo sujo dos golpistas é no mínimo<br />

lamentável.<br />

Manifestação nacional da juventude<br />

Futuro sem precariedade<br />

A Interjovem/CGTP-IN promove esta tarde, em<br />

Lisboa, uma manifestação nacional que assinala o<br />

Dia da Juventude e constitui a primeira acção de<br />

rua da campanha que vai decorrer nos próximos<br />

quatro anos.<br />

O encontro<br />

está marcado<br />

para as 14h30<br />

no Camões<br />

Anteontem, numa conferência<br />

de imprensa em<br />

que foi chamada a atenção<br />

para os motivos que justificam<br />

uma forte participação<br />

na manifestação de hoje, a<br />

CGTP-IN destacou que «a<br />

precariedade, pelas implicações<br />

que tem na degradação<br />

da qualidade do emprego,<br />

das retribuições, da protecção<br />

social e das reformas,<br />

sendo um problema<br />

dos trabalhadores, particularmente<br />

dos mais jovens, é<br />

simultaneamente um problema<br />

das famílias e da sociedade».<br />

Alarga-se assim o apelo à<br />

participação de todos, nesta<br />

manifestação nacional da<br />

juventude trabalhadora, que<br />

deverá ser também uma demonstração<br />

de solidariedade<br />

intergeracional, como realçou<br />

Arménio Carlos. O Secretário-geral<br />

da CGTP-IN<br />

apresentou aos jornalistas<br />

um documento, intitulado<br />

«Não há futuro com a precariedade.<br />

Os jovens precisam<br />

de estabilidade!», no<br />

qual é feito um retrato da dimensão<br />

actual desta «verdadeira<br />

chaga laboral e social».<br />

A central estima que<br />

os vínculos precários de emprego<br />

atinjam mais de um<br />

milhão de trabalhadores,<br />

número que está a crescer,<br />

sendo que mais de metade<br />

têm menos de 35 anos de<br />

idade.<br />

O que faz falta<br />

«Romper com o modelo<br />

de precariedade e baixos<br />

salários constitui um imperativo<br />

de todos quantos lutam<br />

por um Portugal de progresso<br />

e justiça social», insiste<br />

a Intersindical Nacional,<br />

que defende um conjunto<br />

de medidas e objectivos,<br />

nomeadamente:<br />

– que a cada posto de trabalho<br />

de carácter permanente<br />

corresponda um contrato<br />

de trabalho efectivo;<br />

– a criação de emprego<br />

estável, seguro e com direitos,<br />

que assegure a articulação<br />

da actividade profissional<br />

com a vida pessoal e<br />

familiar, indissociável da valorização<br />

do trabalho e da<br />

dignificação dos trabalhadores;<br />

– a revogação de todas as<br />

medidas gravosas introduzidas<br />

na legislação laboral,<br />

nomeadamente a norma da<br />

caducidade da contratação<br />

colectiva e a reintrodução do<br />

princípio do tratamento mais<br />

favorável;<br />

– a revogação da disposição<br />

legal que permite a contratação<br />

a termo de jovens à<br />

procura do primeiro emprego<br />

e de desempregados de<br />

PCP assinala 40 anos<br />

da Constituição de Abril<br />

Com a presença de Jerónimo de Sousa,<br />

Secretário-geral do PCP, realiza-se, no<br />

próximo sábado, dia 2 de Abril, pelas<br />

15h00, no Fórum Lisboa, uma sessão político-cultural<br />

para assinalar o 40.º aniversário<br />

da aprovação e promulgação da Constituição<br />

da República Portuguesa. Adriana Rocha,<br />

Cláudia Dias, Domingos Lobo, O Grupo Coral<br />

e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó,<br />

Karma Drums, Luísa Amaro com Alexandre<br />

Branco Weffort, Luísa Basto, Luísa Ortigoso,<br />

Esta luta é de todos, salienta a CGTP-IN<br />

Maria Anadon, MFA – Movimento dos Foles<br />

Arejados, Quinteto Cinco Caminhos, Rita &<br />

o Revólver, e Set, são os artistas que participam<br />

no momento cultural.<br />

Em nota enviada às redacções, o gabinete de<br />

imprensa do PCP sublinha a importância de<br />

«valorizar a Constituição de Abril e os conteúdos<br />

progressistas que mantém, alertar para<br />

as ameaças e atentados constantes de que são<br />

alvo as conquistas e os direitos que nela permanecem<br />

inscritos, e ainda denunciar os perigos<br />

para o regime democrático<br />

de projectos tendentes<br />

para a sua revisão».<br />

A iniciativa é uma de várias<br />

que o Partido está a promover<br />

em torno dos 40 anos do<br />

texto fundamental do nosso<br />

País, em que se incluem o<br />

suplemento sobre a Constituição<br />

neste número do Avante!,<br />

um dossier temático na página<br />

do PCP na Internet, e a edição<br />

de um folheto intitulado<br />

«40.º aniversário da Constituição<br />

– Os Valores de Abril<br />

no Futuro de Portugal».<br />

longa duração, bem como<br />

em outras situações;<br />

– o reforço da actividade<br />

da Autoridade para as Condições<br />

de Trabalho, com<br />

mais meios humanos, técnicos<br />

e jurídicos, com intervenção<br />

e fiscalização mais<br />

eficazes;<br />

– a fiscalização do cumprimento<br />

da legislação dos<br />

apoios ao emprego e medidas<br />

de ocupação (como os<br />

estágios e os contratos emprego-inserção,<br />

usados para<br />

substituir postos de trabalho<br />

no sector privado e na Administração<br />

Pública), assegurando<br />

as medidas necessárias<br />

com vista à integração<br />

dos trabalhadores nessas<br />

situações;<br />

– um melhor e mais célere<br />

funcionamento dos tribunais<br />

de Trabalho, com a atribuição<br />

dos meios necessários.

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