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31-3-2016<br />
SEMANA 3<br />
CRÓNICA<br />
INTERNACIONAL<br />
• Ângelo Alves<br />
Os «clientes»<br />
No dia 22 de Março Bruxelas foi alvo de ataques terroristas<br />
reivindicados pelo «Estado Islâmico» (ou ISIS, ou<br />
ISIL ou DAESH) em que morreram 35 pessoas e mais de<br />
300 ficaram feridas. No dia 25, a cidade iraquiana de Alexandria<br />
foi vítima de um outro ataque terrorista reivindicado<br />
igualmente pelo «ISIS» em que morreram 32 pessoas e<br />
80 foram feridas. No dia 27 em Lahore, no Paquistão, um<br />
ataque reivindicado pelo autodenominado «Jamaat ul Ahrar»<br />
(uma cisão dos talibã) matou 72 pessoas e feriu 359.<br />
Poderíamos continuar com dezenas<br />
Não há<br />
hipocrisia<br />
que apague<br />
a evidência<br />
de outros relatos de ataques terroristas<br />
ou de conflitos militares que só no<br />
ano de 2014 vitimaram directamente<br />
cerca de 200 000 seres humanos.<br />
Conflitos alimentados pelos complexos<br />
industriais militares das grandes potências<br />
imperialistas, num negócio de<br />
biliões, dominado pela NATO, em que seis dos seus membros<br />
(EUA, França, Alemanha, Itália, Espanha, Dinamarca)<br />
são responsáveis por 56% do total de «exportações» de<br />
armas em todo o mundo (com os EUA à cabeça com 33%)( 1 ),<br />
tendo como seus principais «clientes» países como a Turquia,<br />
Israel, o Egipto, Marrocos, a Jordânia, os Emirados Árabes<br />
Unidos, o Qatar e… a Arábia Saudita, o segundo maior importador<br />
de armamento do Mundo, apenas suplantado pela<br />
Índia.<br />
Olhando para esta lista de «clientes» da NATO faz-se luz<br />
sobre uma afirmação de sempre do PCP: é preciso combater<br />
o terrorismo nas suas causas, e uma das causas é a política<br />
do militarismo e da guerra, da ingerência, da agressão<br />
a estados soberanos e de terrorismo de Estado. Do mesmo<br />
modo que os taliban e a própria Al-Qaeda foram criados, financiados,<br />
«educados» e treinados pela CIA para combater<br />
o «inimigo soviético» e controlar o Afeganistão, também o «moderno»<br />
terrorismo «islâmico» é um resultado da acção das<br />
potências imperialistas mundiais que visam redividir o Médio<br />
Oriente mantendo a sua supremacia económica e militar<br />
na região ou dos seus «clientes» regionais. Numa recente<br />
entrevista a um diário português o presidente do Instituto Islâmico<br />
Britânico afirmava que «o ISIS não apareceu do nada,<br />
sempre existiu, o ISIS é a Arábia Saudita»( 2 ). Tem razão,<br />
quer abordemos a afirmação do ponto de vista ideológico (o<br />
Wahhabismo e o Salafismo são a base ideológica comum do<br />
regime ditatorial saudita, do ISIS e da Al Qaeda) quer do<br />
ponto de vista do papel da Arábia Saudita, e seus aliados<br />
no «Conselho de Cooperação do Golfo», na estratégia imperialista<br />
de redivisão sectária e confessional na região, e em<br />
particular na Síria.<br />
Estão já hoje abundantemente documentadas as ligações<br />
dos principais «clientes» da NATO no Médio Oriente aos grupos<br />
de mercenários e criminosos que actuam na Síria. O fortalecimento<br />
do «ISIS» resulta da criação do «Exército Sírio<br />
Livre» que nas suas fileiras integra ou integrou organizações<br />
terroristas como a «Frente Al-Nusra» e o «ISIS» e cujos «combatentes»<br />
foram treinados em campos de treino na Turquia.<br />
«Exército» de «libertadores» que teve como um dos seus principais<br />
«dirigentes» Ibrahim al-Badri, o actualmente conhecido<br />
«califa» Abu Bakr al-Bagdadi, o «chefe» do «Estado Islâmico»<br />
no Iraque e Síria, com conhecidas ligações ao senador<br />
norte-americano John Mc-Cain.<br />
Não há hipocrisia que apague a evidência: o terrorismo que<br />
assola o continente europeu nasceu do caos criado pelas<br />
sucessivas intervenções imperialistas no Médio Oriente,<br />
na Ásia Central e em África. Nasceu da guerra que desde a<br />
primeira invasão do Iraque no século passado foi feita a todos<br />
os estados da região do Médio Oriente que cometerem<br />
esse terrível crime de não se vergar à dominação imperialista.<br />
O terrorismo que vimos em Bruxelas alimenta-se ideologicamente<br />
do ódio emanado das teorias do «choque de civilizações»<br />
e também do racismo e xenofobia presentes nas políticas<br />
europeias ditas de migrações. Mas não só. As armas,<br />
os veículos, os enormes «custos operacionais» de organizações<br />
terroristas como estas não caem do céu. E o rasto do dinheiro<br />
leva-nos, mais uma vez, à NATO e aos seus «clientes».<br />
( 1 ) Trends in international arms transfers, 2015 - Stockholm International<br />
Peace Research Institute<br />
( 2 ) https://www.publico.pt/mundo/noticia/o-estado-islamico-sempre-existiue-a-arabia-saudita-1716649?page=-1<br />
EDITORIAL<br />
DINAMIZAR<br />
A LUTA<br />
Esta semana e como era expectável pela sua<br />
conformidade constitucional foi promulgado<br />
pelo Presidente da República o Orçamento<br />
do Estado para o presente ano. Com a sua promulgação<br />
concluiu-se um processo em que PSD/CDS<br />
e a União Europeia tudo fizeram para inviabilizar<br />
qualquer inversão de rumo na sua política de exploração<br />
e empobrecimento e no qual o PCP com<br />
a sua iniciativa e proposta deu um contributo decisivo<br />
para responder a problemas urgentes dos trabalhadores<br />
e do povo português.<br />
O Presidente da República convocou para a próxima<br />
semana a sua primeira reunião do Conselho<br />
de Estado não deixando de causar estranheza o convite<br />
que dirigiu aos presidentes do Banco Central Europeu<br />
e do Banco de Portugal para nela participarem.<br />
Foi ontem apresentado pelo Governo na Assembleia<br />
da República o Plano Nacional de Reformas<br />
com debate público até final de Abril. Trata-<br />
-se de um programa que, tal como o previsto Progra -<br />
ma de Estabilidade, resulta das imposições da União<br />
Europeia, a elaborar no âmbito do chamado Semestre<br />
Europeu e no quadro do qual se visa assegurar a interferência<br />
e ingerência na definição das políticas macroeconómicas<br />
nacionais. Imposições que são, em<br />
grande medida, a causa dos graves problemas que<br />
o País enfrenta.<br />
Sem prejuízo da sua participação no debate, o<br />
PCP sublinha desde já, como frisou o camarada Jerónimo<br />
de Sousa ontem na AR, que o que se impõe<br />
definir e assegurar antes de mais são as condições<br />
para o desenvolvimento soberano do País, afirmando<br />
uma política liberta de imposições externas, que recupere<br />
os instrumentos de controlo público de sectores<br />
essenciais à promoção do desenvolvimento nacional<br />
e capaz de pôr Portugal a produzir a ritmos<br />
de crescimento que não podem ser os da última década<br />
e meia. Uma política que dê resposta à continua<br />
transferência de milhares de milhões de euros<br />
anuais em juros da dívida pública, libertando mais<br />
meios dirigidos ao investimento produtivo e ao desenvolvimento<br />
social.<br />
No plano internacional, à medida que se aprofunda<br />
a crise estrutural do capitalismo a situação vai-<br />
-se tornando mais complexa e perigosa. Os atentados<br />
terroristas em Bruxelas com as movimentações da<br />
extrema direita fascista e xenófoba que lhes surgem<br />
associadas e as medidas securitárias em preparação;<br />
as movimentações golpistas no Brasil ainda de desfecho<br />
imprevisível; as manobras de deses tabilização<br />
e ingerência em Angola são alguns dos exemplos mais<br />
actuais desta crise que suscita novas preocupações<br />
e impõe a necessidade de dinamização da luta dos<br />
trabalhadores e dos povos em defesa da paz, da liberdade,<br />
da soberania e independência nacionais,<br />
da justiça e do progresso social.<br />
Depois de amanhã comemora-se o 40.º aniversário<br />
da aprovação e promulgação da Constituição<br />
da República Portuguesa. O PCP leva a efeito<br />
ao longo do ano um vasto conjunto de iniciativas<br />
com o objectivo central de valorizar a Constituição<br />
de Abril e os conteúdos progressistas que mantém,<br />
“Em defesa da Constituição<br />
e dos valores de Abril<br />
”<br />
alertar para as ameaças e atentados constantes de<br />
que são alvo as conquistas e os direitos que nela permanecem<br />
inscritos, e ainda denunciar os perigos para<br />
o regime democrático de projectos tendentes para<br />
a sua revisão.<br />
Depois de amanhã, dia 2, realizar-se-á, pelas 15<br />
horas no Fórum Lisboa a sessão político-cultural comemorativa<br />
com a participação do Secretário-geral<br />
do PCP.<br />
A Constituição, como refere o camarada Jerónimo<br />
de Sousa em entrevista publicada nesta edição<br />
do Avante!, «apesar de ter sido empobrecida e<br />
enfraquecida por sucessivas revisões e de muitas das<br />
suas normas não terem sido efectivadas, é uma Constituição<br />
que continua do lado dos trabalhadores, do<br />
povo e da democracia, que comporta e projecta muitos<br />
dos valores de Abril».<br />
Aacção do PCP prossegue a vários níveis e diferentes<br />
dimensões: com a realização de centenas<br />
de assembleias, plenários e reuniões já a decorrer<br />
nesta primeira fase preparatória do seu XX<br />
Congresso, com as iniciativas de aniversário e a campanha<br />
nacional de fundos a quatro semanas do seu<br />
termo a exigir um acrescido esforço de alargamento<br />
de contactos. Avança também a preparação da<br />
Festa do Avante!, a venda da EP e a campanha de<br />
divulgação do Avante!.<br />
Sublinha-se de novo a importância política da iniciativa<br />
do PCP sobre o controlo público da Banca<br />
realizada na semana passada com cerca de 200 participantes.<br />
Anteontem decorreu o Encontro de Reformados<br />
em Almada com a participação do Secretário-geral<br />
do Partido e uma grande participação<br />
e intervenção de reformados.<br />
No dia 5 de Abril, será a vez da iniciativa em<br />
torno da renegociação da dívida e, logo a seguir, sobre<br />
as questões do euro.<br />
Na Assembleia da República destaca-se o debate<br />
no passado dia 23 sobre as questões da precarieda<br />
de, com o PCP a questionar o Governo sobre a<br />
necessidade de medidas políticas de combate a este<br />
autêntico flagelo social e sobre o qual apresentou um<br />
conjunto de iniciativas legislativas.<br />
Desenvolve-se também a luta de massas.<br />
O PCP recebeu uma delegação da CGTP-IN<br />
que apresentou as conclusões do seu XIII Congresso,<br />
com as reflexões e as grandes linhas de intervenção<br />
sindical para os próximos anos.<br />
Hoje tem lugar a manifestação da juventude em<br />
Lisboa e, em Braga, produtores de leite manifestar-<br />
-se-ão junto à Agro.<br />
Desenvolvem-se lutas em diversas empresas e<br />
das populações em torno das acessibilidades.<br />
Avança também por todo o País a preparação<br />
das comemorações do 25 de Abril e do 1.º de Maio.<br />
Apesar dos avanços conseguidos na actual fase<br />
da situação política, a defesa da Constituição<br />
e dos valores de Abril está claramente associada à<br />
exigência do PCP da concretização de uma política<br />
patriótica e de esquerda pela qual nos continuaremos<br />
a bater.
4 SEMANA<br />
3 1 -3 -2 01 6<br />
O<br />
terrorismo<br />
ACTUAL<br />
«Tantas histórias. Quantas perguntas»<br />
• Manuel Rodrigues<br />
é uma velha arma<br />
das classes dominantes. Sob as<br />
formas mais diversas, foi usado para<br />
«justificar» guerras, invasões, ocupações,<br />
colonizações, operações de<br />
saque e os processos mais bárbaros<br />
de centralização e concentração da<br />
riqueza nas mãos dos monopólios.<br />
Foi um fenómeno desta natureza que<br />
levou o PCP a definir o fascismo em<br />
Portugal como «ditadura terrorista<br />
dos monopólios (associados ao imperialismo)<br />
e dos latifundiários». Assume<br />
as facetas mais diversas conforme<br />
os tempos, circunstâncias e lugares<br />
para ocultar a sua real natureza<br />
e objectivos. Manifesta-se também<br />
nas violentas explosões que provocam<br />
destruição, caos, sofrimento e<br />
morte. Ceifa vidas às dezenas, centenas<br />
ou milhares, das formas mais<br />
impiedosas e cruéis, incluindo nas<br />
guerras que promove. Não selecciona<br />
idade, género, credo. O seu fim<br />
Apoucos dias de se assinalar o<br />
quadragésimo aniversário da<br />
aprovação da Constituição da República<br />
Portuguesa na Assembleia Constituinte<br />
e da sua promulgação, de seguida,<br />
pelo Presidente da República,<br />
General Costa Gomes, muito ouviremos<br />
falar desse documento fundamental,<br />
garante de direitos do povo<br />
português, o mais avançado de quantos<br />
há na Europa, e que por isso foi<br />
atacada, mutilada e merece,<br />
ainda hoje, a atenção e<br />
o ódio dos que querem<br />
parar a roda da história.<br />
Marcelo Rebelo de<br />
Sousa, que continua a<br />
preencher tempo de antena<br />
nas televisões, rádios e<br />
até nas revistas cor-de-rosa,<br />
procurando agradar a<br />
gregos e troianos, não<br />
apenas porque goste de<br />
é fomentar o medo que sirva de terreno<br />
fértil ao irracional germinar de<br />
atitudes de desistência e afastamento<br />
da política e de aceitação acrítica<br />
e passiva da ordem estabelecida tornada<br />
mais agressiva com a liquidação<br />
das liberdades e garantias individuais<br />
e colectivas. Em nome duma<br />
suposta «segurança», que afinal<br />
mais não é do que uma ordem<br />
antidemocrática, repressiva e<br />
xenófoba.<br />
Face da mesma moeda são<br />
as manifestações de força da extrema<br />
direita, dos grupos nazis, neonazis,<br />
fascistas e protofascistas (que as<br />
classes e os poderes dominantes<br />
apoiam de forma mais encoberta ou<br />
aberta conforme as suas necessidades<br />
e conveniências no momento).<br />
Criado o «clima político» propício,<br />
seguem-se geralmente as invasões e<br />
ocupações; as violações à soberania<br />
e independência nacionais; as pressões<br />
e ingerências nos assuntos internos<br />
e a desestabilização política<br />
dos estados.<br />
Não foi isto que vimos na actuação<br />
da rede terrorista-bombista em Portugal<br />
contra a nossa Revolução de<br />
Abril e para tentar impedir a consagração<br />
das suas conquistas na nossa<br />
Constituição?<br />
Não será isto que estamos<br />
a ver nas medidas securitárias<br />
na França e na Bélgica?<br />
Não será isto que «justifica»<br />
o tratamento cruel e desumano dado<br />
aos refugiados pela UE e pela NA-<br />
TO? Não foi isto que já vimos no<br />
bombardeamento da Jugoslávia, na<br />
invasão do Afeganistão e do Iraque,<br />
na agressão à Líbia, nos avanços do<br />
fascismo na Ucrânia, na ocupação<br />
da Palestina por Israel, nos ataques<br />
à Síria?<br />
Lembrando Brecht, «tantas histórias,<br />
quantas perguntas».<br />
Para que serve uma privatização<br />
• Margarida Botelho<br />
A Constituição<br />
AAmarsul é uma empresa criada em 1997, com capitais<br />
exclusivamente públicos, com 51 por cento<br />
do Estado português, através da EGF, e 49 por cento<br />
dos nove municípios da Península de Setúbal, para a valorização<br />
e tratamento de resíduos sólidos urbanos.<br />
Em Julho do ano passado, o governo PSD-CDS vendeu<br />
a EGF a um grupo privado onde pontuam<br />
as empresas Mota-Engil e SUMA, entre outras.<br />
Além da privatização, prolongou o prazo de exploração<br />
da empresa até 2034.<br />
Os novos donos da Amarsul impuseram desde<br />
a primeira hora um modelo de gestão que<br />
piora o serviço e dificulta a relação com os municípios,<br />
que são simultaneamente accionistas<br />
com praticamente metade da empresa e os únicos clientes.<br />
Ontem, dia 30, realizou-se a Assembleia-geral de accionistas.<br />
À hora do fecho da edição do Avante! não se<br />
sabe ainda como decorreu. Mas o que se sabe é suficiente:<br />
no relatório e contas de 2015 da empresa, a Mota-Engil<br />
levou a proposta de repartir os lucros da empresa,<br />
qualquer coisa à volta de seis milhões de euros.<br />
Lucros para os quais praticamente não contribuiu, porque<br />
geriu a empresa menos de metade do ano, lucros<br />
ganhos à custa dos trabalhadores e das populações.<br />
Lucros que ao longo dos 17 anos de vida da Amarsul<br />
foram sempre reinvestidos na empresa: ou contribuindo<br />
para não aumentar as tarifas pagas pelos municípios e<br />
utentes, ou investidos em melhorias de serviços, instalações,<br />
equipamentos e segurança dos trabalhadores.<br />
Os municípios da Península de Setúbal recusam<br />
essa redistribuição de lucros. Defendem<br />
que, à semelhança dos anos anteriores, sejam<br />
usados para melhorar o serviço e impedir o<br />
crescimento da tarifa. Dizem os novos donos da<br />
Amarsul que a lei impede que os lucros sejam<br />
usados para esse fim. Uma lei à sua medida, feita pelo<br />
governo que diligentemente os serviu.<br />
No fundo, aqui está um belo exemplo da diferença<br />
entre a gestão pública e a gestão privada. De um lado,<br />
a «gestão» de um gigante económico, que quer lucro e<br />
depressa. Do outro, o interesse público, defendido por<br />
municípios comprometidos com os trabalhadores e as<br />
populações. A luta contra a privatização da EGF continua!<br />
• João Frazão<br />
ver os os seus índices de popularidade<br />
em alta, mas antes porque sabe<br />
que isso pode tornar a sua voz inquestionável<br />
para as amplas massas populares,<br />
também se pronunciou sobre<br />
esse acontecimento maior da democracia<br />
portuguesa.<br />
No passado domingo, num texto publicado<br />
no DN, Marcelo tece considerações<br />
sobre a Constituição da República<br />
Portuguesa que não podem deixar<br />
de causar estranheza,<br />
designadamente as referências<br />
de que «a vida de um<br />
Estado não se esgota na sua<br />
Constituição, nem deve mitificar<br />
uma obra que como<br />
qualquer outra realização<br />
humana, é imperfeita», ou<br />
a saudação aos que ele apelida<br />
de «reconstituintes», ou<br />
seja os que nestes 40 anos<br />
tudo fizeram para a descaracterizar.<br />
Estranheza porque o que deve ser<br />
salientado é que a vida de um Estado<br />
e a acção dos seus agentes encontra<br />
os seus limites e deve ser orientada<br />
por essa mesma Constituição, a lei<br />
das leis que, não sendo intocável, deve<br />
ser defendida por todos e, em primeiro<br />
lugar pelo primeiro magistrado<br />
na nação.<br />
Declarações estranhas também porque<br />
escritas pouco mais de 15 dias<br />
depois de ter jurado defender, cumprir<br />
e fazer cumprir a Constituição.<br />
Marcelo pode achar que a CRP é mais<br />
ou menos perfeita, mas a ele, enquanto<br />
Presidente da República, que até<br />
jurou a sua tomada de posse sobre a<br />
versão original, aprovada em 1976,<br />
cumpre, não enaltecer aqueles que a<br />
amputaram nas sucessivas revisões,<br />
ou abrir portas a novos recortes, mas<br />
honrar aquele juramento!<br />
FRASES<br />
“<br />
[Passos Coelho] é o líder ideal agora,<br />
daqui por um ano não sei.<br />
”(Morais Sarmento,<br />
Antena 1, 24.3.16)<br />
“<br />
Com enorme dificuldade poderá ser<br />
candidato a primeiro-ministro daqui a três<br />
anos.<br />
”<br />
(Idem, ibidem)<br />
“[Assunção] Cristas é uma espécie de<br />
tranquilizante entre duas lideranças políticas:<br />
Portas e Nuno Melo. Nuno Melo é um<br />
líder claro, Cristas é uma coisa simpática,<br />
in between.<br />
”<br />
(Idem, Ibidem)<br />
“<br />
A liderança do dr. Ricardo Salgado vai<br />
dar-nos em Portugal uma situação parecida<br />
com o caso 'Lava-Jato' no Brasil. Depois<br />
irão ver quem foram os responsáveis,<br />
se eu, o BdP ou o ex-primeiro-ministro.<br />
(José Maria Ricciardi, ”<br />
Expresso, 25.3.16)<br />
“<br />
A 'Lava-Jato' é necessária, importante<br />
e não deve ser paralisada em hipótese nenhuma,<br />
doa a quem doer.<br />
” (Frei Beto,<br />
Público, 26.3.16)<br />
“<br />
Mas não concordo com os métodos autoritários<br />
do juiz Sérgio Moro. Ele trata<br />
suspeitos como criminosos, adora ser mediático<br />
e age como se fosse a encarnação<br />
da Justiça brasileira.<br />
”<br />
“<br />
(Idem, ibidem)<br />
Portugal perdeu em quatro anos 1100<br />
professores no Ensino Superior, que se reformaram<br />
ou emigrara.<br />
” (Manuel Heitor,<br />
Expresso, 25.3.16)<br />
“<br />
Bancos têm dinheiro a custo zero do<br />
BCE mas travam empréstimos às empresas.<br />
”<br />
(Título do Diário de Notícias,<br />
27.3.16)<br />
“<br />
Insto o Governo e a administração pública<br />
a serem muito rigorosos na execução<br />
do Orçamento (...) é esse rigor que pode<br />
fazer face a uma evolução económica menos<br />
positiva.<br />
” (Marcelo Rebelo de Sousa,<br />
TSF, 28.3.16)<br />
“<br />
O Presidente demarcou-se em demasia<br />
do PSD, o que pode dificultar a sua relação<br />
com a oposição, que vai estar crispada,<br />
ou os seus apelos aos consensos.<br />
(Cristina Azevedo, ”<br />
RTP2, 28.3.16)<br />
“[Cavaco Silva] foi uma pessoa de enorme<br />
importância para o PSD e faz todo o<br />
sentido homenageá-lo no congresso.<br />
(Joaquim Ferreira do Amaral, ”<br />
Diário de Notícias, 29.3.16)
31-3-2016<br />
EM FOCO 7<br />
vozes se levantam contra. Mas como é<br />
que se pode estar contra isso e<br />
simultaneamente estar de acordo com o<br />
avanço da União Bancária que<br />
precisamente prevê essa deslocalização<br />
e centralização? Do nosso ponto de<br />
vista esta contradição é insanável. O<br />
que serve o interesse nacional é o<br />
controlo público da banca. A política<br />
patriótica e de esquerda que propomos,<br />
com os eixos centrais nela definidos,<br />
demonstra que há outro rumo possível.<br />
É fácil? É simples? Claro que não. Mas<br />
partindo da necessidade há que afirmar<br />
a possibilidade de uma política<br />
alternativa com a ruptura com essas<br />
opções e políticas dominantes.<br />
Em Dezembro, há Congresso do Partido<br />
A participação dos militantes<br />
é «uma das nossas maiores<br />
riquezas»<br />
O PCP realiza este ano o seu XX<br />
Congresso. Como vês a sua<br />
preparação? Achas que nesta nova<br />
situação política, que como tens<br />
afirmado é de grande exigência, o<br />
Congresso poderá ser de alguma<br />
forma secundarizado?<br />
No Comité Central consideramos que<br />
não podemos fechar para Congresso,<br />
mas que também não o podemos<br />
secundarizar. Acreditamos que o<br />
colectivo partidário, as organizações e<br />
militantes do Partido vão demonstrar<br />
que a preparação do Congresso se faz<br />
profundamente associada à acção e à<br />
luta quotidianas.<br />
Se estamos a discutir e a tomar<br />
medidas para o reforço do Partido nas<br />
empresas e locais de trabalho, essa<br />
discussão é inseparável do projecto de<br />
Teses-Resolução Política que temos que<br />
construir nas diversas fases que<br />
decidimos. Se estamos a discutir o final<br />
da campanha nacional de fundos<br />
estaremos a discutir, em termos<br />
congressuais, a questão dos fundos do<br />
Partido. Se olharmos e reflectirmos<br />
sobre o mundo em que vivemos,<br />
discutimos a situação internacional, a<br />
correlação de forças, os perigos e<br />
potencialidades que dela decorrem e a<br />
contribuição que daremos, no<br />
Congresso, como Partido patriótico e<br />
internacionalista. O mesmo se pode<br />
dizer em relação à situação nacional e à<br />
intensificação e desenvolvimento da<br />
luta de massas e ao trabalho político<br />
unitário do Partido.<br />
Mas a actividade do Partido é,<br />
neste momento, particularmente<br />
intensa...<br />
Sim, temos neste momento em curso<br />
iniciativas muito diversas, como a<br />
campanha contra a precariedade e a<br />
acção de contacto com reformados e<br />
pensionistas. Mas não temos que<br />
discutir isto do ponto de vista das teses<br />
congressuais, onde cada um pode dar<br />
uma contribuição para que o Partido<br />
encontre o caminho mais certo, mais<br />
seguro e mais sólido para continuar a<br />
afirmar a sua perspectiva de que é<br />
possível uma vida melhor?<br />
Que importância atribuis à<br />
participação dos militantes e<br />
organizações do Partido na<br />
preparação e construção do<br />
Congresso?<br />
Creio que esta é uma questão decisiva.<br />
Há que fazer um esforço para ir o mais<br />
longe possível no envolvimento dos<br />
militantes e organizações. A nossa<br />
participação, o nosso contributo, pode<br />
muitas vezes não ser um tratado<br />
teórico, mas uma das maiores riquezas<br />
do nosso colectivo é precisamente a de<br />
poder contar com a opinião dos<br />
militantes, por mais singela que seja.<br />
O Comité Central não decidiu<br />
documentos acabados, como acontece<br />
noutros partidos, em que o chefe, ou<br />
candidato a chefe, leva uma moção que<br />
o militante assina de cruz, sem<br />
discussão da essência, da substância.<br />
Esta diferença demonstra na prática a<br />
«profunda democracia interna» de que<br />
tantas vezes falamos e que também se<br />
vai verificar no Congresso, com a<br />
participação do nosso colectivo<br />
partidário em torno desta ideia: «como<br />
é que melhor podemos servir o nosso<br />
Partido?»<br />
De que modo poderá o Congresso<br />
articular-se com as muitas e<br />
exigentes medidas de reforço do<br />
Partido já em curso e potenciar esse<br />
mesmo reforço?<br />
Apesar de muitas vezes não parecer, a<br />
organização do Partido e o seu reforço<br />
continuam a ser a pedra angular quer do<br />
nosso projecto e da sua viabilização<br />
como do fortalecimento da nossa acção,<br />
intervenção e luta. A organização e o seu<br />
reforço não é «mais uma tarefa», é uma<br />
questão fundamental com um sentido<br />
dialéctico: mais organização, melhor<br />
intervenção/ mais intervenção, melhor<br />
organização. A concretização da<br />
campanha de reforço do Partido será<br />
parte integrante das conclusões do<br />
Congresso.<br />
Há hoje quem considere que a<br />
organização «não está a dar» e que são<br />
precisas «novas fórmulas», mas o que a<br />
realidade demonstra é precisamente a<br />
importância decisiva da organização do<br />
Partido.<br />
Nas tuas intervenções costumas<br />
sublinhar a existência de um<br />
Projecto de emancipação e libertação<br />
Estamos a dois dias das comemorações do<br />
40.º aniversário da aprovação e promulgação<br />
da Constituição da República Portuguesa de<br />
1976. Faz sentido continuar a defender esta<br />
Constituição?<br />
Faz todo o sentido. Apesar de ela ter sido<br />
empobrecida e enfraquecida por sucessivas revisões<br />
e de muitas das suas normas não serem efectivadas,<br />
é uma Constituição que continua do lado dos<br />
trabalhadores, do povo e da democracia, que<br />
comporta muitos dos valores de Abril. Basta reparar<br />
no ódio que sectores da direita política e económica<br />
continuam a ter em relação à Constituição,<br />
procurando sempre uma oportunidade de a rever<br />
para a mutilar...<br />
Essa expressão, «valores de Abril», que passou a constar no próprio título<br />
do Programa do Partido na sequência das alterações aprovadas no XIX<br />
Congresso, que conteúdo tem?<br />
Os valores de Abril expressam Revolução e conquistas, direitos que ela consagrou,<br />
tal como a soberania e a independência nacionais. Quando um jovem luta pela<br />
escola pública, contra as propinas, está a lutar pelos valores de Abril. Quando<br />
trabalhadores exigem trabalho com direitos estão a defender os valores de Abril.<br />
Quando as populações defendem o seu direito à saúde, à educação e à protecção<br />
social na doença, na infância, na velhice e no desemprego, o acesso à Justiça e o<br />
efectivo direito à criação e fruição cultural estão, na realidade, a afirmar os valores<br />
de Abril. Mesmo que não lhes chamem assim... A expressão tem este carácter<br />
intrínseco, resultante da Revolução de Abril.<br />
Outra expressão constante no Programa do Partido é a «Democracia<br />
Avançada», assumida como etapa da luta pelo socialismo e pelo<br />
comunismo. Que democracia é esta?<br />
Nós consideramos que essa é uma etapa do processo de emancipação e de<br />
libertação dos trabalhadores e dos povos que tem, nos seus conteúdos<br />
programáticos, respostas mais avançadas do que a própria Constituição da<br />
República. É uma democracia política, económica, social e cultural (a que se junta<br />
a vertente da soberania e da independência nacionais), que rompe com a política<br />
de direita e as imposições do capital monopolista. Responde a muitas das grandes<br />
questões e objectivos por que lutamos numa sociedade socialista.<br />
Mas esta etapa não define ficar-se por aí. Não perdemos uma perspectiva de<br />
horizonte mais largo, a construção do socialismo e do comunismo, num processo de<br />
transformação que resultará da luta do nosso Partido mas fundamentalmente da<br />
luta do nosso povo.<br />
Tens referido, nomeadamente em iniciativas de comemoração do 95.º<br />
aniversário do Partido, que o ideal e o projecto comunistas continuam<br />
actuais. Como se pode materializar em Portugal e no mundo de hoje, a<br />
viverem uma crise tão profunda, esse projecto e esse ideal?<br />
O nosso ideal e nosso projecto comportam esse sonho milenar do ser humano de se<br />
libertar da exploração de um homem por outro homem, um sonho que não morre<br />
nem acaba. Mesmo numa correlação de forças tão desfavorável aos trabalhadores e<br />
aos povos, quando resistir é já vencer e com a inquietação que nos percorre tendo<br />
em conta a situação que hoje existe à escala planetária, temos aquela confiança que<br />
nos vem da convicção de quem acredita no ser humano e no seu anseio de<br />
liberdade e emancipação. E depois, estaremos de acordo que, apesar de tudo, «o<br />
mundo move-se».<br />
Este Partido, que fez agora 95 anos, conheceu as situações mais dramáticas ao<br />
longo do seu percurso, foi capaz de seguir em frente e quer ir mais além. Sem este<br />
Partido, com a sua identidade, a sua ideologia, a sua natureza, o seu projecto e o<br />
seu ideal, estaríamos hoje confrontados com ainda mais retrocessos. Os<br />
trabalhadores e povo português precisam deste Partido. 95 anos é um tempo curto<br />
na vida de um povo, mas foi um tempo suficiente na vida de um Partido para<br />
mostrar a validade e actualidade do seu projecto e do seu ideal.<br />
ambiente de unidade, coesão e<br />
confiança no Partido. As<br />
contradições de um processo tão<br />
acidentado como este, que o PCP,<br />
com a sua intervenção<br />
determinante, contribuiu para criar,<br />
não poderão perturbar esse clima,<br />
com reflexos negativos na<br />
preparação do próprio Congresso?<br />
É verdade que a solução política<br />
encontrada comporta complexidades,<br />
mas aquilo que sentimos nas grandes<br />
iniciativas de comemoração do 95.º<br />
aniversário do Partido foi precisamente<br />
esse ambiente de unidade, confiança e<br />
coesão. Preocupações? Dúvidas?<br />
Incertezas? Sim, quem não as tiver anda<br />
distraído. Mas o que prevalece é a<br />
confiança no nosso Partido. Foi assim<br />
em Lisboa, no Porto, em Setúbal, no<br />
Alentejo, no Tortosendo. A forma como<br />
se ouve as posições do Partido, como se<br />
sublinha este ou aquele aspecto, leva-me<br />
a afirmar com toda a segurança que<br />
existe de facto unidade e coesão no<br />
PCP.<br />
O Comité Central decidiu não haver<br />
razões para a alteração do<br />
Programa e dos Estatutos do<br />
Partido neste Congresso. Queres<br />
explicitar essas razões?<br />
No anterior Congresso, realizámos uma<br />
discussão aprofundada em torno das<br />
alterações do Programa e dos Estatutos.<br />
Lendo e relendo hoje esses documentos<br />
fundamentais para a vida do Partido – e<br />
essa revisitação é importante ser feita –<br />
consideramos que mantém uma grande<br />
actualidade e validade. É esta a razão.
PCP<br />
8 31-3-2016<br />
Mais espaço, mais Festa.<br />
Futuro com Abril<br />
Rigor e audácia<br />
Falta um mês para terminar a<br />
campanha de fundos lançada pelo<br />
PCP para a compra da Quinta do<br />
Cabo. Ao longo dos últimos 17<br />
meses, as organizações e sectores do<br />
Partido empenharam-se no sucesso<br />
da iniciativa «Mais espaço, mais Festa<br />
– Futuro com Abril». São múltiplos<br />
os exemplos de criatividade e<br />
capacidade de trabalho.<br />
Não menos importante no<br />
cumprimento de um objectivo<br />
ambicioso como a compra de um<br />
terreno no valor de 950 mil euros é o<br />
rigor e a audácia – tanto mais notável<br />
tratando-se de um Partido Comunista<br />
que, mantendo as suas características<br />
e identidade, afirma e preserva a sua<br />
independência face ao capital<br />
também no plano financeiro. Estes<br />
foram dois aspectos salientados por<br />
Luís Fernandes e Carlos Chaparro,<br />
ambos do Comité Central (CC) do<br />
PCP, que em conversa com o Avante!<br />
abordaram o curso da campanha de<br />
fundos no distrito de Lisboa.<br />
À discussão e subsequente aceitação<br />
da meta financeira proposta pelos<br />
organismos executivos do CC à<br />
Organização Regional, correspondeu<br />
a definição dos moldes de<br />
acompanhamento estreito da<br />
respectiva satisfação. Naturalmente<br />
com as correspondentes medidas de<br />
direcção ao nível da distribuição de<br />
quadros e da periodicidade da<br />
discussão e centralização das verbas,<br />
bem como da assumpção pelos mais<br />
responsáveis de compromissos<br />
próprios, dando, dessa forma, o<br />
exemplo.<br />
Bons exemplos são o ocorrido em<br />
duas freguesias de Lisboa. Numa,<br />
aproveitou-se o conhecimento da<br />
realidade concreta e o<br />
reconhecimento de que goza um<br />
camarada para ganhar contributos<br />
daqueles que, não militando no PCP<br />
ou não estando tão próximos da vida<br />
quotidiana do colectivo comunista,<br />
identificam no Partido e na Festa do<br />
Avante! valor e futuro.<br />
Noutra freguesia, o trabalho assentou<br />
num colectivo de camaradas quase<br />
em exclusividade dedicados à tarefa.<br />
Assim, o que se verificou no distrito<br />
de Lisboa foi que à dinâmica<br />
inaugural – francamente positiva e<br />
ultrapassando mesmo as melhores<br />
perspectivas, havendo casos de<br />
pessoas que se dirigiram aos centros<br />
de trabalho do PCP para<br />
contribuírem para a compra da<br />
Quinta do Cabo, relataram Luís<br />
Fernandes e Carlos Chaparro –<br />
correspondeu a redefinição, uma e<br />
outra vez, do objectivo financeiro a<br />
atingir.<br />
Bom resultado<br />
Neste momento, a meta que a<br />
Organização Regional de Lisboa do<br />
PCP visa alcançar é mais do dobro<br />
da inicial, sendo que a percentagem<br />
da sua execução ronda os 80 por<br />
cento. Várias foram as organizações e<br />
sectores que acompanharam este<br />
movimento. Casos dos sectores<br />
Empresas de Lisboa, da Função<br />
Pública, das Comunicações Águas e<br />
Saneamento e Energia ou da Saúde,<br />
e das concelhias da Amadora,<br />
Cascais e Loures.<br />
A cerca de quatro semanas de<br />
darmos por encerrada a campanha<br />
«Mais espaço, mais Festa – Futuro<br />
com Abril», importa, naturalmente,<br />
fazer um derradeiro esforço.<br />
Insistindo no rigor da concretização<br />
dos compromissos individuais e<br />
colectivos assumidos, mas também na<br />
audácia.<br />
Audácia suportada na certeza de que<br />
o propósito político da recolha de<br />
fundos foi compreendido e assimilado<br />
pela generalidade dos membros do<br />
Partido, antes de mais, mas<br />
igualmente por muitos não membros<br />
do PCP, aos quais importa que nos<br />
dirijamos. Audácia, voltando a falar<br />
com muitos militantes e amigos que<br />
tendo já contribuído, manifestam<br />
disponibilidade para voltar a fazê-lo.<br />
Audácia, convencendo eleitos,<br />
membros de organizações de massas,<br />
entre outros, que ainda não<br />
abordaram quem possa contribuir, a<br />
que o façam. Audácia, sempre,<br />
levando a cabo algumas iniciativas e<br />
convívios cujo resultado possa<br />
complementar os objectivos<br />
financeiros almejados. Para que no<br />
fim, e até eventualmente na iniciativa<br />
pública com que a DORL equaciona<br />
encerrar a campanha, possamos<br />
todos assinalar mais um importante<br />
triunfo do grande colectivo<br />
partidário.<br />
Portos de Setúbal, Sesimbra e Lisboa<br />
PCP contra fusão<br />
O PCP está contra a anunciada fusão das administrações<br />
dos portos de Setúbal, Sesimbra<br />
e Lisboa, reafirmando que a dinamização da<br />
actividade portuária requer a manutenção da<br />
autonomia.<br />
O PCP quer criar<br />
um movimento<br />
de opinião contra<br />
a medida<br />
Num comunicado do Executivo<br />
da Direcção da Organização<br />
Regional de Setúbal,<br />
datado de dia 18, o<br />
PCP garante que a solução<br />
apontada pelo Governo «não<br />
responde às necessidades<br />
da actividade económica<br />
da região e ao desenvolvimento<br />
e modernização da<br />
actividade portuária». Os<br />
comunistas consideram que<br />
a medida, que surge coberta<br />
pelo alegado objectivo<br />
de conseguir maior articulação<br />
administrativa e coordenação<br />
estratégica, é<br />
mesmo contrária ao desenvolvimento<br />
da actividade na<br />
região.<br />
Partindo da ideia de que<br />
a justa e necessária «visão<br />
e gestão integradas do conjunto<br />
das infra-estruturas<br />
portuárias da região e do<br />
País» não pressupõe de forma<br />
nenhuma a «fusão indiscriminada<br />
das administrações<br />
portuárias», o PCP<br />
lembra ainda que a decisão<br />
de fundir as administrações<br />
portuárias não rompe<br />
com o caminho de privatização<br />
e entrega ao capital<br />
estrangeiro deste importante<br />
e estratégico sector.<br />
E mais, aprofunda as<br />
condições para a desvalorização<br />
de actividades tradicionais,<br />
como a pesca, e<br />
para o desinvestimento nas<br />
actividades marítimas ou<br />
turísticas.<br />
A decisão anunciada pelo<br />
Governo, garante ainda<br />
o PCP, não tem em conta<br />
as especificidades e valências<br />
dos portos de Setúbal<br />
e Sesimbra que, «no quadro<br />
de uma única administração,<br />
tenderão a uma ainda<br />
maior desvalorização».<br />
O que se impunha era, pelo<br />
contrário, a dinamização<br />
O sector portuário tem que valorizar as diversas actividades<br />
ligadas ao mar<br />
dos portos de Setúbal e Sesimbra,<br />
com investimento<br />
público e modernização das<br />
suas infra-estruturas. O Partido<br />
realça ainda que a medida<br />
agora anunciada também<br />
não corresponde aos<br />
interesses dos trabalhadores<br />
portuários, que há muito<br />
lutam pela contratação<br />
colectiva, pela melhoria dos<br />
salários e condições de trabalho<br />
e contra a precariedade<br />
que grassa no sector.<br />
Desenvolver o sector<br />
e a região<br />
O reforço da actividade<br />
portuária nos estuários do<br />
Tejo e do Sado é, para o<br />
PCP, uma questão estrutural<br />
para o desenvolvimento<br />
e progresso económico<br />
e social da Península de<br />
Setúbal. Para que seja uma<br />
realidade, acrescenta-se no<br />
comunicado, é necessário<br />
libertar o sector dos interesses<br />
dos grupos monopolistas.<br />
A administração portuária<br />
única para os portos<br />
de Setúbal e Sesimbra, que<br />
o PCP defende, insere-se<br />
no desenvolvimento do sector<br />
no quadro de uma visão<br />
estratégica nacional.<br />
Entre as medidas concretas<br />
que o PCP propõe para<br />
desenvolver o sector portuário<br />
na região conta-se<br />
desde logo o aumento do<br />
investimento público, a modernização<br />
das infra-estruturas<br />
e a ampliação da actividade<br />
portuária no Barreiro,<br />
com a instalação de<br />
um terminal de contentores<br />
(sem desactivação das<br />
actividades instaladas na<br />
margem Norte). O PCP advoga<br />
ainda a construção de<br />
um porto de pesca na Trafaria,<br />
uma doca e lota para<br />
descarga do pescado e<br />
a melhoria das infra-estruturas<br />
existentes nos portos<br />
de pesca de Setúbal e Sesimbra.<br />
Unidade e vigilância<br />
Num comunicado distribuído aos trabalhadores<br />
do complexo dos Olivais da Câmara<br />
Municipal de Lisboa, a célula do<br />
Partido apela a que permaneçam unidos<br />
e vigilantes face à ausência de respostas<br />
por parte da maioria PS a alguns dos problemas<br />
que os afectam. O PCP denuncia,<br />
particularmente, a «ausência de investimento<br />
nas condições de trabalho», que se<br />
revela na falta de materiais e de meios. O<br />
mau estado de conservação e manutenção<br />
das viaturas põe mesmo em risco quer<br />
os trabalhadores que as operam quer os<br />
próprios munícipes.<br />
Para o Partido, a reestruturação dos<br />
serviços da Câmara Municipal, a reorganização<br />
administrativa da cidade e a transferência<br />
de competências para as juntas<br />
de freguesia alterará em breve a realidade<br />
do complexo dos Olivais. Por clarificar<br />
ficam, porém, algumas questões: «qual<br />
é o plano para a renovação alargada da<br />
frota de remoção? O trabalho que deveria<br />
ser realizado nas oficinas irá continuar a<br />
ser realizado “fora”? As condições de trabalho<br />
correspondem às necessidades para<br />
desenvolver as funções atribuídas para<br />
cerca de 400 trabalhadores? Existe capacidade<br />
de resposta no refeitório para<br />
este número de trabalhadores?»
31-3-2016<br />
PCP<br />
9<br />
Campanha nacional passa por Almada<br />
PCP reclama a valorização das pensões<br />
«Nesta luta em defesa dos reformados, pensionistas<br />
e idosos podem continuar a contar<br />
com o PCP», afirmou, anteontem, em Almada,<br />
Jerónimo de Sousa.<br />
Apresentar<br />
propostas<br />
e defender<br />
os interesses<br />
dos reformados<br />
e pensionistas<br />
No encontro com reformados,<br />
realizado na União<br />
dos Reformados, Pensionistas<br />
e Idosos do Concelho<br />
de Almada, estiveram<br />
cerca de duas centenas de<br />
pessoas.<br />
No âmbito da campanha<br />
nacional «Valorizar pensões<br />
e reformas, combater a pobreza,<br />
dar dignidade à vida»,<br />
promovida pelo PCP<br />
e a decorrer até 18 de<br />
Abril, em Almada falou-se<br />
do momento actual e perspectivou-se<br />
a necessidade<br />
de prosseguir a reivindicação<br />
e a luta por uma outra<br />
política que tenha em conta<br />
o direito a uma vida com<br />
dignidade.<br />
A abrir os trabalhos, Virgolino<br />
Rodrigo, da Direcção<br />
Regional de Setúbal do<br />
PCP, salientou que, a par<br />
da questão da valorização<br />
das reformas, outros problemas<br />
«afectam a qualidade<br />
de vida dos reformados<br />
e pensionistas». Deu<br />
conta de «um número elevado<br />
de utentes sem médico<br />
de família», assim como<br />
da «dificuldade no acesso<br />
aos serviços da Segurança<br />
Social» e da «falta de lares<br />
e de outros equipamentos<br />
de apoio à terceira idade».<br />
Noutras intervenções, como<br />
a de Joaquim Gonçalves,<br />
da Confederação MUR-<br />
PI, alertou-se para o agravamento,<br />
nos últimos quatro<br />
anos, da «situação social<br />
e económica dos reformados,<br />
pensionistas e idosos»<br />
e abordou-se a actual<br />
situação política, que aponta<br />
no «sentido da inversão»<br />
das práticas do anterior governo,<br />
«sendo o descongelamento<br />
de algumas reformas<br />
e pensões a expressão<br />
mais evidente e mais positiva».<br />
Josélia Xavier, da Inter-<br />
-reformados/CGTP-IN, destacou<br />
a necessidade de «continuar<br />
a luta no combate às<br />
injustiças que nos foram impostas».<br />
Iniciativa<br />
Jerónimo de Sousa, por<br />
seu lado, acentuou que, no<br />
âmbito do Orçamento do<br />
Estado para 2016, o PCP<br />
propôs e tomou a iniciativa<br />
para melhorar a vida dos<br />
reformados e pensionistas.<br />
«Apresentámos a proposta<br />
de aumento extraordinário,<br />
já este ano, das pensões<br />
e reformas em 10 euros»,<br />
assegurando que, «ao<br />
descongelamento das pensões<br />
alcançado, também<br />
em 2016, se juntasse uma<br />
trajectória de recuperação<br />
do seu valor real». Lamentavelmente,<br />
não foi aprovada<br />
uma outra proposta<br />
dos comunistas, que visava<br />
«tornar mais justas as regras<br />
de actualização anual<br />
das reformas», criticou.<br />
Em Lisboa, um colectivo<br />
determinado<br />
Reunida a 16 de Março, a Direcção da<br />
Organização Regional de Lisboa (DORL)<br />
do PCP analisou a situação económica e<br />
social dos trabalhadores e do povo no distrito,<br />
e centrou a sua discussão em temas<br />
como a luta de massas pela defesa, recuperação<br />
e conquista de direitos e por uma<br />
política patriótica e de esquerda, a iniciativa<br />
política e o reforço do Partido ou o<br />
início da preparação do XX Congresso.<br />
Numa nota de imprensa, a DORL sublinha<br />
que «os desenvolvimentos de carácter<br />
positivo» registados na vida política<br />
nacional são inseparáveis «da longa e<br />
persistente luta dos trabalhadores e do<br />
povo», nomeadamente contra as opções<br />
materializadas nos sucessivos planos de<br />
estabilidade e crescimento (PEC) e no<br />
pacto de agressão subscrito por PS, PSD<br />
e CDS.<br />
Valorizando o importante papel desempenhado<br />
pelos trabalhadores do distrito<br />
de Lisboa nos avanços alcançados e considerando<br />
que estes são prova da justeza<br />
das suas reivindicações e, em simultâneo,<br />
um exemplo de que a luta vale a pena, a<br />
DOR de Lisboa saúda a luta que os trabalhadores<br />
levaram a cabo pelos salários,<br />
direitos e postos de trabalho em diversas<br />
empresas – na Seda Ibérica, Printer,<br />
Sevirail, Diário Económico, Novo Banco<br />
– e apela à mobilização para as várias acções<br />
de luta agendadas no distrito.<br />
A luta dos estudantes do Ensino Secundário<br />
pela resolução de problemas concretos<br />
e em defesa da Escola pública, gratuita<br />
e de qualidade, e a do Ensino Superior<br />
exigindo mais e melhor Acção Social<br />
Escolar e contra a política de subfinanciamento<br />
e de aumento das propinas, é outro<br />
elemento a que o PCP no distrito de Lisboa<br />
dá destaque, como o é a manifestação<br />
de jovens trabalhadores agendada para<br />
hoje, às 14h30, em Lisboa, por iniciativa<br />
da Interjovem/CGTP-IN.<br />
Colectivo determinado<br />
A DORL faz uma avaliação muito positiva<br />
da intensa actividade levada a cabo<br />
pelo Partido no distrito – «expressão de<br />
um colectivo partidário determinado» –<br />
e, como exemplo, refere as dezenas de<br />
iniciativas de comemoração dos 85 anos<br />
do «Avante!» e dos 95 anos do PCP; a<br />
concretização da campanha «Mais Direitos,<br />
mais Futuro. Não à precariedade!»;<br />
a iniciativa-debate sobre os transportes na<br />
Área Metropolitana de Lisboa; e o encontro<br />
de quadros sobre a acção do Partido<br />
nas empresas e locais de trabalho, agendado<br />
para dia 16 de Abril.<br />
A DORL assinala ainda que o colectivo<br />
está fortemente empenhado na preparação<br />
e concretização da 40.ª Festa do<br />
Avante!, bem como na campanha de fundos<br />
«Mais Espaço, Mais Festa – Futuro<br />
com Abril», e que deu início à discussão<br />
sobre o XX Congresso do PCP, tendo como<br />
base a resolução do Comité Central<br />
de 4 e 5 de Março.<br />
Para o PCP, «o envelhecimento não é um fardo social ou uma sobrecarga para as finanças<br />
públicas», sublinhou Jerónimo de Sousa<br />
Chumbadas foram também<br />
as propostas sobre a<br />
reversão das parcerias público-privadas;<br />
o aumento<br />
da contribuição extraordinária<br />
sobre o sector energético;<br />
um adicional de dois<br />
por cento de derrama estadual<br />
sobre empresas com<br />
rendimentos tributáveis superiores<br />
a 35 milhões de<br />
euros; lançamento de um<br />
imposto sobre o património<br />
superior a um milhão<br />
de euros.<br />
«Falaram mais alto os<br />
condicionamentos das opções<br />
do Governo do PS» e<br />
a sua «recusa em se libertar<br />
das imposições europeias<br />
e de outros constrangimentos<br />
externos favoráveis<br />
ao capital monopolista que<br />
domina o País», lembrou.<br />
Compromissos<br />
Entretanto, o PCP vai continuar<br />
a intervir para «cumprir<br />
os seus compromissos»,<br />
de forma a assegurar, entre<br />
outras medidas, a «autonomia<br />
económica e social dos<br />
reformados, pensionistas e<br />
idosos, através da elevação<br />
dos seus rendimentos», o<br />
«cumprimento do direito à<br />
saúde, concretizado pelo<br />
Serviço Nacional de Saúde,<br />
com serviços públicos de<br />
proximidade», a «efectivação<br />
do direito à mobilidade<br />
e ao transporte público»,<br />
a «criação de uma rede pública<br />
de equipamentos e<br />
serviços públicos de apoio<br />
à terceira idade» e o «incentivo<br />
à participação na<br />
vida social, política e cultural».<br />
«A gravidade dos problemas<br />
que estão colocados na<br />
vida dos portugueses exige<br />
uma permanente luta<br />
dos trabalhadores, dos reformados<br />
e do nosso povo.<br />
Mas exigem também acção<br />
e intervenção dentro das<br />
instituições, nomeadamente<br />
na Assembleia da República,<br />
onde vamos continuar<br />
a apresentar propostas<br />
e a defender os interesses<br />
dos reformados e pensionistas»,<br />
afirmou Jerónimo<br />
de Sousa.<br />
Comboio da Festa do Avante!<br />
Rápido, barato, divertido<br />
Para quem vive na grande<br />
Lisboa, chegar à Festa<br />
do Avante! é fácil e barato,<br />
graças à grande oferta de<br />
transportes públicos existente<br />
(com facilidades especiais<br />
nos dias da Festa) e aos<br />
muitos lugares de estacionamento<br />
ao dispor dos visitantes<br />
em vários parques nas<br />
imediações da Quinta da<br />
Atalaia. Para quem vier de<br />
mais longe, do Norte, também<br />
há várias opções, mas<br />
nenhuma tão barata e agradável<br />
como o Comboio da Festa do Avante!,<br />
que uma vez mais é organizado pela<br />
Juventude Comunista Portuguesa. Nele,<br />
vai-se «em festa para a Festa», garante a<br />
JCP.<br />
O comboio parte no dia 2 de Setembro,<br />
sexta-feira, de Braga, passando por Nine,<br />
Famalicão, Porto, Gaia, Ovar, Aveiro,<br />
Coimbra B, Pombal, Entroncamento e<br />
Santarém, de onde segue directamente<br />
para a estação dos Foros de Amora, com<br />
transporte gratuito dos passageiros<br />
para a zona do acampamento<br />
e da Festa em autocarros<br />
vai-e-vem. Após a Festa,<br />
o regresso será na segunda-feira<br />
de manhã, também<br />
com vai-e-vem gratuitos para<br />
a estação de Foros da Amora,<br />
com o percurso inverso.<br />
De modo a mobilizar os jovens<br />
a que visitem a Festa do<br />
Avante!, a JCP lembra que<br />
ela celebra este ano o seu<br />
40.º aniversário e que, com<br />
o novo terreno, será maior e<br />
terá «muitas novidades». Certo é, uma vez<br />
mais, o «mesmo ambiente de fraternidade,<br />
solidariedade e camaradagem», muita<br />
música em mais de 10 palcos, teatro,<br />
cinema, dança, artes plásticas, tradições<br />
e cultura de todo o País e do mundo.<br />
Sobre o comboio, a JCP promete mais<br />
informações para breve. Com novidades.<br />
As reservas podem ser feitas desde já através<br />
do endereço de correio electrónico<br />
geral@jcp.pt.
10 PCP<br />
31-3-2016<br />
Controlo público da banca<br />
Desenvolvimento e soberania<br />
Reconstituir um poderoso sector público financeiro<br />
é, tal como o controlo da moeda e a libertação<br />
do País de outros constrangimentos, condição<br />
essencial para impulsionar o progresso económico<br />
e social num Portugal soberano. Esta a<br />
ideia-mestra confirmada no seminário que o PCP<br />
realizou fez anteontem uma semana.<br />
Sobre a iniciativa em que<br />
falaram economistas, professores<br />
e investigadores, dirigentes<br />
sindicais, associativos<br />
e um ex-gestor<br />
bancário, e dirigentes e deputados<br />
do PCP – tendo a<br />
mesma sido encerrada pelo<br />
Secretário-geral do Partido,<br />
publicou o Avante!, a semana<br />
passada, uma notícia<br />
na qual releva os aspectos<br />
centrais da intervenção feita<br />
na ocasião por Jerónimo<br />
de Sousa. Entre estes estão<br />
o combate à especulação financeira<br />
e à dependência e<br />
controlo externos de um sector<br />
vital, a reserva dos recursos<br />
para o investimento<br />
produtivo e a reorientação<br />
da política de crédito para<br />
as necessidades de desenvolvimento<br />
soberano nacional<br />
e para a elevação das<br />
condições de vida dos trabalhadores<br />
e do povo.<br />
A actualidade do tema na<br />
análise e intervenção dos comunistas<br />
justifica, porém,<br />
que voltemos ao assunto,<br />
abordando elementos aduzidos<br />
por outros oradores. O<br />
objectivo das privatizações<br />
impostas com a política de<br />
direita foi «a recuperação capitalista<br />
e monopolista» em<br />
Portugal, como a «definiu rigorosamente<br />
o PCP», lembrou<br />
Agostinho Lopes, para<br />
quem, nesse sentido, a alienação<br />
da banca e dos seguros<br />
tiveram primazia no<br />
processo de privatizações<br />
conduzido até 1996. Sucessivos<br />
governos PSD e PS<br />
tiveram como propósito,<br />
sob diversos pretextos e elaboradas<br />
concepções, usar a<br />
banca privatizada como instrumento<br />
para que os grupos<br />
económicos reconstituídos<br />
fossem «a base da condução<br />
e desenvolvimento<br />
das privatizações noutros<br />
sectores e áreas», garantindo<br />
mais e novos negócios e<br />
o domínio do capital financeiro<br />
«nas novas empresas<br />
privatizadas».<br />
Pela via da «centralização<br />
e concentração do capital»,<br />
capturaram o poder político,<br />
disse ainda Agostinho Lopes,<br />
para quem, face aos<br />
factos que emergem do processo<br />
histórico, existe legitimidade<br />
e razão para questionar<br />
a privatização do<br />
Persistem<br />
graves perigos<br />
e quem criou<br />
o problema<br />
não é capaz<br />
de os resolver<br />
sector financeiro, porquanto<br />
esta destruiu valor e delapidou<br />
riqueza, foi maná da<br />
arrecadação nem sempre lícita<br />
de fortunas, a contrastar<br />
com o saldo de prejuízos<br />
acumulados a vários títulos<br />
pelo Estado.<br />
Jorge Pires, da Comissão<br />
Política do Partido, salientou,<br />
por seu lado, que desde<br />
a vaga privatizadora iniciada<br />
há 25 anos a banca<br />
tem sido instrumento de<br />
lucro e não do desenvolvimento<br />
do povo e do País.<br />
Acresce o «sentimento de<br />
Situação explosiva<br />
No seminário organizado pelo PCP,<br />
Carlos Carvalhas considerou que «a<br />
crise das dívidas públicas (…) verificou-<br />
-se no essencial na Zona Euro» porque<br />
os estados «ficaram prisioneiros dos<br />
mercados». Ora, neste sentido, os<br />
custos daí resultantes devem «ser<br />
endossados ao BCE e aos países que se<br />
opuseram à [sua] intervenção»,<br />
impedindo os países de se financiarem<br />
junto daquele.<br />
Claro é também, hoje, que não são os<br />
custos com as funções sociais do Estado<br />
e os serviços públicos os responsáveis<br />
pelo endividamento dos estados. Mas<br />
apesar de «estarmos mais<br />
acompanhados [nesta apreciação]», tal<br />
como noutras matérias, «passado o<br />
pânico», «o sistema financeiro mundial<br />
voltou às práticas de sempre»,<br />
lamentou o membro do CC do PCP.<br />
Lembrando que os 28 bancos que<br />
detêm «uma boa parte da dívida dos<br />
estados», detêm, igualmente, «um<br />
poder que não é comparável com<br />
a fraqueza dos estados», Carlos<br />
Carvalhas advertiu que a persistência<br />
de «produtos derivados» e da «”bolha”<br />
das dívidas soberanas» coloca nos<br />
píncaros o potencial explosivo de uma<br />
nova crise, tanto mais que a «solução»<br />
seguida foi a injecção de mais liquidez.<br />
Ilustrativo de que persistem graves<br />
perigos e de que quem criou o<br />
problema não é capaz de o resolver,<br />
é o projecto da chamada União<br />
Bancária, explicou, por sua vez,<br />
o deputado do PCP no Parlamento<br />
Europeu Miguel Viegas.<br />
Na União Bancária, integram-se «os<br />
mecanismos de resolução e supervisão»<br />
e o sistema de garantia. Este último<br />
«marca passo» por ser o único «voltado<br />
para os depositantes», realçou, antes de<br />
criticar o mecanismo de supervisão por<br />
O debate sobre o controlo público da banca promovido pelo PCP confirmou a justiça<br />
da apreciação e propostas do Partido<br />
impunidade» dos «responsáveis<br />
pela actual situação»<br />
em virtude da factura que os<br />
portugueses suportam para<br />
salvar um sector que se demitiu<br />
do «papel de apoio à<br />
economia e às famílias».<br />
retirar capacidade de intervenção<br />
soberana sobre o sistema financeiro aos<br />
estados nacionais, centralizando-a num<br />
BCE que já falhou como supervisor, e<br />
de qualificar o mecanismo de resolução<br />
como «um enorme embuste que visa<br />
apenas disfarçar o propósito de<br />
aprofundar a integração financeira da<br />
UE» e que engana os povos com a falsa<br />
ideia de que não voltarão a pagar<br />
a factura das falências.<br />
Neste quadro, assume pertinência<br />
a formulação feita na iniciativa pelo<br />
deputado do PCP na Assembleia da<br />
República, Miguel Tiago: uma vez que<br />
«a forma como as instituições (...) se<br />
comportam no quadro do sistema<br />
financeiro capitalista determina a sua<br />
própria falência, mais ou menos<br />
acelerada, mas incontornável, a questão<br />
não é se “irá o banco colapsar”, mas<br />
“quando irá o banco colapsar”».<br />
Para Miguel Tiago, «sendo que é o<br />
próprio capitalismo, a sua forma de<br />
funcionar, a necessidade imperiosa<br />
e incontornável de crescimento e<br />
acumulação dos grupos capitalistas,<br />
a causa do funcionamento da banca<br />
como um verdadeiro sorvedouro de<br />
recursos produzidos pelo trabalho,<br />
todas as soluções de regulação e<br />
supervisão, particularmente as que<br />
realizadas por entidades cuja principal<br />
característica é a tão proclamada<br />
“indepedência”, ficarão sempre aquém<br />
do necessário». Por isso, concluiu,<br />
«o controlo público da banca, exigindo<br />
uma variedade de soluções adaptadas<br />
a cada situação e a cada instituição,<br />
e com vista ao controlo público total<br />
do sistema financeiro, é a única forma<br />
que, não menosprezando a importância<br />
do sector financeiro, se nos coloca<br />
como solução para quebrar o ciclo<br />
de acumulação e colapso».<br />
Pontos nos is<br />
«A crise de 2008 veio tornar<br />
mais clara uma situação<br />
que há muito o PCP vinha<br />
denunciando: a financeirização<br />
da economia com a<br />
transferência de avultadas<br />
verbas do sector produtivo<br />
para a especulação financeira,<br />
a utilização do dinheiro<br />
dos depositantes para a cedência<br />
de créditos para as<br />
empresas dos próprios grupos<br />
bancários e aos amigos,<br />
sem qualquer tipo de garantia<br />
de retorno na maioria<br />
dos casos, e a distribuição<br />
de avultadas somas em dividendos<br />
pelos accionistas,<br />
mesmo quando a situação<br />
dos bancos aconselhava<br />
prudência, nomeadamente<br />
o reforço das provisões para<br />
as avultadas imparidades»,<br />
frisou ainda Jorge Pires,<br />
que concluiu: «a experiência<br />
[o mito da robustez da<br />
banca nacional e o da capitalização<br />
desta, que é, afinal,<br />
a capitalização dos mega-<br />
-bancos europeus que a adquirem<br />
expurgada de «toxicidade»]<br />
tem mostrado<br />
que a banca pública é a única<br />
maneira de conservar o<br />
sistema bancário nacional».<br />
Em defesa do sistema de<br />
crédito público, bem como<br />
da moeda soberana, pronunciou-se<br />
igualmente Octávio<br />
Teixeira, que insistiu<br />
que a banca privada se transformou<br />
em «sujas lavandarias<br />
que promovem a evasão<br />
fiscal e o branqueamento de<br />
capitais, e continuam a especular<br />
delapidando a utilidade<br />
social das poupanças<br />
dos cidadãos». O economista<br />
e membro do PCP criticou,<br />
igualmente, a estratégia<br />
do Banco Central Europeu<br />
de «criação de uma rede<br />
de alguns poucos grandes<br />
bancos na Zona Euro», a<br />
qual considerou «desastrosa<br />
para os interesses de Portugal»,<br />
na medida em que reduziria<br />
«ao mínimo os sistemas<br />
bancários de base nacional».<br />
Inversamente, permanece<br />
actual a «necessidade<br />
estrutural da nacionalização<br />
da banca», desde que,<br />
advertiu, a tal corresponda<br />
uma «socialização da banca<br />
pública», isto é, que seja o<br />
accionista Estado a «definir<br />
as orientações estratégicas»».<br />
De entre essas orientações<br />
estratégicas, tem de constar<br />
a valorização dos trabalhadores<br />
do sector, os quais,<br />
«nos últimos anos, com o seu<br />
trabalho, proporcionaram<br />
elevados lucros e encheram<br />
os bolsos dos banqueiros e<br />
accionistas privados».<br />
Em contrapartida, denunciou<br />
Joaquim Batalha,<br />
coordenador do Sindicato<br />
dos Trabalhadores da Actividade<br />
Financeira, para<br />
além da destruição de sete<br />
mil postos de trabalho entre<br />
2010 e 2014, «no plano<br />
da relações de trabalho,<br />
os bancos têm conseguido,<br />
com a cumplicidade da UGT<br />
e dos governos, aumentar a<br />
precariedade e a desregulamentação<br />
no trabalho, diminuir<br />
as remunerações<br />
reais, aumentar as cargas<br />
horárias e destruir direitos<br />
elementares».<br />
CAMARADAS FALECIDOS<br />
Fernando Fernandes Carvalho<br />
Faleceu recentemente o camarada Fernando Fernandes Carvalho.<br />
Encontrava-se organizado em São Julião do Tojal, em<br />
Loures.<br />
Jaime Alberto Maria Oliveira<br />
O camarada Jaime Alberto Maria Oliveira faleceu recentemente.<br />
Estava organizado em Santo Antão do Tojal, em Loures.<br />
Manuel Lopes<br />
O camarada Manuel Lopes, de 86 anos, faleceu no passado<br />
dia 22. Trabalhou no Arsenal do Alfeite e estava organizado na<br />
Freguesia do Feijó, em Almada.<br />
*<br />
Aos familiares e amigos dos comunistas falecidos, o colectivo<br />
do Avante! manifesta sentidas condolências.
3 1 -3 -2 01 6<br />
PCP 1 1<br />
AVEIRO<br />
Arte e transformação<br />
A Biblioteca Municipal de Aveiro<br />
acolheu recentemente um debate do<br />
PCP sobre «Arte: ferramenta de<br />
transformação social», que contou<br />
com as intervenções com Ruben de<br />
Carvalho e Jorge Sarabando e a<br />
moderação do dirigente local do<br />
Partido Filipe Guerra. Perante um<br />
auditório repleto, falou-se das várias<br />
formas de expressão artística e da<br />
sua ligação com a luta dos<br />
trabalhadores e dos povos, deu-se<br />
exemplos de artistas militantes e<br />
abordou-se a indissociável ligação<br />
entre a produção artística e a<br />
liberdade, assim como a relação<br />
dialéctica entre a arte e a<br />
transformação da sociedade. De<br />
entre muitas referências, citou-se o<br />
exemplo de Álvaro Cunhal, também<br />
ele um artista de reconhecido mérito<br />
em várias disciplinas (como a<br />
literatura e a pintura) e autor do<br />
ensaio «A Arte, o Artista e a<br />
Sociedade», em que aborda<br />
precisamente estas matérias,<br />
sublinhando o cariz necessariamente<br />
livre e libertador do acto artístico.<br />
AÇORES<br />
Porto às escuras<br />
Na sequência de uma visita ao porto<br />
do Topo, na ilha de São Jorge, o<br />
deputado do PCP na Assembleia<br />
Legislativa Regional dos Açores,<br />
Aníbal Pires, entregou um<br />
requerimento questionando o<br />
Governo Regional sobre a avaria na<br />
iluminação do porto, que dura há<br />
cerca de dois meses sem que se<br />
saiba ainda quando será reparada. O<br />
eleito comunista lembra que a avaria<br />
de dois dos quatro projectores – que<br />
deixa o porto praticamente às escuras<br />
– segue-se aos danos verificados na<br />
grua, que trouxe «graves dificuldades<br />
à varagem e saída de embarcações e<br />
que só recentemente foi<br />
solucionada». Lembrando que os<br />
habitantes da vila de Topo estão há<br />
anos à espera das obras de<br />
ampliação e beneficiação do seu<br />
porto, «prometidas e reprometidas»<br />
pelas autoridades, o PCP salienta não<br />
haver qualquer justificação para que<br />
não seja assegurado o «mínimo em<br />
termos de conservação da infra-<br />
-estrutura e dos seus equipamentos».<br />
CINFÃES<br />
Direito à saúde<br />
O PCP denuncia, num comunicado<br />
da Comissão Concelhia de Cinfães de<br />
dia 23, que os utentes do Serviço de<br />
Urgência Básica do concelho estão<br />
há um mês privados do aparelho de<br />
radiologia dessa unidade de saúde,<br />
alegadamente por se encontrar<br />
avariado. Esta situação leva a que os<br />
utentes necessitados desse tipo de<br />
exame tenham que ser transportados<br />
para o Hospital de Penafiel, «com<br />
todas as consequências negativas<br />
para os doentes, pela demora no<br />
diagnóstico, pelas viagens, pelos<br />
longos tempos de espera, pelos<br />
incómodos para familiares e amigos<br />
que têm de os acompanhar».<br />
Denunciando toda esta situação, o<br />
PCP quer saber o que efectivamente<br />
se passa com o aparelho e com os<br />
técnicos de radiologia daquela<br />
unidade de saúde. A questão foi já<br />
encaminhada para o Grupo<br />
Parlamentar do PCP.<br />
Octávio<br />
Augusto<br />
Membro<br />
da Comissão<br />
Política<br />
Lutar por direitos<br />
C<br />
hama-se Maria. Enviou-nos um email onde<br />
relatava a situação vivida na fábrica em<br />
que trabalha. Pedia a nossa ajuda.<br />
Respondemos pedindo mais elementos e um contacto<br />
telefónico para que pudéssemos conversar mais em<br />
pormenor. Estabelecido o contacto, combinamos uma<br />
reunião. Disse que trazia mais duas colegas. Vieram três<br />
trabalhadoras.<br />
“<br />
A consciência<br />
de classe a transformar-<br />
-se em consciência<br />
”<br />
política<br />
A empresa foi visitada pelo anterior<br />
ocupante do Palácio de Belém.<br />
Na ocasião foi referenciada como<br />
uma empresa exemplar. As trabalhadoras<br />
– a maioria das muitas centenas<br />
de postos de trabalho são ocupados<br />
por mulheres – ainda pensaram<br />
fazer alguma coisa para, durante<br />
a visita, chamarem a atenção para<br />
os seus problemas ou não<br />
comparecerem no local de trabalho<br />
nesse dia. Não se sentiram seguras<br />
nem apoiadas. Não se fez nem uma<br />
coisa nem outra.<br />
Maria revela-se muito bem preparada,<br />
sabe ao que vem, fundamenta<br />
as suas denúncias com documentação.<br />
Marcámos outra reunião, Maria<br />
informa que vai trazer mais colegas.<br />
Assim foi. Agora são seis, todas mulheres<br />
e jovens. Já estão todas sindicalizadas.<br />
O sindicato vai intervir<br />
junto da administração e da Autoridade<br />
para as Condições de Trabalho.<br />
Elas vão prosseguir a sua acção<br />
de sensibilização junto de outros colegas.<br />
É preciso vencer o medo. Nesta,<br />
como em muitas outras empresas,<br />
os trabalhadores só têm deveres,<br />
os direitos ficam à porta.<br />
Reina o medo, os colegas falam<br />
entre si com cuidado, o esquema é<br />
conhecido. Sistemas de vigilância,<br />
controlo apertado, coacção.<br />
Paira a ameaça de encerramento<br />
da empresa e a sua deslocalização<br />
para Espanha. O rol de ilegalidades<br />
e discriminações é imenso: o Contrato<br />
Colectivo de Trabalho caducou,<br />
por iniciativa da associação patronal,<br />
pois claro. Se antes, com contrato,<br />
já faziam o que queriam, agora<br />
é o regabofe completo!<br />
Não há horários de trabalho afixados,<br />
muitos dos trabalhadores não<br />
têm cópia do contrato que assinaram.<br />
Há trabalhadoras com contrato a<br />
termo incerto há 17 anos! Outras há<br />
10, 12, 15 anos!<br />
As categorias profissionais não batem<br />
com as funções que cada uma<br />
desempenha.<br />
Formação profissional é uma miragem.<br />
Conduz-se empilhadores sem<br />
formação ou com a licença caducada.<br />
Uma máquina avaria, o tempo<br />
em que esteve parada é descontado<br />
nos prémios dos respectivos trabalhadores!<br />
Cortes indevidos nos subsídios de<br />
férias e de Natal e ainda durante o<br />
período pós-parto.<br />
Estás a chegar ao fim do contrato?<br />
Sugerem que te despeças para<br />
seres readmitido passados poucos<br />
dias com outro contrato! E para dar<br />
um ar sério à coisa, mudas de serviço!<br />
Mas esta empresa para além de<br />
exemplar é moderna. Faz regularmente<br />
questionários aos trabalhadores,<br />
para fazer de conta que os leva<br />
em consideração. Dizem para responder<br />
à vontade, que é confidencial<br />
mas, quem os recolhe, escreve<br />
por fora, a lápis, o nome do respectivo<br />
trabalhador!<br />
Se alguém faz um comentário mais<br />
arrojado, a resposta é invariavelmente<br />
a mesma: Podem dar-se por satisfeitas<br />
com as ótimas condições que<br />
aqui têm… lá fora está muita gente<br />
que gostava de estar no vosso lugar…<br />
Um Partido insubstituível<br />
Vem tudo isto a propósito da campanha<br />
oportunamente lançada pelo<br />
nosso Partido sob o lema Mais direitos,<br />
mais futuro, não à precariedade.<br />
É uma evidência que como resultado<br />
da política de direita, toda ela<br />
conduzida ao serviço do capital e<br />
em confronto com os mais elementares<br />
direitos de quem trabalha, a<br />
precariedade transformou-se numa<br />
importante arma do patronato contra<br />
os trabalhadores e os seus direitos,<br />
com os resultados que estão à<br />
vista.<br />
Por aqui se percebe o porquê do<br />
ostensivo e sistemático desrespeito<br />
pela Constituição, o ataque ao movimento<br />
sindical de classe e um tão<br />
grande empenhamento pela consagração<br />
da caducidade da contratação<br />
colectiva.<br />
De um lado, patronato com as costas<br />
quentes, do outro os trabalhadores<br />
impotentes para lhe fazer frente.<br />
Seria um final perfeito para o filme<br />
daqueles que vivem à conta da<br />
exploração de quem trabalha. Mas<br />
a coisa complica-se quando estes se<br />
apercebem das injustiças e transformam<br />
a sua revolta em consciência<br />
de classe. E com essa consciência<br />
se apercebem da importância de se<br />
unirem em torno da sua organização<br />
de classe e de lutarem pelos seus<br />
direitos.<br />
É uma luta por direitos, pela melhoria<br />
das condições de trabalho e<br />
de vida, mas é também uma luta pela<br />
dignidade e pela liberdade.<br />
Na próxima reunião, que já ficou<br />
apalavrada, por certo virão ainda<br />
mais algumas trabalhadoras.<br />
Tomaram consciência da importância<br />
de se organizarem, de se unirem,<br />
de se sindicalizarem…<br />
Não resistiremos a perguntar-lhes,<br />
em particular à Maria, o porquê de<br />
se ter dirigido a nós, ao PCP e não<br />
a outros. Estamos certos de qual será<br />
a resposta: o reconhecimento do<br />
papel, único e insubstituível, deste<br />
Partido na defesa dos direitos dos<br />
trabalhadores. Ou seja, a consciência<br />
de classe a transformar-se em<br />
consciência política.<br />
Maria és bem-vinda, tu e as outras<br />
trabalhadoras!
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA<br />
1 2 31 -3-201 6<br />
Em causa a dignidade e os direitos dos trabalhadores<br />
Combate ao flagelo da precariedade<br />
A precariedade laboral tornou-se um flagelo<br />
social que atinge cerca de um milhão e duzentos<br />
mil trabalhadores, sendo hoje um factor de<br />
tremenda instabilidade e injustiça social.<br />
Apostado em alterar este<br />
quadro está o PCP que,<br />
depois da entrega recente<br />
de diplomas seus visando<br />
esse objectivo, levou o tema<br />
no dia 23 ao plenário<br />
da AR em debate de actualidade.<br />
Dando continuidade à<br />
campanha nacional iniciada<br />
a 18 de Fevereiro –<br />
«Mais Direitos, Mais Futuro<br />
– Não à Precariedade»,<br />
assim se chama a acção em<br />
curso junto dos trabalhadores<br />
nas empresas –, este<br />
debate constitui-se numa<br />
importante achega para<br />
que o Parlamento, em colaboração<br />
com o Governo,<br />
dê os passos necessários<br />
com vista a minorar o problema<br />
e a que sejam criadas<br />
condições de prestação<br />
de trabalho que respeitem<br />
a dignidade dos trabalhadores.<br />
É que falar em precariedade<br />
do trabalho, para<br />
os trabalhadores a ela sujeitos,<br />
como salientou o deputado<br />
comunista António<br />
Filipe na intervenção final,<br />
é falar da «precariedade da<br />
própria vida».<br />
A deputada Rita Rato,<br />
no arranque do debate, fora<br />
mesmo mais longe e<br />
considerou que a precariedade<br />
do emprego é a<br />
«precariedade da família,<br />
da formação, das qualificações<br />
e da experiência profissional,<br />
é a precariedade<br />
do perfil produtivo e da<br />
produtividade do trabalho».<br />
Precariedade que afecta<br />
vários sectores de actividade,<br />
na indústria, no comércio,<br />
nas pequenas e grandes<br />
superfícies comerciais,<br />
os trabalhadores da cultura,<br />
da investigação científica,<br />
os serviços públicos.<br />
Fragilidades<br />
Dupla penalização<br />
Uma das áreas onde se faz sentir de forma mais notória<br />
a precariedade é a do sistema científico e tecnológico<br />
nacional, nomeadamente no que se refere aos bolseiros<br />
de investigação científica.<br />
Trata-se de jovens altamente qualificados que são<br />
submetidos a um regime de precariedade injusto e que<br />
prejudica não só a sua capacidade de produção científica<br />
como a estabilidade das próprias instituições em que<br />
prestam o seu trabalho, como salientou no debate o<br />
deputado comunista Miguel Tiago. Situação esta que é<br />
«duplamente penalizadora» não só porque os afecta<br />
pessoalmente (degrada os seus direitos e a qualidade de<br />
vida, não assegura estabilidade e mantém em suspenso<br />
o seu próprio futuro), como atinge também as instituições<br />
que não sabem muito bem com que corpo de<br />
investigadores podem contar de um ano para o outro.<br />
Contestada pelo parlamentar do PCP foi, por outro lado,<br />
a ideia defendida por sucessivos governos de que a<br />
precariedade no mundo da ciência e da tecnologia é<br />
necessária para que os trabalhadores produzam. «Não<br />
podia ser mais errada», sublinhou Miguel Tiago, convicto<br />
de que tanto as instituições como os trabalhadores apenas<br />
têm a perder com a precariedade.<br />
O que falta, pois, no caso dos bolseiros de investigação<br />
científica, são soluções, que, na perspectiva do PCP,<br />
passam à cabeça pelo fim dessa condição temporária de<br />
bolseiro e sua integração numa carreira. Integração essa<br />
que para aqueles que estão a obter o grau de doutorado<br />
deve ser uma carreira de iniciação à investigação científica<br />
(como o PCP já propôs em diploma). Necessário é também,<br />
noutro plano, incorporar todos aqueles que já são<br />
doutorados na carreira de investigação científica, uma<br />
vez que, como foi dito, esta carreira «não abre há décadas<br />
no País, apesar das necessidades serem gritantes».<br />
A um posto<br />
de trabalho<br />
permanente deve<br />
corresponder<br />
um vínculo de<br />
trabalho efectivo<br />
E no debate não faltaram<br />
os exemplos, pela voz dos<br />
deputados comunistas, de<br />
trabalhadores jovens e menos<br />
jovens cujo vínculo laboral<br />
é precário.<br />
Ficou sobretudo claro<br />
que a fragilidade da relação<br />
laboral, traduzida na<br />
precariedade, é uma «fragilidade<br />
da posição dos trabalhadores<br />
a todos os níveis».<br />
Trata-se de contratos<br />
a termo em desrespeito pela<br />
lei, do uso abusivo de<br />
recibos verdes, de trabalho<br />
encapotado pelo regime<br />
de prestação de serviços,<br />
de bolsas de<br />
investigação ou estágios<br />
profissionais, de trabalho<br />
temporário sem observância<br />
de regras.<br />
«O precário não tem direitos.<br />
É afectado por situações<br />
inaceitáveis de baixos<br />
salários, por horários<br />
alargados e arbitrários (têm<br />
horas para entrar mas não<br />
têm horas para sair), são<br />
praticamente proibidos de<br />
exercer os seus direitos sindicais»,<br />
sumariou António<br />
Filipe, expondo no fundo<br />
as razões que estão na base<br />
da exigência de mudança<br />
da situação presente.<br />
Deste debate resultou<br />
igualmente claro que a precariedade<br />
não é uma inevitabilidade.<br />
«Não caiu do<br />
céu», observou Rita Rato,<br />
lembrando que a precariedade<br />
é fruto de sucessivas<br />
alterações à legislação<br />
laboral que a generalizaram,<br />
tal como degradaram<br />
as condições de trabalho e<br />
liquidaram direitos laborais<br />
e sociais.<br />
Mas a precariedade é<br />
também «uma opção do patronato,<br />
uma medida de<br />
acentuação da exploração<br />
dos trabalhadores», acrescentou<br />
António Filipe, convicto<br />
de que as empresas<br />
impõem a precariedade aos<br />
trabalhadores para «aumentarem<br />
o lucro dos seus accionistas».<br />
Maus exemplos<br />
Praga atinge a Cultura<br />
Universo que também não escapa à<br />
precariedade é o da Cultura. Aqui, o<br />
fenómeno assume proporções tais que se<br />
transformou numa praga que espolia os<br />
trabalhadores do «seu presente, do seu<br />
direito ao trabalho, do seu direito a<br />
constituir família, do seu direito à<br />
estabilidade», roubando-lhes um «futuro<br />
digno», como salientou no debate a<br />
deputada comunista Ana Mesquita. São<br />
actores, actrizes, técnicos, artistas plásticos,<br />
trabalhadores de arqueologia, enumerou,<br />
lembrando quantos deles têm hoje<br />
«reformas miseráveis» não obstante a vida<br />
inteira de trabalho e dedicação à Cultura.<br />
Um quadro que em nada difere, afinal,<br />
daquele que caracteriza a vida dos<br />
restantes trabalhadores que enfrentam o<br />
mesmo problema.<br />
Trazidos para primeiro plano foram ainda<br />
os mais recentes casos de denúncia de<br />
A precariedade laboral é sinónimo de insegurança, baixos salários e limitação de direitos<br />
fundamentais<br />
Ponto muito sublinhado<br />
pela bancada comunista foi<br />
ainda o de que o Estado<br />
não pode dar maus exemplos.<br />
«Não pode ser o maior<br />
patrão a prazo existente no<br />
nosso País, não pode dar<br />
o mau exemplo que tem<br />
dado de substituir emprego<br />
tão necessário nos serviços<br />
públicos por programas<br />
precários em que os<br />
trabalhadores são miseravelmente<br />
remunerados, não<br />
são reconhecidos enquanto<br />
trabalhadores de pleno<br />
direito, e, no final desses<br />
programas, são lançados<br />
mais uma vez para uma situação<br />
de desemprego, sendo<br />
substituídos por outras<br />
pessoas na mesma situação»,<br />
enfatizou António Filipe.<br />
Eliminar a substituição<br />
de empregos necessários<br />
nos serviços públicos pelas<br />
chamadas medidas activas<br />
de emprego – «uma enorme<br />
indignidade», como foi<br />
classificada pela bancada<br />
comunista –, é assim uma<br />
exigência.<br />
Foi sobretudo realçado<br />
o dever indeclinável do Estado<br />
de «garantir a legalidade<br />
das relações de trabalho»,<br />
bem como de dar<br />
não só o exemplo no público<br />
como de fiscalizar rigorosamente<br />
o cumprimento<br />
da legislação laboral no que<br />
se refere ao sector privado,<br />
para além de garantir<br />
falsos recibos verdes em diversas estruturas<br />
e salas de espectáculos. Instituições onde<br />
a oferta de trabalho é acompanhada de<br />
uma descrição pormenorizada das funções<br />
a desempenhar – local, remuneração e<br />
até fardamento – mas a contratação é sob<br />
o regime de prestação de serviços. Ana<br />
Mesquita, dando exemplos, referiu-se<br />
concretamente ao CCB, ao Teatro Nacional<br />
de São João, Teatro Nacional de S. Carlos,<br />
Teatro Camões e a Serralves.<br />
Exemplo flagrante é ainda o dos<br />
arqueólogos. Não obstante serem tantas<br />
e tantas vezes sujeitos a horários e a local<br />
de trabalho fixos, prestando serviço anos<br />
a fio para as mesmas empresas, muitos<br />
estão condenados ao trabalho a recibo<br />
verde. E por causa disso, observou a<br />
deputada do PCP, «quantos não tiveram<br />
de abandonar a profissão e emigrar,<br />
deixando o País mais pobre e mais vazio».<br />
a efectividade dos direitos<br />
constitucionais e legais de<br />
todos os trabalhadores.<br />
Papel da ACT<br />
A bancada comunista<br />
chamou igualmente a atenção<br />
para a necessidade de<br />
encetar com urgência um<br />
combate implacável aos falsos<br />
recibos verdes, às situações<br />
em que o trabalho<br />
subordinado é encapotado<br />
e em que os trabalhadores<br />
são obrigados a inscrever-<br />
-se como empresários em<br />
nome individual.<br />
Como é igualmente indispensável<br />
que a verificação<br />
dos elementos definidores<br />
do contrato de trabalho<br />
seja prova suficiente<br />
da existência desse contrato<br />
de trabalho e que as situações<br />
de falsos recibos<br />
verdes sejam automaticamente<br />
convertidas e reconhecidas<br />
como contratos<br />
de trabalho com todos os<br />
direitos inerentes.<br />
Também neste plano, como<br />
foi salientado, a Autoridade<br />
para as Condições<br />
de Trabalho (ACT) assume<br />
um papel decisivo. Daí a<br />
exigência de que esta entidade<br />
possa ver reforçados<br />
os seus meios humanos e<br />
repensadas as suas competências<br />
e efectividade das<br />
suas decisões, por forma a<br />
que possam ser dissuasoras.<br />
A reter das posições assumidas<br />
no debate pela bancada<br />
comunista fica ainda<br />
a sua defesa da limitação<br />
da admissibilidade da contratação<br />
a termo, a conversão<br />
de contratos a termo<br />
em contratos permanentes<br />
e a adopção de mecanismos<br />
sancionatórios suficientemente<br />
dissuasores do<br />
recurso à precariedade laboral.
31 -3-201 6<br />
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 1 3<br />
Propostas do PCP<br />
Das iniciativas legislativas do PCP de combate à<br />
precariedade que aguardam por agendamento na AR<br />
fazem parte propostas, de que se destaca as seguintes:<br />
– Transformar a presunção de contrato de trabalho<br />
em prova efectiva da existência de contrato de trabalho;<br />
– Reduzir as situações em que é possível recorrer à<br />
contratação a termo; revogar os contratos especiais<br />
de muito curta duração;<br />
– Reduzir a duração do contrato a termo certo para<br />
o máximo de três anos;<br />
– Impedir o recurso a medidas públicas activas de<br />
emprego, para responder a necessidades permanentes<br />
dos serviços públicos, empresas e outras entidades;<br />
– Estabelecer sanções económicas, fiscais e<br />
contributivas para as entidades patronais que recorram<br />
a formas de contratação precária;<br />
– Adoptar um Plano Nacional de Combate à<br />
Precariedade Laboral;<br />
– Reforçar os meios e competências da ACT.<br />
As más soluções do PSD<br />
Do debate resultou claro que o PSD não tem nenhuma<br />
proposta ou solução para o problema da precariedade<br />
laboral que não seja a prossecução da mesma política<br />
que conduziu à situação actual.<br />
Isso mesmo ficou patente na intervenção do deputado<br />
Pedro Roque, que a toda a espécie de argumentos<br />
recorreu para justificar a precariedade laboral, desde<br />
questões internacionais à economia global, passando<br />
pela União Europeia, pela evolução da nossa economia<br />
ou pela execução orçamental. O que levou António<br />
Filipe, interpelando o deputado laranja, a concluir<br />
que o PSD «não tem mais nada a oferecer que não<br />
seja as más soluções, as más provas dadas da sua<br />
governação».<br />
O futuro suspenso<br />
O recurso ao trabalho temporário e aos recibos verdes<br />
– aos falsos recibos verdes – para assegurar<br />
necessidades permanentes é uma das faces visíveis<br />
dessa chaga que é a precariedade laboral.<br />
A dura realidade de quem – e são centenas de<br />
milhares de trabalhadores – está sujeito a um contrato<br />
de seis meses, de três meses ou até mesmo contratos<br />
de uma semana, vivendo a permanente incerteza de<br />
não saber se o mesmo é renovado, de qual a data do<br />
último salário que levará para casa.<br />
A deputada comunista Diana Ferreira deu o exemplo<br />
concreto do trabalhador de uma multinacional da<br />
indústria alimentar que, contratado por uma empresa<br />
de trabalho temporário e não pela empresa onde<br />
trabalha, «vê os seus contratos renovados até ao limite<br />
para depois ser "mandado" para casa "por uns<br />
tempos", para depois voltar a ser contratado pela<br />
mesma empresa de trabalho temporário, para o mesmo<br />
posto e trabalho, para as mesmas funções que<br />
desempenhava anteriormente».<br />
Recurso a empresas intermediárias – «autênticas<br />
fábricas de exploração», acusou – que é prática<br />
corrente em vários sectores, como o da energia, da<br />
grande distribuição, das telecomunicações, atingindo<br />
inclusive o próprio sector público.<br />
E a este propósito não podem deixar de ser registadas<br />
as palavras sobre esta matéria do ministro do Trabalho,<br />
Solidariedade e Segurança Social e a intenção por si<br />
declarada de proceder a um reforço da ACT, através,<br />
nomeadamente, numa primeira fase, de um concurso<br />
para a colocação de 83 novos inspectores. «Esta é<br />
uma diferença. Este é um caminho distinto daquele<br />
que foi seguido ao longo de vários anos de efectiva<br />
desvalorização da ACT», sublinhou, numa crítica ao<br />
anterior executivo do PSD/CDS.<br />
O que se espera é que as preocupações de Vieira da<br />
Silva tenham tradução em medidas concretas, de<br />
modo a combater a «inaceitável proliferação da<br />
precariedade», foram os votos de Diana Ferreira.<br />
Valorização das longas carreiras contributivas<br />
Um imperativo de justiça<br />
democracia<br />
Mesmo que a carreira contributiva tenha sido<br />
de 40 anos de descontos para a Segurança Social<br />
um desfecho é inevitável para quem pretenda<br />
reformar-se antes dos 65 anos: sofrer<br />
uma pesada redução no valor das suas pensões<br />
É inaceitável<br />
regressar ao<br />
tempo em que se<br />
era obrigado a<br />
trabalhar até ao<br />
limite das forças<br />
.<br />
Actualmente é assim e,<br />
porque se trata de uma situação<br />
manifestamente injusta,<br />
o Grupo Parlamentar<br />
do PCP quis vê-la<br />
alterada. E nesse exacto<br />
sentido apontava o projecto<br />
de lei da sua autoria que<br />
esteve em debate na semana<br />
transacta, iniciativa que<br />
acabou por ser inviabilizada<br />
pelos votos contra do<br />
PSD, CDS e PS.<br />
Com este chumbo da<br />
proposta do PCP que visava<br />
garantir o acesso à reforma<br />
sem penalizações ou<br />
reduções a quem tenha 40<br />
anos de descontos para a<br />
Segurança Social impedida<br />
foi assim a correcção<br />
dessa enorme iniquidade<br />
que é uma pessoa ter uma<br />
longa carreira contributiva<br />
iniciada aos 14, 15, 16<br />
anos – e são milhares os<br />
trabalhadores nestas condições,<br />
muitos deles em<br />
sectores particularmente<br />
desgastantes –, e estar inibida<br />
de se reformar porque<br />
sujeita a brutais penalizações.<br />
A deputada comunista<br />
Rita Rato deu o exemplo<br />
concreto de uma trabalhadora<br />
têxtil que tenha iniciado<br />
a sua vida activa e a<br />
sua contribuição para a Segurança<br />
Social aos 16 anos.<br />
Hoje, depois de 40 anos<br />
de contribuições (e com 56<br />
anos), pode aceder ao regime<br />
de flexibilização uma<br />
vez que tem mais do que<br />
55 anos de idade e 30 de<br />
contribuições.<br />
O que acontece, porém,<br />
é que com a aplicação do<br />
factor de redução há um<br />
«corte de 36 por cento no<br />
valor da pensão desta trabalhadora,<br />
já de si muito<br />
baixa, pois foi construída<br />
com base em descontos sobre<br />
o salário mínimo nacional»,<br />
explicou Rita Rato.<br />
E por este exemplo se<br />
pode ver o alcance e a justeza<br />
da medida preconizada<br />
pelo PCP no seu projecto<br />
de lei e que, basicamente,<br />
visava garantir o<br />
acesso à reforma sem penalizações<br />
ou reduções, independentemente<br />
da idade,<br />
aos trabalhadores com<br />
um mínimo de 40 anos de<br />
carreira contributiva.<br />
Uma medida absolutamente<br />
justa não só pelo respeito<br />
que é devido a estes<br />
trabalhadores que tanto deram<br />
já ao País, como pela<br />
AR aprova voto do PCP<br />
Solidariedade com os presos<br />
políticos saaráuis<br />
Há milhares de trabalhadores que apesar de terem<br />
mais de 40 anos de descontos estão inibidos de se reformar<br />
porque sofrem uma pesada penalização<br />
razão simples de que, como<br />
foi sublinhado, é inaceitável<br />
«regressar ao tempo<br />
em que as pessoas eram<br />
obrigadas a trabalhar até<br />
ao limite das suas vidas e<br />
das suas forças».<br />
Juntamente com o diploma<br />
do PCP esteve em debate<br />
uma petição dinamizada<br />
pela CGTP-IN em<br />
2013, subscrita por mais<br />
de 60 mil cidadãos, insurgindo-se<br />
«contra o roubo<br />
nas pensões e o aumenta<br />
da idade de reforma», na<br />
altura em que o anterior<br />
governo PSD/CDS desferiu<br />
um profundo ataque aos<br />
direitos e à dignidade dos<br />
reformados e pensionistas.<br />
A Assembleia da República aprovou dia 23 um voto<br />
do PCP de solidariedade para com os presos políticos<br />
saaráuis detidos em Marrocos e em greve de fome.<br />
Os dois pontos do voto foram votados em separado, o<br />
primeiro dos quais – onde se apela às autoridades marroquinas<br />
para que libertem os presos políticos saaráuis<br />
– recolheu os votos favoráveis de PS, PCP, PEV, BE e<br />
PAN, contra do PSD e a abstenção do CDS.<br />
No segundo ponto, onde a AR «manifesta o seu apoio<br />
aos esforços para alcançar uma solução justa para o<br />
Saara Ocidental, que passará necessariamente pela efectivação<br />
do direito à autodeterminação do povo saaráui,<br />
de acordo e no respeito das deliberações pertinentes da<br />
ONU, dos princípios da sua Carta e do direito internacional»,<br />
votaram favoravelmente as mesmas bancadas<br />
que haviam aprovado já o ponto anterior, optando PSD<br />
e CDS pelo voto contra.<br />
No texto recorda-se que os 13 presos políticos saaráuis<br />
foram detidos pelas autoridades marroquinas em 2010,<br />
aquando do violento desmantelamento por estas levado<br />
a efeito do «acampamento de protesto de Gdeim Izik<br />
realizado por milhares de saaráuis em defesa dos seus<br />
direitos, incluindo o direito à autodeterminação do povo<br />
saaráui».<br />
Sentenciados com penas de 20 anos de prisão a prisão<br />
perpétua por um tribunal militar, num julgamento<br />
que diversas entidades consideram ferido de ilegalidade<br />
e nulo – denunciado é o «ambiente de coação» que<br />
rodeou a sua realização, «violação de procedimentos, ausência<br />
de apresentação de provas e o facto de se tratar<br />
de uma condenação de civis ditada por um tribunal militar»,<br />
lê-se no voto –, é depois de cinco anos de cativeiro,<br />
e face à «contínua negação dos seus direitos», que<br />
13 dos presos políticos detidos em Gdeim Izik decidem<br />
iniciar a greve de fome exigindo justiça e a sua liberdade<br />
Ȯ voto lembra também que o Secretário-geral da ONU,<br />
em recente visita aos acampamentos de refugiados saaráuis,<br />
sublinhou a necessidade de uma solução política<br />
para o conflito no Saara Ocidental.<br />
Valorizada no texto apresentado pela bancada do PCP<br />
é, por outro lado, a persistente e firme luta protagonizada<br />
desde há quatro décadas pelo povo saaráui «contra a<br />
ilegal ocupação do seu território e pelo respeito e concretização<br />
do seu direito à autodeterminação», objectivo<br />
reconhecido pelas Nações Unidas, que há cerca de 25<br />
anos estabeleceu a Missão das Nações Unidas para o Referendo<br />
no Saara Ocidental.<br />
Por fim, nos seus considerandos, o voto não deixa de<br />
salientar que nos termos da Constituição da República,<br />
«Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação<br />
e independência e ao desenvolvimento, bem como<br />
o direito à insurreição contra todas as formas de<br />
opressão».
14 TRABALHADORES<br />
31-3-2016<br />
Enfermeiros<br />
Um abaixo-assinado<br />
contra a contratação com<br />
vínculos precários no<br />
Centro Hospitalar Lisboa<br />
Central foi posto a circular<br />
pelo Sindicato dos<br />
Enfermeiros Portugueses.<br />
No documento, recorda-se<br />
que a carência de<br />
enfermeiros no CHLC<br />
«há muito é denunciada e<br />
combatida», destacando-se<br />
a greve de 26 de Agosto<br />
de 2014, pela admissão<br />
de mais profissionais e por<br />
horários dignos. A falta de<br />
pessoal de Enfermagem<br />
«provocou a redução do<br />
número de enfermeiros<br />
por turno, a realização<br />
de trabalho extraordinário<br />
programado, centenas<br />
de feriados não gozados,<br />
redução de folgas, o<br />
aumento de ritmos de<br />
trabalho, aumento do<br />
absentismo associado<br />
a acidentes de trabalho,<br />
“burnout”». Perante uma<br />
necessidade permanente,<br />
os postos de trabalho<br />
devem ser ocupados por<br />
enfermeiros com vínculos<br />
efectivos. Reivindica-se<br />
que acabem os contratos<br />
a prazo e que se tornem<br />
efectivos os actuais<br />
vínculos precários.<br />
Sem direito<br />
No mesmo CHLC,<br />
o SEP/CGTP-IN exigiu<br />
anteontem a clarificação<br />
de uma medida de<br />
limitação do direito<br />
à parentalidade. Desde<br />
finais do ano passado,<br />
tem sido usada uma nota<br />
informativa dirigida<br />
às chefias, para negar<br />
o horário flexível a<br />
enfermeiros com filhos até<br />
12 anos de idade. A nota<br />
«não circula livremente<br />
pelos serviços, sendo<br />
apresentada aos visados e<br />
posteriormente recolhida»,<br />
e nela alega-se que o<br />
exercício desse direito<br />
agrava o défice de<br />
funcionamento à tarde, à<br />
noite e ao fim-de-semana.<br />
Alguns enfermeiros,<br />
«sentindo-se pressionados,<br />
acabaram por “aceitar”<br />
o retorno ao horário de<br />
turnos», protestou a<br />
direcção regional de<br />
Lisboa do SEP, que voltou<br />
a defender a contratação<br />
de pessoal.<br />
Sem plano<br />
O pagamento<br />
fraccionado da dívida<br />
aos enfermeiros por horas<br />
de «qualidade» começou<br />
a ser feito pela<br />
administração do CH<br />
Lisboa Ocidental, mas sem<br />
o plano de pagamentos<br />
que esta se comprometeu<br />
há dois anos a apresentar<br />
e que o SEP exige discutir,<br />
para atenuar a penalização<br />
em IRS.<br />
Hoje à tarde, em Lisboa, por emprego com direitos<br />
Juventude sai em luta<br />
Promovida pela CGTP-IN e pela Interjovem, sua<br />
organização autónoma, tem hoje lugar uma manifestação<br />
nacional da juventude trabalhadora, da<br />
Praça Luís de Camões para a Assembleia da República.<br />
A Juventude Comunista<br />
Portuguesa apelou à participação<br />
dos jovens trabalhadores<br />
nesta manifestação,<br />
«exigindo um combate firme<br />
à precariedade, estabilidade<br />
no emprego e aumentos salariais,<br />
condições que permitam<br />
aos jovens construir o<br />
seu futuro no nosso País».<br />
Numa nota divulgada pela<br />
JCP, considera-se que «é<br />
fundamental que nos dias<br />
de hoje a juventude dê continuidade<br />
à luta pelos seus direitos,<br />
seja na escola, seja no<br />
trabalho, exigindo uma vida<br />
digna e pela defesa tudo o<br />
que conquistámos com a Revolução<br />
de Abril».<br />
A propósito da manifestação<br />
comemorar o Dia Nacional<br />
da Juventude, a JCP recorda<br />
que 28 de Março de<br />
1947 foi «um dia representativo<br />
daquela que foi a luta<br />
da juventude contra o fascismo,<br />
pela liberdade, pela paz<br />
e por uma vida melhor». Naquele<br />
dia estavam «milhares<br />
de jovens a participar nos<br />
acampamentos organizados<br />
pelo MUD Juvenil, em Bela<br />
Mandil (Olhão) e em São<br />
Pedro de Moel (Marinha<br />
Grande), aos quais o regime<br />
Uma delegação da CGTP-<br />
-IN, constituída pelo Secretário-geral,<br />
Arménio Carlos,<br />
e por Ana Avoila, Ana<br />
Pires, Deolinda Machado e<br />
Fernando Gomes, membros<br />
da Comissão Executiva do<br />
Conselho Nacional, reuniu-se<br />
na segunda-feira, dia 28, no<br />
centro de trabalho do PCP na<br />
Rua Soeiro Pereira Gomes,<br />
por uma delegação do Partido,<br />
que integrou Jerónimo de<br />
Sousa, Secretário-geral, Francisco<br />
Lopes, Jorge Pires, Patrícia<br />
Machado e Paulo Raimundo,<br />
membros da Comissão<br />
Política do Comité Central.<br />
O encontro foi solicitado<br />
pela Intersindical Nacional,<br />
com o objectivo de apresentar<br />
as conclusões do seu<br />
XIII Congresso e as grandes<br />
linhas da intervenção sindical<br />
ali definidas para os próximos<br />
anos.<br />
Em declarações aos jornalistas,<br />
no final da reunião,<br />
Jerónimo de Sousa realçou<br />
que «há um sentimento de esperança,<br />
que a CGTP-IN assumiu<br />
no seu Congresso, demonstrando<br />
que vale a pena<br />
A juventude<br />
não vergou<br />
à repressão<br />
imposta<br />
pelo fascismo<br />
fascista respondeu com violência».<br />
A data «simboliza a<br />
luta da juventude pela defesa<br />
dos seus direitos» e é «um<br />
dia de luta pelo presente e<br />
pelo futuro».<br />
«Abrir caminho para o futuro»<br />
foi o motivo destacado<br />
pela Interjovem para comparecer<br />
hoje, às 14h30, na<br />
Praça Luís de Camões, «porque<br />
temos direito à habitação,<br />
à saúde e à cultura», «temos<br />
direito a ter um País que produz<br />
e se desenvolve industrialmente,<br />
que aproveita os<br />
recursos naturais para a pesca<br />
e a agricultura, que não<br />
está dependente e subjugado<br />
aos interesses externos». E<br />
também «porque temos direito<br />
a trabalhar e viver em<br />
Portugal, a construir uma<br />
vida no nosso País, com salários<br />
dignos, com estabilidade,<br />
com valorização do<br />
Encontro da CGTP-IN com o PCP<br />
O combate à precariedade de emprego foi um dos temas em discussão na reunião<br />
lutar, vale a pena persistir»,<br />
depois de, particularmente<br />
nos últimos quatro anos, os<br />
trabalhadores portugueses<br />
terem sido «flagelados por<br />
uma política injusta de empobrecimento<br />
e exploração».<br />
«A nova solução política e os<br />
conteúdos do Orçamento do<br />
Estado e de algumas medidas<br />
de valorização do trabalho do<br />
trabalho e dos trabalhadores<br />
constituem um sinal de esperança<br />
para milhões de<br />
trabalho e dos trabalhadores»,<br />
como se afirma numa<br />
nota que foi divulgada no dia<br />
28.<br />
Evocando os acontecimento<br />
de 1947, a Interjovem/<br />
/CGTP-IN realçou que o dia<br />
28 de Março ficou «associado<br />
à luta da juventude, mesmo<br />
nas piores condições de<br />
repressão, por uma vida melhor<br />
dentro do nosso País».<br />
Foi a luta daqueles jovens e<br />
do povo que «levou, após<br />
anos de resistência, à Revolução<br />
de Abril e às conquistas<br />
que ela nos trouxe» e que<br />
são «demasiado valiosas para<br />
serem esquecidas». O 25 de<br />
portugueses que lutaram muito<br />
e resistiram a uma ofensiva<br />
tremenda», assinalou o Secretário-geral<br />
do PCP.<br />
Arménio Carlos reafirmou<br />
que a confederação pugna<br />
por «medidas imediatas para<br />
pôr fim à precariedade»,<br />
que «não pode ser a regra»<br />
nos vínculos laborais, e<br />
também à política de baixos<br />
salários a que ela está associada<br />
e que gera pobreza. O<br />
Secretário-geral da CGTP-IN<br />
É um dia de luta<br />
pelo presente<br />
e pelo futuro<br />
Abril «consagrou o direito à<br />
liberdade e libertou o povo e<br />
a juventude das amarras da<br />
repressão policial e da censura»,<br />
«mas foi mais longe, ao<br />
garantir o direito à greve, à<br />
habitação, à saúde, à cultura<br />
e à livre manifestação» e ao<br />
erguer «pilares fundamentais<br />
da nossa economia»,<br />
como a nacionalização de<br />
sectores estratégicos e a reforma<br />
agrária, e ao assegurar<br />
o salário mínimo nacional e<br />
proclamar o direito ao trabalho<br />
e ao trabalho com direitos,<br />
impondo a estabilidade<br />
de emprego como regra,<br />
referiu a Interjovem.<br />
defendeu que «é preciso responder<br />
aos problemas», pois<br />
a precariedade «já não se limita<br />
aos contratos a prazo» e<br />
«atingiu níveis preocupantíssimos<br />
relativamente a outro<br />
tipo de relações de trabalho».<br />
São necessárias medidas<br />
«que ponham termo a esta<br />
desregulação permanente»,<br />
salientou, lembrando que a<br />
precariedade é também «a<br />
antecâmara do desemprego».<br />
Professores<br />
Têm vínculos precários<br />
mais de 53 mil docentes,<br />
muitos deles em flagrante<br />
situação ilegal, denunciou<br />
a Fenprof, em conferência<br />
de imprensa, dia 28.<br />
A federação salientou que<br />
este problema grave<br />
«afecta docentes, escolas<br />
e qualidade do ensino»<br />
e para ele «urge um<br />
combate decidido»,<br />
citando «a fórmula que<br />
consta da lista de medidas<br />
acordadas entre o partido<br />
do Governo e os que<br />
viabilizaram a actual<br />
solução governativa».<br />
Depois de recordar<br />
«a situação gravíssima que<br />
se vive na Educação, após<br />
quatro anos de destruição<br />
de postos de trabalho e de<br />
direitos laborais e sociais»,<br />
a Fenprof encarou «com<br />
satisfação a inscrição<br />
daquela prioridade no<br />
programa do Governo, não<br />
tendo sido alheio a esse<br />
facto a posição assumida<br />
pelos partidos que lhe dão<br />
apoio parlamentar, como<br />
se confirmou pelas<br />
posições conjuntas que<br />
divulgaram». A federação<br />
decidiu realizar um<br />
levantamento das situações<br />
de precariedade que<br />
afectam os docentes,<br />
e divulgar os dados que<br />
obtiver, para<br />
«consciencializar a opinião<br />
pública para a gravidade<br />
do problema e a<br />
necessidade de ser<br />
resolvido». A Fenprof, que<br />
apelou à participação na<br />
manifestação de hoje,<br />
divulgou dez propostas<br />
concretas, dirigidas ao<br />
governo, grupos<br />
parlamentares, autarquias<br />
e entidades empregadoras<br />
privadas, propondo-se<br />
estabelecer calendários<br />
com vista à sua<br />
negociação.<br />
Artistas<br />
O fim dos recibos<br />
verdes e a sua conversão<br />
em contratos de trabalho,<br />
no âmbito de uma acção<br />
geral de combate à<br />
precariedade, destaca-se<br />
nas medidas defendidas<br />
pelos sindicatos<br />
representativos dos<br />
trabalhadores das áreas<br />
do espectáculo e do<br />
audiovisual, que<br />
divulgaram, no dia 14,<br />
um documento conjunto,<br />
ao qual expressaram<br />
apoio, sob a forma de<br />
abaixo-assinado, cerca de<br />
mil pessoas, entre as quais<br />
diversas personalidades.<br />
É defendida pelos<br />
sindicatos, STE e CENA,<br />
a criação de um regime de<br />
contratação destes<br />
profissionais, que os<br />
enquadre na lei geral do<br />
Trabalho, para criar<br />
estabilidade profissional<br />
e pessoal.
31-3-2016 EM FOCO 15<br />
40 anos da Constituição de Abril<br />
Mais actual<br />
do que nunca<br />
Conquista<br />
de valor<br />
supremo<br />
«As forças reaccionárias<br />
fizeram tudo, sobretudo<br />
nos últimos tempos, para<br />
impedir a aprovação e a<br />
promulgação da<br />
Constituição actual. Porque<br />
viram que a Constituição,<br />
no fim de contas, não<br />
correspondia àquilo que<br />
elas queriam que fosse,<br />
mas, pelo contrário,<br />
consagrou as liberdades e<br />
as conquistas<br />
fundamentais da<br />
Revolução. Consideramos<br />
por isso que é legítimo<br />
considerar a Constituição<br />
agora aprovada e<br />
promulgada como uma<br />
conquista das forças<br />
revolucionárias<br />
portuguesas, do nosso<br />
povo, dos militares de Abril.<br />
(...)<br />
Hoje é um dia importante:<br />
foi aprovada a Constituição<br />
da República Portuguesa.<br />
É uma data que será uma<br />
data histórica porque esta<br />
Constituição é um<br />
instrumento valioso para a<br />
defesa da nossa<br />
democracia».<br />
(Álvaro Cunhal no comício do<br />
PCP realizado em Odivelas no<br />
dia 2 de Abril de 1976, data em<br />
que a Assembleia Constituinte<br />
aprovou a Constituição)<br />
Quarenta anos nos separam da<br />
aprovação em 2 de Abril de<br />
1976 da Constituição da<br />
República Portuguesa, esse<br />
momento marcante – e<br />
seguramente um dos seus pilares<br />
fundadores – do nosso regime<br />
democrático.<br />
Bastaria isso para justificar um<br />
suplemento como é este que o<br />
Avante! dedica à nossa Lei<br />
Fundamental.<br />
A Constituição acolheu e consagrou<br />
as aspirações, a participação,<br />
intervenção e conquistas dos<br />
trabalhadores, tudo o que de<br />
melhor e fundamental foi<br />
conquistado pelo povo português<br />
na gesta libertadora que foi a<br />
Revolução democrática do 25 de<br />
Abril, esse processo em que as<br />
massas populares intervieram com a<br />
sua força criadora lado a lado com<br />
os gloriosos capitães de Abril.<br />
Como texto «democrático e<br />
avançado» que é – assim o define o<br />
PCP desde a primeira hora –,<br />
também por isso sobre ele recaíram<br />
os mais violentos ataques de quem<br />
nunca suportou o irromper da<br />
liberdade, nunca se conformou com<br />
as parcelas de domínio perdido,<br />
nunca perdoou as conquistas e<br />
avanços revolucionários.<br />
E foi assim que em sucessivas<br />
vagas, pela mão do PSD e do CDS,<br />
com a cobertura quando não<br />
empenhamento do PS, procuraram<br />
em sete revisões constitucionais<br />
empobrecê-la, mutilá-la, esvaziar-<br />
-lhe o seu conteúdo emancipador<br />
em todas as esferas da vida. Travar<br />
o seu sentido transformador na<br />
direcção de uma sociedade de<br />
progresso, mais livre e justa, foi<br />
sempre, afinal, o grande objectivo<br />
que animou os percursores dos<br />
processo de revisão constitucional.<br />
E no entanto, apesar dos golpes<br />
sofridos, de vilipendiada, da<br />
desfiguração de que foi alvo, a<br />
Constituição resistiu e continua a<br />
ser portadora de um projecto de<br />
democracia que «coloca, como<br />
indissociáveis, as suas vertentes<br />
política, económica, social e<br />
cultural, aliadas à defesa da<br />
soberania e independência<br />
nacionais», como sublinhou o<br />
Secretário-geral do PCP, Jerónimo<br />
de Sousa, na entrevista que<br />
concedeu ao Avante! por ocasião do<br />
30.º aniversário da Constituição.<br />
É essa matriz consagradora de um<br />
regime de amplas liberdade e<br />
Dia memorável<br />
direitos – que perdura intacta e é<br />
capaz de resistir à erosão do tempo<br />
– que faz da Constituição um texto<br />
avançadíssimo e, porventura, mais<br />
actual do que nunca. Porque,<br />
enquanto referente de valores e<br />
princípios, transporta em si a força<br />
inspiradora de um projecto<br />
galvanizante como é a construção<br />
de um Portugal livre e democrático,<br />
de progresso e justiça social.<br />
Não foi só a aprovação da Constituição pelos deputados constituintes que fez da sessão de<br />
2 de Abril de 1976 uma data e um momento históricos. Para lá da atmosfera em que os<br />
trabalhos decorreram – por duas vezes os constituintes cantaram o hino nacional e não<br />
faltaram os vivas à II República –, a conferir ao acontecimento um carácter ainda mais<br />
excepcional esteve a própria promulgação, nesse mesmo dia, à noite – em S. Bento e não<br />
em Belém –, da Lei Fundamental pelo Presidente da República.<br />
«Foi uma decisão da mais alta importância com a qual o Presidente Costa Gomes prestou<br />
um notável serviço à democracia e ao País», viria a sublinhar Álvaro Cunhal na sua obra<br />
«A Revolução Portuguesa, o passado e o futuro».<br />
Essa promulgação, num acto<br />
contínuo à aprovação do texto<br />
constitucional, funcionou como<br />
medida preventiva face ao clima de<br />
conspiração, intriga e agitação<br />
antidemocrática das forças<br />
reaccionárias, que, vendo gorada a<br />
sua tentativa de instrumentalizar a<br />
Constituição e de a pôr ao serviço<br />
da contra-revolução, passaram a<br />
fazer tudo para a denegrir, exigindo,<br />
inclusivamente, que fosse submetida<br />
a referendo.
16 31-3-2016<br />
Força inspiradora<br />
Constituição<br />
da República<br />
Prêambulo<br />
A 25 de Abril de 1974, o<br />
Movimento das Forças Armadas,<br />
coroando a longa resistência do<br />
povo português e interpretando<br />
os seus sentimentos profundos,<br />
derrubou o regime fascista.<br />
Libertar Portugal da ditadura,<br />
da opressão e do colonialismo<br />
representou uma transformação<br />
revolucionária e o início de uma<br />
viragem histórica da sociedade<br />
portuguesa.<br />
A Revolução restituiu<br />
aos portugueses os direitos<br />
e liberdades fundamentais.<br />
No exercício destes direitos<br />
e liberdades, os legítimos<br />
representantes do povo reúnem-se<br />
para elaborar uma Constituição<br />
que corresponde às aspirações<br />
do País.<br />
A Assembleia Constituinte<br />
afirma a decisão do povo<br />
português de defender a<br />
independência nacional, de<br />
garantir os direitos<br />
fundamentais dos cidadãos, de<br />
estabelecer os princípios<br />
basilares da democracia, de<br />
assegurar o primado do Estado<br />
de Direito democrático e de abrir<br />
caminho para uma sociedade<br />
socialista, no respeito da<br />
vontade do povo português,<br />
tendo em vista a construção de<br />
um país mais livre, mais justo e<br />
mais fraterno.<br />
A Assembleia Constituinte,<br />
reunida na sessão plenária de 2<br />
de Abril de 1976, aprova e<br />
decreta a seguinte Constituição<br />
da República Portuguesa...<br />
Aideia de que «Portugal tem futuro<br />
com a Constituição de Abril» é,<br />
seguramente, uma das que<br />
melhor exprime o sentido aglutinador e<br />
de progresso, a confiança, a força<br />
colectiva que emana da Lei<br />
Fundamental, texto indissolúvel da<br />
Revolução do 25 de Abril e que assume<br />
ter por horizonte a construção de uma<br />
sociedade melhor, mais justa e solidária.<br />
Não obstante a continuada ofensiva<br />
contra os direitos e as conquistas<br />
alcançadas pelos trabalhadores e o povo,<br />
a verdade é que as forças reaccionárias<br />
nunca conseguiram suprimir um<br />
«conjunto de princípios e normas» que<br />
são garante e «dão suporte a um<br />
verdadeiro projecto de desenvolvimento<br />
soberano do País».<br />
Em Abril de 2014, intervindo na<br />
iniciativa de aniversário da Constituição,<br />
Jerónimo de Sousa constatava essa<br />
realidade e destacava o facto de aquelas<br />
forças não terem conseguido apagar o<br />
«projecto de democracia avançada que a<br />
Constituição da República projecta para<br />
o futuro de Portugal».<br />
Mais, lembrava o Secretário-geral do<br />
PCP, a Constituição continua a ser «das<br />
mais progressistas da Europa», onde se<br />
inscrevem «importantes direitos políticos,<br />
económicos, sociais e culturais», nela<br />
subsistindo os princípios da soberania<br />
popular, «visando a realização da<br />
democracia económica, social e cultural<br />
e o aprofundamento da democracia<br />
participativa».<br />
Normas e princípios que se entretecem<br />
Constituição respira Abril<br />
Interveniente activo no processo de construção da<br />
Constituição, pela acção dos seus deputados<br />
constituintes, o PCP destacou-se nestes 40 anos por<br />
ser a força política que mais cerrou fileiras<br />
(procurando a convergência com outras forças e<br />
sectores democráticos) em defesa da Lei Fundamental<br />
e que corajosa e empenhadamente se opôs a todas as<br />
iniciativas que visaram a sua desfiguração e<br />
empobrecimento.<br />
Batalhas travadas em todas as frentes, nos planos<br />
institucional e da luta de massas, em defesa de Abril e<br />
da Constituição, contra os ataques dos que ao serviço dos<br />
interesses monopolistas apostavam na desforra e em fazer<br />
regredir as conquistas da Revolução.<br />
Uma acção sem paralelo em defesa<br />
das liberdades e dos direitos que<br />
teve expressão pública de<br />
múltiplas formas e maneiras. Com<br />
uma motivação: chegar às pessoas,<br />
fosse por campanhas e acções de<br />
sensibilização, sessões, debates,<br />
folhetos, cartazes, exposições, ou<br />
pelas páginas do Avante!. Sempre<br />
com o mesmo objectivo: debater,<br />
esclarecer, mobilizar. Com a<br />
Constituição. Por Abril.<br />
num todo coerente, que acolhe e garante<br />
as mais amplas liberdades e direitos,<br />
sempre num horizonte de justiça social e<br />
progresso, elevando a nossa Lei<br />
Fundamental à categoria de um corpo<br />
único de valores que comporta em si a<br />
força de um projecto de futuro. Como<br />
adiante se verá. O que explica, aliás, a<br />
razão pela qual é tão atacada e suscita<br />
tanto ódio e raiva por parte das classes<br />
dominantes.<br />
Princípios fundamentais<br />
Em matéria de relações internacionais,<br />
por exemplo, o texto constitucional<br />
afirma que Portugal se rege, entre outros<br />
dispositivos, pelo respeito dos direitos<br />
humanos, dos direitos dos povos, da<br />
igualdade entre os estados, da solução<br />
pacífica dos conflitos. E preconiza a<br />
abolição do imperialismo, do<br />
colonialismo e de todas as formas de<br />
agressão, nela se defendendo<br />
simultaneamente o desarmamento geral e<br />
a dissolução dos blocos político-militares.<br />
Já no plano das tarefas fundamentais<br />
do Estado, é expresso o propósito de<br />
«promover o bem-estar e a qualidade de<br />
vida do povo e a igualdade real entre os<br />
portugueses, bem como a efectivação dos<br />
direitos económicos, sociais, culturais e<br />
ambientais».<br />
«Todos os cidadãos têm a mesma<br />
dignidade social e são iguais perante a<br />
lei», proclama a Constituição no plano<br />
dos direitos, liberdades e garantias,<br />
onde vários artigos asseguram, por<br />
exemplo, o direito de todos à Justiça, o<br />
direito à vida – «a vida humana é<br />
inviolável», diz o artigo 24.º –, o direito à<br />
liberdade e à segurança. Como<br />
garantidas são a liberdade de imprensa,<br />
o direito de reunião e manifestação, ou a<br />
liberdade de associação.<br />
Direitos inalienáveis<br />
Em matéria de direitos económicos,<br />
sociais e culturais, no texto<br />
constitucional pode ler-se que «todos têm<br />
direito ao trabalho», cabendo ao Estado,<br />
para cumprir tal desígnio, a «execução de<br />
políticas de pleno emprego». Outros<br />
direitos dos trabalhadores têm<br />
igualmente consagração constitucioal,<br />
como sejam à retribuição justa, à<br />
«prestação do trabalho em condições de<br />
higiene, segurança e saúde, à conciliação<br />
da vida profissional com a vida familiar,<br />
«ao repouso e aos lazeres».<br />
Não menos relevantes são outros direitos<br />
e deveres sociais que a Constituição<br />
consagrou, como o direito à segurança<br />
social e à saúde (este por via de um<br />
Serviço Nacional de Saúde universal,<br />
geral e tendencialmente gratuito), o<br />
direito a uma habitação condigna, o<br />
direito a um ambiente ecologicamente<br />
sustentável, à protecção da família, à<br />
protecção da maternidade e da<br />
paternidade, do direito à educação e à<br />
cultura, assegurando a gratuitidade do<br />
ensino na escolaridade obrigatória e o<br />
seu carácter progressivamente gratuito<br />
nos restantes graus de ensino.
EM FOCO<br />
17<br />
de futuro<br />
Ao serviço das pessoas<br />
A «subordinação do poder económico<br />
ao poder político democrático» é uma<br />
das disposições que figura no domínio<br />
da organização económica, área onde<br />
a Constituição continua a atribuir ao<br />
Estado importantes missões e de<br />
carácter prioritário, como sejam a de<br />
elevar o bem-estar social e económico, a<br />
qualidade de vida das pessoas, a justiça<br />
social e a garantia da igualdade de<br />
oportunidades, bem como a coesão<br />
económica e social de todo o território.<br />
Destaque também para a garantia que é<br />
dada à coexistência de três sectores de<br />
propriedade dos meios de produção<br />
(público, privado e cooperativo e social)<br />
e, noutro aspecto, para a imposição de<br />
que o investimento estrangeiro seja<br />
disciplinado em ordem a desenvolver o<br />
País, defender a soberania e os<br />
interesses dos trabalhadores.<br />
Dispositivos constitucionais para o<br />
aumento da produção na agricultura e<br />
na indústria, bem como para o «apoio<br />
às pequenas e médias empresas»,<br />
encontram-se no articulado do texto<br />
constitucional no capítulo das políticas<br />
agrícola, comercial e industrial,<br />
ressaltando, na área financeira e<br />
fiscal, entre os objectivos desta, uma<br />
«repartição justa dos rendimentos e da<br />
riqueza», visando o IRS, em particular,<br />
a «diminuição das desigualdades».<br />
Organização do poder político<br />
No que toca à organização do poder<br />
político, a Constituição afirma, logo à<br />
partida, que o poder pertence ao povo,<br />
sendo garantida a separação e<br />
interdependência entre os órgãos de<br />
soberania. Garantida pelos comandos<br />
constitucionais é a independência dos<br />
tribunais (sujeitos apenas à Lei), e a<br />
autonomia do Ministério Público, com o<br />
Direitos laborais<br />
No plano dos direitos dos trabalhadores a Constituição não é neutra e<br />
assume de forma inequívoca a sua defesa, ou seja, toma partido por aquela<br />
que é a parte mais desprotegida na relação laboral.<br />
E tanto assim é que lhes conferiu dignidade e os incluiu no Título dos<br />
«Direitos, Liberdades e garantias», dedicando-lhes um capítulo – Capítulo III<br />
– Direitos, Liberdades e Garantias dos Trabalhadores, onde se encontram<br />
vertidos ao longo de cinco artigos, entre outros aspectos, a garantia da<br />
segurança no emprego, os direitos de intervenção das comissões de<br />
trabalhadores na vida das empresas, a liberdade sindical como forma de<br />
assegurar a construção da unidade dos trabalhadores na defesa dos seus<br />
interesses, o direito do exercício de actividade sindical nas empresas, os<br />
direitos das associações sindicais (nomeadamente quanto à contratação<br />
colectiva), o direito à greve e a proibição do lock-out.<br />
seu estatuto próprio.<br />
No que se refere à organização do<br />
Estado, o texto constitucional consagra<br />
a existência das autonomias regionais,<br />
do poder local democrático, das regiões<br />
administrativas.<br />
Uma administração pública ao serviço<br />
do interesse público, desburocratizada e<br />
próxima das populações é o que<br />
determina outro dispositivo<br />
constitucional, sendo, ainda, num outro<br />
artigo, conferido aos cidadãos o «direito<br />
de ser informados pela administração».<br />
No que se refere à democracia<br />
participativa, a Constituição dedica um<br />
capítulo às organizações de moradores,<br />
reconhecendo a existência de<br />
Comissões de Moradores como forma<br />
de organização de base do poder local,<br />
com direito de petição perante as<br />
autarquias locais quanto a assuntos do<br />
seu interesse.<br />
Direitos, liberdades<br />
e garantias<br />
Nunca, muito provavelmente, a Constituição foi tão vilipendiada e sujeita<br />
a uma tão dura prova de fogo como nos últimos quatro anos de governo<br />
PSD/CDS, tais foram os ataques e violações dirigidos à Lei<br />
Fundamental pela acção política daqueles partidos, visando subvertê-la,<br />
fragilizá-la.<br />
Esses ataques tiveram nos trabalhadores, reformados, as classes e camadas não<br />
monopolistas da população em geral o seu alvo preferencial – esse é mesmo o<br />
traço comum que desponta em todos eles – o que em si mesmo é revelador da<br />
importância da Constituição e do que ela verdadeiramente representa e<br />
comporta na sua dimensão inigualável de texto soberano no qual estão inscritos<br />
os direitos, liberdades e garantias dos portugueses.<br />
O governo do PSD e do CDS actuou quase sempre à margem da Constituição e<br />
até, em bom rigor, em assumido confronto com a mesma. Os efeitos da sua<br />
política sobre a vida das pessoas e do País foram terríveis. E só não foram mais<br />
devastadores porque a isso se opôs a luta organizada dos trabalhadores, das<br />
populações e de quem – como o PCP – sempre esteve ao lado de ambos.<br />
No seguimento da luta o próprio Tribunal Constitucional acabou por intervir<br />
travando medidas particularmente negativas.<br />
Ataques sofrem reveses<br />
O primeiro revés constitucional da<br />
maioria PSD/CDS foi o chumbo da<br />
suspensão do pagamento do subsídio<br />
de férias ou de Natal a funcionários<br />
públicos e pensionistas, medida<br />
incluída logo no Orçamento do Estado<br />
para 2012.<br />
Posteriormente, num contexto da<br />
grande luta de massas travada em<br />
defesa da Constituição da República<br />
Portuguesa e contra as suas sucessivas<br />
violações, referindo-se ao OE de<br />
2013, conclui o Tribunal<br />
Constitucional (TC) que a suspensão<br />
do subsídio de férias no sector público<br />
mantém a desigualdade já verificada<br />
no parecer relativo ao OE do ano<br />
anterior. E chumba, além desse artigo,<br />
outros três, relacionados com a sua<br />
aplicação aos contratos de docência,<br />
com a suspensão do pagamento de 90<br />
por cento do subsídio de férias a<br />
aposentados e reformados (por<br />
violação do princípio da igualdade) e<br />
com taxas sobre o subsídio de<br />
desemprego e por doença (por<br />
violação do princípio da<br />
proporcionalidade).<br />
Em 2014 o TC volta a chumbar três<br />
dos quatro artigos em análise, a<br />
pedido de deputados das oposições,<br />
incluindo os cortes dos salários dos<br />
funcionários públicos acima dos 675<br />
euros. Os outros artigos considerados<br />
inconstitucionais foram o que aplicava<br />
taxas de cinco por cento sobre o<br />
subsídio de doença e de seis por cento<br />
sobre o subsídio de desemprego e o<br />
que alterava o cálculo das pensões de<br />
sobrevivência. Além destas normas,<br />
recorde-se, o TC já se havia<br />
pronunciado contra outros diplomas<br />
com impacto orçamental, como o<br />
regime jurídico da requalificação dos<br />
trabalhadores da administração<br />
pública, alterações ao Código do<br />
Trabalho e a convergência de pensões.<br />
Os direitos dos trabalhadores foram<br />
assim o alvo privilegiado dos golpes de<br />
PSD e CDS, como aconteceu quando<br />
prolongaram o não pagamento do<br />
trabalho extraordinário, quando<br />
alteraram para pior o Código do<br />
Trabalho com vista à facilitação dos<br />
despedimentos e seu<br />
embaratecimento, quando procederam<br />
a cortes no valor do trabalho<br />
suplementar, ou quando atacaram a<br />
contratação colectiva – direito<br />
fundamental dos trabalhadores<br />
reconhecido pela Constituição –,<br />
pretendendo, dessa forma, agravar a<br />
exploração de quem trabalha. Sabiam<br />
PSD e CDS, que por essa via,<br />
simultaneamente, atacavam os<br />
sindicatos, ou seja, a democracia,<br />
atendendo a que a contratação<br />
colectiva é uma peça central da acção<br />
sindical.<br />
Escalada<br />
Mas os ataques ao regime democrático<br />
ocorreram também quando PSD e<br />
CDS tentaram transferir para o TC as<br />
suas próprias responsabilidades pelas<br />
medidas e política inconstitucionais,<br />
numa linha litigante com aquele órgão<br />
de soberania, comprometendo o<br />
regular funcionamento das instituições.<br />
E não deve ser esquecido que o<br />
governo PSD/CDS, na sua reiterada<br />
violação da Constituição chegou a<br />
tentar impor uma espécie de estado de<br />
excepção constitucional não declarado<br />
e até a defender sanções jurídicas para<br />
os juízes do TC que tivessem a ousadia<br />
de decidir contra a vontade do<br />
executivo.
18 EM FOCO<br />
31-3-2016<br />
Revisões constitucionais<br />
Os direitos estão cá!<br />
Cronologia<br />
1982 – Extinção do<br />
Conselho da Revolução;<br />
diminuição de poderes do<br />
Presidente da República;<br />
criação do Tribunal<br />
Constitucional.<br />
1989 – Esvaziamento dos<br />
limites materiais, com o fim<br />
da irreversibilidade das<br />
nacionalizações e do<br />
«princípio da apropriação<br />
colectiva dos principais<br />
meios de produção e solos»;<br />
eliminação de referência à<br />
Reforma Agrária.<br />
1992 – Adaptação do texto<br />
constitucional aos princípios<br />
do Tratado de Maastricht.<br />
1997 – Redução do<br />
número de deputados e<br />
admissão de círculos<br />
uninominais;<br />
constitucionalização de<br />
limitações do direito à<br />
greve; eliminação da<br />
referência à obrigatoriedade<br />
do serviço militar.<br />
2001 – Adaptação para<br />
aprovar Convenção que<br />
criou o Tribunal Penal<br />
Internacional, tornando<br />
possível a extradição de<br />
portugueses.<br />
2004 – Introdução de<br />
artigo com norma que<br />
subordina a legislação<br />
portuguesa, incluindo a<br />
própria Constituição, ao<br />
direito comunitário;<br />
aprofundamento da<br />
autonomia políticoadministrativa<br />
das regiões<br />
autónomas dos Açores e<br />
Madeira.<br />
2005 – Aditamento de<br />
novo artigo para possibilitar<br />
a realização de referendo<br />
sobre a aprovação da mal<br />
chamada «Constituição<br />
Europeia».<br />
Éna revisão de 1989, com<br />
o cavaquismo imperante<br />
e o PS enredado nas suas<br />
cedências, que a Constituição<br />
sofre um dos mais violentos<br />
ataques. Atingida é sobretudo<br />
a área económica, embora os<br />
estragos se tenham feito sentir<br />
também no campo social.<br />
São eliminados o princípio da<br />
irreversibilidade das<br />
nacionalizações (estabelecendo<br />
a reprivatização da titularidade<br />
ou de direitos de exploração<br />
dos meios de produção e<br />
outros bens nacionalizados) e<br />
a referência constitucional à<br />
Reforma Agrária<br />
(a transferência da posse útil<br />
da terra aos que nela<br />
trabalham através da<br />
expropriação dos latifúndios e<br />
explorações capitalistas).<br />
Marca negativa que ficou desta<br />
segunda revisão constitucional<br />
foi também a introdução do<br />
carácter tendencialmente<br />
gratuito do Serviço Nacional<br />
de Saúde (SNS), expediente<br />
usado para abrir a porta às<br />
taxas moderadoras. Desde aí o<br />
custo suportado pelos utentes<br />
foi sempre a aumentar,<br />
desmentindo a garantia de PS<br />
Horizonte de progresso<br />
«Num quadro em que o exercício dos direitos emerge como questão essencial,<br />
a Constituição da República não só constitui um factor de condicionamento<br />
da ofensiva e de legitimação da luta em sua defesa como mantém no seu<br />
texto, apesar de sucessivas revisões, princípios e disposições susceptíveis de<br />
constituírem orientação para políticas económicas e sociais capazes de, pela<br />
mão de um governo patriótico e de esquerda, retomar soluções e perspectivas<br />
de dimensão democrática e de progresso social.»<br />
(Da Resolução Política aprovada no XIX Congresso do PCP, em Dezembro<br />
de 2012)<br />
e PSD de que o «tendencial»<br />
apontaria para a gratuitidade.<br />
Mas sendo verdade que a<br />
Constituição sofreu ao longo<br />
dos processos de revisão fortes<br />
investidas que a mutilaram em<br />
domínios essenciais no plano<br />
económico, por acção das<br />
forças políticas que em<br />
sucessivos governos<br />
executaram a política de<br />
direita, agindo inclusivamente<br />
à margem da lei (por violação,<br />
omissão ou não efectivação do<br />
preceituado na Lei<br />
Fundamental), é igualmente<br />
um facto indesmentível que as<br />
forças mais conservadoras no<br />
plano dos direitos dos<br />
trabalhadores e na área social<br />
nunca conseguiram, como<br />
pretendiam, levar a água ao<br />
seu moinho. Apesar de todas<br />
as tentativas – e foram várias<br />
–, e não obstante aqui ou ali<br />
terem feito mossa, o que é<br />
indesmentível é que os direitos<br />
não foram eliminados, estão<br />
cá, são elementos constitutivos<br />
do regime democrático como o<br />
direito ao trabalho com<br />
direitos, o direito à saúde, ao<br />
ensino, à segurança social, à<br />
justiça social.<br />
Uma história<br />
de ataques<br />
e resistência<br />
Eleitos a 25 de Abril de 1975 por sufrágio directo e<br />
universal, na primeira e mais concorrida eleição<br />
livre em Portugal (91% dos cidadãos recenseados),<br />
os 250 deputados constituintes tiveram como única e<br />
exclusiva missão redigir a Constituição, tarefa que viria a<br />
estar concluída dez meses depois com a sua aprovação a 2<br />
de Abril de 1976.<br />
Saída da Revolução de Abril, a Constituição rompeu<br />
com a concepção anterior do Estado fascista e<br />
implantou um regime baseado na soberania popular, no<br />
pluralismo de expressão e organização política<br />
democrática, no respeito e na garantia de efectivação<br />
dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e<br />
interdependência de poderes, visando a realização da<br />
democracia económica, social e cultural e o<br />
aprofundamento da democracia participativa.<br />
Desde então, foram sete os processos de revisão a que a<br />
Lei Fundamental foi<br />
sujeita. Subjacente, em<br />
todos eles, o intuito das<br />
forças conservadoras de<br />
esvaziar o seu sentido<br />
avançado e emancipador<br />
através de alterações que<br />
representaram uma linha<br />
de regressão e retrocesso<br />
em aspectos fulcrais das<br />
conquistas democráticas,<br />
sociais e políticas obtidas<br />
pelo povo português após<br />
a Revolução do 25 de<br />
Abril.<br />
Todas as revisões – pelo<br />
conteúdo e pela forma –<br />
foram assim, no<br />
essencial, executadas sob<br />
o impulso não do<br />
aperfeiçoamento e<br />
melhoria da Constituição<br />
mas do seu<br />
empobrecimento,<br />
amputando-a de<br />
elementos centrais da<br />
nova estrutura económica criada com a Revolução e de<br />
direitos sociais e laborais.<br />
Como sublinhava Jerónimo de Sousa em entrevista ao<br />
Avante! por ocasião do 30.º aniversário da Constituição<br />
(30/3/2006), aludindo às revisões constitucionais<br />
negociadas entre o PS e o PSD, com o apoio do CDS,<br />
«aquilo que teve uma perspectiva estratégica foi de facto<br />
a liquidação da nova estrutura económica criada com a<br />
Revolução – isso é que era determinante, a devolução<br />
do poder económico ao grande capital – para de<br />
seguida, obviamente, com as revisões, sobretudo na de<br />
1997, dirigir o ataque contra os direitos dos<br />
trabalhadores, designadamente o direito à greve (através<br />
da chamada criação dos serviços mínimos)».
31-3-2016 TRABALHADORES<br />
19<br />
Por melhores salários e mais justiça<br />
Páscoa em greve<br />
Na Carristur, nos CTT, na Servirail e em hotéis<br />
do Algarve, os trabalhadores passaram a<br />
Páscoa em luta, com greves e acções de rua,<br />
para exigirem aumentos salariais e mais justiça<br />
na distribuição da riqueza criada.<br />
Mesmo com lucros<br />
muito elevados, as<br />
empresas insistem<br />
em agravar a<br />
exploração<br />
No dia 24, quinta-feira,<br />
os trabalhadores da Servirail,<br />
empresa do Grupo<br />
Newrest que assegura serviços<br />
de bar e restaurante<br />
em comboios, sob a marca<br />
Latitudes, fizeram greve praticamente<br />
a cem por cento<br />
(apenas não aderiu uma trabalhadora,<br />
como referiu o<br />
Sindicato da Hotelaria do<br />
Norte) e reuniram-se nas<br />
estações de Campanhã, no<br />
Porto, e de Santa Apolónia,<br />
em Lisboa. Foi confirmada<br />
a realização de outro<br />
dia de greve, na segundafeira,<br />
28, que veio a ter um<br />
nível de adesão idêntico,<br />
como já tinha sucedido no<br />
dia 4.<br />
A par de aumento dos<br />
salários, a luta tem por objectivos<br />
reivindicar o pagamento<br />
de subsídios em atraso<br />
e do subsídio de refeição<br />
retirado, respeito pelos<br />
horários de trabalho,<br />
incluindo o regime de folgas<br />
no armazém, a publicação<br />
do Acordo de Empresa<br />
em vigor e, em geral,<br />
respeito pelos direitos<br />
– como foi referido nas informações<br />
da Fesaht/CGTP-<br />
-IN e dos sindicatos.<br />
Com o sector de hotelaria<br />
e turismo a bater recordes<br />
sucessivos nos seus resultados<br />
anuais desde 2012,<br />
os trabalhadores das unidades<br />
hoteleiras e campos<br />
de golfe do Grupo JJW no<br />
Algarve fizeram greve no<br />
dia 25, Sexta-feira Santa,<br />
assim destacando o seu protesto<br />
contra o roubo patronal<br />
no pagamento do trabalho<br />
suplementar e em dias<br />
feriados.<br />
Durante uma concentração,<br />
ao final da manhã, em<br />
Vale do Lobo, frente ao<br />
Hotel Dona Filipa, foi aprovada<br />
e entregue à direcção<br />
da filial portuguesa da multinacional<br />
uma moção, afirmando<br />
que os trabalhadores<br />
perderam 12 por cento<br />
do poder de compra, só nos<br />
últimos quatro anos de governo<br />
PSD/CDS, enquanto<br />
os seus salários não são aumentados<br />
há cerca de dez<br />
anos. Na ocasião, o coordenador<br />
do Sindicato da<br />
Hotelaria do Algarve disse<br />
à agência Lusa que a negação<br />
de actualização salarial<br />
é generalizada neste<br />
sector e provoca descontentamento<br />
em toda a região.<br />
No dia 24, trabalhadores<br />
do Crowne Plaza, em Vilamoura,<br />
distribuíram aos<br />
clientes um comunicado a<br />
denunciar a falta de aumentos<br />
salariais há oito<br />
anos e a recusa patronal a<br />
pagar o trabalho suplementar<br />
prestado em anos anteriores.<br />
Também por aumentos<br />
de salários, de forma a repor<br />
o poder de compra, e<br />
Frente ao Hotel Dona Filipa concentraram-se trabalhadores<br />
do Grupo JJW<br />
Na Praça da Figueira reuniram-se durante a greve trabalhadores<br />
da Carristur<br />
Foto Lusa<br />
pela negociação do contrato<br />
colectivo sem perda de<br />
direitos, tinha decorrido já<br />
no dia 21, frente à sede da<br />
associação patronal APH-<br />
ORT, no Porto, uma concentração<br />
com mais de uma<br />
centena de dirigentes e delegados<br />
sindicais da hotelaria,<br />
restauração, bebidas<br />
e similares. Foi aí manifestado<br />
apoio a uma jornada<br />
nacional de luta neste sector,<br />
que terá lugar no dia<br />
5 de Abril.<br />
Privado... e público<br />
Teve «níveis de adesão<br />
fortíssimos, superiores a 90<br />
por cento», a greve na Carristur,<br />
nos dias 25, 26 e<br />
27, como referem a Fectrans/CGTP-IN<br />
e o Sindicato<br />
dos Trabalhadores dos<br />
Transportes Rodoviários e<br />
Urbanos de Portugal, num<br />
comunicado de terça-feira,<br />
29. A luta, pelo pagamento<br />
de salários de acordo com<br />
o contrato colectivo do sector<br />
privado, assinado com<br />
a Antrop, inclui ainda a realização<br />
de paralisações parciais<br />
no dia 24 e entre 28<br />
de Março e 1 de Abril. Foi<br />
decidido efectuar ontem uma<br />
concentração junto do Ministério<br />
do Trabalho, para<br />
exigir a intervenção do Governo<br />
na resolução deste<br />
conflito.<br />
Ao ministro do Ambiente<br />
foi dirigida, dia 24, uma<br />
pergunta do deputado comunista<br />
Bruno Dias, reclamando<br />
medidas para impedir<br />
as ilegalidades da administração.<br />
Há anos que<br />
a Carristur optou por aplicar<br />
o contrato do sector privado,<br />
cujas tabelas salariais<br />
não eram revistas desde<br />
1997; o contrato foi negociado<br />
no final de 2015,<br />
com melhorias, e a Carristur<br />
pagou pelos novos valores<br />
em Janeiro. No mês<br />
seguinte voltou a aplicar os<br />
valores antigos, alegando<br />
que tal resulta de ser uma<br />
empresa pública.<br />
Além desta estratégia de<br />
contenção dos salários, na<br />
pergunta foi também reflectida<br />
a denúncia sindical<br />
de violação da lei da<br />
greve, porque motoristas<br />
da Carris foram chamados<br />
para substituir grevistas.<br />
Após a concentração de<br />
dia 24 e o plenário de dia<br />
25, na Praça da Figueira,<br />
os trabalhadores desfilaram<br />
na baixa lisboeta, distribuindo<br />
comunicados em<br />
quatro línguas sobre a luta.<br />
Na STCP, os dias 25 e<br />
27 foram abrangidos por<br />
uma greve contra o corte<br />
de 50 por cento da remuneração<br />
das horas trabalhadas<br />
em feriados.<br />
Prémio é o outro<br />
Em Cabo Ruivo,<br />
no arranque da<br />
greve dos CTT, o<br />
Secretário-geral da<br />
CGTP-IN, Arménio<br />
Carlos esteve com<br />
o piquete<br />
Na estação de Campanhã manifestaram-se trabalhadores<br />
da Servirail em greve<br />
Na estação de Santa Apolónia, os trabalhadores da Servirail<br />
receberam a solidariedade de Rita Rato, deputada do<br />
PCP<br />
Com a Páscoa perturbada<br />
pelas manobras e pressões<br />
«informais» para os<br />
dissuadir da opção de luta,<br />
os trabalhadores das empresas<br />
do Grupo CTT entraram<br />
em greve às zero<br />
horas de segunda-feira, dia<br />
28, com uma adesão superior<br />
a 75 por cento. A luta<br />
foi convocada pelo sindicato<br />
com maior representatividade<br />
e o único que recusou<br />
a proposta final da<br />
administração, no dia 23.<br />
Para o Sindicato Nacional<br />
dos Trabalhadores dos Correios<br />
e Telecomunicações,<br />
tal proposta foi «ofensiva»,<br />
com «aumentos de miséria»<br />
(entre 33 e 47 cêntimos<br />
por dia, resultado de<br />
um aumento mínimo de dez<br />
euros e 1,3 por cento, 0,9<br />
e 0,7 conforme os níveis<br />
salariais), depois de seis<br />
anos sem actualização da<br />
tabela salarial, enquanto<br />
os CTT acumulam lucros<br />
de várias dezenas de milhões<br />
de euros.<br />
O SNTCT, da Fectrans/<br />
/CGTP-IN, condenou também<br />
a intenção da administração<br />
de reservar verbas<br />
para prémios, exigindo<br />
que elas fossem aplicadas<br />
nos salários-base, e<br />
lembrando que um prémio<br />
de mais de 900 mil euros<br />
foi pago ao presidente da<br />
administração.<br />
Bosch<br />
Estiveram em greve, no<br />
dia 24, os trabalhadores<br />
da Bosch Car Multimédia,<br />
em Braga, devido à falta<br />
de disponibilidade da<br />
empresa para negociar o<br />
Caderno Reivindicativo de<br />
2016. O SITE Norte<br />
informou que são exigidos<br />
aumentos salariais de 40<br />
euros para todos, sem<br />
discriminação, e também<br />
se reclama a passagem a<br />
efectivos dos<br />
trabalhadores com<br />
vínculos precários a<br />
laborar há mais de seis<br />
meses, a redução da<br />
carreira de operador<br />
especializado e a<br />
valorização das carreiras e<br />
da antiguidade. O<br />
sindicato da<br />
Fiequimetal/CGTP-IN<br />
salientou que são os<br />
trabalhadores que<br />
contribuem para os lucros<br />
fabulosos que a empresa<br />
tem vindo a apresentar,<br />
adiantando que nos<br />
plenários foi debatida a<br />
continuação da luta.<br />
Inapal<br />
Uma série de greves de<br />
duas horas por dia<br />
começou esta terça-feira,<br />
dia 29, na Inapal<br />
Plásticos, para exigir que<br />
os salários praticados em<br />
Leça do Balio sejam<br />
equiparados aos que<br />
vigoram na unidade fabril<br />
de Palmela, como se<br />
explica no pré-aviso<br />
entregue pelo SITE Norte.<br />
Jado<br />
Em luta desde dia 10,<br />
por aumentos salariais<br />
dignos, os trabalhadores<br />
da Jado Ibéria, em Braga,<br />
fizeram greve no dia 24 e<br />
concentraram-se à porta<br />
da empresa, onde<br />
receberam a solidariedade<br />
de Carla Cruz, deputada<br />
do PCP.<br />
Seda<br />
Uma semana de greves<br />
de duas horas em cada<br />
período de trabalho<br />
deverá terminar amanhã,<br />
na Seda Ibérica. A luta foi<br />
convocada pelo SITE<br />
CSRA, porque a<br />
administração não<br />
assumiu compromissos<br />
relativamente à correcção<br />
das injustiças na<br />
distribuição dos salários e<br />
à abertura de um caminho<br />
para garantir a igualdade<br />
de oportunidades. Uma<br />
informação divulgada pela<br />
Fiequimetal recorda que<br />
foi desconvocada uma<br />
greve, no início do mês,<br />
mas a administração da<br />
empresa de embalagens<br />
de Paço de Arcos não<br />
aceitou negociar o<br />
caderno reivindicativo e<br />
decidiu actualizar os<br />
salários em apenas 1,5<br />
por cento.
20 TRABALHADORES<br />
31 -3-201 6<br />
Psicólogos<br />
A redução do número<br />
de psicólogos nas escolas<br />
surge como «uma nota<br />
muito triste» no estudo<br />
que a direcção-geral de<br />
Estatísticas da Educação e<br />
Ciência divulgou, a<br />
propósito da Educação<br />
Especial, e que revela um<br />
corte de 88 profissionais<br />
em apenas um ano (de<br />
489 para 401) –<br />
comentou o Sindicato<br />
Nacional dos Psicólogos.<br />
A opacidade quanto a<br />
números, a<br />
indisponibilidade para<br />
discutir justas<br />
reivindicações, por parte<br />
do Ministério da<br />
Educação, e a<br />
necessidade de promover<br />
a estabilização dos<br />
profissionais foram<br />
colocadas pelo SNP, em<br />
Janeiro, aos grupos<br />
parlamentares. Na nota de<br />
imprensa que publicou dia<br />
23, o sindicato reafirma<br />
que «há trabalho a fazer<br />
para que o ano lectivo de<br />
2016-2017 possa ser,<br />
definitivamente, o ano da<br />
mudança no que concerne<br />
à psicologia escolar e da<br />
educação» e interroga se<br />
«existe vontade política».<br />
Professores<br />
A negociação<br />
obrigatória com os<br />
sindicatos não está a ser<br />
respeitada em diversos<br />
processos legislativos e<br />
decisórios, protestou a<br />
Federação Nacional dos<br />
Professores, que no dia<br />
23 reiterou a urgência de<br />
realizar a reunião pedida<br />
ao ministro da Educação.<br />
«Em tempos que se dizem<br />
novos, há procedimentos<br />
que, por serem de outros<br />
tempos, deverão,<br />
obrigatoriamente, ser<br />
alterados», reclama-se<br />
numa nota do<br />
Secretariado Nacional da<br />
Fenprof, que critica a<br />
«moda» de realizar<br />
consultas públicas, mesmo<br />
quando a negociação é<br />
obrigatória. São apontados<br />
alguns casos de<br />
incumprimento da<br />
negociação: o início de um<br />
Plano Nacional de<br />
Formação Contínua, a<br />
mobilidade dos<br />
professores por doença, a<br />
organização dos horários<br />
dos docentes e o conteúdo<br />
funcional das<br />
componentes lectiva e não<br />
lectiva, a contratação de<br />
professores, e mesmo o<br />
Orçamento do Estado,<br />
estando por realizar uma<br />
reunião para esclarecer<br />
como será possível, em<br />
ano de reposição integral<br />
dos salários, reduzir em<br />
mais de 300 milhões de<br />
euros a verba prevista<br />
para recursos humanos<br />
nos ensinos básico e<br />
secundário.<br />
Observações sindicais sobre o Dia Mundial da Água<br />
Água pública e emprego<br />
No dia 22 de Março, a CGTP-IN e o STAL<br />
lembraram que no Mundo e em Portugal está<br />
muito por fazer, para ir ao encontro do lema<br />
deste ano do Dia Mundial da Água e conseguir<br />
«melhor água, melhor emprego».<br />
A data é assinalada desde<br />
a Conferência das Nações<br />
Unidas sobre Desenvolvimento<br />
e Ambiente (Rio<br />
de Janeiro, 1992), destacando<br />
em cada ano um tema.<br />
Água e trabalho, em foco<br />
nas comemorações de<br />
2016, constituem «dois direitos<br />
humanos fundamentais,<br />
suportes da vida, dos<br />
direitos sociais e da construção<br />
de uma sociedade<br />
justa e solidária». Numa<br />
nota publicada pelo Sindicato<br />
Nacional dos Trabalhadores<br />
da Administração<br />
Local e Regional, Empresas<br />
Públicas, Concessionárias<br />
e Afins, começa-se por<br />
registar que «quer a água,<br />
quer o trabalho, continuam<br />
inacessíveis para milhões<br />
de seres humanos,<br />
num mundo em que a concentração<br />
e centralização<br />
da riqueza é cada vez mais<br />
chocante», acompanhada<br />
por «mercantilização e predação<br />
da natureza e dos<br />
recursos naturais».<br />
O STAL/CGTP-IN recorda<br />
que, nos Objectivos do<br />
Desenvolvimento Sustentável<br />
que os estados-membros<br />
da ONU aprovaram<br />
em Setembro de 2015,<br />
consta um capítulo (Objectivo<br />
6) designado «Água<br />
potável e saneamento», a<br />
exigir que os governos assegurem<br />
até 2030 o acesso<br />
universal a água potável<br />
segura e acessível, e a serviços<br />
de saneamento e higiene.<br />
Contudo, «os governos<br />
continuam a apostar<br />
no sector privado para o financiamento<br />
dos Objectivos<br />
de desenvolvimento»,<br />
enquanto «as multinacionais,<br />
com a conivência de<br />
vários governos e, no caso<br />
da Europa, da própria Comissão<br />
Europeia, estão<br />
mais perto de controlarem<br />
os serviços públicos, incluindo<br />
a água e o saneamento,<br />
cujo potencial de<br />
lucro é enorme, através dos<br />
tratados ditos de “livre comércio”».<br />
Em Portugal, a política<br />
seguida nos últimos anos<br />
teve efeitos «devastadores»<br />
no direito à água e no estado<br />
deste sector: quebras<br />
severas nas funções públicas<br />
de protecção e fiscalização<br />
da qualidade da<br />
água; estrangulamento financeiro<br />
das autarquias e<br />
Os governos<br />
devem assegurar<br />
até 2030 o<br />
acesso universal<br />
a água potável<br />
destruição do emprego público<br />
local; cortes impostos<br />
às empresas públicas.<br />
Tudo isto contribuiu para<br />
degradar a qualidade da<br />
prestação dos serviços públicos<br />
de água e saneamento<br />
Ȯs trabalhadores sofreram<br />
duros golpes nos seus<br />
rendimentos. No Grupo<br />
Águas de Portugal, os custos<br />
laborais caíram de<br />
28 900 euros, por ano e<br />
por trabalhador, em 2007,<br />
para 23 700 euros, em<br />
2012 (dados da ERSAR,<br />
de 2014). Também na distribuição<br />
de água «em baixa»,<br />
estes custos laborais<br />
desceram de 19 800 euros<br />
para 17 200 euros.<br />
O STAL considera que<br />
o resultado das últimas<br />
eleições legislativas «constituiu<br />
uma derrota da estratégia<br />
privatizadora e<br />
abriu perspectivas de uma<br />
mudança de políticas».<br />
Reafirmando o seu «empenho<br />
em defesa do Projecto<br />
de Lei “Pelos direitos<br />
individuais e comuns à<br />
água”, apresentado pela<br />
campanha “Água é de todos”<br />
na passada legislatura»<br />
o sindicato vai prosseguir<br />
o combate pelo reforço<br />
e valorização do papel das<br />
autarquias na prestação dos<br />
serviços de águas; pela reversão<br />
das fusões das empresas<br />
multimunicipais; pelo<br />
reforço do investimento<br />
nos serviços públicos, criando<br />
emprego e valorizando<br />
os trabalhadores.<br />
Por fim, o STAL manifesta<br />
o seu apoio à «Iniciativa<br />
de Cidadania Europeia<br />
“A água é um direito<br />
humano”», promovida pela<br />
Federação Sindical Europeia<br />
de Serviços Públicos,<br />
e «solidariza-se com<br />
as lutas dos povos e dos<br />
trabalhadores de todo o<br />
mundo, na luta pelo direito<br />
à água, contra a privatização<br />
deste bem essencial<br />
à vida».<br />
Força para mudar<br />
Com serviços públicos é melhor assegurada a defesa dos<br />
interesses dos trabalhadores e da população<br />
De novo feriados<br />
A CGTP-IN, numa nota<br />
do seu departamento para<br />
o Desenvolvimento Sustentável,<br />
assinala que, em<br />
apoio àquela iniciativa de<br />
cidadania europeia, foram<br />
recolhidas mais de um milhão<br />
e 800 mil assinaturas,<br />
«exigindo que a água seja<br />
reconhecida como um direito<br />
humano, um bem público<br />
e não uma mercadoria».<br />
Se o Parlamento<br />
Europeu «apoiou o pedido»,<br />
já a Comissão Europeia<br />
«continua parada e<br />
ainda não propôs uma nova<br />
legislação».<br />
Em Portugal, a Intersindical<br />
«não pode deixar de<br />
apoiar as iniciativas legislativas<br />
actualmente em discussão<br />
no Parlamento, que<br />
visam a não privatização<br />
da água, a não mercantilização<br />
do abastecimento público<br />
da água, do saneamento<br />
de águas residuais<br />
e da gestão de resíduos urbanos»,<br />
notando que ainda<br />
está a recolher apoios a<br />
petição «Em defesa dos<br />
serviços públicos de água,<br />
saneamento e resíduos».<br />
A CGTP-IN declara-se<br />
«particularmente atenta à<br />
defesa da água como recurso<br />
público e universal»<br />
e «defende os serviços públicos<br />
de água, saneamento<br />
e resíduos, a salvaguarda<br />
do bem-estar das<br />
populações, os direitos laborais<br />
dos que trabalham<br />
nestas áreas e as atribuições<br />
e competências das<br />
autarquias». É feito um<br />
alerta quanto às consequências<br />
da política de privatização<br />
do governo PSD/<br />
/CDS, particularmente quanto<br />
ao poder atribuído à entidade<br />
reguladora (ERSAR)<br />
para definir as tarifas, à revelia<br />
das autarquias e visando<br />
a «recuperação total<br />
dos custos», o que levará<br />
a um aumento generalizado<br />
dos preços.<br />
No dia 28, segunda-feira, depois de o<br />
primeiro-ministro ter assinado a referenda<br />
(último acto antes de se iniciar a execução<br />
de um diploma legal) da lei da Assembleia<br />
da República que repõe os quatro<br />
feriados eliminados em 2013, promulgada<br />
no dia 18 pelo PR, a CGTP-IN reafirmou<br />
que esta reposição «constitui uma medida<br />
de justiça social e é o resultado prático<br />
da luta desenvolvida pelos trabalhadores<br />
e trabalhadoras nos últimos anos» e «vem<br />
mostrar, mais uma vez, que não há inevitabilidades<br />
e que vale a pena continuar a<br />
lutar pela valorização do trabalho e a dignificação<br />
dos trabalhadores, indissociáveis<br />
de uma efectiva mudança de política».<br />
Na mesma nota em que valoriza a devolução<br />
dos feriados (Corpo de Deus, Implantação<br />
da República, Todos-os-Santos<br />
e Restauração da Independência), a CGTP-<br />
-IN chamou a atenção para a restituição<br />
dos 25 dias de férias e a revogação das<br />
alterações da legislação laboral que «eliminaram<br />
ou enfraqueceram direitos individuais<br />
e colectivos dos trabalhadores»,<br />
entendendo que «a correcção dessas injustiças<br />
se impõe com igual força e quanto<br />
antes».<br />
Novo Banco<br />
O plano de rescisões<br />
«por mútuo acordo»,<br />
desencadeado no Grupo<br />
Novo Banco, foi tratado<br />
pelo Sindicato dos<br />
Trabalhadores da<br />
Actividade Financeira<br />
numa reunião com a<br />
Autoridade para as<br />
Condições do Trabalho. O<br />
Sintaf/CGTP-IN reafirmou<br />
na ACT «denúncias de<br />
práticas ilegais» a que<br />
ainda não obteve resposta<br />
e salientou que os<br />
trabalhadores vivem «num<br />
clima de absoluta<br />
intimidação e pressão<br />
inaceitáveis», com<br />
«reuniões à americana»<br />
para pressionar a<br />
aceitação das rescisões,<br />
«inclusivamente<br />
transmitindo informações<br />
que contrariam a lei». Na<br />
nota de imprensa que no<br />
dia 23 foi divulgada pela<br />
comissão sindical naquele<br />
grupo financeiro, alerta-se<br />
para situações como a<br />
«dispensa de trabalho» e<br />
para o facto de a rescisão<br />
não dar direito a subsídio<br />
de desemprego, pois<br />
nenhuma das empresas foi<br />
declarada em<br />
reestruturação. O Sintaf<br />
afirma que «não é certo<br />
que o Grupo Novo Banco<br />
possa recorrer a um<br />
despedimento colectivo»,<br />
apela à solidariedade<br />
entre os trabalhadores,<br />
que se deve expressar no<br />
cumprimento escrupuloso<br />
do horário de trabalho.<br />
Portway<br />
«É possível travar o<br />
caminho de crescente<br />
exploração dos<br />
trabalhadores do<br />
handling», «travar o<br />
despedimento colectivo na<br />
Portway» e «impor à<br />
Ryanair que respeite as<br />
leis da República», afirma<br />
o Sector dos Transportes<br />
da Organização Regional<br />
de Lisboa do PCP, num<br />
comunicado em que<br />
informa os trabalhadores<br />
do sector sobre o projecto<br />
de resolução que o<br />
Partido apresentou na AR<br />
e que irá a plenário nas<br />
próximas semanas. No<br />
documento, datado de 21<br />
de Março, apela-se à<br />
«indispensável luta para<br />
impor ao patronato do<br />
sector uma contratação<br />
colectiva» e «exigir do<br />
Estado português que<br />
adopte outra postura»,<br />
dando «exemplos<br />
concretos do que pode e<br />
deve ser feito<br />
rapidamente» e<br />
recordando as respostas<br />
que deveriam ter sido<br />
dadas, pela ANAC e pelos<br />
governos central e<br />
regional, quando a<br />
Ryanair avançou com o<br />
fraudulento e ilegal self-<br />
-handling nos Açores.
31 -3-201 6<br />
NACIONAL 21<br />
Reparação do IP3<br />
A Assembleia Municipal de Penacova aprovou por<br />
unanimidade, no dia 27 de Fevereiro, uma proposta<br />
apresentada por Eduardo Ferreira, eleito da CDU,<br />
onde se apela à Infraestruturas de Portugal, IP, e ao<br />
Ministério do Planeamento e das Infraestruturas que<br />
promovam a reparação e beneficiação do troço do<br />
IP3, entre Coimbra e o nó do IC6, com carácter de<br />
urgência. Por esta via, com um nível de sinistralidade<br />
elevado, passam cerca de 18 mil veículos por dia, com<br />
elevada percentagem de pesados de mercadorias.<br />
Na proposta exige-se ainda o melhoramento dos<br />
acessos à Freguesia de Oliveira do Mondego, onde<br />
continuam a faltar os caminhos paralelos para trânsito<br />
local e máquinas agrícolas, mas também a ligação ao<br />
Parque Industrial de Alagôa/Telhado. Propõe-se que<br />
os terrenos anexos à zona Industrial da Alagôa, que<br />
estavam reservados para a instalação da área de<br />
serviço de Figueira de Lorvão, sejam transferidos para<br />
o domínio municipal, para permitir o prolongamento<br />
da estrada da zona industrial até à Rotunda da<br />
Alagôa.<br />
O IP 3 é o principal acesso a Penacova e o corredor<br />
que melhor se articula com as grandes vias de tráfego<br />
da região Centro, nomeadamente com a A1 para<br />
Norte e para Sul, com a A14 para Oeste, com a A24<br />
para Norte interior, com a A25 para Este e Espanha e<br />
com o IC6 e o IC12 para a Beira Interior.<br />
Defender a saúde<br />
No dia 19, durante um encontro com a população, a<br />
CUSPAS – Associação de Utentes dos Serviços<br />
Públicos da União de Freguesias do Alto<br />
Seixalinho, Santo André e Verderena aprovou<br />
uma moção onde se exige «mais médicos, enfermeiros<br />
e profissionais de saúde para o Centro de Saúde de<br />
Santo André».<br />
No documento reclama-se ainda, entre outras<br />
medidas, a «construção do centro de saúde no Alto<br />
Seixalinho, cujo terreno foi cedido pela Câmara do<br />
Barreiro»; que «os utentes de Santo André,<br />
transferidos injustamente para a Unidade de Saúde<br />
Familiar de Santo António, devem regressar, com<br />
carácter urgente, ao Centro de Saúde de Santo André»,<br />
e a «defesa do Centro Hospitalar do Barreiro/Montijo».<br />
Discriminação intolerável<br />
No voto apresentado pelo PCP sobre o Dia<br />
Internacional da Mulher, aprovado no dia 16 por<br />
unanimidade no Parlamento Regional dos Açores, o<br />
deputado Aníbal Pires denunciou a discriminação<br />
intolerável a que são sujeitas as trabalhadoras<br />
açorianas, nomeadamente em termos salariais.<br />
Segundo o eleito do PCP, as mulheres açorianas<br />
recebiam em média, no ano de 2013, menos 89 euros<br />
do que os homens, um fosso que cresce,<br />
paradoxalmente, quanto mais elevadas são as<br />
qualificações e a posição dentro das empresas.<br />
No Dia da Igualdade Salarial, assinalado a 6 de<br />
Março, o Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV)<br />
considerou «completamente inaceitável» que as<br />
mulheres ainda tenham de trabalhar mais de dois<br />
meses do que os homens para conseguirem ganhar o<br />
mesmo. «Estes fenómenos de desigualdade e de<br />
discriminação em função do género contrariam a<br />
evolução social e a luta pela igualdade, e têm de ser<br />
urgentemente eliminados», salienta o PEV.<br />
Fundos comunitários<br />
Bernardino Soares, presidente da Câmara de Loures,<br />
anunciou, no dia 22, que o município pretende<br />
candidatar-se a fundos comunitários para poder<br />
realizar obras – no Caneiro e na Ribeira do Prior<br />
Velho – que minimizem o problema das cheias na<br />
cidade de Sacavém.<br />
Em declarações à Lusa, o eleito do PCP explicou que<br />
essa intenção foi manifestada ao ministro do<br />
Ambiente, tendo a tutela «mostrado abertura» para<br />
que a autarquia avance com a candidatura.<br />
A verba necessária para as duas intervenções, que não<br />
são da competência da Câmara de Loures, ronda os<br />
cinco milhões de euros. «Não nos vamos colocar de<br />
fora de uma solução para um problema com este<br />
impacto. A autarquia nunca irá contribuir com uma<br />
verba inferior a 1,5 milhões de euros», perspectivou<br />
Bernardino Soares, adiantando que o município está já<br />
a trabalhar nos projectos e nas condições para a<br />
candidatura.<br />
CNA apresenta propostas na audição do PCP<br />
A crise do leite<br />
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA)<br />
participou, no dia 21 , numa audição pública,<br />
promovida pelo Grupo Parlamentar do PCP,<br />
sobre a crise do leite.<br />
Na iniciativa, realizada<br />
na Assembleia da República,<br />
João Dinis, dirigente da<br />
CNA, começou por lembrar<br />
que, no dia 14 de<br />
Março, mais de três mil<br />
agricultores, a maior parte<br />
dos quais produtores de<br />
leite, manifestaram-se em<br />
Matosinhos em protesto e<br />
reclamação «perante a mais<br />
grave crise da pecuária nacional<br />
e do subsector do<br />
leite em particular (sem esquecer<br />
a carne suína)».<br />
No protesto, onde desfilaram<br />
mais de 300 tractores,<br />
voltou-se a apresentar<br />
«propostas e reclamações,<br />
que, se tidas na devida<br />
conta pelo Ministério da<br />
Agricultura – entre outros<br />
órgãos de soberania – podem<br />
contribuir para resolver<br />
graves problemas», salientou<br />
João Dinis.<br />
Na sua intervenção, o dirigente<br />
da CNA deu ainda<br />
a conhecer que, hoje, fruto<br />
dos últimos 30 anos de<br />
Política Agrícola Comum<br />
(PAC), existem «pouco mais<br />
de cinco mil» produtores<br />
de leite em Portugal (continente<br />
e Açores), num universo<br />
que chegou a ser de<br />
75 mil.<br />
Tudo isto depois de o<br />
sector do leite ter cumprido<br />
«à risca o receituário do<br />
sistema», uma vez que «organizou-se<br />
e desenvolveu<br />
um sector cooperativo leiteiro<br />
com enorme capacidade<br />
instalada; concentrouse;<br />
modernizou-se, apurou<br />
a genética e a produtividade<br />
dos seus efectivos; investiu<br />
o que tinha e o que<br />
não tinha, e por isso ficou<br />
hipotecado na banca; supostamente<br />
tornou-se “competitivo”»,<br />
ilustrou.<br />
Promover<br />
a produção<br />
nacional<br />
e aumentar o<br />
consumo interno<br />
Propostas<br />
Depois da grande manifestação em Matosinhos,<br />
realizada no dia 14, os produtores voltam a manifestar-<br />
-se em Braga<br />
Produtores manifestam-se<br />
em Braga<br />
A luta continua<br />
Hoje, 31, os produtores de leite e carne voltam<br />
à rua com uma concentração em Braga, frente<br />
à Feira Internacional de Agricultura AGRO.<br />
O protesto, promovido pela Associação<br />
Portuguesa de Produtores de Leite e Carne<br />
(APPLC), tem como objectivo sensibilizar a<br />
população para o consumo de leite e carne<br />
nacional; exigir a regulação pública da<br />
produção de leite no espaço europeu; reclamar<br />
mais fiscalização nos produtos importados;<br />
clamar ao Governo que tome medidas para<br />
salvaguardar a produção nacional.<br />
Em declarações à Lusa, José Lobato,<br />
presidente da APPLC, salientou que, «neste<br />
momento, a crise está instalada» no sector do<br />
leite e carne, que está «a vender o produto<br />
abaixo do custo de produção», numa situação<br />
«insuportável». «Já desapareceu um conjunto<br />
de explorações e daqui a um ano, se não forem<br />
tomadas medidas, muitas outras vão<br />
desaparecer», assegurou.<br />
Na audição, João Dinis<br />
elencou três propostas que<br />
«continuam a ser reclamações<br />
principais» da CNA.<br />
A primeira visa «a reposição<br />
de mecanismos públicos<br />
de controlo da<br />
produção e do mercado»,<br />
como «eram as “quotas<br />
leiteiras” nacionais/<br />
/individuais que a União<br />
Europeia (UE) eliminou<br />
no período entre 2008 e<br />
2015», uma «contingência<br />
que muito contribui para a<br />
difícil situação caracterizada<br />
pela falta de escoamento<br />
do leite e pelos baixos<br />
preços à produção». Neste<br />
sentido, informou que os<br />
preços à produção são, em<br />
média, de 27 cêntimos por<br />
litro de leite, enquanto os<br />
custos atingem os 33 cêntimos,<br />
«pelo que os produtores<br />
estão a perder muito<br />
dinheiro para continuarem<br />
a produzir».<br />
A segundo reclamação,<br />
também dirigida ao ministro<br />
da Agricultura e à UE,<br />
prende-se com a «regulação<br />
– pela via legislativa<br />
– da actividade (especulativa)<br />
dos hipermercados<br />
que promovem<br />
as importações sem controlo<br />
eficaz, que especulam e<br />
esmagam, em baixa, os<br />
preços à produção nacional<br />
de leite e carne (e de<br />
outros factores de produção).<br />
Por último, exige-se o<br />
«combate à especulação<br />
com os preços dos factores<br />
de produção». O<br />
dirigente da CNA salientou,<br />
por isso, a necessidade<br />
de se «considerar a isenção<br />
temporária do pagamento<br />
das contribuições<br />
mensais dos produtores de<br />
leite para a Segurança Social<br />
– e não apenas de um<br />
desconto de 50 por cento<br />
do custo dessas contribuições<br />
mensais» e a «retoma<br />
do desconto para a electricidade<br />
“verde”».<br />
João Dinis considerou,<br />
ainda, um «erro» as ajudas<br />
– pagas pelo Orçamento<br />
comunitário ou pelo Orçamento<br />
nacional – para reduzir<br />
a produção nacional.<br />
Como solução, o dirigente<br />
da CNA defendeu uma<br />
«mudança estratégica», capaz<br />
de «promover a produção<br />
nacional e, com ela,<br />
aumentar o consumo interno<br />
de bens agro-alimentares,<br />
o que implica o controlo<br />
sistemático das importações<br />
desnecessárias<br />
que podem ser restringidas<br />
sem sequer extravasar os<br />
constrangimentos impostos<br />
pelas normas comunitárias».
22 NACIONAL<br />
31 -3-201 6<br />
Porto privatiza limpeza<br />
Negócio ruinoso<br />
A CDU manifestou-se contra a privatização da<br />
limpeza na cidade do Porto, um negócio que<br />
trará prejuízos aos trabalhadores e munícipes.<br />
Sector do táxi<br />
A Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas<br />
e Médias Empresas (CPPME) manifestou preocupação<br />
com o «funcionamento não licenciado e isento de impostos<br />
da multinacional Uber», em concorrência desleal com o<br />
sector do táxi, que é «altamente regulado e taxado».<br />
Em nota de imprensa, divulgada no início do mês, a<br />
CPPME acusa o anterior governo de «cumplicidade por<br />
omissão com a ilegalidade», comportamento que «motivou<br />
a justa revolta do sector do táxi», e recorda que o Instituto<br />
da Mobilidade e dos Transportes (IMT) «reconheceu a<br />
razão que assiste ao sector», tendo afirmado que «os<br />
serviços alegadamente prestados através da empresa<br />
Uber configuram uma violação da legislação específica<br />
dos transportes».<br />
Neste sentido, salienta a CPPME, «têm razões as<br />
associações do sector – a FPT, associada da CPPME, e<br />
a ANTRAL – quando afirmam que a Uber não passa<br />
facturas, não paga impostos, não desconta para a<br />
Segurança Social, não paga o PEC, não paga IRC, nem<br />
IVA», como pagam os empresários do táxi.<br />
De igual forma, os veículos da Uber «não são<br />
inspeccionados especialmente para o desenvolvimento<br />
da actividade de transporte de passageiros», os<br />
trabalhadores «não têm certificado de aptidão e registo<br />
no IMT» e os veículos «não têm seguros especiais com<br />
cobertura alargada como os táxis», nem «são licenciados<br />
para a actividade e os valores cobrados não são alvo de<br />
aprovação junto da Direcção Geral das Actividades<br />
Económicas, como os táxis».<br />
No dia 1, na sequência de declarações do ministro do<br />
Ambiente, que afirmou que a Uber é ilegal e «não é um<br />
operador de transportes», a FPT pediu a suspensão da<br />
multinacional e reclamou o «reforço da fiscalização», que<br />
deverá passar por um aumento das coimas aplicadas à<br />
Uber, aos proprietários das viaturas e aos motoristas.<br />
Resolver problemas<br />
Com a aprovação do Orçamento do Estado para 2016<br />
«estão criadas condições legais e financeiras» para que<br />
«sejam tomadas as medidas necessárias à resolução dos<br />
problemas existentes» na região, defende, em comunicado,<br />
divulgado no dia 23, a Comissão de Utentes da Saúde<br />
do Médio Tejo.<br />
Exige-se, por isso, a «colocação de mais médicos de<br />
família nos cuidados primários/centros de saúde», a<br />
«contratação de mais especialistas para o Centro Hospitalar<br />
do Médio Tejo» e a «reabertura da medicina interna em<br />
Tomar».<br />
Vida activa<br />
O Município da Moita vai aderir à RUTIS – Associação<br />
Rede de Universidades da Terceira Idade. A proposta<br />
foi aprovada por unanimidade na reunião pública da<br />
Câmara, que se realizou no dia 23.<br />
Foram ainda aprovadas, também por unanimidade, as<br />
normas de funcionamento da Universidade Sénior da<br />
Moita, um projecto da autarquia dirigido à população<br />
sénior do concelho que pretende, acima de tudo, promover<br />
o bem-estar social da população, desenvolvendo um<br />
conjunto de actividades para potenciar o intercâmbio de<br />
saberes através do ensino, da formação, do<br />
desenvolvimento social e pessoal, da solidariedade social,<br />
do convívio e do lazer.<br />
A Câmara do Porto aprovou,<br />
no dia 22, a abertura<br />
de um concurso para a<br />
concessão da recolha e<br />
transporte de resíduos indiferenciados<br />
e a limpeza<br />
do espaço público da totalidade<br />
do concelho, mantendo-se<br />
apenas sob responsabilidade<br />
municipal a<br />
recolha selectiva multinaterial<br />
(recicláveis).<br />
Em nota de imprensa, a<br />
CDU considerou estas propostas<br />
«extremamente gravosas»<br />
para a cidade do<br />
Porto e para a sua população,<br />
e lembra que «a concessão<br />
da limpeza em 50<br />
por cento da área da cidade<br />
transformou-se num sorvedouro<br />
de dinheiros públicos<br />
que ultrapassaram,<br />
em muito, os valores anunciados<br />
em termos de valor<br />
base do concurso público<br />
e os próprios valores adjudicados».<br />
«Considerando os valores<br />
orçamentados para<br />
2015 e 2016, caso estes<br />
sejam cabalmente executados,<br />
podemos inferir que<br />
se gastou com a concessão<br />
mais 26,4 milhões de euros<br />
do que inicialmente<br />
previsto e mais 19,2 milhões<br />
de euros face ao adjudicado»,<br />
denunciam os<br />
eleitos do PCP.<br />
«Remake<br />
dos argumentos<br />
outrora<br />
apresentados»<br />
Publicidade enganosa<br />
A coligação Rui Moreira/CDS/PS<br />
apresentou, agora,<br />
uma proposta para a<br />
concessão da limpeza na totalidade<br />
da cidade por cerca<br />
de 10 milhões de euros/ano,<br />
ou seja, um valor<br />
muito próximo daquele que<br />
tem pago anualmente por<br />
50 por cento da área da cidade<br />
(embora incluindo os<br />
recicláveis).<br />
«A forma como a nova<br />
proposta é apresentada, bem<br />
ao jeito de publicidade enganosa,<br />
parece um remake<br />
dos argumentos outrora<br />
apresentados pela anterior<br />
gestão PSD/CDS», acusam<br />
os comunistas, salientando<br />
que o valor base do concurso<br />
«é deliberadamente desfasado<br />
da realidade» e «mais<br />
não visa do que fazer crer<br />
que a privatização dos serviços<br />
de limpeza se traduzirá<br />
em vantagens para o município<br />
que, depois e na prática,<br />
se transformarão na<br />
continuidade de um processo<br />
de sorvedouro dos dinheiros<br />
públicos que serão<br />
pagos pelos munícipes».<br />
Trabalhadores<br />
afectados<br />
A CDU contesta, de igual<br />
forma, o facto de a concessão<br />
não respeitar a maioria<br />
dos trabalhadores afectos à<br />
limpeza urbana, que «deixarão<br />
de exercer funções,<br />
dado que o serviço deixará,<br />
pura e simplesmente, de fazer<br />
parte das competências<br />
municipais» e «nem sequer<br />
está prevista a sua transferência<br />
para o concessionário».<br />
Por outro lado, este «negócio»<br />
corporiza a «destruição<br />
das competências do<br />
município do Porto em matéria<br />
de limpeza urbana».<br />
«A entrega, por oito anos,<br />
da totalidade da limpeza a<br />
privados, significará desmantelar<br />
um serviço e abdicar<br />
dessas competências»,<br />
PEV interroga Governo<br />
O deputado José Luís Ferreira, do Grupo Parlamentar<br />
do Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV), entregou,<br />
há dias, na Assembleia da República, uma pergunta em<br />
que questiona o Governo, através do Ministério da Saúde,<br />
sobre o eventual encerramento das extensões de saúde<br />
de Alcofra, Cambra, Campia e Queirã, face à criação<br />
de uma unidade de saúde familiar (USF) em Vouzela,<br />
distrito de Viseu.<br />
Para os ecologistas, o encerramento destes serviços representa<br />
mais uma dificuldade no acesso destas populações<br />
aos serviços de saúde de proximidade. «No geral,<br />
estas quatro freguesias distam mais de dez quilómetros<br />
ficando o município «nas<br />
mãos do concessionário,<br />
perdendo capacidade num<br />
eventual processo de reversão<br />
da concessão por incumprimento<br />
do concessionário<br />
e dificultando a remunicipalização<br />
do serviço no final<br />
do período da concessão»,<br />
denunciam os eleitos<br />
comunistas.<br />
Empresa municipal<br />
Aprovada foi também, no<br />
dia 22, a constituição de<br />
uma empresa municipal que<br />
assumirá a gestão de resíduos<br />
urbanos e limpeza pública.<br />
«Esta é mais uma proposta<br />
que se traduz numa<br />
incapacidade de lidar com<br />
os serviços municipais e que<br />
visa permitir «agilizar» a intervenção<br />
municipal, designadamente<br />
em matéria de<br />
contratação pública e de<br />
contratação e gestão de recursos<br />
humanos», refere a<br />
CDU.<br />
Ilha de São Jorge<br />
Medidas avulsas na Urzelina<br />
Anteontem, 29, Aníbal Pires, deputado do PCP na<br />
Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores,<br />
apresentou um requerimento questionando o Governo<br />
Regional sobre a obra de protecção da estrada regional<br />
da Urzelina, na Ilha de São Jorge.<br />
Em causa está a destruição de um arco de pedra<br />
basáltica que era um ponto de interesse turístico. Para<br />
além disso, a obra acabou por se resumir à deposição<br />
de grandes quantidades de pedra solta, sem a construção<br />
de muros de suporte ou muralha de protecção, situação<br />
que faz antever novos problemas no futuro, tendo em<br />
conta a forte erosão pela acção do mar naquela zona.<br />
Para o PCP, «a protecção das orlas costeiras é um<br />
trabalho exigente e delicado, pela necessidade de conciliar<br />
a protecção do ambiente natural e a devida segurança<br />
de pessoas e bens, perante os processos de erosão<br />
costeira», o que não é compatível «com intervenções<br />
arbitrárias, pouco fundamentadas tecnicamente e não<br />
discutidas com a população local».<br />
«A exigência ambiental e a necessidade de proteger<br />
as construções e as estruturas têm de ser harmonizadas<br />
através de processos de discussão pública, prudência e<br />
uma abordagem cautelosa, que não se verifica neste<br />
caso», salienta o PCP.<br />
da sede do concelho, apresentando acessibilidades em<br />
termos de transportes públicos muito limitadas e caras,<br />
o que é ainda mais significativo se tivermos em conta<br />
que se trata de uma população muito envelhecida, com<br />
dificuldades de mobilidade e parca em recursos económicos»,<br />
lê-se no texto da pergunta.<br />
Num outro documento, divulgado esta semana, o PEV<br />
interrogou o Executivo PS sobre a falta de manutenção<br />
do parque infantil de Caldas da Felgueira, no concelho<br />
de Nelas, que se encontra numa «preocupante situação<br />
de estado de abandono», que é «susceptível de colocar<br />
em causa a segurança dos seus utilizadores».
31-3-2016<br />
NACIONAL<br />
23<br />
Debate no Porto<br />
No dia 20 de Abril, a Confederação Portuguesa das<br />
Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) vai<br />
realizar um debate/colóquio, às 15 horas, no Auditório de<br />
Inquilinos do Norte de Portugal, no Porto. A iniciativa<br />
conta com as intervenções de Jorge Pisco, vice-presidente<br />
da CPPME, e de Pedro Carvalho, economista, que<br />
abordarão, respectivamente, os temas «Fundos<br />
comunitários – Portugal 2020» e «Fiscalidade e<br />
sustentabilidade das empresas».<br />
Reposição da travessia<br />
A Câmara de Almada tomou conhecimento, no dia 19, que<br />
a Transtejo, empresa concessionária da travessia fluvial<br />
entre Lisboa e Almada, tinha suspendido a ligação<br />
Trafaria/Porto Brandão/Belém.<br />
Dois dias depois, 21, em ofício dirigido ao presidente do<br />
Conselho de Administração da Transtejo, a autarquia<br />
solicitou, formalmente, informação detalhada sobre a<br />
situação relatada pela comunicação social, nomeadamente<br />
no que respeita às razões objectivas e previsão de duração<br />
da suspensão do serviço de que a empresa é<br />
concessionária.<br />
Pelo menos até ao dia 24, a Administração da Transtejo<br />
não forneceu qualquer informação. Neste quadro, a<br />
autarquia exige «a reposição imediata do serviço<br />
interrompido, de modo a fazer cessar os graves prejuízos<br />
que a situação acarreta para as populações e actividade<br />
económica do concelho de Almada».<br />
Muralha a ruir<br />
Rosa Palma, presidente da Câmara de Silves, manifestou<br />
preocupação com a degradação da muralha da cidade, que<br />
no sector Poente está em risco de ruir. Em declarações à<br />
Lusa, no dia 21, deu ainda a conhecer que o município<br />
tem já uma rubrica aberta no orçamento para reabilitar<br />
aquele sector da muralha, que não é suficiente para cobrir<br />
o custo total, pelo que é preciso obter apoio financeiro do<br />
Estado, através da Direcção Regional de Cultura do<br />
Algarve.<br />
Museu reaberto<br />
O Museu Municipal de Arqueologia de Serpa, fechado há<br />
10 anos, reabriu no dia 24, após obras de requalificação<br />
do edifício e de renovação da colecção, num investimento<br />
de um milhão de euros.<br />
As intervenções foram promovidas pela Câmara de Serpa,<br />
em parceria com a Direcção Geral do Património Cultural,<br />
a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, o Museu<br />
Nacional de Arqueologia e o Instituto Português de Museus.<br />
Decisões erradas<br />
Uma «pesada factura», de cerca de 400 mil euros, vai ter<br />
de ser paga às empresas concorrentes do processo de<br />
privatização da água no concelho de Odivelas, denunciam,<br />
em nota de imprensa, os vereadores da CDU na autarquia.<br />
Esta situação deve-se a «decisões erradas» da anterior<br />
gestão PS/PSD. Para os eleitos do PCP, a verba «deveria<br />
ser canalizada para intervir em domínios de competência<br />
municipal onde existem graves deficiências».<br />
Dia Mundial da Água<br />
Promovida pelo Partido Ecologista «Os Verdes» (PEV), no<br />
Dia Mundial da Água, 22 de Março, mais de uma centena<br />
de pessoas participaram numa marcha do Rio Alviela, em<br />
Vaqueiros, símbolo da luta das populações contra a<br />
poluição e em defesa do direito a um bom ambiente e ao<br />
desenvolvimento.<br />
Plano de Investimento<br />
A Comissão para a Defesa da Linha do Oeste vai<br />
promover, no dia 22 de Abril, às 21 horas, no salão nobre<br />
da Junta de Freguesia do Pópulo, nas Caldas da Rainha,<br />
uma sessão pública de debate sobre o Plano de<br />
Investimento na Linha do Oeste, que o actual Governo<br />
anunciou recentemente.<br />
Sessão pública<br />
A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa acolhe,<br />
amanhã, dia 1 de Abril, às 18 horas, na sala 5.2, uma<br />
sessão pública sobre «As relações entre os EUA e Cuba».<br />
A iniciativa, promovida pela Associação de Amizade<br />
Portugal-Cuba, conta com a participação de Johana<br />
Tablada, embaixadora de Cuba em Portugal, Augusto<br />
Fidalgo e Armanda Fonseca Carvalho, respectivamente,<br />
presidentes da Associação e da Mesa da Assembleia da<br />
Associação.<br />
Na Madeira, CDU denuncía objectivos do TTIP<br />
Aumento da exploração<br />
A conclusão e aplicação do TTIP significará<br />
para Portugal e, em particular, para a Região<br />
Autónoma da Madeira, uma acrescida destruição<br />
do aparelho produtivo, alerta a CDU.<br />
As pequenas e<br />
médias empresas<br />
confrontar-se-ão<br />
com mais e<br />
maiores<br />
dificuldades<br />
Em conferência de imprensa,<br />
realizada no dia 22,<br />
no Funchal, Edgar Silva,<br />
membro do Comité Central<br />
do PCP, referiu que os impactos<br />
do Acordo de Parceria<br />
Transatlântica de Comércio<br />
e Investimento, mais<br />
conhecido pela sua designação<br />
em inglês, TTPI (Transatlantic<br />
Trade and Investment<br />
Partnership), serão<br />
«especialmente negativos»<br />
para os produtores agrícolas<br />
da Região Autónoma<br />
da Madeira, nomeadamente<br />
de banana e do vinho,<br />
«produtos de vital importância<br />
para a economia regional,<br />
para o tecido produtivo<br />
e para a subsistência<br />
de muitas famílias».<br />
«Com o TTIP», advertiu<br />
o também responsável pela<br />
Organização Regional da<br />
Madeira, «as pequenas e<br />
médias empresas confrontar-se-ão<br />
com mais e maiores<br />
dificuldades, o que levará<br />
certamente ao encerramento<br />
de muitas delas e,<br />
consequentemente, à destruição<br />
de postos de trabalho,<br />
perda de receita fiscal<br />
e aumento das pressões sobre<br />
a Segurança Social».<br />
O TTIP visa atingir igualmente<br />
os serviços públicos<br />
– como a Saúde, a Educação,<br />
a protecção social ou<br />
o abastecimento de água<br />
–, procurando criar as condições<br />
que permitam a sua<br />
privatização e entrega aos<br />
grandes grupos económicos<br />
e financeiros, nomeadamente,<br />
através da adjudicação<br />
de contratos públicos,<br />
por via das denominadas<br />
parcerias público-privadas,<br />
acompanhada pelo<br />
enfraquecimento das cláusulas<br />
sociais e ambientais<br />
que enquadram estes serviços<br />
essenciais.<br />
«Como a realidade tem<br />
vindo a comprovar, tal terá<br />
um desastroso impacto<br />
na vida dos trabalhadores<br />
e das populações, com a<br />
perda do acesso universal<br />
garantido pelos serviços públicos,<br />
o aumento do preço<br />
e a diminuição na qualidade<br />
do serviço prestado,<br />
a que se acresce a eliminação<br />
de postos de trabalho<br />
e de direitos dos trabalhadores<br />
nestes serviços», observou<br />
Edgar Silva.<br />
Rejeição<br />
Depois de ter apresentado<br />
as razões fundamentais<br />
que sustentam a oposição<br />
ao TTIP, o dirigente comunista<br />
anunciou que a CDU<br />
vai avançar, através dos<br />
seus deputados na Assembleia<br />
Legislativa da Região<br />
Autónoma da Madeira, com<br />
Em função das grandes<br />
transnacionais<br />
O TTIP, que está a ser negociado entre a União Europeia<br />
e os Estados Unidos da América desde Junho de 2013,<br />
tem como objectivo a criação de uma grande área<br />
liberalizada de comércio e investimento, que representará<br />
quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial<br />
e um mercado agregado de 800 milhões de pessoas,<br />
incorporando cerca de 40 por cento do comércio mundial.<br />
A concretizar-se, este acordo significará a criação do<br />
maior espaço de comércio e investimento liberalizado do<br />
planeta, e prevê a eliminação de todas as tarifas<br />
alfandegárias (que em média se situarão actualmente nos<br />
quatro por cento), bem como a remoção de outras<br />
barreiras não tarifárias, como normas constitucionais,<br />
legais ou regulamentares consideradas como susceptíveis<br />
de entravar o denominado livre comércio e investimento<br />
– barreiras que podem ser de natureza jurídica, social,<br />
sanitária, ambiental, técnica ou outra.<br />
O TTIP, ao procurar reduzir e eliminar protecções<br />
existentes e prevenir o surgimento de futuras protecções<br />
face ao comércio de mercadorias e serviços, ao<br />
investimento e à livre circulação de capitais, visa,<br />
fundamentalmente, controlar, determinar e normalizar<br />
em função dos interesses das grandes transnacionais as<br />
leis e regulamentos que enquadram o comércio, as<br />
relações laborais, os serviços públicos, o investimento<br />
público e privado, a segurança alimentar e o ambiente,<br />
entre outras.<br />
a apresentação de um voto<br />
de protesto e com perguntas<br />
à Comissão Europeia,<br />
através dos deputados<br />
do PCP no Parlamento Europeu,<br />
sobre o assunto.<br />
«O TTIP subverte claramente<br />
a Constituição da República<br />
Portuguesa (CRP)<br />
e o próprio regime democrático,<br />
na medida em que<br />
institucionalizaria um regime<br />
jurídico especial para<br />
o poder económico que se<br />
sobreporia e estaria em confronto<br />
com o princípio constitucional<br />
que consagra que<br />
todos são iguais perante a<br />
Lei (artigo 13.º da CRP) e<br />
com o enquadramento constitucional<br />
para o investimento<br />
estrangeiro que estipula<br />
que este deve cingir-se à<br />
“contribuição para o desenvolvimento<br />
do País”, à “defesa<br />
dos interesses dos trabalhadores”<br />
e da “independência<br />
nacional”», destacou.<br />
A conferência de imprensa<br />
contou ainda com a presença<br />
de Ricardo Lume,<br />
deputado na Assembleia<br />
Legislativa da Região Autónoma<br />
da Madeira, e de<br />
Herlanda Amado, dirigente<br />
do PCP.<br />
Ponte vai ligar o Barreiro ao Seixal<br />
A ponte ferroviária que unia o Barreiro ao Seixal<br />
foi derrubada por um barco da Siderurgia Nacional<br />
em 1969 e nunca mais foi recuperada<br />
As câmaras do Barreiro e<br />
do Seixal anunciaram, na segunda-feira,<br />
28, que vão avançar<br />
com uma candidatura a<br />
fundos comunitários para a<br />
construção de uma ponte pedonal<br />
e ciclável entre os dois<br />
concelhos.<br />
«A ponte pedonal e ciclável<br />
irá aproveitar a estrutura da<br />
antiga ponte do Seixal e integra-se<br />
na rede de ciclovias<br />
que temos estado, aos poucos,<br />
a construir no Barreiro», afirmou<br />
o presidente da autarquia,<br />
Carlos Humberto, citado pela Lusa.<br />
O projecto dos dois municípios, de cerca de quatro milhões<br />
de euros, vai concorrer a fundos comunitários e só<br />
irá avançar se garantir financiamento. «Ainda não abriram<br />
os concursos ao Plano de Mobilidade, mas pensamos<br />
que, durante 2016, vão abrir as candidaturas», salientou<br />
o autarca do Barreiro.<br />
Joaquim Santos, presidente da Câmara do Seixal referiu,<br />
por seu lado, que o objectivo<br />
é «devolver as zonas ribeirinhas às<br />
populações». «Este projecto insere-<br />
-se na ideia de trazer o rio para mais<br />
perto das pessoas. Esta ligação vai<br />
unir duas terras com uma ligação<br />
umbilical, há cerca de 50 anos, que<br />
se perdeu com a destruição da ponte<br />
ferroviária que existia», lembrou.<br />
Ambos os autarcas explicaram<br />
que este projecto é autónomo da ligação<br />
rodoviária que tem sido pretendida,<br />
considerando que a mesma<br />
continua a ser «essencial».<br />
«A ponte rodoviária, que se situará<br />
no limite de Santo André, mantém-se como algo muito<br />
importante e estamos a trabalhar para a sua eventual<br />
concretização», disse Carlos Humberto.<br />
«Vamos lutar para que a Administração Central avance<br />
com a ponte rodoviária Barreiro/Seixal e também com o<br />
prolongamento do Metro Sul do Tejo. A ponte rodoviária<br />
e esta pedonal são coisas distintas mas ambas importantes»,<br />
acrescentou Joaquim Santos.
24 31 -3-201 6<br />
EUROPA<br />
Quem semeia ventos<br />
· João Pimenta Lopes<br />
No passado dia 22 de<br />
Março, Bruxelas<br />
acordou ao som de<br />
explosões no átrio de partidas do<br />
Aeroporto Internacional de<br />
Zaventem e na estação de Metro de<br />
Maelbeek. As hediondas acções,<br />
reclamadas a meio da tarde desse<br />
dia pelo autoproclamado Estado<br />
Islâmico, resultaram na morte de<br />
pelo menos 35 pessoas e mais de<br />
três centenas de feridos, e<br />
trouxeram de novo, após os<br />
atentados de Novembro em Paris, o<br />
espectro do terrorismo em solo da<br />
União Europeia. Mais uma vez as<br />
acções desta, como de outras<br />
organizações terroristas, têm lugar<br />
em zonas públicas, tendo como alvos<br />
cidadãos comuns, de forma<br />
aleatória.<br />
Os meios de comunicação social<br />
dominantes alimentam agora a<br />
máquina do medo, que sempre se<br />
aproveita destes momentos para<br />
prosseguir os seus fins e aprofundar<br />
a sua propaganda. Ao longo da<br />
última semana e meia, tem feito uso<br />
à exaustão dos acontecimentos<br />
daquele dia e dos desenvolvimentos<br />
na Bélgica e noutros países como a<br />
França, a Alemanha ou até Portugal.<br />
As buscas, as detenções, as<br />
suspeitas, os casos paralelos que<br />
podem ou não ter alguma ligação,<br />
os sacos e mochilas suspeitos, a<br />
possibilidade de novos atentados, as<br />
grandes operações policiais<br />
transmitidas em directo, as<br />
constantes referências aos «árabes»,<br />
ou «muçulmanos», enchem páginas<br />
de jornais e horas de telejornais.<br />
Uma filosofia do medo que põe cada<br />
cidadão a olhar por sobre o ombro,<br />
promovendo o desconforto e a<br />
desconfiança doutrem, motivada por<br />
traços culturais ou nacionais,<br />
canalizando-o nomeadamente para<br />
os árabes e outras minorias. Uma<br />
filosofia que alimenta a extrema-<br />
-direita fascista, num enquadramento<br />
que lhes é permissivo. Assim se<br />
explicam os acontecimentos em<br />
Bruxelas no domingo, onde as<br />
autoridades permitiram que centenas<br />
de fascistas interrompessem<br />
manifestações públicas de<br />
solidariedade pelos mortos e de<br />
apelo à paz, com agressões e<br />
cânticos racistas.<br />
Das causas do terrorismo, salvo<br />
raras excepções, pouco ou nada é<br />
dito. Só da necessidade de reforçar<br />
de intervir militarmente aqui e ali e<br />
de implementar as medidas<br />
securitárias, mais questionáveis<br />
ainda quando assentes numa<br />
concepção racista, xenófoba e<br />
antidemocrática que a União<br />
Europeia vem aprofundando. Acções<br />
que acelerarão a criação de um<br />
Registo Europeu de Identificação de<br />
Passageiros (ou seja, a recolha e<br />
arquivamento de todas as<br />
informações de viagens e pessoais<br />
dos passageiros aéreos no espaço da<br />
União Europeia), limitações à livre<br />
circulação de pessoas em solo<br />
europeu enquanto que o capital, a<br />
exploração e as grandes<br />
multinacionais se continuam a<br />
«movimentar» livremente. Promove-<br />
-se assim uma gigantesca base de<br />
dados, partilhada, nomeadamente<br />
com os EUA, de todos os cidadãos<br />
europeus que atravessem fronteiras,<br />
criando perfis de cidadãos, com<br />
extensa compilação de dados<br />
pessoais.<br />
E enquanto os jornais se enchem<br />
das investigações, passa de fininho<br />
o agravamento das condições dos<br />
refugiados que tentam chegar à<br />
Europa e as consequências das<br />
criminosas políticas da União<br />
Europeia. Omite-se as condições<br />
degradantes e inimagináveis em que<br />
dezenas de milhares de homens,<br />
mulheres e crianças se concentram<br />
na fronteira com a Macedonia em<br />
Idomeni. Omite-se o encerramento<br />
e transformação dos centros de<br />
«acolhimento» na Grécia em<br />
autênticos campos de concentração<br />
e deportação, onde se criminalizam<br />
refugiados e migrantes. Omite-se a<br />
criminosa acção no mar Egeu, onde<br />
foi aplaudida a presença da NATO,<br />
com tentativas registadas de<br />
afundamento de embarcações por<br />
parte das forças turcas.<br />
Omite-se o papel da Turquia, em<br />
colaboração com o Ocidente, na<br />
violenta repressão do povo curdo,<br />
nos crimes cometidos em Cizre<br />
(autênticos actos de terrorismo de<br />
Estado), nos bombardeamentos na<br />
Síria, no financiamento e apoio ao<br />
Estado Islâmico ou à Jabhat al-<br />
-Nusra (uma facção da Al-Qaeda na<br />
Síria), força que tem igualmente sido<br />
apoiada por Israel no combate ao<br />
Hezbollah (aliados do regime sírio a<br />
combater no terreno),<br />
nomeadamente na fronteira dos<br />
montes Golãs, território que Israel<br />
ocupa há décadas. Como omissos<br />
têm sido os impunes assassinatos do<br />
exército israelita de crianças e<br />
adolescentes palestinianos nos<br />
últimos dias.<br />
Tão pouco tiveram a mesma<br />
cobertura mediática os criminosos<br />
atentados terroristas ocorridos no<br />
Iraque no dia 25, vitimando pelo<br />
menos 30 pessoas e ferindo mais de<br />
90, ou no Paquistão no dia 27,<br />
onde morreram mais de 70 pessoas<br />
e mais de 300 pessoas ficaram<br />
feridas, sobretudo mulheres e<br />
crianças.<br />
A listagem seria interminável dos<br />
grupos e actos terroristas, a que o<br />
imperialismo tem fechado os olhos,<br />
apoiado, promovido, financiado,<br />
alimentado, já para não falar dos<br />
actos terroristas que tão «nobres»<br />
democracias têm imposto.<br />
Terrorismo que como o PCP não se<br />
tem cansado de afirmar serve<br />
sempre os mais obscuros e<br />
reaccionários interesses.<br />
Sejamos claros. Qualquer acto<br />
terrorista que ceife vidas inocentes<br />
indiscriminadamente, merece firme<br />
condenação e forte combate. O<br />
terrorismo só se combate com<br />
políticas de paz, de respeito pela<br />
soberania dos estados, de<br />
cooperação entre os povos, e pela<br />
ruptura com as políticas de direita<br />
que se impõem na Europa.<br />
A juventude tem tido uma presença destacada no combate à regressão dos direitos<br />
Franceses contra Lei do Trabalho<br />
Luta de todos<br />
Trabalhadores e estudantes realizam hoje em<br />
toda a França uma grande jornada de luta pela<br />
retirada do projecto de lei do trabalho, que<br />
inclui greves em todos os sectores.<br />
A retrógrada proposta de<br />
lei foi aprovada, dia 24, em<br />
Conselho de Ministros, numa<br />
versão mais amenizada<br />
em relação ao projecto inicial.<br />
Porém, os recuos do<br />
governo Hollande-Valls, depois<br />
das grandes manifestações<br />
realizadas nas últimas<br />
semanas por sindicatos<br />
e organizações de estudantes,<br />
não alteraram a essência<br />
da reforma laboral,<br />
concebida na raiz para atacar<br />
o horário das 35 horas,<br />
facilitar despedimentos e<br />
agravar a exploração, em<br />
particular, dos jovens trabalhadores.<br />
Por isso, no dia em que<br />
os ministros aprovaram a<br />
lei para posterior debate no<br />
parlamento, quatro centrais<br />
Greves<br />
e manifestações<br />
exigem retirada<br />
do projecto<br />
sindicais e numerosas organizações<br />
estudantis voltaram<br />
a manifestar-se nas<br />
principais cidades francesas,<br />
exigindo a retirada completa<br />
do projecto.<br />
A União Nacional de Estudantes<br />
de França estimou<br />
em 150 mil o número de<br />
jovens que participaram nas<br />
acções de dia 24. Em Paris,<br />
Nantes, Rouen, Lyon,<br />
Grenoble, Besançon, Bordéus<br />
ou ainda Marselha as<br />
ruas encheram-se de protestos<br />
e palavras de ordem<br />
Desigualdade no Reino Unido<br />
Alarga-se fosso<br />
intergeracional<br />
contra a «Lei Khomri», nome<br />
da ministra do Trabalho,<br />
Myriam El Khomri, responsável<br />
pelo diploma.<br />
Desta vez, porém, a pressão<br />
dos contingentes policiais<br />
resultou em confrontos<br />
violentos e dezenas de<br />
detenções. As câmaras de<br />
televisão registaram imagens<br />
chocantes de uso desproporcionado<br />
da força contra<br />
adolescentes. O próprio<br />
ministro do Interior, Bernard<br />
Cazeneuve, foi forçado<br />
a reconhecer os «excessos»<br />
policiais e a anunciar<br />
a abertura de uma investigação,<br />
prometendo sanções<br />
adequadas.<br />
Para hoje, 31, está anunciada<br />
uma jornada de luta<br />
ainda mais ampla do que a<br />
de dia 9, data em que mais<br />
de meio milhão de trabalhadores,<br />
estudantes e reformados<br />
repudiaram a ofensiva<br />
contra os direitos laborais.<br />
A desigualdade social e de oportunidades<br />
entre as novas e as velhas gerações<br />
acentuou-se nos últimos anos e ameaça<br />
tornar o Reino Unido num país «permanentemente<br />
dividido».<br />
A conclusão é da Comissão para a Mobilidade<br />
Social e a Pobreza Infantil, uma<br />
entidade governamental, que acompanha<br />
as questões sociais.<br />
O seu presidente, Alan Milburn, alertou<br />
para a gravidade da situação, apelando<br />
ao governo que tome medidas urgentes<br />
no sentido de dar mais oportunidades<br />
aos jovens no acesso à educação, ao mercado<br />
de trabalho e à habitação.<br />
Na apresentação do estudo, Milburn,<br />
antigo ministro trabalhista, salientou que<br />
a ideia de que as novas gerações teriam<br />
uma vida melhor do que as anteriores «é<br />
parte da trama que unia a sociedade no<br />
seu conjunto».<br />
Porém, o relatório da Comissão, que incluiu<br />
uma sondagem de opinião, mostra<br />
que é o contrário que está a ocorrer.<br />
Um quinto dos inquiridos receia que o<br />
Estado invista cada vez menos em serviços<br />
públicos, criando maiores dificuldades<br />
aos jovens. E a maioria (54%) considera<br />
que a vida dos jovens será pior dos<br />
que a dos seus pais e avós, contra apenas<br />
20 por cento que se manifestam optimistas.<br />
«Tanto o nosso relatório como a sondagem<br />
indicam que chegámos a um ponto<br />
crítico, e se estas tendências se mantiverem<br />
tornar-nos-emos uma nação permanentemente<br />
dividida».<br />
Milburn salientou ainda que menos de<br />
metade dos jovens britânicos tem recursos<br />
para aceder a habitação própria. A<br />
chamada «Geração Y» ou «Geração do<br />
Milénio», jovens que nasceram entre os<br />
anos 80 e 2000, tem de fazer face a propinas<br />
universitárias muito mais elevadas<br />
do que as gerações anteriores, altos preços<br />
da habitação e uma carestia de vida<br />
sem precedentes.<br />
Nos últimos 30 anos, os jovens deixaram<br />
de ser pessoas bem remuneradas,<br />
com recursos para comprarem casa e constituírem<br />
família, e tornaram-se «parentes<br />
pobres» da sociedade.
31 -3-201 6 EUROPA<br />
25<br />
Fusão<br />
na banca<br />
italiana<br />
Os bancos italianos Banco<br />
Popolare e Banca Popolare<br />
di Milano acordaram, dia<br />
24, fundir-se para criar o<br />
terceiro maior grupo<br />
bancário do país, a seguir<br />
ao Unicredit e Intesa<br />
Sanpaolo.<br />
A operação surge na<br />
sequência do acordo entre<br />
o governo italiano e a<br />
Comissão Europeia que<br />
permite ao Estado ajudar<br />
a banca a fazer face ao<br />
grande volume de crédito<br />
malparado, num montante<br />
de 200 mil milhões de<br />
euros, o qual pesa sobre a<br />
economia.<br />
O novo colosso bancário<br />
conta com activos avaliados<br />
em 170 mil milhões de<br />
euros, cerca de 25 mil<br />
trabalhadores e perto de<br />
quatro milhões de clientes,<br />
detendo quotas de mercado<br />
entre os dez e os 15 por<br />
cento, nas regiões mais<br />
ricas de Itália.<br />
Credit Suisse<br />
acelera<br />
reestruturação<br />
O Credit Suisse, o segundo<br />
maior banco helvético,<br />
anunciou, dia 21, o<br />
alargamento do programa<br />
de reestruturação, com<br />
vista a reduzir custos no<br />
montante de 3,9 mil<br />
milhões de euros até 2018.<br />
Entre outras medidas, a<br />
instituição prevê a<br />
supressão de mais dois mil<br />
postos de trabalho na sua<br />
divisão Global Markets,<br />
elevando para seis mil o<br />
número de empregos<br />
extintos desde Outubro<br />
passado.<br />
O emagrecimento passa<br />
pela redução da sua<br />
presença nos mercados do<br />
continente americano e<br />
europeu. Após ter registado<br />
prejuízos em Fevereiro<br />
último, o banco pretende<br />
assim «resistir às difíceis<br />
condições de mercado».<br />
Polónia recusa<br />
refugiados<br />
A primeira-ministra da<br />
Polónia, Beata Szydlo,<br />
afirmou, dia 23, que o país<br />
não vai aceitar refugiados<br />
ao abrigo do mecanismo<br />
europeu de repartição de<br />
candidatos a asilo.<br />
A governante declarou que,<br />
depois dos atentados<br />
ocorridos na véspera<br />
em Bruxelas, «somos<br />
obrigados, antes de tudo,<br />
a velar pela segurança dos<br />
nossos cidadãos»,<br />
considerando que entre os<br />
migrantes «também há<br />
terroristas».<br />
Antes, o governo polaco<br />
tinha aceitado receber<br />
cerca de sete mil<br />
refugiados.<br />
ONG condenam acordo entre UE e Turquia<br />
Expulsão injusta e desumana<br />
Um conjunto de organizações que prestavam<br />
auxílio aos refugiados na Grécia decidiram<br />
suspender a sua actividade na sequência do<br />
acordo entre a União Europeia e a Turquia.<br />
O acordo com a Turquia,<br />
subscrito, dia 20, pelos<br />
chefes de Estado e de Governo<br />
da União Europeia<br />
com o governo de Ancara,<br />
transformou os campos de<br />
passagem de refugiados em<br />
campos de «detenção», segundo<br />
considerou o Alto<br />
Comissariado das Nações<br />
Unidas para os Refugiados<br />
(ACNUR).<br />
Na nova situação, a agência<br />
da ONU foi a primeira<br />
a suspender a colaboração<br />
com as autoridades europeias.<br />
«Não vamos trabalhar<br />
em centros de detenção.<br />
Os refugiados estão<br />
retidos, o que é contrário<br />
à nossa política, pelo que<br />
não vamos ajudar a identificá-los<br />
e a registá-los»,<br />
declarou, dia 22, a porta-<br />
-voz do ACNUR, Melissa<br />
Fleming.<br />
Seguiram-se os Médicos<br />
Sem Fronteiras, o Comité<br />
Internacional de Socorro<br />
e o Conselho Norueguês<br />
para os Refugiados, entre<br />
outras organizações que<br />
Detenções<br />
arbitrárias<br />
violam normas<br />
internacionais<br />
recusaram ser «instrumentalizadas<br />
para operações<br />
de expulsões massivas» e<br />
tornarem-se «cúmplices de<br />
um sistema injusto e desumano».<br />
Posição semelhante assumiu<br />
a organização Médicos<br />
do Mundo, para a qual<br />
o acordo com a Turquia representa<br />
a «sentença de<br />
morte da Convenção de<br />
Genebra», que estabelece<br />
os direitos dos refugiados.<br />
No mesmo sentido pronunciou-se<br />
a ONG Save the<br />
Children, ao anunciar a<br />
suspensão da sua presença<br />
em vários centros de refugiados<br />
nas ilhas gregas.<br />
A organização deixou claro<br />
que não pretende participar<br />
«num sistema que<br />
inclui detenções ilegais e<br />
injustificadas de crianças<br />
e famílias que chegam à<br />
Grécia».<br />
As novas regras levaram<br />
a ONG Better Days For<br />
Moria (BDFM), criada expressamente<br />
para auxiliar<br />
migrantes chegados à ilha<br />
grega de Lesbos, a abandonar<br />
o local.<br />
Durante quatro meses os<br />
voluntários acolheram milhares<br />
de pessoas que precisavam<br />
de ajuda. Mas na<br />
última semana tudo mudou.<br />
O centro de registo<br />
de Moria transformou-se<br />
numa prisão. Enclausurados,<br />
os migrantes já não<br />
podem aceder às instalações<br />
da BDFM.<br />
A ilegalidade do procedimento<br />
foi denunciada pelo<br />
Alto Comissário das Nações<br />
Unidas para os Direitos<br />
Humanos, Zeid Ra'ad<br />
Al Hussein.<br />
O responsável máximo<br />
da ONU pelos direitos humanos<br />
manifestou-se, dia<br />
24, muito preocupado com<br />
a «detenção arbitrária de<br />
imigrantes e refugiados»,<br />
incluindo crianças, sublinhando<br />
que se trata de<br />
uma «prática que viola uma<br />
série de normas internacionais».<br />
Os centros de recepção na Grécia transformaram-se em locais de detenção de migrantes<br />
Indiferença<br />
e repressão<br />
Recorde-se que o acordo<br />
UE-Turquia, em vigor<br />
desde dia 20, determina<br />
que todos os recém-chegados<br />
à Grécia sejam deportados<br />
para a Turquia, cabendo<br />
a este país recambiá-los<br />
para os respectivos<br />
países de origem.<br />
A ordem foi implacavelmente<br />
cumprida sem qualquer<br />
prazo de tolerância.<br />
Ainda a tinta não tinha secado<br />
e já as autoridades<br />
turcas haviam detido e expulsado<br />
30 afegãos requerentes<br />
de asilo, segundo<br />
denunciou John Dalhuisen,<br />
director-adjunto do programa<br />
Europa e Ásia da Amnistia<br />
Internacional.<br />
Indiferentes às dezenas<br />
de milhares de migrantes<br />
que se encontram encurralados,<br />
vários países europeus<br />
anunciaram o reforço<br />
dos efectivos para o<br />
contingente do Frontex e<br />
para a Agência Europeia<br />
de Asilo. Também não faltarão<br />
meios para expulsar<br />
migrantes do espaço europeu.<br />
Mas ao mesmo tempo<br />
que se fecham as rotas no<br />
Leste e se aperta a vigilância<br />
no mar Egeu, centenas<br />
de milhares de migrantes<br />
concentram-se no Norte da<br />
Líbia, aguardando uma<br />
oportunidade para tentar a<br />
travessia em direcção a<br />
Lampedusa.<br />
De acordo com o ministro<br />
francês da Defesa, Jean-Yves<br />
Le Drian, cerca<br />
de 800 mil refugiados estarão<br />
actualmente na costa<br />
da Líbia em busca de<br />
transporte.<br />
O mesmo responsável<br />
adiantou, dia 24, que a UE<br />
tenciona enviar navios de<br />
guerra para impedir embarcações<br />
com migrantes<br />
de realizarem a travessia a<br />
partir da Líbia.<br />
Irlandeses comemoram<br />
centenário da revolta da Páscoa<br />
Centenas de milhares de pessoas<br />
encheram, dia 27, as ruas de Dublin,<br />
para marcar o centésimo aniversário<br />
da Revolta da Páscoa, levantamento<br />
popular contra o domínio<br />
britânico que abriu caminho para<br />
a independência da Irlanda.<br />
As comemorações marcaram os<br />
seis dias da revolta na semana santa<br />
de 1916, durante os quais foram<br />
tomados edifícios estratégicos por toda<br />
a capital e declarada a República<br />
Irlandesa.<br />
A data foi assinalada com uma parada<br />
militar, incluindo tanques e aeronaves<br />
militares, e um desfile de<br />
forças de emergência.<br />
O presidente irlandês, Michael Higgins,<br />
deu início às cerimónias colocando<br />
uma coroa de flores na antiga<br />
prisão de Kilmainham Gaol, onde os<br />
britânicos executaram os líderes revolucionários,<br />
e depois outra no General<br />
Post Office, que serviu de quartel-general<br />
dos revoltosos.<br />
Uma banda militar tocou a melodia<br />
«Danny Boy» e foi lida a proclamação<br />
de 1916, declarando «o direito<br />
do povo da Irlanda à propriedade<br />
da Irlanda».<br />
As forças coloniais britânicas esmagaram<br />
a revolta em cerca de seis<br />
dias, mas não conseguiram asfixiar<br />
a luta popular pela independência.<br />
Em 1922 a Irlanda é reconhecida<br />
como Estado livre mas ainda dentro<br />
do império britânico, e depois em<br />
1948 já como república independente<br />
da coroa britânica.<br />
Alemanha<br />
aumenta pensões<br />
O governo alemão<br />
anunciou, dia 21, uma<br />
revalorização das pensões<br />
de reforma, já a partir de<br />
1 de Julho, no valor de<br />
4,25 por cento na parte<br />
Oeste do país e de 5,96<br />
por cento na parte Leste.<br />
Trata-se do maior aumento<br />
relativo dos últimos 23<br />
anos que irá beneficiar<br />
20,6 milhões de<br />
reformados e pensionistas<br />
alemães, segundo declarou<br />
Andrea Nahles, ministra<br />
do Trabalho e Assuntos<br />
Sociais.<br />
Andrea Nahles recordou<br />
que o último aumento<br />
significativo das pensões<br />
teve lugar em 1993,<br />
quando o governo subiu as<br />
prestações em 5,55 por<br />
cento no Oeste e 4,36 por<br />
cento no Leste.<br />
O seu impacto hoje é<br />
todavia maior devido à<br />
reduzida inflação e às<br />
baixas taxas de juro.<br />
De acordo com a ministra,<br />
o aumento resulta da «boa<br />
situação do mercado<br />
laboral, do crescimento da<br />
economia e do aumento<br />
dos salários».<br />
A medida visa ainda<br />
reduzir a diferença que<br />
continua a separar as<br />
pensões no Leste do país,<br />
cujo valor médio passará<br />
de 92,6 por cento para<br />
94,1 por cento das<br />
prestações pagas no Oeste.<br />
Na Alemanha, as pensões<br />
de reforma estão indexadas<br />
à evolução do emprego e<br />
dos salários. Estes últimos<br />
registaram uma subida de<br />
2,5 por cento em 2015,<br />
melhoria que, como<br />
reconhece o gabinete de<br />
estatísticas da Alemanha<br />
(Destatis), em parte se<br />
deveu à introdução do<br />
salário mínimo no país.<br />
Bélgica<br />
bombardeia Síria<br />
O primeiro-ministro belga,<br />
Charles Michel, confirmou<br />
a intenção de o seu governo<br />
enviar brevemente caças<br />
F-16 para bombardear a<br />
Síria, alegadamente para<br />
combater o grupo terrorista<br />
«Estado Islâmico».<br />
O governante fez o anúncio,<br />
dia 25, após um encontro<br />
com o secretário de Estado<br />
dos EUA, Jonh Kerry,<br />
acrescentando que o<br />
mandato da missão será<br />
discutido no parlamento.<br />
A Bélgica está em estado<br />
de alerta máximo desde dia<br />
22, na sequência das<br />
explosões no aeroporto de<br />
Zaventem e no Metro de<br />
Bruxelas, que fizeram 31<br />
vítimas mortais e cerca de<br />
300 feridos.<br />
As autoridades encerraram<br />
as fronteiras com a França<br />
e reforçaram o controlo das<br />
instalações nucleares.
2 6 INTERNACIONAL<br />
31 -3-201 6<br />
•<br />
Desafio crucial<br />
em Cabo Verde<br />
Em Cabo Verde, o<br />
MpD (Movimento<br />
para a Democracia),<br />
de direita, ganhou as recentes<br />
eleições legislativas e vai governar<br />
nos próximos cinco anos.<br />
O PAICV (Partido Africano da<br />
Independência de Cabo Verde), do<br />
primeiro-ministro José Maria<br />
Neves, que governou durante três<br />
legislaturas, passa à oposição.<br />
O MpD venceu em todas as ilhas,<br />
obteve 54 por cento dos votos e<br />
elegeu 40 deputados, de um total<br />
de 72 do parlamento cabo-<br />
-verdiano. O PAICV, com 38 por<br />
cento dos votos, assegurou 29<br />
assentos e a UCID (União Cabo-<br />
-verdiana Independente e<br />
Democrática) conquistou três<br />
mandatos, mais um do que nas<br />
anteriores eleições, todos pelo<br />
círculo de S. Vicente. Os três<br />
outros partidos concorrentes<br />
obtiveram no conjunto 0,5 por<br />
cento da votação e não elegeram<br />
qualquer representante. A taxa de<br />
abstenção subiu para 34 por cento,<br />
num universo de 350 mil eleitores<br />
inscritos.<br />
A líder do PAICV desde finais de<br />
2014, Janira Hopffer Almada,<br />
declarou que «respeita o veredicto<br />
do povo», garantiu que fará uma<br />
«oposição construtiva» e anunciou<br />
que a direcção do partido analisará<br />
em breve os resultados eleitorais.<br />
O presidente do MpD, Ulisses<br />
Correia e Silva, um gestor de 54<br />
anos, será o próximo primeiro-<br />
-ministro e tomará posse em Abril.<br />
Antigo secretário de Estado e<br />
ministro das Finanças de governos<br />
dos anos 90 e autarca da Praia até<br />
há poucos meses, promete fazer<br />
crescer a economia sete por cento<br />
ao ano, criar 45 mil postos de<br />
trabalho durante a legislatura,<br />
alargar o ensino obrigatório até ao<br />
12.º ano, tornar o Estado «mais<br />
eficiente e menos gastador».<br />
Já depois das eleições, numa<br />
entrevista à televisão estatal, citada<br />
pelo Expresso das Ilhas, o novo<br />
chefe do governo explicou que<br />
pretende «criar todas as condições<br />
para um bom ambiente de<br />
negócios, para estimular o<br />
investimento privado interno e<br />
atrair o investimento externo, para<br />
termos impostos baixos». Para<br />
concretizar tais objectivos, conta<br />
com a ajuda divina: «Peço a Deus<br />
todos os dias para não ser atingido<br />
pela doença do poder, porque às<br />
vezes o poder adoece as pessoas.<br />
Ter os pés no chão, saber que<br />
estou a prestar um serviço público<br />
ao meu país, que eu vou governar<br />
para todos os cabo-verdianos, que<br />
eu vou governar com sentido de<br />
integração, de coesão e vou criar<br />
todas as condições para que os<br />
cabo-verdianos sejam realmente os<br />
actores e beneficiários do<br />
desenvolvimento».<br />
Embora tenham apresentado<br />
Carl os Lopes Perei ra<br />
O<br />
programas eleitorais com poucas<br />
diferenças, o PAICV está filiado na<br />
Internacional Socialista e o MpD<br />
na Internacional da Democracia do<br />
Centro (IDC), associada ao Partido<br />
Popular Europeu, da democracia<br />
cristã, e que em África integra<br />
partidos como a Unita, de Angola,<br />
a Renamo, de Moçambique, e a<br />
ADI, no poder em S. Tomé e<br />
Príncipe.<br />
Três eleições em 201 6<br />
Os Estados Unidos, onde vivem<br />
milhares de cabo-verdianos,<br />
saudaram as «bem-sucedidas<br />
eleições legislativas de 20 de<br />
Março, que foram uma vez mais<br />
livres e justas». As eleições e a<br />
mudança de poder «reafirmam a<br />
posição de Cabo Verde como um<br />
modelo de democracia em África»,<br />
lê-se numa nota de imprensa do<br />
Departamento de Estado.<br />
Washington, que mantém boas<br />
relações com a Praia, manifestou<br />
vontade de «prosseguir a parceria<br />
com Cabo Verde para fortalecer a<br />
governação, promover o<br />
crescimento económico e o<br />
desenvolvimento e estabelecer uma<br />
cooperação duradoura em matéria<br />
de segurança regional».<br />
Também o presidente da<br />
República de Cabo Verde felicitou<br />
Ulisses Silva. «Venceu a<br />
democracia cabo-verdiana.<br />
Parabéns aos vencedores. Honra<br />
aos vencidos! A democracia<br />
continuou a funcionar e triunfou»,<br />
escreveu nas redes sociais.<br />
Jorge Carlos Fonseca, eleito em<br />
2011 com o apoio do MpD, deverá<br />
apresentar-se a um segundo<br />
quinquénio, nas eleições<br />
presidenciais previstas para o final<br />
deste ano.<br />
O PAICV ainda não escolheu<br />
candidato, mas a imprensa cabo-<br />
-verdiana tem admitido a<br />
possibilidade de José Maria Neves<br />
entrar na corrida – o que o ex-<br />
-líder do partido e primeiro-<br />
-ministro cessante ainda não<br />
confirmou.<br />
Antes das presidenciais, haverá<br />
eleições autárquicas, já que o novo<br />
governo deverá marcá-las para o<br />
Verão e fazer o movimento que o<br />
sustenta beneficiar da dinâmica de<br />
vitória conseguida nas legislativas.<br />
Neste momento, o MpD e os seus<br />
aliados locais controlam 14<br />
municípios e o PAICV tem maioria<br />
em oito câmaras.<br />
As eleições de 2016 constituem,<br />
assim, um desafio crucial para o<br />
PAICV, herdeiro do legado<br />
histórico da luta de libertação<br />
nacional na Guiné-Bissau e em<br />
Cabo Verde dirigida por Amílcar<br />
Cabral. E que governou com<br />
reconhecido êxito um total de 30<br />
dos 40 anos do Cabo Verde<br />
independente, fruto dessa luta.<br />
Guerra no Iémen<br />
Milhares pela paz<br />
A capital do Iémen foi palco de uma gigantesca<br />
manifestação contra a intervenção militar<br />
saudita quando se cumpre um ano sobre a<br />
agressão.<br />
protesto em defesa da<br />
paz realizado em Sanaa,<br />
dia 26, foi convocado pelo<br />
partido do ex-presidente<br />
Ali Saleh, que aproveitou<br />
a ocasião para fazer<br />
uma rara aparição pública<br />
nos últimos meses. Ao seu<br />
lado estiveram altos responsáveis<br />
das milícias hutí,<br />
entre as quais o seu líder,<br />
que acusam a coligação<br />
liderada pela Arábia<br />
Saudita de promover um<br />
genocídio no país.<br />
De acordo com as Nações<br />
Unidas, a guerra no<br />
Iémen já provocou 6300<br />
mortos, mais de metade<br />
(3218) civis. A direcção<br />
«rebelde», por seu lado,<br />
calcula em quase nove mil<br />
o número de vítimas civis<br />
em resultado da agressão<br />
saudita, entre as quais cerca<br />
de 2800 crianças e mulheres.<br />
Dezenas de instalações<br />
hospitalares, incluindo<br />
algumas operadas por<br />
organizações humanitárias<br />
internacionais, foram atingidas<br />
pelos bombardeamento<br />
da aviação de Riade.<br />
Caças bombardeiros sauditas<br />
sobrevoaram a manifestação<br />
de sábado, sem<br />
no entanto conseguirem<br />
desmobilizar a multidão.<br />
Quando se cumpre um<br />
ano sobre o início da campanha<br />
bélica no território,<br />
Quase nove mil<br />
civis foram<br />
mortos pelos<br />
bombardeamentos<br />
sauditas<br />
Tribunal angolano<br />
dita sentença<br />
O Tribunal Provincial de Luanda condenou<br />
os 17 cidadãos angolanos, que estão<br />
a ser julgados desde Novembro passado,<br />
a penas que vão dos dois a oito anos<br />
e seis meses de prisão, pelos crimes, entre<br />
outros, de actos preparatórios de rebelião<br />
e associação de malfeitores. A defesa<br />
e o Ministério Público anunciaram<br />
que iriam apresentar recurso para o Tribunal<br />
Supremo de Angola.<br />
Face à instrumentalização deste processo<br />
em Portugal, o PCP, reafirmando a defesa<br />
do direito de opinião e manifestação<br />
e dos direitos políticos, económicos e sociais<br />
em geral, tem sublinhado a importância<br />
do respeito pela soberania da República<br />
de Angola, do direito do seu povo<br />
a decidir – livre de pressões e ingerências<br />
externas – o seu presente e futuro,<br />
incluindo da escolha do caminho para a<br />
superação dos reais problemas de Angola<br />
e a realização dos seus legítimos anseios<br />
Ṙeiterando a defesa dos direitos e garantias<br />
dos cidadãos angolanos – e não<br />
se pronunciando sobre as motivações dos<br />
o presidente Abd Hadi -<br />
reconhecido pela Arábia<br />
Saudita, onde se refugiou<br />
aquando da tomada da capital<br />
pelos que o contestam,<br />
considerou, por seu<br />
lado, que o país «está muito<br />
mais seguro» desde o<br />
início da intervenção armada<br />
Ḋia 25, três atentados<br />
suicidas atribuídos ao autoproclamado<br />
Estado Islâmico<br />
fizeram 22 mortos no<br />
Iémen. Dois dias antes, os<br />
EUA afirmaram ter liquidado<br />
dezenas de combatentes<br />
e destruído um campo<br />
de treino supostamente<br />
instalado no território pela<br />
Al-Qaida na Península Arábica.<br />
Tais acontecimentos<br />
não parecem perturbar a<br />
apreciação de Hadi, que a<br />
partir de Riade fez ainda<br />
saber que «será concluída<br />
uma marcha triunfal para<br />
libertar todo o país».<br />
De paz e não de guerra,<br />
falou, ao invés, Ali Saleh,<br />
que na iniciativa de massas<br />
ocorrida em Sanaa garantiu<br />
que «as nossas mãos<br />
continuam estendidas para<br />
uma paz que traga justiça<br />
à população iemenita<br />
(…), a paz que vai estabelecer<br />
um futuro seguro para<br />
o nosso povo e para a<br />
nossa pátria», disse, citado<br />
pela Lusa.<br />
O ex-presidente defende<br />
«um diálogo directo com a<br />
Arábia Saudita» mas rejeita<br />
liminarmente deixar o<br />
poder a Hadi, que qualifica<br />
de «traidor». Não é claro<br />
se o recomeço das negociações<br />
de paz agendadas<br />
para o dia 18 de Abril,<br />
no Koweit, sob a égide das<br />
Nações Unidas, será nos<br />
moldes propostos por Ali<br />
Saleh. Aparentemente seguro<br />
é que ambas as partes<br />
em conflito se vão abster<br />
de combates a partir do<br />
dia 10 do próximo mês.<br />
Ao fim de 12 meses de<br />
guerra, todas as carências<br />
no Iémen foram agudizadas.<br />
Cerca de 80 por cento<br />
dos iemenitas (20 milhões<br />
de pessoas) dependem<br />
total ou parcialmente<br />
de ajuda humanitária. Para<br />
além dos já referidos<br />
hospitais, os bombardeamentos<br />
sauditas também<br />
destruíram cerca de mil escolas,<br />
25 mesquitas e 40<br />
monumentos, alguns classificados<br />
pela Unesco como<br />
Património Mundial. O<br />
conjunto das infra-estruturas<br />
– saneamento básico,<br />
energia, entre outras –, encontra-se<br />
severamente afectado.<br />
cidadãos angolanos envolvidos neste processo,<br />
nem sobre a forma como as autoridades<br />
angolanas intervieram no decurso<br />
deste –, o PCP tem igualmente reiterado<br />
que cabe às autoridades judiciais angolanas<br />
o tratamento deste ou de outros<br />
processos que recaiam no seu âmbito, no<br />
quadro do normal funcionamento das<br />
suas instituições e de acordo com a sua<br />
ordem jurídico-constitucional.<br />
Neste sentido, e não esquecendo a longa<br />
guerra de subversão e agressão externa<br />
que foi imposta ao povo angolano e<br />
que tantos sofrimentos e destruição causou,<br />
o PCP tem sublinhado que não acompanha<br />
campanhas que, procurando envolver<br />
cidadãos angolanos em nome de<br />
uma legítima intervenção cívica e política,<br />
visam efectivamente pôr em causa o<br />
normal funcionamento das instituições angolanas<br />
e desestabilizar de novo a República<br />
de Angola, com a invocação de argumentos<br />
e pretextos já utilizados para<br />
justificar a ingerência externa exercida sobre<br />
outros países, nomeadamente no continente<br />
africano.
31 -3-201 6<br />
INTERNACIONAL<br />
27<br />
Argentinos repudiaram ditadura e visita de Obama<br />
Regresso ao passado rejeitado<br />
A visita de Barack Obama e os 40 anos da<br />
instauração da ditadura foram pretextos para<br />
os argentinos contestarem o retrocesso promovido<br />
pelo presidente Mauricio Macri, que<br />
cumpriu cem dias de mandato.<br />
O presidente<br />
dos EUA saudou<br />
o «regresso<br />
da Argentina»<br />
Nos dias 23 e 24 de<br />
Março, coincidindo com a<br />
visita de Barack Obama ao<br />
país e com os 40 anos da<br />
instauração da ditadura na<br />
Argentina (1976-1983),<br />
milhares de pessoas concentraram-se<br />
no centro da<br />
capital, Buenos Aires. O<br />
dia 24 de Março, assinalado<br />
como o dia da Memória,<br />
Verdade e Justiça em<br />
homenagem aos cerca de<br />
30 mil desaparecidos durante<br />
regime fascista liderado<br />
por Rafael Videla, aos<br />
milhares de executados,<br />
detidos ou torturados, e às<br />
crianças retiradas às mães<br />
quando estavam no cárcere,<br />
foi instituído em 2006<br />
pelo então presidente Néstor<br />
Kirchener.<br />
Durante as presidências<br />
de Néstor e Cristina Kirchener<br />
(2006-2015) e em<br />
resultado de medidas tomadas<br />
pelos mandatários,<br />
mais de 630 pessoas foram<br />
julgadas e condenadas por<br />
violações dos direitos humanos<br />
durante a ditadura.<br />
De 1984 a 2006, o número<br />
de processos foram quatro.<br />
No passado mês de Dezembro,<br />
vários presos a<br />
quem são atribuídos crimes<br />
de lesa-humanidade<br />
foram colocados em liberdade<br />
com a complacência<br />
do presidente Maurício Macri.<br />
Nesse sentido, a visita<br />
do presidente dos EUA ao<br />
país, justamente no dia 24<br />
de Março e no contexto de<br />
uma forte conflitualidade<br />
social e contestação à orientação<br />
ultra-reaccionária<br />
do executivo, teve para as<br />
organizações e forças progressistas<br />
e de esquerda<br />
argentinas um significado<br />
simbólico.<br />
Sem perdão<br />
Os argentinos rejeitam o País submisso ao imperialismo norte-americano<br />
Barack Obama procurou<br />
demarcar-se do apoio político<br />
e logístico que os<br />
EUA deram à ditadura ao<br />
prestar homenagem às vítimas<br />
e ao referir timidamente<br />
a violação dos direitos<br />
humanos. Caucionou,<br />
porém, o ensejo de Maurício<br />
Macri de «olhar para o<br />
futuro» e soterrar o genocídio<br />
e o terrorismo de Estado<br />
praticados com o [documentado]<br />
estímulo dos<br />
mais altos responsáveis políticos<br />
de Washington, acusaram<br />
organizações e participantes<br />
na marcha realizada<br />
dia 24 sob a consigna<br />
«sem direitos não há democracia».<br />
Este lema remete, por<br />
outro lado, para a situação<br />
de autêntico regresso ao<br />
passado noutros planos. Os<br />
argentinos não esquecem<br />
e pretendem justiça pelos<br />
crimes cometidos entre<br />
1976 e 1983. Uma sondagem<br />
publicada segundafeira,<br />
28, pelo diário página<br />
12, indica que oito em<br />
cada dez argentinos repudiam<br />
a ditadura, e que 60<br />
por cento dos inquiridos<br />
considera que o actual governo<br />
deve perseguir e julgar<br />
os responsáveis por delitos<br />
contra os direitos humanos.<br />
Reclamam, no entanto,<br />
e com o mesmo vigor, contra<br />
a orientação reaccionária<br />
imposta desde que<br />
Mauricio Macri foi empossado<br />
chefe de Estado, de<br />
que servem de exemplo a<br />
vaga de despedimentos e<br />
a perseguição de trabalhadores<br />
contratados na administração<br />
central e local<br />
(algumas estimativas indicam<br />
que são já mais de<br />
100 mil); a censura de<br />
perspectivas e informação<br />
críticas (suspensão da Senado<br />
TV e de programas<br />
na televisão estatal, anúncio<br />
da retirada do sinal da<br />
Telesurtv); o favorecimento<br />
dos grande capital (derrogação<br />
da retenção de lucros<br />
da exploração mineira<br />
e da agro indústria,<br />
acordo com os fundos especulativos<br />
pela emissão<br />
de mais 15 mil milhões de<br />
dólares de dívida soberana,<br />
levantamento das restrições<br />
à conversão de<br />
moeda nacional em dólares<br />
e à sua exportação); o<br />
fim da subsidiação da electricidade<br />
provocando aumentos<br />
de até 500 por<br />
cento, bem como agravamentos<br />
sucessivos na tarifa<br />
de gás para as famílias<br />
e MPME; a repressão dos<br />
protestos populares e imposição<br />
de tectos salariais,<br />
etc.<br />
Tudo promovido pelo governo<br />
de Mauricio Macri<br />
nos primeiros cem dias, o<br />
qual Barack Obama saudou<br />
como exemplo do «regresso<br />
da Argentina à liderança<br />
regional» e ao seio<br />
da «economia global», e<br />
com quem subscreveu uma<br />
série de acordos que fazem<br />
lembrar os famigerados tratados<br />
de Livre Comércio.<br />
Saara Ocidental reclama solução<br />
Familiares dos presos políticos saaráuis em greve de<br />
fome desde 1 de Março agendaram, para anteontem à<br />
tarde, um protesto frente ao Ministério da Justiça<br />
marroquino para alertar para a situação em que se<br />
encontram os 13 encarcerados. Na sexta-feira, 25,<br />
familiares e amigos dos detidos, alvo de processo após<br />
o desmantelamento violento do acampamento de Gdaim<br />
Izik, em Novembro de 2010, já se haviam manifestado.<br />
A iniciativa dos presos ocorre quando o reino de<br />
Marrocos impossibilita o exercício da Missão das Nações<br />
Unidas (Minurso), tendo como últimos episódios o<br />
encerramento do gabinete de ligação militar em Dakhla<br />
No Brasil, contra o golpe<br />
No rescaldo das grandes acções de massas realizadas<br />
dia 18, sob convocatória de diversas forças políticas e sociais<br />
brasileiras, milhares de pessoas manifestaram-se no<br />
dia 24 em defesa da democracia, contra o golpe articulado<br />
por sectores da direita e em defesa dos direitos dos<br />
trabalhadores.<br />
Em São Paulo, cerca de 30 mil pessoas deram corpo à<br />
maior mobilização do dia. Reunidos no Largo da Batata,<br />
os manifestantes marcharam em seguida até às instalações<br />
da TV Globo, que acusam de estar envolvida na «trama<br />
golpista» e de ter «um histórico de casos que atentam contra<br />
a democracia».<br />
No dia anterior, 23 de Março, as seis principais centrais<br />
sindicais do Brasil reuniram-se em São Paulo num<br />
acto contra a destituição de Dilma Rousseff e de apoio a<br />
Lula da Silva, que esteve presente como convidado.<br />
Entretanto, as estruturas de luta contra o golpe, promovem<br />
hoje, 31, um Dia Nacional de Mobilização sob o lema<br />
«Em defesa da democracia: golpe nunca mais; contra<br />
o ajuste fiscal: por outra política económica; em defesa<br />
dos direitos: contra a reforma da Previdência».<br />
Em nota divulgada após a reunião da sua Comissão Política,<br />
segunda-feira, 28, o Partido Comunista do Brasil<br />
(PCdoB) considerou o protesto agendado para hoje uma<br />
das batalhas decisivas que se aproximam. Outra terá lugar<br />
no próximo dia 9 de Abril com a realização da Assembleia<br />
Popular em defesa da Democracia», em São Paulo.<br />
O PCdoB salienta «a necessidade de ampliarmos cada<br />
vez mais a resistência democrática» e apela a que a mobilização<br />
contra o golpe seja mantida «nas ruas, nas redes,<br />
nas universidades, nas instituições».<br />
Dois pesos, duas medidas<br />
No dia 23, o portal UOL divulgou uma lista apreendida<br />
no âmbito das investigações Lava Jato, em que surgem<br />
os nomes de mais de 200 políticos, de 18 partidos, suspeitos<br />
de terem recebido dinheiro ilícito da construtora<br />
Odebrecht. Entre os nomes divulgados encontram-se os<br />
de destacados golpistas como Aécio Neves, José Serra ou<br />
Eduardo Cunha. Lula e Dilma não constam da lista.<br />
O juiz Sérgio Moro, que não teve pejo em divulgar à comunicação<br />
social escutas ilegais feitas à Presidente da República<br />
– uma conversa telefónica entre ela e Lula da Silva<br />
na véspera da tomada de posse deste como ministro –,<br />
agora decretou o segredo de justiça, alegando «imunidade».<br />
e a expulsão da maioria dos peritos civis internacionais.<br />
O vice-porta-voz da ONU, Farhan Haq, considerou que<br />
sem uma efectiva missão de paz é impossível cumprir o<br />
mandato que lhe está atribuído no território e apelou à<br />
intervenção do Conselho de Segurança (CS).<br />
Acrescem o precedente da expulsão dos mandatados<br />
pela ONU (que a ser seguido por outros países poderia<br />
ocorrer sempre que estes se tornem incómodos,<br />
lembrou Haq), e, por outro lado, o risco de eclosão de<br />
mais graves conflitos entre ocupantes e ocupados.<br />
A Frente Polisário, por seu lado, advertiu para o<br />
perigo de uma escalada militar e apelou ao CS para que<br />
ordene a Marrocos «que recue na sua decisão e<br />
aproveite para convocar as partes à mesa das<br />
negociações para ajustar as modalidades de um<br />
referendo [sobre a autodeterminação do Saara<br />
Ocidental]. Até ao momento, o CS das Nações Unidas<br />
não foi capaz de adoptar uma posição conjunta nos<br />
termos reclamados pela Polisário e pela República<br />
Árabe Saaráui Democrática (RASD).<br />
A tensão entre o governo marroquino e as Nações<br />
Unidas foi desencadeada a propósito da visita do<br />
secretário-geral da ONU aos acampamentos de refugidos<br />
saaráuis na Argélia, bem como a zonas libertadas da<br />
RASD, no início do mês de Março, tendo sido recebido<br />
por milhares de pessoas que reclamaram a<br />
independência.<br />
Ban-Ki-moon aproveitou a deslocação para qualificar<br />
a situação do Saara Ocidental de ocupação, apelou a<br />
Marrocos para que aplique as resoluções das Nações<br />
Unidas sobre o conflito e considerou inaceitável a<br />
tragédia do povo saaráui. Em resposta, o governo de<br />
Marrocos promoveu uma manifestação de insulto a Ban<br />
Ki-moon, em Rabat, levando ao cancelamento da visita<br />
que este previa fazer ao Saara Ocidental ocupado.
28 ARGUMENTOS<br />
3 1 -3 -2 01 6<br />
TEATRO<br />
• José Carlos Faria<br />
ODia Mundial do Teatro, que se celebra<br />
a 27 de Março, foi criado<br />
em 1961 pelo Instituto Internacional<br />
do Teatro, um organismo da UNESCO. O<br />
propósito era naturalmente consagrar a importância,<br />
a visibilidade e o «direito de cidade», político<br />
e social, de que esta forma de expressão artística<br />
O teatro pode dizer-nos tudo<br />
PALAVRAS CRUZADAS<br />
beneficiara logo na sua origem, apesar de, posteriormente,<br />
em determinados períodos históricos,<br />
tal lhe ter sido sonegado. Na Grécia da Antiguidade<br />
Clássica, theatron significava «o sítio de onde<br />
se vê», monumento urbano, portanto, cujo nome<br />
se tornou extensível à designação das formas<br />
que acolhia. A condição imprescindível da presença<br />
do Teatro no coração da Polis está também<br />
patente, por exemplo, no Tratado de Arquitectura<br />
do romano Vitrúvio quando preconizava que<br />
«depois de escolhido o local para o Forum, há<br />
que escolher o local para o Teatro».<br />
O Teatro «feito da mesma matéria com que são<br />
feitos os sonhos», é um simulacro (engendrado<br />
pelo real), uma mentira que fala verdade, projecção<br />
potenciada de alegrias, angústias, prazeres e<br />
anseios que preenchem a vida da gente, atento a<br />
tudo o que o rodeia («o Mundo é um palco» dizia<br />
Shakespeare), premonitório, persuasivo e daí, ao<br />
divertir e ensinar, pela sua capacidade de sedução<br />
e mobilização, alvo das pulsões de censura<br />
por parte da grande Ordem instituída.<br />
Num tempo marcado por dualidades e oposições<br />
– Estado/mercado; público/privado; global/local;<br />
individual/colectivo; inclusão/exclusão<br />
– e com crescente precariedade e insegurança, o<br />
Teatro, ainda e sempre, é capaz de assumir uma<br />
dimensão revolucionária enquanto ruptura transgressora<br />
que destrói as convenções existentes,<br />
promovendo uma transformação profunda apta a<br />
congregar as consciências. O Teatro afirma-se assim<br />
como espaço democrático de Liberdade onde<br />
ela é estrangulada pela «democracia» mediática<br />
de massas. A lei do dinheiro tenta colonizar e<br />
capturar as acções dos homens e o capitalismo a<br />
isso chama-lhe liberdade. Porém, qualquer sociedade<br />
incapaz de reconhecer outro valor senão o<br />
dinheiro divinizado, torna-se um empreendimento<br />
sem cultura, ou seja uma empresa de bárbaros.<br />
O Teatro é pois um meio precioso para que<br />
o desenvolvimento não seja apenas avaliado em<br />
termos abstratos de números gerados pelos negócios<br />
mas sim através do contributo humano, concreto<br />
e sensível, expresso por uma visão autónoma<br />
do mundo.<br />
Perante um poder supranacional cujos instrumentos<br />
são a finança, o controlo das tecnologias<br />
e da produção de informações e conhecimentos,<br />
poder supremo no qual a solidariedade se esvai e<br />
se favorece o impulso para um individualismo feroz<br />
e sem escrúpulos que pode até resvalar para<br />
a ilegalidade, o Teatro contrapõe tendencialmente<br />
uma comunidade de iguais, apetrechados com<br />
as armas duma progressiva capacidade crítica. A<br />
igualdade vai então a par com o conhecimento.<br />
Não esse confinado à elite, mas o direito inalienável<br />
de aceder a um conjunto de bens públicos<br />
fundamentais que são justamente o conhecimento,<br />
a educação e a cultura. Porque o monopólio<br />
do conhecimento pela classe dominante denota<br />
afinal a capacidade de impor uma visão totalizante<br />
e por essa via controlar e submeter os gestos<br />
dos cidadãos. A injustiça criada face ao que<br />
sabe perante o que não sabe, entre aquele que<br />
vê e o que não pode ver, não é menor nem menos<br />
grave do que aquela estabelecida entre o que<br />
tem e o que não tem.<br />
O Teatro é um factor de emancipação<br />
Como lembra o encenador russo Anatoli Vassiliev,<br />
na mensagem deste ano, «o Teatro pode dizer-nos<br />
tudo. (…) Entre todas as artes públicas só<br />
o teatro nos dá aquela palavra que passa de boca<br />
em boca, o gesto que vai de mão em mão, de<br />
corpo para corpo, o olhar nos olhos. O Teatro<br />
não precisa de intermediários para funcionar entre<br />
os seres humanos. O Teatro constitui a parte<br />
mais transparente da luz, (…) ele é a essência da<br />
própria luz brilhando nos quatro cantos do mundo<br />
Ḋo que sem dúvida não necessitamos é de um<br />
teatro do terror quotidiano – seja individual ou<br />
colectivo, do que não necessitamos é o teatro de<br />
cadáveres e sangue nas ruas e praças, nas capitais<br />
e províncias, um teatro falso de choques entre<br />
religiões e grupos étnicos»…<br />
HORIZONTAIS: 1 - O bicho da seda; arrancar, com o sacho, as ervas daninhas. 2 -<br />
2<br />
Combinar; homem que faz ou vende doces. 3 - Sétima nota da escala musical; fruto da<br />
3<br />
cidreira; auroque. 4 - Primeira mulher, mãe da humanidade (Bíbl.); a lama, a camada de<br />
lodo depositada pelas cheias nas margens do rio; fileira. 5 - Elegante; camada gordurosa do<br />
4<br />
leite; o espaço aéreo. 6 - Concede; vir a pertencer. 7 - Aquele; fluido aeriforme; mulher<br />
5<br />
que cria criança alheia; palavra havaiana que designa lavas ásperas e escoriáceas. 8 - Falar<br />
muito baixo; pessoa importante, influente. 9 - Indica lugar, tempo, modo, causa, fim e 6<br />
outras relações; duro; óculo. 10 - O bagaço de que se faz a água-pé; antigamente; contr. da<br />
7<br />
prep. a com o art. def. os. 11 - Bebida alcoólica, proveniente da destilação do melaço;<br />
coisa roubada; graceja. 12 - Asilo ou hospital de leprosos; extremidade aguçada. 13 - 8<br />
Examinar a exactidão de; apregoar ou vender em leilão.<br />
9<br />
VERTICAIS: 1 - Apoio; hospedaria grande e luxuosa; caminhava para lá. 2 - Azeitona;<br />
desaparecer. 3 - Forma antiga de mim; escudeiro; apogeu. 4 - Caixa de madeira, revestida 1 0<br />
de couro cru e com tampa convexa; soltar a voz (o leão); imensidade (fig.). 5 - Irídio (s.q.);<br />
1 1<br />
escrivão público, tabelião; 21.ª letra do alfabeto grego. 6 - Acontecimentos; prestar<br />
juramento. 7 - Aquele que edita; força motriz. 8 - Composição poética de assunto elevado 1 2<br />
e destinada ao canto; antiga possessão portuguesa na costa da Índia; nome próprio<br />
1 3<br />
masculino. 9 - Pêlo comprido do pescoço e da cauda do cavalo, bem como de outros<br />
animais; considerado no conjunto ou em globo. 10 - Campo de cereais; destituído de<br />
cauda. 11 - Lamento; espécie de sofá mais largo do que os vulgares e sem costas; letra grega correspondente a p. 12 - Que não está cozido; abatimento;<br />
conjunto de coisas descritas e enumeradas. 13 - Tempo; fruto da ateira; noroeste (abrev.). 14 - Árvore leguminosa cesalpinácea; grande artéria que<br />
nasce no ventrículo esquerdo do coração e a partir da qual o sangue arterial é conduzido a todo o corpo. 15 - A segunda nota da escala natural;<br />
penhor; fechar (as asas) para descer mais rapidamente.<br />
HORIZONTAIS: 1 - Bombice; sachar. 2 - Aliar; doceiro. 3 - Si; cidra; uro. 4 - Eva; nateiro; ala. 5 - Airoso; nata; ar. 6 - Outorga; obvir. 7 - Os; gás;<br />
ama; aa. 8 - Tugir; magnata. 9 - Em; rijo; luneta. 10 - Lia; outrora; aos. 11 - Rum; roubo; ri. 12 - Gafaria; ponta. 13 - Aferir; leiloar.<br />
VERTICAIS: 1 - Base; hotel; ia. 2 - Oliva; sumir. 3 - Mi; aio; auge. 4 - Baú; rugir; mar. 5 - Ir; notário; fi. 6 - Casos; jurar. 7 - Editor; motor. 8 - Ode;<br />
Goa; Rui. 9 - Crina; global. 10 - Seara; anuro. 11 - Ai; otomana; pi. 12 - Cru; abate; rol. 13 - Hora; ata; NO. 14 - Olaia; aorta. 15 - Ré; arras; siar.<br />
1<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5<br />
Lê e divulga<br />
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31 -3-201 6 ARGUMENTOS<br />
29<br />
UM LIVRO POR MÊS<br />
• Domingos Lobo<br />
Jacarandá, espécie exótica, é<br />
árvore pouco comum na paisagem<br />
do burgo portuense,<br />
como o será no geral do País. Árvore, como<br />
as palmeiras, das nossas errâncias de<br />
medir o tamanho do mundo e o nosso peso<br />
nele. Nostálgicos sinais das lonjuras<br />
perdidas.<br />
Jacarandá é título de livro, estranho e<br />
entranhado título para um livro elaborado<br />
página a página como quem a terra<br />
dura lavra, sobre memórias feridas de um<br />
tempo de temores e sombras; livro vindo,<br />
rumor e febre, das colheitas do medo,<br />
dos dias aziagos, ungido sobre os ossos<br />
de um tempo de pesadelos e assombros,<br />
de palavras mudas ou percutidas em signos<br />
de tribo nas paredes nuas, nos húmus<br />
dos cárceres.<br />
A palavra serena, o peculiar acervo linguístico<br />
de Francisco Duarte Mangas,<br />
poeta de planuras, serras e caminhos áridos,<br />
de transumâncias, de espécies cinegéticas<br />
e animais limpos, a perscrutar o<br />
sentido histórico, na matéria ardente deste<br />
romance, de um tempo de chuvas e de<br />
más colheitas. De crimes e de embustes.<br />
De traições. De medos estribando-se nos<br />
ramos de um Jacarandá metafórico, que<br />
prolonga e suspende, através dos mecanismos<br />
ficcionais, a realidade dos dias<br />
agrestes dos finais dos anos 1930, num<br />
Porto tolhido de medos e de impudência.<br />
Jacarandá avistado, nos desvarios do<br />
medo, através de exígua gelosia nas masmorras<br />
geladas da PVDE da Rua do Heroísmo.<br />
Ramos de serenidade e luz representando<br />
a magia de um mundo outro,<br />
mundo de ventos e vozes, de largos<br />
espaços, da mudança cíclica das estações,<br />
da vida crescendo como todas as flores<br />
do mundo nos seus sinais perenes – vozes,<br />
risos, abraços, um beijo breve.<br />
Noite aqui, diz o preso, sempre, dia é<br />
lá fora, onde o sol alumia e aquece as manhãs<br />
azuis da liberdade quotidianamente<br />
inventada. Como os signos inscritos nas<br />
folhas do jacarandá ondulando ao vento.<br />
Uma cela húmida de bolores e febres,<br />
de um tempo estrumado ao avesso dos<br />
lumes, e nela um homem, pés doridos<br />
das noites de estátua, trambolhos que já<br />
não cabem nos sapatos velhos de tanto<br />
caminho andando, tanta senha e contrasenha<br />
decorada nas tarefas de vencer a<br />
Nos catres da Rua do H eroísmo<br />
Jacarandá, de Francisco Duarte Mangas<br />
noite, os temores do escuro e a cegueira;<br />
uma cela num subterrâneo sinistro. Tempo<br />
de medos e dos mecanismos que o inventam<br />
e percutem; um jacarandá imaginado<br />
para além do verosímil, como a bicicleta<br />
de Luís Veiga Leitão a iludir de<br />
fuga os dias do terror: Tu disseste: olha o<br />
jacarandá florido, fica rente à felicidade.<br />
Porto, anos trinta, ainda os rumores da<br />
Guerra Civil de Espanha a despertar de<br />
vigília os olhos das esquinas; passeiam-<br />
-se pelas ruas, colados à caliça, às rugas<br />
do granito, sombras de fantasmas serão,<br />
de tão esquivas e assustadas, clandestinos<br />
rojos, ou apenas homens sem chão,<br />
apátridas nos tumultos das baionetas dos<br />
lusos Viriatos e dos mouros franquistas;<br />
um punhado que resiste ao sufoco, que<br />
busca o ar lavado dos espaços da dignidade;<br />
uns e outros sabendo que nos subterrâneos<br />
da opressão as moscas crescem<br />
na imundície, sujam o silêncio. Todos a<br />
tentar fugir à tortura da Casa del Campo,<br />
lugar de rituais de iniciação, métodos de<br />
tortura herdados da Idade Média e das<br />
labaredas inquisidoras, bons tempos, pensa<br />
o inspector-chefe António de Faria,<br />
com sórdida placidez dos predadores compulsivos;<br />
métodos de antanho remoçados<br />
MEMÓRIA<br />
31 de Março de 1821<br />
– Fim da Inquisição em Portugal<br />
O Tribunal do Santo Ofício, comummente designado por<br />
Inquisição, foi instituído em Portugal em 1536, no reinado<br />
de D. João III. Visto como uma «nova arma de centralização<br />
régia», que permitiu perseguir e liquidar o crescente poder<br />
dos cristãos-novos considerados pela coroa portuguesa como<br />
uma ameaça, o tribunal eclesiástico tinha oficialmente como<br />
missão inquirir dos desvios da fé católica, das heresias e<br />
práticas pagãs, mas estendeu-se a muitas outras áreas, incluindo<br />
a censura de livros. Os processos, geralmente secretos,<br />
baseavam-se em denúncias, mesmo anónimas, boatos e<br />
suspeições de todo o tipo. Os inquisidores podiam prender,<br />
julgar, castigar, torturar e condenar à morte sem que aos<br />
acusados fosse dada possibilidade de defesa. Durante os seus<br />
285 anos de vigência em Portugal, o Tribunal, considerado<br />
santo nos meios e nos fins, processou dezenas de milhares<br />
de pessoas e condenou milhares à fogueira; muitas outras<br />
morreram na prisão à espera de julgamento. O Tribunal do<br />
Santo Ofício foi extinto um ano depois da vitória de revolução<br />
liberal (1620) por decisão das cortes gerais do reino.<br />
pelos pressurosos ensinamentos das SS e<br />
outros comparsas da mesma fornada.<br />
Ecoam pelas redacções dos jornais, rumores<br />
de crimes vários, principalmente<br />
de um, pelo insólito, inexplicável, inaudito,<br />
o da Rua de Bonjardim. Crime que<br />
o inspector da PVDE, António de Faria,<br />
com a conivência matreira das gazetas,<br />
tenta atribuir a «grupos de malfeitores»,<br />
aos comunistas e a refugiados rojos, enquanto<br />
vai deglutindo postas de pescada<br />
frita, pescada de Vila do Conde e só essa,<br />
tratando os empregados por serviçais<br />
no jeito de desprezo e humilhação que os<br />
serventuários do regime, arvorando poses<br />
feudais, gostavam de exibir perante<br />
os subalternos.<br />
Jacarandá fala-nos de um Porto secreto,<br />
da soturnidade sinistra dos corredores<br />
do medo, de celas subterrâneas onde<br />
o bolor das pedras e das palavras sem<br />
eco habitam, de um tempo de fugas e traições,<br />
de quem, de tão vergastado pelo<br />
absurdo, pelas dores na carne, pelas sevícias<br />
sem nome exercidas sobre frágil<br />
corpo, a deslassar por dentro, se deixa<br />
tolher de estupefacção. Amor e fuga. Crónica<br />
modelar magnificamente contada por<br />
Francisco Duarte Mangas, de um rachado,<br />
de quem não teve, como José Magro<br />
e tantos outros, capacidade de ir para<br />
além da dor, de estar preso por fora, e livre<br />
em mim. Crónica de um tempo de algozes<br />
e de rasteiras cumplicidades, de<br />
predadores viciados nos jogos da insídia<br />
e do logro. Caça ao homem, não ao homem<br />
vulgar, aos que temem os rugidos<br />
do vento, mas ao homem que pensa, age<br />
e se inquieta. Insuportável perigo o de<br />
pensar, sobretudo quando se pensa à margem<br />
das regras impostas pelos manuais<br />
dos inquisidores e da usura que os move.<br />
Quantos homens perdidos nos labirintos<br />
escusos e húmidos das celas da Rua<br />
do Heroísmo – e lembro aqui o depoimento<br />
de José Perafita, que o poeta Papiniano<br />
Carlos nos legou em A Memória<br />
Com Passaporte –, com o olhar febril, magoado,<br />
o sangue derramado pelas práticas<br />
dos torturadores, julgaram ver, na dorida<br />
alucinação que sobreleva os dias e<br />
noites de estátua, um jacarandá a florir,<br />
mágica visão seria de outros espaços, outras<br />
fronteiras da honra, para lá dos muros<br />
da prisão? A quantos, sobressaltados<br />
de temor, surgiu, em exígua janela de<br />
clausura, um jacarandá a florir, essa árvore<br />
exótica de outras lonjuras, espaços<br />
de sol e liberdade.<br />
Jacarandá, árvore de vertigens, espantar<br />
os medos, modo de sonhar a liberdade,<br />
de respirar, de imaginar de árvore/uma<br />
asa 1 . É isso, uma asa a tocar o céu dos limites,<br />
da fuga sonhada e improvável: eu<br />
vi: na parede ao fundo/as árvores voam<br />
e/poisavam na leveza dos pássaros. 2<br />
Tempos bárbaros estes sobre os quais<br />
se debruça a língua de Francisco Duarte<br />
Mangas, língua cerzida a pulso neste livro<br />
maduro, extremo e enxuto. Ainda nele<br />
adivinhamos a prosa de Aquilino e Torga,<br />
esse rumor acre dos espaços da transumância,<br />
de Carlos de Oliveira, no dizer<br />
de Manuel Gusmão, dado que somos<br />
todos ladrões que roubamos a ladrões (Manuel<br />
António Pina); mas esta fala é já outra<br />
e transformada, atrela-se a uma indiscutível<br />
identidade, personaliza-se, é distinta<br />
no substantivo poético que a enforma,<br />
nos tempos e nos modos de dizer a<br />
tirania dos dias ignaros.<br />
A escrita de Jacarandá, este sáfaro, belíssimo<br />
romance de Francisco Duarte Mangas,<br />
ao percorrer um dos períodos de<br />
maior baixeza moral da nossa história recente,<br />
ilidindo nesse fluxo histórico a essência,<br />
numa visão justa, conceptual e esteticamente<br />
inovadora, transporta-nos para<br />
os territórios fermentes da sedução,<br />
através do exacto acervo das palavras com<br />
memória, devolvendo-nos os lanhos, o estupor<br />
de um tempo e, dele, a dignidade<br />
ainda ferida dos seus clamores e infâmias.<br />
Nessa técnica modelar reside o seu<br />
segredo e a sua singularidade: a exímia<br />
fórmula de juntar o rigor poético a uma<br />
exemplar arte narrativa.<br />
1<br />
Verso do poema IV de “Infância”,<br />
do livro A Fome Apátrida das Aves,<br />
de F. D. Mangas – Ed.<br />
2<br />
Modode Ler.<br />
idem<br />
Jacarandá, de Francisco<br />
Duarte Mangas<br />
Edição Teodolito
TELEVISÃO<br />
3 0 3 1 -3 -2 01 6<br />
TVISTO<br />
• Correi a da Fonseca<br />
A estrada<br />
da morte<br />
Atelevisão deu-<br />
-nos a tristíssima<br />
notícia (e como<br />
ela, a televisão portuguesa,<br />
parece gostar delas, das notícias<br />
tristíssimas!): doze portugueses<br />
emigrados tinham morrido a<br />
meio da noite, numa estrada de<br />
França, quando vinham a<br />
caminho de Portugal para aqui<br />
celebrarem a Páscoa junto de<br />
famílias, de amigos, de lugares<br />
para onde a saudade chamava.<br />
Vinham da Suíça, eram treze,<br />
número considerado aziago, mas<br />
o azar que os vitimou não tinha<br />
a ver com crendices antigas mas<br />
sim com as razões ou sem-razões<br />
muito reais e concretas que os<br />
haviam levado a empreender<br />
uma viagem longa em más<br />
condições de segurança. Sabese<br />
que os treze viajavam numa<br />
carrinha com lotação para seis<br />
pessoas, que seguiam dia e noite<br />
sem adequadas pausas para<br />
descanso, que tinham escolhido<br />
uma estrada difícil mas sem o<br />
custo de portagens que uma<br />
autoestrada implicaria. Quanto<br />
ao condutor, sabemos que era<br />
um jovem de dezanove anos sem<br />
habilitações adequadas aquele<br />
tipo de veículo e de condução,<br />
mas é fácil imaginar que havia<br />
sido o condutor possível para<br />
uma aventura pequena mas<br />
muito desejada, também muito<br />
arriscada. Foi o único<br />
sobrevivente da desgraça, mas<br />
não podemos imaginar que<br />
género de difícil sobrevivência<br />
terá ao longo de anos, de toda<br />
a existência que lhe resta e que<br />
poderá ser longa, com a<br />
memória das doze mortes que<br />
resultaram talvez do seu<br />
cansaço, porventura de alguma<br />
inexperiência e de alguma<br />
audácia excessiva, saídas afinal<br />
das suas mãos ainda tão jovens<br />
e já tão duramente marcadas.<br />
Necessário, urgente, justo<br />
Podemos, é claro, fazer o que<br />
tantas vezes é feito nas mais<br />
variadas situações:<br />
responsabilizar as vítimas pelo<br />
que lhes acontece. Neste caso,<br />
perguntarmos porque é que<br />
aquele punhado de emigrantes<br />
portugueses não escolheu,<br />
usando de adequada prudência,<br />
viajar em três carros confiáveis,<br />
de preferência topo-de-gama,<br />
conduzidos por profissionais<br />
que decerto o fariam desde que<br />
bem pagos. Ou optar por outro<br />
meio de transporte, avião ou<br />
autocarro que oferecesse<br />
garantias de segurança. A<br />
resposta, porém, não é difícil<br />
de adivinhar: porque um dia<br />
haviam partido para a Suíça<br />
não apenas para escaparem à<br />
penúria que os rondava ou que<br />
até já os teria capturado, mas<br />
também com o sonho de uma<br />
vida confortável com os filhos a<br />
estudarem e a conseguirem um<br />
emprego bem pago, até com a<br />
miragem da construção de uma<br />
bonita casa em Portugal que<br />
substituísse a velha casa de<br />
onde talvez tivessem partido.<br />
Não se diga que era um<br />
projecto excessivo: futuro para<br />
os filhos, presente sustentável<br />
para os pais, tecto confortável,<br />
velhice com segurança, nada<br />
disto configura alguma ambição<br />
desrazoada e é aliás um cenário<br />
vivido pelas camadas sociais<br />
que não se sentem obrigadas a<br />
emigrar porque se vão<br />
governando muito bem por cá,<br />
felizmente para elas,<br />
infelizmente para os que<br />
indirectamente lhes vão<br />
assegurando a qualidade de<br />
vida. Não seria, pois, um<br />
projecto excessivo, mas era um<br />
projecto exigente, e uma das<br />
prováveis ou indispensáveis<br />
exigências era a de ganhar o<br />
melhor salário possível e dele<br />
gastar o mínimo, arrecadar o<br />
máximo, para que o sonho<br />
mantivesse alguma consistência.<br />
Para isso haviam atravessado a<br />
fronteira, dito adeus a<br />
familiares e lugares a caminho<br />
de um futuro incerto mas na<br />
certeza de um presente que se<br />
tornara insuportável. Nunca<br />
teriam ouvido falar de uma<br />
estrada francesa a que<br />
chamavam «da morte» e que<br />
aliás decerto milhares de outros<br />
percorreram dela saindo<br />
incólumes. O que eles também<br />
não sabiam, como o não sabem<br />
muitos outros que nunca foram<br />
vítimas de acidentes trágicos, é<br />
que muitas vezes a própria<br />
emigração é, quando forçada<br />
pelas circunstâncias, uma<br />
espécie de outra «estrada da<br />
morte» onde morre o mais que<br />
legítimo direito de sobreviver<br />
no país em que se nasceu e aí<br />
ter filhos, tecto, conforto<br />
mínimo e esperança. Sabemolo<br />
muitos de nós. E sabemos<br />
que é necessário e urgente<br />
fechar essa outra estrada, não<br />
apenas para que cesse alguma<br />
hecatombe de portugueses em<br />
estradas francesas mas<br />
sobretudo porque os que<br />
morrem nos fazem falta. E por<br />
isso é necessário e urgente,<br />
além de justo, que haja lugar<br />
aqui para cada um deles.
31-3-2016 AGENDA 31<br />
Alcobaça<br />
– Sábado, 2, às 20h00, jantar<br />
comemorativo do 40.º aniversário<br />
da Constituição, no<br />
Restaurante «O Caçador», Casal<br />
da Areia, Alcobaça, com<br />
Vladimiro Vale, da Comissão<br />
Política do PCP.<br />
Alenquer<br />
– Sábado, 2, às 20h00,<br />
jantar/convívio comemorativo<br />
do 40.º aniversário da Constituição,<br />
organizado pela Célula<br />
do Carregado, nas instalações<br />
do Rancho Folclórico<br />
do Carregado, com Domingos<br />
Abrantes. Há um momento<br />
cultural com poesia e música de<br />
intervenção.<br />
Algarve<br />
– Domingo, 3, às 10h00,<br />
Reunião de Quadros sobre a<br />
40.ª Festa do Avante!, no Salão<br />
da Junta de Freguesia de<br />
Olhão (Praça de Agadir), com<br />
Pedro Lago da direcção da<br />
Festa, e Vasco Cardoso, da Comissão<br />
Política.<br />
Almada<br />
– Sexta-feira, 1, às 15h00,<br />
Encontro com Pescadores na<br />
Costa da Caparica, junto à<br />
Lota, com o deputado Bruno<br />
Dias.<br />
– Sábado, 2, às 10h00,<br />
em Almada, banca para a<br />
Campanha de Fundos da Quinta<br />
do Cabo, mais Avante!, na<br />
Praça MFA, em Almada Ainda,<br />
às 9h30, em Cacilhas, banca<br />
Iniciativas comemorativas<br />
do 95. o aniversário<br />
Almada<br />
– Hoje, 31, às 19h30, almoço/convívio<br />
da Célula da<br />
CMA/SMAS, no Restaurante «O<br />
Laranjinha», Cova da Piedade,<br />
com Paulo Raimundo, da Comissão<br />
Política.<br />
– Sábado, 16, às 12h30, almoço<br />
da Freguesia da Trafaria,<br />
no CT da Trafaria.<br />
Bélgica<br />
– Sábado, 2, almoço na<br />
APEB, Bruxelas, com Paulo<br />
Loya, do CC.<br />
Campo Maior<br />
– Domingo, 10, às 17h00,<br />
lanche/convívio na Sede do<br />
Partido nos Cantos de Baixo,<br />
com João Dias Coelho, da Comissão<br />
Política.<br />
Castro Marim<br />
– Sábado, 2, almoço no Restaurante<br />
«Manel D’Água», em<br />
Castro Marim, com Celso<br />
Costa, do CC.<br />
Castro Verde<br />
– Sábado, 9, às 16h00, promovida<br />
pela Comissão de Freguesia<br />
de São Marcos da<br />
Atabueira, sessão pública no<br />
Centro Cultural de São Marcos<br />
da Atabueira.<br />
Crato<br />
– Domingo, 10, às 13h00,<br />
almoço/convívio, no Recinto de<br />
Festas da Freguesia de Monte<br />
da Pedra, Crato, com João<br />
Dias Coelho, da Comissão Política.<br />
França<br />
– Domingo, 10, almoço<br />
em Nanterre, com o deputado<br />
ao Parlamento Europeu Miguel<br />
Viegas.<br />
Outras reuniões e iniciativas<br />
Fundão<br />
– Sexta-feira, 1, às 20h00,<br />
jantar/convívio, no Restaurante«O<br />
Júlio», com Manuel Rodrigues,<br />
da Comissão Política.<br />
Nisa<br />
– Sábado, 9, jantar/convívio,<br />
na Garagem da União de Freguesias<br />
(na Zona Industrial, ao<br />
lado das bombas da GALP).<br />
Inscrições: 933331981,<br />
932681296.<br />
Óbidos<br />
– Sábado, 2, às 20h00,<br />
jantar, com José Carlos Faria,<br />
da DORLEI.<br />
Ourique<br />
– Sábado, 9, às 13h00, promovido<br />
pela Comissão de Freguesia<br />
de Garvão, almoço no<br />
Café «Nascer do Sol», em Garvão.<br />
Santiago do Cacém<br />
– Sexta-feira, 8, jantar com<br />
trabalhadores da Autarquia de<br />
Santiago do Cacém.<br />
Sesimbra<br />
– Sábado, 2, às 20h00,<br />
jantar promovido pela Organização<br />
das freguesias do Castelo<br />
e Santiago. na Sociedade<br />
Musical Sesimbrense, com<br />
Francisco Lopes, da Comissão<br />
Política.<br />
Setúbal<br />
– Sexta-feira, 1, às 12h45,<br />
almoço, promovido pelo Sector<br />
Sindical da ORS, no CT concelhio<br />
do Seixal, com Paulo<br />
Raimundo, da Comissão Política.<br />
Vila de Rei<br />
– Domingo, 3, às 15h00,<br />
exibição do filme «José e Pilar»,<br />
do cineasta Miguel Gonçalves<br />
Mendes, no Museu Geodesia.<br />
de venda do Avante!, na Praça<br />
Gil Vicente, Cacilhas.<br />
– Sexta-feira, 8, às 15h00,<br />
em Almada, Encontro com<br />
Reformados, no CT Concelhio,<br />
com Fernanda Mateus, da<br />
Comissão Política.<br />
– Sábado, 9, às 10h00,<br />
em Almada, banca para a<br />
Campanha de Fundos da Quinta<br />
do Cabo, na Praça MFA, em<br />
Almada. Ainda, às 15h00, na<br />
Trafaria, plenário sobre o XX<br />
Congresso do PCP, no CT da<br />
Trafaria.<br />
– Sábado, 16, às 10h00, em<br />
Almada, banca para a Campanha<br />
de Fundos da Quinta do<br />
Cabo, na Praça MFA, em Almada.<br />
Ainda, às 14h45, em<br />
Cacilhas, plenário preparatório<br />
da Assembleia da Organização<br />
Concelhia de Almada, com eleição<br />
de delegados, no CT Concelhio,<br />
e, às 16h00, plenário<br />
idêntico no Pragal, no CT do<br />
Pragal<br />
Cascais<br />
– Domingo, 10, às 10h00,<br />
Rali apeado, organizado pela<br />
Comissão de Freguesia de Alcabideche,<br />
no âmbito da campanha<br />
de divulgação da Festa do<br />
Avante!. A prova, que tem início<br />
no CT de Alcabideche, é<br />
seguida, às 13h00, de um almoço,<br />
também neste CT. As<br />
inscrições devem ser feitas até<br />
24 horas antes do início da prova,<br />
nos CT de Alcabideche, Parede<br />
e São Domingos de Rana,<br />
ou para 933430887 (Manuel<br />
Galhofo), 934692225 (António<br />
M. Pereira), ou 967216567<br />
(Francisco Ferrer), e no próprio<br />
dia até 1 hora antes da prova.<br />
Para o almoço as inscrições são<br />
até às 20h00 do dia 7 de Abril.<br />
Elvas<br />
– Domingo, 3, às 16h00,<br />
lanche/convívio no Pavilhão<br />
Multiusos da Terrugem, com<br />
Jerónimo Loios, da DRA.<br />
Entroncamento<br />
– Quinta-feira, 7, às<br />
21h00, plenário, no âmbito da<br />
preparação do XX Congresso<br />
do PCP, no CT do Entroncamento,<br />
com Octávio Augusto,<br />
da Comissão Política.<br />
Guimarães<br />
– Sábado, 2, às 15h00,<br />
plenário de militantes da Zona<br />
de Pevidém, preparatório da<br />
XIV Assembleia Concelhia e<br />
do XX Congresso do PCP,<br />
abrangendo as freguesias de Selho<br />
S. Jorge, Gondar, Serzedelo,<br />
Silvares Selho S. Cristóvão,<br />
Candoso S. Martinho. Candoso<br />
S. Tiago e Mascotelos.<br />
Leiria<br />
– Segunda-feira, 4, Roteiro<br />
de pesca e agricultura,<br />
com a visita de um deputado do<br />
PCP, incluindo encontro com<br />
agricultores em Pombal, Alcobaça<br />
e Bombarral, e um outro<br />
encontro com pescadores e<br />
Sindicato da Indústria Conserveira<br />
em Peniche.<br />
Lisboa<br />
– Hoje, 31, às 14h40, plenário<br />
de Reformados Bancários,<br />
no CT Vitória.<br />
Litoral Alentejano<br />
– Sábado, 2, Alcácer do<br />
Sal: às 15h00, plenário de militantes,<br />
preparatório do XX<br />
Congresso do PCP, no Barrancão,<br />
Alcácer do Sal.<br />
– Domingo, 3, Odemira: às<br />
10h00, reunião e almoço/convívio<br />
em Luzianes, Odemira.<br />
– Sexta-feira, 8, Sines: às<br />
17h30, debate sobre os 40<br />
anos da Constituição, em<br />
CAS, Sines.<br />
Iniciativas<br />
dos Reformados<br />
– Sábado, 2, Alcácer do<br />
Sal, no Mercado Mensal.<br />
– Terça-feira, 5, Alcácer<br />
do Sal: contactos na AURPI-<br />
CAS e Residência AURPICAS,<br />
Alcácer do Sal. Santiago do<br />
Cacém: contactos na Casa do<br />
Povo do Cercal e Centro de Dia<br />
Sonega, Santiago do Cacém.<br />
– Quarta-feira, 6, Santiago<br />
do Cacém, contactos na<br />
Casa do Povo de Alvalade e no<br />
Centro de Dia de Vale d’Água,<br />
Santiago do Cacém.<br />
– Quinta-feira, 7, Santiago<br />
do Cacém: contactos nos<br />
Centros de Dia de Ermidas e<br />
Abelas, Santiago do Cacém.<br />
Alcácer do Sal, contactos na<br />
Santa Casa da Misericórdia de<br />
Torrão, Alcácer do Sal.<br />
Loures<br />
– Segunda-feira, 4, às<br />
20h00, Jantar «Mulheres de<br />
Abril», comemorativo do 40.º<br />
aniversário da Constituição,<br />
no Hotel VIP, Santa Iria de<br />
Azóia, com a deputada Rita<br />
Rato e Bernardino Soares,<br />
presidente da Câmara Municipal<br />
de Loures. Animação cultural<br />
com a fadista Esmeralda<br />
Amoedo. Inscrições: PCP/Santa<br />
iria de Azóia (218018215),<br />
Iria Madruga (219565205),<br />
Dina Góis (933250749 ou<br />
924436553).<br />
Moita<br />
– Hoje, 31, no âmbito da<br />
Campanha Nacional junto<br />
dos Reformados, plenário de<br />
militares reformados da Freguesia<br />
de Alhos Vedros, no CT<br />
de Alhos Vedros.<br />
Oeiras<br />
– Domingo, 3, às 13h00,<br />
convívio de militantes e amigos<br />
da Freguesia de Queijas, no<br />
CT de Queijas.<br />
Via Franca de Xira<br />
– Quinta-feira, 14, às<br />
18h00, plenário de militantes da<br />
Célula da CM/SMAS de Vila<br />
Franca de Xira, preparatório do<br />
XX Congresso do PCP, no CT<br />
de VFX.<br />
Vila Nova de Gaia<br />
– Sexta-feira, 1, às 21h30,<br />
plenário de militantes das organizações<br />
de Canelas, Pedroso,<br />
Perosinho e Serzedo,<br />
na Junta de Freguesia de Perosinho.<br />
– Sábado, 9, às 15h30,<br />
plenário das organizações de<br />
Mafamude, Vilar do Paraíso,<br />
Santa Marinha e São Pedro<br />
da Afurada, no CT de Gaia.<br />
Ainda, às 21h00, plenário das<br />
organizações de Arcozelo e<br />
São Félix da Marinha, na Rua<br />
do Morangal, 148, Arcozelo,<br />
Gaia.<br />
Loures<br />
– Domingo, 3, Jornadas Autárquicas da<br />
CDU na Freguesia de Bucelas, visita às localidades<br />
e contacto com a população:<br />
10h00, Freixial; 14h30, Chamboeira.<br />
URAP<br />
União de Resistentes<br />
Antifascistas Portugueses<br />
Homenagem aos Tarrafalistas<br />
Sábado, 2 de Abril, às 11h00<br />
Romagem ao Mausoléu dos Tarrafalistas,<br />
no Cemitério do Alto de São João<br />
Esta romagem assinala os 80 anos<br />
da chegada da primeira leva de presos<br />
ao Campo de Concentração do Tarrafal<br />
Jerónimo de Sousa<br />
Secretário-geral do PCP<br />
Hoje – 31<br />
18h30 – Lisboa<br />
Reunião Distrital de Quadros do PCP<br />
Sobre o XX Congresso<br />
Com os trabalhadores e o povo,<br />
pela democracia e o socialismo<br />
Casa do Alentejo<br />
Sábado – 2<br />
15h00 – Lisboa<br />
Sessão Política e Cultural Comemorativa<br />
do 40.º Aniversário da Constituição<br />
Fórum Lisboa (Av. Roma, 14)<br />
Terça-feira – 5<br />
17h30 – Lisboa<br />
Sessão Pública<br />
Renegociação da dívida condição para<br />
o desenvolvimento e soberania nacional<br />
Casa do Alentejo<br />
Sábado e Domingo – 9 e 10<br />
X Congresso<br />
da Organização<br />
da Região Autónoma<br />
dos Açores<br />
Com o PCP mais Forte<br />
Construir um Futuro<br />
Melhor para os Açores<br />
Centro Cívico de Santa<br />
Clara, Ponta Delgada<br />
VIII Assembleia da Organização Concelhia<br />
da Guarda<br />
Sábado, 2, às 15h00, no CT de Gonçalo<br />
XXIII Assembleia da Organização<br />
da Célula da Festa do Avante!<br />
Sábado, 9, às 10h30<br />
na Atalaia, Amora, Seixal, na Sala da Comissão<br />
de Campo. (Segue-se almoço/convívio, às 13h00,<br />
no Restaurante de Apoio<br />
VIII Assembleia da Organização<br />
da Freguesia do Laranjeiro<br />
Sábado, 9, às 9h00, no CIRL, Laranjeiro<br />
Seminário<br />
«A União Bancária – um passo mais<br />
na integração capitalista europeia»<br />
GUE/NGL – PCP<br />
Quinta-feira, 7, às 14h30 no Seminário de Vilar<br />
(Rua Arcediago Van Zeller, 50) 4050-621 Porto<br />
com Miguel Viegas, deputado do PCP<br />
ao Parlamento Europeu,<br />
João Ferreira, membro do CC e deputado do PCP<br />
ao Parlamento Europeu<br />
Fábio De Masi, deputado do Die Linke (Alemanha)<br />
ao Parlamento Europeu<br />
Andreas Vyras, membro do CC do AKEL – Chipre<br />
Mads Hadberg, da Aliança Vermelha Verde – Dinamarca<br />
Jaime Toga, membro da Comissão Política do CC do PCP,<br />
Ângelo Alves, membro da Comissão Política do CC do PCP
32<br />
ÚLTIMAS<br />
A TALHE DE FOICE<br />
• Anabela Fino<br />
31-3-2016<br />
Jogo sujo<br />
O seminário luso-brasileiro de Direito que hoje<br />
termina em Lisboa com o debate do sugestivo<br />
tema «Constituição e Crise – A Constituição<br />
no contexto das crises política e económica»<br />
provocou um significativo bruaá nos dois lados<br />
do Atlântico e teve a particularidade de ficar<br />
marcado tanto pelas presenças como pelas<br />
ausências registadas.<br />
Apresentado pelos organizadores como sendo<br />
«puramente académico» e não tendo «dimensão<br />
política», como afirmou o constitucionalista<br />
Jorge Miranda, o evento reuniu na Faculdade<br />
de Direito da Universidade de Lisboa algumas<br />
das figuras mais badaladas da direita política<br />
brasileira que nos últimos tempos se destacaram<br />
na sanha contra a presidente Dilma Rousseff,<br />
o que não deixa de ser curioso.<br />
Não menos sui generis é o facto de uma boa<br />
parte dos distintos participantes que acorreram<br />
a Portugal para debitar sobre Direito<br />
e Constituição estarem indiciados pela Justiça<br />
brasileira por crimes de corrupção, entre outros,<br />
e fazerem parte da clique organizada que<br />
à revelia da Constituição do seu país se propõe<br />
levar a cabo um verdadeiro golpe de estado para<br />
destituir a presidente democraticamente eleita<br />
e contra a qual não impende qualquer acusação<br />
de crime de responsabilidade.<br />
Igualmente peculiar é a data escolhida para este<br />
evento «puramente académico» e sem «dimensão<br />
política», a saber, de 29 a 31 de Março. É difícil<br />
de engolir que com tanto académico e tanto<br />
político concentrado por metro quadrado<br />
a nenhum tenha ocorrido a simbologia da data,<br />
mais a mais estando em debate um tema como<br />
«Constituição e crise»: faz hoje precisamente<br />
52 anos que ocorreu o golpe militar que derrubou<br />
o presidente eleito João Goulart e instaurou<br />
no Brasil uma ditadura militar que durante<br />
21 anos prendeu, matou, torturou, explorou<br />
o povo e cerceou os seus mais elementares direitos.<br />
Há quem acredite em coincidências, é certo, mas<br />
quando nas ruas de São Paulo e de outras<br />
grandes metrópoles os «coxinhas» (nome dado<br />
à burguesia) desfilam – com as bábás a reboque<br />
para lhes tomar conta dos filhos ou levar<br />
a lancheira – aos gritos de «golpe militar»,<br />
mandaria o bom senso, no mínimo, evitar<br />
situações de tão evidente paralelismo.<br />
Prudentes foram o Presidente da República,<br />
Marcelo Rebelo de Sousa, e o líder do PSD,<br />
Passos Coelho, que mal deram com o gato<br />
escondido com o rabo de fora deste dito evento<br />
«puramente académico» e «sem dimensão<br />
política» logo foram tirando o cavalinho da<br />
chuva no respeitante à sua participação,<br />
invocando as sempre oportunas dificuldades<br />
de agenda.<br />
Após quatro derrotas eleitorais sucessivas (2002,<br />
2008, 2010 e 2014), a direita brasileira procura<br />
alcançar através do golpe o que não conseguiu<br />
com o voto popular. O que está em causa não são<br />
os problemas – e muitos são – que Brasil enfrenta.<br />
O que está em causa é um projecto neoliberal que<br />
não olha a meios para atingir<br />
os seus fins. Que alguns portugueses se prestem<br />
ao jogo sujo dos golpistas é no mínimo<br />
lamentável.<br />
Manifestação nacional da juventude<br />
Futuro sem precariedade<br />
A Interjovem/CGTP-IN promove esta tarde, em<br />
Lisboa, uma manifestação nacional que assinala o<br />
Dia da Juventude e constitui a primeira acção de<br />
rua da campanha que vai decorrer nos próximos<br />
quatro anos.<br />
O encontro<br />
está marcado<br />
para as 14h30<br />
no Camões<br />
Anteontem, numa conferência<br />
de imprensa em<br />
que foi chamada a atenção<br />
para os motivos que justificam<br />
uma forte participação<br />
na manifestação de hoje, a<br />
CGTP-IN destacou que «a<br />
precariedade, pelas implicações<br />
que tem na degradação<br />
da qualidade do emprego,<br />
das retribuições, da protecção<br />
social e das reformas,<br />
sendo um problema<br />
dos trabalhadores, particularmente<br />
dos mais jovens, é<br />
simultaneamente um problema<br />
das famílias e da sociedade».<br />
Alarga-se assim o apelo à<br />
participação de todos, nesta<br />
manifestação nacional da<br />
juventude trabalhadora, que<br />
deverá ser também uma demonstração<br />
de solidariedade<br />
intergeracional, como realçou<br />
Arménio Carlos. O Secretário-geral<br />
da CGTP-IN<br />
apresentou aos jornalistas<br />
um documento, intitulado<br />
«Não há futuro com a precariedade.<br />
Os jovens precisam<br />
de estabilidade!», no<br />
qual é feito um retrato da dimensão<br />
actual desta «verdadeira<br />
chaga laboral e social».<br />
A central estima que<br />
os vínculos precários de emprego<br />
atinjam mais de um<br />
milhão de trabalhadores,<br />
número que está a crescer,<br />
sendo que mais de metade<br />
têm menos de 35 anos de<br />
idade.<br />
O que faz falta<br />
«Romper com o modelo<br />
de precariedade e baixos<br />
salários constitui um imperativo<br />
de todos quantos lutam<br />
por um Portugal de progresso<br />
e justiça social», insiste<br />
a Intersindical Nacional,<br />
que defende um conjunto<br />
de medidas e objectivos,<br />
nomeadamente:<br />
– que a cada posto de trabalho<br />
de carácter permanente<br />
corresponda um contrato<br />
de trabalho efectivo;<br />
– a criação de emprego<br />
estável, seguro e com direitos,<br />
que assegure a articulação<br />
da actividade profissional<br />
com a vida pessoal e<br />
familiar, indissociável da valorização<br />
do trabalho e da<br />
dignificação dos trabalhadores;<br />
– a revogação de todas as<br />
medidas gravosas introduzidas<br />
na legislação laboral,<br />
nomeadamente a norma da<br />
caducidade da contratação<br />
colectiva e a reintrodução do<br />
princípio do tratamento mais<br />
favorável;<br />
– a revogação da disposição<br />
legal que permite a contratação<br />
a termo de jovens à<br />
procura do primeiro emprego<br />
e de desempregados de<br />
PCP assinala 40 anos<br />
da Constituição de Abril<br />
Com a presença de Jerónimo de Sousa,<br />
Secretário-geral do PCP, realiza-se, no<br />
próximo sábado, dia 2 de Abril, pelas<br />
15h00, no Fórum Lisboa, uma sessão político-cultural<br />
para assinalar o 40.º aniversário<br />
da aprovação e promulgação da Constituição<br />
da República Portuguesa. Adriana Rocha,<br />
Cláudia Dias, Domingos Lobo, O Grupo Coral<br />
e Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó,<br />
Karma Drums, Luísa Amaro com Alexandre<br />
Branco Weffort, Luísa Basto, Luísa Ortigoso,<br />
Esta luta é de todos, salienta a CGTP-IN<br />
Maria Anadon, MFA – Movimento dos Foles<br />
Arejados, Quinteto Cinco Caminhos, Rita &<br />
o Revólver, e Set, são os artistas que participam<br />
no momento cultural.<br />
Em nota enviada às redacções, o gabinete de<br />
imprensa do PCP sublinha a importância de<br />
«valorizar a Constituição de Abril e os conteúdos<br />
progressistas que mantém, alertar para<br />
as ameaças e atentados constantes de que são<br />
alvo as conquistas e os direitos que nela permanecem<br />
inscritos, e ainda denunciar os perigos<br />
para o regime democrático<br />
de projectos tendentes<br />
para a sua revisão».<br />
A iniciativa é uma de várias<br />
que o Partido está a promover<br />
em torno dos 40 anos do<br />
texto fundamental do nosso<br />
País, em que se incluem o<br />
suplemento sobre a Constituição<br />
neste número do Avante!,<br />
um dossier temático na página<br />
do PCP na Internet, e a edição<br />
de um folheto intitulado<br />
«40.º aniversário da Constituição<br />
– Os Valores de Abril<br />
no Futuro de Portugal».<br />
longa duração, bem como<br />
em outras situações;<br />
– o reforço da actividade<br />
da Autoridade para as Condições<br />
de Trabalho, com<br />
mais meios humanos, técnicos<br />
e jurídicos, com intervenção<br />
e fiscalização mais<br />
eficazes;<br />
– a fiscalização do cumprimento<br />
da legislação dos<br />
apoios ao emprego e medidas<br />
de ocupação (como os<br />
estágios e os contratos emprego-inserção,<br />
usados para<br />
substituir postos de trabalho<br />
no sector privado e na Administração<br />
Pública), assegurando<br />
as medidas necessárias<br />
com vista à integração<br />
dos trabalhadores nessas<br />
situações;<br />
– um melhor e mais célere<br />
funcionamento dos tribunais<br />
de Trabalho, com a atribuição<br />
dos meios necessários.