Os vivos, o morto e o peixe-frito

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TITONHO
Pois, é isso mesmo, já estava tudo fora dos prazos, e eu agora vim aqui saber como é que são os
trâmites do processo, deve haver uma solução.
JJ MOURARIA
Bem, um morto, se assim posso dizer, não é obrigado a ter autorização de residência,
até porque para residir tinha que estar vivo… (pausa)
Contudo, para ocupar o devido lugar em terreno cemiterioso, talvez, aí sim,
os papéis venham a ser necessários em estatuto confirmado de legalidade oficiosa.
MAKUVELA
Mas não sei se esse assunto se trata aqui.
TITONHO
Eu também não sei, mas a minha comadre viúva estava tão triste que eu vim até aqui obter
qualquer informação, mas uma pessoa só para pedir uma informação tem que enfrentar esta fila
enorme…, isto é um problema.
JJ MOURARIA
[falando um pouco mais alto] Eu usualmente presto certo tipo de informações e de serviços de
modo a evitar justamente estas esperas indefenidas e incessantes, [depois fala para o TITONHO}
mas nunca antes fui confrontado com semelhante dificuldade processual… [murmura ainda} “Post
mortem, vénitas documentum faltum”… [pausa} “Ignorum factu este!”
MANGUIMBO, OLHANDO O RELÓGIO, APROVEITA PARA FALAR COM MAKUVELA.
MANGUIMBO
Desculpe, isto ainda demora muito?
MAKUVELA
Aqui é mesmo é só aguentar, kota, não faço ideia… Depende do andamento dos assuntos aí à
frente.
MANGUIMBO
Mas isto é uma fila que nunca mais acaba, a atenderem as pessoas a este ritmo.
JJ MOURARIA
É uma dificuldade factual [pausa] e deveras desesperante, veja que nós já estamos aqui desde de
manhãzinha, e contudo perecemos… “Mádrugas, madrugadum, et ómnia madrugadis!”.
MANGUIMBO
Como?
JJ MOURARIA
Quer dizer, aqui estamos, vamos estando…, na expectativa e tal, no mais, no etc… [pausa] E o
senhor? Algum assunto informativo que eu possa adequar?
ONDJAKi
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