13 ed Revista Completa
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REVISTA<br />
EDIÇÃO<br />
<strong>13</strong><br />
JULHO/AGOSTO<br />
2018<br />
ISSN 2525-3379<br />
aquaculturebrasil.com<br />
INTERAÇÃO<br />
GENÓTIPO<br />
AMBIENTE:<br />
Artigo: Maricultura<br />
multitrófica: uma escolha<br />
estratégica<br />
Coluna: Por que o Brasil<br />
exporta tão pouca<br />
tilápia?<br />
será que temos que nos<br />
preocupar com isto?<br />
Entrevista: João Manoel<br />
C. Alves, gerente de<br />
produtos aqua - GUABI<br />
Eles fazem a diferença:<br />
Wagner Cotroni Valenti<br />
MAR/ABR 2018<br />
1
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melhorando o ganho de peso e eficácia alimentar.<br />
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AQUACULTURE BRASIL<br />
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA<br />
BRASILEIRA!<br />
EDITOR-CHEFE:<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />
DIRETORES ASSISTENTES:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
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DIREÇÃO DE ARTE:<br />
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Jéssica Brol<br />
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:<br />
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Zacarkim, Daiane Mompean Romera, Daniel Cavalcanti,<br />
Débora M. Fracalossi, Denis William Johansem de<br />
Campos, Eduardo Gomes Sanches, Eric Costa Campos,<br />
Esmeralda Chamorro Legarda, Fabiana Garcia, Felipe<br />
do Nascimento Vieira, Filipe Chagas Teodózio de Araújo,<br />
Gabriela Claudia Arato Bergamo, João Manoel C. Alves,<br />
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Luiz Fernando Souza Alvez, Luiz Henrique Castro David<br />
Marco Antônio de Lorenzo, Moisés Angel Poli, Ricardo<br />
Pereira Ribeiro, Roberta Almeida Rodrigues, Sergio<br />
Wobeto, Vanessa Lewandowski, Vanessa Villanova<br />
Kuhnen, Vilmar José Frey e Wagner Cotroni Valenti.<br />
Os artigos assinados e imagens são de<br />
responsabilidade dos autores.<br />
COLUNISTAS:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Andre Muniz Afonso<br />
André Camargo<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
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Fábio Rosa Sussel<br />
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Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
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bimestral da EDITORA<br />
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(ISSN 2525-3379).<br />
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e disseminadora de INFORMAÇÃO.<br />
Informação: o bem econômico mais valorizado<br />
hoje em dia! A commodity dos últimos tempos.<br />
Segundo Eric Schmidt, presidente do conselho do<br />
Google, “o mesmo volume de informação produzida<br />
entre o início da civilização e o ano de 2003, considerando<br />
o marco zero da era digital, passou a ser criado<br />
e difundido a cada dois dias”.<br />
“Compartilhar informações aquícolas”. Se você<br />
participa de algum grupo de WhatsApp ligado ao<br />
nosso setor, já percebe que carência de conteúdo<br />
não é mais o problema.<br />
Mas será que estamos tratando a “informação aquícola” com a devida atenção?<br />
Recebemos diariamente conteúdos relevantes, atualizados e verdadeiros? E as fake<br />
news aquícolas? É de se pensar...<br />
Outro contexto. Imaginemos o rito de um artigo científico publicado por um<br />
grupo de pesquisa hipotético. Experimentos conduzidos em 2016, artigo escrito em<br />
2017, aceite da revista científica em 2018 e, por fim, previsão para publicação em<br />
algum volume do ano de 2019. Três ou quatro anos entre o delineamento experimental<br />
até o início da disseminação da informação.<br />
E se, no caso deste experimento hipotético supracitado ter como objetivo resolver<br />
algum problema do setor produtivo (era para ter!), quem pode esperar todo esse<br />
tempo? Obviamente eu poderia aproveitar o gancho e oferecer um “turning point”. A<br />
publicação preliminar dos resultados da pesquisa na Aquaculture Brasil! Não, não é<br />
esse o objetivo deste <strong>ed</strong>itorial. Mas estão surgindo ideias neste sentido... aguardem!<br />
Não tenho visto, pelo menos na nossa área, nenhum movimento significativo<br />
ou expressivo em universidades ou institutos de pesquisa de buscar uma alternativa<br />
para disponibilizar esta informação de forma mais rápida para o interessado: o setor<br />
produtivo.<br />
Entretanto, algo tem me chamado a atenção. Finalmente, por conta das r<strong>ed</strong>es<br />
sociais, os pesquisadores brasileiros estão aprendendo a importância de tirar fotos de<br />
seus experimentos! E eis que se populariza em nossa área o Instagram!<br />
Visitando por exemplo o Instagram do Laboratório de Piscicultura Marinha da<br />
UFSC (@lapmar.ufsc), quanta informação! Atualmente um story fixado sobre reprodução<br />
de tainha, com várias imagens bem interessantes, que um mar de pessoas no<br />
Brasil gostaria de ver. Está lá! E nestes vários perfis de instituições de pesquisa e laboratórios,<br />
quanta interação, perguntas, troca de experiências... A informação científica<br />
ganhou uma nova ferramenta de divulgação.<br />
Aproveitando, já está seguindo nosso perfil no Instagram (@aquaculturebrasil)?<br />
Caso positivo, vá até lá, numa postagem publicada em 20 de outubro (futuro para<br />
quem escreve este <strong>ed</strong>itorial hoje!). Aquela palavra publicada, que ninguém entendeu<br />
o que significou, representa um cupom de desconto de 50% para você adquirir o<br />
BFT Online 2018.<br />
A repercussão do primeiro Worskhop Online sobre Bioflocos, deixaremos para<br />
um <strong>ed</strong>itorial futuro! Mas o futuro é logo ali.<br />
Ótima leitura!<br />
Giovanni Lemos de Mello,<br />
Editor chefe.
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SUMÁRIO<br />
AQUACULTURE BRASIL - <strong>ed</strong>ição <strong>13</strong> jul/ago 2018<br />
08 FOTO DO LEITOR<br />
»»<br />
p.10<br />
10 AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA (AMTI)<br />
APLICADA AO CULTIVO DO CAMARÃO BRANCO-DO-<br />
PACÍFICO EM SISTEMA DE BIOFLOCOS<br />
»»<br />
p.16<br />
»»<br />
p.22<br />
16 PERIFÍTON: UMA OPÇÃO DE ALIMENTO<br />
COMPLEMENTAR NA AQUICULTURA - PARTE I<br />
22 CONSTRUÇÃO DE VIVEIROS PARA PISCICULTURA<br />
COMERCIAL – PARTE IV<br />
30 INTERAÇÃO GENÓTIPO AMBIENTE EM TILÁPIAS DO<br />
NILO: SERÁ QUE TEMOS QUE NOS PREOCUPAR COM<br />
ISTO?<br />
36 MARICULTURA MULTITRÓFICA: UMA ESCOLHA<br />
ESTRATÉGICA<br />
42 UTILIZAÇÃO DE PROBIÓTICOS EM AQUICULTURA<br />
48 TRINTA ANOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />
EM AQUICULTURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE<br />
SANTA CATARINA<br />
52 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR<br />
53 CHARGES<br />
»»<br />
p.36<br />
»»<br />
p.42<br />
6
»»<br />
p.72<br />
54 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />
56 GREEN TECHNOLOGIES<br />
»»<br />
p.74<br />
57 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA<br />
58 VISÃO AQUÍCOLA<br />
»»<br />
p.30<br />
59 GENÉTICA<br />
60 NUTRIÇÃO<br />
62 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA<br />
64 RANICULTURA<br />
65 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />
66 AQUICULTURA DE PRECISÃO<br />
»»<br />
p.48<br />
68 SANIDADE<br />
69 PISCICULTURA MARINHA<br />
70 TECNOLOGIA DO PESCADO<br />
72 DEFENDEU<br />
74 ENTREVISTA - JOÃO MANOEL C. ALVES<br />
78 NOVAS LEITURAS<br />
80 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />
»»<br />
p.80<br />
82 DESPESCOU<br />
7
Larva de tainha com 8 dias de vida após eclosão - UFSC<br />
(Florianópolis, SC)<br />
Caio Magnotti<br />
Exemplares de camarão M. rosenbergii<br />
(Coronel Vivida, PR)<br />
Kátiele Cardoso<br />
Piaractus mesopotamicus utilizado em pesquisas<br />
de melhoramento genético - CAUNESP<br />
(Jaboticabal, SP)<br />
Milena Vieira de Freitas<br />
JUL/AGO 2018<br />
8
Cultivo de bijupirá em tanques-r<strong>ed</strong>e<br />
(Guarapari, ES)<br />
Marcelo Lacerda<br />
Reprodutor de Pirarucu - 90 kg e 2,30 m<br />
(Manacapuru,AM)<br />
Américo Vespúcio Araújo Júnior<br />
JUL/AGO 2018<br />
>><br />
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia<br />
e participe desta seção.<br />
r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />
9
©Moisés Angel Poli<br />
JUL/AGO 2018<br />
10
Aquicultura multitrófica<br />
integrada (AMTI) aplicada<br />
ao cultivo do camarãobranco-do-pacífico<br />
em<br />
sistema de bioflocos<br />
Moisés Angel Poli*<br />
Esmeralda Chamorro Legarda<br />
Marco Antônio de Lorenzo<br />
Felipe do Nascimento Vieira<br />
Laboratório de Camarões Marinhos - LCM<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina - UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
*moisespoli@gmail.com<br />
O<br />
sistema de bioflocos baseia-se na formação<br />
de agregados microbianos,<br />
iniciada pela colonização de bactérias<br />
heterotróficas a partir da manipulação da relação<br />
carbono:nitrogênio (C:N) da água do cultivo. A<br />
manipulação da relação C:N para níveis mais altos<br />
favorece a via heterotrófica, a qual converte o nitrogênio<br />
inorgânico em biomassa microbiana, já a<br />
relação C:N mais baixa favorece a via quimioautotrófica<br />
na qual o nitrogênio é oxidado a formas<br />
menos tóxicas. Essas duas vias, heterotrófica e<br />
quimioautotrófica, são responsáveis por manter a<br />
qualidade de água ideal para os animais de cultivo<br />
sem que haja necessidade de renovar a água.<br />
Como consequência tem-se um sistema biosseguro<br />
e mais eficiente em termos do uso de recursos<br />
naturais. Adicionalmente, os agregados microbianos<br />
podem ser utilizados como complemento alimentar<br />
pelos animais cultivados, pois são ricos em<br />
proteína microbiana.<br />
Entretanto, o desenvolvimento do sistema BFT<br />
esbarra em alguns entraves. Entre estes problemas<br />
destaca-se a geração de sólidos ricos em nutrientes.<br />
O acúmulo excessivo de sólidos em suspensão<br />
na água no decorrer do cultivo pode ser prejudicial<br />
para o crescimento do camarão e, por esta<br />
razão, devem ser removidos do sistema. Porém,<br />
os sólidos removidos se tornam efluente rico em<br />
nutrientes, principalmente em nitrogênio e fósforo.<br />
Diante destes entraves, a aplicação de conceitos<br />
da aquicultura multitrófica integrada (AMTI)<br />
poderia contribuir para o desenvolvimento do<br />
cultivo do camarão-branco-do-Pacífico em bioflocos.<br />
A AMTI é um sistema de produção que<br />
integra espécies de diferentes níveis tróficos em<br />
um mesmo ambiente de cultivo, resultando na<br />
conversão dos resíduos do cultivo de uma espécie<br />
em fonte de alimento ou fertilizantes para<br />
outra. Esse conceito já é aplicado em algumas<br />
fazendas de salmão em tanque-r<strong>ed</strong>e e consiste<br />
no aproveitamento do resíduo da alimentação<br />
do salmão para cultivar mexilhões e macroalgas.<br />
11<br />
JUL/AGO 2018
JUL/AGO 2018<br />
Porém como aplicar esses conceitos no cultivo<br />
de camarão em sistema de bioflocos?<br />
Como o maior resíduo do sistema de bioflocos<br />
são os sólidos salinizados ricos em nitrogênio e fósforo,<br />
partimos do princípio que deveríamos priorizar o<br />
uso de outras espécies que pudessem<br />
se aproveitar desse<br />
sólido. A primeira espécie que<br />
pensamos foi a tilápia (Oreochromis<br />
niloticus), espécie de<br />
peixe mais produzida no Brasil<br />
e que tem boa capacidade de<br />
capturar pequenas partículas<br />
através do muco branquial,<br />
sendo o consumo de bioflocos<br />
já relatado em outras pesquisas.<br />
Além disso, a tilápia possui<br />
uma rusticidade grande, tolerando<br />
inclusive altos níveis de<br />
salinidade.<br />
Um potencial como espécie<br />
extratora inorgânica são as<br />
plantas adaptadas a solos salinizados.<br />
As halófitas são plantas<br />
que toleram solos ou lugares onde a salinidade é alta e<br />
que a maioria das plantas não toleraria. No Brasil a espécie<br />
Sarcocornia ambigua está amplamente difundida<br />
em regiões de manguezais e marismas e surge como<br />
uma alternativa para compor um sistema multitrófico<br />
aplicado ao cultivo de camarão em sistema de bioflocos.<br />
No Brasil já é possível encontrar produtos em conserva,<br />
sal verde e até cerveja a base de Sarcocornia a<br />
um preço bastante elevado.<br />
Levando em consideração o que foi descrito acima,<br />
o presente projeto propôs o estudo da combinação<br />
do sistema de cultivo de camarões em bioflocos com<br />
tilápias (Oreochromis niloticus) e Sarcocornia (Sarcornia<br />
ambigua).<br />
Figura 1. Diagrama<br />
de fluxo da unidade<br />
experimental integrada<br />
de camarões em<br />
bioflocos com tilápia.<br />
No Brasil já é possível<br />
encontrar produtos em<br />
conserva, sal verde e<br />
até cerveja a base de<br />
Sarcocornia a um preço<br />
bastante elevado.<br />
O cultivo integrado com tilápias<br />
O primeiro experimento contou com quatro tratamentos<br />
que correspondiam a quatro níveis de densidades<br />
de tilápia, sendo um dos níveis o ponto zero, ou<br />
seja, sem a presença dos peixes. Ao início do experimento<br />
o peso médio dos camarões<br />
era de 4,78 ± 0,02 g e dos peixes de<br />
9,64 ± 0,14 g.<br />
Os camarões foram cultivados na<br />
densidade de 280 camarões m -3 em<br />
todas as unidades experimentais. Em<br />
contrapartida, as densidades de tilápia<br />
avaliadas foram determinadas com<br />
base na biomassa final de camarão<br />
estimada para o final do cultivo, ao<br />
r<strong>ed</strong>or de 3 kg por tanque, a qual é a<br />
capacidade de carga das unidades utilizadas.<br />
Assim, foi determinado que a<br />
biomassa final de tilápia deveria ser<br />
algo em torno 0,10, 20 e 30 % da<br />
biomassa final de camarões. Com a<br />
estimativa de crescer 40 g até o final<br />
do experimento, as densidades de tilápias<br />
foram de 0, 8, 16 e 24 peixes<br />
por caixa de 90 L. Os camarões foram alimentados seguindo<br />
a tabela de alimentação enquanto que as tilápias<br />
foram alimentadas com 1% da biomassa apenas, estimulando<br />
que buscassem alimento nos bioflocos. A água<br />
do tanque dos camarões era bombeada para o tanque<br />
de tilápia constantemente (Figura 1). O desempenho<br />
zootécnico desse sistema pode ser visto na Tabela 1.<br />
Os resultados indicam que foi possível aumentar<br />
a produtividade em até 31,2%. Houve também um<br />
incremento de 27,9% na retenção de nitrogênio e<br />
223% na retenção de fósforo no tratamento com a<br />
maior densidade de estocagem de peixe em relação ao<br />
controle. Não houve diferença na quantidade final de<br />
sólido produzido pelos sistemas, mesmo com a maior<br />
biomassa nos tratamentos contendo peixe. A conversão<br />
alimentar próxima a 0,2 das tilápias sugere que os<br />
peixes provavelmente aproveitaram os bioflocos.<br />
12
Tabela 1. Desempenho zootécnico (médias ± desvio padrão) de Litopenaeus vannamei e Oreochromis niloticus<br />
cultivados durante 57 dias em sistema de bioflocos com três diferentes densidades de estocagem de tilápia-do-Nilo.<br />
Médias com letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (P < 0,05). Todos os coeficientes<br />
são significativos pelo teste t (p
Tabela 2. Desempenho do Litopenaeus vannamei, Oreochromis niloticus e Sarcocornia ambigua cultivados em<br />
sistema de biofloco durante 57 dias.<br />
Médias com letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (P < 0,05). Todos os coeficientes<br />
são significativos pelo teste t (p
© Luiz Henrique Castro David<br />
JUL/AGO 2018<br />
16
Perifíton:<br />
uma opção de alimento<br />
complementar na<br />
aquicultura - Parte I<br />
Luiz Henrique Castro David*<br />
Roberta Almeida Rodrigues<br />
Denis William Johansem de Campos<br />
Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />
Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />
Jaboticabal, SP<br />
*luiz.h@outlook.com<br />
Daiane Mompean Romera<br />
Instituto Agronômico de Campinas - APTA<br />
Fabiana Garcia<br />
Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />
Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />
Instituto de Pesca<br />
Centro do Pescado Continental - APTA<br />
criação de peixes em viveiros e tanques-<br />
A .r<strong>ed</strong>e é considerada um processo ineficiente<br />
na utilização de recursos, isto porque apenas de 5 a<br />
15% de todos os nutrientes fornecidos como dietas<br />
ou fertilizantes são convertidos em biomassa de peixe<br />
(Cavalcante et al., 2011). Desta maneira, a maior parte<br />
do nitrogênio e do fósforo adicionados aos sistemas<br />
são perdidos para o ambiente, podendo ocasionar<br />
a eutrofização de corpos d’água, como rios, lagos e<br />
reservatórios, por meio da emissão de efluentes ricos<br />
nesses compostos (Figura 1).<br />
Uma alternativa para maximizar o uso de nutrientes<br />
na produção aquícola é a adoção de sistemas<br />
baseados na utilização de substratos submersos para o<br />
desenvolvimento do perifíton (Figura 2). Esta matéria<br />
é a primeira de três partes e abordará a definição e<br />
o emprego do perifíton na aquicultura, bem como<br />
suas funções no ambiente aquático e de que forma<br />
ele pode melhorar a produtividade dos sistemas de<br />
produção.<br />
JUL/AGO 2018<br />
17
Figura 1. Fluxo de nitrogênio e fósforo dentro de um sistema de produção aquícola (Fonte: adaptado de Crab et al., 2007).<br />
Nutrientres adicionados<br />
pela ração<br />
100%N, 100% P<br />
Absorvido pelos peixes<br />
27%N, 24%P<br />
73%N<br />
76% P<br />
Eutrofização<br />
Figura 2 . Substratos de bambu inseridos em sistemas de tanque-r<strong>ed</strong>e (a,b); e viveiro escavado (c,d). © Fabiana Garcia<br />
A. B. C. D.<br />
JUL/AGO 2018<br />
O que é o perifíton?<br />
O perifíton corresponde à comunidade de<br />
microrganismos adaptados a vida séssil que se aderem<br />
a diferentes tipos de substratos submersos. Como,<br />
por exemplo, p<strong>ed</strong>ras, madeiras, plásticos, vidros, etc.<br />
Essa microbiota apresenta perfis de desenvolvimento<br />
distintos de acordo com o tipo de substrato e<br />
características da água. Além disso, ela é altamente<br />
variável, podendo compreender grupos de microalgas,<br />
bactérias, fungos, protozoários, zooplâncton e outros<br />
invertebrados aquáticos (Figura 3).<br />
Figura 3 . Variabilidade na composição taxonômica do perifíton.<br />
© Luiz Henrique Castro David<br />
18
A variação na composição taxonômica e a diversidade<br />
do perifíton pode ser influenciada por diversos fatores<br />
como: tempo de submersão dos substratos, correnteza<br />
de água pr<strong>ed</strong>ominante, tipo de substrato utilizado,<br />
composição química da água, pressão de “pastejo” dos<br />
organismos aquáticos, disponibilidade de nutrientes,<br />
intensidade e qualidade da luz e temperatura (Figura<br />
4). O nível de importância de cada um desses fatores,<br />
tanto na determinação da biomassa perifítica como<br />
na composição e estrutura da comunidade, ainda<br />
não está completamente esclarecido, evidenciando a<br />
necessidade de mais estudos nessa área.<br />
As algas, principalmente as diatomáceas, são os<br />
microrganismos pr<strong>ed</strong>ominantes no perifíton. Estas<br />
podem representar até 80% da sua composição<br />
e são responsáveis pela coloração esverdeada ou<br />
acastanhada da comunidade perifítica. Além disso, o<br />
estado de maturidade dessa comunidade, período em<br />
que a densidade, a diversidade e a riqueza de espécies<br />
atingem valores máximos, ocorre por volta dos 14 a<br />
21 dias após a inserção dos substratos, ou seja, após<br />
esse período os organismos já podem ser povoados no<br />
sistema de produção para que aproveitem ao máximo<br />
a disponibilidade de alimento natural (Rodrigues &<br />
Bicudo, 2001; Moschini-Carlos, 2003). Vale ressaltar<br />
que o consumo do perifíton pelos organismos aquáticos<br />
durante o ciclo produtivo é essencial para que essa<br />
comunidade esteja em constante renovação, o que<br />
promove a disponibilidade contínua de alimento nos<br />
substratos.<br />
Figura 4. Principais fatores que afetam o desenvolvimento do perifíton.<br />
Fatores que afetam o<br />
crescimento do perifíton<br />
Abióticos<br />
Bióticos<br />
Hidrológico Físico Químico Pr<strong>ed</strong>ação, parasitismo, forrageamento<br />
Correnteza,<br />
circulação de<br />
água<br />
Luz, t°, pH,<br />
substrato<br />
Concentração<br />
de<br />
nutrientres<br />
Aplicação do perifíton na aquicultura<br />
Em sistemas de produção extensivo e semiintensivo<br />
é comumente aceita a ideia de que a<br />
comunidade fitoplanctônica é a responsável pela<br />
fixação de energia e produção de alimento natural<br />
na cadeia trófica aquática. No entanto, pesquisas tem<br />
mostrado que o perifíton pode, muitas vezes, ser o<br />
maior contribuinte para a produção primária de um<br />
sistema de produção aquícola. Dempster et al. (1993)<br />
relataram que tilápias ingerem quantidades até 25 vezes<br />
maiores de material vegetal quando o fitoplâncton<br />
é ofertado junto com o perifíton do que quando<br />
apresentado sozinho (Figura 5). Isso ocorre porque é<br />
mecanicamente mais eficiente raspar ou pastejar uma<br />
camada de perifíton, do que filtrar algas planctônicas<br />
em um ambiente tridimensional. Além dessa maior<br />
eficiência, raspar o perifíton permite ao peixe selecionar<br />
os microrganismos que lhes são de maior interesse,<br />
sobretudo, os de melhor qualidade nutricional.<br />
Figura 5. Taxa de ingestão do perifíton ofertado sozinho ou<br />
combinado ao fitoplâncton (Fonte: adaptado de Dempster<br />
et al., 1993).<br />
Taxa de ingestão (mg/g/h)<br />
Perifíton Fitoplâncton Perifíton +<br />
Fitoplâncton<br />
JUL/AGO 2018<br />
19
O uso de substrato para perifíton na aquicultura<br />
é uma prática de fácil aplicação e baixo custo. Os<br />
sistemas baseados nesses microrganismos oferecem<br />
a possibilidade de aumentar a produtividade primária<br />
por unidade de área de substrato adicionado e<br />
consequentemente aumentar a disponibilidade de<br />
alimento. A ideia é que, parte dos nutrientes perdidos<br />
pela lixiviação da ração e excreção, sejam convertidos<br />
em perifíton e que este sirva como alimento adicional<br />
para os organismos cultivados. Desta maneira, é<br />
esperado que os produtores sejam capazes de manter,<br />
ou até mesmo melhorar os níveis de produtividade,<br />
aplicando menos nutrientes e r<strong>ed</strong>uzindo os custos com<br />
alimentação. Nesse sentido, estudos referentes ao uso<br />
de substratos para colonização de perifíton em sistemas<br />
de cultivo extensivos e semi-intensivos vêm sendo<br />
realizados com objetivo de melhorar a qualidade da<br />
água e, sobretudo, diminuir a dependência e utilização<br />
de ração, item que pode representar até 60% dos<br />
custos variáveis de uma produção.<br />
Atualmente, o principal desafio do nosso grupo<br />
de pesquisa tem sido utilizar o perifíton na produção<br />
intensiva. Nossas pesquisas têm explorado o uso dos<br />
substratos em sistemas de tanque-r<strong>ed</strong>e e viveiro com<br />
altas densidades, obtendo resultados econômicos e<br />
produtivos muito promissores. Adicionalmente, o uso<br />
de substratos para perifíton promove muitos benefícios<br />
ambientais, principalmente quando comparado aos<br />
cultivos que não utilizam essa prática. De maneira geral,<br />
por meio da ciclagem de nutrientes, o perifíton é capaz<br />
de remover os nutrientes biodisponíveis na coluna<br />
d’água, melhorando sua qualidade para os organismos<br />
cultivados. Na Figura 6 estão apresentados os principais<br />
benefícios do uso do perifíton na aquicultura.<br />
Figura 6 .Principais benefícios em usar o perifíton em sistemas de produção aquícola.<br />
Melhora a qualidade<br />
de água<br />
Excelente indicador de<br />
alteração ambiental<br />
Incrementa a disponibilidade<br />
de alimento natural<br />
Perifíton<br />
Fixação de carbono e ciclagem<br />
de nutrientes nos ecossistemas<br />
aquáticos<br />
Auxilia no tratamento dos<br />
efluentes gerados pelo cultivo<br />
Fonte natural de nutrientes como ácidos<br />
graxos poli-insaturados (PUFA), esteróis,<br />
aminoácidos, vitaminas e pigmentos<br />
© Ana Gauy<br />
JUL/AGO 2018<br />
A produção de peixes em sistemas baseados<br />
em perifíton é influenciada pelo hábito alimentar<br />
das espécies cultivadas, a densidade populacional, a<br />
sazonalidade, o tipo de substrato, a disponibilidade de<br />
alimentação comercial, a qualidade e quantidade dos<br />
microrganismos, etc. O critério mais importante na<br />
aplicação desta prática é selecionar espécies que possam<br />
aproveitar o perifíton, e que as características do mesmo<br />
sejam adequadas para promover o crescimento dos<br />
peixes. Neste sentido, espécies herbívoras e onívoras<br />
são as que melhor aproveitam a comunidade perifítica<br />
como alimento. Os cultivos de carpas e tilápias são os<br />
normalmente escolhidos para o uso do perifíton. Estas<br />
espécies mostram-se com grande potencial produtivo<br />
quando cultivadas em sistemas com substratos artificiais,<br />
tendo em vista suas adaptações morfológicas para raspar,<br />
capturar e selecionar alimentos de origem vegetal de<br />
maior valor nutricional, além da eficiência na assimilação<br />
de material vegetal que pode chegar a até 80% de<br />
tudo que consomem. Por outro lado, é provável que<br />
haja muitas espécies brasileiras como o lambari, por<br />
exemplo, com grande potencial de aproveitamento do<br />
perifíton.<br />
Após conhecer os conceitos e aplicações gerais do<br />
perifíton, na segunda parte dessa série de artigos serão<br />
apresentados dados e informações específicas sobre<br />
o uso de diferentes tipos e materiais de substratos, o<br />
que levar em consideração na hora da sua escolha,<br />
além de informações sobre a composição taxonômica<br />
e nutricional do perifíton e seus benefícios para os<br />
organismos cultivados.<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
20
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EM BREVE<br />
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para a aquicultura.
JUL/AGO 2018<br />
22
Construção de<br />
viveiros para<br />
piscicultura comercial<br />
– Parte IV<br />
Carlos Eduardo Zacarkim<br />
Coordenador do Curso de Engenharia de Aquicultura<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná – UFPR/Setor Palotina<br />
Palotina, PR<br />
zacarkim@ufpr.br<br />
O<br />
propósito da confecção de um projeto<br />
de piscicultura comercial intensiva é,<br />
fundamentalmente, favorecer a padronização<br />
dos lotes, facilitar o manejo, r<strong>ed</strong>uzir custos<br />
de produção, operacionalização e construção do<br />
empreendimento. Na concepção de um projeto<br />
conforme comentando nos artigos anteriores, alguns<br />
aspectos considerados relevantes já foram comentados,<br />
tais como a demanda hídrica, layout, tamanho e forma<br />
dos viveiros. Neste artigo, iremos abordar os aspectos<br />
construtivos em empreendimentos aquícolas, relativos<br />
a movimentação de terra e locação de projetos com<br />
a expectativa de nortear o profissional a respeito dos<br />
aspectos práticos dos trabalhos em campo.<br />
JUL/AGO 2018<br />
23
Layout e movimentação de terra<br />
Na confecção de um projeto de piscicultura<br />
comercial intensiva dificilmente podemos replicar uma<br />
unidade produtiva considerada “modelo” ou padrão a<br />
ser seguido, visto as características da topografia, do<br />
solo e da água serem distintas de uma área para outra.<br />
Desta forma, para reproduzir um mesmo projeto<br />
confeccionado para uma determinada área, mas em<br />
outro local com características diferentes, o custo de<br />
implantação seria elevado ou mesmo impraticável em<br />
muitos casos.<br />
Conforme abordado no artigo anterior, a lógica<br />
na engenharia do processo é balizar os projetos<br />
primeiramente pela topografia e de forma secundária,<br />
mas não menos importante, pelas rotinas de<br />
alimentação e operacionalização para se confeccionar<br />
o layout, tamanho e formato dos viveiros, estradas,<br />
estruturas de drenagem etc.<br />
Neste sentido, o estudo topográfico (planialtimetria)<br />
adequado e o emprego de vários modelos de layout<br />
para elaboração de um empreendimento podem<br />
gerar diferenças significativas relativas a movimentação<br />
de terra para um mesmo projeto, com lâminas de<br />
água semelhantes, mas com propostas de layout<br />
diferentes. A concepção de projetos sem o estudo<br />
topográfico apropriado, além de gerar movimentações<br />
de terra desnecessárias ao produtor/empresário,<br />
pode inviabilizar áreas que teriam potencial para o<br />
investimento em piscicultura.<br />
Em um exemplo prático vamos estudar a situação da<br />
área apresentada na Figura 1. Neste caso, o produtor<br />
tem como interesse reformar os antigos viveiros,<br />
aumentar a área em lâmina d´água, padronizar a<br />
propri<strong>ed</strong>ade e facilitar as operações de despesca<br />
através do acesso do caminhão de transporte em<br />
todos os viveiros, conforme requisitos demandados<br />
pela unidade de processamento de pescado.<br />
Figura 1. Situação atual de uma propri<strong>ed</strong>ade hipotética, com detalhamento da altimetria (curvas de nível). .<br />
Situação<br />
Atual<br />
JUL/AGO 2018<br />
Conforme apresentado, a propri<strong>ed</strong>ade possui terreno<br />
suave ondulado com declividade em torno de<br />
5% e com topografia uniforme, ou seja, sem apresentar<br />
pontos críticos ou de relevância que alterassem de<br />
forma brusca o formato do terreno como voçorocas,<br />
lajes, aflorações de p<strong>ed</strong>ra, etc, e que exigiriam na confecção<br />
do projeto maior critério de análise.<br />
Neste caso, suponhamos que engenheiro tivesse<br />
como primeira proposta o sistema de viveiros em<br />
paralelos e no sentido perpendicular aos das curvas<br />
de nível, com entradas e saídas individuais da água<br />
em cada viveiro. A captação seria por derivação da<br />
nascente existente na propri<strong>ed</strong>ade, fazendo uso do<br />
bombeamento complementar para obter a demanda<br />
hídrica necessária ao empreendimento, conforme<br />
planta baixa demonstrada na Figura 2.<br />
Neste exemplo, o layout buscou padronizar a<br />
maioria dos viveiros, mas com o aproveitamento total<br />
da área disponibilizada para o empreendimento, considerando<br />
a hipótese de que o custo de implantação de<br />
todos os viveiros totalmente iguais seria elevado, além<br />
da perda de área disponível em lâmina d´água com<br />
espaços ociosos. O custo com os serviços de terraplenagem,<br />
considerando os serviços de corte, aterro,<br />
compactação e transporte neste empreendimento, foram<br />
estimados em R$ 554.900,00 para uma área de<br />
5,64 hectares de lâmina de água, ou seja, R$ 9,83/<br />
m 2 , algo em torno de 64% do valor total desta obra.<br />
Em uma primeira análise, a proposta atente os requisitos<br />
comentados nos artigos anteriores, contemplando<br />
também a demanda da unidade de processamento de<br />
pescado.<br />
24
Figura 2. Proposta de implantação de piscicultura comercial: modelo 1.<br />
Proposta 1<br />
Área: 56.400 m²<br />
Na concepção de uma proposta de piscicultura<br />
comercial é relativamente comum, uma vez atendida<br />
todas as demandas existentes no projeto, o profissional<br />
partir logo para execução do empreendimento. Contudo,<br />
suponhamos uma proposta alternativa de projeto<br />
em que se adotasse o sistema de viveiros em paralelo,<br />
mas no sentido das curvas de nível, mantendo as<br />
entradas e saídas individuais de água em cada viveiro.<br />
A captação continuaria a ser por derivação da nascente<br />
existente na propri<strong>ed</strong>ade, fazendo uso do bombeamento<br />
complementar para obter a demanda hídrica<br />
necessária ao empreendimento, conforme planta baixa<br />
demonstrada na Figura 3.<br />
Neste outro exemplo de layout os viveiros serão<br />
maiores, também padronizados e com uso total da<br />
área disponibilizada, com o acréscimo de dois viveiros<br />
na região mais baixa da propri<strong>ed</strong>ade. A drenagem será<br />
realizada por linhas centrais tubuladas ao longo da linha<br />
de despesca e o abastecimento será por canal central,<br />
atendendo também a demanda da unidade frigorífica e<br />
os critérios de padronização já comentados. O custo<br />
com os serviços de terraplenagem nesta outra proposta<br />
foi estimado em R$ 612.200,00, para uma área de<br />
6,34 hectares de lâmina de água ou R$ 9,65/m 2 de<br />
lâmina de água, em torno de 63% do valor total do<br />
empreendimento.<br />
O fato da primeira proposta ir contra a topografia<br />
natural do terreno pode ter influenciado o aumento<br />
do custo/m 2 de obra, pois na “teoria”, os viveiros devem<br />
ser implantados seguindo o desenho das curvas<br />
de nível, o que possibilitaria um menor custo com a<br />
movimentação de terra. Contudo, não são raros os casos<br />
em que esta assertiva não se repete. A ideia deste<br />
artigo é demostrar que o estudo de várias situações e<br />
emprego de layout diferentes para concepção de um<br />
empreendimento possibilita o melhor aproveitamento<br />
da área disponível e a r<strong>ed</strong>ução do custo de implantação<br />
em muitos casos.<br />
Figura 3. Proposta de implantação de piscicultura comercial: modelo 2.<br />
Proposta 2<br />
Área: 63.400 m²<br />
JUL/AGO 2018<br />
25
Nos exemplos avaliados, as duas propostas contemplam<br />
de forma plena as demandas existentes ao<br />
projeto com pontos favoráveis e desfavoráveis. O aspecto<br />
positivo da primeira proposta é que a despesca<br />
será realizada em uma única linha, o que possibilita a<br />
r<strong>ed</strong>ução dos custos com as tubulações de drenagem,<br />
visto que os efluentes gerados serão lançados diretamente<br />
dos viveiros para as lagoas de decantação,<br />
possibilitando também r<strong>ed</strong>ução dos gastos com manutenção.<br />
Como negativo, se tem o maior custo de<br />
implantação, pois a movimentação de terra é elevada,<br />
além da área em lâmina de água ser menor.<br />
Na segunda proposta ocorre exatamente o oposto,<br />
com o incremento da área de lâmina de água e a<br />
r<strong>ed</strong>ução no custo de implantação. Contudo, os gastos<br />
com as tubulações de drenagem soterradas, poços de<br />
visita, sapatas e demais estruturas necessárias encarecem<br />
o projeto, além das despesas com manutenção<br />
serem superiores em relação a primeira proposta.<br />
Cabe ressaltar que os custos com implantação das tubulações<br />
em concreto armado ou PEAD (Polietileno<br />
de alta densidade) tanto na drenagem, com no abastecimento,<br />
correspondem entre 5 -10% do custo total<br />
do empreendimento.<br />
Desta forma, cabe ao profissional disponibilizar a<br />
opção de escolha ao produtor/empresário que poderá<br />
avaliar dentro das diferentes alternativas do projeto, a<br />
que melhor atenda sua real necessidade.<br />
Figura 4. Corte transversal dos viveiros expressos nas propostas de projeto 1 e 2.<br />
Proposta 1 / Corte A-A<br />
Corte e aterro<br />
Na confecção de um layout adequado o primeiro<br />
passo é realizar o estudo topográfico (levantamento<br />
planialtimétrico) do local onde se pretende realizar o<br />
empreendimento. Este levantamento dará o direcionamento<br />
necessário para minimizar os custos com a<br />
movimentação de terra no empreendimento e estimar<br />
as despesas com os diversos tipos de equipamentos<br />
destinados aos serviços de terraplenagem.<br />
Na movimentação de terra, as operações de corte<br />
e aterro, compactação e transporte, considerando o<br />
trânsito e o tempo entre idas e vindas de caminhões,<br />
operações de carga e descarga de terra, devem ser<br />
observadas de acordo com a função e a utilidade de<br />
cada maquinário. Em outras palavras, cada equipamento<br />
tem sua função e utilidade, que se utilizada de forma<br />
equivocada pode acarretar em despesas desnecessárias<br />
na execução o projeto.<br />
Na análise do corte transversal das duas propostas<br />
de empreendimentos ilustrados acima, é possível observar<br />
o contraste dos dois projetos na profundidade<br />
dos cortes e aterros em relação ao perfil original do<br />
terreno, conforme ilustrado na Figura 4. Esta relação<br />
de altura de taipas em função do perfil do terreno fará<br />
com que a área de corte ou de aterro aumente ou<br />
diminua em função da necessidade de cada projeto.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Proposta 2 / Corte A-A<br />
Uma vez que se obtém a área de corte e aterro,<br />
multiplicados pela largura dos viveiros projetados, se<br />
estima o volume de terra a ser movimentado em um<br />
projeto. Cabe ressaltar que existem várias formas de se<br />
avaliar a movimentação de terra na engenharia, como<br />
modelagem, quadrantes, integrais, e etc. A análise dos<br />
vários perfis das secções transversais dependerá da<br />
26<br />
metodologia empregada e da complexidade de cada<br />
área ou proposta de empreendimento.<br />
Independente da metodologia utilizada, a situação<br />
ideal é ter a compensação de volumes entre cortes<br />
e aterros, visto que se o volume de corte for maior<br />
que o volume de aterro, a terra exc<strong>ed</strong>ente terá que<br />
ser transportada para outras localidades ou reapro-
veitada nas taipas, ocasionando movimentações de terra<br />
desnecessárias e, consequentemente, prejuízo. Do<br />
mesmo modo, ocorre se o volume de aterro for maior<br />
que o de corte. Neste caso, será necessário buscar terra<br />
em outras áreas, aumentando também as despesas<br />
com corte, carga, descarga e transporte desta terra.<br />
Na concepção do projeto, as barragens serão balizadas<br />
primeiramente pelo tipo do solo encontrado na área<br />
do empreendimento e, posteriormente, pelo manejo<br />
que se pretende adotar, para então fazer o balanço entre<br />
o volume de corte e aterro. Desta forma, a inclinação<br />
dos taludes dos viveiros se dará pelo coeficiente de inclinação<br />
das taipas, que indicará o número de vezes que<br />
a projeção horizontal será maior que a projeção vertical,<br />
conforme expresso na Tabela 1.<br />
Tabela 1. Inclinação dos taludes em função do tipo de material usado e da<br />
altura do talude.<br />
Embora a movimentação de terra do projeto seja estimada<br />
como volume compactado, cabe ressaltar que nas<br />
operações de corte do terreno ocorrerá o empolamento<br />
do material, com consequente aumento de volume de<br />
terra a ser transportado/movimentado. Por definição, solos<br />
são um conjunto de partículas sólidas (minerais e orgânicas)<br />
e de espaços ocupados pelo ar e pela água. Desta<br />
forma, a m<strong>ed</strong>ida em que a terra é movimentada, ocorre o<br />
aumento desses espaços com ganho de volume, devendo<br />
esse aumento ser contabilizado no projeto conforme<br />
expresso na Tabela 2.<br />
Uma vez encontrada a quantidade total de terra a ser<br />
movimentada, a escolha do tipo de equipamento para os<br />
serviços de terraplenagem será importante. Conforme<br />
já mencionado, cada equipamento possui sua função e<br />
rendimento de movimentação de terra em m 3 por hora<br />
trabalhada. Um exemplo disso, é demonstrado na Tabela<br />
3, que ilustra o rendimento em m 3 .h -1 , em função da distância<br />
trabalhada para os diferentes tipos de trator esteira<br />
disponíveis no mercado.<br />
Tabela 2. Peso específico e índice de empolamento por tipo de solo.<br />
Fonte: DNAEE, 1985; Carvalho, 2008.<br />
*Aterros maiores que 10 metros de altitude, obrigatoriamente devem ter acompanhamento<br />
de um engenheiro civil.<br />
Menores inclinações nas barragens propiciam maiores<br />
estabilidades nos taludes, onde em terrenos arenosos geralmente<br />
pobres em argilas, devem ter sua inclinação suavizada<br />
tanto a montante, como a jusante em relação aos<br />
demais tipos de solo. Além da inclinação da barragem, o<br />
dimensionamento da crista também se dará em função da<br />
altura do aterro a jusante, conforme a equação:<br />
C=H +3 H: altura da barragem a<br />
5 jusante.<br />
Estimada a largura em função da altura do aterro, a<br />
crista deverá ser avaliada também, pelo uso proposto e<br />
sua finalidade. Caso a crista da barragem seja utilizada<br />
como estrada, onde o tráfico de caminhões de despesca<br />
será rotineiro, a mesma deverá ter ao menos 7 metros<br />
de largura. Barragens utilizadas apenas para operações de<br />
alimentação com veículos leves, podem variar entre 3,5 a<br />
4 metros de comprimento de crista. Neste caso, cabe ao<br />
profissional avaliar o uso em que se destinará a barragem,<br />
para então estimar a movimentação de terra de todo talude.<br />
De maneira geral, quanto maior for a largura da crista,<br />
maior será a estabilidade do talude. Contudo, maior<br />
também será o custo com a movimentação de terra para<br />
construção.<br />
Fonte: Carvalho J.A, 2008.<br />
Tabela 3. Produção estimada em m 3 .h -1 , em função da distância de<br />
transporte para os diferentes tipos de trator esteira.<br />
Fonte: Carvalho J.A, 2008.<br />
27<br />
JUL/AGO 2018
Conforme se aumenta a distância de trabalho e<br />
operação, ocorre a r<strong>ed</strong>ução do rendimento em m 3 .h -1<br />
trabalhada. O mesmo raciocínio é empregado para os<br />
diferentes tipos de maquinários, como por exemplo:<br />
escavadeiras hidráulicas, pás-carregadeiras, rolos<br />
compactadores, caminhões, scraps, etc. A combinação<br />
entre a função dos diferentes equipamentos e seus<br />
respectivos rendimentos resultam na quantidade<br />
de horas necessárias para um determinado<br />
empreendimento.<br />
Uma vez definido o projeto e o custo de execução,<br />
a locação da obra se dará com base nos perfis de corte<br />
e aterro utilizados no cálculo do volume de terra total<br />
do projeto. Assim, o engenheiro deverá estaquear ou<br />
piquetear o empreendimento considerando os cantos<br />
dos viveiros, largura das taipas, estradas, estruturas de<br />
drenagem, inclinação dos taludes (saias) e demais componentes<br />
que façam parte do projeto. Na locação da<br />
obra, o profissional deverá fixar em estaca da profundidade<br />
do corte (C) ou da quantidade de aterro (A),<br />
conforme expresso na Figura 5.<br />
Figura 5. Indicação de corte (C), na locação de um empreendimento.<br />
Construção de viveiros para piscicultura comercial - parte V<br />
No próximo artigo serão abordadas as considerações sobre os sistemas de abastecimento e drenagem em<br />
empreendimentos aquícolas. Esperamos vocês!<br />
JUL/AGO 2018<br />
© Carlos Eduardo Zacarkim<br />
28
29<br />
JUL/AGO 2018
JUL/AGO 2018<br />
30
Interação genótipo<br />
ambiente em tilápias do<br />
Nilo: será que temos que<br />
nos preocupar com isto?<br />
Eric Costa Campos*<br />
Filipe Chagas Teodózio de Araújo<br />
Luiz Fernando Souza Alvez<br />
Vanessa Lewandowski<br />
Dr. Carlos Antonio Lopes de Oliveira<br />
Dr. Ricardo Pereira Ribeiro<br />
Programa de Pós-Graduação em Zootecnia<br />
Universidade Estadual de Maringá - UEM<br />
*eric.peixegen@gmail.com<br />
A<br />
produção comercial de Tilápias no<br />
Brasil ocorre, principalmente, em duas<br />
condições de cultivo, tanques-r<strong>ed</strong>e<br />
e viveiros escavados. Além disso,<br />
emerge na produção nacional<br />
outras possibilidades, como<br />
RAS (Recirculating Aquaculture<br />
System), BFT (Biofloc<br />
Technology) e Aquaponia.<br />
Os dois principais<br />
sistemas utilizados são<br />
muito distintos em suas<br />
peculiaridades. O primeiro<br />
(tanque-r<strong>ed</strong>e) com maior<br />
densidade de estocagem<br />
e alta taxa de renovação<br />
de água; o segundo (viveiro<br />
escavado), dependente da<br />
comunidade biótica (fito e<br />
zooplâncton) e atenção diária dos parâmetros da<br />
qualidade de água. Ainda mais, existem variações<br />
dentro das próprias condições de cultivo, a<br />
exemplo os tanques-r<strong>ed</strong>e de grande volume (São<br />
Paulo e Mato Grosso) e viveiros escavados com<br />
alta densidade, por exemplo, Oeste do Paraná.<br />
Com a implantação e consolidação de<br />
programas de melhoramento genético de tilápias<br />
no Brasil, tem-se verificado incremento de<br />
produção dado ao uso de animais geneticamente<br />
superiores. Porém, em função das diferentes<br />
condições de cultivo, alguns questionamentos<br />
devem ser levados em consideração. As<br />
diferentes condições de cultivos têm impacto<br />
importante na determinação da qualidade<br />
genética dos animais? Em função disso, é<br />
necessário avaliar os animais dos programas de<br />
melhoramento nestas diferentes condições?
Estas questões estão relacionadas a um tema importante<br />
no melhoramento genético animal e ainda<br />
pouco discutido na criação de tilápias em nosso<br />
país – a interação genótipo ambiente (IGA). A interação<br />
genótipo ambiente é um fenômeno no qual<br />
é possível observar diferenças no desempenho dos<br />
animais com genótipo semelhante, cultivados em<br />
ambientes distintos, de maneira que haja rearranjo<br />
na classificação e ou r<strong>ed</strong>ução nas diferenças dos animais<br />
em função das condições de cultivo. Estes dois<br />
fenômenos estão apresentados na Figura 1, sendo o<br />
rearranjo na classificação observado ao comparar as<br />
famílias 1 vs. 4 e 2 vs. 3 e a r<strong>ed</strong>ução das diferenças na<br />
comparação das famílias 1 vs. 2 e 3 vs. 4.<br />
Entre os impactos negativos da interação genótipo<br />
ambiente deve-se salientar a r<strong>ed</strong>ução da resposta<br />
à seleção (ganho genético) ao avaliar e selecionar<br />
os animais em tanques-r<strong>ed</strong>e e produzir as suas progênies<br />
em viveiros escavados, por exemplo. Desta<br />
forma, a IGA assume grande importância, tendo em<br />
vista que os genes que controlam um fenótipo (peso<br />
à despesca, por exemplo), podem não ter a mesma<br />
expressão em diferentes condições de cultivo.<br />
Figura 1. Exemplos de interação genótipo ambiente (IGA).<br />
Peso à despesca<br />
900<br />
850<br />
800<br />
750<br />
700<br />
650<br />
Exemplos de IGA<br />
Tanque-r<strong>ed</strong>e<br />
Viveiro escavado<br />
600<br />
1 2 3 4<br />
Famílias<br />
JUL/AGO 2018<br />
Desenvolvimento<br />
Diante destas possibilidades, foi realizado um ensaio<br />
pelo grupo PeixeGen da Universidade Estadual<br />
de Maringá, no qual testou-se a existência de rearranjos<br />
na classificação das famílias, caso a avaliação<br />
e seleção fossem realizados em duas condições de<br />
cultivo diferentes (tanques-r<strong>ed</strong>e e viveiros escavados).<br />
Foram utilizadas informações de peso à despesca<br />
de tilápias-do-Nilo pertencentes ao programa<br />
de melhoramento genético (TILAMAX – UEM). A<br />
avaliação genética ocorreu em tanques-r<strong>ed</strong>e no rio<br />
do Corvo (Reservatório de Rosana), densidade 75<br />
kg/m³ e em viveiros escavados no distrito de Floriano<br />
(Maringá – PR), densidade 1 peixe/m² (Figura 2).<br />
Os resultados indicaram que o impacto das diferenças<br />
entre o sistema intensivo de produção<br />
em tanque-r<strong>ed</strong>e e o sistema extensivo em viveiros<br />
escavados foi bastante acentuado no desempenho<br />
de indivíduos da mesma família, cerca de 400 g no<br />
peso à despesca, no mesmo período e tempo de<br />
cultivo, conforme ilustrado na figura 3.<br />
Figura 2. Condições de cultivo utilizadas durante o ensaio. a)<br />
Unidade Demonstrativa em Diamante do Norte – PR; b) Estação<br />
Experimental de Piscicultura (UEM/CODAPAR), Maringá - PR.<br />
A.<br />
© Jailton Bezerra da Silva Júnior<br />
B.<br />
32<br />
© Carlos Antonio Lopes de Oliveira
Figura 3. Exemplo da desigualdade entre a médias de peso à despesca a) Tanque-r<strong>ed</strong>e; b) Viveiro escavado.<br />
A.<br />
B.<br />
A diferença na média era esperada, porque as<br />
duas condições de cultivo apresentam resultados<br />
de performance próprios, especificidades que os<br />
distinguem. Porém a avaliação de várias famílias em<br />
ambos os sistemas apontou que houve alteração<br />
no ranqueamento das famílias nas diferentes condições.<br />
Por exemplo, a família melhor classificada<br />
para tanque-r<strong>ed</strong>e ficou na quarta posição em viveiro<br />
escavado.<br />
Estes resultados podem ser explicados pela correlação*<br />
genética que foi menor que 0,40, indicando<br />
que o grau de associação genética entre os dois<br />
sistemas de cultivo é pequeno. Como consequência,<br />
a percentagem de coincidência das dez melhores<br />
famílias e a correlação de ranking dos valores<br />
genéticos foram afetados, ficando abaixo de 50 %.<br />
Ao verificar este ranqueamento, é possível observar<br />
que a metade das famílias está presente na classificação<br />
das duas condições de cultivo (Tabela 1),<br />
ou seja, provavelmente, cinco famílias candidatas a<br />
multiplicação de material genético, serão capazes de<br />
atender às demandas das duas condições de cultivo.<br />
Isso nos dá também uma tranquilidade para<br />
afirmar que, apesar de o ideal é ter um animal ou<br />
linhagem mais adequada para cada condição de cultivo,<br />
é muito melhor utilizar animais ou linhas melhoradas<br />
do que sem melhoramento algum, pois<br />
os animais submetidos à seleção genética e acasalamentos<br />
dirigidos (ou seja, melhoramento genético)<br />
são sempre superiores que os não melhorados em<br />
qualquer condição de cultivo.<br />
Um outro aspecto da interação genótipo ambiente,<br />
está relacionado com o ganho genético ou<br />
resposta à seleção, de maneira que o processo de<br />
seleção para uma condição específica de cultivo não<br />
promove o ganho genético com a mesma intensidade<br />
na outra condição. Isto está ilustrado na Tabela<br />
2, enquanto o ganho genético esperado para tanque-r<strong>ed</strong>e<br />
foi de cerca de 15 %, a resposta correlacionada<br />
para viveiros foi quatro vezes menor.<br />
JUL/AGO 2018<br />
33
Tabela 1. Ranqueamento das 10 famílias geneticamente<br />
superiores de acordo com a condição de cultivo.<br />
Tabela 2. Correlação genética e resposta à seleção nas duas condições<br />
de cultivo.<br />
Apesar da evidência de interação genótipo<br />
ambiente, é importante salientar que o melhoramento<br />
genético irá promover, simultaneamente,<br />
aumento no peso à despesca nas duas condições<br />
de cultivo avaliadas, justificando o uso dos animais<br />
melhorados ao invés de animais “locais” não melhorados,<br />
como já mencionado anteriormente.<br />
Considerações finais<br />
Com a expansão do cultivo de tilápias e a necessidade<br />
de profissionalização do setor, a oferta de<br />
animais com qualidade genética comprovada torna-<br />
-se fator essencial. Contudo, as diferentes condições<br />
de cultivo, de sistemas de produção e demandas do<br />
mercado consumidor incrementam a complexidade<br />
aos programas de melhoramento genético da espécie<br />
instalados no Brasil.<br />
Como alternativa, para utilização dos benefícios<br />
da interação genótipo ambiente, os programas de<br />
melhoramento genético poderiam avaliar os animais<br />
em diferentes locais de teste (determinados<br />
É importante salientar<br />
que o melhoramento<br />
genético irá promover,<br />
simultaneamente, aumento<br />
no peso à despesca nas<br />
duas condições de cultivo<br />
avaliadas, justificando o uso<br />
dos animais geneticamente<br />
melhorados.<br />
por diferentes condições de cultivo, climáticas e ou<br />
ambientais), de maneira que as informações de desempenho<br />
nas mais diversas condições, alimentem<br />
a estrutura de dados utilizada na avaliação genética,<br />
permitindo a seleção mais acurada de indivíduos/<br />
famílias com superioridade genética para cada situação<br />
específica, aumentando o ganho genético e o<br />
retorno econômico do uso de animais melhoradores<br />
(Figura 4).<br />
Figura 4. Fluxo de material genético e de informações na cadeia produtiva de tilápias.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Locais de teste<br />
Fluxo de informações<br />
Fluxo de material genético<br />
Núcleo de seleção<br />
Alevinocultores<br />
Engordadores<br />
34
© Jéssica Brol
Maricultura<br />
multitrófica: uma<br />
escolha estratégica<br />
Gabriela Claudia Arato Bergamo<br />
Vanessa Villanova Kuhnen<br />
Laboratório de Piscicultura Marinha<br />
Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />
Ubatuba, SP<br />
Eduardo Gomes Sanches<br />
Laboratório de Piscicultura Marinha<br />
Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho<br />
Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />
Santos, SP<br />
esanches@pesca.sp.gov.br<br />
A Aquicultura Integrada Multi-Trófica, internacionalmente<br />
conhecida pela sigla IMTA (Integrat<strong>ed</strong><br />
Multi-Trophic Aquaculture), é uma prática recente na<br />
aquicultura, que consiste no cultivo de espécies de diferentes<br />
níveis tróficos na mesma unidade produtiva,<br />
sendo que o cultivo pode incluir dois ou mais níveis<br />
tróficos. Cabe destacar que nível trófico é a posição<br />
que um dado organismo ocupa na cadeia alimentar.<br />
A cadeia alimentar representa o movimento e transferência<br />
de matéria e energia entre os seres vivos.<br />
JUL/AGO 2018<br />
37
JUL/AGO 2018<br />
Os níveis tróficos normalmente contemplados nesse<br />
tipo de cultivo são:<br />
Integrat<strong>ed</strong> Multi-Trophic Aquaculture<br />
Espécies<br />
filtradoras<br />
(ex. ostras e<br />
mexilhões)<br />
Espécies<br />
produtoras<br />
(ex. macroalgas)<br />
Espécies<br />
detritívoras<br />
(ex. pepinos do<br />
mar e camarões)<br />
Espécies<br />
consumidoras<br />
(ex. peixes)<br />
A idéia central deste tipo de sistema produtivo é<br />
que seja dimensionado de forma com que os efluentes<br />
das espécies consumidoras sejam aproveitados<br />
como fonte de nutrientes para as demais espécies,<br />
criando um ambiente ecologicamente balanceado<br />
(Chopin et al., 2008; Soto, 2009). O sistema pode<br />
resultar na mitigação dos impactos na qualidade da<br />
água e garantir maior estabilidade econômica do empreendimento<br />
(Ridler et al., 2007; Nobre et al., 2010).<br />
A maricultura em sistema multitrófico já é praticada<br />
no Japão, Canadá, Chile, Itália, Noruega e na China<br />
(Shi et al., 20<strong>13</strong>). No Brasil, porém, ainda são raros<br />
os cultivos que operam nesse sistema, especialmente<br />
em ambiente marinho. O cultivo em sistema multitrófico<br />
pode ser especialmente interessante em locais<br />
costeiros protegidos por Áreas de Proteção Ambiental<br />
(APA). No caso do estado de São Paulo, visando<br />
o gerenciamento do uso e desenvolvimento do litoral<br />
norte do estado, onde há grande atividade petrolífera<br />
e portuária, assim como uma falta no ordenamento<br />
pesqueiro e econômico da área, foi criada<br />
a APA Marinha Litoral Norte (Decreto Nº 53525 de<br />
08/10/2008). O objetivo foi o de buscar preservar o<br />
ambiente costeiro-marinho, garantindo a convivência<br />
harmônica entre os diversos setores socioeconômicos<br />
(setor público/privado e comunidades tradicionais)<br />
e o equilíbrio do meio ambiente e seus recursos.<br />
Ter o domínio sobre o cultivo de diferentes espécies,<br />
especialmente de níveis tróficos distintos e<br />
consequentemente com exigências diversas tanto<br />
de nutrição, reprodução e manejo é um grande desafio.<br />
Mas que tal pensarmos em uma escala menor?<br />
Por exemplo em apenas dois níveis tróficos?<br />
Quais seriam os benefícios de cultivar organismos<br />
filtradores, como ostras e mexilhões, em conjunto<br />
com organismos consumidores, como os peixes?<br />
Os benefícios acerca do IMTA<br />
Estudos vêm demonstrando que, em função da<br />
capacidade natural dos bivalves em absorver matéria<br />
orgânica e transformá-la em biomassa, mexilhões cultivados<br />
próximos à tanques-r<strong>ed</strong>e possuem maior taxa de<br />
crescimento (Handå et al., 2012; Jiang et al., 20<strong>13</strong>; Irisarri<br />
et al., 2015). Majoritariamente formados por restos<br />
de ração e pelas excretas metabólicas dos peixes,<br />
os efluentes da piscicultura contribuem para o aumento<br />
dos níveis de fósforo e nitrogênio no ambiente. Estes<br />
compostos são considerados os principais responsáveis<br />
pela eutrofização de áreas costeiras, um dos principais<br />
impactos associados a atividade aquícola (Soto, 2009;<br />
MacDonald et al., 2011; Reid et al., 20<strong>13</strong>). Em um cultivo<br />
multitrófico os mexilhões funcionariam como filtros,<br />
ao se beneficiarem dos efluentes gerados pela produção<br />
de peixes para crescer. Outro possível benefício é<br />
a capacidade de r<strong>ed</strong>uzir doenças de origem viral e bacteriana,<br />
promovendo uma abordagem biológica para<br />
controle de doenças, o que evita o uso de quimioterápicos<br />
(Skar e Mortensen, 2007; Molloy et al., 2011).<br />
A diversificação do cultivo traz, ainda, uma série<br />
de benefícios econômicos ao empreendimento.<br />
Sistemas dimensionados para o cultivo de mais de<br />
uma espécie são capazes de promover uma renda<br />
secundária, que pode por exemplo servir para<br />
amenizar os efeitos da variação de preços de comercialização<br />
e dos insumos (Ridler et al., 2007).<br />
Dessa maneira, podem contribuir para melhorar os<br />
índices de viabilidade econômica dos empreendimentos<br />
(Whitmarsh et al., 2006; Nobre et al., 2010).<br />
Na criação de peixes marinhos em tanques-r<strong>ed</strong>e,<br />
significativa quantidade de efluentes contendo material<br />
particulado em forma de fezes, alimento não<br />
ingerido e compostos inorgânicos dissolvidos, podem<br />
afetar a coluna de água e o s<strong>ed</strong>imento (Chopin<br />
et al., 2008). Muitos empreendimentos têm buscado<br />
informações em relação a sistemas multitróficos visando<br />
r<strong>ed</strong>uzir ou minimizar estes impactos. Entretanto,<br />
ainda existem mais perguntas do que respostas.<br />
38
JUL/AGO 2018<br />
© Marine Biomass<br />
39
JUL/AGO 2018<br />
Será que tudo funciona como na<br />
teoria?<br />
Um interessante contraponto à proposição de<br />
cultivos multitróficos foi apresentado no periódico<br />
Aquaculture (Navarrete-Mier et al., 2010). Os autores<br />
perguntavam se o cultivo de bivalves r<strong>ed</strong>uziria o<br />
impacto dos cultivos de peixes. Este trabalho demonstrou<br />
que o policultivo de peixes e bivalves não representou<br />
uma adequada ferramenta para a r<strong>ed</strong>ução do<br />
impacto ambiental da produção de peixes no oceano.<br />
Os autores comprovaram, utilizando isótopos estáveis<br />
(recomendo a leitura da coluna Precisão deste<br />
número da Aquaculture Brasil), que não existiu efeito<br />
no crescimento dos bivalves (Ostrea <strong>ed</strong>ulis e Mytilus<br />
galloprovincialis) que estivesse relacionado à influencia<br />
dos cultivos de peixes. A utilização de isótopos estáveis<br />
de Carbono e Nitrogênio e as concentrações de<br />
metais demonstraram que os bivalves não assimilaram<br />
os resíduos orgânicos dos cultivos de peixes. Isto sugeriu<br />
que os efeitos positivos descritos atualmente na<br />
literatura podem estar relacionados a causas indiretas<br />
ligadas ao hidrodinamismo e a oferta de nutrientes<br />
oriundos de outras fontes.<br />
Futuro da Maricultura<br />
A aquicultura é hoje responsável pelo atendimento<br />
de cerca de metade da demanda mundial de pescado<br />
(FAO, 2016). Considerando que grande parte do planeta<br />
é coberto por água salgada, a maricultura deve<br />
ter um papel de destaque no futuro da alimentação<br />
humana. Estima-se que menos de 4% da plataforma<br />
continental conseguiria atender a demanda projetada<br />
para 9 bilhões de habitantes em 2050 (Duarte et al.,<br />
2009). Este continuo crescimento demandará o desenvolvimento<br />
de sistemas economicamente viáveis<br />
e que provoquem menores impactos no ambiente<br />
(Witmarsh et al., 2006). Empreendimentos multitróficos,<br />
quando corretamente dimensionados e monitorados,<br />
poderiam ocupar o nicho de mercado que<br />
demanda por produtos marinhos com certificação de<br />
sustentabilidade. Estudos mostram que produtos com<br />
alto padrão de sustentabilidade podem ter um valor<br />
até 10% maior, quando comparados a sistemas tradicionais<br />
(Barrington et al., 2010).<br />
Conclusão<br />
Apesar de todas essas vantagens econômicas e<br />
ambientais que apresentamos, ainda há a necessidade<br />
de muito estudo sobre a real aplicabilidade deste<br />
conceito para o cenário brasileiro. Com a diversidade<br />
da nossa costa, diversidade climática, oceanográfica,<br />
geológica, quais seriam as áreas em que esse sistema<br />
cíclico de reaproveitamento de nutrientes realmente<br />
funcionaria? Ou ainda, quais seriam as espécies que<br />
realmente funcionariam em conjunto e trariam maior<br />
lucratividade? Se a aquicultura pode ser considerada<br />
como uma ciência nova, o estudo de sistemas multitróficos<br />
está recém engatinhando.<br />
No Brasil, quais<br />
seriam as espécies<br />
que realmente<br />
funcionariam em<br />
conjunto e trariam maior<br />
lucratividade?<br />
Inegável a constante busca por melhorias nos<br />
sistemas produtivos da aquicultura. Como em<br />
qualquer cadeia produtiva, cada aparente solução traz<br />
consigo uma expressiva quantidade de perguntas não<br />
respondidas. A aquicultura multitrófica pode vir a ser<br />
mais uma importante alternativa para a implantação<br />
de cultivos com menor impacto ambiental. Para tanto,<br />
existem ainda muitos estudos para definir modelos<br />
de integração, espécies adequadas, engenharia de<br />
sistemas aquícolas multitróficos e modelos de avaliação<br />
que levem em consideração fluxos de energia e<br />
nutrientes e a fisiologia e o metabolismo das diferentes<br />
espécies aquáticas.<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
40<br />
© Maricultura Costa Verde
41<br />
JUL/AGO 2018
JUL/AGO 2018<br />
42
Utilização de<br />
Probióticos em<br />
Aquicultura<br />
Vilmar José Frey<br />
Tecnólogo em Aquicultura<br />
Kera Nutrição Animal<br />
Palotina, PR<br />
agropal.palotina@hotmail.com<br />
Sergio Wobeto<br />
Médico Veterinário<br />
Kera Nutrição Animal<br />
Carazinho, RS<br />
Relatório da FAO de outubro de 2016 estima<br />
que o Brasil terá um crescimento de 104% na<br />
.produção de pesca e aquicultura até 2025. Ainda<br />
segundo o estudo, o aumento na produção brasileira<br />
será o maior registrado na região na próxima década.<br />
O representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic<br />
comentou: “A FAO acompanha de perto o crescimento<br />
do setor pesqueiro no Brasil. As políticas públicas<br />
criadas especificamente para o setor e os investimentos<br />
privados comprovam que o país pode ser também<br />
uma potência importante na pesca e aquicultura. Sabemos<br />
que a demanda por esses produtos tende a crescer<br />
e por isso é necessário que os países invistam cada<br />
vez mais nessa área como vem ocorrendo no Brasil”.<br />
Os custos, a cada dia mais elevados da atividade aquícola,<br />
fazem com que os produtores estejam cada vez<br />
mais focados na eficiência produtiva, pois, trata-se de<br />
um empreendimento que possibilita gerar rendas significativas<br />
na propri<strong>ed</strong>ade desde que bem gerido, tendo em<br />
vista as margens a cada dia mais estreitas da atividade.<br />
Na aquicultura para que uma produção seja considerada<br />
sustentável é necessário admitir que a natureza é<br />
finita, evitando-se assim sua utilização desordenada. Esta<br />
é uma preocupação constante dos órgãos ambientais e<br />
JUL/AGO 2018<br />
43
JUL/AGO 2018<br />
também das<br />
empresas<br />
idôneas<br />
que estão<br />
constantemente<br />
investindo em novas<br />
pequisas para o crescimento e desenvolvimento da<br />
atividade.<br />
Com o aumento da demanda de proteína de peixe,<br />
devido ao crescimento constante do consumo,<br />
tem se intensificado a produção aquícola em todo o<br />
País. Com isso observamos cada vez mais a presença<br />
de doenças indesejáveis nos mais diversos meios de<br />
cultivo, o que acarreta em prejuízos significativos para<br />
os produtores. O uso de antibióticos é uma prática<br />
utilizada para combater as enfermidades, porém, sua<br />
utilização tem enfrentado sérias resistências devido<br />
aos riscos do surgimento de bactérias resistentes aos<br />
diversos antimicrobianos, o que tem gerado grandes<br />
preocupações e debates junto a órgãos como OMS,<br />
FAO e grupos consumidores.<br />
Na piscicultura é importante manter atenção especial<br />
no ambiente em que os peixes se desenvolvem,<br />
tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos,<br />
uma vez que o desenvolvimento destes animais pode<br />
ser comprometido com a falta de qualidade deste<br />
meio. Os peixes são sensíveis as adversidades, tanto<br />
do meio, como do alimento a eles fornecidos.<br />
Em busca da eficiência dos diversos cultivos,<br />
principalmente no que diz respeito ao aumento dos<br />
índices zootécnicos como: imunidade, eficiência da<br />
conversão alimentar, viabilidade, ganho de peso, além<br />
do tratamento da matéria orgânica presente na coluna<br />
d’água e no solo dos viveiros, bem como a preservação<br />
do meio ambiente, a utilização de microrganismos<br />
tem sido uma excelente alternativa que possibilita a<br />
alta eficiência, a qual, é um dos requisitos fundamentais<br />
para a sobrevivência na atividade.<br />
Os microrganismos marinhos e de água doce constituem<br />
a base da cadeia alimentar em oceanos, lagos<br />
e rios. A microbiota do solo ajuda a degradar detritos<br />
e incorporar nitrogênio gasoso do ar em compostos<br />
orgânicos, reciclando assim os elementos químicos<br />
entre o<br />
solo, a<br />
água, os<br />
seres vivos<br />
e o ar. Os seres humanos<br />
e muitos outros animais também dependem dos<br />
microrganismos em seus intestinos para realizar a digestão<br />
e sintetizar algumas vitaminas que seus corpos<br />
requerem, incluindo algumas vitaminas do complexo<br />
B e vitamina K (Tortora, 2012).<br />
A Aquicultura Integrada Multi-Trófica, internacionalmente<br />
conhecida pela sigla IMTA (Integrat<strong>ed</strong><br />
Multi-Trophic Aquaculture), é uma prática recente na<br />
aquicultura, que consiste no cultivo de espécies de diferentes<br />
níveis tróficos na mesma unidade produtiva,<br />
sendo que o cultivo pode incluir dois ou mais níveis<br />
tróficos. Cabe destacar que nível trófico é a posição<br />
que um dado organismo ocupa na cadeia alimentar. A<br />
cadeia alimentar representa o movimento e transferência<br />
de matéria e energia entre os seres vivos.<br />
Os probióticos<br />
O termo “probiótico” foi definido pela primeira<br />
vez como sendo um fator de origem microbiológica<br />
que estimula o crescimento de outros organismos<br />
(Lilly e Stillwell, 1965). Depois de alguns anos, utilizaram-se<br />
microrganismos em dietas para animais, definindo-os<br />
como organismos ou “substâncias” que contribuem<br />
para um balanço intestinal adequado (Parker<br />
et al., 1974). De acordo com Fuller et al. (1989), os<br />
probióticos são constituídos de microrganismos vivos<br />
que afetam beneficamente o hosp<strong>ed</strong>eiro melhorando<br />
o equilíbrio na flora do trato gastrintestinal.<br />
Probióticos são suspensões de microorganismos<br />
vivos que, quando administrados em quantidades<br />
adequadas, conferem benefícios notáveis à saúde do<br />
hosp<strong>ed</strong>eiro bem como do ambiente explorado (FAO,<br />
2001).<br />
As bactérias probióticas tem potencial para substituir<br />
os antibióticos por não poluir o ambiente, não<br />
selecionar cepas resistentes, além de possibilitar um<br />
melhor crescimento (Vieira et al, 2010).<br />
44
Mecanismos de ação dos probióticos<br />
Vários são os mecanismos de ação dos probióticos,<br />
podendo citar:<br />
Exclusão por<br />
competição<br />
Bactérias probióticas se<br />
aderem às células epiteliais da<br />
par<strong>ed</strong>e celular (micro vilosidades)<br />
e habitam na mucosa, imp<strong>ed</strong>indo a fixação das<br />
bactérias patogênicas;<br />
As bactérias probióticas competem<br />
com as patogênicas<br />
Competição<br />
pelo substrato à luz intestinal,<br />
imp<strong>ed</strong>indo assim a sua multiplicação;<br />
Produção de<br />
Cepas probióticas possuem<br />
substâncias<br />
a capacidade de produzir<br />
antimicrobianas<br />
bacteriocinas. Atualmente já se<br />
utilizam estas bacteriocinas naturais<br />
para a conservação de alimentos para humanos;<br />
Desintoxicação<br />
Através da neutralização in situ<br />
das entero-toxinas e da prevenção<br />
da síntese de aminas tóxicas;<br />
Estimulação<br />
do sistema<br />
imunológico<br />
Devido ao conceito “saúde intestinal”,<br />
os probióticos atuam<br />
no equilíbrio da flora intestinal,<br />
mantendo o sistema digestório<br />
saudável e consequentemente estimulando a produção<br />
de anticorpos específicos e não específicos. No<br />
caso dos crustáceos que não possuem a capacidade<br />
de produzir anticorpos (memória imunológica), os<br />
probióticos aumentam a eficiência da modulação<br />
do sistema imune inato através de uma microbiota<br />
intestinal em equilíbrio;<br />
Produção<br />
de enzimas<br />
digestivas<br />
Alguns microrganismos<br />
probióticos são capazes de<br />
produzir no intestino enzimas<br />
microbianas digestivas,<br />
exógenas ao animal, que associadas às enzimas que<br />
são naturalmente produzidas no intestino, otimizam<br />
a digestão promovendo o aumento da eficiência<br />
alimentar;<br />
Tratamento<br />
ambiental<br />
A administração de probióticos<br />
melhora a qualidade no ambiente<br />
de cultivo, através da<br />
r<strong>ed</strong>ução das concentrações de matéria orgânica, de<br />
nitrogênio e de fósforo, além de inibir o crescimento<br />
de patógenos.<br />
45<br />
JUL/AGO 2018
Para que a utilização de probiótico seja realmente<br />
efetiva em um sistema de criação existem dois fatores<br />
que são de fundamental importância. Esses fatores<br />
são: concentração e conservação.<br />
Temos que ter em mente que as bactérias probióticas<br />
têm que fazer prevalência no meio para se<br />
sobreporem as bactérias patogênicas e para tanto é<br />
preponderante que os produtos a serem utilizados tenham<br />
altas concentrações (UFC/g).<br />
Da mesma forma temos que nos conscientizarmos<br />
que probióticos são bactérias vivas, e como tal devem<br />
ser conservadas sob refrigeração, para que se mantenham<br />
vivas até sua chegada ao sistema digestivo dos<br />
animais, pois, só assim serão realmente efetivas.<br />
Outro aspecto à considerar quando da utilização<br />
de probióticos é a proc<strong>ed</strong>ência do mesmo, já que a<br />
origem das cepas utilizadas no produto pode garantir<br />
ou não o resultado final.<br />
Conclusão<br />
Sem dúvidas a utilização de probióticos resulta em<br />
melhorias significativas na saúde dos animais aquáticos<br />
e na eficiência dos sistemas produtivos, devendo ser<br />
uma prática constante nos mais diversos meios de<br />
produção aquícola, pois, maximiza os ganhos zootécnicos,<br />
ambientais e econômicos, quando utilizado e<br />
conservado de maneira adequada.<br />
JUL/AGO 2018<br />
© Murício Emerenciano<br />
46
47<br />
JUL/AGO 2018
JUL/AGO 2018<br />
48
Trinta anos do Programa<br />
de Pós-Graduação<br />
em Aquicultura da<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de<br />
Santa Catarina<br />
Leila Hayashi<br />
Débora M. Fracalossi<br />
Luis Vinatea Arana<br />
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina – UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
ppgaqi@contato.ufsc.br<br />
O<br />
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura<br />
(PPGAQI) da Universidade F<strong>ed</strong>eral de<br />
Santa Catarina teve início em 1988 com seu<br />
curso de mestrado, o primeiro programa stricto sensu de<br />
cultivo de organismos aquáticos da América Latina. Trinta<br />
anos se passaram e, hoje, o PPGAQI oferece, além<br />
do mestrado, o curso de doutorado (criado em 2005).<br />
De lá para cá, o Programa já formou 436 mestres e 85<br />
doutores, sendo que a grande maioria atua diretamente<br />
em importantes instituições brasileiras e estrangeiras na<br />
área de Aquicultura e Recursos Pesqueiros.<br />
Falar dos trinta anos da nossa pós-graduação equivale<br />
a falar das pessoas que fizeram possível seu nascimento,<br />
crescimento e consolidação. Nos referimos aos coordenadores,<br />
professores, alunos e pessoal técnico-administrativo,<br />
cujo esforço, muitas vezes hercúleo, garantiu<br />
que o Programa alcançasse, em 2010, o seu atual status<br />
de excelência (CAPES 6). O histórico, a infraestrutura e<br />
a qualidade das pessoas envolvidas colocam o Programa<br />
numa posição privilegiada para aspirar a progressão para<br />
o nível CAPES 7, com o qual a nossa pós-graduação irá<br />
se igualar aos melhores programas stricto sensu do Brasil.<br />
O PPGAQI é considerado um dos programas mais<br />
completos dentro da área de aquicultura por desenvolver<br />
pesquisas com praticamente todos os organismos<br />
aquáticos: microalgas, macroalgas, moluscos, camarões,<br />
peixes marinhos e de água doce, além de peixes ornamentais.<br />
JUL/AGO 2018<br />
49
JUL/AGO 2018<br />
Só em 2017 foram produzidas 24 dissertações de<br />
mestrado e 14 teses de doutorado em cinco linhas de<br />
pesquisa:<br />
A grande maioria das pesquisas tem sido publicada<br />
sob a forma de artigos científicos em periódicos com<br />
elevada qualificação. O Programa contou, ainda em<br />
2017, com nove bolsistas de pós-doutorado, parte deles<br />
dentro da cota do Programa Nacional de Pós-Doutorado<br />
e outra parte de projetos CAPES e CNPq. Desses<br />
nove bolsistas, cinco possuíam formação em Instituições<br />
distintas da UFSC: Universidade F<strong>ed</strong>eral de Minas Gerais,<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande, Universidade<br />
F<strong>ed</strong>eral de São Carlos e Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa<br />
Maria.<br />
O profissional formado no PPGAQI tem uma visão<br />
ampla do setor, que vai além dos temas abordados nas<br />
dissertações e teses. Graças às pesquisas e tecnologias<br />
geradas pelo corpo docente e discente, o Estado de<br />
Santa Catarina é destaque em todas as áreas de aquicultura,<br />
servindo de modelo nacional e internacional;<br />
prova disso são os diferentes prêmios nacionais (Destaque<br />
Pesquisador UFSC, Prêmio UFSC de Tese, Prêmio<br />
CAPES de Tese, Prêmio Fundação Bunge, Prêmio Expressão<br />
de Ecologia) e internacionais (Prêmio Von Martius<br />
de Sustentabilidade Brasil-Alemanha, Alltech Young<br />
Scientist Award) que os docentes e discentes receberam<br />
nos últimos anos.<br />
Atualmente, o Programa conta com dezenove docentes,<br />
todos permanentes, cuja qualidade científica<br />
pode ser evidenciada pelos quinze bolsistas de produtividade<br />
em pesquisa (PQ) do CNPq, sendo que três deles<br />
possuem bolsa PQ Nível 1 e, os outros doze, bolsas<br />
PQ Nível 2, que em conjunto representam 83,3% do<br />
corpo docente. Além disso, os professores do PPGAQI<br />
participam de dezenove grupos de pesquisa cadastrados<br />
e certificados no CNPq, e estão desenvolvendo 44 projetos<br />
com oito financiadores principais, entre instituições<br />
de fomento públicas e iniciativa privada.<br />
50<br />
Reprodução e larvicultura;<br />
Tecnologias e sistemas de produção;<br />
Manejo e conservação de<br />
ecossistemas aquáticos;<br />
Nutrição e alimentação;<br />
Patologia e sanidade.<br />
Comemoração aos 30 anos<br />
De 15 a 17 de agosto de 2018, no Hotel Mercury<br />
(Itacorubi, Florianópolis), o PPGAQI comemorou seus<br />
trinta anos de existência com o evento “Revolução Azul<br />
no Brasil: Aquicultura em 30 anos”. Cabe destacar a<br />
participação no evento do ex-reitor da UFSC Álvaro<br />
Toubes Prata (MCTIC), Wilson Wasielesky Jr. (FURG),<br />
Luis H. S. Poersch (FURG), Wagner C. Valenti (UNESP),<br />
Felipe Matias (FAO), Luiz E. Pezzato (USP), Silas C. da<br />
Silva (ESALQ) e dos ex-alunos do Programa, entre eles<br />
Aliro Borques, primeiro discente formado no mestrado<br />
e atual reitor da Universidade Católica de Temuco<br />
(Chile), Walter Vásquez Torres, coordenador da Pós-<br />
-graduação em Ciências Agrárias da Universidade de Los<br />
Llanos (Colômbia), Sérgio W. da Costa (EPAGRI), Juan<br />
Esquivel García (Piscicultura Panamá), Alex A. dos Santos<br />
(EPAGRI) e Rafael Luiz da Costa (ABEAQUI).<br />
No evento foi homenageada a figura mais emblemática<br />
da nossa pós-graduação, o técnico-administrativo<br />
Carlito Aloisio Klunk, secretário do Programa desde<br />
os tempos em que a pós-graduação era uma especialização<br />
lato sensu, a qual funcionou de 1986 a 1987.<br />
Lembramo-nos disso porque em 1986, ano da última<br />
passagem do cometa Halley, um dos que subscrevem<br />
este artigo fazia parte da primeira turma do curso, cujo<br />
coordenador era o Prof. João Bosco Rosas Rodrigues.<br />
A especialização serviu para lançar em 1988 o curso de<br />
mestrado, sob a coordenação do Prof. Santo Zacarias<br />
Gomez (1988-1992). Desde então, vários professores<br />
do Departamento de Aquicultura ocuparam o cargo, os<br />
quais destacamos por ordem cronológica:<br />
1992-1996 Annia T. Bessanesi Poli<br />
1996-1998 Jaime Fernando Ferreira<br />
1998-2000 Vinícius R. Cerqueira<br />
2000-2002 Jaime Fernando Ferreira<br />
2002-2006 Débora Machado Fracalossi<br />
2006-2010 Cláudio M. Rodrigues de Melo<br />
2010-2012 Evoy Zaniboni Filho<br />
2012-2017 Alex Pires de Oliveira Nuñer<br />
2017-2019 Leila Hayashi
Conclusão<br />
No referente aos desafios que o PPGAQI em<br />
particular, e a aquicultura em geral, terão de enfrentar<br />
nos próximos anos, os palestrantes convidados<br />
foram unânimes em apontar a necessidade de criar<br />
e desenvolver tecnologias mais sustentáveis, que<br />
priorizem a inclusão social e a preservação do meio<br />
ambiente. Esperemos que em 2062, na próxima<br />
passagem do Halley, levando em consideração<br />
o número atual de egressos, o PPGAQI tenha<br />
ultrapassado a marca das 1.500 teses e dissertações<br />
defendidas e publicadas. Esperemos também que,<br />
nesse ano, a aquicultura supere em várias vezes a<br />
atual produção, que a faça de forma sustentável e<br />
inclusiva, e que cada um dos 10 bilhões de seres<br />
humanos desse futuro próximo possa usufruir dos<br />
benefícios diretos do consumo de produtos aquáticos<br />
cultivados.<br />
No referente aos<br />
desafios que o PPGAQI e a<br />
aquicultura em geral, terão<br />
de enfrentar nos próximos<br />
30 anos, os palestrantes<br />
convidados foram unânimes<br />
em apontar a necessidade<br />
de criar e desenvolver<br />
tecnologias mais sustentáveis,<br />
que priorizem a inclusão<br />
social e a preservação do meio<br />
ambiente.<br />
Figura 1. Participantes do evento.<br />
JUL/AGO 2018<br />
51
Potential of insect-bas<strong>ed</strong> diets for Atlantic salmon<br />
(Salmo salar)<br />
Ikram Belghit, Nina S.Liland, RuneWaagbø, IreneBiancarosa, Nicole Pelusio, Yanxian Li, Åshild<br />
Krogdahl, Erik-Jan Lock.<br />
Embora atualmente os insetos não sejam produzidos em volumes suficientes para serem<br />
utilizados na produção comercial de ração para peixes, estes mostram-se como grande promessa<br />
de ingr<strong>ed</strong>ientes sustentáveis para o futuro da aquicultura.<br />
No presente estudo, os pesquisadores avaliaram o efeito do uso de larvas de mosca soldado<br />
negro (Hermetia illucens) cultivadas em diferentes meios, como ingr<strong>ed</strong>ientes de rações para<br />
salmão do Atlântico cultivado em água doce. Foi analisado o desempenho de crescimento,<br />
composição corporal e digestibilidade de nutrientes.<br />
Os resultados demostraram que:<br />
É possível adicionar 600 g kg - 1 de farinha de insetos em combinação<br />
com óleo de insetos nas dietas de salmão do Atlântico, sem qualquer<br />
efeito adverso sobre o desempenho de crescimento, utilização da ração,<br />
digestibilidade aparente e composição corporal;<br />
A farinha de mosca soldado negro parece ser uma boa fonte de<br />
aminoácidos e tem alta biodisponibilidade para aminoácidos em salmão<br />
do Atlântico;<br />
JUL/AGO 2018<br />
A inclusão dietética da farinha de insetos não afetou a composição<br />
im<strong>ed</strong>iata corporal do salmão do Atlântico.<br />
A escolha dos ingr<strong>ed</strong>ientes e a formulação das dietas podem influenciar no impacto<br />
ambiental da indústria aquícola. Portanto, é crucial um contínio estudo do desenvolvimento<br />
de dietas que causem cada vez menos impacto no ambiente, sem deixar de serem eficientes<br />
no aspecto zootécnico.<br />
Leia o artigo completo no portal Aquaculture, Volume 491 , 1 de abril de 2018 , páginas 72-81.<br />
52
Cultivo super-espinhoso<br />
Manejo do dia<br />
JUL/AGO 2018<br />
53
Roberto Bianchini Derner<br />
Laboratório de Cultivo de Algas<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina - UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
roberto.derner@ufsc.br<br />
Quando as microalgas se tornam<br />
indesejadas: floração de algas nocivas<br />
Diferente das colunas anteriores, nas quais tratamos<br />
das aplicações biotecnológicas das algas e<br />
de aspectos do metabolismo destes organismos, nesta<br />
coluna trataremos de alguns casos em que as microalgas<br />
se tornam indesejadas.<br />
Neste sentido, sem dúvida o assunto mais discutido<br />
é o da proliferação muito intensa de determinada<br />
população de microalgas no ambiente natural, ou em<br />
um tanque de cultivo de peixes, por exemplo. Este<br />
fenômeno natural é conhecido como Floração de Algas<br />
Nocivas (FAN), ou Harmful Algal Bloom (HAB), e<br />
sua ocorrência têm estreita relação com parâmetros<br />
ambientais, quando variações nas correntes, regime<br />
de ventos, aporte de nutrientes, salinidade, iluminação<br />
e na temperatura da água, dentro outros fatores, induzem<br />
uma população de poucas células microalgais<br />
a uma proliferação massiva, ocasionando, em poucos<br />
dias, uma FAN que pode ser deslocada pelos ventos e<br />
correntes e alcançar áreas de pesca, de cultivos aquícolas,<br />
de lazer e de captação de água para consumo<br />
humano, por exemplo.<br />
As FAN podem ocorrer tanto em ambiente marinho<br />
quanto em água doce e, algumas são conhecidas<br />
popularmente como “marés vermelhas”, quando se<br />
tratam de florações de dinoflagelados com pigmentação<br />
avermelhada, entretanto, podem ser de outras<br />
cores, relacionadas aos táxons (diatomáceas, cianobactérias,<br />
clorofíceas etc.) e aos respectivos pigmentos<br />
sintetizados pelas células algais.<br />
Cabe esclarecer que uma FAN não necessariamente<br />
se refere à florações de microalgas produtoras de<br />
toxinas (ficotoxinas). Em muitos casos, basta que ocorra<br />
uma proliferação muito intensa de qualquer espécie<br />
de microalga para que as condições ambientais possam<br />
sofrer alterações, principalmente em relação à concentração<br />
do oxigênio dissolvido, pH, cor, odor e até no<br />
gosto da água. Tanto no ambiente natural quanto nos<br />
ambientes de cultivos, uma população muito densa de<br />
microalgas pode consumir todo o oxigênio dissolvido<br />
na água (por sombreamento, pela respiração ou no<br />
processo de decomposição das células mortas), levando<br />
à morte todos os outros organismos naquele local,<br />
causando muitos prejuízos ambientais e econômicos,<br />
como grandes mortandades de peixes, moluscos e<br />
crustáceos, com registros de ocorrência no Brasil e em<br />
muitos outros países.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Figura 1. a) FAN na costa da África; b) Pseudo-nitzchia - diatomácea produtora de neurotoxina que pode causar síndrome amnésica.<br />
A. B.B.<br />
© http://oceanadventures.co.za © NOAA<br />
54
BIOTECNOLOGIA DE<br />
ALGAS<br />
Grande atenção é necessária, e tem sido verificada<br />
em alguns casos, no monitoramento da ocorrência<br />
de espécies de microalgas potencialmente produtoras<br />
de toxinas nos locais de cultivo de moluscos filtradores<br />
(ostras, mexilhões e vieiras). Estes moluscos obtém<br />
seu alimento através da filtração das partículas em<br />
suspensão na água - incluindo células microalgais, que<br />
constituem o fitoplâncton – e o problema decorre da<br />
possibilidade destas ficotoxinas (algumas muito potentes)<br />
serem concentradas na carne dos animais (bioacumulação).<br />
Geralmente, as toxinas não causam mal aos<br />
moluscos, entretanto, podem causar diversos tipos de<br />
envenenamento nos organismos – incluindo o homem<br />
- que se alimentaram dos moluscos contaminados. Menos<br />
mal que uma vez que a floração desapareça, após<br />
alguns dias os moluscos podem se depurar naturalmente,<br />
e o seu consumo pode ser retomado sem riscos.<br />
Outros possíveis problemas ocasionados pelas FAN<br />
são relacionados ao envenenamento através da pele<br />
pelo contato com estas ficotoxinas presentes na água<br />
e/ou pela possibilidade de determinadas microalgas<br />
causarem obstrução das brânquias de animais<br />
aquáticos, ou de espécies com frústulas causarem<br />
microferimentos nas brânquias destes animais, sendo os<br />
ferimentos a porta de entrada para micro-organismos<br />
como bactérias e fungos, causadores de doenças<br />
secundárias. Bem conhecido nas estações de captação<br />
de água de muitas cidades, bem como dos produtores<br />
de peixes de água doce - mas não exclusivamente, uma<br />
vez que também pode ocorrer em peixes e camarões<br />
marinhos, o off-flavor (gosto e/ou cheiro de terra ou<br />
mofo) causado pela presença, principalmente, de<br />
algumas cianobactérias é um problema que ocasiona<br />
expressivas perdas econômicas na aquicultura, uma vez<br />
que os produtores precisam tomar m<strong>ed</strong>idas visando<br />
tanto à eliminação destas microalgas dos sistemas de<br />
cultivo quanto à depuração dos animais, visto que<br />
muitos mercados rejeitam o produto no caso de ser<br />
constatado o off-flavor.<br />
Em relação à saúde humana, um caso muito grave<br />
de envenenamento por ficotoxina ocorreu numa clínica<br />
em Caruaru, PE, em 1996, quando 65 pacientes<br />
morreram após o proc<strong>ed</strong>imento de hemodiálise no<br />
qual foi acidentalmente empregada água contaminada<br />
com microcistina, uma potente hepatoxina sintetizada<br />
por cianobactérias do gênero Microcystis.<br />
Assim, seja para o desenvolvimento das atividades<br />
aquícolas, como para o lazer ou para o abastecimento<br />
de água das cidades, é muito importante o desenvolvimento<br />
de planos de monitoramento e, se possível o<br />
controle, das populações de microalgas, particularmente<br />
daquelas potencialmente produtoras de toxinas. E<br />
para não fugir completamente das aplicações biotecnológicas<br />
das microalgas, nesta coluna as ficotoxinas foram<br />
apresentadas de maneira negativa, porém, quem sabe<br />
algumas possam ser estudadas e virem a ser empregadas<br />
na elaboração de m<strong>ed</strong>icamentos.<br />
Figura 2. a) Milhares de sardinhas mortas em praia do Chile por causa de uma FAN; b) FAN de cianobactérias em um lago.<br />
A. B.<br />
JUL/AGO 2018<br />
© AP Photo/Felix Marquez © www.fondriest.com<br />
55
Green<br />
TECHNOLOGIES<br />
CSIRO - Austrália<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />
mauricioemerenciano@hotmail.com<br />
Aquaponia nas escolas: <strong>ed</strong>ucação com<br />
alimentos saudáveis!<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das<br />
instituições vinculadas ao mesmo.<br />
A. B. C.<br />
Transcender a ciência e tecnologia das Universidades<br />
e aterrissar nas escolas é o tema da<br />
coluna Green Technologies desta <strong>ed</strong>ição. Os sistemas<br />
considerados mais ecológicos ou “environmental friendly”<br />
como bioflocos e aquaponia são um caminho sem<br />
volta e isso não é novidade para ninguém. Mas a pergunta<br />
é: será que podemos aplicar estas tecnologias,<br />
como por exemplo a aquaponia, como instrumento<br />
de <strong>ed</strong>ucação e ainda produzir alimentos mais saudáveis?<br />
A resposta é sim!<br />
Não é de hoje que a Aquaponia é considerada uma<br />
revolução na forma de produzir alimentos. Esse modelo<br />
de cultivo que integra peixes, crustáceos e diferentes<br />
espécies de plantas caiu no gosto de diversas<br />
pessoas em muitos países, tanto no âmbito de hobby<br />
ou como negócio! Este modelo integrado, que aproveita<br />
nutrientes oriundos dos efluentes dos peixes e<br />
crustáceos para produzir diversas espécies de hortaliças,<br />
frutas, forragens e até mesmo flores, é foco de<br />
diversos programas de pesquisa e de desenvolvimento<br />
alimentar em muitos países. No Brasil o interesse<br />
vem crescendo a cada dia graças a maior quantidade<br />
de informações disponíveis nas mídias sociais, cursos<br />
ofertados, entre outros. Mas este sistema integrado<br />
pode virar ferramenta de <strong>ed</strong>ucação e ser aplicado de<br />
maneira im<strong>ed</strong>iata?<br />
Figura 1. Unidades de pesquisa em aquaponia nas Universidades UDESC campus Laguna-SC (a,b) e UNIBAVE campus Orleans (c).<br />
JUL/AGO 2018<br />
A aquaponia nas escolas certamente foi um dos<br />
maiores exemplos neste sentido. Pude ver “ao vivo e<br />
a cores” e participar ativamente desta iniciativa única<br />
e que facilmente pode ser replicada. Ver as inovações<br />
técnico-científicas desenvolvidas nas Universidades<br />
aterrissarem com sucesso em escolas de ensino médio<br />
da região de Laguna-SC foi um dos maiores presentes<br />
profissionais de minha vida. Fruto de um projeto<br />
financiado pelo CNPq-VALE, as pesquisas em aquaponia<br />
iniciaram na UDESC em 20<strong>13</strong> e o resultado, entre<br />
outros, foi a implantação de unidades demonstrativas<br />
em escolas públicas da região. Nestas unidades os professores<br />
de disciplinas tais como biologia, física e química<br />
utilizavam aquele ambiente para suas aulas práticas,<br />
sempre atrelando o conteúdo ministrado com a conscientização<br />
ambiental. Segundo relato dos professores,<br />
as crianças demonstravam cada vez mais interesse nos<br />
diversos assuntos abordados e apresentavam maior<br />
facilidade de aprendizagem. Passados vários anos, as<br />
unidades continuam em pleno funcionamento e o melhor:<br />
expandindo! Bacana não é mesmo? Certamente<br />
muitas belas histórias ainda virão.<br />
Figura 2. Aquaponia nas escolas públicas da região de Laguna-SC: diversão, conscientização e aprendizado.<br />
56
André Camargo<br />
Sócio Fundador da Escama Forte<br />
Botucatu, SP<br />
andre@escamaforte.com.br<br />
Por que o Brasil exporta tão<br />
pouca tilápia?<br />
Atilápia já está bem avançada neste quesito<br />
.de exportação, principalmente por ser um<br />
produto muito comum no mercado internacional.<br />
Mas o que nos falta para conquistar esse mercado<br />
internacional, então de tilápia? A primeira resposta é<br />
bem simples, necessitamos de competitividade, muita<br />
competitividade. Essa competitividade tanto dentro das<br />
fazendas como fora das fazendas. Nas condições atuais<br />
não conseguimos sequer chegar perto de chineses,<br />
vietnamitas e equatorianos por exemplo, que hoje<br />
usam soja brasileira para a produção de seus peixes.<br />
Dentro da fazenda as melhorias de alguns anos<br />
para cá já estão ocorrendo. De maneira básica sãos as<br />
questões relacionadas à zootecnia como manejo, nutrição,<br />
genética, entre outros que podem colaborar de<br />
forma significativa com os índices gerais de produtividade<br />
e desta forma dar ao Brasil mais competitividade.<br />
Podemos considerar que estamos apenas começando<br />
e ainda temos muito a avançar em equipamentos, sistemas<br />
de produção, melhoramento genético e etc.<br />
Fora da fazenda alguns pontos se mostram como<br />
os mais importantes quando pensamos em exportação<br />
de tilápias:<br />
1. Preços<br />
Atualmente os preços do<br />
mercado interno são extremamente<br />
atrativos, remuneram<br />
de forma interessante<br />
e fazem com que<br />
as empresas tenham pouco<br />
interesse pelo aumento das<br />
exportações, porém este<br />
cenário pode mudar com os<br />
incrementos de produção e<br />
aumento da oferta de pescado<br />
no mercado interno.<br />
2. Perfil do empreend<strong>ed</strong>or<br />
Excluindo-se as empresas<br />
com perfil mais empresarial,<br />
os demais empresários<br />
ligados a produção, são<br />
mais cautelosos quando<br />
se trata de exportação. As<br />
empresas que estão exportando<br />
são administrações<br />
diferentes das tradicionais.<br />
Concluindo, o Brasil encontra-se muito bem em<br />
relação ao desenvolvimento de questões zootécnicas,<br />
porém encontra-se extremamente defasado em relação<br />
às questões externas à produção. O Drawback ainda<br />
é um estudo da EMBRAPA, o Serviço de Inspeção<br />
F<strong>ed</strong>eral dificulta as exportações por falta de conhecimento<br />
e pessoal, o empresário do setor ainda é muito<br />
pequeno e não vê com bons olhos os processos de<br />
exportação e assim seguimos, porém, a pesca mundial<br />
está entrando em colapso, o interesse por espécies<br />
que utilizam mais baixos níveis de proteína são<br />
3. Drawback<br />
Como parte do ganho de<br />
competitividade no exterior<br />
temos a implantação<br />
do DRAWBACK, que vai<br />
desonerar os insumos utilizados<br />
na produção e processamento,<br />
isentos de impostos<br />
f<strong>ed</strong>erais quando se<br />
tratar de exportação.<br />
4. SIF<br />
Processos do SIF vinculados<br />
ao governo f<strong>ed</strong>eral<br />
engessam as exportações<br />
e tiram competitividade das<br />
empresas brasileiras frente<br />
aos concorrentes internacionais,<br />
importante salientar<br />
que esta é uma colocação<br />
recorrente de várias empresas<br />
do Brasil.<br />
uma realidade na Europa e a solidificação da tilápia no<br />
mercado americano trazem excelentes perspectivas<br />
para nossos produtos. Quando pensarmos o que fazer,<br />
devemos priorizar o mercado americano no curto<br />
prazo, a América Latina no médio prazo, pois Chile,<br />
Colômbia entre outros já compraram do Brasil e possuem<br />
a tilápia em suas realidades e a Europa como o<br />
passo fundamental a um prazo mais alongado, pois aos<br />
poucos a tilápia vai entrando e nós temos condições de<br />
atender aos padrões de qualidade impostos por eles.<br />
57<br />
JUL/AGO 2018
Giovanni Lemos de Mello<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />
Editor-chefe da <strong>Revista</strong> Aquaculture Brasil<br />
Laguna, SC<br />
giovanni@aquaculturebrasil.com<br />
Visão<br />
aquícola<br />
JUL/AGO 2018<br />
Piscicultura Marinha no M<strong>ed</strong>iterrâneo<br />
Recentemente participei de uma missão na Europa<br />
coordenada pelo Ministério da Ciência,<br />
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), integrando<br />
uma delegação brasileira no tema de P&D<br />
em aquicultura. Um dos principais objetivos desta<br />
missão foi conhecer de perto plataformas de integração<br />
entre academia, indústria e governo, buscando<br />
adaptar um modelo para o Brasil, a exemplo da EATIP<br />
(European Aquaculture Technology Platform).<br />
Minha primeira missão internacional como especialista<br />
da área, aos 37 anos, após meus primeiros<br />
dez anos (ainda bem tímidos) como pesquisador e<br />
15 anos de graduado em Engenharia de Aquicultura.<br />
“Marinheiro de primeira viagem”. Foi incrível adentrar<br />
no mar M<strong>ed</strong>iterrâneo e conhecer a piscicultura<br />
marinha do Sul da Espanha. Como assim, professor<br />
da disciplina de Piscicultura e pesquisador na área de<br />
piscicultura marinha que nunca visitou a piscicultura<br />
marinha fora do Brasil? Caro leitor, não tenho vergonha<br />
alguma de apontar as minhas fragilidades. Pior é a<br />
pessoa que vive tendo oportunidades de conhecer a<br />
aquicultura pelo mundo e não contribui em nada pelo<br />
desenvolvimento de nossa atividade no País.<br />
O curioso, é que pude conferir na prática o que<br />
escrevi em minha primeira coluna, da <strong>ed</strong>ição anterior.<br />
Robalos e pargos com 300 a 400 gramas, produzidos<br />
por dois anos, protagonizando um mercado que movimenta<br />
bilhões de Euros/ano. Entre robalos, pargos,<br />
corvinas e atuns, obviamente que este último foi o<br />
que mais chamou a nossa atenção. Fomos recebidos<br />
por um dos seis proprietários da maior empresa espanhola,<br />
que nos contou absolutamente tudo sobre<br />
o processo de criação, beneficiamento e comercialização<br />
do atum. Aliás, algumas imagens ilustram muito<br />
melhor do que uma ou duas páginas...<br />
Segundo a empresa, após o mês de maio, melhor<br />
preço para venda do atum ao Japão (90% de seu<br />
mercado), o preço deste pescado r<strong>ed</strong>uz consideravelmente<br />
e a solução é estocá-los em gaiolas no mar. Ali,<br />
eles ficam em média 5 meses, até o preço se recuperar.<br />
O peso inicial é de causar espanto: de 150 a 250<br />
Kg! Isto mesmo, quilos! O tanque-r<strong>ed</strong>e parecia mais<br />
uma jaula com leões! Nos meses em que os atuns<br />
vão permanecer ali, eles engordam cerca de 40%,<br />
mas não é muito controlada a questão de biometrias.<br />
Outra coisa que assusta, tanques-r<strong>ed</strong>e com 90 m de<br />
diâmetro, como vocês podem conferir nas imagens<br />
que ilustram esta coluna.<br />
Por fim, daí assusta mesmo, a produção anual da<br />
empresa: 12 mil toneladas de atum por ano. E para<br />
aterrorizar de vez, a última informação: o fornecimento<br />
diário de peixes para os atuns: 800 toneladas/dia.<br />
Isto mesmo, não é quilo, e não há erro de digitação!<br />
São oitocentas toneladas por dia de peixes sendo<br />
ofertados aos atuns nas gaiolas da empresa no M<strong>ed</strong>iterrâneo.<br />
Tente refletir um pouco a respeito...<br />
Da próxima vez que estiver mostrando aquele<br />
gráfico mais famoso da FAO, com o total produzido<br />
pela pesca e aquicultura,<br />
e falando que<br />
a pesca, apesar de<br />
ainda produzir mais,<br />
parte não vai para<br />
consumo humano e<br />
sim para outros fins<br />
(como o descrito acima!),<br />
nunca mais vou<br />
me esquecer do que<br />
vimos.<br />
58
GENÉTICA<br />
Rodolfo Luis Petersen<br />
Não é fácil iniciar uma série de colunas sobre<br />
melhoramento genético. Trata-se de uma disciplina<br />
que para conseguir entendê-la precisamos ter<br />
claro alguns conceitos, entre eles, por exemplo, as leis<br />
de Mendel. Todos sabemos das dificuldades para seu<br />
entendimento. Sem querer julgar, a maioria dos técnicos<br />
ligados a aquicultura não conhecem o conceito de<br />
GENE, mesmo falando de melhoramento genético,<br />
muito menos de alelo e de segregação mendeliana.<br />
Na sequência precisamos ter boas noções de estatística<br />
e genética quantitativa. E para finalizar, mas não<br />
menos importante, precisamos conhecer a biologia<br />
e o comportamento do animal que desejamos melhorar.<br />
Numa bela oportunidade, conversando com o<br />
Dr. Maurício Alencar, meu professor e orientador de<br />
genética quantitativa, uns dos idealizadores do programa<br />
de desenvolvimento da raça bovina Canchim da<br />
Embrapa, frente a uma série de perguntas o “monstro”<br />
me responde:<br />
“Rodolfo, Ninguém faz melhoramento de um animal<br />
que não conhece”.<br />
O intuito desta nova série, e apesar de já ter lido<br />
ótimas notas em revistas do setor, é rever alguns conceitos<br />
básicos e tentar colocá-los em uma linguagem<br />
coloquial para o entendimento de alunos, técnicos e<br />
profissionais da aquicultura. A continuação, iremos<br />
aprofundando o tema para chegar com uma sequência<br />
lógica e temas mais específicos.<br />
Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />
Pontal do Paraná, PR<br />
rodolfopetersen@hotmail.com<br />
Melhoramento Genético:<br />
o sonho de Maradona<br />
Para começar, existe um dito famoso: TAMANHO<br />
NÃO É DOCUMENTO.<br />
O que isso significa? já escutei milhões de vezes<br />
de aquicultores participando de uma despesca, em<br />
uma transferência ou em qualquer manejo habitual,<br />
ao observar um indivíduo avantajado em peso e comprimento,<br />
comentar a possibilidade de produzir um<br />
reprodutor com aquele exemplar, achando que o<br />
mesmo é adequado para tal, mesmo sem ter a mínima<br />
noção do histórico do animal. Primeiramente,<br />
algo que temos que ter bem claro é que o que nós<br />
observamos, o fenótipo, é a relação entre o genótipo<br />
e o ambiente que o indivíduo foi cultivado desde seu<br />
nascimento até o momento em que se está observando,<br />
e em alguns casos, já existe um efeito materno antes<br />
do mesmo ter nascido. Parece fácil entender este<br />
conceito, mas não é. O grande objetivo de um melhorista<br />
no seu programa é estimar que proporção do<br />
fenótipo é devido a ação dos genes e que proporção<br />
é devido a ação do ambiente, para selecionar ou cruzar<br />
os que realmente são superiores geneticamente.<br />
Para complicar a situação, existe uma variabilidade<br />
ambiental bastante reconhecida nos cultivos aquícolas:<br />
diferentes estuários, salinidades, temperaturas, sistemas<br />
de cultivo, etc, etc...<br />
Para finalizar, sabem qual é o sonho de Maradona?<br />
Produzir uma linhagem de crescimento rápido e<br />
resistente à doenças.<br />
JUL/AGO 2018<br />
© Paul Darrow<br />
59
NUTRIÇÃO<br />
JUL/AGO 2018<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
CSIRO – Austrália<br />
IPEMAR – Brasil<br />
Bomba de carne fresca: um grande passo para<br />
a sustentabilidade na produção de alimentos aquícolas<br />
equipamento “bomba de carne fresca” é<br />
O utilizado no processo de fabricação de alimento<br />
extrusado para animais de estimação, principalmente<br />
cachorros. Seu uso possibilita a inclusão de ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
como a carne fresca de frango e em consequência a<br />
obtenção de uma textura e qualidade únicas. Esse tipo<br />
de produto consiste em uma ração tipo premium rica<br />
em proteína para atender nichos de mercado.<br />
Conforme mencionei em <strong>ed</strong>ições anteriores, a<br />
indústria de alimento de animais de estimação oferece<br />
grandes oportunidades para a indústria de alimento<br />
aquícola, e a bomba de carne fresca é uma delas. Na<br />
fabricação de alimentos aquícolas extrusados, esse<br />
equipamento permite a utilização de uma série de<br />
rejeitos e subprodutos industriais, além da incorporação<br />
de novos ingr<strong>ed</strong>ientes que dificilmente seriam utilizados<br />
na maneira tradicional. Sua utilização abre um leque<br />
de possibilidades não só em relação aos ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
a serem utilizados, mas também à qualidade do<br />
produto final (pellet – grão de alimento), pelo fato de<br />
possibilitar a incorporação de ingr<strong>ed</strong>ientes úmidos e<br />
semiúmidos. Em extrusão geralmente são utilizados<br />
apenas ingr<strong>ed</strong>ientes secos. Assim, qualquer ingr<strong>ed</strong>iente<br />
com umidade tem que ser seco antes de incorporado<br />
no processo de fabricação, fato que eleva o custo do<br />
mesmo. Essa nova tecnologia quebra esse paradigma<br />
e abre portas para inovações. A bomba de carne<br />
fresca exige ingr<strong>ed</strong>ientes em forma pastosa ou líquida<br />
para bombeá-los diretamente no pré-condicionador,<br />
compartimento do extrusor que recebe a adição de<br />
água e vapor, pré-condicionando os ingr<strong>ed</strong>ientes para<br />
em seguida passarem pela cabeça do extrusor onde<br />
serão submetidos a alta pressão e temperatura.<br />
O Laboratório de Nutrição e Fisiologia Digestiva de<br />
Organismos Aquáticos da Universidade Autónoma da<br />
Baja Califórnia, México (liderado pela Dra. María Teresa<br />
Viana), junto com a empresa Extru-Tech Inc., utiliza sua<br />
planta piloto comercial de extrusão para desenvolver<br />
novos alimentos aquícolas. Em nosso laboratório<br />
artur.rombenso@csiro.au<br />
*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições<br />
vinculadas ao mesmo.<br />
utilizamos a bomba de carne fresca para fabricação de<br />
dietas experimentais para atum, incorporando ensilagem<br />
de rejeito de pesca e recentemente produzimos dietas<br />
extrusadas para juvenis de olhete (peixe marinho<br />
carnívoro) com ensilagem de pasta de grilo. Essa<br />
última dieta é um excelente exemplo de como esse<br />
equipamento pode revolucionar a incorporação de<br />
ingr<strong>ed</strong>ientes na extrusão. O uso de farinhas de insetos<br />
na aquacultura está em alta, com vários trabalhos<br />
publicados, inclusive uns bem interessantes do meu<br />
grande amigo e colega Dr. Maurício Gustavo Coelho<br />
Emerenciano (colunista da Green Technologies).<br />
Um dos maiores desafios para o uso desse tipo de<br />
farinha em escala comercial é o volume de produção<br />
e a preparação desses ingr<strong>ed</strong>ientes para atender às<br />
exigências de qualidade da farinha pelas empresas de<br />
fabricação. No caso do grilo, é desafiadora a moagem<br />
para atingir uma granulometria fina pelas características<br />
composicionais do organismo.<br />
60
Assim, acr<strong>ed</strong>itamos que a melhor forma foi<br />
produzir uma silagem com rejeito de sardinha e pasta<br />
de grilo para minimizar esses efeitos. Os resultados<br />
em termos de fabricação do alimento extrusado<br />
foram um êxito, pois conseguimos incorporar até<br />
50% dessa silagem (rejeito de sardinha + pasta de<br />
grilo) na formulação e os pellets saíram com uma<br />
ótima qualidade. Atualmente, os juvenis de olhete<br />
estão em experimentação por cinco semanas e as<br />
dietas contendo grilo estão sendo aceitas da mesma<br />
forma que a controle.<br />
Nessa coluna, quis mostrar como a indústria<br />
de alimentos evolui e apresentar uma das muitas<br />
inovações que existem no setor. É bastante provável<br />
que essa tecnologia de bomba de carne fresca esteja<br />
presente no mercado nos próximos anos. E quais<br />
ingr<strong>ed</strong>ientes estaremos incorporando nas dietas?
JUL/AGO 2018<br />
62<br />
Fábio Rosa Sussel<br />
Pesquisador Científico da APTA - UPD<br />
Pirassununga, SP<br />
sussel@apta.sp.gov.br<br />
Interiorização do camarão marinho<br />
Fazendo jus ao título da minha sessão, Atualidades<br />
e Tendências da Aquicultura, não poderia deixar<br />
de falar sobre a mais recente modalidade de expansão<br />
da carcinicultura: produção de camarão marinho<br />
em águas interiores. Ou seja, sem qualquer influência<br />
da água marinha. Mas que tipo de água, mais especificamente,<br />
isto envolve? Absolutamente todas, exceto,<br />
obviamente, as dos rios poluídos que cortam nossas<br />
cidades.<br />
São águas possíveis de se criar camarão marinho:<br />
rios de água doce, rios de água salobra (comuns no<br />
Nordeste do Brasil), poço caipira ou poço amazonas,<br />
seja com água salobra ou doce, poço artesiano, seja<br />
com água doce ou salobra, água de chuva e até mesmo<br />
“água de rua” fornecida pelas companhias de saneamento<br />
básico. A diferença é que enquanto algumas<br />
destas precisam de correção, outras, onde por sinal<br />
vislumbro o maior potencial, são naturalmente aptas<br />
a criação de camarão marinho. Com alguns detalhes<br />
bem interessantes: ambientalmente sustentável, oportunidade<br />
de fixação do homem no campo, geração de<br />
renda em áreas improdutivas e produção de proteína<br />
nobre com alto valor agregado.<br />
Pra não gerar confusão, vou logo deixar claro quais<br />
são as situações possíveis nestes diferentes tipos de<br />
água citados. Depois, havendo espaço, comento um<br />
pouco mais sobre as perspectivas otimistas deste tipo<br />
de exploração. Inicialmente é preciso deixar claro que<br />
água salgada obtida por meio da adição de NaCl (sal de<br />
cozinha) é uma coisa, e água marinha é outra. Ao mesmo<br />
tempo que o camarão marinho não é totalmente<br />
dependente da água marinha, não é certo imaginarmos<br />
uma produção comercial desta espécie em água salgada<br />
(NaCl). Se adicionarmos NaCl na água e elevarmos<br />
a dureza para mais de 80 mg/CaCO 3<br />
posso garantir<br />
que ele até sobrevive, mas não é o ideal, tratando-se<br />
de produção comercial.<br />
Também é importante registrar que não é a proposta<br />
deste artigo apresentar uma receitinha de parâmetros<br />
físico-químicos ideias para o cultivo da espécie.<br />
Primeiro porque eventuais diferenças entre os valores<br />
desejados podem implicar apenas em maior ou menor<br />
produtividade. E segundo que, absolutamente todos<br />
os parâmetros podem ser perfeitamente corrigidos.<br />
Neste caso, as particularidades de cada água precisam<br />
ser estudadas in loco. No caso das águas naturalmente<br />
aptas, pouca técnica se faz necessário para o êxito nas<br />
criações. Enquanto que aquelas águas onde a correção<br />
é imprescindível, muita técnica e profissionais especializados<br />
são necessários.<br />
Numa criação comercial de camarão marinho em<br />
águas interiores, o objetivo é proporcionar aos animais<br />
um adequado balanço iônico, e não alta salinidade.<br />
Neste caso, além do NaCl (Sódio + Cloreto) os camarões<br />
vão precisar ainda de mais 4 sais: potássio, cálcio,<br />
magnésio e sulfato. Mais importante que a quantidade<br />
destes sais é a relação entre eles. Neste caso, podemos<br />
ter uma água com salinidade de 1 ppt, ou seja, baixa<br />
quantidade de sais, mas boa relação entre eles, sendo<br />
ideal para uma criação comercial. Portanto, a primeira<br />
análise não pode se resumir apenas a salinidade em si.<br />
O segundo aspecto a ser analisado é a dureza e alcalinidade.<br />
Preconiza-se que estas estejam acima de 100<br />
mg/L de CaCO 3<br />
.<br />
Estas duas características apontadas acima são relativamente<br />
comuns de encontrar nas águas do interior<br />
do Nordeste do Brasil, seja em rios ou poços. Não<br />
sendo necessário qualquer tipo de correção. A título de<br />
melhor ilustração de como estas águas são facilmente<br />
encontradas no semiárido brasileiro, dezenas de produtores<br />
de arroz do Vale do Jaguaribe – CE (cerca de<br />
100 km do litoral), por exemplo, simplesmente estão<br />
abandonando a rizicultura e aproveitando os tabuleiros<br />
para produzir camarão marinho, sem qualquer correção<br />
na água.<br />
No caso da região Sudeste por exemplo, estes tipos<br />
de águas naturalmente aptas já não são tão comuns.<br />
Existem, mas estão em localidades específicas. Tratando-se<br />
de poços artesianos, a variação química da água<br />
é grande. Verificando superficialmente algumas análises<br />
de água disponíveis no site da CETESB, por exemplo,<br />
observa-se que em uma mesma cidade há água<br />
de poços com dureza de 20 e outros com 350 mg/L<br />
de CaCO 3<br />
, sendo esta última bastante desejável para
a criação de camarões marinhos. Mas a melhor notícia<br />
é que atualmente já dispomos de tecnologias para<br />
fornecer na água o completo balanço de sais que estes<br />
crustáceos precisam. E, lógico, num custo acessível.<br />
Já temos empresas que disponibilizam sal para<br />
constituição de “água marinha” artificial específica para<br />
a produção comercial de camarão marinho. Neste<br />
caso, pouco importa a composição química original<br />
da água. Conforme já comentado, tal situação envolve<br />
certo conhecimento técnico para o êxito da criação.<br />
Ou seja, já temos soluções tecnológicas para contornar<br />
o problema, mas não é simples. Umas das propostas,<br />
por exemplo, é criação no sistema de bioflocos (BFT).<br />
Eficiente, mas exige acompanhamento diário.<br />
Uma observação importante que vale tanto para as<br />
situações onde tem águas aptas ou águas que necessitam<br />
de correção, é que nunca deve haver o descarte<br />
de água para o ambiente. Os sistemas produtivos,<br />
sejam viveiros escavados ou tanques elevados, devem<br />
ser pensados de modo a serem eficientes no que tange<br />
a reutilização (tratamento e recalque) da água. Além de<br />
ser uma forma de se produzir alimentos sustentáveis<br />
ambientalmente, é mais eficiente do ponto de visa financeiro.<br />
Por fim, importantíssimo deixar registrado a possível<br />
transformação que esta interiorização do camarão<br />
marinho pode representar. No caso das regiões Sul e<br />
Sudeste do Brasil, onde temos as maiores densidades<br />
populacionais, a grande oportunidade de ter a produção<br />
junto ao mercado consumidor. Enquanto que especialmente<br />
no caso do Nordeste, onde a água salobra<br />
muitas vezes é um problema, eis a grande oportunidade<br />
de explorar tal recurso que, até então, nenhuma<br />
utilidade tinha.<br />
Simples? Não, absolutamente não. Tudo que é fácil<br />
e simples já tem alguém fazendo. Porém, perfeitamente<br />
possível e viável tecnicamente.<br />
JUL/AGO 2018<br />
63
Ranicultura<br />
Andre Muniz Afonso<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />
Palotina, PR<br />
andremunizafonso@gmail.com<br />
JUL/AGO 2018<br />
Como evitar o canibalismo na<br />
engorda de rãs?<br />
Ocanibalismo é uma prática inerente à várias espécies<br />
de animais, podendo ou não possuir estreita<br />
relação com a prolificidade, uma vez que espécies<br />
muito prolíferas além de não apresentarem cuidado parental,<br />
podem se alimentar da própria prole. Este comportamento<br />
já foi descrito para diversos tipos de animais<br />
aquáticos, principalmente peixes, sendo a rã-touro uma<br />
espécie comumente a ele associado.<br />
No âmbito da criação comercial, existe um grande<br />
e justificado temor quanto ao canibalismo na fase de<br />
engorda. Quando a pr<strong>ed</strong>ação é bem suc<strong>ed</strong>ida ocorre<br />
uma diminuição populacional, por outro lado, quando<br />
a rã alvo da pr<strong>ed</strong>ação escapa, sequelas, na forma de<br />
feridas, podem constituir perigosa porta de entrada<br />
para patógenos oportunistas. Isto posto, como evitar o<br />
canibalismo ao longo do processo de engorda de rãs?<br />
Iniciando-se pela recria, cabe salientar que, é prática<br />
comum os criadores introduzirem animais todos os dias<br />
nas baias iniciais até que suas lotações máximas sejam<br />
atingidas. Isso faz com que aqueles que aprendem a<br />
comer primeiro, também se desenvolvam primeiro<br />
e mesmo que não sejam muito maiores que os mais<br />
“novos” naquele ambiente, por uma questão de<br />
domínio e competição, tendam a pr<strong>ed</strong>á-los. A correção<br />
para tal problema seria a introdução do lote na baia no<br />
mesmo dia ou, ao menos, a sincronização do início da<br />
oferta alimentar, ainda que os animais não apresentem<br />
tamanhos tão uniformes.<br />
Outro fator que também leva ao canibalismo é a<br />
Figura 1. Baia semisseca de engorda de rãs, onde uma única<br />
bandeja (laranja) constitui o cocho.<br />
oferta de alimento, muitas vezes r<strong>ed</strong>uzida por questões<br />
estruturais da baia. Projeta-se um cocho que não torna<br />
o alimento disponível a todos os animais ao mesmo<br />
tempo ou, na ausência de cocho, não se distribui o<br />
alimento equitativamente, gerando, mais uma vez,<br />
domínio e competição. Neste caso, a solução é bastante<br />
simples, basta tornar o alimento disponível a todos ao<br />
mesmo tempo, modificando-se a estrutura da baia ou<br />
aumentando a proporção dos cochos, quando estes<br />
são móveis (Figura 1). Outro aspecto de relevância está<br />
ligado ao aumento da temperatura, que, por resultar<br />
em aumento do metabolismo dos animais, faz com<br />
que a procura por alimento seja maior, agravando o<br />
comportamento de competição. Como m<strong>ed</strong>ida básica,<br />
o ideal é que no dia seguinte a baia apresente um pouco<br />
de sobra do dia anterior.<br />
A triagem, um manejo realizado para separação dos<br />
animais em lotes mais homogêneos, é uma prática muito<br />
adotada que pode diminuir o canibalismo presente na<br />
baia, ainda que sua eficácia seja discutida por especialistas.<br />
A verdade é que deve-se evitar ao máximo que existam<br />
grandes discrepâncias em relação ao tamanho dos animais<br />
num mesmo lote, no entanto, em algumas situações, as<br />
diferenças entre as rãs podem ser tão grandes (Figura 2),<br />
que fica evidente a necessidade desse manejo.<br />
Observação é tudo! Existe um ditado em ranicultura<br />
que se aplica muito ao canibalismo – “O ranicultor pode<br />
ser surdo e mudo, mas não pode ser cego...”<br />
Saudações ranícolas!<br />
Figura 2. Imago (apresentando feridas típicas de canibalismo na<br />
cabeça) ao lado de fêmea adulta .<br />
64
Marcelo Shei<br />
Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos<br />
Santos, SP<br />
shei@altamar.com.br<br />
Bead Filters na Aquicultura?<br />
Aproveitando a estação do ano, vamos abordar o<br />
.uso de aquec<strong>ed</strong>ores em sistemas de aquicultura.<br />
Dentre as opções disponíveis para o aquecimento da<br />
água, tenho priorizado a utilização das bombas de calor.<br />
A grande vantagem desses equipamentos é que a grande<br />
quantidade de energia de baixa temperatura disponível<br />
no ambiente é transferida para um meio de menor superfície<br />
com alta temperatura.<br />
O aumento da concentração de partículas sólidas e<br />
de compostos nitrogenados são os principais fatores que<br />
levam a trocas de água em sistemas de aquicultura. Para<br />
sistemas de menor capacidade, o uso dos Bead Filters<br />
(BF) são uma ótima opção para filtração mecânica e biológica<br />
combinada e diminuição da necessidade de trocas<br />
de água.<br />
Esse filtro é construído em uma câmara que utiliza mídias<br />
flutuantes, capazes de realizar a retenção de sólidos<br />
de forma similar aos filtros de areia (FA). Nele, as partículas<br />
sólidas são capturadas a m<strong>ed</strong>ida que a água atravessa<br />
a coluna filtrante de forma ascendente. Simultaneamente,<br />
a superfície contida nessas mídias serve como substrato<br />
para crescimento de biofilme e filtração biológica.<br />
Como filtro de sólidos, apesar de possuirem o mesmo<br />
princípio de funcionamento dos FA, não geram os<br />
mesmos problemas existentes nesses. A diferença está<br />
principalmente na eficiência da retrolavagem. Nos FA,<br />
quando os grãos são envolvidos pelo biofilme, eles acabam<br />
se aderindo fortemente uns aos outros. Essa adesão<br />
é forte o suficiente para que a pressão de bombeamento<br />
não seja capaz de suspender toda a coluna de<br />
areia durante a retrolavagem, deixando-a compactada e<br />
com pouca capacidade de filtração. Nos BF, mesmo com<br />
a formação do biofilme, a coluna filtrante é facilmente<br />
agitada. Alguns modelos drenam a água concentrada de<br />
sólidos, um processo que utiliza muito menos água, pois<br />
a necessidade de enxágue se torna muito menor.<br />
Como filtros biológicos, BF são classificados como<br />
reatores de filme fixos, pois o envolvimento de toda mídia<br />
filtrante pelo biofilme permite extrair nutrientes da<br />
água durante a passagem através do filtro. Dessa forma,<br />
a capacidade de remoção de nitrogenados por um BF<br />
está relacionada diretamente a superfície total disponibi-<br />
Figura 1. a) Bead Filter Altamar 21m 3 /h; b) Bubble Bead Filter AST<br />
- EUA.<br />
A.<br />
B.<br />
lizada pelas mídias filtrantes. Equipamentos maiores são<br />
capazes de remover até 1.000g amônia/ dia.<br />
Essas características tornam os BF uma ótima opção<br />
para sistemas experimentais, manutenção de reprodutores,<br />
incubação de ovos, larvicultura, aquaponia, aquários<br />
públicos e lagos ornamentais. A Altamar possui uma<br />
linha própria de Bead Filters capaz de atender vazões<br />
entre 4 e 50 m 3 /h.<br />
JUL/AGO 2018<br />
65
Eduardo Gomes Sanches<br />
Instituto de Pesca / APTA<br />
Ubatuba, SP<br />
esanches@pesca.sp.gov.br<br />
JUL/AGO 2018<br />
A precisão em novas<br />
técnicas de pesquisa<br />
Nossa aquicultura vai adquirindo complexidade<br />
e se modificando, assim como tudo nesta<br />
vida, com o passar do tempo. Nos dias atuais, com<br />
a forte influência da globalização do conhecimento,<br />
os consumidores estão cada vez mais exigentes e a<br />
cadeia produtiva necessita acompanhar estas mudanças.<br />
Não é diferente para o setor acadêmico, onde<br />
as perguntas ficaram mais complexas e as respostas<br />
cada vez mais difíceis. Já está longe o tempo em que<br />
somente pesar e m<strong>ed</strong>ir os organismos aquáticos possibilitava<br />
encontrar as respostas que buscávamos. No<br />
artigo que assino neste número, apresento e discuto<br />
os cultivos multitróficos, exponho a dificuldade em<br />
fazer pesquisas no ambiente marinho, dada a expressividade<br />
das interações e sua complexidade. Por<br />
exemplo, como afirmar que os resíduos da ração que<br />
fornecemos aos peixes são absorvidas pelos moluscos<br />
bivalves ou que os nutrientes são absorvidos pelas<br />
macroalgas?<br />
No Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto<br />
de Pesca trabalhamos com diversas espécies de<br />
peixes marinhos ameaçados de extinção, tais como<br />
a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) e o<br />
mero (Epinephelus itajara). Nosso objetivo é que, um<br />
dia, estas espécies sejam produzidas em cativeiro, não<br />
sendo mais necessária sua captura na natureza. Temos<br />
muitos desafios pela frente, mas pensando no futuro,<br />
como identificar quais peixes são provenientes do cativeiro<br />
e quais são resultantes da pesca extrativa? Na<br />
tentativa de encontrar respostas para perguntas complexas<br />
em ambientes distintos de pequenos laboratórios,<br />
onde todas as variáveis podem ser controladas,<br />
me deparei com a possibilidade dos isótopos estáveis.<br />
Lembram das aulas de química? Para lhes explicar<br />
um pouco (e confesso que ainda estou estudando<br />
isto...) sugiro a leitura de um interessante artigo intitulado<br />
“Aplicação dos isótopos estáveis em aqüicultura”<br />
do finado Prof. Carlos Ducatti, uma das maiores autoridades<br />
nesta questão no Brasil. Isótopos são átomos<br />
do mesmo elemento químico com diferentes massas,<br />
pois apresentam igual número de prótons, mas diferem<br />
no número de nêutrons. Cada elemento químico<br />
apresenta um isótopo estável dominante, como por<br />
exemplo carbono-12 (12C) e nitrogênio-14 (14N).<br />
O mesmo elemento químico, entretanto, também<br />
pode ocorrer na natureza em versões mais pesadas,<br />
como exemplo, o carbono-<strong>13</strong> (<strong>13</strong>C) e nitrogênio-15<br />
(15N). Esses elementos apresentam propri<strong>ed</strong>ades<br />
químicas iguais, mas diferem nas propri<strong>ed</strong>ades físicas.<br />
O princípio da utilização de isótopos em pesquisas<br />
científicas reside na utilização da forma isotópica de<br />
um elemento químico para rastrear a origem e a história<br />
do metabólito de interesse. Isso é possível pois<br />
a composição dos tecidos reflete a dieta ingerida pelo<br />
indivíduo. Diferentes tecidos apresentam diferentes<br />
tempos de assimilação de nutrientes, portanto, apresentam<br />
uma assinatura isotópica única. Complicado?<br />
Concordo, mas vai ficar ainda mais interessante.<br />
Segundo o professor Ducatti, existe grande potencial<br />
de aplicabilidade de isótopos estáveis na aquicultura,<br />
principalmente como ferramenta do sistema<br />
de rastreabilidade. Seus trabalhos comprovaram que<br />
é possível diferenciar peixes provenientes do cultivo<br />
dos provenientes da pesca extrativa utilizando a técnica<br />
de isótopos estáveis de carbono (<strong>13</strong>C) e nitrogênio<br />
(15N). Concordam como isto é fantástico para nosso<br />
setor de aquicultura? No meio de tanto pescado misturado,<br />
poder comprovar a origem? Essa precisão é<br />
ainda mais relevante quando se trata de peixes ameaçados<br />
de extinção que podem vir a ser produzidos<br />
em cativeiro.<br />
No campo da nutrição, a técnica de isótopos estáveis<br />
pode contribuir muito para se ampliar a compreensão<br />
sobre o aproveitamento dos ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
em ambientes complexos como os tanques de cultivo.<br />
Segundo o professor Ducatti, as pesquisas que<br />
abordam aspectos sobre a alimentação e nutrição de<br />
larvas de peixes, além das informações científicas so-<br />
66
e a assimilação dos nutrientes das dietas ao longo<br />
do desenvolvimento larval, deveriam utilizar mais frequentemente<br />
os isótopos estáveis, seguindo as premissas<br />
metodológicas necessárias, visando uma exata<br />
compreensão dos mecanismos envolvidos. Não se<br />
trata mais de pesquisar causa e efeito e sim entender<br />
os mecanismos envolvidos nas causas.<br />
Finalizo esta coluna prestando uma justa homenagem<br />
a este colega pesquisador que trouxe para nossa<br />
atividade a perspectiva de utilização de técnicas complexas.<br />
Ainda temos muito a avançar nestas linhas de<br />
pesquisa, mas seguramente o caminho não tem volta.<br />
Precisamos elevar o conhecimento das variáveis complexas<br />
na aquicultura e a técnica de isótopos estáveis<br />
é mais uma das ferramentas que devemos utilizar<br />
para atingir nossos objetivos. Precisamos aprender<br />
a pensar fora do convencional. Em um mercado tão<br />
competitivo, a precisão é um diferencial. Além disto,<br />
o avanço dos policultivos e dos cultivos multitróficos<br />
irão exigir abordagens mais aprofundadas. Portanto,<br />
hora de lembrar da multidisciplinaridade da aquicultura,<br />
buscar parcerias e contribuir no desenvolvimento<br />
desta cadeia produtiva que tantos desafios nos proporciona<br />
no dia a dia.<br />
Até a próxima coluna.<br />
Figura 1. a) Garoupa-verdadeira Epinephelus marginatus; b) Mero Epinephelus itajara; c) Pesquisa se faz com bons parceiros.<br />
A. B.<br />
C.<br />
JUL/AGO 2018<br />
67
Santiago Benites de Pádua<br />
Biovet Vaxxinova<br />
Vargem Grande Paulista, SP<br />
santiago.padua@biovet.com.br<br />
JUL/AGO 2018<br />
Mixosporidíase gonadal em matrizes<br />
de tilápia<br />
As doenças reprodutivas são pouco conhecidas .na<br />
aquicultura mundial. Diferentes agentes infecciosos<br />
e parasitários possuem a capacidade de ocasionar<br />
diminuição ou perda da atividade reprodutiva, impactando<br />
a produção de ovos e larvas, além de aumentar os custos<br />
de produção das formas jovens para as demais etapas<br />
do ciclo de criação. Duas principais doenças possuem a<br />
capacidade de comprometer a reprodução em tilápias,<br />
sendo a mixosporidíase gonadal e a franciselose gonadal.<br />
A mixosporidíase é uma doença parasitária causada<br />
por diferentes gêneros de parasitos microscópicos pertencentes<br />
à classe Myxosporea. Em tilápia do Nilo, temos<br />
a ocorrência de parasitos mixosporídeos pertencentes ao<br />
gênero Myxobolus que infectam principalmente o interstício<br />
gonadal de fêmeas de tilápia, sendo descrito a espécie<br />
Myxobolus dahomeyensis como agente gonadal no<br />
continente africano, mas ainda carecemos de descrições<br />
específicas do gênero que ocorre em tilápias no Brasil.<br />
Estes parasitos são agentes microscópicos, que possuem<br />
um ciclo de vida complexo o qual a tilápia é o hosp<strong>ed</strong>eiro<br />
interm<strong>ed</strong>iário, havendo a necessidade de oligoquetas<br />
como hosp<strong>ed</strong>eiros definitivos, embora o ciclo de<br />
vida e estratégia de transmissão da mixosporidíase gonadal<br />
ainda necessite de maiores estudos para elucidação.<br />
As matrizes infectadas por Myxobolus sp. em seus<br />
ovários desenvolvem um quadro inflamatório crônico, na<br />
qual a intensidade e distribuição da inflamação<br />
é dependente da quantidade de<br />
parasitos observados no interstício ovariano.<br />
Em casos severos de infecção, notamos<br />
que a fêmea pode alcançar a perda<br />
da função reprodutiva, sendo caracterizado<br />
um quadro de castração parasitária.<br />
O percentual de matrizes com comprometimento<br />
da atividade reprodutiva em<br />
um plantel pode ser variável, além de ser<br />
de difícil detecção nas fazendas berçário,<br />
podendo ocorrer em pequena parcela<br />
da população ou em até 45% do plantel.<br />
Por outro lado, a mixosporidíase gonadal<br />
parece não se tratar de um problema reprodutivo<br />
de importância para os reprodutores, uma vez<br />
que não temos diagnosticado na rotina machos que apresentem<br />
Myxobolus associado ao interstício testicular.<br />
O monitoramento e diagnóstico desta doença devem<br />
ser conduzidos de forma constante no plantel de matrizes,<br />
principalmente quando notado r<strong>ed</strong>ução da atividade<br />
reprodutiva. Para tanto, a melhor opção para rastrear as<br />
fêmeas que estão reproduzindo é pela separação manual<br />
daquelas que apresentarem ovos incubados na boca no<br />
intervalo de 6 coletas de ovos (6 semanas, considerando<br />
uma coleta por semana). Considerando que ciclo reprodutivo<br />
da tilápia é em torno de 21 a 30 dias (dependendo<br />
do clima), no intervalo de 6 semanas as matrizes<br />
que estiverem em boas condições reprodutivas deverão<br />
apresentar ao menos uma desova. O plantel de fêmeas<br />
remanescentes neste período, que não apresentarem<br />
desovas, deverão ser submetidas à necropsia e avaliação<br />
da integridade ovariana. Geralmente as fêmeas com infecção<br />
avançada por Myxobolus apresentam ovários enegrecidos,<br />
com sinais evidentes de inflamação (Figura 1).<br />
Para confirmação do diagnóstico se faz necessário uma<br />
avaliação microscópica a fresco do tecido ovariano, ou<br />
então uma avaliação histopatológica. Uma vez confirmada<br />
a infecção por Myxobolus, a melhor alternativa é realizar o<br />
descarte das fêmeas inférteis do plantel, uma vez que não<br />
temos opções de tratamento efetivos.<br />
Figura 1. Avaliação macroscópica de ovários de tilápia do Nilo. Os ovários destacados<br />
no canto superior à esquerda são gônadas com aspecto normal, enquanto as demais<br />
apresentam melanose (escurecimento) e inflamação decorrente da infecção por Myxobolus<br />
sp. No canto superior direito está indicado (setas) a presença de Myxobolus no interstício<br />
ovariano em corte histológico.<br />
68
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Estação Marinha de Aquacultura - EMA<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande - FURG<br />
Rio Grande, RS<br />
vr.ricardo@gmail.com<br />
Avanços na produção da tainha<br />
tainha é uma espécie que na minha opinião tem<br />
A seu potencial neglicenciado. É um peixe detritívoro<br />
(baixo nível trófico), o que significa que pode<br />
ser alimentado com uma ração de baixo custo e ainda<br />
utilizar alimentos naturais dentro dos viveiros. Outra<br />
característica importante é que tolera água doce, podendo<br />
assim ser cultivada em uma ampla faixa de salinidade.<br />
Atualmente o Brasil tem muitos viveiros ociosos<br />
devido às diferentes enfermidades que vem afetando a<br />
carcinicultura marinha, sendo essa uma boa possibilidade<br />
para produção de peixes marinho-estuarinos, como<br />
é o caso da tainha.<br />
Estudos sobre o potencial de produção da tainha<br />
no Brasil foram realizados principalmente na década de<br />
80 e descontinuados por muitos anos, principalmente<br />
as pesquisas com reprodução e larvicultura. A partir<br />
dos anos 2000 foram reiniciados estudos com a espécie,<br />
principalmente na FURG, mas sempre a partir da<br />
obtenção de juvenis capturados no ambiente natural.<br />
Foram realizados estudos especialmente sobre a nutrição<br />
da tainha e avaliação do seu crescimento em cercados<br />
dentro de viveiros de engorda de camarão.<br />
No ano de 2014 a UFSC voltou a formar um plantel<br />
de reprodutores a partir de peixes selvagens e vem<br />
realizando estudos de reprodução e larvicultura dessa<br />
espécie desde então. Atualmente o Laboratório de Piscicultura<br />
Marinha da UFSC (LAPMAR) possui em seu<br />
plantel 4 fêmeas e 5 machos selvagens e 70 peixes F1<br />
selecionados para reprodutores nascidos em 2015 e<br />
2016. Até o momento foram obtidas desovas com fecundação<br />
natural e artificial, a partir de peixes induzidos<br />
com a produção entre 90.000 e 120.000 peixes por<br />
desova e sobrevivência variando entre 15 e 35% das<br />
larvas com 40 dias após a eclosão. A partir dessas desovas,<br />
a UFSC distribuiu juvenis para várias fazendas<br />
de engorda em diferentes estados brasileiros, a fim de<br />
avaliar o potencial de crescimento dessa espécie em<br />
viveiros. Também foram enviados juvenis para instituições<br />
de pesquisas parceiras para alavancar os estudos<br />
com a espécie.<br />
Em 2016 foi aprovado um projeto do CNPq (Edital<br />
Universal) em parceria UFSC/FURG para continuidade<br />
desses estudos. Além deste projeto, as metas atuais são<br />
enviar juvenis para várias fazendas de engorda para continuar<br />
avaliando o crescimento da espécie em viveiros<br />
de produção. Na parte científica a UFSC está pesquisando<br />
o cultivo da tainha em bioflocos e pretende avaliar<br />
métodos para formação de lotes monosexo fêmea,<br />
pois as gônadas das tainhas tem um grande valor comercial,<br />
podendo assim agregar valor ao produto final<br />
e viabilizar a produção em escala dessa espécie. Futuros<br />
estudos para sua produção em sistema multitrófico<br />
integrado também serão realizados, assim como a continuidade<br />
dos estudos com nutrição dessa espécie.<br />
Gostaria de agradecer ao professor Vinicius Cerqueira<br />
(LAPMAR) e sua equipe pelas informações sobre<br />
a reprodução e larvicultura da tainha e pelas imagens<br />
em anexo nessa coluna. Talvez teremos tainhas<br />
sendo engordadas em viveiros no Brasil, em um futuro<br />
próximo?<br />
Figura 1. A) Exemplar de um reprodutor de Tainha; B) Larva de tainha com 18 dias após eclosão. © Caio Magnotti<br />
A.<br />
JUL/AGO 2018<br />
B.<br />
69
JUL/AGO 2018<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral Rural do Semi Árido - UFERSA<br />
Mossoró - RN<br />
alaugo@gmail.com<br />
Peixes fermentados, anchovados<br />
ou aliche?<br />
Uma dúvida persiste quando estamos falando<br />
sobre o processo de fermentação de peixes.<br />
O termo correto é peixe fermentado, anchovado ou<br />
aliche?<br />
Os peixes da espécie Engraulis encrasicolus, cujos<br />
nomes comuns são “anchois” na França, “anchoa” na<br />
Espanha, “semiconserva de anchovas” ou “biqueirão”<br />
em Portugal, “anchovis” na Alemanha, “alici” (pronunciase<br />
“alitche”) ou “ancioia” na Itália, e denominado<br />
“European anchovy”, ou seja, anchova europeia<br />
pela FAO, são os mais utilizados para a fabricação de<br />
peixes fermentados. Em alguns países de língua latina<br />
os termos peixe anchovado e anchovagem são muitas<br />
vezes utilizados como sinônimos de peixe fermentado e<br />
fermentação, respectivamente, porém, qualquer termo<br />
utilizado está correto. O termo “peixe fermentado”é<br />
mais técnico, usualmente utilizado por pesquisadores<br />
e na indústria, enquanto que o termo “anchovado” é<br />
mais comum para o consumidor, usualmente utilizado<br />
comercialmente, e o termo “aliche” mais utilizado na<br />
gastronomia.<br />
Na Itália o líquido obtido da preparação do “alici”<br />
é denominado “colatura di alici” e usado como condimento.<br />
Na França as anchovas fermentadas são comercializadas<br />
em latas como filés inteiros ou em p<strong>ed</strong>aços<br />
ou em bisnagas de alumínio, em forma de pasta e são<br />
denominadas de “Paté d’anchois”, “Beurre d’anchois”<br />
ou “Crème d’anchois” dependendo da porcentagem<br />
de anchovas e outros ingr<strong>ed</strong>ientes. Os anchovados autênticos<br />
somente podem ser elaborados com peixes da<br />
família Engraulidae (Engraulis encrasicolus, E. ringens, E.<br />
anchoita, E. mordax, E. japonica).<br />
Produtos elaborados com outras espécies geralmente<br />
são denominados com o nome comum da<br />
espécie + o termo anchovada(o) ou produto “tipo<br />
anchova”. Em Portugal também se “anchovam” peixes<br />
como a cavala (Scomber japonicus), peixe agulha (Belone<br />
belone), sardinha (Sardinella aurita), que tomam a denominação<br />
de cavala anchovada, peixe agulha anchovado,<br />
sardinha anchovada, respectivamente.<br />
No Brasil é utilizada a sardinha (Sardinella brasiliensis)<br />
que possui características de composição que<br />
permitem o desenvolvimento do aroma, sabor, cor e<br />
textura próprios dos anchovados. A produção ocorre<br />
em escala industrial pequena, e o tempo de produção<br />
é longo, devido à fermentação e a cura necessárias para<br />
o produto atingir as características sensoriais desejáveis.<br />
Estes produtos são comercializados com a denominação<br />
de “Sardinha anchovada” ou “Filés de sardinha anchovadas”<br />
ou “Filé de peixe anchovado”.<br />
No Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal<br />
(PPGCA/UFERSA), o mestrando Roosevelt de<br />
Araújo Sales Junior (LAPESC, UFERSA) está estudando<br />
a viabilidade de se produzir o “aliche” a partir da carne<br />
do peixe-voador (Hirundichthys affinis). Nos testes preliminares,<br />
os resultados já estão demonstrando resultados<br />
promissores.<br />
Mas o que são os produtos fermentados de<br />
peixes?<br />
Existem centenas de produtos fermentados de<br />
pescado, processados a partir de diversas espécies e<br />
com diferentes tecnologias, de acordo com a região de<br />
origem. Estes produtos variam em suas características<br />
sensoriais (aparência, textura, sabor, odor), condições<br />
higiênicas do processamento, matérias primas utilizadas,<br />
custo de produção e finalidade de uso, sendo que<br />
o produto obtido, de sabor peculiar é o principal objetivo<br />
da fermentação e, a preservação, fica em segundo<br />
plano. A adição de carboidratos tais como sacarose,<br />
açúcar mascavo, arroz tostado ou cozido, ou diversos<br />
condimentos, permite obter produtos tradicionais fermentados<br />
de pescado com diferentes sabores e aromas.<br />
Dessa forma, os produtos fermentados de pescado<br />
são preparados efetuando-se a salga da matéria prima<br />
e fermentando-se o produto salgado. Entende-se por<br />
fermentação a transformação de substâncias orgânicas<br />
em compostos mais simples seja pela ação de enzimas<br />
ou de microrganismos localizados no próprio tecido da<br />
70
matéria prima. A salga r<strong>ed</strong>uz a umidade e consequentemente,<br />
a atividade de água, auxiliando<br />
na seleção da flora bacteriana desejada, geralmente<br />
eliminando microrganismos deterioradores<br />
mais comuns no pescado, prevenindo a<br />
deterioração. Durante o processo de fermentação<br />
do pescado, enzimas endógenas hidrolisam<br />
as proteínas musculares, somado aos microrganismos<br />
de vários tipos (bactérias, lev<strong>ed</strong>uras e<br />
fungos) promovem alteração de textura, aparência,<br />
aroma e sabor do produto.<br />
Existem diferentes formas de se agrupar os<br />
produtos fermentados de pescado de acordo<br />
com características comuns. Uma das mais utilizadas<br />
se baseia na aparência/textura do produto,<br />
e assim divide os produtos de pescado<br />
fermentado em três categorias: 1) produtos<br />
onde a forma natural do pescado é preservada;<br />
2) produtos onde o pescado é macerado até se<br />
obter uma pasta; e 3) produtos onde o pescado<br />
é completamente hidrolisado até a forma líquida,<br />
geralmente recebendo o nome de molho<br />
de pescado.<br />
Princípios da conservação<br />
A elaboração de produtos fermentados de<br />
pescado consiste basicamente em um processo<br />
de conservação baseado em duas etapas: 1)<br />
salga, realizada com concentrações variáveis de<br />
sal, e, 2) maturação, quando o produto passa<br />
por uma hidrólise proteica controlada provocada<br />
por enzimas endógenas e/ou produzidas<br />
por microrganismos halotolerantes. Ocorre<br />
uma diminuição da umidade, as proteínas são<br />
transformadas em compostos mais estáveis, os<br />
lipídios são parcialmente oxidados e compostos<br />
aromáticos são formados, sendo obtidos<br />
produtos com sabor diferenciado. O produto<br />
quando maturado deve ser macio, mas consistente,<br />
e a coluna vertebral removível facilmente<br />
da carne.<br />
Os peixes fermentados produzidos no Brasil<br />
podem ser considerados semiconservas, ou<br />
seja, produtos que se caracterizam por apresentarem<br />
teores de sal superiores a 6% de NaCl<br />
(p/p) na fase aquosa ou pH inferior a 5,0; presença<br />
eventual de agentes conservantes (sorbato,<br />
benzoato, nitrato); e por não serem submetidos<br />
a tratamento térmico durante o processamento<br />
ou durante o preparo que prec<strong>ed</strong>e o consumo.<br />
No Brasil, não existe legislação para produtos<br />
fermentados de pescado, que regulamente<br />
seu processamento tecnológico e características<br />
de identidade e qualidade. No novo Regulamento<br />
de Inspeção Industrial e Sanitária de Origem<br />
Animal – RIISPOA 2017, foi introduzido o<br />
Artigo 342 que define “pescado em semiconserva”<br />
- é aquele obtido pelo tratamento específico<br />
do pescado por meio do sal, com adição ou não<br />
de ingr<strong>ed</strong>ientes, envasado em recipientes hermeticamente<br />
fechados, não esterilizados pelo calor,<br />
conservado ou não sob refrigeração.<br />
Embora a tecnologia envolvida no processamento<br />
seja simples, uma série de fatores pode<br />
influenciar o processo, tais como: a microflora<br />
presente no pescado, sal e outros ingr<strong>ed</strong>ientes;<br />
qualidade e concentração de sal; a atividade<br />
proteolítica das enzimas características da espécie<br />
de pescado; condições da matéria prima,<br />
incluindo frescor, condição nutricional; temperatura<br />
durante a fermentação; pH atingido na<br />
fermentação; presença de enzimas das vísceras<br />
ou de outras fontes; presença e concentração<br />
de carboidratos e outros aditivos; duração do<br />
processo de fermentação.<br />
Características do produto final<br />
Sob o ponto de vista nutricional, os produtos<br />
fermentados de pescado apresentam-se como<br />
excelentes fontes de proteínas e aminoácidos<br />
essenciais. Em geral, produto tradicional de<br />
peixe fermentado contém entre 44 a 47% de<br />
umidade, 20 a 22% de proteínas, 7 a 15% de<br />
lipídios e 15 a 17% de sal. O teor de umidade<br />
varia muito pouco entre os produtos fermentados<br />
de pescado na forma de pasta (< 3%),<br />
independentemente da espécie utilizada e do<br />
processamento inicial da carne (lavada ou sem<br />
lavar). Com relação aos outros macro componentes,<br />
proteínas, lipídios e cinzas, também<br />
ocorrem pequenas variações.<br />
Portanto, apesar da tecnologia ser simples<br />
e viável tecnologicamente, o produto fermentado,<br />
anchovado ou o aliche ainda tem pouca<br />
inserção no mercado nacional, exceto no eixo<br />
Rio-São Paulo, onde o produto é muito consumido<br />
como ingr<strong>ed</strong>iente de petiscos, canapés e<br />
pizzas. Essa delicatessen merece mais destaque<br />
no mercado para que o consumidor possa introduzi-lo<br />
no seu dia a dia.<br />
71<br />
JUL/AGO 2018
Defendeu!<br />
Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas<br />
informações para nossa aquicultura.<br />
Nome do acadêmico: Luan Freitas Rocha<br />
Orientador: Prof. Dr. Breno Gustavo Bezerra Costa<br />
Instituição: Universidade F<strong>ed</strong>eral Rural da Amazônia - UFRA,<br />
curso de Engenharia de Pesca<br />
Título do trabalho de conclusão de curso:<br />
Desenvolvimento zootécnico de juvenis de Tambaqui<br />
(Colossoma macropomum, Cuvier 1816) cultivados em<br />
sistema de recirculação de água.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Introdução: a aquicultura no Brasil é essencialmente<br />
representada pela piscicultura, com destaque para<br />
o tambaqui (Colossoma macropomum), em virtude às<br />
suas características zootécnicas positivas, rusticidade<br />
e resistência as altas densidades. Para determinar<br />
a densidade adequada em um cultivo, deve-se levar<br />
em consideração o sistema de criação a se utilizar.<br />
Sistemas de recirculação de água são relevantes,<br />
pois permitem utilizar altas densidades de estocagem.<br />
Objetivo: o estudo objetivou avaliar o crescimento<br />
do tambaqui para diferentes densidades de estocagem<br />
em sistema de recirculação de água.<br />
Materiais e métodos: foram utilizados 1.800 juvenis<br />
de tambaqui com peso médio inicial de 0,77 ±<br />
0,01g, distribuídos nas densidades de 100, 200 e 300<br />
peixes/m³ em três repetições. Os peixes foram alimentados<br />
em quatro refeições diárias com ração comercial<br />
com 55 e 36% de proteína bruta, durante 68 dias.<br />
A temperatura da água foi m<strong>ed</strong>ida diariamente e o oxigênio<br />
dissolvido, pH, condutividade, turbidez e sólidos<br />
dissolvidos a cada sete dias. À partir da sexta semana<br />
de cultivo, amostras de água foram coletadas semanalmente<br />
dos tanques de cultivo, filtro e piscina de oxigenação<br />
para análise de amônia e nitrito. Ao final do experimento,<br />
foram analisados os seguintes parâmetros<br />
zootécnicos: ganho de peso; incremento de biomassa;<br />
consumo médio individual de ração; taxa de crescimento<br />
específico; sobrevivência e conversão alimentar.<br />
Para testar a diferença significativa entre as densidades,<br />
aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis para os dados não<br />
normais e ANOVA para os normais. Foi feita regressão<br />
linear para os parâmetros zootécnicos objetivando<br />
o valor determinístico (r²) em função da densidade.<br />
Resultados e Discussão: os resultados mostraram<br />
que os parâmetros de qualidade da água:<br />
condutividade, sólidos dissolvidos, amônia e nitrito<br />
apresentaram faixas acima do ideal para o tambaqui.<br />
Já a temperatura, turbidez e pH estavam dentro do<br />
ideal para a espécie. O oxigênio dissolvido decresceu<br />
durante o cultivo, apresentando valores abaixo<br />
do ideal, principalmente na densidade de 300 peixes/<br />
m³. O ganho de peso dos organismos foi de <strong>13</strong>,43;<br />
9,80; e 7,29 g e incremento de biomassa de 1,34;<br />
1,90 e 2,10 kg/m³ respectivamente para as densidades<br />
estudadas. As taxas de sobrevivência foram<br />
superiores a 96%, com valores mais elevados para<br />
a menor densidade (100%). Parâmetros como conversão<br />
alimentar e biomassa média de ração ofertada<br />
não diferiram significativamente entre as densidades<br />
Figura 1. Sistema de recirculação utilizado.<br />
72
(p>0,05). Valores de ganho<br />
de peso e crescimento específico<br />
foram significativamente<br />
maiores (p0,90) em função da densidade.<br />
Já os dados de incremento<br />
de biomassa foram significativamente<br />
maiores (p0,90) entre as densidades.<br />
Portanto, o presente estudo<br />
demonstrou que o sistema de<br />
filtragem utilizado foi incapaz<br />
de manter a qualidade da água,<br />
afetando o desenvolvimento<br />
dos organismos. De modo geral<br />
a melhor densidade de estocagem<br />
foi a de 200 peixes/m³,<br />
em virtude da maior produtividade<br />
(kg/m³), menor conversão<br />
alimentar e satisfatório índice<br />
de sobrevivência (97,5%).<br />
Conclusão: futuramente com<br />
a adequação do sistema de filtragem,<br />
e comprovada melhora<br />
do desempenho dos animais,<br />
aliado com os bons resultados<br />
de conversão alimentar e sobrevivência<br />
obtidos nesse trabalho,<br />
esse sistema pode ser uma alternativa<br />
para recria de tambaqui<br />
até que atinjam peso adequado<br />
para serem estocados em outros<br />
sistemas de cultivo, como<br />
tanque-r<strong>ed</strong>es e/ou viveiros.<br />
Tabela 1. Valores (média ± erro-padrão) dos parâmetros físico-químicos da água,<br />
avaliados nas diferentes densidades.<br />
Nota: médias seguidas por letras minúsculas diferentes nas linhas, diferem estatisticamente entre<br />
si (Kruskal-Wallis; α=0,05).<br />
Tabela 2. Valores (média ± erro-padrão) dos compostos nitrogenados nos diferentes<br />
componentes do sistema.<br />
Tabela 3. Valores (média ± erro-padrão) dos indicadores de desempenho zootécnico,<br />
avaliados nas diferentes densidades de estocagem.<br />
Nota: médias seguidas por letras minúsculas diferentes nas linhas, diferem estatisticamente entre<br />
si (p
JUL/AGO 2018<br />
74
João<br />
Manoel<br />
C. Alves<br />
Zootecnista (1982), mestre em aquicultura e<br />
há 16 anos (2002 até o momento) trabalha na<br />
Guabi Nutrição e Saúde Animal, atualmente<br />
como Gerente de Produtos para aquicultura.<br />
Sua afinidade com o mundo aqua<br />
começou ainda quando criança,<br />
pois tinha como hobby mexer com<br />
aquários. Atualmente João é um<br />
dos grandes nomes da aquicultura,<br />
já esteve em mais de 30 países,<br />
sendo que 95% de suas viagens<br />
foram a negócios ou eventos do<br />
setor aquícola. Com a mente aberta,<br />
João comenta nesta entrevista<br />
sobre ingr<strong>ed</strong>ientes alternativos nas<br />
rações, capacidade de suporte em<br />
reservatórios e qualidade das rações,<br />
entre outros assuntos.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Você é zootecnista de formação<br />
há 28 anos, ou seja, formou-se em um tempo que a aquicultura<br />
era uma atividade ainda pouquíssimo conhecida no<br />
Brasil. Como foi essa sua aproximação com a aquicultura?<br />
João Manoel: A nutrição era o que eu gostava, mas não<br />
conhecia zootecnia, era um curso ainda muito raro. Assim,<br />
ingressei em agronomia. Já cursando, descobri que<br />
tinha um cara no Brasil que havia ido fazer um curso no<br />
Japão pela FAO e lecionava em Jaboticabal, um dos únicos<br />
lugares que oferecia a disciplina de piscicultura. A pessoa<br />
em questão era o Prof. Newton Castagnolli. De im<strong>ed</strong>iato<br />
larguei a agronomia e fui fazer zootecnia em Jaboticabal.<br />
Quando estava para me formar,<br />
pensei “Vou trabalhar com peixe<br />
aonde?”. Como gostava de nutrição,<br />
fiquei trabalhando com dois<br />
professores, o P<strong>ed</strong>ro e o Cacau<br />
de Andrade. Com eles aprendi<br />
a formular rações, entender exigência<br />
nutricional, ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
etc. Quando me formei fui para<br />
o Mato Grosso do Sul montar<br />
uma fazenda de peixe. Talvez<br />
fosse um dos primeiros pesque-<br />
-pagues no Brasil, porque foi no<br />
início de 1983. A nossa ideia era<br />
montar uma estação de reprodução,<br />
produção de alevinos e<br />
engorda. Tinha uma represa de<br />
38 alqueires que íamos fazer uns<br />
chalés para as pessoas pescarem.<br />
Já havia as cotas de pesca, do MS só era permitido<br />
trazer 30kg de peixe e mais um exemplar. Mas<br />
Quando me formei<br />
fui para o Mato Grosso do<br />
Sul montar uma fazenda de<br />
produção de peixes. Talvez<br />
fosse um dos primeiros<br />
pesque-pagues no Brasil, pois<br />
foi no início de 1983.<br />
com o pesque-pague as pessoas poderiam pescar ali<br />
as mesmas espécies do Pantanal, e para quem desejasse<br />
voltar com mais do que 30 kg de peixes, passaria<br />
ali para comprar. Cheguei a ir para Brasília apresentar<br />
o projeto ao presidente do banco que ia conc<strong>ed</strong>er<br />
o financiamento. Mas acabou não saindo do papel.<br />
Depois acabei atuando com zootecnia de modo geral,<br />
formulando rações para ruminantes, aves, registrando<br />
produtos, entre outras funções. Ao final da década de<br />
80 começaram a surgir os pesque-pagues e senti que<br />
era hora de me preparar e me d<strong>ed</strong>icar para esse mercado<br />
que estava começando. Assim, comecei o mestrado<br />
no ano de 95/96, ou seja, alguns anos depois de<br />
formado. O que eu acho que<br />
foi uma boa, porque o pessoal<br />
sai da graduação hoje e vai direto<br />
para a pós-graduação, isso<br />
é uma exigência que a maioria<br />
das empresas tem e acr<strong>ed</strong>ito<br />
que seja em virtude de a formação<br />
hoje ser mais deficiente do<br />
que quando eu me formei, por<br />
exemplo. Após o mestrado comecei<br />
a pegar trabalhos somente<br />
de aquicultura e a Fri-Ribe, que<br />
hoje é Trouw Nutrition, estava<br />
procurando uma pessoa pra<br />
contratar e eu acabei ocupando a<br />
vaga, em 1999. Em 2002 fui para<br />
a Guabi onde estou até hoje.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Quais os<br />
principais avanços em nutrição do setor aquícola que<br />
você acompanhou?<br />
JUL/AGO 2018<br />
75
João Manoel junto aos organizadores do I Workshop Online sobre Bioflocos.<br />
JUL/AGO 2018<br />
João Manoel: Muita coisa! Por exemplo, na graduação<br />
quando trabalhava no setor de piscicultura, nós misturávamos<br />
em um tambor grande abóbora, milho, madioca,<br />
etc, colocávamos água, depois algumas lenhas<br />
em baixo para fazer o fogo e deixávamos cozinhando.<br />
No outro dia usávamos aquela mistura para alimentar<br />
os peixes. Chegamos a usar muita ração de frango pra<br />
dar aos peixes e também já peletizei muita ração com<br />
máquina de moer carne. Ou seja, mudou demais, desde<br />
os ingr<strong>ed</strong>ientes que hoje nós conhecemos muito<br />
melhor e a indústria farmacêutica que também acompanhou<br />
essa evolução. Temos vitaminas que podem<br />
passar dentro de extrusoras com temperatura e pressão<br />
muito altas, e que se recupera 99% da vitamina.<br />
Além disso, sabemos também muita coisa sobre a exigência<br />
nutricional. A Guabi por exemplo, formula ração<br />
com proteína ideal, balanceando cada aminoácido.<br />
É uma precisão muito grande comparada há 30 anos<br />
atrás. Mas ainda é uma imprecisão muito grande comparada<br />
à indústria de suínos e aves. Atualmente se sabe<br />
por exemplo a exigência nutricional diária de uma das<br />
principais linhagens de frango. Mesmo de tilápia que é<br />
o nosso peixe mais produzido não estamos no mesmo<br />
nível destas indústrias. E acho muito difícil que consigamos<br />
chegar nessa precisão, porque para peixe são<br />
muitas incógnitas com muitas variáveis, desde espécie,<br />
temperatura etc., e não consigo visualizar as respostas.<br />
Por isso acr<strong>ed</strong>ito tanto nas fazendas com tudo controlado,<br />
as variáveis diminuem e a precisão aumenta.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Quais as suas considerações<br />
sobre ingr<strong>ed</strong>ientes alternativos nas rações, como o<br />
uso de farinha de insetos?<br />
João Manoel: Acho muito legal, acr<strong>ed</strong>ito que não podemos<br />
descartar nenhuma fonte possível e todas elas<br />
são passíveis de serem utilizadas. Sobre a farinha de<br />
inseto, ela ainda é muito cara e não tem uma produção<br />
muito grande. Nós da Guabi temos a intenção<br />
de produzir um pouco de farinha de insetos para usar<br />
nas rações iniciais, porque elas têm gorduras muito<br />
boas e interessante perfil de aminoácidos. Porém<br />
do ponto de vista “custo” ainda é inviável. Pensando<br />
na Guabi, que vai produzir perto de 90 mil toneladas<br />
de ração de aquicultura esse ano, se a empresa<br />
for usar 1% desse ingr<strong>ed</strong>iente, vou precisar de 900<br />
toneladas de farinha de inseto e sabemos que não<br />
vamos ter isso, é uma quantidade muito grande. Estamos<br />
pensando em usar em alguns produtos mais<br />
específicos, como rações iniciais ou uma ração para<br />
um peixe carnívoro ou alguma outra ainda mais específica<br />
que exija mais esse perfil nutricional. Tudo<br />
é passível de ser usado e pode ser aproveitado, só<br />
é preciso pensar em volume de produção e muitos<br />
estudos antes de começar a usar em grande escala.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Existem novidades nas rações<br />
para espécies nativas no Brasil?<br />
João Manoel: Nós temos prontas rações específicas<br />
para peixes r<strong>ed</strong>ondos, mas estão engavetadas. São<br />
rações formuladas com proteína ideal (perfil de aminoácidos<br />
na mesma proporção dos aminoácidos no<br />
corpo do peixe) que minimizam a excreção, são mais<br />
fáceis de serem metabolizadas, melhoram qualidade<br />
de filé e não deixam excesso de gordura na carcaça<br />
e vísceras. Com isso há mais crescimento, melhor<br />
qualidade de água e é possível colocar mais peixes no<br />
mesmo ambiente. No entanto estes peixes são produzidos<br />
em sistemas bastante extensivos e com pouca<br />
avaliação de custos. Temos também uma ração para<br />
carnívoros de água doce que dá resultados excelentes<br />
(também com proteína ideal), especialmente em<br />
crescimento e r<strong>ed</strong>ução de gordura na carcaça, que<br />
já está sendo comercializada. Mas os produtores do<br />
Brasil e em boa parte do mundo não fazem muitas<br />
76
contas e acabam atraídos por produtos mais baratos.<br />
Estamos lançando um programa que demos o nome<br />
de Projeto Aqua do Futuro. Com ele esperamos ajudar<br />
os clientes a ficarem mais exigentes, que queiram,<br />
possam e saibam tirar o maior proveito dos investimentos<br />
e trabalho duro que é tocar uma fazenda aquática.<br />
A aplicação destas ferramentas permite escolher<br />
o melhor programa nutricional, a melhor alocação de<br />
recursos, prever despesas, receitas, etc. É uma grande<br />
oportunidade de buscar o máximo desempenho.<br />
AQUACULTURE BRASIL: O que mudou na Guabi com a<br />
compra de 51% da empresa pela Alltech?<br />
João Manoel: Na essência nada, mas melhorou o que já<br />
era bom. As duas empresas têm o mesmo DNA, fundadas<br />
por dois empresários (Dr. Thor Haaland fundou<br />
a Guabi em 1974 e Dr. Pearse Lyons fundou a Alltech<br />
em 1980) que se mantiveram à frente delas enquanto<br />
viveram, eram amigos e pensavam parecido. A Guabi<br />
é cliente das tecnologias Alltech há muito tempo, sendo<br />
uma das maiores clientes na América do Sul. Com<br />
a chegada da Alltech fizemos investimentos nas fábricas<br />
e, como a Alltech está em mais de 120 países, nos<br />
ajudará nas exportações. As duas seguem separadas,<br />
mas as decisões são tomadas pelo Conselho, constituído<br />
por pessoas das duas empresas. Não foi preciso<br />
fazer mudanças na essência da Guabi, as duas empresas<br />
sempre trabalharam buscando inovações, produtos<br />
de qualidade, proximidade com os clientes e com os<br />
mercados, apoio ao desenvolvimento através de parcerias<br />
com Centros de Pesquisa e seus pesquisadores.<br />
AQUACULTURE BRASIL: A discussão da capacidade de<br />
suporte nos reservatórios passa pela questão da qualidade<br />
da ração utilizada pelos produtores. Qual sua<br />
visão com relação a esta problemática?<br />
João Manoel: Está aí um problema que precisa ser encaminhado<br />
rapidamente. Conhecemos pouco sobre a<br />
capacidade de suporte dos nossos reservatórios, que<br />
têm um potencial enorme para desenvolver a aquicultura.<br />
Cada um é um organismo diferente, isso mesmo,<br />
um organismo vivo. E a legislação trata todos igualmente.<br />
Quando falamos em aquicultura a primeira coisa<br />
que vem à cabeça da maioria das pessoas é o aporte<br />
de nutrientes pela ração. Mas nos esquecemos dos<br />
fertilizantes, das excreções de animais em pastejo, das<br />
enxurradas que carreiam de tudo e principalmente dos<br />
esgotos urbanos e industriais. Essa pergunta pode ser<br />
assunto para uma <strong>ed</strong>ição inteira da Aquaculture Brasil.<br />
Excreções de animais quando no solo são fertilizantes,<br />
mas na água são considerados poluentes terríveis. Do<br />
solo vão para o lençol freático ou vão em enxurradas<br />
para rios, lagos, represas, reservatórios, etc. Na verdade,<br />
a presença do homem provoca impactos sempre<br />
e precisamos minimizar o máximo possível e as rações<br />
podem contribuir com isso, mas caímos nos custos<br />
outra vez. Uma ração que produza excreções com<br />
menos fósforo e nitrogênio, os principais impactantes<br />
nas águas de cultivo, custa mais que uma ração mais<br />
rica nestes nutrientes, o que pode parecer estranho.<br />
Com mais proteína (principalmente) pode ser mais<br />
barato. Proteína de baixa digestibilidade não é usada<br />
como fonte de aminoácidos e é excretada como<br />
N e P, além de outras substâncias. Colocar nutrientes<br />
mais digestíveis é a solução, além disso, grandes<br />
avanços têm sido feitos com a adição de enzimas às<br />
rações para peixes e camarões. Acr<strong>ed</strong>ito que rapidamente<br />
os próprios produtores vão se preocupar com<br />
isso, rações mais digestíveis podem ser mais caras, mas<br />
muito provavelmente o custo de produção por quilo<br />
de peixe ou camarão seja mais baixo, a quantidade<br />
de peixes e camarões produzida por metro quadrado<br />
seja maior, o tempo de cultivo menor, e por aí vão<br />
as vantagens que precisam ser mostradas. A tentação<br />
de comprar coisas mais baratas é quase irresistível.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Em tempos eleitorais, vale<br />
a pergunta, o que um presidente tem que apresentar<br />
de propostas para ganhar o voto do João Manoel?<br />
João Manoel: Vale a pergunta e vale a resposta. O país<br />
atravessa uma fase horrível e só vamos acabar com ela<br />
conversando, baixando tom. Estamos como um casal<br />
que se separa, vive brigando e se esquece que o importante<br />
são os filhos. O Brasil precisa de paz, paz só se<br />
tem com justiça, justiça só se tem com igualdade. Meu<br />
voto iria para o candidato que oferecesse caminhos<br />
para apaziguar o país (chega de nós contra eles), que<br />
diminuísse as diferenças entre os grupos de pessoas,<br />
que fizesse um estado menor, que cuidasse primeiro da<br />
saúde, da segurança, da <strong>ed</strong>ucação, e do futuro. Nosso<br />
país tem um potencial como poucos no mundo, mas<br />
é incerto. Votaria em alguém que fizesse projetos viáveis<br />
e não promessas vazias, falam, falam, acusam, mas<br />
não falam como, com que recursos vão fazer o que<br />
prometem. Meu presidente ideal teria que ser um cara<br />
manso, firme, mas manso. Bom ouvidor, coração mais<br />
humano, capaz de se colocar no lugar dos injustiçados.<br />
Digo que votaria “nele” por que “ele” não é candidato,<br />
não apareceu ainda. Mas, irei votar em alguém. Como<br />
a maioria dos brasileiros, vou votar no que tiver mais<br />
chance de ganhar dos que mais tenho m<strong>ed</strong>o. A esse<br />
momento as pesquisas só me trazem mais dúvidas. Mas<br />
democracia é assim, difícil e o aprendizado demorado.<br />
77<br />
JUL/AGO 2018
Novas leitur<br />
s<br />
LANÇAMENTOS RECENTES DO SETOR AQUÍCOLA, CONFIRA!<br />
The State of World Fisheries and Aquaculture (SOFIA) 2018<br />
Autor: Food and Agriculture Organization of the Unit<strong>ed</strong> Nations - FAO<br />
Editora: FAO<br />
Idioma: Inglês/Espanhol – 379 páginas<br />
Lançamento: jullho de 2018<br />
O relatório sobre o estado da Pesca e Aquicultura a nível mundial, é um documento<br />
que visa fornecer informações objetivas, confiáveis e atualizadas para um público amplo,<br />
incluindo formuladores de políticas públicas, gestores, cientistas e, de modo geral, todos<br />
os interessados no setor pesqueiro e aquícola. Na seção sobre aquicultura você encontra<br />
os dados da produção mundial total e dividida por grupos, as espécies mais produzidas,<br />
os principais países produtores, tópicos comentados sobre os últimos dados entre outras<br />
informações. O documento encontra-se disponível em inglês ou também em espanhol.<br />
Basic and Appli<strong>ed</strong> Zooplankton Biology<br />
Editores: Santhanam Perumal, Begum Ajima, Perumal Pachiyappan<br />
Editora: Springer<br />
Idioma: Inglês – 452 páginas<br />
Lançamento: agosto de 2018<br />
O zooplâncton é peça fundamental na cadeia trófica do ambiente aquático, sendo<br />
produtores secundários que formam ligações alimentares pelágicas e agem como indicadores<br />
de massas de água. Eles constituem a maior e mais confiável fonte de proteína<br />
para a maioria dos peixes do oceano. Como tal, a sua ausência ou esgotamento afeta<br />
frequentemente a pesca. Em muitos países, o declínio na pesca tem sido atribuído à<br />
r<strong>ed</strong>ução das populações de plâncton. Assim, este livro é uma ferramenta para pesquisadores,<br />
aquicultores e demais interessados em entender a biologia e dinâmica do<br />
zooplâncton.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Dimensão socioeconômica da tilapicultura no Brasil<br />
Autores: Renata Melon Barroso, Andrea E. Pizarro Munoz, Elda Fontinele Tahim, Ruy<br />
Albuquerque Tenório, Luiz Danilo Muehlmann, Fabiano Müller Silva, Luiz Eduardo Guimarães<br />
de Sá Barreto, Gelson Hein, Fernando Jesus Carmo, Roberto Manolio Valladão<br />
Flores<br />
Editora: Embrapa<br />
Idioma: Português – 110 páginas<br />
Lançamento: 2018<br />
O livro é resultado do estudo socioeconômico da tilapicultura no Brasil e reúne informações<br />
sobre as características da produção, bem como sobre aquelas pessoas envolvidas<br />
na atividade. Amparado em visitas de campo realizadas nos principais polos de produção<br />
do país, ele nos traz informações atualizadas e mostra-nos uma visão panorâmica do<br />
setor, incluindo as oportunidades e dificuldades encontradas pelos produtores desta que<br />
já é a principal espécie de peixe produzida no país.<br />
DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL!<br />
r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />
78
Wagner Cotroni Valenti<br />
Nascido em São Paulo (SP), por influência do pai, Wagner Valenti foi criado junto à natureza, pássaros,<br />
plantas e, especialmente, peixes. Sempre tiveram aquário em casa e isto acabou servindo como um grande<br />
estímulo para o que vinha pela frente em sua vida.<br />
Após terminar a graduação em Biologia pela USP, no final dos anos 70, a ideia era montar uma loja de<br />
aquário marinho, já que não existia nenhuma em SP. Wagner iria empreender!<br />
Entretanto, o mestrado “o chamou”. Foi trabalhar com biologia populacional de camarões de água<br />
doce. Tornou-se mestre e doutor pelo Instituto de Biociências da USP.<br />
Após o mestrado, Wagner foi aprovado em um concurso para professor na UNESP e, desde então,<br />
sempre lutou pela Instituição. Aliás, se você pensar no Prof. Wagner, automaticamente se lembra da<br />
UNESP.<br />
“Sempre pensei: eu tenho que honrar o salário que eu recebo, que é dinheiro público e pago por todos os<br />
brasileiros... e me considerava um privilegiado por ter tido a chance de estar em uma universidade, podendo<br />
fazer aquilo que eu mais gostava, dar aula e fazer pesquisa”.<br />
Quando estava finalizando o mestrado, houve um<br />
bloom de criação de Macrobrachium no Brasil:<br />
“Todo mundo queria produzir, mas ninguém sabia<br />
como. Comecei a fazer uma grande revisão bibliográfica<br />
sobre a espécie e a prestar algumas consultorias”.<br />
Certo dia, quando estava na <strong>ed</strong>itora Nobel, comentou<br />
que tinha elaborado uma apostila sobre<br />
camarões de água doce, e ouviu de uma pessoa<br />
na <strong>ed</strong>itora: “-É tudo o que estamos procurando!”<br />
Trabalhou oito meses aprimorando sua apostila<br />
e, a partir dela, publicou seu primeiro livro:<br />
sobre cultivo de camarões de água doce.<br />
“Esse trabalho me deu muito prestígio, percorreu<br />
o Brasil todo, vendendo mais de 20 mil exemplares.<br />
Das minhas mais de 100 publicações, sem dúvidas,<br />
essa foi a obra mais lida!”.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Os debates sobre carcinicultura de água doce<br />
aumentaram no País, momento em que se criou<br />
o GTCAD – Grupo de Trabalho em Camarões de<br />
Água Doce. Através dos esforços do grupo, em<br />
1998 lançou-se um novo livro, possivelmente o<br />
primeiro trabalho multi-autoral brasileiro, publicado<br />
para uma única espécie aquícola no Brasil.<br />
“Esse livro abriu portas para publicar meu primeiro<br />
livro em Oxford”.<br />
Convite mais que especial feito por Michael<br />
New, maior autoridade em Macrobrachium do<br />
planeta. Além do livro, M. New tornou-se um parceiro<br />
e amigo pessoal de Wagner. Sobre o livro,<br />
simplesmente, passou a ser o livro texto mundial<br />
sobre criação de camarões de água doce.<br />
Tudo começou com um aquário... “Quando criança, eu<br />
adorava peixe! Alguém me disse que quem estudava os<br />
peixes eram os Biólogos. Aí eu decidi que eu iria fazer<br />
biologia”.<br />
80
Networking: “Naquela época ninguém falava<br />
sobre a importância de uma r<strong>ed</strong>e de contatos. Eu<br />
marcava os autores das referências bibliográficas<br />
que eu mais usava e quando comecei a frequentar<br />
congressos internacionais, eu queria conhecê-los,<br />
me apresentar. Contudo, como meu inglês era muito<br />
ruim, na maioria das vezes eles não me davam a<br />
menor atenção... Eu começava a conversar e logo<br />
elas falavam ‘Excuse-me’ e saiam”. Wagner sentiu<br />
a necessidade de aprimorar seu inglês, e após os<br />
30 anos, o que não foi tarefa fácil.<br />
Bastante atuante na aquicultura internacional,<br />
participando de diversos congressos científicos<br />
pelo mundo e construindo inúmeras parceiras<br />
em pesquisa e produção científica, em 1999<br />
recebeu o convite do presidente da WAS para<br />
ser <strong>ed</strong>itor associado do “Journal of the World<br />
Aquaculture Society”, ocupando este cargo por<br />
15 anos. Além disso, na WAS, foi vice-presidente,<br />
diretor, entre outras funções, ampliando sua<br />
experiência e trabalhos internacionais.<br />
©Mariane Rossi<br />
Wagner se tornou o primeiro brasileiro a receber o<br />
título de “Fellow” da World Aquaculture Society (WAS).<br />
Criação do Comitê de Aquicultura do CNPQ: “Foi<br />
uma das coisas mais importantes que fiz em minha<br />
carreira. A aquicultura era apenas um apêndice<br />
da zootecnia. Aproveitei que estava na diretoria<br />
do CAUNESP e levei a ideia para o José Tundisi,<br />
parceiro de antigos projetos, e presidente do CNPQ<br />
na época. O Tundisi além de abrir as portas, vislumbrando<br />
o potencial científico da aquicultura, comprou<br />
a ideia e o comitê acabou sendo lançado”.<br />
pós-doc. Mas agora, já até recebeu alguns<br />
convites para ser docente em universidades no<br />
exterior.<br />
“Eu adoro o CAUNESP, instituição que ajudei a<br />
criar e não pretendo me desligar de lá... e quem<br />
sabe agora, com inovação e empreend<strong>ed</strong>orismo no<br />
meu dia-a-dia, eu tenha minha própria empresa,<br />
embora eu seja muito ruim nisso... rsss. Mas planejamento<br />
eu sei fazer!”.<br />
Surge a Aquaculture Reports: “Em determinado<br />
momento, a Elsevier resolveu criar uma revista para<br />
ser uma coirmã da Aquaculture. Entre as várias<br />
novidades deste periódico, a ideia foi que os <strong>ed</strong>itores<br />
fossem escolhidos não por áreas, mas sim por região.<br />
Tornei-me o Editor Chefe para as Américas. O que<br />
me deu uma motivação adicional, é que pude definir<br />
todo o escopo da revista”.<br />
Novo desafio: Agência UNESP de inovação! “Foi<br />
um desafio que surgiu no início de 2018. O Reitor<br />
me ligou e perguntou se eu toparia assumir a presidência<br />
da agência. Prontamente aceitei o desafio!<br />
Fui estudar um pouco de inovação, porque era o<br />
setor que eu menos conhecia da Universidade, e a<br />
agência precisava arrumar a casa”.<br />
JUL/AGO 2018<br />
Depois de uma longa trajetória na aquicultura,<br />
Wagner não dispensa fazer um pós-doutorado<br />
no exterior num futuro próximo. Como sempre<br />
esteve envolvido com cargos administrativos,<br />
nunca lhe sobrava tempo para pensar num<br />
Prof. Wagner durante o Aquaculture Europe 2018, em<br />
Montpellier (França).<br />
81
Camarão de água doce!<br />
É em Ribeirão, no estado de Pernambuco que o empresário Daniel Cavalcanti tem sua criação de<br />
camarão de água doce da espécie Macrobrachium rosenbergii. Esse camarão também conhecido<br />
como Gigante da Malásia, ou Lagostim de água doce, é comercializado a partir de 50 g, mas<br />
pode atingir até 500 g.<br />
Fazenda:<br />
Triângulo do camarão<br />
Proprietário: Daniel Cavalcanti<br />
Dniel, proprietário da fazenda<br />
JUL/AGO 2018<br />
Data do povoamento: 28/09/2017<br />
Quantidade de larvas estocadas: 12.000<br />
Densidade: 10/m³<br />
Peso inicial: 2 mg<br />
Biomassa inicial: 2,4 kg<br />
Data da despesca: 28/05/2018<br />
Dias de cultivo: 180<br />
Peso final : 57,8g cada<br />
Biomassa final: 450,84 Kg<br />
Produtividade: 3.754,83 kg/ha<br />
Sobrevivência: 75%<br />
Total de ração: 720 kg<br />
Conversão alimentar: 1,6:1<br />
82
RAISING LIFE<br />
Uma série d<strong>ed</strong>icada de soluções inovadoras para a aquicultura:<br />
Fração parietal premium<br />
rica em ingr<strong>ed</strong>ientes ativos<br />
Lev<strong>ed</strong>ura premium rica<br />
em selênio orgânico<br />
Fonte alternativa de proteína<br />
com propri<strong>ed</strong>ades funcionais<br />
Concentrado de lev<strong>ed</strong>uras<br />
vivas<br />
NADA É MAIS PRECIOSO QUE A VIDA, E ESTA É A FILOSOFIA QUE CONDUZ A PHILEO.<br />
Como a população global continua a crescer, o mundo enfrenta uma crescente demanda por alimentos<br />
e maiores desafios de sustentabilidade.<br />
Trabalhando na inter-relação entre nutrição e saúde, nos comprometemos em fornecer futuras soluções<br />
embasadas em evidências científicas que melhorem a saúde e o desempenho animal.<br />
Individualmente e em todos os países, o progresso de nosso time é liderado pelos mais avançados resultados<br />
científicos, assim como pela contribuição de experientes produtores.<br />
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