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13 ed Revista Completa

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REVISTA<br />

EDIÇÃO<br />

<strong>13</strong><br />

JULHO/AGOSTO<br />

2018<br />

ISSN 2525-3379<br />

aquaculturebrasil.com<br />

INTERAÇÃO<br />

GENÓTIPO<br />

AMBIENTE:<br />

Artigo: Maricultura<br />

multitrófica: uma escolha<br />

estratégica<br />

Coluna: Por que o Brasil<br />

exporta tão pouca<br />

tilápia?<br />

será que temos que nos<br />

preocupar com isto?<br />

Entrevista: João Manoel<br />

C. Alves, gerente de<br />

produtos aqua - GUABI<br />

Eles fazem a diferença:<br />

Wagner Cotroni Valenti<br />

MAR/ABR 2018<br />

1


Soluções para quem procura<br />

resultados consistentes.<br />

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melhorando o ganho de peso e eficácia alimentar.<br />

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AQUACULTURE BRASIL<br />

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA<br />

BRASILEIRA!<br />

EDITOR-CHEFE:<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />

DIRETORES ASSISTENTES:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

DIREÇÃO DE ARTE:<br />

Syllas Mariz<br />

Jéssica Brol<br />

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:<br />

Carlos Antonio Lopes de Oliveira, Carlos Eduardo<br />

Zacarkim, Daiane Mompean Romera, Daniel Cavalcanti,<br />

Débora M. Fracalossi, Denis William Johansem de<br />

Campos, Eduardo Gomes Sanches, Eric Costa Campos,<br />

Esmeralda Chamorro Legarda, Fabiana Garcia, Felipe<br />

do Nascimento Vieira, Filipe Chagas Teodózio de Araújo,<br />

Gabriela Claudia Arato Bergamo, João Manoel C. Alves,<br />

Leila Hayashi, Luan Freitas Rocha, Luis Vinatea Arana,<br />

Luiz Fernando Souza Alvez, Luiz Henrique Castro David<br />

Marco Antônio de Lorenzo, Moisés Angel Poli, Ricardo<br />

Pereira Ribeiro, Roberta Almeida Rodrigues, Sergio<br />

Wobeto, Vanessa Lewandowski, Vanessa Villanova<br />

Kuhnen, Vilmar José Frey e Wagner Cotroni Valenti.<br />

Os artigos assinados e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

COLUNISTAS:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Andre Muniz Afonso<br />

André Camargo<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Eduardo Gomes Sanches<br />

Fábio Rosa Sussel<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

Marcelo Roberto Shei<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

Santiago Benites de Pádua<br />

As colunas assinadas e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação<br />

bimestral da EDITORA<br />

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.<br />

(ISSN 2525-3379).<br />

www.aquaculturebrasil.com<br />

Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC,<br />

88790-000.<br />

A AQUACULTURE BRASIL não se<br />

responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de<br />

terceiros.<br />

A Aquaculture Brasil é uma empresa produtora<br />

e disseminadora de INFORMAÇÃO.<br />

Informação: o bem econômico mais valorizado<br />

hoje em dia! A commodity dos últimos tempos.<br />

Segundo Eric Schmidt, presidente do conselho do<br />

Google, “o mesmo volume de informação produzida<br />

entre o início da civilização e o ano de 2003, considerando<br />

o marco zero da era digital, passou a ser criado<br />

e difundido a cada dois dias”.<br />

“Compartilhar informações aquícolas”. Se você<br />

participa de algum grupo de WhatsApp ligado ao<br />

nosso setor, já percebe que carência de conteúdo<br />

não é mais o problema.<br />

Mas será que estamos tratando a “informação aquícola” com a devida atenção?<br />

Recebemos diariamente conteúdos relevantes, atualizados e verdadeiros? E as fake<br />

news aquícolas? É de se pensar...<br />

Outro contexto. Imaginemos o rito de um artigo científico publicado por um<br />

grupo de pesquisa hipotético. Experimentos conduzidos em 2016, artigo escrito em<br />

2017, aceite da revista científica em 2018 e, por fim, previsão para publicação em<br />

algum volume do ano de 2019. Três ou quatro anos entre o delineamento experimental<br />

até o início da disseminação da informação.<br />

E se, no caso deste experimento hipotético supracitado ter como objetivo resolver<br />

algum problema do setor produtivo (era para ter!), quem pode esperar todo esse<br />

tempo? Obviamente eu poderia aproveitar o gancho e oferecer um “turning point”. A<br />

publicação preliminar dos resultados da pesquisa na Aquaculture Brasil! Não, não é<br />

esse o objetivo deste <strong>ed</strong>itorial. Mas estão surgindo ideias neste sentido... aguardem!<br />

Não tenho visto, pelo menos na nossa área, nenhum movimento significativo<br />

ou expressivo em universidades ou institutos de pesquisa de buscar uma alternativa<br />

para disponibilizar esta informação de forma mais rápida para o interessado: o setor<br />

produtivo.<br />

Entretanto, algo tem me chamado a atenção. Finalmente, por conta das r<strong>ed</strong>es<br />

sociais, os pesquisadores brasileiros estão aprendendo a importância de tirar fotos de<br />

seus experimentos! E eis que se populariza em nossa área o Instagram!<br />

Visitando por exemplo o Instagram do Laboratório de Piscicultura Marinha da<br />

UFSC (@lapmar.ufsc), quanta informação! Atualmente um story fixado sobre reprodução<br />

de tainha, com várias imagens bem interessantes, que um mar de pessoas no<br />

Brasil gostaria de ver. Está lá! E nestes vários perfis de instituições de pesquisa e laboratórios,<br />

quanta interação, perguntas, troca de experiências... A informação científica<br />

ganhou uma nova ferramenta de divulgação.<br />

Aproveitando, já está seguindo nosso perfil no Instagram (@aquaculturebrasil)?<br />

Caso positivo, vá até lá, numa postagem publicada em 20 de outubro (futuro para<br />

quem escreve este <strong>ed</strong>itorial hoje!). Aquela palavra publicada, que ninguém entendeu<br />

o que significou, representa um cupom de desconto de 50% para você adquirir o<br />

BFT Online 2018.<br />

A repercussão do primeiro Worskhop Online sobre Bioflocos, deixaremos para<br />

um <strong>ed</strong>itorial futuro! Mas o futuro é logo ali.<br />

Ótima leitura!<br />

Giovanni Lemos de Mello,<br />

Editor chefe.


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SUMÁRIO<br />

AQUACULTURE BRASIL - <strong>ed</strong>ição <strong>13</strong> jul/ago 2018<br />

08 FOTO DO LEITOR<br />

»»<br />

p.10<br />

10 AQUICULTURA MULTITRÓFICA INTEGRADA (AMTI)<br />

APLICADA AO CULTIVO DO CAMARÃO BRANCO-DO-<br />

PACÍFICO EM SISTEMA DE BIOFLOCOS<br />

»»<br />

p.16<br />

»»<br />

p.22<br />

16 PERIFÍTON: UMA OPÇÃO DE ALIMENTO<br />

COMPLEMENTAR NA AQUICULTURA - PARTE I<br />

22 CONSTRUÇÃO DE VIVEIROS PARA PISCICULTURA<br />

COMERCIAL – PARTE IV<br />

30 INTERAÇÃO GENÓTIPO AMBIENTE EM TILÁPIAS DO<br />

NILO: SERÁ QUE TEMOS QUE NOS PREOCUPAR COM<br />

ISTO?<br />

36 MARICULTURA MULTITRÓFICA: UMA ESCOLHA<br />

ESTRATÉGICA<br />

42 UTILIZAÇÃO DE PROBIÓTICOS EM AQUICULTURA<br />

48 TRINTA ANOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO<br />

EM AQUICULTURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE<br />

SANTA CATARINA<br />

52 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR<br />

53 CHARGES<br />

»»<br />

p.36<br />

»»<br />

p.42<br />

6


»»<br />

p.72<br />

54 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />

56 GREEN TECHNOLOGIES<br />

»»<br />

p.74<br />

57 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA<br />

58 VISÃO AQUÍCOLA<br />

»»<br />

p.30<br />

59 GENÉTICA<br />

60 NUTRIÇÃO<br />

62 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA<br />

64 RANICULTURA<br />

65 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />

66 AQUICULTURA DE PRECISÃO<br />

»»<br />

p.48<br />

68 SANIDADE<br />

69 PISCICULTURA MARINHA<br />

70 TECNOLOGIA DO PESCADO<br />

72 DEFENDEU<br />

74 ENTREVISTA - JOÃO MANOEL C. ALVES<br />

78 NOVAS LEITURAS<br />

80 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />

»»<br />

p.80<br />

82 DESPESCOU<br />

7


Larva de tainha com 8 dias de vida após eclosão - UFSC<br />

(Florianópolis, SC)<br />

Caio Magnotti<br />

Exemplares de camarão M. rosenbergii<br />

(Coronel Vivida, PR)<br />

Kátiele Cardoso<br />

Piaractus mesopotamicus utilizado em pesquisas<br />

de melhoramento genético - CAUNESP<br />

(Jaboticabal, SP)<br />

Milena Vieira de Freitas<br />

JUL/AGO 2018<br />

8


Cultivo de bijupirá em tanques-r<strong>ed</strong>e<br />

(Guarapari, ES)<br />

Marcelo Lacerda<br />

Reprodutor de Pirarucu - 90 kg e 2,30 m<br />

(Manacapuru,AM)<br />

Américo Vespúcio Araújo Júnior<br />

JUL/AGO 2018<br />

>><br />

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia<br />

e participe desta seção.<br />

r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />

9


©Moisés Angel Poli<br />

JUL/AGO 2018<br />

10


Aquicultura multitrófica<br />

integrada (AMTI) aplicada<br />

ao cultivo do camarãobranco-do-pacífico<br />

em<br />

sistema de bioflocos<br />

Moisés Angel Poli*<br />

Esmeralda Chamorro Legarda<br />

Marco Antônio de Lorenzo<br />

Felipe do Nascimento Vieira<br />

Laboratório de Camarões Marinhos - LCM<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina - UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

*moisespoli@gmail.com<br />

O<br />

sistema de bioflocos baseia-se na formação<br />

de agregados microbianos,<br />

iniciada pela colonização de bactérias<br />

heterotróficas a partir da manipulação da relação<br />

carbono:nitrogênio (C:N) da água do cultivo. A<br />

manipulação da relação C:N para níveis mais altos<br />

favorece a via heterotrófica, a qual converte o nitrogênio<br />

inorgânico em biomassa microbiana, já a<br />

relação C:N mais baixa favorece a via quimioautotrófica<br />

na qual o nitrogênio é oxidado a formas<br />

menos tóxicas. Essas duas vias, heterotrófica e<br />

quimioautotrófica, são responsáveis por manter a<br />

qualidade de água ideal para os animais de cultivo<br />

sem que haja necessidade de renovar a água.<br />

Como consequência tem-se um sistema biosseguro<br />

e mais eficiente em termos do uso de recursos<br />

naturais. Adicionalmente, os agregados microbianos<br />

podem ser utilizados como complemento alimentar<br />

pelos animais cultivados, pois são ricos em<br />

proteína microbiana.<br />

Entretanto, o desenvolvimento do sistema BFT<br />

esbarra em alguns entraves. Entre estes problemas<br />

destaca-se a geração de sólidos ricos em nutrientes.<br />

O acúmulo excessivo de sólidos em suspensão<br />

na água no decorrer do cultivo pode ser prejudicial<br />

para o crescimento do camarão e, por esta<br />

razão, devem ser removidos do sistema. Porém,<br />

os sólidos removidos se tornam efluente rico em<br />

nutrientes, principalmente em nitrogênio e fósforo.<br />

Diante destes entraves, a aplicação de conceitos<br />

da aquicultura multitrófica integrada (AMTI)<br />

poderia contribuir para o desenvolvimento do<br />

cultivo do camarão-branco-do-Pacífico em bioflocos.<br />

A AMTI é um sistema de produção que<br />

integra espécies de diferentes níveis tróficos em<br />

um mesmo ambiente de cultivo, resultando na<br />

conversão dos resíduos do cultivo de uma espécie<br />

em fonte de alimento ou fertilizantes para<br />

outra. Esse conceito já é aplicado em algumas<br />

fazendas de salmão em tanque-r<strong>ed</strong>e e consiste<br />

no aproveitamento do resíduo da alimentação<br />

do salmão para cultivar mexilhões e macroalgas.<br />

11<br />

JUL/AGO 2018


JUL/AGO 2018<br />

Porém como aplicar esses conceitos no cultivo<br />

de camarão em sistema de bioflocos?<br />

Como o maior resíduo do sistema de bioflocos<br />

são os sólidos salinizados ricos em nitrogênio e fósforo,<br />

partimos do princípio que deveríamos priorizar o<br />

uso de outras espécies que pudessem<br />

se aproveitar desse<br />

sólido. A primeira espécie que<br />

pensamos foi a tilápia (Oreochromis<br />

niloticus), espécie de<br />

peixe mais produzida no Brasil<br />

e que tem boa capacidade de<br />

capturar pequenas partículas<br />

através do muco branquial,<br />

sendo o consumo de bioflocos<br />

já relatado em outras pesquisas.<br />

Além disso, a tilápia possui<br />

uma rusticidade grande, tolerando<br />

inclusive altos níveis de<br />

salinidade.<br />

Um potencial como espécie<br />

extratora inorgânica são as<br />

plantas adaptadas a solos salinizados.<br />

As halófitas são plantas<br />

que toleram solos ou lugares onde a salinidade é alta e<br />

que a maioria das plantas não toleraria. No Brasil a espécie<br />

Sarcocornia ambigua está amplamente difundida<br />

em regiões de manguezais e marismas e surge como<br />

uma alternativa para compor um sistema multitrófico<br />

aplicado ao cultivo de camarão em sistema de bioflocos.<br />

No Brasil já é possível encontrar produtos em conserva,<br />

sal verde e até cerveja a base de Sarcocornia a<br />

um preço bastante elevado.<br />

Levando em consideração o que foi descrito acima,<br />

o presente projeto propôs o estudo da combinação<br />

do sistema de cultivo de camarões em bioflocos com<br />

tilápias (Oreochromis niloticus) e Sarcocornia (Sarcornia<br />

ambigua).<br />

Figura 1. Diagrama<br />

de fluxo da unidade<br />

experimental integrada<br />

de camarões em<br />

bioflocos com tilápia.<br />

No Brasil já é possível<br />

encontrar produtos em<br />

conserva, sal verde e<br />

até cerveja a base de<br />

Sarcocornia a um preço<br />

bastante elevado.<br />

O cultivo integrado com tilápias<br />

O primeiro experimento contou com quatro tratamentos<br />

que correspondiam a quatro níveis de densidades<br />

de tilápia, sendo um dos níveis o ponto zero, ou<br />

seja, sem a presença dos peixes. Ao início do experimento<br />

o peso médio dos camarões<br />

era de 4,78 ± 0,02 g e dos peixes de<br />

9,64 ± 0,14 g.<br />

Os camarões foram cultivados na<br />

densidade de 280 camarões m -3 em<br />

todas as unidades experimentais. Em<br />

contrapartida, as densidades de tilápia<br />

avaliadas foram determinadas com<br />

base na biomassa final de camarão<br />

estimada para o final do cultivo, ao<br />

r<strong>ed</strong>or de 3 kg por tanque, a qual é a<br />

capacidade de carga das unidades utilizadas.<br />

Assim, foi determinado que a<br />

biomassa final de tilápia deveria ser<br />

algo em torno 0,10, 20 e 30 % da<br />

biomassa final de camarões. Com a<br />

estimativa de crescer 40 g até o final<br />

do experimento, as densidades de tilápias<br />

foram de 0, 8, 16 e 24 peixes<br />

por caixa de 90 L. Os camarões foram alimentados seguindo<br />

a tabela de alimentação enquanto que as tilápias<br />

foram alimentadas com 1% da biomassa apenas, estimulando<br />

que buscassem alimento nos bioflocos. A água<br />

do tanque dos camarões era bombeada para o tanque<br />

de tilápia constantemente (Figura 1). O desempenho<br />

zootécnico desse sistema pode ser visto na Tabela 1.<br />

Os resultados indicam que foi possível aumentar<br />

a produtividade em até 31,2%. Houve também um<br />

incremento de 27,9% na retenção de nitrogênio e<br />

223% na retenção de fósforo no tratamento com a<br />

maior densidade de estocagem de peixe em relação ao<br />

controle. Não houve diferença na quantidade final de<br />

sólido produzido pelos sistemas, mesmo com a maior<br />

biomassa nos tratamentos contendo peixe. A conversão<br />

alimentar próxima a 0,2 das tilápias sugere que os<br />

peixes provavelmente aproveitaram os bioflocos.<br />

12


Tabela 1. Desempenho zootécnico (médias ± desvio padrão) de Litopenaeus vannamei e Oreochromis niloticus<br />

cultivados durante 57 dias em sistema de bioflocos com três diferentes densidades de estocagem de tilápia-do-Nilo.<br />

Médias com letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (P < 0,05). Todos os coeficientes<br />

são significativos pelo teste t (p


Tabela 2. Desempenho do Litopenaeus vannamei, Oreochromis niloticus e Sarcocornia ambigua cultivados em<br />

sistema de biofloco durante 57 dias.<br />

Médias com letras diferentes na mesma linha indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (P < 0,05). Todos os coeficientes<br />

são significativos pelo teste t (p


© Luiz Henrique Castro David<br />

JUL/AGO 2018<br />

16


Perifíton:<br />

uma opção de alimento<br />

complementar na<br />

aquicultura - Parte I<br />

Luiz Henrique Castro David*<br />

Roberta Almeida Rodrigues<br />

Denis William Johansem de Campos<br />

Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />

Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />

Jaboticabal, SP<br />

*luiz.h@outlook.com<br />

Daiane Mompean Romera<br />

Instituto Agronômico de Campinas - APTA<br />

Fabiana Garcia<br />

Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />

Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />

Instituto de Pesca<br />

Centro do Pescado Continental - APTA<br />

criação de peixes em viveiros e tanques-<br />

A .r<strong>ed</strong>e é considerada um processo ineficiente<br />

na utilização de recursos, isto porque apenas de 5 a<br />

15% de todos os nutrientes fornecidos como dietas<br />

ou fertilizantes são convertidos em biomassa de peixe<br />

(Cavalcante et al., 2011). Desta maneira, a maior parte<br />

do nitrogênio e do fósforo adicionados aos sistemas<br />

são perdidos para o ambiente, podendo ocasionar<br />

a eutrofização de corpos d’água, como rios, lagos e<br />

reservatórios, por meio da emissão de efluentes ricos<br />

nesses compostos (Figura 1).<br />

Uma alternativa para maximizar o uso de nutrientes<br />

na produção aquícola é a adoção de sistemas<br />

baseados na utilização de substratos submersos para o<br />

desenvolvimento do perifíton (Figura 2). Esta matéria<br />

é a primeira de três partes e abordará a definição e<br />

o emprego do perifíton na aquicultura, bem como<br />

suas funções no ambiente aquático e de que forma<br />

ele pode melhorar a produtividade dos sistemas de<br />

produção.<br />

JUL/AGO 2018<br />

17


Figura 1. Fluxo de nitrogênio e fósforo dentro de um sistema de produção aquícola (Fonte: adaptado de Crab et al., 2007).<br />

Nutrientres adicionados<br />

pela ração<br />

100%N, 100% P<br />

Absorvido pelos peixes<br />

27%N, 24%P<br />

73%N<br />

76% P<br />

Eutrofização<br />

Figura 2 . Substratos de bambu inseridos em sistemas de tanque-r<strong>ed</strong>e (a,b); e viveiro escavado (c,d). © Fabiana Garcia<br />

A. B. C. D.<br />

JUL/AGO 2018<br />

O que é o perifíton?<br />

O perifíton corresponde à comunidade de<br />

microrganismos adaptados a vida séssil que se aderem<br />

a diferentes tipos de substratos submersos. Como,<br />

por exemplo, p<strong>ed</strong>ras, madeiras, plásticos, vidros, etc.<br />

Essa microbiota apresenta perfis de desenvolvimento<br />

distintos de acordo com o tipo de substrato e<br />

características da água. Além disso, ela é altamente<br />

variável, podendo compreender grupos de microalgas,<br />

bactérias, fungos, protozoários, zooplâncton e outros<br />

invertebrados aquáticos (Figura 3).<br />

Figura 3 . Variabilidade na composição taxonômica do perifíton.<br />

© Luiz Henrique Castro David<br />

18


A variação na composição taxonômica e a diversidade<br />

do perifíton pode ser influenciada por diversos fatores<br />

como: tempo de submersão dos substratos, correnteza<br />

de água pr<strong>ed</strong>ominante, tipo de substrato utilizado,<br />

composição química da água, pressão de “pastejo” dos<br />

organismos aquáticos, disponibilidade de nutrientes,<br />

intensidade e qualidade da luz e temperatura (Figura<br />

4). O nível de importância de cada um desses fatores,<br />

tanto na determinação da biomassa perifítica como<br />

na composição e estrutura da comunidade, ainda<br />

não está completamente esclarecido, evidenciando a<br />

necessidade de mais estudos nessa área.<br />

As algas, principalmente as diatomáceas, são os<br />

microrganismos pr<strong>ed</strong>ominantes no perifíton. Estas<br />

podem representar até 80% da sua composição<br />

e são responsáveis pela coloração esverdeada ou<br />

acastanhada da comunidade perifítica. Além disso, o<br />

estado de maturidade dessa comunidade, período em<br />

que a densidade, a diversidade e a riqueza de espécies<br />

atingem valores máximos, ocorre por volta dos 14 a<br />

21 dias após a inserção dos substratos, ou seja, após<br />

esse período os organismos já podem ser povoados no<br />

sistema de produção para que aproveitem ao máximo<br />

a disponibilidade de alimento natural (Rodrigues &<br />

Bicudo, 2001; Moschini-Carlos, 2003). Vale ressaltar<br />

que o consumo do perifíton pelos organismos aquáticos<br />

durante o ciclo produtivo é essencial para que essa<br />

comunidade esteja em constante renovação, o que<br />

promove a disponibilidade contínua de alimento nos<br />

substratos.<br />

Figura 4. Principais fatores que afetam o desenvolvimento do perifíton.<br />

Fatores que afetam o<br />

crescimento do perifíton<br />

Abióticos<br />

Bióticos<br />

Hidrológico Físico Químico Pr<strong>ed</strong>ação, parasitismo, forrageamento<br />

Correnteza,<br />

circulação de<br />

água<br />

Luz, t°, pH,<br />

substrato<br />

Concentração<br />

de<br />

nutrientres<br />

Aplicação do perifíton na aquicultura<br />

Em sistemas de produção extensivo e semiintensivo<br />

é comumente aceita a ideia de que a<br />

comunidade fitoplanctônica é a responsável pela<br />

fixação de energia e produção de alimento natural<br />

na cadeia trófica aquática. No entanto, pesquisas tem<br />

mostrado que o perifíton pode, muitas vezes, ser o<br />

maior contribuinte para a produção primária de um<br />

sistema de produção aquícola. Dempster et al. (1993)<br />

relataram que tilápias ingerem quantidades até 25 vezes<br />

maiores de material vegetal quando o fitoplâncton<br />

é ofertado junto com o perifíton do que quando<br />

apresentado sozinho (Figura 5). Isso ocorre porque é<br />

mecanicamente mais eficiente raspar ou pastejar uma<br />

camada de perifíton, do que filtrar algas planctônicas<br />

em um ambiente tridimensional. Além dessa maior<br />

eficiência, raspar o perifíton permite ao peixe selecionar<br />

os microrganismos que lhes são de maior interesse,<br />

sobretudo, os de melhor qualidade nutricional.<br />

Figura 5. Taxa de ingestão do perifíton ofertado sozinho ou<br />

combinado ao fitoplâncton (Fonte: adaptado de Dempster<br />

et al., 1993).<br />

Taxa de ingestão (mg/g/h)<br />

Perifíton Fitoplâncton Perifíton +<br />

Fitoplâncton<br />

JUL/AGO 2018<br />

19


O uso de substrato para perifíton na aquicultura<br />

é uma prática de fácil aplicação e baixo custo. Os<br />

sistemas baseados nesses microrganismos oferecem<br />

a possibilidade de aumentar a produtividade primária<br />

por unidade de área de substrato adicionado e<br />

consequentemente aumentar a disponibilidade de<br />

alimento. A ideia é que, parte dos nutrientes perdidos<br />

pela lixiviação da ração e excreção, sejam convertidos<br />

em perifíton e que este sirva como alimento adicional<br />

para os organismos cultivados. Desta maneira, é<br />

esperado que os produtores sejam capazes de manter,<br />

ou até mesmo melhorar os níveis de produtividade,<br />

aplicando menos nutrientes e r<strong>ed</strong>uzindo os custos com<br />

alimentação. Nesse sentido, estudos referentes ao uso<br />

de substratos para colonização de perifíton em sistemas<br />

de cultivo extensivos e semi-intensivos vêm sendo<br />

realizados com objetivo de melhorar a qualidade da<br />

água e, sobretudo, diminuir a dependência e utilização<br />

de ração, item que pode representar até 60% dos<br />

custos variáveis de uma produção.<br />

Atualmente, o principal desafio do nosso grupo<br />

de pesquisa tem sido utilizar o perifíton na produção<br />

intensiva. Nossas pesquisas têm explorado o uso dos<br />

substratos em sistemas de tanque-r<strong>ed</strong>e e viveiro com<br />

altas densidades, obtendo resultados econômicos e<br />

produtivos muito promissores. Adicionalmente, o uso<br />

de substratos para perifíton promove muitos benefícios<br />

ambientais, principalmente quando comparado aos<br />

cultivos que não utilizam essa prática. De maneira geral,<br />

por meio da ciclagem de nutrientes, o perifíton é capaz<br />

de remover os nutrientes biodisponíveis na coluna<br />

d’água, melhorando sua qualidade para os organismos<br />

cultivados. Na Figura 6 estão apresentados os principais<br />

benefícios do uso do perifíton na aquicultura.<br />

Figura 6 .Principais benefícios em usar o perifíton em sistemas de produção aquícola.<br />

Melhora a qualidade<br />

de água<br />

Excelente indicador de<br />

alteração ambiental<br />

Incrementa a disponibilidade<br />

de alimento natural<br />

Perifíton<br />

Fixação de carbono e ciclagem<br />

de nutrientes nos ecossistemas<br />

aquáticos<br />

Auxilia no tratamento dos<br />

efluentes gerados pelo cultivo<br />

Fonte natural de nutrientes como ácidos<br />

graxos poli-insaturados (PUFA), esteróis,<br />

aminoácidos, vitaminas e pigmentos<br />

© Ana Gauy<br />

JUL/AGO 2018<br />

A produção de peixes em sistemas baseados<br />

em perifíton é influenciada pelo hábito alimentar<br />

das espécies cultivadas, a densidade populacional, a<br />

sazonalidade, o tipo de substrato, a disponibilidade de<br />

alimentação comercial, a qualidade e quantidade dos<br />

microrganismos, etc. O critério mais importante na<br />

aplicação desta prática é selecionar espécies que possam<br />

aproveitar o perifíton, e que as características do mesmo<br />

sejam adequadas para promover o crescimento dos<br />

peixes. Neste sentido, espécies herbívoras e onívoras<br />

são as que melhor aproveitam a comunidade perifítica<br />

como alimento. Os cultivos de carpas e tilápias são os<br />

normalmente escolhidos para o uso do perifíton. Estas<br />

espécies mostram-se com grande potencial produtivo<br />

quando cultivadas em sistemas com substratos artificiais,<br />

tendo em vista suas adaptações morfológicas para raspar,<br />

capturar e selecionar alimentos de origem vegetal de<br />

maior valor nutricional, além da eficiência na assimilação<br />

de material vegetal que pode chegar a até 80% de<br />

tudo que consomem. Por outro lado, é provável que<br />

haja muitas espécies brasileiras como o lambari, por<br />

exemplo, com grande potencial de aproveitamento do<br />

perifíton.<br />

Após conhecer os conceitos e aplicações gerais do<br />

perifíton, na segunda parte dessa série de artigos serão<br />

apresentados dados e informações específicas sobre<br />

o uso de diferentes tipos e materiais de substratos, o<br />

que levar em consideração na hora da sua escolha,<br />

além de informações sobre a composição taxonômica<br />

e nutricional do perifíton e seus benefícios para os<br />

organismos cultivados.<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

20


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EM BREVE<br />

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para a aquicultura.


JUL/AGO 2018<br />

22


Construção de<br />

viveiros para<br />

piscicultura comercial<br />

– Parte IV<br />

Carlos Eduardo Zacarkim<br />

Coordenador do Curso de Engenharia de Aquicultura<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná – UFPR/Setor Palotina<br />

Palotina, PR<br />

zacarkim@ufpr.br<br />

O<br />

propósito da confecção de um projeto<br />

de piscicultura comercial intensiva é,<br />

fundamentalmente, favorecer a padronização<br />

dos lotes, facilitar o manejo, r<strong>ed</strong>uzir custos<br />

de produção, operacionalização e construção do<br />

empreendimento. Na concepção de um projeto<br />

conforme comentando nos artigos anteriores, alguns<br />

aspectos considerados relevantes já foram comentados,<br />

tais como a demanda hídrica, layout, tamanho e forma<br />

dos viveiros. Neste artigo, iremos abordar os aspectos<br />

construtivos em empreendimentos aquícolas, relativos<br />

a movimentação de terra e locação de projetos com<br />

a expectativa de nortear o profissional a respeito dos<br />

aspectos práticos dos trabalhos em campo.<br />

JUL/AGO 2018<br />

23


Layout e movimentação de terra<br />

Na confecção de um projeto de piscicultura<br />

comercial intensiva dificilmente podemos replicar uma<br />

unidade produtiva considerada “modelo” ou padrão a<br />

ser seguido, visto as características da topografia, do<br />

solo e da água serem distintas de uma área para outra.<br />

Desta forma, para reproduzir um mesmo projeto<br />

confeccionado para uma determinada área, mas em<br />

outro local com características diferentes, o custo de<br />

implantação seria elevado ou mesmo impraticável em<br />

muitos casos.<br />

Conforme abordado no artigo anterior, a lógica<br />

na engenharia do processo é balizar os projetos<br />

primeiramente pela topografia e de forma secundária,<br />

mas não menos importante, pelas rotinas de<br />

alimentação e operacionalização para se confeccionar<br />

o layout, tamanho e formato dos viveiros, estradas,<br />

estruturas de drenagem etc.<br />

Neste sentido, o estudo topográfico (planialtimetria)<br />

adequado e o emprego de vários modelos de layout<br />

para elaboração de um empreendimento podem<br />

gerar diferenças significativas relativas a movimentação<br />

de terra para um mesmo projeto, com lâminas de<br />

água semelhantes, mas com propostas de layout<br />

diferentes. A concepção de projetos sem o estudo<br />

topográfico apropriado, além de gerar movimentações<br />

de terra desnecessárias ao produtor/empresário,<br />

pode inviabilizar áreas que teriam potencial para o<br />

investimento em piscicultura.<br />

Em um exemplo prático vamos estudar a situação da<br />

área apresentada na Figura 1. Neste caso, o produtor<br />

tem como interesse reformar os antigos viveiros,<br />

aumentar a área em lâmina d´água, padronizar a<br />

propri<strong>ed</strong>ade e facilitar as operações de despesca<br />

através do acesso do caminhão de transporte em<br />

todos os viveiros, conforme requisitos demandados<br />

pela unidade de processamento de pescado.<br />

Figura 1. Situação atual de uma propri<strong>ed</strong>ade hipotética, com detalhamento da altimetria (curvas de nível). .<br />

Situação<br />

Atual<br />

JUL/AGO 2018<br />

Conforme apresentado, a propri<strong>ed</strong>ade possui terreno<br />

suave ondulado com declividade em torno de<br />

5% e com topografia uniforme, ou seja, sem apresentar<br />

pontos críticos ou de relevância que alterassem de<br />

forma brusca o formato do terreno como voçorocas,<br />

lajes, aflorações de p<strong>ed</strong>ra, etc, e que exigiriam na confecção<br />

do projeto maior critério de análise.<br />

Neste caso, suponhamos que engenheiro tivesse<br />

como primeira proposta o sistema de viveiros em<br />

paralelos e no sentido perpendicular aos das curvas<br />

de nível, com entradas e saídas individuais da água<br />

em cada viveiro. A captação seria por derivação da<br />

nascente existente na propri<strong>ed</strong>ade, fazendo uso do<br />

bombeamento complementar para obter a demanda<br />

hídrica necessária ao empreendimento, conforme<br />

planta baixa demonstrada na Figura 2.<br />

Neste exemplo, o layout buscou padronizar a<br />

maioria dos viveiros, mas com o aproveitamento total<br />

da área disponibilizada para o empreendimento, considerando<br />

a hipótese de que o custo de implantação de<br />

todos os viveiros totalmente iguais seria elevado, além<br />

da perda de área disponível em lâmina d´água com<br />

espaços ociosos. O custo com os serviços de terraplenagem,<br />

considerando os serviços de corte, aterro,<br />

compactação e transporte neste empreendimento, foram<br />

estimados em R$ 554.900,00 para uma área de<br />

5,64 hectares de lâmina de água, ou seja, R$ 9,83/<br />

m 2 , algo em torno de 64% do valor total desta obra.<br />

Em uma primeira análise, a proposta atente os requisitos<br />

comentados nos artigos anteriores, contemplando<br />

também a demanda da unidade de processamento de<br />

pescado.<br />

24


Figura 2. Proposta de implantação de piscicultura comercial: modelo 1.<br />

Proposta 1<br />

Área: 56.400 m²<br />

Na concepção de uma proposta de piscicultura<br />

comercial é relativamente comum, uma vez atendida<br />

todas as demandas existentes no projeto, o profissional<br />

partir logo para execução do empreendimento. Contudo,<br />

suponhamos uma proposta alternativa de projeto<br />

em que se adotasse o sistema de viveiros em paralelo,<br />

mas no sentido das curvas de nível, mantendo as<br />

entradas e saídas individuais de água em cada viveiro.<br />

A captação continuaria a ser por derivação da nascente<br />

existente na propri<strong>ed</strong>ade, fazendo uso do bombeamento<br />

complementar para obter a demanda hídrica<br />

necessária ao empreendimento, conforme planta baixa<br />

demonstrada na Figura 3.<br />

Neste outro exemplo de layout os viveiros serão<br />

maiores, também padronizados e com uso total da<br />

área disponibilizada, com o acréscimo de dois viveiros<br />

na região mais baixa da propri<strong>ed</strong>ade. A drenagem será<br />

realizada por linhas centrais tubuladas ao longo da linha<br />

de despesca e o abastecimento será por canal central,<br />

atendendo também a demanda da unidade frigorífica e<br />

os critérios de padronização já comentados. O custo<br />

com os serviços de terraplenagem nesta outra proposta<br />

foi estimado em R$ 612.200,00, para uma área de<br />

6,34 hectares de lâmina de água ou R$ 9,65/m 2 de<br />

lâmina de água, em torno de 63% do valor total do<br />

empreendimento.<br />

O fato da primeira proposta ir contra a topografia<br />

natural do terreno pode ter influenciado o aumento<br />

do custo/m 2 de obra, pois na “teoria”, os viveiros devem<br />

ser implantados seguindo o desenho das curvas<br />

de nível, o que possibilitaria um menor custo com a<br />

movimentação de terra. Contudo, não são raros os casos<br />

em que esta assertiva não se repete. A ideia deste<br />

artigo é demostrar que o estudo de várias situações e<br />

emprego de layout diferentes para concepção de um<br />

empreendimento possibilita o melhor aproveitamento<br />

da área disponível e a r<strong>ed</strong>ução do custo de implantação<br />

em muitos casos.<br />

Figura 3. Proposta de implantação de piscicultura comercial: modelo 2.<br />

Proposta 2<br />

Área: 63.400 m²<br />

JUL/AGO 2018<br />

25


Nos exemplos avaliados, as duas propostas contemplam<br />

de forma plena as demandas existentes ao<br />

projeto com pontos favoráveis e desfavoráveis. O aspecto<br />

positivo da primeira proposta é que a despesca<br />

será realizada em uma única linha, o que possibilita a<br />

r<strong>ed</strong>ução dos custos com as tubulações de drenagem,<br />

visto que os efluentes gerados serão lançados diretamente<br />

dos viveiros para as lagoas de decantação,<br />

possibilitando também r<strong>ed</strong>ução dos gastos com manutenção.<br />

Como negativo, se tem o maior custo de<br />

implantação, pois a movimentação de terra é elevada,<br />

além da área em lâmina de água ser menor.<br />

Na segunda proposta ocorre exatamente o oposto,<br />

com o incremento da área de lâmina de água e a<br />

r<strong>ed</strong>ução no custo de implantação. Contudo, os gastos<br />

com as tubulações de drenagem soterradas, poços de<br />

visita, sapatas e demais estruturas necessárias encarecem<br />

o projeto, além das despesas com manutenção<br />

serem superiores em relação a primeira proposta.<br />

Cabe ressaltar que os custos com implantação das tubulações<br />

em concreto armado ou PEAD (Polietileno<br />

de alta densidade) tanto na drenagem, com no abastecimento,<br />

correspondem entre 5 -10% do custo total<br />

do empreendimento.<br />

Desta forma, cabe ao profissional disponibilizar a<br />

opção de escolha ao produtor/empresário que poderá<br />

avaliar dentro das diferentes alternativas do projeto, a<br />

que melhor atenda sua real necessidade.<br />

Figura 4. Corte transversal dos viveiros expressos nas propostas de projeto 1 e 2.<br />

Proposta 1 / Corte A-A<br />

Corte e aterro<br />

Na confecção de um layout adequado o primeiro<br />

passo é realizar o estudo topográfico (levantamento<br />

planialtimétrico) do local onde se pretende realizar o<br />

empreendimento. Este levantamento dará o direcionamento<br />

necessário para minimizar os custos com a<br />

movimentação de terra no empreendimento e estimar<br />

as despesas com os diversos tipos de equipamentos<br />

destinados aos serviços de terraplenagem.<br />

Na movimentação de terra, as operações de corte<br />

e aterro, compactação e transporte, considerando o<br />

trânsito e o tempo entre idas e vindas de caminhões,<br />

operações de carga e descarga de terra, devem ser<br />

observadas de acordo com a função e a utilidade de<br />

cada maquinário. Em outras palavras, cada equipamento<br />

tem sua função e utilidade, que se utilizada de forma<br />

equivocada pode acarretar em despesas desnecessárias<br />

na execução o projeto.<br />

Na análise do corte transversal das duas propostas<br />

de empreendimentos ilustrados acima, é possível observar<br />

o contraste dos dois projetos na profundidade<br />

dos cortes e aterros em relação ao perfil original do<br />

terreno, conforme ilustrado na Figura 4. Esta relação<br />

de altura de taipas em função do perfil do terreno fará<br />

com que a área de corte ou de aterro aumente ou<br />

diminua em função da necessidade de cada projeto.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Proposta 2 / Corte A-A<br />

Uma vez que se obtém a área de corte e aterro,<br />

multiplicados pela largura dos viveiros projetados, se<br />

estima o volume de terra a ser movimentado em um<br />

projeto. Cabe ressaltar que existem várias formas de se<br />

avaliar a movimentação de terra na engenharia, como<br />

modelagem, quadrantes, integrais, e etc. A análise dos<br />

vários perfis das secções transversais dependerá da<br />

26<br />

metodologia empregada e da complexidade de cada<br />

área ou proposta de empreendimento.<br />

Independente da metodologia utilizada, a situação<br />

ideal é ter a compensação de volumes entre cortes<br />

e aterros, visto que se o volume de corte for maior<br />

que o volume de aterro, a terra exc<strong>ed</strong>ente terá que<br />

ser transportada para outras localidades ou reapro-


veitada nas taipas, ocasionando movimentações de terra<br />

desnecessárias e, consequentemente, prejuízo. Do<br />

mesmo modo, ocorre se o volume de aterro for maior<br />

que o de corte. Neste caso, será necessário buscar terra<br />

em outras áreas, aumentando também as despesas<br />

com corte, carga, descarga e transporte desta terra.<br />

Na concepção do projeto, as barragens serão balizadas<br />

primeiramente pelo tipo do solo encontrado na área<br />

do empreendimento e, posteriormente, pelo manejo<br />

que se pretende adotar, para então fazer o balanço entre<br />

o volume de corte e aterro. Desta forma, a inclinação<br />

dos taludes dos viveiros se dará pelo coeficiente de inclinação<br />

das taipas, que indicará o número de vezes que<br />

a projeção horizontal será maior que a projeção vertical,<br />

conforme expresso na Tabela 1.<br />

Tabela 1. Inclinação dos taludes em função do tipo de material usado e da<br />

altura do talude.<br />

Embora a movimentação de terra do projeto seja estimada<br />

como volume compactado, cabe ressaltar que nas<br />

operações de corte do terreno ocorrerá o empolamento<br />

do material, com consequente aumento de volume de<br />

terra a ser transportado/movimentado. Por definição, solos<br />

são um conjunto de partículas sólidas (minerais e orgânicas)<br />

e de espaços ocupados pelo ar e pela água. Desta<br />

forma, a m<strong>ed</strong>ida em que a terra é movimentada, ocorre o<br />

aumento desses espaços com ganho de volume, devendo<br />

esse aumento ser contabilizado no projeto conforme<br />

expresso na Tabela 2.<br />

Uma vez encontrada a quantidade total de terra a ser<br />

movimentada, a escolha do tipo de equipamento para os<br />

serviços de terraplenagem será importante. Conforme<br />

já mencionado, cada equipamento possui sua função e<br />

rendimento de movimentação de terra em m 3 por hora<br />

trabalhada. Um exemplo disso, é demonstrado na Tabela<br />

3, que ilustra o rendimento em m 3 .h -1 , em função da distância<br />

trabalhada para os diferentes tipos de trator esteira<br />

disponíveis no mercado.<br />

Tabela 2. Peso específico e índice de empolamento por tipo de solo.<br />

Fonte: DNAEE, 1985; Carvalho, 2008.<br />

*Aterros maiores que 10 metros de altitude, obrigatoriamente devem ter acompanhamento<br />

de um engenheiro civil.<br />

Menores inclinações nas barragens propiciam maiores<br />

estabilidades nos taludes, onde em terrenos arenosos geralmente<br />

pobres em argilas, devem ter sua inclinação suavizada<br />

tanto a montante, como a jusante em relação aos<br />

demais tipos de solo. Além da inclinação da barragem, o<br />

dimensionamento da crista também se dará em função da<br />

altura do aterro a jusante, conforme a equação:<br />

C=H +3 H: altura da barragem a<br />

5 jusante.<br />

Estimada a largura em função da altura do aterro, a<br />

crista deverá ser avaliada também, pelo uso proposto e<br />

sua finalidade. Caso a crista da barragem seja utilizada<br />

como estrada, onde o tráfico de caminhões de despesca<br />

será rotineiro, a mesma deverá ter ao menos 7 metros<br />

de largura. Barragens utilizadas apenas para operações de<br />

alimentação com veículos leves, podem variar entre 3,5 a<br />

4 metros de comprimento de crista. Neste caso, cabe ao<br />

profissional avaliar o uso em que se destinará a barragem,<br />

para então estimar a movimentação de terra de todo talude.<br />

De maneira geral, quanto maior for a largura da crista,<br />

maior será a estabilidade do talude. Contudo, maior<br />

também será o custo com a movimentação de terra para<br />

construção.<br />

Fonte: Carvalho J.A, 2008.<br />

Tabela 3. Produção estimada em m 3 .h -1 , em função da distância de<br />

transporte para os diferentes tipos de trator esteira.<br />

Fonte: Carvalho J.A, 2008.<br />

27<br />

JUL/AGO 2018


Conforme se aumenta a distância de trabalho e<br />

operação, ocorre a r<strong>ed</strong>ução do rendimento em m 3 .h -1<br />

trabalhada. O mesmo raciocínio é empregado para os<br />

diferentes tipos de maquinários, como por exemplo:<br />

escavadeiras hidráulicas, pás-carregadeiras, rolos<br />

compactadores, caminhões, scraps, etc. A combinação<br />

entre a função dos diferentes equipamentos e seus<br />

respectivos rendimentos resultam na quantidade<br />

de horas necessárias para um determinado<br />

empreendimento.<br />

Uma vez definido o projeto e o custo de execução,<br />

a locação da obra se dará com base nos perfis de corte<br />

e aterro utilizados no cálculo do volume de terra total<br />

do projeto. Assim, o engenheiro deverá estaquear ou<br />

piquetear o empreendimento considerando os cantos<br />

dos viveiros, largura das taipas, estradas, estruturas de<br />

drenagem, inclinação dos taludes (saias) e demais componentes<br />

que façam parte do projeto. Na locação da<br />

obra, o profissional deverá fixar em estaca da profundidade<br />

do corte (C) ou da quantidade de aterro (A),<br />

conforme expresso na Figura 5.<br />

Figura 5. Indicação de corte (C), na locação de um empreendimento.<br />

Construção de viveiros para piscicultura comercial - parte V<br />

No próximo artigo serão abordadas as considerações sobre os sistemas de abastecimento e drenagem em<br />

empreendimentos aquícolas. Esperamos vocês!<br />

JUL/AGO 2018<br />

© Carlos Eduardo Zacarkim<br />

28


29<br />

JUL/AGO 2018


JUL/AGO 2018<br />

30


Interação genótipo<br />

ambiente em tilápias do<br />

Nilo: será que temos que<br />

nos preocupar com isto?<br />

Eric Costa Campos*<br />

Filipe Chagas Teodózio de Araújo<br />

Luiz Fernando Souza Alvez<br />

Vanessa Lewandowski<br />

Dr. Carlos Antonio Lopes de Oliveira<br />

Dr. Ricardo Pereira Ribeiro<br />

Programa de Pós-Graduação em Zootecnia<br />

Universidade Estadual de Maringá - UEM<br />

*eric.peixegen@gmail.com<br />

A<br />

produção comercial de Tilápias no<br />

Brasil ocorre, principalmente, em duas<br />

condições de cultivo, tanques-r<strong>ed</strong>e<br />

e viveiros escavados. Além disso,<br />

emerge na produção nacional<br />

outras possibilidades, como<br />

RAS (Recirculating Aquaculture<br />

System), BFT (Biofloc<br />

Technology) e Aquaponia.<br />

Os dois principais<br />

sistemas utilizados são<br />

muito distintos em suas<br />

peculiaridades. O primeiro<br />

(tanque-r<strong>ed</strong>e) com maior<br />

densidade de estocagem<br />

e alta taxa de renovação<br />

de água; o segundo (viveiro<br />

escavado), dependente da<br />

comunidade biótica (fito e<br />

zooplâncton) e atenção diária dos parâmetros da<br />

qualidade de água. Ainda mais, existem variações<br />

dentro das próprias condições de cultivo, a<br />

exemplo os tanques-r<strong>ed</strong>e de grande volume (São<br />

Paulo e Mato Grosso) e viveiros escavados com<br />

alta densidade, por exemplo, Oeste do Paraná.<br />

Com a implantação e consolidação de<br />

programas de melhoramento genético de tilápias<br />

no Brasil, tem-se verificado incremento de<br />

produção dado ao uso de animais geneticamente<br />

superiores. Porém, em função das diferentes<br />

condições de cultivo, alguns questionamentos<br />

devem ser levados em consideração. As<br />

diferentes condições de cultivos têm impacto<br />

importante na determinação da qualidade<br />

genética dos animais? Em função disso, é<br />

necessário avaliar os animais dos programas de<br />

melhoramento nestas diferentes condições?


Estas questões estão relacionadas a um tema importante<br />

no melhoramento genético animal e ainda<br />

pouco discutido na criação de tilápias em nosso<br />

país – a interação genótipo ambiente (IGA). A interação<br />

genótipo ambiente é um fenômeno no qual<br />

é possível observar diferenças no desempenho dos<br />

animais com genótipo semelhante, cultivados em<br />

ambientes distintos, de maneira que haja rearranjo<br />

na classificação e ou r<strong>ed</strong>ução nas diferenças dos animais<br />

em função das condições de cultivo. Estes dois<br />

fenômenos estão apresentados na Figura 1, sendo o<br />

rearranjo na classificação observado ao comparar as<br />

famílias 1 vs. 4 e 2 vs. 3 e a r<strong>ed</strong>ução das diferenças na<br />

comparação das famílias 1 vs. 2 e 3 vs. 4.<br />

Entre os impactos negativos da interação genótipo<br />

ambiente deve-se salientar a r<strong>ed</strong>ução da resposta<br />

à seleção (ganho genético) ao avaliar e selecionar<br />

os animais em tanques-r<strong>ed</strong>e e produzir as suas progênies<br />

em viveiros escavados, por exemplo. Desta<br />

forma, a IGA assume grande importância, tendo em<br />

vista que os genes que controlam um fenótipo (peso<br />

à despesca, por exemplo), podem não ter a mesma<br />

expressão em diferentes condições de cultivo.<br />

Figura 1. Exemplos de interação genótipo ambiente (IGA).<br />

Peso à despesca<br />

900<br />

850<br />

800<br />

750<br />

700<br />

650<br />

Exemplos de IGA<br />

Tanque-r<strong>ed</strong>e<br />

Viveiro escavado<br />

600<br />

1 2 3 4<br />

Famílias<br />

JUL/AGO 2018<br />

Desenvolvimento<br />

Diante destas possibilidades, foi realizado um ensaio<br />

pelo grupo PeixeGen da Universidade Estadual<br />

de Maringá, no qual testou-se a existência de rearranjos<br />

na classificação das famílias, caso a avaliação<br />

e seleção fossem realizados em duas condições de<br />

cultivo diferentes (tanques-r<strong>ed</strong>e e viveiros escavados).<br />

Foram utilizadas informações de peso à despesca<br />

de tilápias-do-Nilo pertencentes ao programa<br />

de melhoramento genético (TILAMAX – UEM). A<br />

avaliação genética ocorreu em tanques-r<strong>ed</strong>e no rio<br />

do Corvo (Reservatório de Rosana), densidade 75<br />

kg/m³ e em viveiros escavados no distrito de Floriano<br />

(Maringá – PR), densidade 1 peixe/m² (Figura 2).<br />

Os resultados indicaram que o impacto das diferenças<br />

entre o sistema intensivo de produção<br />

em tanque-r<strong>ed</strong>e e o sistema extensivo em viveiros<br />

escavados foi bastante acentuado no desempenho<br />

de indivíduos da mesma família, cerca de 400 g no<br />

peso à despesca, no mesmo período e tempo de<br />

cultivo, conforme ilustrado na figura 3.<br />

Figura 2. Condições de cultivo utilizadas durante o ensaio. a)<br />

Unidade Demonstrativa em Diamante do Norte – PR; b) Estação<br />

Experimental de Piscicultura (UEM/CODAPAR), Maringá - PR.<br />

A.<br />

© Jailton Bezerra da Silva Júnior<br />

B.<br />

32<br />

© Carlos Antonio Lopes de Oliveira


Figura 3. Exemplo da desigualdade entre a médias de peso à despesca a) Tanque-r<strong>ed</strong>e; b) Viveiro escavado.<br />

A.<br />

B.<br />

A diferença na média era esperada, porque as<br />

duas condições de cultivo apresentam resultados<br />

de performance próprios, especificidades que os<br />

distinguem. Porém a avaliação de várias famílias em<br />

ambos os sistemas apontou que houve alteração<br />

no ranqueamento das famílias nas diferentes condições.<br />

Por exemplo, a família melhor classificada<br />

para tanque-r<strong>ed</strong>e ficou na quarta posição em viveiro<br />

escavado.<br />

Estes resultados podem ser explicados pela correlação*<br />

genética que foi menor que 0,40, indicando<br />

que o grau de associação genética entre os dois<br />

sistemas de cultivo é pequeno. Como consequência,<br />

a percentagem de coincidência das dez melhores<br />

famílias e a correlação de ranking dos valores<br />

genéticos foram afetados, ficando abaixo de 50 %.<br />

Ao verificar este ranqueamento, é possível observar<br />

que a metade das famílias está presente na classificação<br />

das duas condições de cultivo (Tabela 1),<br />

ou seja, provavelmente, cinco famílias candidatas a<br />

multiplicação de material genético, serão capazes de<br />

atender às demandas das duas condições de cultivo.<br />

Isso nos dá também uma tranquilidade para<br />

afirmar que, apesar de o ideal é ter um animal ou<br />

linhagem mais adequada para cada condição de cultivo,<br />

é muito melhor utilizar animais ou linhas melhoradas<br />

do que sem melhoramento algum, pois<br />

os animais submetidos à seleção genética e acasalamentos<br />

dirigidos (ou seja, melhoramento genético)<br />

são sempre superiores que os não melhorados em<br />

qualquer condição de cultivo.<br />

Um outro aspecto da interação genótipo ambiente,<br />

está relacionado com o ganho genético ou<br />

resposta à seleção, de maneira que o processo de<br />

seleção para uma condição específica de cultivo não<br />

promove o ganho genético com a mesma intensidade<br />

na outra condição. Isto está ilustrado na Tabela<br />

2, enquanto o ganho genético esperado para tanque-r<strong>ed</strong>e<br />

foi de cerca de 15 %, a resposta correlacionada<br />

para viveiros foi quatro vezes menor.<br />

JUL/AGO 2018<br />

33


Tabela 1. Ranqueamento das 10 famílias geneticamente<br />

superiores de acordo com a condição de cultivo.<br />

Tabela 2. Correlação genética e resposta à seleção nas duas condições<br />

de cultivo.<br />

Apesar da evidência de interação genótipo<br />

ambiente, é importante salientar que o melhoramento<br />

genético irá promover, simultaneamente,<br />

aumento no peso à despesca nas duas condições<br />

de cultivo avaliadas, justificando o uso dos animais<br />

melhorados ao invés de animais “locais” não melhorados,<br />

como já mencionado anteriormente.<br />

Considerações finais<br />

Com a expansão do cultivo de tilápias e a necessidade<br />

de profissionalização do setor, a oferta de<br />

animais com qualidade genética comprovada torna-<br />

-se fator essencial. Contudo, as diferentes condições<br />

de cultivo, de sistemas de produção e demandas do<br />

mercado consumidor incrementam a complexidade<br />

aos programas de melhoramento genético da espécie<br />

instalados no Brasil.<br />

Como alternativa, para utilização dos benefícios<br />

da interação genótipo ambiente, os programas de<br />

melhoramento genético poderiam avaliar os animais<br />

em diferentes locais de teste (determinados<br />

É importante salientar<br />

que o melhoramento<br />

genético irá promover,<br />

simultaneamente, aumento<br />

no peso à despesca nas<br />

duas condições de cultivo<br />

avaliadas, justificando o uso<br />

dos animais geneticamente<br />

melhorados.<br />

por diferentes condições de cultivo, climáticas e ou<br />

ambientais), de maneira que as informações de desempenho<br />

nas mais diversas condições, alimentem<br />

a estrutura de dados utilizada na avaliação genética,<br />

permitindo a seleção mais acurada de indivíduos/<br />

famílias com superioridade genética para cada situação<br />

específica, aumentando o ganho genético e o<br />

retorno econômico do uso de animais melhoradores<br />

(Figura 4).<br />

Figura 4. Fluxo de material genético e de informações na cadeia produtiva de tilápias.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Locais de teste<br />

Fluxo de informações<br />

Fluxo de material genético<br />

Núcleo de seleção<br />

Alevinocultores<br />

Engordadores<br />

34


© Jéssica Brol


Maricultura<br />

multitrófica: uma<br />

escolha estratégica<br />

Gabriela Claudia Arato Bergamo<br />

Vanessa Villanova Kuhnen<br />

Laboratório de Piscicultura Marinha<br />

Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />

Ubatuba, SP<br />

Eduardo Gomes Sanches<br />

Laboratório de Piscicultura Marinha<br />

Centro Avançado de Pesquisa do Pescado Marinho<br />

Instituto de Pesca/APTA/SAA<br />

Santos, SP<br />

esanches@pesca.sp.gov.br<br />

A Aquicultura Integrada Multi-Trófica, internacionalmente<br />

conhecida pela sigla IMTA (Integrat<strong>ed</strong><br />

Multi-Trophic Aquaculture), é uma prática recente na<br />

aquicultura, que consiste no cultivo de espécies de diferentes<br />

níveis tróficos na mesma unidade produtiva,<br />

sendo que o cultivo pode incluir dois ou mais níveis<br />

tróficos. Cabe destacar que nível trófico é a posição<br />

que um dado organismo ocupa na cadeia alimentar.<br />

A cadeia alimentar representa o movimento e transferência<br />

de matéria e energia entre os seres vivos.<br />

JUL/AGO 2018<br />

37


JUL/AGO 2018<br />

Os níveis tróficos normalmente contemplados nesse<br />

tipo de cultivo são:<br />

Integrat<strong>ed</strong> Multi-Trophic Aquaculture<br />

Espécies<br />

filtradoras<br />

(ex. ostras e<br />

mexilhões)<br />

Espécies<br />

produtoras<br />

(ex. macroalgas)<br />

Espécies<br />

detritívoras<br />

(ex. pepinos do<br />

mar e camarões)<br />

Espécies<br />

consumidoras<br />

(ex. peixes)<br />

A idéia central deste tipo de sistema produtivo é<br />

que seja dimensionado de forma com que os efluentes<br />

das espécies consumidoras sejam aproveitados<br />

como fonte de nutrientes para as demais espécies,<br />

criando um ambiente ecologicamente balanceado<br />

(Chopin et al., 2008; Soto, 2009). O sistema pode<br />

resultar na mitigação dos impactos na qualidade da<br />

água e garantir maior estabilidade econômica do empreendimento<br />

(Ridler et al., 2007; Nobre et al., 2010).<br />

A maricultura em sistema multitrófico já é praticada<br />

no Japão, Canadá, Chile, Itália, Noruega e na China<br />

(Shi et al., 20<strong>13</strong>). No Brasil, porém, ainda são raros<br />

os cultivos que operam nesse sistema, especialmente<br />

em ambiente marinho. O cultivo em sistema multitrófico<br />

pode ser especialmente interessante em locais<br />

costeiros protegidos por Áreas de Proteção Ambiental<br />

(APA). No caso do estado de São Paulo, visando<br />

o gerenciamento do uso e desenvolvimento do litoral<br />

norte do estado, onde há grande atividade petrolífera<br />

e portuária, assim como uma falta no ordenamento<br />

pesqueiro e econômico da área, foi criada<br />

a APA Marinha Litoral Norte (Decreto Nº 53525 de<br />

08/10/2008). O objetivo foi o de buscar preservar o<br />

ambiente costeiro-marinho, garantindo a convivência<br />

harmônica entre os diversos setores socioeconômicos<br />

(setor público/privado e comunidades tradicionais)<br />

e o equilíbrio do meio ambiente e seus recursos.<br />

Ter o domínio sobre o cultivo de diferentes espécies,<br />

especialmente de níveis tróficos distintos e<br />

consequentemente com exigências diversas tanto<br />

de nutrição, reprodução e manejo é um grande desafio.<br />

Mas que tal pensarmos em uma escala menor?<br />

Por exemplo em apenas dois níveis tróficos?<br />

Quais seriam os benefícios de cultivar organismos<br />

filtradores, como ostras e mexilhões, em conjunto<br />

com organismos consumidores, como os peixes?<br />

Os benefícios acerca do IMTA<br />

Estudos vêm demonstrando que, em função da<br />

capacidade natural dos bivalves em absorver matéria<br />

orgânica e transformá-la em biomassa, mexilhões cultivados<br />

próximos à tanques-r<strong>ed</strong>e possuem maior taxa de<br />

crescimento (Handå et al., 2012; Jiang et al., 20<strong>13</strong>; Irisarri<br />

et al., 2015). Majoritariamente formados por restos<br />

de ração e pelas excretas metabólicas dos peixes,<br />

os efluentes da piscicultura contribuem para o aumento<br />

dos níveis de fósforo e nitrogênio no ambiente. Estes<br />

compostos são considerados os principais responsáveis<br />

pela eutrofização de áreas costeiras, um dos principais<br />

impactos associados a atividade aquícola (Soto, 2009;<br />

MacDonald et al., 2011; Reid et al., 20<strong>13</strong>). Em um cultivo<br />

multitrófico os mexilhões funcionariam como filtros,<br />

ao se beneficiarem dos efluentes gerados pela produção<br />

de peixes para crescer. Outro possível benefício é<br />

a capacidade de r<strong>ed</strong>uzir doenças de origem viral e bacteriana,<br />

promovendo uma abordagem biológica para<br />

controle de doenças, o que evita o uso de quimioterápicos<br />

(Skar e Mortensen, 2007; Molloy et al., 2011).<br />

A diversificação do cultivo traz, ainda, uma série<br />

de benefícios econômicos ao empreendimento.<br />

Sistemas dimensionados para o cultivo de mais de<br />

uma espécie são capazes de promover uma renda<br />

secundária, que pode por exemplo servir para<br />

amenizar os efeitos da variação de preços de comercialização<br />

e dos insumos (Ridler et al., 2007).<br />

Dessa maneira, podem contribuir para melhorar os<br />

índices de viabilidade econômica dos empreendimentos<br />

(Whitmarsh et al., 2006; Nobre et al., 2010).<br />

Na criação de peixes marinhos em tanques-r<strong>ed</strong>e,<br />

significativa quantidade de efluentes contendo material<br />

particulado em forma de fezes, alimento não<br />

ingerido e compostos inorgânicos dissolvidos, podem<br />

afetar a coluna de água e o s<strong>ed</strong>imento (Chopin<br />

et al., 2008). Muitos empreendimentos têm buscado<br />

informações em relação a sistemas multitróficos visando<br />

r<strong>ed</strong>uzir ou minimizar estes impactos. Entretanto,<br />

ainda existem mais perguntas do que respostas.<br />

38


JUL/AGO 2018<br />

© Marine Biomass<br />

39


JUL/AGO 2018<br />

Será que tudo funciona como na<br />

teoria?<br />

Um interessante contraponto à proposição de<br />

cultivos multitróficos foi apresentado no periódico<br />

Aquaculture (Navarrete-Mier et al., 2010). Os autores<br />

perguntavam se o cultivo de bivalves r<strong>ed</strong>uziria o<br />

impacto dos cultivos de peixes. Este trabalho demonstrou<br />

que o policultivo de peixes e bivalves não representou<br />

uma adequada ferramenta para a r<strong>ed</strong>ução do<br />

impacto ambiental da produção de peixes no oceano.<br />

Os autores comprovaram, utilizando isótopos estáveis<br />

(recomendo a leitura da coluna Precisão deste<br />

número da Aquaculture Brasil), que não existiu efeito<br />

no crescimento dos bivalves (Ostrea <strong>ed</strong>ulis e Mytilus<br />

galloprovincialis) que estivesse relacionado à influencia<br />

dos cultivos de peixes. A utilização de isótopos estáveis<br />

de Carbono e Nitrogênio e as concentrações de<br />

metais demonstraram que os bivalves não assimilaram<br />

os resíduos orgânicos dos cultivos de peixes. Isto sugeriu<br />

que os efeitos positivos descritos atualmente na<br />

literatura podem estar relacionados a causas indiretas<br />

ligadas ao hidrodinamismo e a oferta de nutrientes<br />

oriundos de outras fontes.<br />

Futuro da Maricultura<br />

A aquicultura é hoje responsável pelo atendimento<br />

de cerca de metade da demanda mundial de pescado<br />

(FAO, 2016). Considerando que grande parte do planeta<br />

é coberto por água salgada, a maricultura deve<br />

ter um papel de destaque no futuro da alimentação<br />

humana. Estima-se que menos de 4% da plataforma<br />

continental conseguiria atender a demanda projetada<br />

para 9 bilhões de habitantes em 2050 (Duarte et al.,<br />

2009). Este continuo crescimento demandará o desenvolvimento<br />

de sistemas economicamente viáveis<br />

e que provoquem menores impactos no ambiente<br />

(Witmarsh et al., 2006). Empreendimentos multitróficos,<br />

quando corretamente dimensionados e monitorados,<br />

poderiam ocupar o nicho de mercado que<br />

demanda por produtos marinhos com certificação de<br />

sustentabilidade. Estudos mostram que produtos com<br />

alto padrão de sustentabilidade podem ter um valor<br />

até 10% maior, quando comparados a sistemas tradicionais<br />

(Barrington et al., 2010).<br />

Conclusão<br />

Apesar de todas essas vantagens econômicas e<br />

ambientais que apresentamos, ainda há a necessidade<br />

de muito estudo sobre a real aplicabilidade deste<br />

conceito para o cenário brasileiro. Com a diversidade<br />

da nossa costa, diversidade climática, oceanográfica,<br />

geológica, quais seriam as áreas em que esse sistema<br />

cíclico de reaproveitamento de nutrientes realmente<br />

funcionaria? Ou ainda, quais seriam as espécies que<br />

realmente funcionariam em conjunto e trariam maior<br />

lucratividade? Se a aquicultura pode ser considerada<br />

como uma ciência nova, o estudo de sistemas multitróficos<br />

está recém engatinhando.<br />

No Brasil, quais<br />

seriam as espécies<br />

que realmente<br />

funcionariam em<br />

conjunto e trariam maior<br />

lucratividade?<br />

Inegável a constante busca por melhorias nos<br />

sistemas produtivos da aquicultura. Como em<br />

qualquer cadeia produtiva, cada aparente solução traz<br />

consigo uma expressiva quantidade de perguntas não<br />

respondidas. A aquicultura multitrófica pode vir a ser<br />

mais uma importante alternativa para a implantação<br />

de cultivos com menor impacto ambiental. Para tanto,<br />

existem ainda muitos estudos para definir modelos<br />

de integração, espécies adequadas, engenharia de<br />

sistemas aquícolas multitróficos e modelos de avaliação<br />

que levem em consideração fluxos de energia e<br />

nutrientes e a fisiologia e o metabolismo das diferentes<br />

espécies aquáticas.<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

40<br />

© Maricultura Costa Verde


41<br />

JUL/AGO 2018


JUL/AGO 2018<br />

42


Utilização de<br />

Probióticos em<br />

Aquicultura<br />

Vilmar José Frey<br />

Tecnólogo em Aquicultura<br />

Kera Nutrição Animal<br />

Palotina, PR<br />

agropal.palotina@hotmail.com<br />

Sergio Wobeto<br />

Médico Veterinário<br />

Kera Nutrição Animal<br />

Carazinho, RS<br />

Relatório da FAO de outubro de 2016 estima<br />

que o Brasil terá um crescimento de 104% na<br />

.produção de pesca e aquicultura até 2025. Ainda<br />

segundo o estudo, o aumento na produção brasileira<br />

será o maior registrado na região na próxima década.<br />

O representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic<br />

comentou: “A FAO acompanha de perto o crescimento<br />

do setor pesqueiro no Brasil. As políticas públicas<br />

criadas especificamente para o setor e os investimentos<br />

privados comprovam que o país pode ser também<br />

uma potência importante na pesca e aquicultura. Sabemos<br />

que a demanda por esses produtos tende a crescer<br />

e por isso é necessário que os países invistam cada<br />

vez mais nessa área como vem ocorrendo no Brasil”.<br />

Os custos, a cada dia mais elevados da atividade aquícola,<br />

fazem com que os produtores estejam cada vez<br />

mais focados na eficiência produtiva, pois, trata-se de<br />

um empreendimento que possibilita gerar rendas significativas<br />

na propri<strong>ed</strong>ade desde que bem gerido, tendo em<br />

vista as margens a cada dia mais estreitas da atividade.<br />

Na aquicultura para que uma produção seja considerada<br />

sustentável é necessário admitir que a natureza é<br />

finita, evitando-se assim sua utilização desordenada. Esta<br />

é uma preocupação constante dos órgãos ambientais e<br />

JUL/AGO 2018<br />

43


JUL/AGO 2018<br />

também das<br />

empresas<br />

idôneas<br />

que estão<br />

constantemente<br />

investindo em novas<br />

pequisas para o crescimento e desenvolvimento da<br />

atividade.<br />

Com o aumento da demanda de proteína de peixe,<br />

devido ao crescimento constante do consumo,<br />

tem se intensificado a produção aquícola em todo o<br />

País. Com isso observamos cada vez mais a presença<br />

de doenças indesejáveis nos mais diversos meios de<br />

cultivo, o que acarreta em prejuízos significativos para<br />

os produtores. O uso de antibióticos é uma prática<br />

utilizada para combater as enfermidades, porém, sua<br />

utilização tem enfrentado sérias resistências devido<br />

aos riscos do surgimento de bactérias resistentes aos<br />

diversos antimicrobianos, o que tem gerado grandes<br />

preocupações e debates junto a órgãos como OMS,<br />

FAO e grupos consumidores.<br />

Na piscicultura é importante manter atenção especial<br />

no ambiente em que os peixes se desenvolvem,<br />

tanto nos aspectos quantitativos como qualitativos,<br />

uma vez que o desenvolvimento destes animais pode<br />

ser comprometido com a falta de qualidade deste<br />

meio. Os peixes são sensíveis as adversidades, tanto<br />

do meio, como do alimento a eles fornecidos.<br />

Em busca da eficiência dos diversos cultivos,<br />

principalmente no que diz respeito ao aumento dos<br />

índices zootécnicos como: imunidade, eficiência da<br />

conversão alimentar, viabilidade, ganho de peso, além<br />

do tratamento da matéria orgânica presente na coluna<br />

d’água e no solo dos viveiros, bem como a preservação<br />

do meio ambiente, a utilização de microrganismos<br />

tem sido uma excelente alternativa que possibilita a<br />

alta eficiência, a qual, é um dos requisitos fundamentais<br />

para a sobrevivência na atividade.<br />

Os microrganismos marinhos e de água doce constituem<br />

a base da cadeia alimentar em oceanos, lagos<br />

e rios. A microbiota do solo ajuda a degradar detritos<br />

e incorporar nitrogênio gasoso do ar em compostos<br />

orgânicos, reciclando assim os elementos químicos<br />

entre o<br />

solo, a<br />

água, os<br />

seres vivos<br />

e o ar. Os seres humanos<br />

e muitos outros animais também dependem dos<br />

microrganismos em seus intestinos para realizar a digestão<br />

e sintetizar algumas vitaminas que seus corpos<br />

requerem, incluindo algumas vitaminas do complexo<br />

B e vitamina K (Tortora, 2012).<br />

A Aquicultura Integrada Multi-Trófica, internacionalmente<br />

conhecida pela sigla IMTA (Integrat<strong>ed</strong><br />

Multi-Trophic Aquaculture), é uma prática recente na<br />

aquicultura, que consiste no cultivo de espécies de diferentes<br />

níveis tróficos na mesma unidade produtiva,<br />

sendo que o cultivo pode incluir dois ou mais níveis<br />

tróficos. Cabe destacar que nível trófico é a posição<br />

que um dado organismo ocupa na cadeia alimentar. A<br />

cadeia alimentar representa o movimento e transferência<br />

de matéria e energia entre os seres vivos.<br />

Os probióticos<br />

O termo “probiótico” foi definido pela primeira<br />

vez como sendo um fator de origem microbiológica<br />

que estimula o crescimento de outros organismos<br />

(Lilly e Stillwell, 1965). Depois de alguns anos, utilizaram-se<br />

microrganismos em dietas para animais, definindo-os<br />

como organismos ou “substâncias” que contribuem<br />

para um balanço intestinal adequado (Parker<br />

et al., 1974). De acordo com Fuller et al. (1989), os<br />

probióticos são constituídos de microrganismos vivos<br />

que afetam beneficamente o hosp<strong>ed</strong>eiro melhorando<br />

o equilíbrio na flora do trato gastrintestinal.<br />

Probióticos são suspensões de microorganismos<br />

vivos que, quando administrados em quantidades<br />

adequadas, conferem benefícios notáveis à saúde do<br />

hosp<strong>ed</strong>eiro bem como do ambiente explorado (FAO,<br />

2001).<br />

As bactérias probióticas tem potencial para substituir<br />

os antibióticos por não poluir o ambiente, não<br />

selecionar cepas resistentes, além de possibilitar um<br />

melhor crescimento (Vieira et al, 2010).<br />

44


Mecanismos de ação dos probióticos<br />

Vários são os mecanismos de ação dos probióticos,<br />

podendo citar:<br />

Exclusão por<br />

competição<br />

Bactérias probióticas se<br />

aderem às células epiteliais da<br />

par<strong>ed</strong>e celular (micro vilosidades)<br />

e habitam na mucosa, imp<strong>ed</strong>indo a fixação das<br />

bactérias patogênicas;<br />

As bactérias probióticas competem<br />

com as patogênicas<br />

Competição<br />

pelo substrato à luz intestinal,<br />

imp<strong>ed</strong>indo assim a sua multiplicação;<br />

Produção de<br />

Cepas probióticas possuem<br />

substâncias<br />

a capacidade de produzir<br />

antimicrobianas<br />

bacteriocinas. Atualmente já se<br />

utilizam estas bacteriocinas naturais<br />

para a conservação de alimentos para humanos;<br />

Desintoxicação<br />

Através da neutralização in situ<br />

das entero-toxinas e da prevenção<br />

da síntese de aminas tóxicas;<br />

Estimulação<br />

do sistema<br />

imunológico<br />

Devido ao conceito “saúde intestinal”,<br />

os probióticos atuam<br />

no equilíbrio da flora intestinal,<br />

mantendo o sistema digestório<br />

saudável e consequentemente estimulando a produção<br />

de anticorpos específicos e não específicos. No<br />

caso dos crustáceos que não possuem a capacidade<br />

de produzir anticorpos (memória imunológica), os<br />

probióticos aumentam a eficiência da modulação<br />

do sistema imune inato através de uma microbiota<br />

intestinal em equilíbrio;<br />

Produção<br />

de enzimas<br />

digestivas<br />

Alguns microrganismos<br />

probióticos são capazes de<br />

produzir no intestino enzimas<br />

microbianas digestivas,<br />

exógenas ao animal, que associadas às enzimas que<br />

são naturalmente produzidas no intestino, otimizam<br />

a digestão promovendo o aumento da eficiência<br />

alimentar;<br />

Tratamento<br />

ambiental<br />

A administração de probióticos<br />

melhora a qualidade no ambiente<br />

de cultivo, através da<br />

r<strong>ed</strong>ução das concentrações de matéria orgânica, de<br />

nitrogênio e de fósforo, além de inibir o crescimento<br />

de patógenos.<br />

45<br />

JUL/AGO 2018


Para que a utilização de probiótico seja realmente<br />

efetiva em um sistema de criação existem dois fatores<br />

que são de fundamental importância. Esses fatores<br />

são: concentração e conservação.<br />

Temos que ter em mente que as bactérias probióticas<br />

têm que fazer prevalência no meio para se<br />

sobreporem as bactérias patogênicas e para tanto é<br />

preponderante que os produtos a serem utilizados tenham<br />

altas concentrações (UFC/g).<br />

Da mesma forma temos que nos conscientizarmos<br />

que probióticos são bactérias vivas, e como tal devem<br />

ser conservadas sob refrigeração, para que se mantenham<br />

vivas até sua chegada ao sistema digestivo dos<br />

animais, pois, só assim serão realmente efetivas.<br />

Outro aspecto à considerar quando da utilização<br />

de probióticos é a proc<strong>ed</strong>ência do mesmo, já que a<br />

origem das cepas utilizadas no produto pode garantir<br />

ou não o resultado final.<br />

Conclusão<br />

Sem dúvidas a utilização de probióticos resulta em<br />

melhorias significativas na saúde dos animais aquáticos<br />

e na eficiência dos sistemas produtivos, devendo ser<br />

uma prática constante nos mais diversos meios de<br />

produção aquícola, pois, maximiza os ganhos zootécnicos,<br />

ambientais e econômicos, quando utilizado e<br />

conservado de maneira adequada.<br />

JUL/AGO 2018<br />

© Murício Emerenciano<br />

46


47<br />

JUL/AGO 2018


JUL/AGO 2018<br />

48


Trinta anos do Programa<br />

de Pós-Graduação<br />

em Aquicultura da<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de<br />

Santa Catarina<br />

Leila Hayashi<br />

Débora M. Fracalossi<br />

Luis Vinatea Arana<br />

Programa de Pós-Graduação em Aquicultura<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina – UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

ppgaqi@contato.ufsc.br<br />

O<br />

Programa de Pós-Graduação em Aquicultura<br />

(PPGAQI) da Universidade F<strong>ed</strong>eral de<br />

Santa Catarina teve início em 1988 com seu<br />

curso de mestrado, o primeiro programa stricto sensu de<br />

cultivo de organismos aquáticos da América Latina. Trinta<br />

anos se passaram e, hoje, o PPGAQI oferece, além<br />

do mestrado, o curso de doutorado (criado em 2005).<br />

De lá para cá, o Programa já formou 436 mestres e 85<br />

doutores, sendo que a grande maioria atua diretamente<br />

em importantes instituições brasileiras e estrangeiras na<br />

área de Aquicultura e Recursos Pesqueiros.<br />

Falar dos trinta anos da nossa pós-graduação equivale<br />

a falar das pessoas que fizeram possível seu nascimento,<br />

crescimento e consolidação. Nos referimos aos coordenadores,<br />

professores, alunos e pessoal técnico-administrativo,<br />

cujo esforço, muitas vezes hercúleo, garantiu<br />

que o Programa alcançasse, em 2010, o seu atual status<br />

de excelência (CAPES 6). O histórico, a infraestrutura e<br />

a qualidade das pessoas envolvidas colocam o Programa<br />

numa posição privilegiada para aspirar a progressão para<br />

o nível CAPES 7, com o qual a nossa pós-graduação irá<br />

se igualar aos melhores programas stricto sensu do Brasil.<br />

O PPGAQI é considerado um dos programas mais<br />

completos dentro da área de aquicultura por desenvolver<br />

pesquisas com praticamente todos os organismos<br />

aquáticos: microalgas, macroalgas, moluscos, camarões,<br />

peixes marinhos e de água doce, além de peixes ornamentais.<br />

JUL/AGO 2018<br />

49


JUL/AGO 2018<br />

Só em 2017 foram produzidas 24 dissertações de<br />

mestrado e 14 teses de doutorado em cinco linhas de<br />

pesquisa:<br />

A grande maioria das pesquisas tem sido publicada<br />

sob a forma de artigos científicos em periódicos com<br />

elevada qualificação. O Programa contou, ainda em<br />

2017, com nove bolsistas de pós-doutorado, parte deles<br />

dentro da cota do Programa Nacional de Pós-Doutorado<br />

e outra parte de projetos CAPES e CNPq. Desses<br />

nove bolsistas, cinco possuíam formação em Instituições<br />

distintas da UFSC: Universidade F<strong>ed</strong>eral de Minas Gerais,<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande, Universidade<br />

F<strong>ed</strong>eral de São Carlos e Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa<br />

Maria.<br />

O profissional formado no PPGAQI tem uma visão<br />

ampla do setor, que vai além dos temas abordados nas<br />

dissertações e teses. Graças às pesquisas e tecnologias<br />

geradas pelo corpo docente e discente, o Estado de<br />

Santa Catarina é destaque em todas as áreas de aquicultura,<br />

servindo de modelo nacional e internacional;<br />

prova disso são os diferentes prêmios nacionais (Destaque<br />

Pesquisador UFSC, Prêmio UFSC de Tese, Prêmio<br />

CAPES de Tese, Prêmio Fundação Bunge, Prêmio Expressão<br />

de Ecologia) e internacionais (Prêmio Von Martius<br />

de Sustentabilidade Brasil-Alemanha, Alltech Young<br />

Scientist Award) que os docentes e discentes receberam<br />

nos últimos anos.<br />

Atualmente, o Programa conta com dezenove docentes,<br />

todos permanentes, cuja qualidade científica<br />

pode ser evidenciada pelos quinze bolsistas de produtividade<br />

em pesquisa (PQ) do CNPq, sendo que três deles<br />

possuem bolsa PQ Nível 1 e, os outros doze, bolsas<br />

PQ Nível 2, que em conjunto representam 83,3% do<br />

corpo docente. Além disso, os professores do PPGAQI<br />

participam de dezenove grupos de pesquisa cadastrados<br />

e certificados no CNPq, e estão desenvolvendo 44 projetos<br />

com oito financiadores principais, entre instituições<br />

de fomento públicas e iniciativa privada.<br />

50<br />

Reprodução e larvicultura;<br />

Tecnologias e sistemas de produção;<br />

Manejo e conservação de<br />

ecossistemas aquáticos;<br />

Nutrição e alimentação;<br />

Patologia e sanidade.<br />

Comemoração aos 30 anos<br />

De 15 a 17 de agosto de 2018, no Hotel Mercury<br />

(Itacorubi, Florianópolis), o PPGAQI comemorou seus<br />

trinta anos de existência com o evento “Revolução Azul<br />

no Brasil: Aquicultura em 30 anos”. Cabe destacar a<br />

participação no evento do ex-reitor da UFSC Álvaro<br />

Toubes Prata (MCTIC), Wilson Wasielesky Jr. (FURG),<br />

Luis H. S. Poersch (FURG), Wagner C. Valenti (UNESP),<br />

Felipe Matias (FAO), Luiz E. Pezzato (USP), Silas C. da<br />

Silva (ESALQ) e dos ex-alunos do Programa, entre eles<br />

Aliro Borques, primeiro discente formado no mestrado<br />

e atual reitor da Universidade Católica de Temuco<br />

(Chile), Walter Vásquez Torres, coordenador da Pós-<br />

-graduação em Ciências Agrárias da Universidade de Los<br />

Llanos (Colômbia), Sérgio W. da Costa (EPAGRI), Juan<br />

Esquivel García (Piscicultura Panamá), Alex A. dos Santos<br />

(EPAGRI) e Rafael Luiz da Costa (ABEAQUI).<br />

No evento foi homenageada a figura mais emblemática<br />

da nossa pós-graduação, o técnico-administrativo<br />

Carlito Aloisio Klunk, secretário do Programa desde<br />

os tempos em que a pós-graduação era uma especialização<br />

lato sensu, a qual funcionou de 1986 a 1987.<br />

Lembramo-nos disso porque em 1986, ano da última<br />

passagem do cometa Halley, um dos que subscrevem<br />

este artigo fazia parte da primeira turma do curso, cujo<br />

coordenador era o Prof. João Bosco Rosas Rodrigues.<br />

A especialização serviu para lançar em 1988 o curso de<br />

mestrado, sob a coordenação do Prof. Santo Zacarias<br />

Gomez (1988-1992). Desde então, vários professores<br />

do Departamento de Aquicultura ocuparam o cargo, os<br />

quais destacamos por ordem cronológica:<br />

1992-1996 Annia T. Bessanesi Poli<br />

1996-1998 Jaime Fernando Ferreira<br />

1998-2000 Vinícius R. Cerqueira<br />

2000-2002 Jaime Fernando Ferreira<br />

2002-2006 Débora Machado Fracalossi<br />

2006-2010 Cláudio M. Rodrigues de Melo<br />

2010-2012 Evoy Zaniboni Filho<br />

2012-2017 Alex Pires de Oliveira Nuñer<br />

2017-2019 Leila Hayashi


Conclusão<br />

No referente aos desafios que o PPGAQI em<br />

particular, e a aquicultura em geral, terão de enfrentar<br />

nos próximos anos, os palestrantes convidados<br />

foram unânimes em apontar a necessidade de criar<br />

e desenvolver tecnologias mais sustentáveis, que<br />

priorizem a inclusão social e a preservação do meio<br />

ambiente. Esperemos que em 2062, na próxima<br />

passagem do Halley, levando em consideração<br />

o número atual de egressos, o PPGAQI tenha<br />

ultrapassado a marca das 1.500 teses e dissertações<br />

defendidas e publicadas. Esperemos também que,<br />

nesse ano, a aquicultura supere em várias vezes a<br />

atual produção, que a faça de forma sustentável e<br />

inclusiva, e que cada um dos 10 bilhões de seres<br />

humanos desse futuro próximo possa usufruir dos<br />

benefícios diretos do consumo de produtos aquáticos<br />

cultivados.<br />

No referente aos<br />

desafios que o PPGAQI e a<br />

aquicultura em geral, terão<br />

de enfrentar nos próximos<br />

30 anos, os palestrantes<br />

convidados foram unânimes<br />

em apontar a necessidade<br />

de criar e desenvolver<br />

tecnologias mais sustentáveis,<br />

que priorizem a inclusão<br />

social e a preservação do meio<br />

ambiente.<br />

Figura 1. Participantes do evento.<br />

JUL/AGO 2018<br />

51


Potential of insect-bas<strong>ed</strong> diets for Atlantic salmon<br />

(Salmo salar)<br />

Ikram Belghit, Nina S.Liland, RuneWaagbø, IreneBiancarosa, Nicole Pelusio, Yanxian Li, Åshild<br />

Krogdahl, Erik-Jan Lock.<br />

Embora atualmente os insetos não sejam produzidos em volumes suficientes para serem<br />

utilizados na produção comercial de ração para peixes, estes mostram-se como grande promessa<br />

de ingr<strong>ed</strong>ientes sustentáveis ​para o futuro da aquicultura.<br />

No presente estudo, os pesquisadores avaliaram o efeito do uso de larvas de mosca soldado<br />

negro (Hermetia illucens) cultivadas em diferentes meios, como ingr<strong>ed</strong>ientes de rações para<br />

salmão do Atlântico cultivado em água doce. Foi analisado o desempenho de crescimento,<br />

composição corporal e digestibilidade de nutrientes.<br />

Os resultados demostraram que:<br />

É possível adicionar 600 g kg - 1 de farinha de insetos em combinação<br />

com óleo de insetos nas dietas de salmão do Atlântico, sem qualquer<br />

efeito adverso sobre o desempenho de crescimento, utilização da ração,<br />

digestibilidade aparente e composição corporal;<br />

A farinha de mosca soldado negro parece ser uma boa fonte de<br />

aminoácidos e tem alta biodisponibilidade para aminoácidos em salmão<br />

do Atlântico;<br />

JUL/AGO 2018<br />

A inclusão dietética da farinha de insetos não afetou a composição<br />

im<strong>ed</strong>iata corporal do salmão do Atlântico.<br />

A escolha dos ingr<strong>ed</strong>ientes e a formulação das dietas podem influenciar no impacto<br />

ambiental da indústria aquícola. Portanto, é crucial um contínio estudo do desenvolvimento<br />

de dietas que causem cada vez menos impacto no ambiente, sem deixar de serem eficientes<br />

no aspecto zootécnico.<br />

Leia o artigo completo no portal Aquaculture, Volume 491 , 1 de abril de 2018 , páginas 72-81.<br />

52


Cultivo super-espinhoso<br />

Manejo do dia<br />

JUL/AGO 2018<br />

53


Roberto Bianchini Derner<br />

Laboratório de Cultivo de Algas<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina - UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

roberto.derner@ufsc.br<br />

Quando as microalgas se tornam<br />

indesejadas: floração de algas nocivas<br />

Diferente das colunas anteriores, nas quais tratamos<br />

das aplicações biotecnológicas das algas e<br />

de aspectos do metabolismo destes organismos, nesta<br />

coluna trataremos de alguns casos em que as microalgas<br />

se tornam indesejadas.<br />

Neste sentido, sem dúvida o assunto mais discutido<br />

é o da proliferação muito intensa de determinada<br />

população de microalgas no ambiente natural, ou em<br />

um tanque de cultivo de peixes, por exemplo. Este<br />

fenômeno natural é conhecido como Floração de Algas<br />

Nocivas (FAN), ou Harmful Algal Bloom (HAB), e<br />

sua ocorrência têm estreita relação com parâmetros<br />

ambientais, quando variações nas correntes, regime<br />

de ventos, aporte de nutrientes, salinidade, iluminação<br />

e na temperatura da água, dentro outros fatores, induzem<br />

uma população de poucas células microalgais<br />

a uma proliferação massiva, ocasionando, em poucos<br />

dias, uma FAN que pode ser deslocada pelos ventos e<br />

correntes e alcançar áreas de pesca, de cultivos aquícolas,<br />

de lazer e de captação de água para consumo<br />

humano, por exemplo.<br />

As FAN podem ocorrer tanto em ambiente marinho<br />

quanto em água doce e, algumas são conhecidas<br />

popularmente como “marés vermelhas”, quando se<br />

tratam de florações de dinoflagelados com pigmentação<br />

avermelhada, entretanto, podem ser de outras<br />

cores, relacionadas aos táxons (diatomáceas, cianobactérias,<br />

clorofíceas etc.) e aos respectivos pigmentos<br />

sintetizados pelas células algais.<br />

Cabe esclarecer que uma FAN não necessariamente<br />

se refere à florações de microalgas produtoras de<br />

toxinas (ficotoxinas). Em muitos casos, basta que ocorra<br />

uma proliferação muito intensa de qualquer espécie<br />

de microalga para que as condições ambientais possam<br />

sofrer alterações, principalmente em relação à concentração<br />

do oxigênio dissolvido, pH, cor, odor e até no<br />

gosto da água. Tanto no ambiente natural quanto nos<br />

ambientes de cultivos, uma população muito densa de<br />

microalgas pode consumir todo o oxigênio dissolvido<br />

na água (por sombreamento, pela respiração ou no<br />

processo de decomposição das células mortas), levando<br />

à morte todos os outros organismos naquele local,<br />

causando muitos prejuízos ambientais e econômicos,<br />

como grandes mortandades de peixes, moluscos e<br />

crustáceos, com registros de ocorrência no Brasil e em<br />

muitos outros países.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Figura 1. a) FAN na costa da África; b) Pseudo-nitzchia - diatomácea produtora de neurotoxina que pode causar síndrome amnésica.<br />

A. B.B.<br />

© http://oceanadventures.co.za © NOAA<br />

54


BIOTECNOLOGIA DE<br />

ALGAS<br />

Grande atenção é necessária, e tem sido verificada<br />

em alguns casos, no monitoramento da ocorrência<br />

de espécies de microalgas potencialmente produtoras<br />

de toxinas nos locais de cultivo de moluscos filtradores<br />

(ostras, mexilhões e vieiras). Estes moluscos obtém<br />

seu alimento através da filtração das partículas em<br />

suspensão na água - incluindo células microalgais, que<br />

constituem o fitoplâncton – e o problema decorre da<br />

possibilidade destas ficotoxinas (algumas muito potentes)<br />

serem concentradas na carne dos animais (bioacumulação).<br />

Geralmente, as toxinas não causam mal aos<br />

moluscos, entretanto, podem causar diversos tipos de<br />

envenenamento nos organismos – incluindo o homem<br />

- que se alimentaram dos moluscos contaminados. Menos<br />

mal que uma vez que a floração desapareça, após<br />

alguns dias os moluscos podem se depurar naturalmente,<br />

e o seu consumo pode ser retomado sem riscos.<br />

Outros possíveis problemas ocasionados pelas FAN<br />

são relacionados ao envenenamento através da pele<br />

pelo contato com estas ficotoxinas presentes na água<br />

e/ou pela possibilidade de determinadas microalgas<br />

causarem obstrução das brânquias de animais<br />

aquáticos, ou de espécies com frústulas causarem<br />

microferimentos nas brânquias destes animais, sendo os<br />

ferimentos a porta de entrada para micro-organismos<br />

como bactérias e fungos, causadores de doenças<br />

secundárias. Bem conhecido nas estações de captação<br />

de água de muitas cidades, bem como dos produtores<br />

de peixes de água doce - mas não exclusivamente, uma<br />

vez que também pode ocorrer em peixes e camarões<br />

marinhos, o off-flavor (gosto e/ou cheiro de terra ou<br />

mofo) causado pela presença, principalmente, de<br />

algumas cianobactérias é um problema que ocasiona<br />

expressivas perdas econômicas na aquicultura, uma vez<br />

que os produtores precisam tomar m<strong>ed</strong>idas visando<br />

tanto à eliminação destas microalgas dos sistemas de<br />

cultivo quanto à depuração dos animais, visto que<br />

muitos mercados rejeitam o produto no caso de ser<br />

constatado o off-flavor.<br />

Em relação à saúde humana, um caso muito grave<br />

de envenenamento por ficotoxina ocorreu numa clínica<br />

em Caruaru, PE, em 1996, quando 65 pacientes<br />

morreram após o proc<strong>ed</strong>imento de hemodiálise no<br />

qual foi acidentalmente empregada água contaminada<br />

com microcistina, uma potente hepatoxina sintetizada<br />

por cianobactérias do gênero Microcystis.<br />

Assim, seja para o desenvolvimento das atividades<br />

aquícolas, como para o lazer ou para o abastecimento<br />

de água das cidades, é muito importante o desenvolvimento<br />

de planos de monitoramento e, se possível o<br />

controle, das populações de microalgas, particularmente<br />

daquelas potencialmente produtoras de toxinas. E<br />

para não fugir completamente das aplicações biotecnológicas<br />

das microalgas, nesta coluna as ficotoxinas foram<br />

apresentadas de maneira negativa, porém, quem sabe<br />

algumas possam ser estudadas e virem a ser empregadas<br />

na elaboração de m<strong>ed</strong>icamentos.<br />

Figura 2. a) Milhares de sardinhas mortas em praia do Chile por causa de uma FAN; b) FAN de cianobactérias em um lago.<br />

A. B.<br />

JUL/AGO 2018<br />

© AP Photo/Felix Marquez © www.fondriest.com<br />

55


Green<br />

TECHNOLOGIES<br />

CSIRO - Austrália<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />

mauricioemerenciano@hotmail.com<br />

Aquaponia nas escolas: <strong>ed</strong>ucação com<br />

alimentos saudáveis!<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das<br />

instituições vinculadas ao mesmo.<br />

A. B. C.<br />

Transcender a ciência e tecnologia das Universidades<br />

e aterrissar nas escolas é o tema da<br />

coluna Green Technologies desta <strong>ed</strong>ição. Os sistemas<br />

considerados mais ecológicos ou “environmental friendly”<br />

como bioflocos e aquaponia são um caminho sem<br />

volta e isso não é novidade para ninguém. Mas a pergunta<br />

é: será que podemos aplicar estas tecnologias,<br />

como por exemplo a aquaponia, como instrumento<br />

de <strong>ed</strong>ucação e ainda produzir alimentos mais saudáveis?<br />

A resposta é sim!<br />

Não é de hoje que a Aquaponia é considerada uma<br />

revolução na forma de produzir alimentos. Esse modelo<br />

de cultivo que integra peixes, crustáceos e diferentes<br />

espécies de plantas caiu no gosto de diversas<br />

pessoas em muitos países, tanto no âmbito de hobby<br />

ou como negócio! Este modelo integrado, que aproveita<br />

nutrientes oriundos dos efluentes dos peixes e<br />

crustáceos para produzir diversas espécies de hortaliças,<br />

frutas, forragens e até mesmo flores, é foco de<br />

diversos programas de pesquisa e de desenvolvimento<br />

alimentar em muitos países. No Brasil o interesse<br />

vem crescendo a cada dia graças a maior quantidade<br />

de informações disponíveis nas mídias sociais, cursos<br />

ofertados, entre outros. Mas este sistema integrado<br />

pode virar ferramenta de <strong>ed</strong>ucação e ser aplicado de<br />

maneira im<strong>ed</strong>iata?<br />

Figura 1. Unidades de pesquisa em aquaponia nas Universidades UDESC campus Laguna-SC (a,b) e UNIBAVE campus Orleans (c).<br />

JUL/AGO 2018<br />

A aquaponia nas escolas certamente foi um dos<br />

maiores exemplos neste sentido. Pude ver “ao vivo e<br />

a cores” e participar ativamente desta iniciativa única<br />

e que facilmente pode ser replicada. Ver as inovações<br />

técnico-científicas desenvolvidas nas Universidades<br />

aterrissarem com sucesso em escolas de ensino médio<br />

da região de Laguna-SC foi um dos maiores presentes<br />

profissionais de minha vida. Fruto de um projeto<br />

financiado pelo CNPq-VALE, as pesquisas em aquaponia<br />

iniciaram na UDESC em 20<strong>13</strong> e o resultado, entre<br />

outros, foi a implantação de unidades demonstrativas<br />

em escolas públicas da região. Nestas unidades os professores<br />

de disciplinas tais como biologia, física e química<br />

utilizavam aquele ambiente para suas aulas práticas,<br />

sempre atrelando o conteúdo ministrado com a conscientização<br />

ambiental. Segundo relato dos professores,<br />

as crianças demonstravam cada vez mais interesse nos<br />

diversos assuntos abordados e apresentavam maior<br />

facilidade de aprendizagem. Passados vários anos, as<br />

unidades continuam em pleno funcionamento e o melhor:<br />

expandindo! Bacana não é mesmo? Certamente<br />

muitas belas histórias ainda virão.<br />

Figura 2. Aquaponia nas escolas públicas da região de Laguna-SC: diversão, conscientização e aprendizado.<br />

56


André Camargo<br />

Sócio Fundador da Escama Forte<br />

Botucatu, SP<br />

andre@escamaforte.com.br<br />

Por que o Brasil exporta tão<br />

pouca tilápia?<br />

Atilápia já está bem avançada neste quesito<br />

.de exportação, principalmente por ser um<br />

produto muito comum no mercado internacional.<br />

Mas o que nos falta para conquistar esse mercado<br />

internacional, então de tilápia? A primeira resposta é<br />

bem simples, necessitamos de competitividade, muita<br />

competitividade. Essa competitividade tanto dentro das<br />

fazendas como fora das fazendas. Nas condições atuais<br />

não conseguimos sequer chegar perto de chineses,<br />

vietnamitas e equatorianos por exemplo, que hoje<br />

usam soja brasileira para a produção de seus peixes.<br />

Dentro da fazenda as melhorias de alguns anos<br />

para cá já estão ocorrendo. De maneira básica sãos as<br />

questões relacionadas à zootecnia como manejo, nutrição,<br />

genética, entre outros que podem colaborar de<br />

forma significativa com os índices gerais de produtividade<br />

e desta forma dar ao Brasil mais competitividade.<br />

Podemos considerar que estamos apenas começando<br />

e ainda temos muito a avançar em equipamentos, sistemas<br />

de produção, melhoramento genético e etc.<br />

Fora da fazenda alguns pontos se mostram como<br />

os mais importantes quando pensamos em exportação<br />

de tilápias:<br />

1. Preços<br />

Atualmente os preços do<br />

mercado interno são extremamente<br />

atrativos, remuneram<br />

de forma interessante<br />

e fazem com que<br />

as empresas tenham pouco<br />

interesse pelo aumento das<br />

exportações, porém este<br />

cenário pode mudar com os<br />

incrementos de produção e<br />

aumento da oferta de pescado<br />

no mercado interno.<br />

2. Perfil do empreend<strong>ed</strong>or<br />

Excluindo-se as empresas<br />

com perfil mais empresarial,<br />

os demais empresários<br />

ligados a produção, são<br />

mais cautelosos quando<br />

se trata de exportação. As<br />

empresas que estão exportando<br />

são administrações<br />

diferentes das tradicionais.<br />

Concluindo, o Brasil encontra-se muito bem em<br />

relação ao desenvolvimento de questões zootécnicas,<br />

porém encontra-se extremamente defasado em relação<br />

às questões externas à produção. O Drawback ainda<br />

é um estudo da EMBRAPA, o Serviço de Inspeção<br />

F<strong>ed</strong>eral dificulta as exportações por falta de conhecimento<br />

e pessoal, o empresário do setor ainda é muito<br />

pequeno e não vê com bons olhos os processos de<br />

exportação e assim seguimos, porém, a pesca mundial<br />

está entrando em colapso, o interesse por espécies<br />

que utilizam mais baixos níveis de proteína são<br />

3. Drawback<br />

Como parte do ganho de<br />

competitividade no exterior<br />

temos a implantação<br />

do DRAWBACK, que vai<br />

desonerar os insumos utilizados<br />

na produção e processamento,<br />

isentos de impostos<br />

f<strong>ed</strong>erais quando se<br />

tratar de exportação.<br />

4. SIF<br />

Processos do SIF vinculados<br />

ao governo f<strong>ed</strong>eral<br />

engessam as exportações<br />

e tiram competitividade das<br />

empresas brasileiras frente<br />

aos concorrentes internacionais,<br />

importante salientar<br />

que esta é uma colocação<br />

recorrente de várias empresas<br />

do Brasil.<br />

uma realidade na Europa e a solidificação da tilápia no<br />

mercado americano trazem excelentes perspectivas<br />

para nossos produtos. Quando pensarmos o que fazer,<br />

devemos priorizar o mercado americano no curto<br />

prazo, a América Latina no médio prazo, pois Chile,<br />

Colômbia entre outros já compraram do Brasil e possuem<br />

a tilápia em suas realidades e a Europa como o<br />

passo fundamental a um prazo mais alongado, pois aos<br />

poucos a tilápia vai entrando e nós temos condições de<br />

atender aos padrões de qualidade impostos por eles.<br />

57<br />

JUL/AGO 2018


Giovanni Lemos de Mello<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />

Editor-chefe da <strong>Revista</strong> Aquaculture Brasil<br />

Laguna, SC<br />

giovanni@aquaculturebrasil.com<br />

Visão<br />

aquícola<br />

JUL/AGO 2018<br />

Piscicultura Marinha no M<strong>ed</strong>iterrâneo<br />

Recentemente participei de uma missão na Europa<br />

coordenada pelo Ministério da Ciência,<br />

Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), integrando<br />

uma delegação brasileira no tema de P&D<br />

em aquicultura. Um dos principais objetivos desta<br />

missão foi conhecer de perto plataformas de integração<br />

entre academia, indústria e governo, buscando<br />

adaptar um modelo para o Brasil, a exemplo da EATIP<br />

(European Aquaculture Technology Platform).<br />

Minha primeira missão internacional como especialista<br />

da área, aos 37 anos, após meus primeiros<br />

dez anos (ainda bem tímidos) como pesquisador e<br />

15 anos de graduado em Engenharia de Aquicultura.<br />

“Marinheiro de primeira viagem”. Foi incrível adentrar<br />

no mar M<strong>ed</strong>iterrâneo e conhecer a piscicultura<br />

marinha do Sul da Espanha. Como assim, professor<br />

da disciplina de Piscicultura e pesquisador na área de<br />

piscicultura marinha que nunca visitou a piscicultura<br />

marinha fora do Brasil? Caro leitor, não tenho vergonha<br />

alguma de apontar as minhas fragilidades. Pior é a<br />

pessoa que vive tendo oportunidades de conhecer a<br />

aquicultura pelo mundo e não contribui em nada pelo<br />

desenvolvimento de nossa atividade no País.<br />

O curioso, é que pude conferir na prática o que<br />

escrevi em minha primeira coluna, da <strong>ed</strong>ição anterior.<br />

Robalos e pargos com 300 a 400 gramas, produzidos<br />

por dois anos, protagonizando um mercado que movimenta<br />

bilhões de Euros/ano. Entre robalos, pargos,<br />

corvinas e atuns, obviamente que este último foi o<br />

que mais chamou a nossa atenção. Fomos recebidos<br />

por um dos seis proprietários da maior empresa espanhola,<br />

que nos contou absolutamente tudo sobre<br />

o processo de criação, beneficiamento e comercialização<br />

do atum. Aliás, algumas imagens ilustram muito<br />

melhor do que uma ou duas páginas...<br />

Segundo a empresa, após o mês de maio, melhor<br />

preço para venda do atum ao Japão (90% de seu<br />

mercado), o preço deste pescado r<strong>ed</strong>uz consideravelmente<br />

e a solução é estocá-los em gaiolas no mar. Ali,<br />

eles ficam em média 5 meses, até o preço se recuperar.<br />

O peso inicial é de causar espanto: de 150 a 250<br />

Kg! Isto mesmo, quilos! O tanque-r<strong>ed</strong>e parecia mais<br />

uma jaula com leões! Nos meses em que os atuns<br />

vão permanecer ali, eles engordam cerca de 40%,<br />

mas não é muito controlada a questão de biometrias.<br />

Outra coisa que assusta, tanques-r<strong>ed</strong>e com 90 m de<br />

diâmetro, como vocês podem conferir nas imagens<br />

que ilustram esta coluna.<br />

Por fim, daí assusta mesmo, a produção anual da<br />

empresa: 12 mil toneladas de atum por ano. E para<br />

aterrorizar de vez, a última informação: o fornecimento<br />

diário de peixes para os atuns: 800 toneladas/dia.<br />

Isto mesmo, não é quilo, e não há erro de digitação!<br />

São oitocentas toneladas por dia de peixes sendo<br />

ofertados aos atuns nas gaiolas da empresa no M<strong>ed</strong>iterrâneo.<br />

Tente refletir um pouco a respeito...<br />

Da próxima vez que estiver mostrando aquele<br />

gráfico mais famoso da FAO, com o total produzido<br />

pela pesca e aquicultura,<br />

e falando que<br />

a pesca, apesar de<br />

ainda produzir mais,<br />

parte não vai para<br />

consumo humano e<br />

sim para outros fins<br />

(como o descrito acima!),<br />

nunca mais vou<br />

me esquecer do que<br />

vimos.<br />

58


GENÉTICA<br />

Rodolfo Luis Petersen<br />

Não é fácil iniciar uma série de colunas sobre<br />

melhoramento genético. Trata-se de uma disciplina<br />

que para conseguir entendê-la precisamos ter<br />

claro alguns conceitos, entre eles, por exemplo, as leis<br />

de Mendel. Todos sabemos das dificuldades para seu<br />

entendimento. Sem querer julgar, a maioria dos técnicos<br />

ligados a aquicultura não conhecem o conceito de<br />

GENE, mesmo falando de melhoramento genético,<br />

muito menos de alelo e de segregação mendeliana.<br />

Na sequência precisamos ter boas noções de estatística<br />

e genética quantitativa. E para finalizar, mas não<br />

menos importante, precisamos conhecer a biologia<br />

e o comportamento do animal que desejamos melhorar.<br />

Numa bela oportunidade, conversando com o<br />

Dr. Maurício Alencar, meu professor e orientador de<br />

genética quantitativa, uns dos idealizadores do programa<br />

de desenvolvimento da raça bovina Canchim da<br />

Embrapa, frente a uma série de perguntas o “monstro”<br />

me responde:<br />

“Rodolfo, Ninguém faz melhoramento de um animal<br />

que não conhece”.<br />

O intuito desta nova série, e apesar de já ter lido<br />

ótimas notas em revistas do setor, é rever alguns conceitos<br />

básicos e tentar colocá-los em uma linguagem<br />

coloquial para o entendimento de alunos, técnicos e<br />

profissionais da aquicultura. A continuação, iremos<br />

aprofundando o tema para chegar com uma sequência<br />

lógica e temas mais específicos.<br />

Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />

Pontal do Paraná, PR<br />

rodolfopetersen@hotmail.com<br />

Melhoramento Genético:<br />

o sonho de Maradona<br />

Para começar, existe um dito famoso: TAMANHO<br />

NÃO É DOCUMENTO.<br />

O que isso significa? já escutei milhões de vezes<br />

de aquicultores participando de uma despesca, em<br />

uma transferência ou em qualquer manejo habitual,<br />

ao observar um indivíduo avantajado em peso e comprimento,<br />

comentar a possibilidade de produzir um<br />

reprodutor com aquele exemplar, achando que o<br />

mesmo é adequado para tal, mesmo sem ter a mínima<br />

noção do histórico do animal. Primeiramente,<br />

algo que temos que ter bem claro é que o que nós<br />

observamos, o fenótipo, é a relação entre o genótipo<br />

e o ambiente que o indivíduo foi cultivado desde seu<br />

nascimento até o momento em que se está observando,<br />

e em alguns casos, já existe um efeito materno antes<br />

do mesmo ter nascido. Parece fácil entender este<br />

conceito, mas não é. O grande objetivo de um melhorista<br />

no seu programa é estimar que proporção do<br />

fenótipo é devido a ação dos genes e que proporção<br />

é devido a ação do ambiente, para selecionar ou cruzar<br />

os que realmente são superiores geneticamente.<br />

Para complicar a situação, existe uma variabilidade<br />

ambiental bastante reconhecida nos cultivos aquícolas:<br />

diferentes estuários, salinidades, temperaturas, sistemas<br />

de cultivo, etc, etc...<br />

Para finalizar, sabem qual é o sonho de Maradona?<br />

Produzir uma linhagem de crescimento rápido e<br />

resistente à doenças.<br />

JUL/AGO 2018<br />

© Paul Darrow<br />

59


NUTRIÇÃO<br />

JUL/AGO 2018<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

CSIRO – Austrália<br />

IPEMAR – Brasil<br />

Bomba de carne fresca: um grande passo para<br />

a sustentabilidade na produção de alimentos aquícolas<br />

equipamento “bomba de carne fresca” é<br />

O utilizado no processo de fabricação de alimento<br />

extrusado para animais de estimação, principalmente<br />

cachorros. Seu uso possibilita a inclusão de ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

como a carne fresca de frango e em consequência a<br />

obtenção de uma textura e qualidade únicas. Esse tipo<br />

de produto consiste em uma ração tipo premium rica<br />

em proteína para atender nichos de mercado.<br />

Conforme mencionei em <strong>ed</strong>ições anteriores, a<br />

indústria de alimento de animais de estimação oferece<br />

grandes oportunidades para a indústria de alimento<br />

aquícola, e a bomba de carne fresca é uma delas. Na<br />

fabricação de alimentos aquícolas extrusados, esse<br />

equipamento permite a utilização de uma série de<br />

rejeitos e subprodutos industriais, além da incorporação<br />

de novos ingr<strong>ed</strong>ientes que dificilmente seriam utilizados<br />

na maneira tradicional. Sua utilização abre um leque<br />

de possibilidades não só em relação aos ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

a serem utilizados, mas também à qualidade do<br />

produto final (pellet – grão de alimento), pelo fato de<br />

possibilitar a incorporação de ingr<strong>ed</strong>ientes úmidos e<br />

semiúmidos. Em extrusão geralmente são utilizados<br />

apenas ingr<strong>ed</strong>ientes secos. Assim, qualquer ingr<strong>ed</strong>iente<br />

com umidade tem que ser seco antes de incorporado<br />

no processo de fabricação, fato que eleva o custo do<br />

mesmo. Essa nova tecnologia quebra esse paradigma<br />

e abre portas para inovações. A bomba de carne<br />

fresca exige ingr<strong>ed</strong>ientes em forma pastosa ou líquida<br />

para bombeá-los diretamente no pré-condicionador,<br />

compartimento do extrusor que recebe a adição de<br />

água e vapor, pré-condicionando os ingr<strong>ed</strong>ientes para<br />

em seguida passarem pela cabeça do extrusor onde<br />

serão submetidos a alta pressão e temperatura.<br />

O Laboratório de Nutrição e Fisiologia Digestiva de<br />

Organismos Aquáticos da Universidade Autónoma da<br />

Baja Califórnia, México (liderado pela Dra. María Teresa<br />

Viana), junto com a empresa Extru-Tech Inc., utiliza sua<br />

planta piloto comercial de extrusão para desenvolver<br />

novos alimentos aquícolas. Em nosso laboratório<br />

artur.rombenso@csiro.au<br />

*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições<br />

vinculadas ao mesmo.<br />

utilizamos a bomba de carne fresca para fabricação de<br />

dietas experimentais para atum, incorporando ensilagem<br />

de rejeito de pesca e recentemente produzimos dietas<br />

extrusadas para juvenis de olhete (peixe marinho<br />

carnívoro) com ensilagem de pasta de grilo. Essa<br />

última dieta é um excelente exemplo de como esse<br />

equipamento pode revolucionar a incorporação de<br />

ingr<strong>ed</strong>ientes na extrusão. O uso de farinhas de insetos<br />

na aquacultura está em alta, com vários trabalhos<br />

publicados, inclusive uns bem interessantes do meu<br />

grande amigo e colega Dr. Maurício Gustavo Coelho<br />

Emerenciano (colunista da Green Technologies).<br />

Um dos maiores desafios para o uso desse tipo de<br />

farinha em escala comercial é o volume de produção<br />

e a preparação desses ingr<strong>ed</strong>ientes para atender às<br />

exigências de qualidade da farinha pelas empresas de<br />

fabricação. No caso do grilo, é desafiadora a moagem<br />

para atingir uma granulometria fina pelas características<br />

composicionais do organismo.<br />

60


Assim, acr<strong>ed</strong>itamos que a melhor forma foi<br />

produzir uma silagem com rejeito de sardinha e pasta<br />

de grilo para minimizar esses efeitos. Os resultados<br />

em termos de fabricação do alimento extrusado<br />

foram um êxito, pois conseguimos incorporar até<br />

50% dessa silagem (rejeito de sardinha + pasta de<br />

grilo) na formulação e os pellets saíram com uma<br />

ótima qualidade. Atualmente, os juvenis de olhete<br />

estão em experimentação por cinco semanas e as<br />

dietas contendo grilo estão sendo aceitas da mesma<br />

forma que a controle.<br />

Nessa coluna, quis mostrar como a indústria<br />

de alimentos evolui e apresentar uma das muitas<br />

inovações que existem no setor. É bastante provável<br />

que essa tecnologia de bomba de carne fresca esteja<br />

presente no mercado nos próximos anos. E quais<br />

ingr<strong>ed</strong>ientes estaremos incorporando nas dietas?


JUL/AGO 2018<br />

62<br />

Fábio Rosa Sussel<br />

Pesquisador Científico da APTA - UPD<br />

Pirassununga, SP<br />

sussel@apta.sp.gov.br<br />

Interiorização do camarão marinho<br />

Fazendo jus ao título da minha sessão, Atualidades<br />

e Tendências da Aquicultura, não poderia deixar<br />

de falar sobre a mais recente modalidade de expansão<br />

da carcinicultura: produção de camarão marinho<br />

em águas interiores. Ou seja, sem qualquer influência<br />

da água marinha. Mas que tipo de água, mais especificamente,<br />

isto envolve? Absolutamente todas, exceto,<br />

obviamente, as dos rios poluídos que cortam nossas<br />

cidades.<br />

São águas possíveis de se criar camarão marinho:<br />

rios de água doce, rios de água salobra (comuns no<br />

Nordeste do Brasil), poço caipira ou poço amazonas,<br />

seja com água salobra ou doce, poço artesiano, seja<br />

com água doce ou salobra, água de chuva e até mesmo<br />

“água de rua” fornecida pelas companhias de saneamento<br />

básico. A diferença é que enquanto algumas<br />

destas precisam de correção, outras, onde por sinal<br />

vislumbro o maior potencial, são naturalmente aptas<br />

a criação de camarão marinho. Com alguns detalhes<br />

bem interessantes: ambientalmente sustentável, oportunidade<br />

de fixação do homem no campo, geração de<br />

renda em áreas improdutivas e produção de proteína<br />

nobre com alto valor agregado.<br />

Pra não gerar confusão, vou logo deixar claro quais<br />

são as situações possíveis nestes diferentes tipos de<br />

água citados. Depois, havendo espaço, comento um<br />

pouco mais sobre as perspectivas otimistas deste tipo<br />

de exploração. Inicialmente é preciso deixar claro que<br />

água salgada obtida por meio da adição de NaCl (sal de<br />

cozinha) é uma coisa, e água marinha é outra. Ao mesmo<br />

tempo que o camarão marinho não é totalmente<br />

dependente da água marinha, não é certo imaginarmos<br />

uma produção comercial desta espécie em água salgada<br />

(NaCl). Se adicionarmos NaCl na água e elevarmos<br />

a dureza para mais de 80 mg/CaCO 3<br />

posso garantir<br />

que ele até sobrevive, mas não é o ideal, tratando-se<br />

de produção comercial.<br />

Também é importante registrar que não é a proposta<br />

deste artigo apresentar uma receitinha de parâmetros<br />

físico-químicos ideias para o cultivo da espécie.<br />

Primeiro porque eventuais diferenças entre os valores<br />

desejados podem implicar apenas em maior ou menor<br />

produtividade. E segundo que, absolutamente todos<br />

os parâmetros podem ser perfeitamente corrigidos.<br />

Neste caso, as particularidades de cada água precisam<br />

ser estudadas in loco. No caso das águas naturalmente<br />

aptas, pouca técnica se faz necessário para o êxito nas<br />

criações. Enquanto que aquelas águas onde a correção<br />

é imprescindível, muita técnica e profissionais especializados<br />

são necessários.<br />

Numa criação comercial de camarão marinho em<br />

águas interiores, o objetivo é proporcionar aos animais<br />

um adequado balanço iônico, e não alta salinidade.<br />

Neste caso, além do NaCl (Sódio + Cloreto) os camarões<br />

vão precisar ainda de mais 4 sais: potássio, cálcio,<br />

magnésio e sulfato. Mais importante que a quantidade<br />

destes sais é a relação entre eles. Neste caso, podemos<br />

ter uma água com salinidade de 1 ppt, ou seja, baixa<br />

quantidade de sais, mas boa relação entre eles, sendo<br />

ideal para uma criação comercial. Portanto, a primeira<br />

análise não pode se resumir apenas a salinidade em si.<br />

O segundo aspecto a ser analisado é a dureza e alcalinidade.<br />

Preconiza-se que estas estejam acima de 100<br />

mg/L de CaCO 3<br />

.<br />

Estas duas características apontadas acima são relativamente<br />

comuns de encontrar nas águas do interior<br />

do Nordeste do Brasil, seja em rios ou poços. Não<br />

sendo necessário qualquer tipo de correção. A título de<br />

melhor ilustração de como estas águas são facilmente<br />

encontradas no semiárido brasileiro, dezenas de produtores<br />

de arroz do Vale do Jaguaribe – CE (cerca de<br />

100 km do litoral), por exemplo, simplesmente estão<br />

abandonando a rizicultura e aproveitando os tabuleiros<br />

para produzir camarão marinho, sem qualquer correção<br />

na água.<br />

No caso da região Sudeste por exemplo, estes tipos<br />

de águas naturalmente aptas já não são tão comuns.<br />

Existem, mas estão em localidades específicas. Tratando-se<br />

de poços artesianos, a variação química da água<br />

é grande. Verificando superficialmente algumas análises<br />

de água disponíveis no site da CETESB, por exemplo,<br />

observa-se que em uma mesma cidade há água<br />

de poços com dureza de 20 e outros com 350 mg/L<br />

de CaCO 3<br />

, sendo esta última bastante desejável para


a criação de camarões marinhos. Mas a melhor notícia<br />

é que atualmente já dispomos de tecnologias para<br />

fornecer na água o completo balanço de sais que estes<br />

crustáceos precisam. E, lógico, num custo acessível.<br />

Já temos empresas que disponibilizam sal para<br />

constituição de “água marinha” artificial específica para<br />

a produção comercial de camarão marinho. Neste<br />

caso, pouco importa a composição química original<br />

da água. Conforme já comentado, tal situação envolve<br />

certo conhecimento técnico para o êxito da criação.<br />

Ou seja, já temos soluções tecnológicas para contornar<br />

o problema, mas não é simples. Umas das propostas,<br />

por exemplo, é criação no sistema de bioflocos (BFT).<br />

Eficiente, mas exige acompanhamento diário.<br />

Uma observação importante que vale tanto para as<br />

situações onde tem águas aptas ou águas que necessitam<br />

de correção, é que nunca deve haver o descarte<br />

de água para o ambiente. Os sistemas produtivos,<br />

sejam viveiros escavados ou tanques elevados, devem<br />

ser pensados de modo a serem eficientes no que tange<br />

a reutilização (tratamento e recalque) da água. Além de<br />

ser uma forma de se produzir alimentos sustentáveis<br />

ambientalmente, é mais eficiente do ponto de visa financeiro.<br />

Por fim, importantíssimo deixar registrado a possível<br />

transformação que esta interiorização do camarão<br />

marinho pode representar. No caso das regiões Sul e<br />

Sudeste do Brasil, onde temos as maiores densidades<br />

populacionais, a grande oportunidade de ter a produção<br />

junto ao mercado consumidor. Enquanto que especialmente<br />

no caso do Nordeste, onde a água salobra<br />

muitas vezes é um problema, eis a grande oportunidade<br />

de explorar tal recurso que, até então, nenhuma<br />

utilidade tinha.<br />

Simples? Não, absolutamente não. Tudo que é fácil<br />

e simples já tem alguém fazendo. Porém, perfeitamente<br />

possível e viável tecnicamente.<br />

JUL/AGO 2018<br />

63


Ranicultura<br />

Andre Muniz Afonso<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />

Palotina, PR<br />

andremunizafonso@gmail.com<br />

JUL/AGO 2018<br />

Como evitar o canibalismo na<br />

engorda de rãs?<br />

Ocanibalismo é uma prática inerente à várias espécies<br />

de animais, podendo ou não possuir estreita<br />

relação com a prolificidade, uma vez que espécies<br />

muito prolíferas além de não apresentarem cuidado parental,<br />

podem se alimentar da própria prole. Este comportamento<br />

já foi descrito para diversos tipos de animais<br />

aquáticos, principalmente peixes, sendo a rã-touro uma<br />

espécie comumente a ele associado.<br />

No âmbito da criação comercial, existe um grande<br />

e justificado temor quanto ao canibalismo na fase de<br />

engorda. Quando a pr<strong>ed</strong>ação é bem suc<strong>ed</strong>ida ocorre<br />

uma diminuição populacional, por outro lado, quando<br />

a rã alvo da pr<strong>ed</strong>ação escapa, sequelas, na forma de<br />

feridas, podem constituir perigosa porta de entrada<br />

para patógenos oportunistas. Isto posto, como evitar o<br />

canibalismo ao longo do processo de engorda de rãs?<br />

Iniciando-se pela recria, cabe salientar que, é prática<br />

comum os criadores introduzirem animais todos os dias<br />

nas baias iniciais até que suas lotações máximas sejam<br />

atingidas. Isso faz com que aqueles que aprendem a<br />

comer primeiro, também se desenvolvam primeiro<br />

e mesmo que não sejam muito maiores que os mais<br />

“novos” naquele ambiente, por uma questão de<br />

domínio e competição, tendam a pr<strong>ed</strong>á-los. A correção<br />

para tal problema seria a introdução do lote na baia no<br />

mesmo dia ou, ao menos, a sincronização do início da<br />

oferta alimentar, ainda que os animais não apresentem<br />

tamanhos tão uniformes.<br />

Outro fator que também leva ao canibalismo é a<br />

Figura 1. Baia semisseca de engorda de rãs, onde uma única<br />

bandeja (laranja) constitui o cocho.<br />

oferta de alimento, muitas vezes r<strong>ed</strong>uzida por questões<br />

estruturais da baia. Projeta-se um cocho que não torna<br />

o alimento disponível a todos os animais ao mesmo<br />

tempo ou, na ausência de cocho, não se distribui o<br />

alimento equitativamente, gerando, mais uma vez,<br />

domínio e competição. Neste caso, a solução é bastante<br />

simples, basta tornar o alimento disponível a todos ao<br />

mesmo tempo, modificando-se a estrutura da baia ou<br />

aumentando a proporção dos cochos, quando estes<br />

são móveis (Figura 1). Outro aspecto de relevância está<br />

ligado ao aumento da temperatura, que, por resultar<br />

em aumento do metabolismo dos animais, faz com<br />

que a procura por alimento seja maior, agravando o<br />

comportamento de competição. Como m<strong>ed</strong>ida básica,<br />

o ideal é que no dia seguinte a baia apresente um pouco<br />

de sobra do dia anterior.<br />

A triagem, um manejo realizado para separação dos<br />

animais em lotes mais homogêneos, é uma prática muito<br />

adotada que pode diminuir o canibalismo presente na<br />

baia, ainda que sua eficácia seja discutida por especialistas.<br />

A verdade é que deve-se evitar ao máximo que existam<br />

grandes discrepâncias em relação ao tamanho dos animais<br />

num mesmo lote, no entanto, em algumas situações, as<br />

diferenças entre as rãs podem ser tão grandes (Figura 2),<br />

que fica evidente a necessidade desse manejo.<br />

Observação é tudo! Existe um ditado em ranicultura<br />

que se aplica muito ao canibalismo – “O ranicultor pode<br />

ser surdo e mudo, mas não pode ser cego...”<br />

Saudações ranícolas!<br />

Figura 2. Imago (apresentando feridas típicas de canibalismo na<br />

cabeça) ao lado de fêmea adulta .<br />

64


Marcelo Shei<br />

Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos<br />

Santos, SP<br />

shei@altamar.com.br<br />

Bead Filters na Aquicultura?<br />

Aproveitando a estação do ano, vamos abordar o<br />

.uso de aquec<strong>ed</strong>ores em sistemas de aquicultura.<br />

Dentre as opções disponíveis para o aquecimento da<br />

água, tenho priorizado a utilização das bombas de calor.<br />

A grande vantagem desses equipamentos é que a grande<br />

quantidade de energia de baixa temperatura disponível<br />

no ambiente é transferida para um meio de menor superfície<br />

com alta temperatura.<br />

O aumento da concentração de partículas sólidas e<br />

de compostos nitrogenados são os principais fatores que<br />

levam a trocas de água em sistemas de aquicultura. Para<br />

sistemas de menor capacidade, o uso dos Bead Filters<br />

(BF) são uma ótima opção para filtração mecânica e biológica<br />

combinada e diminuição da necessidade de trocas<br />

de água.<br />

Esse filtro é construído em uma câmara que utiliza mídias<br />

flutuantes, capazes de realizar a retenção de sólidos<br />

de forma similar aos filtros de areia (FA). Nele, as partículas<br />

sólidas são capturadas a m<strong>ed</strong>ida que a água atravessa<br />

a coluna filtrante de forma ascendente. Simultaneamente,<br />

a superfície contida nessas mídias serve como substrato<br />

para crescimento de biofilme e filtração biológica.<br />

Como filtro de sólidos, apesar de possuirem o mesmo<br />

princípio de funcionamento dos FA, não geram os<br />

mesmos problemas existentes nesses. A diferença está<br />

principalmente na eficiência da retrolavagem. Nos FA,<br />

quando os grãos são envolvidos pelo biofilme, eles acabam<br />

se aderindo fortemente uns aos outros. Essa adesão<br />

é forte o suficiente para que a pressão de bombeamento<br />

não seja capaz de suspender toda a coluna de<br />

areia durante a retrolavagem, deixando-a compactada e<br />

com pouca capacidade de filtração. Nos BF, mesmo com<br />

a formação do biofilme, a coluna filtrante é facilmente<br />

agitada. Alguns modelos drenam a água concentrada de<br />

sólidos, um processo que utiliza muito menos água, pois<br />

a necessidade de enxágue se torna muito menor.<br />

Como filtros biológicos, BF são classificados como<br />

reatores de filme fixos, pois o envolvimento de toda mídia<br />

filtrante pelo biofilme permite extrair nutrientes da<br />

água durante a passagem através do filtro. Dessa forma,<br />

a capacidade de remoção de nitrogenados por um BF<br />

está relacionada diretamente a superfície total disponibi-<br />

Figura 1. a) Bead Filter Altamar 21m 3 /h; b) Bubble Bead Filter AST<br />

- EUA.<br />

A.<br />

B.<br />

lizada pelas mídias filtrantes. Equipamentos maiores são<br />

capazes de remover até 1.000g amônia/ dia.<br />

Essas características tornam os BF uma ótima opção<br />

para sistemas experimentais, manutenção de reprodutores,<br />

incubação de ovos, larvicultura, aquaponia, aquários<br />

públicos e lagos ornamentais. A Altamar possui uma<br />

linha própria de Bead Filters capaz de atender vazões<br />

entre 4 e 50 m 3 /h.<br />

JUL/AGO 2018<br />

65


Eduardo Gomes Sanches<br />

Instituto de Pesca / APTA<br />

Ubatuba, SP<br />

esanches@pesca.sp.gov.br<br />

JUL/AGO 2018<br />

A precisão em novas<br />

técnicas de pesquisa<br />

Nossa aquicultura vai adquirindo complexidade<br />

e se modificando, assim como tudo nesta<br />

vida, com o passar do tempo. Nos dias atuais, com<br />

a forte influência da globalização do conhecimento,<br />

os consumidores estão cada vez mais exigentes e a<br />

cadeia produtiva necessita acompanhar estas mudanças.<br />

Não é diferente para o setor acadêmico, onde<br />

as perguntas ficaram mais complexas e as respostas<br />

cada vez mais difíceis. Já está longe o tempo em que<br />

somente pesar e m<strong>ed</strong>ir os organismos aquáticos possibilitava<br />

encontrar as respostas que buscávamos. No<br />

artigo que assino neste número, apresento e discuto<br />

os cultivos multitróficos, exponho a dificuldade em<br />

fazer pesquisas no ambiente marinho, dada a expressividade<br />

das interações e sua complexidade. Por<br />

exemplo, como afirmar que os resíduos da ração que<br />

fornecemos aos peixes são absorvidas pelos moluscos<br />

bivalves ou que os nutrientes são absorvidos pelas<br />

macroalgas?<br />

No Laboratório de Piscicultura Marinha do Instituto<br />

de Pesca trabalhamos com diversas espécies de<br />

peixes marinhos ameaçados de extinção, tais como<br />

a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) e o<br />

mero (Epinephelus itajara). Nosso objetivo é que, um<br />

dia, estas espécies sejam produzidas em cativeiro, não<br />

sendo mais necessária sua captura na natureza. Temos<br />

muitos desafios pela frente, mas pensando no futuro,<br />

como identificar quais peixes são provenientes do cativeiro<br />

e quais são resultantes da pesca extrativa? Na<br />

tentativa de encontrar respostas para perguntas complexas<br />

em ambientes distintos de pequenos laboratórios,<br />

onde todas as variáveis podem ser controladas,<br />

me deparei com a possibilidade dos isótopos estáveis.<br />

Lembram das aulas de química? Para lhes explicar<br />

um pouco (e confesso que ainda estou estudando<br />

isto...) sugiro a leitura de um interessante artigo intitulado<br />

“Aplicação dos isótopos estáveis em aqüicultura”<br />

do finado Prof. Carlos Ducatti, uma das maiores autoridades<br />

nesta questão no Brasil. Isótopos são átomos<br />

do mesmo elemento químico com diferentes massas,<br />

pois apresentam igual número de prótons, mas diferem<br />

no número de nêutrons. Cada elemento químico<br />

apresenta um isótopo estável dominante, como por<br />

exemplo carbono-12 (12C) e nitrogênio-14 (14N).<br />

O mesmo elemento químico, entretanto, também<br />

pode ocorrer na natureza em versões mais pesadas,<br />

como exemplo, o carbono-<strong>13</strong> (<strong>13</strong>C) e nitrogênio-15<br />

(15N). Esses elementos apresentam propri<strong>ed</strong>ades<br />

químicas iguais, mas diferem nas propri<strong>ed</strong>ades físicas.<br />

O princípio da utilização de isótopos em pesquisas<br />

científicas reside na utilização da forma isotópica de<br />

um elemento químico para rastrear a origem e a história<br />

do metabólito de interesse. Isso é possível pois<br />

a composição dos tecidos reflete a dieta ingerida pelo<br />

indivíduo. Diferentes tecidos apresentam diferentes<br />

tempos de assimilação de nutrientes, portanto, apresentam<br />

uma assinatura isotópica única. Complicado?<br />

Concordo, mas vai ficar ainda mais interessante.<br />

Segundo o professor Ducatti, existe grande potencial<br />

de aplicabilidade de isótopos estáveis na aquicultura,<br />

principalmente como ferramenta do sistema<br />

de rastreabilidade. Seus trabalhos comprovaram que<br />

é possível diferenciar peixes provenientes do cultivo<br />

dos provenientes da pesca extrativa utilizando a técnica<br />

de isótopos estáveis de carbono (<strong>13</strong>C) e nitrogênio<br />

(15N). Concordam como isto é fantástico para nosso<br />

setor de aquicultura? No meio de tanto pescado misturado,<br />

poder comprovar a origem? Essa precisão é<br />

ainda mais relevante quando se trata de peixes ameaçados<br />

de extinção que podem vir a ser produzidos<br />

em cativeiro.<br />

No campo da nutrição, a técnica de isótopos estáveis<br />

pode contribuir muito para se ampliar a compreensão<br />

sobre o aproveitamento dos ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

em ambientes complexos como os tanques de cultivo.<br />

Segundo o professor Ducatti, as pesquisas que<br />

abordam aspectos sobre a alimentação e nutrição de<br />

larvas de peixes, além das informações científicas so-<br />

66


e a assimilação dos nutrientes das dietas ao longo<br />

do desenvolvimento larval, deveriam utilizar mais frequentemente<br />

os isótopos estáveis, seguindo as premissas<br />

metodológicas necessárias, visando uma exata<br />

compreensão dos mecanismos envolvidos. Não se<br />

trata mais de pesquisar causa e efeito e sim entender<br />

os mecanismos envolvidos nas causas.<br />

Finalizo esta coluna prestando uma justa homenagem<br />

a este colega pesquisador que trouxe para nossa<br />

atividade a perspectiva de utilização de técnicas complexas.<br />

Ainda temos muito a avançar nestas linhas de<br />

pesquisa, mas seguramente o caminho não tem volta.<br />

Precisamos elevar o conhecimento das variáveis complexas<br />

na aquicultura e a técnica de isótopos estáveis<br />

é mais uma das ferramentas que devemos utilizar<br />

para atingir nossos objetivos. Precisamos aprender<br />

a pensar fora do convencional. Em um mercado tão<br />

competitivo, a precisão é um diferencial. Além disto,<br />

o avanço dos policultivos e dos cultivos multitróficos<br />

irão exigir abordagens mais aprofundadas. Portanto,<br />

hora de lembrar da multidisciplinaridade da aquicultura,<br />

buscar parcerias e contribuir no desenvolvimento<br />

desta cadeia produtiva que tantos desafios nos proporciona<br />

no dia a dia.<br />

Até a próxima coluna.<br />

Figura 1. a) Garoupa-verdadeira Epinephelus marginatus; b) Mero Epinephelus itajara; c) Pesquisa se faz com bons parceiros.<br />

A. B.<br />

C.<br />

JUL/AGO 2018<br />

67


Santiago Benites de Pádua<br />

Biovet Vaxxinova<br />

Vargem Grande Paulista, SP<br />

santiago.padua@biovet.com.br<br />

JUL/AGO 2018<br />

Mixosporidíase gonadal em matrizes<br />

de tilápia<br />

As doenças reprodutivas são pouco conhecidas .na<br />

aquicultura mundial. Diferentes agentes infecciosos<br />

e parasitários possuem a capacidade de ocasionar<br />

diminuição ou perda da atividade reprodutiva, impactando<br />

a produção de ovos e larvas, além de aumentar os custos<br />

de produção das formas jovens para as demais etapas<br />

do ciclo de criação. Duas principais doenças possuem a<br />

capacidade de comprometer a reprodução em tilápias,<br />

sendo a mixosporidíase gonadal e a franciselose gonadal.<br />

A mixosporidíase é uma doença parasitária causada<br />

por diferentes gêneros de parasitos microscópicos pertencentes<br />

à classe Myxosporea. Em tilápia do Nilo, temos<br />

a ocorrência de parasitos mixosporídeos pertencentes ao<br />

gênero Myxobolus que infectam principalmente o interstício<br />

gonadal de fêmeas de tilápia, sendo descrito a espécie<br />

Myxobolus dahomeyensis como agente gonadal no<br />

continente africano, mas ainda carecemos de descrições<br />

específicas do gênero que ocorre em tilápias no Brasil.<br />

Estes parasitos são agentes microscópicos, que possuem<br />

um ciclo de vida complexo o qual a tilápia é o hosp<strong>ed</strong>eiro<br />

interm<strong>ed</strong>iário, havendo a necessidade de oligoquetas<br />

como hosp<strong>ed</strong>eiros definitivos, embora o ciclo de<br />

vida e estratégia de transmissão da mixosporidíase gonadal<br />

ainda necessite de maiores estudos para elucidação.<br />

As matrizes infectadas por Myxobolus sp. em seus<br />

ovários desenvolvem um quadro inflamatório crônico, na<br />

qual a intensidade e distribuição da inflamação<br />

é dependente da quantidade de<br />

parasitos observados no interstício ovariano.<br />

Em casos severos de infecção, notamos<br />

que a fêmea pode alcançar a perda<br />

da função reprodutiva, sendo caracterizado<br />

um quadro de castração parasitária.<br />

O percentual de matrizes com comprometimento<br />

da atividade reprodutiva em<br />

um plantel pode ser variável, além de ser<br />

de difícil detecção nas fazendas berçário,<br />

podendo ocorrer em pequena parcela<br />

da população ou em até 45% do plantel.<br />

Por outro lado, a mixosporidíase gonadal<br />

parece não se tratar de um problema reprodutivo<br />

de importância para os reprodutores, uma vez<br />

que não temos diagnosticado na rotina machos que apresentem<br />

Myxobolus associado ao interstício testicular.<br />

O monitoramento e diagnóstico desta doença devem<br />

ser conduzidos de forma constante no plantel de matrizes,<br />

principalmente quando notado r<strong>ed</strong>ução da atividade<br />

reprodutiva. Para tanto, a melhor opção para rastrear as<br />

fêmeas que estão reproduzindo é pela separação manual<br />

daquelas que apresentarem ovos incubados na boca no<br />

intervalo de 6 coletas de ovos (6 semanas, considerando<br />

uma coleta por semana). Considerando que ciclo reprodutivo<br />

da tilápia é em torno de 21 a 30 dias (dependendo<br />

do clima), no intervalo de 6 semanas as matrizes<br />

que estiverem em boas condições reprodutivas deverão<br />

apresentar ao menos uma desova. O plantel de fêmeas<br />

remanescentes neste período, que não apresentarem<br />

desovas, deverão ser submetidas à necropsia e avaliação<br />

da integridade ovariana. Geralmente as fêmeas com infecção<br />

avançada por Myxobolus apresentam ovários enegrecidos,<br />

com sinais evidentes de inflamação (Figura 1).<br />

Para confirmação do diagnóstico se faz necessário uma<br />

avaliação microscópica a fresco do tecido ovariano, ou<br />

então uma avaliação histopatológica. Uma vez confirmada<br />

a infecção por Myxobolus, a melhor alternativa é realizar o<br />

descarte das fêmeas inférteis do plantel, uma vez que não<br />

temos opções de tratamento efetivos.<br />

Figura 1. Avaliação macroscópica de ovários de tilápia do Nilo. Os ovários destacados<br />

no canto superior à esquerda são gônadas com aspecto normal, enquanto as demais<br />

apresentam melanose (escurecimento) e inflamação decorrente da infecção por Myxobolus<br />

sp. No canto superior direito está indicado (setas) a presença de Myxobolus no interstício<br />

ovariano em corte histológico.<br />

68


Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Estação Marinha de Aquacultura - EMA<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande - FURG<br />

Rio Grande, RS<br />

vr.ricardo@gmail.com<br />

Avanços na produção da tainha<br />

tainha é uma espécie que na minha opinião tem<br />

A seu potencial neglicenciado. É um peixe detritívoro<br />

(baixo nível trófico), o que significa que pode<br />

ser alimentado com uma ração de baixo custo e ainda<br />

utilizar alimentos naturais dentro dos viveiros. Outra<br />

característica importante é que tolera água doce, podendo<br />

assim ser cultivada em uma ampla faixa de salinidade.<br />

Atualmente o Brasil tem muitos viveiros ociosos<br />

devido às diferentes enfermidades que vem afetando a<br />

carcinicultura marinha, sendo essa uma boa possibilidade<br />

para produção de peixes marinho-estuarinos, como<br />

é o caso da tainha.<br />

Estudos sobre o potencial de produção da tainha<br />

no Brasil foram realizados principalmente na década de<br />

80 e descontinuados por muitos anos, principalmente<br />

as pesquisas com reprodução e larvicultura. A partir<br />

dos anos 2000 foram reiniciados estudos com a espécie,<br />

principalmente na FURG, mas sempre a partir da<br />

obtenção de juvenis capturados no ambiente natural.<br />

Foram realizados estudos especialmente sobre a nutrição<br />

da tainha e avaliação do seu crescimento em cercados<br />

dentro de viveiros de engorda de camarão.<br />

No ano de 2014 a UFSC voltou a formar um plantel<br />

de reprodutores a partir de peixes selvagens e vem<br />

realizando estudos de reprodução e larvicultura dessa<br />

espécie desde então. Atualmente o Laboratório de Piscicultura<br />

Marinha da UFSC (LAPMAR) possui em seu<br />

plantel 4 fêmeas e 5 machos selvagens e 70 peixes F1<br />

selecionados para reprodutores nascidos em 2015 e<br />

2016. Até o momento foram obtidas desovas com fecundação<br />

natural e artificial, a partir de peixes induzidos<br />

com a produção entre 90.000 e 120.000 peixes por<br />

desova e sobrevivência variando entre 15 e 35% das<br />

larvas com 40 dias após a eclosão. A partir dessas desovas,<br />

a UFSC distribuiu juvenis para várias fazendas<br />

de engorda em diferentes estados brasileiros, a fim de<br />

avaliar o potencial de crescimento dessa espécie em<br />

viveiros. Também foram enviados juvenis para instituições<br />

de pesquisas parceiras para alavancar os estudos<br />

com a espécie.<br />

Em 2016 foi aprovado um projeto do CNPq (Edital<br />

Universal) em parceria UFSC/FURG para continuidade<br />

desses estudos. Além deste projeto, as metas atuais são<br />

enviar juvenis para várias fazendas de engorda para continuar<br />

avaliando o crescimento da espécie em viveiros<br />

de produção. Na parte científica a UFSC está pesquisando<br />

o cultivo da tainha em bioflocos e pretende avaliar<br />

métodos para formação de lotes monosexo fêmea,<br />

pois as gônadas das tainhas tem um grande valor comercial,<br />

podendo assim agregar valor ao produto final<br />

e viabilizar a produção em escala dessa espécie. Futuros<br />

estudos para sua produção em sistema multitrófico<br />

integrado também serão realizados, assim como a continuidade<br />

dos estudos com nutrição dessa espécie.<br />

Gostaria de agradecer ao professor Vinicius Cerqueira<br />

(LAPMAR) e sua equipe pelas informações sobre<br />

a reprodução e larvicultura da tainha e pelas imagens<br />

em anexo nessa coluna. Talvez teremos tainhas<br />

sendo engordadas em viveiros no Brasil, em um futuro<br />

próximo?<br />

Figura 1. A) Exemplar de um reprodutor de Tainha; B) Larva de tainha com 18 dias após eclosão. © Caio Magnotti<br />

A.<br />

JUL/AGO 2018<br />

B.<br />

69


JUL/AGO 2018<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral Rural do Semi Árido - UFERSA<br />

Mossoró - RN<br />

alaugo@gmail.com<br />

Peixes fermentados, anchovados<br />

ou aliche?<br />

Uma dúvida persiste quando estamos falando<br />

sobre o processo de fermentação de peixes.<br />

O termo correto é peixe fermentado, anchovado ou<br />

aliche?<br />

Os peixes da espécie Engraulis encrasicolus, cujos<br />

nomes comuns são “anchois” na França, “anchoa” na<br />

Espanha, “semiconserva de anchovas” ou “biqueirão”<br />

em Portugal, “anchovis” na Alemanha, “alici” (pronunciase<br />

“alitche”) ou “ancioia” na Itália, e denominado<br />

“European anchovy”, ou seja, anchova europeia<br />

pela FAO, são os mais utilizados para a fabricação de<br />

peixes fermentados. Em alguns países de língua latina<br />

os termos peixe anchovado e anchovagem são muitas<br />

vezes utilizados como sinônimos de peixe fermentado e<br />

fermentação, respectivamente, porém, qualquer termo<br />

utilizado está correto. O termo “peixe fermentado”é<br />

mais técnico, usualmente utilizado por pesquisadores<br />

e na indústria, enquanto que o termo “anchovado” é<br />

mais comum para o consumidor, usualmente utilizado<br />

comercialmente, e o termo “aliche” mais utilizado na<br />

gastronomia.<br />

Na Itália o líquido obtido da preparação do “alici”<br />

é denominado “colatura di alici” e usado como condimento.<br />

Na França as anchovas fermentadas são comercializadas<br />

em latas como filés inteiros ou em p<strong>ed</strong>aços<br />

ou em bisnagas de alumínio, em forma de pasta e são<br />

denominadas de “Paté d’anchois”, “Beurre d’anchois”<br />

ou “Crème d’anchois” dependendo da porcentagem<br />

de anchovas e outros ingr<strong>ed</strong>ientes. Os anchovados autênticos<br />

somente podem ser elaborados com peixes da<br />

família Engraulidae (Engraulis encrasicolus, E. ringens, E.<br />

anchoita, E. mordax, E. japonica).<br />

Produtos elaborados com outras espécies geralmente<br />

são denominados com o nome comum da<br />

espécie + o termo anchovada(o) ou produto “tipo<br />

anchova”. Em Portugal também se “anchovam” peixes<br />

como a cavala (Scomber japonicus), peixe agulha (Belone<br />

belone), sardinha (Sardinella aurita), que tomam a denominação<br />

de cavala anchovada, peixe agulha anchovado,<br />

sardinha anchovada, respectivamente.<br />

No Brasil é utilizada a sardinha (Sardinella brasiliensis)<br />

que possui características de composição que<br />

permitem o desenvolvimento do aroma, sabor, cor e<br />

textura próprios dos anchovados. A produção ocorre<br />

em escala industrial pequena, e o tempo de produção<br />

é longo, devido à fermentação e a cura necessárias para<br />

o produto atingir as características sensoriais desejáveis.<br />

Estes produtos são comercializados com a denominação<br />

de “Sardinha anchovada” ou “Filés de sardinha anchovadas”<br />

ou “Filé de peixe anchovado”.<br />

No Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal<br />

(PPGCA/UFERSA), o mestrando Roosevelt de<br />

Araújo Sales Junior (LAPESC, UFERSA) está estudando<br />

a viabilidade de se produzir o “aliche” a partir da carne<br />

do peixe-voador (Hirundichthys affinis). Nos testes preliminares,<br />

os resultados já estão demonstrando resultados<br />

promissores.<br />

Mas o que são os produtos fermentados de<br />

peixes?<br />

Existem centenas de produtos fermentados de<br />

pescado, processados a partir de diversas espécies e<br />

com diferentes tecnologias, de acordo com a região de<br />

origem. Estes produtos variam em suas características<br />

sensoriais (aparência, textura, sabor, odor), condições<br />

higiênicas do processamento, matérias primas utilizadas,<br />

custo de produção e finalidade de uso, sendo que<br />

o produto obtido, de sabor peculiar é o principal objetivo<br />

da fermentação e, a preservação, fica em segundo<br />

plano. A adição de carboidratos tais como sacarose,<br />

açúcar mascavo, arroz tostado ou cozido, ou diversos<br />

condimentos, permite obter produtos tradicionais fermentados<br />

de pescado com diferentes sabores e aromas.<br />

Dessa forma, os produtos fermentados de pescado<br />

são preparados efetuando-se a salga da matéria prima<br />

e fermentando-se o produto salgado. Entende-se por<br />

fermentação a transformação de substâncias orgânicas<br />

em compostos mais simples seja pela ação de enzimas<br />

ou de microrganismos localizados no próprio tecido da<br />

70


matéria prima. A salga r<strong>ed</strong>uz a umidade e consequentemente,<br />

a atividade de água, auxiliando<br />

na seleção da flora bacteriana desejada, geralmente<br />

eliminando microrganismos deterioradores<br />

mais comuns no pescado, prevenindo a<br />

deterioração. Durante o processo de fermentação<br />

do pescado, enzimas endógenas hidrolisam<br />

as proteínas musculares, somado aos microrganismos<br />

de vários tipos (bactérias, lev<strong>ed</strong>uras e<br />

fungos) promovem alteração de textura, aparência,<br />

aroma e sabor do produto.<br />

Existem diferentes formas de se agrupar os<br />

produtos fermentados de pescado de acordo<br />

com características comuns. Uma das mais utilizadas<br />

se baseia na aparência/textura do produto,<br />

e assim divide os produtos de pescado<br />

fermentado em três categorias: 1) produtos<br />

onde a forma natural do pescado é preservada;<br />

2) produtos onde o pescado é macerado até se<br />

obter uma pasta; e 3) produtos onde o pescado<br />

é completamente hidrolisado até a forma líquida,<br />

geralmente recebendo o nome de molho<br />

de pescado.<br />

Princípios da conservação<br />

A elaboração de produtos fermentados de<br />

pescado consiste basicamente em um processo<br />

de conservação baseado em duas etapas: 1)<br />

salga, realizada com concentrações variáveis de<br />

sal, e, 2) maturação, quando o produto passa<br />

por uma hidrólise proteica controlada provocada<br />

por enzimas endógenas e/ou produzidas<br />

por microrganismos halotolerantes. Ocorre<br />

uma diminuição da umidade, as proteínas são<br />

transformadas em compostos mais estáveis, os<br />

lipídios são parcialmente oxidados e compostos<br />

aromáticos são formados, sendo obtidos<br />

produtos com sabor diferenciado. O produto<br />

quando maturado deve ser macio, mas consistente,<br />

e a coluna vertebral removível facilmente<br />

da carne.<br />

Os peixes fermentados produzidos no Brasil<br />

podem ser considerados semiconservas, ou<br />

seja, produtos que se caracterizam por apresentarem<br />

teores de sal superiores a 6% de NaCl<br />

(p/p) na fase aquosa ou pH inferior a 5,0; presença<br />

eventual de agentes conservantes (sorbato,<br />

benzoato, nitrato); e por não serem submetidos<br />

a tratamento térmico durante o processamento<br />

ou durante o preparo que prec<strong>ed</strong>e o consumo.<br />

No Brasil, não existe legislação para produtos<br />

fermentados de pescado, que regulamente<br />

seu processamento tecnológico e características<br />

de identidade e qualidade. No novo Regulamento<br />

de Inspeção Industrial e Sanitária de Origem<br />

Animal – RIISPOA 2017, foi introduzido o<br />

Artigo 342 que define “pescado em semiconserva”<br />

- é aquele obtido pelo tratamento específico<br />

do pescado por meio do sal, com adição ou não<br />

de ingr<strong>ed</strong>ientes, envasado em recipientes hermeticamente<br />

fechados, não esterilizados pelo calor,<br />

conservado ou não sob refrigeração.<br />

Embora a tecnologia envolvida no processamento<br />

seja simples, uma série de fatores pode<br />

influenciar o processo, tais como: a microflora<br />

presente no pescado, sal e outros ingr<strong>ed</strong>ientes;<br />

qualidade e concentração de sal; a atividade<br />

proteolítica das enzimas características da espécie<br />

de pescado; condições da matéria prima,<br />

incluindo frescor, condição nutricional; temperatura<br />

durante a fermentação; pH atingido na<br />

fermentação; presença de enzimas das vísceras<br />

ou de outras fontes; presença e concentração<br />

de carboidratos e outros aditivos; duração do<br />

processo de fermentação.<br />

Características do produto final<br />

Sob o ponto de vista nutricional, os produtos<br />

fermentados de pescado apresentam-se como<br />

excelentes fontes de proteínas e aminoácidos<br />

essenciais. Em geral, produto tradicional de<br />

peixe fermentado contém entre 44 a 47% de<br />

umidade, 20 a 22% de proteínas, 7 a 15% de<br />

lipídios e 15 a 17% de sal. O teor de umidade<br />

varia muito pouco entre os produtos fermentados<br />

de pescado na forma de pasta (< 3%),<br />

independentemente da espécie utilizada e do<br />

processamento inicial da carne (lavada ou sem<br />

lavar). Com relação aos outros macro componentes,<br />

proteínas, lipídios e cinzas, também<br />

ocorrem pequenas variações.<br />

Portanto, apesar da tecnologia ser simples<br />

e viável tecnologicamente, o produto fermentado,<br />

anchovado ou o aliche ainda tem pouca<br />

inserção no mercado nacional, exceto no eixo<br />

Rio-São Paulo, onde o produto é muito consumido<br />

como ingr<strong>ed</strong>iente de petiscos, canapés e<br />

pizzas. Essa delicatessen merece mais destaque<br />

no mercado para que o consumidor possa introduzi-lo<br />

no seu dia a dia.<br />

71<br />

JUL/AGO 2018


Defendeu!<br />

Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas<br />

informações para nossa aquicultura.<br />

Nome do acadêmico: Luan Freitas Rocha<br />

Orientador: Prof. Dr. Breno Gustavo Bezerra Costa<br />

Instituição: Universidade F<strong>ed</strong>eral Rural da Amazônia - UFRA,<br />

curso de Engenharia de Pesca<br />

Título do trabalho de conclusão de curso:<br />

Desenvolvimento zootécnico de juvenis de Tambaqui<br />

(Colossoma macropomum, Cuvier 1816) cultivados em<br />

sistema de recirculação de água.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Introdução: a aquicultura no Brasil é essencialmente<br />

representada pela piscicultura, com destaque para<br />

o tambaqui (Colossoma macropomum), em virtude às<br />

suas características zootécnicas positivas, rusticidade<br />

e resistência as altas densidades. Para determinar<br />

a densidade adequada em um cultivo, deve-se levar<br />

em consideração o sistema de criação a se utilizar.<br />

Sistemas de recirculação de água são relevantes,<br />

pois permitem utilizar altas densidades de estocagem.<br />

Objetivo: o estudo objetivou avaliar o crescimento<br />

do tambaqui para diferentes densidades de estocagem<br />

em sistema de recirculação de água.<br />

Materiais e métodos: foram utilizados 1.800 juvenis<br />

de tambaqui com peso médio inicial de 0,77 ±<br />

0,01g, distribuídos nas densidades de 100, 200 e 300<br />

peixes/m³ em três repetições. Os peixes foram alimentados<br />

em quatro refeições diárias com ração comercial<br />

com 55 e 36% de proteína bruta, durante 68 dias.<br />

A temperatura da água foi m<strong>ed</strong>ida diariamente e o oxigênio<br />

dissolvido, pH, condutividade, turbidez e sólidos<br />

dissolvidos a cada sete dias. À partir da sexta semana<br />

de cultivo, amostras de água foram coletadas semanalmente<br />

dos tanques de cultivo, filtro e piscina de oxigenação<br />

para análise de amônia e nitrito. Ao final do experimento,<br />

foram analisados os seguintes parâmetros<br />

zootécnicos: ganho de peso; incremento de biomassa;<br />

consumo médio individual de ração; taxa de crescimento<br />

específico; sobrevivência e conversão alimentar.<br />

Para testar a diferença significativa entre as densidades,<br />

aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis para os dados não<br />

normais e ANOVA para os normais. Foi feita regressão<br />

linear para os parâmetros zootécnicos objetivando<br />

o valor determinístico (r²) em função da densidade.<br />

Resultados e Discussão: os resultados mostraram<br />

que os parâmetros de qualidade da água:<br />

condutividade, sólidos dissolvidos, amônia e nitrito<br />

apresentaram faixas acima do ideal para o tambaqui.<br />

Já a temperatura, turbidez e pH estavam dentro do<br />

ideal para a espécie. O oxigênio dissolvido decresceu<br />

durante o cultivo, apresentando valores abaixo<br />

do ideal, principalmente na densidade de 300 peixes/<br />

m³. O ganho de peso dos organismos foi de <strong>13</strong>,43;<br />

9,80; e 7,29 g e incremento de biomassa de 1,34;<br />

1,90 e 2,10 kg/m³ respectivamente para as densidades<br />

estudadas. As taxas de sobrevivência foram<br />

superiores a 96%, com valores mais elevados para<br />

a menor densidade (100%). Parâmetros como conversão<br />

alimentar e biomassa média de ração ofertada<br />

não diferiram significativamente entre as densidades<br />

Figura 1. Sistema de recirculação utilizado.<br />

72


(p>0,05). Valores de ganho<br />

de peso e crescimento específico<br />

foram significativamente<br />

maiores (p0,90) em função da densidade.<br />

Já os dados de incremento<br />

de biomassa foram significativamente<br />

maiores (p0,90) entre as densidades.<br />

Portanto, o presente estudo<br />

demonstrou que o sistema de<br />

filtragem utilizado foi incapaz<br />

de manter a qualidade da água,<br />

afetando o desenvolvimento<br />

dos organismos. De modo geral<br />

a melhor densidade de estocagem<br />

foi a de 200 peixes/m³,<br />

em virtude da maior produtividade<br />

(kg/m³), menor conversão<br />

alimentar e satisfatório índice<br />

de sobrevivência (97,5%).<br />

Conclusão: futuramente com<br />

a adequação do sistema de filtragem,<br />

e comprovada melhora<br />

do desempenho dos animais,<br />

aliado com os bons resultados<br />

de conversão alimentar e sobrevivência<br />

obtidos nesse trabalho,<br />

esse sistema pode ser uma alternativa<br />

para recria de tambaqui<br />

até que atinjam peso adequado<br />

para serem estocados em outros<br />

sistemas de cultivo, como<br />

tanque-r<strong>ed</strong>es e/ou viveiros.<br />

Tabela 1. Valores (média ± erro-padrão) dos parâmetros físico-químicos da água,<br />

avaliados nas diferentes densidades.<br />

Nota: médias seguidas por letras minúsculas diferentes nas linhas, diferem estatisticamente entre<br />

si (Kruskal-Wallis; α=0,05).<br />

Tabela 2. Valores (média ± erro-padrão) dos compostos nitrogenados nos diferentes<br />

componentes do sistema.<br />

Tabela 3. Valores (média ± erro-padrão) dos indicadores de desempenho zootécnico,<br />

avaliados nas diferentes densidades de estocagem.<br />

Nota: médias seguidas por letras minúsculas diferentes nas linhas, diferem estatisticamente entre<br />

si (p


JUL/AGO 2018<br />

74


João<br />

Manoel<br />

C. Alves<br />

Zootecnista (1982), mestre em aquicultura e<br />

há 16 anos (2002 até o momento) trabalha na<br />

Guabi Nutrição e Saúde Animal, atualmente<br />

como Gerente de Produtos para aquicultura.<br />

Sua afinidade com o mundo aqua<br />

começou ainda quando criança,<br />

pois tinha como hobby mexer com<br />

aquários. Atualmente João é um<br />

dos grandes nomes da aquicultura,<br />

já esteve em mais de 30 países,<br />

sendo que 95% de suas viagens<br />

foram a negócios ou eventos do<br />

setor aquícola. Com a mente aberta,<br />

João comenta nesta entrevista<br />

sobre ingr<strong>ed</strong>ientes alternativos nas<br />

rações, capacidade de suporte em<br />

reservatórios e qualidade das rações,<br />

entre outros assuntos.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Você é zootecnista de formação<br />

há 28 anos, ou seja, formou-se em um tempo que a aquicultura<br />

era uma atividade ainda pouquíssimo conhecida no<br />

Brasil. Como foi essa sua aproximação com a aquicultura?<br />

João Manoel: A nutrição era o que eu gostava, mas não<br />

conhecia zootecnia, era um curso ainda muito raro. Assim,<br />

ingressei em agronomia. Já cursando, descobri que<br />

tinha um cara no Brasil que havia ido fazer um curso no<br />

Japão pela FAO e lecionava em Jaboticabal, um dos únicos<br />

lugares que oferecia a disciplina de piscicultura. A pessoa<br />

em questão era o Prof. Newton Castagnolli. De im<strong>ed</strong>iato<br />

larguei a agronomia e fui fazer zootecnia em Jaboticabal.<br />

Quando estava para me formar,<br />

pensei “Vou trabalhar com peixe<br />

aonde?”. Como gostava de nutrição,<br />

fiquei trabalhando com dois<br />

professores, o P<strong>ed</strong>ro e o Cacau<br />

de Andrade. Com eles aprendi<br />

a formular rações, entender exigência<br />

nutricional, ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

etc. Quando me formei fui para<br />

o Mato Grosso do Sul montar<br />

uma fazenda de peixe. Talvez<br />

fosse um dos primeiros pesque-<br />

-pagues no Brasil, porque foi no<br />

início de 1983. A nossa ideia era<br />

montar uma estação de reprodução,<br />

produção de alevinos e<br />

engorda. Tinha uma represa de<br />

38 alqueires que íamos fazer uns<br />

chalés para as pessoas pescarem.<br />

Já havia as cotas de pesca, do MS só era permitido<br />

trazer 30kg de peixe e mais um exemplar. Mas<br />

Quando me formei<br />

fui para o Mato Grosso do<br />

Sul montar uma fazenda de<br />

produção de peixes. Talvez<br />

fosse um dos primeiros<br />

pesque-pagues no Brasil, pois<br />

foi no início de 1983.<br />

com o pesque-pague as pessoas poderiam pescar ali<br />

as mesmas espécies do Pantanal, e para quem desejasse<br />

voltar com mais do que 30 kg de peixes, passaria<br />

ali para comprar. Cheguei a ir para Brasília apresentar<br />

o projeto ao presidente do banco que ia conc<strong>ed</strong>er<br />

o financiamento. Mas acabou não saindo do papel.<br />

Depois acabei atuando com zootecnia de modo geral,<br />

formulando rações para ruminantes, aves, registrando<br />

produtos, entre outras funções. Ao final da década de<br />

80 começaram a surgir os pesque-pagues e senti que<br />

era hora de me preparar e me d<strong>ed</strong>icar para esse mercado<br />

que estava começando. Assim, comecei o mestrado<br />

no ano de 95/96, ou seja, alguns anos depois de<br />

formado. O que eu acho que<br />

foi uma boa, porque o pessoal<br />

sai da graduação hoje e vai direto<br />

para a pós-graduação, isso<br />

é uma exigência que a maioria<br />

das empresas tem e acr<strong>ed</strong>ito<br />

que seja em virtude de a formação<br />

hoje ser mais deficiente do<br />

que quando eu me formei, por<br />

exemplo. Após o mestrado comecei<br />

a pegar trabalhos somente<br />

de aquicultura e a Fri-Ribe, que<br />

hoje é Trouw Nutrition, estava<br />

procurando uma pessoa pra<br />

contratar e eu acabei ocupando a<br />

vaga, em 1999. Em 2002 fui para<br />

a Guabi onde estou até hoje.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Quais os<br />

principais avanços em nutrição do setor aquícola que<br />

você acompanhou?<br />

JUL/AGO 2018<br />

75


João Manoel junto aos organizadores do I Workshop Online sobre Bioflocos.<br />

JUL/AGO 2018<br />

João Manoel: Muita coisa! Por exemplo, na graduação<br />

quando trabalhava no setor de piscicultura, nós misturávamos<br />

em um tambor grande abóbora, milho, madioca,<br />

etc, colocávamos água, depois algumas lenhas<br />

em baixo para fazer o fogo e deixávamos cozinhando.<br />

No outro dia usávamos aquela mistura para alimentar<br />

os peixes. Chegamos a usar muita ração de frango pra<br />

dar aos peixes e também já peletizei muita ração com<br />

máquina de moer carne. Ou seja, mudou demais, desde<br />

os ingr<strong>ed</strong>ientes que hoje nós conhecemos muito<br />

melhor e a indústria farmacêutica que também acompanhou<br />

essa evolução. Temos vitaminas que podem<br />

passar dentro de extrusoras com temperatura e pressão<br />

muito altas, e que se recupera 99% da vitamina.<br />

Além disso, sabemos também muita coisa sobre a exigência<br />

nutricional. A Guabi por exemplo, formula ração<br />

com proteína ideal, balanceando cada aminoácido.<br />

É uma precisão muito grande comparada há 30 anos<br />

atrás. Mas ainda é uma imprecisão muito grande comparada<br />

à indústria de suínos e aves. Atualmente se sabe<br />

por exemplo a exigência nutricional diária de uma das<br />

principais linhagens de frango. Mesmo de tilápia que é<br />

o nosso peixe mais produzido não estamos no mesmo<br />

nível destas indústrias. E acho muito difícil que consigamos<br />

chegar nessa precisão, porque para peixe são<br />

muitas incógnitas com muitas variáveis, desde espécie,<br />

temperatura etc., e não consigo visualizar as respostas.<br />

Por isso acr<strong>ed</strong>ito tanto nas fazendas com tudo controlado,<br />

as variáveis diminuem e a precisão aumenta.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Quais as suas considerações<br />

sobre ingr<strong>ed</strong>ientes alternativos nas rações, como o<br />

uso de farinha de insetos?<br />

João Manoel: Acho muito legal, acr<strong>ed</strong>ito que não podemos<br />

descartar nenhuma fonte possível e todas elas<br />

são passíveis de serem utilizadas. Sobre a farinha de<br />

inseto, ela ainda é muito cara e não tem uma produção<br />

muito grande. Nós da Guabi temos a intenção<br />

de produzir um pouco de farinha de insetos para usar<br />

nas rações iniciais, porque elas têm gorduras muito<br />

boas e interessante perfil de aminoácidos. Porém<br />

do ponto de vista “custo” ainda é inviável. Pensando<br />

na Guabi, que vai produzir perto de 90 mil toneladas<br />

de ração de aquicultura esse ano, se a empresa<br />

for usar 1% desse ingr<strong>ed</strong>iente, vou precisar de 900<br />

toneladas de farinha de inseto e sabemos que não<br />

vamos ter isso, é uma quantidade muito grande. Estamos<br />

pensando em usar em alguns produtos mais<br />

específicos, como rações iniciais ou uma ração para<br />

um peixe carnívoro ou alguma outra ainda mais específica<br />

que exija mais esse perfil nutricional. Tudo<br />

é passível de ser usado e pode ser aproveitado, só<br />

é preciso pensar em volume de produção e muitos<br />

estudos antes de começar a usar em grande escala.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Existem novidades nas rações<br />

para espécies nativas no Brasil?<br />

João Manoel: Nós temos prontas rações específicas<br />

para peixes r<strong>ed</strong>ondos, mas estão engavetadas. São<br />

rações formuladas com proteína ideal (perfil de aminoácidos<br />

na mesma proporção dos aminoácidos no<br />

corpo do peixe) que minimizam a excreção, são mais<br />

fáceis de serem metabolizadas, melhoram qualidade<br />

de filé e não deixam excesso de gordura na carcaça<br />

e vísceras. Com isso há mais crescimento, melhor<br />

qualidade de água e é possível colocar mais peixes no<br />

mesmo ambiente. No entanto estes peixes são produzidos<br />

em sistemas bastante extensivos e com pouca<br />

avaliação de custos. Temos também uma ração para<br />

carnívoros de água doce que dá resultados excelentes<br />

(também com proteína ideal), especialmente em<br />

crescimento e r<strong>ed</strong>ução de gordura na carcaça, que<br />

já está sendo comercializada. Mas os produtores do<br />

Brasil e em boa parte do mundo não fazem muitas<br />

76


contas e acabam atraídos por produtos mais baratos.<br />

Estamos lançando um programa que demos o nome<br />

de Projeto Aqua do Futuro. Com ele esperamos ajudar<br />

os clientes a ficarem mais exigentes, que queiram,<br />

possam e saibam tirar o maior proveito dos investimentos<br />

e trabalho duro que é tocar uma fazenda aquática.<br />

A aplicação destas ferramentas permite escolher<br />

o melhor programa nutricional, a melhor alocação de<br />

recursos, prever despesas, receitas, etc. É uma grande<br />

oportunidade de buscar o máximo desempenho.<br />

AQUACULTURE BRASIL: O que mudou na Guabi com a<br />

compra de 51% da empresa pela Alltech?<br />

João Manoel: Na essência nada, mas melhorou o que já<br />

era bom. As duas empresas têm o mesmo DNA, fundadas<br />

por dois empresários (Dr. Thor Haaland fundou<br />

a Guabi em 1974 e Dr. Pearse Lyons fundou a Alltech<br />

em 1980) que se mantiveram à frente delas enquanto<br />

viveram, eram amigos e pensavam parecido. A Guabi<br />

é cliente das tecnologias Alltech há muito tempo, sendo<br />

uma das maiores clientes na América do Sul. Com<br />

a chegada da Alltech fizemos investimentos nas fábricas<br />

e, como a Alltech está em mais de 120 países, nos<br />

ajudará nas exportações. As duas seguem separadas,<br />

mas as decisões são tomadas pelo Conselho, constituído<br />

por pessoas das duas empresas. Não foi preciso<br />

fazer mudanças na essência da Guabi, as duas empresas<br />

sempre trabalharam buscando inovações, produtos<br />

de qualidade, proximidade com os clientes e com os<br />

mercados, apoio ao desenvolvimento através de parcerias<br />

com Centros de Pesquisa e seus pesquisadores.<br />

AQUACULTURE BRASIL: A discussão da capacidade de<br />

suporte nos reservatórios passa pela questão da qualidade<br />

da ração utilizada pelos produtores. Qual sua<br />

visão com relação a esta problemática?<br />

João Manoel: Está aí um problema que precisa ser encaminhado<br />

rapidamente. Conhecemos pouco sobre a<br />

capacidade de suporte dos nossos reservatórios, que<br />

têm um potencial enorme para desenvolver a aquicultura.<br />

Cada um é um organismo diferente, isso mesmo,<br />

um organismo vivo. E a legislação trata todos igualmente.<br />

Quando falamos em aquicultura a primeira coisa<br />

que vem à cabeça da maioria das pessoas é o aporte<br />

de nutrientes pela ração. Mas nos esquecemos dos<br />

fertilizantes, das excreções de animais em pastejo, das<br />

enxurradas que carreiam de tudo e principalmente dos<br />

esgotos urbanos e industriais. Essa pergunta pode ser<br />

assunto para uma <strong>ed</strong>ição inteira da Aquaculture Brasil.<br />

Excreções de animais quando no solo são fertilizantes,<br />

mas na água são considerados poluentes terríveis. Do<br />

solo vão para o lençol freático ou vão em enxurradas<br />

para rios, lagos, represas, reservatórios, etc. Na verdade,<br />

a presença do homem provoca impactos sempre<br />

e precisamos minimizar o máximo possível e as rações<br />

podem contribuir com isso, mas caímos nos custos<br />

outra vez. Uma ração que produza excreções com<br />

menos fósforo e nitrogênio, os principais impactantes<br />

nas águas de cultivo, custa mais que uma ração mais<br />

rica nestes nutrientes, o que pode parecer estranho.<br />

Com mais proteína (principalmente) pode ser mais<br />

barato. Proteína de baixa digestibilidade não é usada<br />

como fonte de aminoácidos e é excretada como<br />

N e P, além de outras substâncias. Colocar nutrientes<br />

mais digestíveis é a solução, além disso, grandes<br />

avanços têm sido feitos com a adição de enzimas às<br />

rações para peixes e camarões. Acr<strong>ed</strong>ito que rapidamente<br />

os próprios produtores vão se preocupar com<br />

isso, rações mais digestíveis podem ser mais caras, mas<br />

muito provavelmente o custo de produção por quilo<br />

de peixe ou camarão seja mais baixo, a quantidade<br />

de peixes e camarões produzida por metro quadrado<br />

seja maior, o tempo de cultivo menor, e por aí vão<br />

as vantagens que precisam ser mostradas. A tentação<br />

de comprar coisas mais baratas é quase irresistível.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Em tempos eleitorais, vale<br />

a pergunta, o que um presidente tem que apresentar<br />

de propostas para ganhar o voto do João Manoel?<br />

João Manoel: Vale a pergunta e vale a resposta. O país<br />

atravessa uma fase horrível e só vamos acabar com ela<br />

conversando, baixando tom. Estamos como um casal<br />

que se separa, vive brigando e se esquece que o importante<br />

são os filhos. O Brasil precisa de paz, paz só se<br />

tem com justiça, justiça só se tem com igualdade. Meu<br />

voto iria para o candidato que oferecesse caminhos<br />

para apaziguar o país (chega de nós contra eles), que<br />

diminuísse as diferenças entre os grupos de pessoas,<br />

que fizesse um estado menor, que cuidasse primeiro da<br />

saúde, da segurança, da <strong>ed</strong>ucação, e do futuro. Nosso<br />

país tem um potencial como poucos no mundo, mas<br />

é incerto. Votaria em alguém que fizesse projetos viáveis<br />

e não promessas vazias, falam, falam, acusam, mas<br />

não falam como, com que recursos vão fazer o que<br />

prometem. Meu presidente ideal teria que ser um cara<br />

manso, firme, mas manso. Bom ouvidor, coração mais<br />

humano, capaz de se colocar no lugar dos injustiçados.<br />

Digo que votaria “nele” por que “ele” não é candidato,<br />

não apareceu ainda. Mas, irei votar em alguém. Como<br />

a maioria dos brasileiros, vou votar no que tiver mais<br />

chance de ganhar dos que mais tenho m<strong>ed</strong>o. A esse<br />

momento as pesquisas só me trazem mais dúvidas. Mas<br />

democracia é assim, difícil e o aprendizado demorado.<br />

77<br />

JUL/AGO 2018


Novas leitur<br />

s<br />

LANÇAMENTOS RECENTES DO SETOR AQUÍCOLA, CONFIRA!<br />

The State of World Fisheries and Aquaculture (SOFIA) 2018<br />

Autor: Food and Agriculture Organization of the Unit<strong>ed</strong> Nations - FAO<br />

Editora: FAO<br />

Idioma: Inglês/Espanhol – 379 páginas<br />

Lançamento: jullho de 2018<br />

O relatório sobre o estado da Pesca e Aquicultura a nível mundial, é um documento<br />

que visa fornecer informações objetivas, confiáveis ​e atualizadas para um público amplo,<br />

incluindo formuladores de políticas públicas, gestores, cientistas e, de modo geral, todos<br />

os interessados ​no setor pesqueiro e aquícola. Na seção sobre aquicultura você encontra<br />

os dados da produção mundial total e dividida por grupos, as espécies mais produzidas,<br />

os principais países produtores, tópicos comentados sobre os últimos dados entre outras<br />

informações. O documento encontra-se disponível em inglês ou também em espanhol.<br />

Basic and Appli<strong>ed</strong> Zooplankton Biology<br />

Editores: Santhanam Perumal, Begum Ajima, Perumal Pachiyappan<br />

Editora: Springer<br />

Idioma: Inglês – 452 páginas<br />

Lançamento: agosto de 2018<br />

O zooplâncton é peça fundamental na cadeia trófica do ambiente aquático, sendo<br />

produtores secundários que formam ligações alimentares pelágicas e agem como indicadores<br />

de massas de água. Eles constituem a maior e mais confiável fonte de proteína<br />

para a maioria dos peixes do oceano. Como tal, a sua ausência ou esgotamento afeta<br />

frequentemente a pesca. Em muitos países, o declínio na pesca tem sido atribuído à<br />

r<strong>ed</strong>ução das populações de plâncton. Assim, este livro é uma ferramenta para pesquisadores,<br />

aquicultores e demais interessados em entender a biologia e dinâmica do<br />

zooplâncton.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Dimensão socioeconômica da tilapicultura no Brasil<br />

Autores: Renata Melon Barroso, Andrea E. Pizarro Munoz, Elda Fontinele Tahim, Ruy<br />

Albuquerque Tenório, Luiz Danilo Muehlmann, Fabiano Müller Silva, Luiz Eduardo Guimarães<br />

de Sá Barreto, Gelson Hein, Fernando Jesus Carmo, Roberto Manolio Valladão<br />

Flores<br />

Editora: Embrapa<br />

Idioma: Português – 110 páginas<br />

Lançamento: 2018<br />

O livro é resultado do estudo socioeconômico da tilapicultura no Brasil e reúne informações<br />

sobre as características da produção, bem como sobre aquelas pessoas envolvidas<br />

na atividade. Amparado em visitas de campo realizadas nos principais polos de produção<br />

do país, ele nos traz informações atualizadas e mostra-nos uma visão panorâmica do<br />

setor, incluindo as oportunidades e dificuldades encontradas pelos produtores desta que<br />

já é a principal espécie de peixe produzida no país.<br />

DIVULGUE AQUI O SEU LANÇAMENTO EDITORIAL!<br />

r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />

78


Wagner Cotroni Valenti<br />

Nascido em São Paulo (SP), por influência do pai, Wagner Valenti foi criado junto à natureza, pássaros,<br />

plantas e, especialmente, peixes. Sempre tiveram aquário em casa e isto acabou servindo como um grande<br />

estímulo para o que vinha pela frente em sua vida.<br />

Após terminar a graduação em Biologia pela USP, no final dos anos 70, a ideia era montar uma loja de<br />

aquário marinho, já que não existia nenhuma em SP. Wagner iria empreender!<br />

Entretanto, o mestrado “o chamou”. Foi trabalhar com biologia populacional de camarões de água<br />

doce. Tornou-se mestre e doutor pelo Instituto de Biociências da USP.<br />

Após o mestrado, Wagner foi aprovado em um concurso para professor na UNESP e, desde então,<br />

sempre lutou pela Instituição. Aliás, se você pensar no Prof. Wagner, automaticamente se lembra da<br />

UNESP.<br />

“Sempre pensei: eu tenho que honrar o salário que eu recebo, que é dinheiro público e pago por todos os<br />

brasileiros... e me considerava um privilegiado por ter tido a chance de estar em uma universidade, podendo<br />

fazer aquilo que eu mais gostava, dar aula e fazer pesquisa”.<br />

Quando estava finalizando o mestrado, houve um<br />

bloom de criação de Macrobrachium no Brasil:<br />

“Todo mundo queria produzir, mas ninguém sabia<br />

como. Comecei a fazer uma grande revisão bibliográfica<br />

sobre a espécie e a prestar algumas consultorias”.<br />

Certo dia, quando estava na <strong>ed</strong>itora Nobel, comentou<br />

que tinha elaborado uma apostila sobre<br />

camarões de água doce, e ouviu de uma pessoa<br />

na <strong>ed</strong>itora: “-É tudo o que estamos procurando!”<br />

Trabalhou oito meses aprimorando sua apostila<br />

e, a partir dela, publicou seu primeiro livro:<br />

sobre cultivo de camarões de água doce.<br />

“Esse trabalho me deu muito prestígio, percorreu<br />

o Brasil todo, vendendo mais de 20 mil exemplares.<br />

Das minhas mais de 100 publicações, sem dúvidas,<br />

essa foi a obra mais lida!”.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Os debates sobre carcinicultura de água doce<br />

aumentaram no País, momento em que se criou<br />

o GTCAD – Grupo de Trabalho em Camarões de<br />

Água Doce. Através dos esforços do grupo, em<br />

1998 lançou-se um novo livro, possivelmente o<br />

primeiro trabalho multi-autoral brasileiro, publicado<br />

para uma única espécie aquícola no Brasil.<br />

“Esse livro abriu portas para publicar meu primeiro<br />

livro em Oxford”.<br />

Convite mais que especial feito por Michael<br />

New, maior autoridade em Macrobrachium do<br />

planeta. Além do livro, M. New tornou-se um parceiro<br />

e amigo pessoal de Wagner. Sobre o livro,<br />

simplesmente, passou a ser o livro texto mundial<br />

sobre criação de camarões de água doce.<br />

Tudo começou com um aquário... “Quando criança, eu<br />

adorava peixe! Alguém me disse que quem estudava os<br />

peixes eram os Biólogos. Aí eu decidi que eu iria fazer<br />

biologia”.<br />

80


Networking: “Naquela época ninguém falava<br />

sobre a importância de uma r<strong>ed</strong>e de contatos. Eu<br />

marcava os autores das referências bibliográficas<br />

que eu mais usava e quando comecei a frequentar<br />

congressos internacionais, eu queria conhecê-los,<br />

me apresentar. Contudo, como meu inglês era muito<br />

ruim, na maioria das vezes eles não me davam a<br />

menor atenção... Eu começava a conversar e logo<br />

elas falavam ‘Excuse-me’ e saiam”. Wagner sentiu<br />

a necessidade de aprimorar seu inglês, e após os<br />

30 anos, o que não foi tarefa fácil.<br />

Bastante atuante na aquicultura internacional,<br />

participando de diversos congressos científicos<br />

pelo mundo e construindo inúmeras parceiras<br />

em pesquisa e produção científica, em 1999<br />

recebeu o convite do presidente da WAS para<br />

ser <strong>ed</strong>itor associado do “Journal of the World<br />

Aquaculture Society”, ocupando este cargo por<br />

15 anos. Além disso, na WAS, foi vice-presidente,<br />

diretor, entre outras funções, ampliando sua<br />

experiência e trabalhos internacionais.<br />

©Mariane Rossi<br />

Wagner se tornou o primeiro brasileiro a receber o<br />

título de “Fellow” da World Aquaculture Society (WAS).<br />

Criação do Comitê de Aquicultura do CNPQ: “Foi<br />

uma das coisas mais importantes que fiz em minha<br />

carreira. A aquicultura era apenas um apêndice<br />

da zootecnia. Aproveitei que estava na diretoria<br />

do CAUNESP e levei a ideia para o José Tundisi,<br />

parceiro de antigos projetos, e presidente do CNPQ<br />

na época. O Tundisi além de abrir as portas, vislumbrando<br />

o potencial científico da aquicultura, comprou<br />

a ideia e o comitê acabou sendo lançado”.<br />

pós-doc. Mas agora, já até recebeu alguns<br />

convites para ser docente em universidades no<br />

exterior.<br />

“Eu adoro o CAUNESP, instituição que ajudei a<br />

criar e não pretendo me desligar de lá... e quem<br />

sabe agora, com inovação e empreend<strong>ed</strong>orismo no<br />

meu dia-a-dia, eu tenha minha própria empresa,<br />

embora eu seja muito ruim nisso... rsss. Mas planejamento<br />

eu sei fazer!”.<br />

Surge a Aquaculture Reports: “Em determinado<br />

momento, a Elsevier resolveu criar uma revista para<br />

ser uma coirmã da Aquaculture. Entre as várias<br />

novidades deste periódico, a ideia foi que os <strong>ed</strong>itores<br />

fossem escolhidos não por áreas, mas sim por região.<br />

Tornei-me o Editor Chefe para as Américas. O que<br />

me deu uma motivação adicional, é que pude definir<br />

todo o escopo da revista”.<br />

Novo desafio: Agência UNESP de inovação! “Foi<br />

um desafio que surgiu no início de 2018. O Reitor<br />

me ligou e perguntou se eu toparia assumir a presidência<br />

da agência. Prontamente aceitei o desafio!<br />

Fui estudar um pouco de inovação, porque era o<br />

setor que eu menos conhecia da Universidade, e a<br />

agência precisava arrumar a casa”.<br />

JUL/AGO 2018<br />

Depois de uma longa trajetória na aquicultura,<br />

Wagner não dispensa fazer um pós-doutorado<br />

no exterior num futuro próximo. Como sempre<br />

esteve envolvido com cargos administrativos,<br />

nunca lhe sobrava tempo para pensar num<br />

Prof. Wagner durante o Aquaculture Europe 2018, em<br />

Montpellier (França).<br />

81


Camarão de água doce!<br />

É em Ribeirão, no estado de Pernambuco que o empresário Daniel Cavalcanti tem sua criação de<br />

camarão de água doce da espécie Macrobrachium rosenbergii. Esse camarão também conhecido<br />

como Gigante da Malásia, ou Lagostim de água doce, é comercializado a partir de 50 g, mas<br />

pode atingir até 500 g.<br />

Fazenda:<br />

Triângulo do camarão<br />

Proprietário: Daniel Cavalcanti<br />

Dniel, proprietário da fazenda<br />

JUL/AGO 2018<br />

Data do povoamento: 28/09/2017<br />

Quantidade de larvas estocadas: 12.000<br />

Densidade: 10/m³<br />

Peso inicial: 2 mg<br />

Biomassa inicial: 2,4 kg<br />

Data da despesca: 28/05/2018<br />

Dias de cultivo: 180<br />

Peso final : 57,8g cada<br />

Biomassa final: 450,84 Kg<br />

Produtividade: 3.754,83 kg/ha<br />

Sobrevivência: 75%<br />

Total de ração: 720 kg<br />

Conversão alimentar: 1,6:1<br />

82


RAISING LIFE<br />

Uma série d<strong>ed</strong>icada de soluções inovadoras para a aquicultura:<br />

Fração parietal premium<br />

rica em ingr<strong>ed</strong>ientes ativos<br />

Lev<strong>ed</strong>ura premium rica<br />

em selênio orgânico<br />

Fonte alternativa de proteína<br />

com propri<strong>ed</strong>ades funcionais<br />

Concentrado de lev<strong>ed</strong>uras<br />

vivas<br />

NADA É MAIS PRECIOSO QUE A VIDA, E ESTA É A FILOSOFIA QUE CONDUZ A PHILEO.<br />

Como a população global continua a crescer, o mundo enfrenta uma crescente demanda por alimentos<br />

e maiores desafios de sustentabilidade.<br />

Trabalhando na inter-relação entre nutrição e saúde, nos comprometemos em fornecer futuras soluções<br />

embasadas em evidências científicas que melhorem a saúde e o desempenho animal.<br />

Individualmente e em todos os países, o progresso de nosso time é liderado pelos mais avançados resultados<br />

científicos, assim como pela contribuição de experientes produtores.<br />

vendas@phileo.lesaffre.com<br />

phileo-lesaffre.com


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