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14 ed Revista Completa

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REVISTA<br />

EDIÇÃO<br />

<strong>14</strong><br />

SETEMBRO/OUTUBRO<br />

2018<br />

aquaculturebrasil.com<br />

ISSN 2525-3379<br />

WERNER<br />

JOST:<br />

Artigo: Perifíton,<br />

opção de alimento<br />

complementar na<br />

aquicultura - Parte II<br />

Camanor rumo a 15<br />

mil/ton ano em<br />

50 hectares<br />

Coluna: Conexão<br />

Tailândia, presente e<br />

futuro!<br />

Defendeu: Inácio Alves<br />

Neto, Pós-Graduação<br />

em Aquicultura - FURG<br />

Eles fazem a diferença:<br />

Rodrigo Carvalho<br />

MAR/ABR 2018<br />

1


Soluções para quem procura<br />

resultados consistentes.<br />

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A formulação exclusiva para tilápias e camarão do<br />

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melhorando o ganho de peso e eficácia alimentar.<br />

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AQUACULTURE BRASIL<br />

O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA<br />

BRASILEIRA!<br />

EDITOR-CHEFE:<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />

DIRETORES ASSISTENTES:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

DIREÇÃO DE ARTE:<br />

Syllas Mariz<br />

Jéssica Brol<br />

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:<br />

Ademir Heldt, Alice Eiko Murakami, Amábile Frozza,<br />

Bruno Wernick, Carlos Henrique A de Miranda Gomes,<br />

Cecília Silva de Castro, Claudia Caramelo Brazão, Cláudia<br />

Kerber, Daiane Mompean Romera, Denis William<br />

Johansem de Campo, Eduardo Luis. C. Ballester, Fabiana<br />

Garcia, Fabrício Martins Dutra, Gabriel Nandi Corrêa,<br />

Inácio Alves Neto, Johnny Martins de Brito, Juan Jethro<br />

Silva Santos, Juliana Portella Bernardes, Katt Regina<br />

Lapa, Leandro Maurente, Luis Alberto Romano, Luiz<br />

Henrique Castro David, Marina Nunes Alexandre, Paulo<br />

César Abreu, Rafael Ortiz Kracizy, Raimundo Lima da<br />

Silva Junior, Roberta Almeida Rodrigues, Rodrigo Carvalho,<br />

Shayene Agatha Marzarotto, Tânia Cristina Pontes,<br />

Werner Jost e Wilson Massamitu Furuya.<br />

Os artigos assinados e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

COLUNISTAS:<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Andre Muniz Afonso<br />

André Camargo<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

Eduardo Gomes Sanches<br />

Fábio Rosa Sussel<br />

Giovanni Lemos de Mello<br />

Marcelo Roberto Shei<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Rodolfo Luís Petersen<br />

Santiago Benites de Pádua<br />

As colunas assinadas e imagens são de<br />

responsabilidade dos autores.<br />

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NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA:<br />

COAN gráfica LTDA. / coan.com.br<br />

Av. Tancr<strong>ed</strong>o Neves, 300, Tubarão/SC, 88704-700<br />

A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação<br />

bimestral da EDITORA<br />

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.<br />

(ISSN 2525-3379).<br />

www.aquaculturebrasil.com<br />

Av. Senador Galotti, 329/503, Mar Grosso, Laguna/SC,<br />

88790-000.<br />

A AQUACULTURE BRASIL não se<br />

responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de<br />

terceiros.<br />

Eleição presidencial e Copa do Mundo ocorrem<br />

a cada quatro anos. Importante frisar este ponto<br />

inicial, uma vez que os brasileiros não se esquecem<br />

nem por um segundo desta periodicidade quadrienal,<br />

ao menos tratando-se de Copa do Mundo.<br />

Nós da Aquaculture Brasil trabalhamos 24 h<br />

diárias com mídias sociais, aliás, desde 1º de janeiro<br />

de 2016. A Aquaculture Brasil nasceu no Facebook<br />

e hoje se populariza ainda mais no Instagram<br />

e em outros portais e mídias sociais. Impactamos<br />

5 milhões de pessoas anualmente! Apesar de termos<br />

uma boa afinidade com o meio digital, jamais<br />

poderíamos imaginar a força das r<strong>ed</strong>es sociais nas<br />

eleições de 2018.<br />

Uma pena que o efeito avassalador destas mídias sociais não elegeu o melhor<br />

projeto, a menos a nível nacional. Pôde-se perceber, de forma online, a “polarização”<br />

também em nosso setor aquícola! Boa parte dos empresários apoiando<br />

em massa o candidato da direita, enquanto professores e estudantes lutando por<br />

candidatos de centro-esquerda, ou esquerda. Quem está com a razão, empregadores,<br />

formadores de recursos humanos, ou estudantes que representam o<br />

nosso futuro? Que dilema!<br />

E o que esperar para a aquicultura? A Associação Brasileira de Piscicultura, no<br />

dia seguinte a definição do novo Presidente do Brasil, lançou uma nota oficial<br />

(publicada em 29/out/18), indicando que “a mais importante demanda da PEIXE<br />

BR e de toda a cadeia da produção de peixes de cultivo é o retorno da atividade<br />

ao âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),<br />

destino tido como natural para abrigar a Aquicultura, uma vez que lá já estão<br />

as indústrias de insumos (genética, sanidade e nutrição), além da promoção da<br />

produção no exterior”.<br />

Segundo Itamar Rocha, principal liderança da carcinicultura marinha brasileira,<br />

“Quem defende essa heresia não tem noção das perspectivas do setor aquícola/carcinícola<br />

e da pesca industrial do Brasil. Voltar ao MAPA seria retroc<strong>ed</strong>er”.<br />

Definitivamente o ano de 2019 será de substanciais mudanças políticas e<br />

consequentemente, econômicas e sociais em nosso País. Que venham dias melhores!<br />

Contudo, até lá muita água ainda vai rolar...<br />

Enquanto 2018 está aí, vamos curtir a FENACAM 2018 – Feira Nacional do<br />

Camarão, que ocorre entre os dias 13 a 16 de novembro em Natal (RN), e<br />

também a 3ª Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, nos dias 13 e <strong>14</strong><br />

de novembro, em Cuiabá (MT). Aliás, falando nisso, acompanhe estes eventos<br />

com exclusividade em nossas mídias sociais.<br />

Dilemas a parte, quem sabe um dia as páginas, perfis e canais que falem<br />

sobre aquicultura também tenham milhões de seguidores (como a de vários políticos<br />

eleitos em 2018), e que sejam da Aquaculture Brasil e de seus parceiros,<br />

colaboradores e amigos!<br />

Estamos trabalhando com afinco para isto acontecer!<br />

Ótima leitura!<br />

Giovanni Lemos de Mello,<br />

Editor chefe.


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SUMÁRIO<br />

AQUACULTURE BRASIL - <strong>ed</strong>ição <strong>14</strong> set/out 2018<br />

08 FOTO DO LEITOR<br />

10 PRODUÇÃO DE MACROBRACHIUM ROSENBERGII EM<br />

SISTEMA DE BIOFLOCOS<br />

»»<br />

p.10<br />

<strong>14</strong> PERIFÍTON: UMA OPÇÃO DE ALIMENTO<br />

COMPLEMENTAR NA AQUICULTURA - PARTE II<br />

»»<br />

p.<strong>14</strong><br />

»»<br />

p.20<br />

20 FILTROS BIOLÓGICOS PARA SISTEMAS DE<br />

RECIRCULAÇÃO AQUÍCOLA (RAS)<br />

26 FITASE LÍQUIDA COMO FERRAMENTA DE<br />

DESEMPENHO E SUSTENTABILIDADE NA CRIAÇÃO<br />

DE TILÁPIAS<br />

32 REPRODUÇÃO DO MOLUSCO DE AREIA MESODESMA<br />

MACTROIDES (REEVE, 1854) EM LABORATÓRIO<br />

38 GAROUPAS AO MAR: CONSERVAÇÃO,<br />

CROWDFUNDING E PROGRAMA DE RECOMPENSAS<br />

PARA OS APOIADORES DO PROJETO<br />

44 INVE DO BRASIL EM AÇÃO: UMA VISITA AO NOSSO<br />

CLIENTE AMBAR AMARAL<br />

48 COOPERATIVA DE PESCA E AQUICULTURA DE GOIÁS<br />

(COOPAQ) – PARTE IV<br />

52 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR<br />

53 CHARGES<br />

»»<br />

p.26<br />

»»<br />

p.32<br />

6


»»<br />

p.74<br />

»»<br />

p.76<br />

54 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />

56 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA<br />

57 NUTRIÇÃO<br />

58 GENÉTICA<br />

»»<br />

p.38<br />

60 GREEN TECHNOLOGIES<br />

62 VISÃO AQUÍCOLA<br />

64 RANICULTURA<br />

65 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />

66 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA<br />

68 AQUICULTURA DE PRECISÃO<br />

»»<br />

p.44<br />

70 SANIDADE<br />

71 PISCICULTURA MARINHA<br />

72 TECNOLOGIA DO PESCADO<br />

74 DEFENDEU<br />

76 ENTREVISTA - WERNER JOST<br />

80 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />

»»<br />

p.80<br />

82 DESPESCOU<br />

7


Equipe do Projeto Camarão - FURG, finalizando a despesca<br />

(Rio Grande, RS)<br />

Missileny Xavier<br />

Exemplar de camarão da<br />

Fazenda AquaFer<br />

(Rio Tinto, PB)<br />

Fernando G. de Souza Filho<br />

Sementes de ostra<br />

Crassostrea gigas prontas<br />

para iniciar a engorda<br />

(Florianópolis, SC)<br />

Eduardo da Luz<br />

SET/OUT 2018<br />

8


Coleta de material biológico para extração de DNA em Hypostomus affinis<br />

(Alegre, ES)<br />

Allan Emilio Pi<strong>ed</strong>ade<br />

Aula prática: defumação<br />

de pescado - UFGD<br />

(Dourados, MS)<br />

Heloisa Herrig<br />

SET/OUT 2018<br />

>><br />

Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia<br />

e participe desta seção.<br />

r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />

9


©Citron / CC-BY-SA-3.0<br />

SET/OUT 2018<br />

10


Produção de<br />

Macrobrachium rosenbergii<br />

em sistema de<br />

bioflocos<br />

Claudia Caramelo Brazão<br />

Rafael Ortiz Kracizy<br />

Fabrício Martins Dutra<br />

Ademir Heldt<br />

Leandro Maurente<br />

Amábile Frozza<br />

Cecília Silva de Castro<br />

Shayene Agatha Marzarotto<br />

Paulo César Abreu<br />

Eduardo Luis. C. Ballester*<br />

Laboratório de Carcinicultura<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná – UFPR<br />

Palotina, PR<br />

*elcballester@ufpr.br<br />

Quando comparada com a<br />

carcinicultura marinha, o cultivo<br />

de camarões de água doce<br />

pode ser considerado menos<br />

impactante ao meio ambiente.<br />

Contudo, essa atividade ainda<br />

causa preocupações com a<br />

descarga de efluentes em<br />

corpos d’agua naturais e com<br />

o possível escape de espécies<br />

produzidas para o ambiente,<br />

principalmente quando essas<br />

espécies são exóticas ao<br />

ecossistema natural (Valenti et<br />

al., 2010).<br />

Para permitir<br />

o sucesso na produção<br />

de espécies dulcícolas<br />

nestes sistemas há<br />

necessidade de preencher<br />

lacunas na informação<br />

desta modalidade de<br />

criação.<br />

Atualmente têm sido desenvolvidos<br />

sistemas fechados de<br />

criação, chamados de sistema<br />

de bioflocos (BFT), que previnem<br />

escapes de organismos<br />

e estimulam a ciclagem dos<br />

nutrientes na própria água do<br />

cultivo. Para permitir o sucesso<br />

na produção de espécies dulcícolas<br />

nestes sistemas há necessidade<br />

de preencher lacunas na<br />

informação desta modalidade<br />

de criação. Sendo assim uma<br />

série de trabalhos foi realizado<br />

para determinar algumas das<br />

principais condições de cultivo.<br />

SET/OUT 2018<br />

11


SET/OUT 2018<br />

Avaliação de diferentes densidades<br />

O primeiro passo foi determinar qual a densidade<br />

de animais adequada para realização do cultivo. No<br />

trabalho desenvolvido por Negrini et al., (2018),<br />

foi avaliado o efeito da densidade de estocagem no<br />

desempenho zootécnico de juvenis do camarão de água<br />

doce Macrobrachium rosenbergii, a principal espécie de<br />

camarão de água doce cultivada mundialmente.<br />

O trabalho foi desenvolvido em um sistema<br />

superintensivo com bioflocos. Os autores utilizaram<br />

tanques experimentais (microcosmos) com área de<br />

0,20 m². Os tanques foram conectados a dois tanques<br />

de matriz de 300 L (macrocosmo) com tecnologia<br />

de bioflocos, usados como unidades de recirculação<br />

(Figura 1).<br />

Figura 1. Esquema ilustrativo do sistema experimental.<br />

B<br />

R<br />

D<br />

A A A B<br />

Retorno da água<br />

Distribuição de água<br />

Tanque receptor<br />

Tanque distribuidor<br />

Lâmpadas fluorescentes<br />

Lâmpadas halógenas<br />

Unidades experimentais<br />

Juvenis de M. rosenbergii, com peso inicial de 0,315<br />

± 0,06 g (média ± desvio padrão) e comprimento<br />

inicial de 33,34 ± 2,26 mm, foram distribuídos<br />

aleatoriamente nos tanques em diferentes densidades<br />

de estocagem (50, 100, 150, 200 e 250 ind.m -2 ), em<br />

um período de 60 dias. A biomassa total ao final do<br />

experimento foi significativamente maior (p


Os resultados indicaram maior presença de B.<br />

subtilis no hepatopâncreas e de B. licheniformis na<br />

água, sendo as espécies diferenciadas pela morfologia<br />

das colônias e confirmadas pela técnica de Reação<br />

em Cadeia da Polimerase (PCR), utilizando primers<br />

específicos.<br />

Os resultados demonstrados, indicam que<br />

concentrações a partir de 1,08.10 5 UFC.g -1 (TP1)<br />

contribuem para a melhor sobrevivência de M.<br />

rosenbergii em sistema de bioflocos.<br />

RAS x BFT<br />

Ballester et al. (2017) também realizaram um<br />

compativo entre dois sistemas de criação para<br />

M. rosenbergii, sendo um com uso de sistema de<br />

recirculação de água com biofiltro (RAS) e outro com<br />

uso de flocos microbianos (BFT).<br />

No estudo pós-larvas de camarões com peso<br />

médio inicial de 0,13 ± 0,05 g foram acondicionadas<br />

aleatoriamente em seis unidades experimentais<br />

com 0,20 m² e volume de 50 L por trinta dias.<br />

O oxigênio dissolvido, temperatura e pH foram<br />

monitorados diariamente; a concentração de amônia<br />

foi determinada três vezes por semana; concentração<br />

de nitrito, alcalinidade e dureza foram m<strong>ed</strong>idas<br />

semanalmente. Para a formação de floco microbiano,<br />

o melaço foi usado para manter as concentrações de<br />

amônia em níveis seguros para a criação de camarão.<br />

As variáveis de qualidade da água permaneceram<br />

dentro do intervalo adequado para a produção da<br />

espécie. Ao final do experimento, foram avaliados<br />

sobrevivência, taxa de crescimento específico, ganho<br />

de peso e taxa de conversão alimentar. Diferenças<br />

foram encontradas apenas na taxa de conversão<br />

alimentar com melhores valores no tratamento de<br />

RAS (1,82:1) em relação ao tratamento BFT (2,25:1).<br />

Os microrganismos presentes nos tratamentos RAS<br />

e BFT também foram avaliados. As densidades de<br />

rotíferos, amebas e bactérias totais foram maiores<br />

no tratamento BFT, embora os mesmos organismos<br />

tenham sido encontrados no tratamento de RAS<br />

(Figura 2).<br />

Figura 2. Microrganismos fotografados em microscópio invertido, com o uso de câmara de Utermöhl proveniente das<br />

amostras do experimento em ambos os tratamentos . A) Ciliado Vorticella sp.; B) Ciliado Acineta sp.; C) Thecamoebena sp. e<br />

D) Rotifero.<br />

A<br />

B<br />

10 µm<br />

10 µm<br />

C<br />

D<br />

10 µm<br />

10 µm<br />

SET/OUT 2018<br />

Conclusão<br />

Os resultados dos experimentos com a produção de M. rosenbergii em sistema BFT demonstram a<br />

possibilidade de produzir estes camarões no sistema superintensivo com bioflocos, entretanto, apontam que as<br />

densidades de cultivo não podem ser tão altas quanto àquelas usadas para camarões marinhos. A supressão de<br />

suplementos vitamínicos e minerais nas rações pode ser realizada e a utilização de probióticos é benéfica para<br />

o cultivo. Entretanto, são necessárias avaliações econômicas criteriosas para determinar a viabilidade deste tipo<br />

de cultivo.<br />

13


© William Mebane<br />

SET/OUT 2018<br />

<strong>14</strong>


Perifíton:<br />

uma opção de alimento<br />

complementar na<br />

aquicultura - Parte II<br />

Roberta Almeida Rodrigues*<br />

Denis William Johansem de Campos<br />

Luiz Henrique Castro David<br />

Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />

Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />

Jaboticabal, SP<br />

*roberta.biologa10@gmail.com<br />

Daiane Mompean Romera<br />

Instituto Agronômico de Campinas - APTA<br />

Fabiana Garcia<br />

Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />

Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />

Instituto de Pesca<br />

Centro do Pescado Continental - APTA<br />

pós conhecer os conceitos e as aplicações<br />

A gerais do perifíton, descritos na Parte I<br />

dessa série de artigos, nesta segunda parte serão<br />

apresentados dados e informações específicas sobre<br />

o uso de diferentes tipos e informações específicas<br />

sobre o uso de diferentes tipos de substratos. Além<br />

disso, como forma de compreender a dinâmica dos<br />

microrganismos que compõem o perifíton, serão<br />

expostas informações sobre a sua composição<br />

taxonômica e nutricional, e como o perifíton pode<br />

beneficiar os organismos cultivados.<br />

SET/OUT 2018<br />

15


SET/OUT 2018<br />

Os diferentes tipos de substratos<br />

O perifíton coloniza estruturas rígidas presentes<br />

na coluna d’água, denominadas de substratos.<br />

Essas estruturas são adicionadas como forma de<br />

aumentar a área superficial de contato e potencializar<br />

a disponibilidade de perifíton dentro do sistema<br />

de produção. Azim et al., (2004) mostra que a<br />

produtividade aumenta, proporcionalmente, à m<strong>ed</strong>ida<br />

que mais substrato é adicionado no sistema (Figura 1).<br />

Em trabalhos realizados pelo nosso grupo de pesquisa,<br />

a adição de 50% de área de substrato de bambu em<br />

tanques-r<strong>ed</strong>e e viveiros escavados tem mostrado ótimos<br />

resultados, principalmente em relação a diminuição da<br />

conversão alimentar e do tempo de cultivo.<br />

Existem inúmeros tipos de materiais que podem<br />

ser utilizados como substrato e a sua escolha<br />

é muito importante, pois isso irá interferir na<br />

composição taxonômica da comunidade perifítica e<br />

consequentemente no seu valor nutricional.<br />

A escolha do substrato deve ser baseada na origem<br />

do material, seu custo, facilidade de aquisição e manuseio,<br />

além de características de superfície adequadas<br />

para o desenvolvimento do perifíton. Portanto, é<br />

necessária a escolha de um material que não sobrecarregue<br />

o sistema, não libere nenhuma substância e<br />

que não seja consumido pelos organismos cultivados.<br />

O ideal é que o mesmo apresente superfície uniforme<br />

e que permita a fácil remoção do material aderido pelos<br />

animais cultivados. Para isso, o substrato deve estar<br />

bem fixo, pois os peixes realizam certa pressão para<br />

remover o perifíton.<br />

Vários estudos mostraram os benefícios do uso de<br />

diferentes tipos de substratos artificiais às unidades de<br />

produção. Nestes são utilizados materiais como: tubos<br />

de PVC com malha plástica, r<strong>ed</strong>e suspensa, bagaço<br />

de cana, polietileno de alta densidade (PEAD), bambu<br />

(considerado material de fácil aquisição, encontrado e<br />

retirado diretamente do campo), manta geotêxtil (que<br />

possui grande área para fixação do perifíton e custo<br />

elevado), entre outros (Figura 2).<br />

Composição taxonômica<br />

A diversidade taxonômica e a abundância do perifíton<br />

dependem de uma série de fatores, como: habitat<br />

e tipos de substrato, intensidade de luz, pressão de<br />

pastejo (ato de raspar o substrato, exercido pelos peixes<br />

para consumir o perifíton colonizado no substrato),<br />

disponibilidade de nutrientes, pH e perturbações físicas<br />

provocadas pela chuva e vento, os quais promovem o<br />

desprendimento do perifíton dos substratos.<br />

Em relação ao tempo de colonização e estabilização<br />

do perifíton, este pode variar de uma a quatro semanas.<br />

No reservatório de Nova Avanhandava, assim como<br />

em represas rurais no Noroeste Paulista, o tempo de<br />

16<br />

Figura 1. Relação entre produção e superfície do substrato contendo<br />

perifíton (Adaptado de Azim et al., 2004).<br />

Produtividade (Kg/ha)<br />

1500<br />

1250<br />

1000<br />

750<br />

500<br />

250<br />

0<br />

0 25 50 75 100<br />

Superfície do substrato (% área do viveiro)<br />

Figura 2 . Diferentes tipos de substratos utilizados na produção de perifíton.<br />

© William Mebane<br />

colonização para estabilização do acúmulo de matéria<br />

seca em substratos de bambu é de três semanas. Por este<br />

motivo, quando o objetivo é utilizar o perifíton como<br />

alimento complementar para a produção de peixes,<br />

inserimos os substratos ao menos duas semanas antes do<br />

povoamento dos viveiros ou tanques-r<strong>ed</strong>e com peixes.<br />

As comunidades perifíticas são geralmente<br />

constituídas por componentes autotróficos (Figura<br />

3) e heterotróficos, com frequente dominância de<br />

microalgas como diatomáceas (Bacillariophyceae), algas<br />

verdes (Chlorophyceae) e algas azuis (Cyanobacteria),<br />

além de bactérias, protozoários e fungos (Figura 4).


Figura 3 . Microalgas autotróficas encontradas no perifiton.© Roberta Almeida Rodrigues<br />

Figura 4 . Organismos heterotróficos encontrados no perifiton.© Roberta Almeida Rodrigues<br />

A proporção entre algas e organismos heterotróficos<br />

é o que caracteriza a comunidade perifítica em<br />

fase autotrófica ou heterotrófica. Se houver maior<br />

proporção de organismos fotossintetizantes, há<br />

maior disponibilidade de oxigênio dissolvido na água.<br />

Caso contrário, o perifíton irá competir por oxigênio<br />

com os organismos cultivados, situação similar ao<br />

que ocorre em sistemas de bioflocos, onde há<br />

necessidade constante de suplementação de oxigênio<br />

dissolvido e fontes exógenas de nutrientes (Figura<br />

5). A incidência de luz na coluna d’água é um fator<br />

determinante na caracterização do perifíton. Quanto<br />

maior a transparência da água, maior a ocorrência de<br />

microalgas em relação aos organismos heterotróficos<br />

(bactérias, fungos, protozoários, etc.) e cianofíceas. A<br />

elevada concentração de fósforo favorece a presença<br />

de algas filamentosas e cianofíceas. A relação ideal<br />

de nutrientes para um ótimo desenvolvimento da<br />

comunidade perifítica é de C/N/P : 119/17/1 (Azim<br />

et al., 2005). Desta maneira, conhecendo estas<br />

relações, o piscicultor pode direcionar suas práticas<br />

de manejo para propiciar um ambiente favorável ao<br />

desenvolvimento do perifíton com melhor qualidade<br />

nutricional.<br />

As algas que compõem o perifíton desempenham<br />

papel fundamental na ciclagem dos nutrientes, no<br />

balanço do pH, na remoção do gás carbônico, produção<br />

de oxigênio, absorção dos compostos nitrogenados e<br />

na melhora da qualidade de água. No entanto, devese<br />

tomar cuidado, pois algumas espécies de bactérias<br />

e microalgas podem causar problemas aos organismos<br />

aquáticos, devido à produção de diversas cianotoxinas,<br />

SET/OUT 2018<br />

17


Figura 5 . Comparação entre os alimentos naturais perifíton e biofloco (Fonte: Crab et al.,2007).<br />

Bioflocos<br />

Alimento<br />

O²<br />

Luz<br />

Fonte de carbono<br />

Peixe<br />

Alimento não consumido<br />

Fezes<br />

Bioflocos<br />

C:N = 20:1<br />

Perifíton<br />

Alimento<br />

O²<br />

Luz<br />

Peixe<br />

Alimento não consumido<br />

Fezes<br />

Perifiton<br />

C:N:P = 119:17:1<br />

C:N = 10:1<br />

SET/OUT 2018<br />

as quais são nocivas para os vertebrados, tais como<br />

anatoxina-a, saxitoxinas, cilindrospermopsina e<br />

microcistinas, interferindo, assim, no produto final.<br />

Exemplo disso, muito conhecido na aquicultura, é o<br />

Off-flavor, nome dado ao sabor e odor desagradáveis<br />

que os peixes adquirem devido à proliferação de<br />

cianobactérias, que ocorrem naturalmente no<br />

ambiente do viveiro, com altos e desequilibrados<br />

níveis de nutrientes. Além disso, esses microrganismos<br />

apresentam composição bioquímica diversificada<br />

(carboidratos, proteínas, lipídios, ácidos graxos, etc.)<br />

que varia de acordo com a espécie.<br />

Valor nutricional<br />

O perifíton constitui importante fonte<br />

complementar de alimento para as cadeias tróficas,<br />

pois possui elevado valor nutritivo baseado nos<br />

teores de proteínas, vitaminas, minerais, fósforo,<br />

carboidratos solúveis, lipídeos, ácidos graxos poliinsaturados<br />

(PUFA), esteróis, aminoácidos, e<br />

pigmentos. Alguns fatores podem afetar o valor<br />

nutricional da comunidade perifítica: disponibilidade<br />

de luz, disponibilidade de nutrientes no meio, tipo<br />

de substrato e pressão de pastejo. A tabela 1 mostra<br />

a composição do perifíton em diferentes tipos de<br />

substratos.<br />

Tabela 1 .Composição nutricional aproximada do perifíton crescido em diferentes tipos de substratos (Adaptado de Azim et<br />

al., 2005).<br />

18


A quantidade de perifíton em viveiros pode<br />

constituir de 15-40% de cinzas, dependendo do<br />

tipo de substrato (Azim et al., 2003). A pressão de<br />

pastejo pelos peixes é um fator que contribui para<br />

a r<strong>ed</strong>ução nos teores de cinzas do perifiton (Azim<br />

et al., 2002). Em relação à proteína presente no<br />

perifíton em viveiros ou tanques, esta pode variar de<br />

9-32% (Azim e Asa<strong>ed</strong>a, 2005). Nos estudos mais<br />

recentes do nosso grupo de pesquisa, verificamos<br />

que a qualidade da proteína presente em perifíton<br />

oriundo de substratos de bambu é muito superior a<br />

diversos ingr<strong>ed</strong>ientes usados na fabricação de ração<br />

comercial. Isto porque a diversidade de organismos<br />

faz com que seu perfil de aminoácidos se assemelhe<br />

muito ao encontrado na musculatura de tilápias do<br />

Nilo. Desta forma, é possível compensar a menor<br />

ingestão de ração com a oferta de alimento natural<br />

(perifíton) de alto valor nutricional, conferindo melhor<br />

desempenho produtivo dos peixes.<br />

Benefícios do perifíton para os<br />

organismos cultivados<br />

Além dos benefícios alimentares, o uso do perifíton<br />

pode contribuir para um mercado de produção<br />

agroecológica (Milstein et al., 2008; Saikia e Das,<br />

20<strong>14</strong>). Adicionalmente, tornam-se crescentes as<br />

evidências sobre o efeito positivo do perifíton na<br />

saúde dos peixes, isto porque o perifíton serve como<br />

substrato acessório para comunidades microbianas.<br />

Estas atuam como probiótico e r<strong>ed</strong>uzem os riscos de<br />

doenças sobre os organismos cultivados por meio da<br />

exclusão competitiva de patógenos, melhorando os<br />

índices zootécnicos de sobrevivência e crescimento.<br />

O terceiro e último tópico dessa série de matérias,<br />

trará informações sobre o aumento da produtividade e<br />

potencial econômico do uso de perifíton em sistemas<br />

de produção aquícola.<br />

Até a próxima <strong>ed</strong>ição!<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos


SET/OUT 2018<br />

20


Filtros biológicos<br />

para Sistemas de<br />

Recirculação Aquícola<br />

(RAS)<br />

Gabriel Nandi Corrêa<br />

Marina Nunes Alexandre<br />

Katt Regina Lapa<br />

Curso de Graduação em Aquicultura<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina, UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

katt.lapa@ufsc.br<br />

Fatores como limitações na qualidade<br />

e quantidade de água, custo da terra,<br />

limitações no descarte do efluente,<br />

impactos ambientais e enfermidades estão<br />

levando a indústria da aquicultura a práticas mais<br />

intensivas, utilizando cada vez mais os Sistemas<br />

de Recirculação em Aquicultura (SRA, ou RAS<br />

em inglês que significa Recirculating Aquaculture<br />

Systems) (Gutierrez-Wing; Malone, 2006). Os<br />

processos de tratamento da água aplicados em<br />

aquicultura podem ser separados em físicos,<br />

químicos e biológicos (Crab et al., 2007). Em um<br />

RAS, os principais desafios estão nos processos de<br />

remoção de sólidos em suspensão e no controle<br />

da acumulação de compostos nitrogenados<br />

(Greiner; Timmons, 1998). A filtração biológica<br />

é parte importante dos componentes que um<br />

RAS pode utilizar para manter a qualidade da<br />

água em sistemas mais intensificados (Gutierrez-<br />

Wing; Malone, 2005; Delong; Losordo, 2012).<br />

O nitrogênio (N) é um nutriente essencial para<br />

a vida e, na aquicultura, compostos nitrogenados<br />

são gerados naturalmente durante o processo<br />

produtivo (resíduos de ração e metabolismo<br />

dos peixes) (Ebeling, 2006). Na particularidade<br />

da piscicultura, o principal resíduo nitrogenado<br />

produzido pelos peixes é a amônia, excretada<br />

principalmente pelas brânquias (Wood, 1993;<br />

Ebeling, 2006; Delong; Losordo, 2012). A amônia<br />

pode ser tóxica para os peixes e é considerada<br />

um agente estressor, resultando na r<strong>ed</strong>ução do<br />

apetite e taxa de crescimento, podendo culminar<br />

em mortalidades quando encontrada em altas<br />

concentrações (Nelson; Cox, 1998; Ebeling, 2006;<br />

Delong; Losordo, 2012;). O processo biológico<br />

utilizado para controle/r<strong>ed</strong>ução dos compostos<br />

nitrogenados potencialmente tóxicos produzidos<br />

durante o ciclo produtivo, chama-se nitrificação.<br />

SET/OUT 2018<br />

21


Nitrificação<br />

Em sistemas de recirculação para aquicultura (RAS), a<br />

amônia é removida através do processo de nitrificação,<br />

bactérias nitrificantes, em condições aeróbias, oxidam<br />

a amônia até sua forma menos tóxica, o nitrato. Essa<br />

transformação é realizada, principalmente, por bactérias<br />

dos gêneros Nitrosomonas (que oxidam amônia a nitrito)<br />

e Nitrobacter (que oxidam nitrito a nitrato) (Figura 1).<br />

Figura 1. Reações de oxidação da amônia até nitrato (Fonte:<br />

Delong; Losordo, 2012).<br />

eficiência operacional de um biofiltro depende de fatores<br />

ambientais (Tabela 2) e de engenharia, por exemplo,<br />

acessibilidade da superfície de contato do meio<br />

filtrante, taxa de escoamento superficial (m 3 /(m 2 /dia)),<br />

fluxo de água, presença de bactérias competidoras. Diferentes<br />

tipos de biofiltros e materiais suporte para as<br />

bactérias estão disponíveis no mercado (Figura 2 e 3).<br />

Tabela 2. Parâmetros ambientais recomendados para operação de<br />

um biofiltro (Adaptado de Ebeling, 2006).<br />

SET/OUT 2018<br />

Alguns fatores impactam o processo de nitrificação,<br />

por exemplo: pH, temperatura, alcalinidade<br />

e salinidade, influenciam a ecologia microbiana que<br />

compõe o biofilme. A concentração de amônia, oxigênio<br />

dissolvido e resíduos, afetam o fornecimento de<br />

nutrientes para as bactérias. A competição de nutrientes<br />

e espaço com bactérias heterotróficas, impactam<br />

sobre o crescimento e fornecimento de nutrientes a<br />

comunidade bacteriana desejada (Chen et al., 2006).<br />

De acordo com Ebeling (2006) cerca de 3% da alimentação<br />

diária ofertada aos animais acaba como nitrogênio<br />

amoniacal na água. Dessa forma, 1 kg de ração<br />

ofertada introduziria 30 gramas de amônia no sistema,<br />

e para cada grama de amônia nitrificada temos os resultados<br />

estequimétricos apresentados na Tabela 1.<br />

Tabela 1. Consumo e produção do processo de nitrificação<br />

a cada 1 g de amônia (Adaptado de Ebeling, 2006).<br />

Filtros biológicos<br />

O filtro biológico, conhecido também como biofiltro,<br />

é um componente essencial de um sistema de recirculação<br />

para aquicultura, abrigando a comunidade microbiana<br />

responsável pela nitrificação (Delong; Losordo,<br />

2012). Ao usar um biofiltro deverá ser considerado o fato<br />

de estar conduzindo dois cultivos simultaneamente, o<br />

organismo cultivado e a biomassa bacteriana nitrificante.<br />

Os biofiltros são biorreatores dimensionados com<br />

alta área superficial de contato (AS) que permitem a<br />

fixação e o crescimento das bactérias nitrificantes. A<br />

Tipos de biofiltros<br />

Os biofiltros podem ser divididos em duas principais<br />

categorias: emergentes, como os filtros percoladores e<br />

discos rotativos (Figura 4), e submersos, com material<br />

suporte fixo ou em suspensão (Figuras 5 e 6) (Ebeling,<br />

2006; Fernandes et al., 2017). A maior parte da biofiltração<br />

em sistemas de recirculação tem sido focada<br />

em filtros aeróbios de leito fixo, com material suporte<br />

estático para o crescimento de um biofilme nitrificante.<br />

Nos últimos anos, a indústria da aquicultura vem<br />

optando por biofiltros mais facilmente operados, como<br />

os biofiltros de leito fluidizado/móvel (Moving B<strong>ed</strong> Biofilter<br />

Reactor, em inglês), carecendo de estudos que comparem<br />

o desempenho dos modelos existentes (Fernandes<br />

et al., 2017).<br />

No mercado, existem diferentes materiais suportes,<br />

ou mídias filtrantes como também são conhecidos,<br />

disponíveis para fixação das bactérias, devendo ser levada<br />

em consideração a área total disponível por metro<br />

cúbico de mídia e a funcionalidade do material nos<br />

manejos. Os mais amplamente utilizados são: materiais<br />

sintéticos de plástico, materiais de natureza porosa, brita,<br />

cascalho, areia, entre outros (Reynolds; Richards,<br />

1995; Sultana et al., 2017). Na Tabela 3 é apresentado<br />

o desempenho de diferentes tipos de materiais suportes<br />

e filtros flutuantes já estudados por pesquisadores.<br />

Salling et al., (2007) indicam que substratos alternativos<br />

como a madeira podem ser utilizados, entretanto,<br />

deve-se ficar atento com o tempo de vida útil<br />

desses materiais, pois podem gerar problemas secundários<br />

e comprometer a qualidade da água do sistema.<br />

22


Tabela 3. Desempenho de diferentes tipos de materiais suportes e filtros flutuantes.<br />

De acordo com Lekang (2010) é necessário 1m²<br />

de área superficial de material suporte para cada 1g<br />

de amônia produzida por dia. Conhecendo a quantidade<br />

de amônia produzida diariamente e a área superficial<br />

específica do material suporte, pode-se calcular<br />

o volume necessário de material no biofiltro.<br />

Tabela 4. Comparativo de remoção de amônia em filtros emergentes<br />

e filtros que utilizam materiais suporte tipo Bead ou areia<br />

(Adaptado de Ebeling, 2006).<br />

Figura 2. Elementos plásticos estruturados para biofiltro. Alta<br />

área superficial específica (ASE).<br />

Figura 3. Classificação dos biofiltros utilizados em aquicultura (Adaptado de Ebeling, 2006).<br />

BIO<br />

FIL<br />

TRA<br />

ÇÃO<br />

Crescimento em suspensão<br />

Bactérias heterotróficas<br />

Biofilme fixo<br />

Bactérias nitrificantes<br />

Emergentes<br />

Submersos<br />

Biológico rotativo<br />

Percolador<br />

Fluidizados<br />

Filtro de areia fluidizado<br />

MBBR<br />

Bead descendente<br />

SET/OUT 2018<br />

Fluidizáveis<br />

Filtro de espuma<br />

Bioclarificador Bead<br />

Filtro de areia ascendente<br />

Ensacados/<br />

fixo<br />

Material plástico<br />

Britas<br />

Conchas<br />

23


Figura 4. Filtros emergentes: a) Biodisco rotativo; b) Filtro percolador (Adaptado<br />

de Ebeling, 2006).<br />

Figura 5. Biofiltro submerso fluidizado, MBBR.<br />

© Katt Regina Lapa<br />

Figura 6. Filtro submerso pressurizado com material suporte tipo Bead.<br />

© Pk1 Micro Bead filter<br />

SET/OUT 2018<br />

Perspectivas e estudos em<br />

andamento<br />

Atualmente, a intensificação dos cultivos está<br />

cada vez mais comum. A aquicultura sustentável<br />

se baseia em: gerar um produto de qualidade,<br />

tendo uma produção lucrativa e preservando<br />

o meio ambiente (Valenti, 2002). O sistema<br />

de recirculação (RAS) permite o aumento na<br />

produção sem a necessidade de aumentar a área<br />

física, r<strong>ed</strong>uzindo impactos ambientais e gerando<br />

um produto sustentável. Sistemas como esses<br />

estão com muita visibilidade, e para a aquicultura<br />

continuar expandindo, tecnologias devem ser alvo<br />

de estudos a fim de desenvolver sistemas mais<br />

eficientes para reuso da água e r<strong>ed</strong>uzir ainda mais<br />

os impactos ambientais.<br />

Para a aquicultura<br />

continuar expandindo,<br />

tecnologias devem ser<br />

alvo de estudos<br />

a fim de desenvolver<br />

sistemas mais eficientes<br />

para reuso da água e r<strong>ed</strong>uzir<br />

ainda mais os impactos<br />

ambientais.<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

24


Fitase líquida<br />

como ferramenta<br />

de desempenho e<br />

sustentabilidade na<br />

criação de tilápias<br />

Tânia Cristina Pontes<br />

Johnny Martins de Brito<br />

Alice Eiko Murakami<br />

Wilson Massamitu Furuya*<br />

Universidade Estadual de Ponta Grossa<br />

Departamento de Zootecnia<br />

Ponta Grossa, PR<br />

*wmfuruya@uepg.br<br />

Bruno Wernick<br />

BASF Saúde & Nutrição<br />

Coordenador de Serviços Técnicos<br />

Maringá, PR<br />

PPZ/UEM - Maringá,PR. Trabalho realizado com apoio da CAPES - Código de Financiamento 001<br />

Importância da fitase na aquicultura<br />

Os cereais, legumes e co-produtos estão sendo<br />

amplamente utilizados como alimentos sustentáveis<br />

na formulação de rações para tilápias em substituição<br />

à farinha de peixe e outros alimentos proteicos de<br />

origem animal. No entanto, apresentam fatores antinutricionais,<br />

como ácido fítico, a principal forma de<br />

armazenamento do fósforo em vegetais. O ácido fítico<br />

também pode complexar insolúveis com outros minerais<br />

como o cálcio, magnésio, manganês, ferro e cobre.<br />

Assim, ocorre r<strong>ed</strong>ução na disponibilidade desses<br />

minerais, com consequente r<strong>ed</strong>ução no crescimento<br />

e aumento na excreção de fósforo. Além de aumentar<br />

a disponibilidade do fósforo, a fitase melhora a<br />

digestibilidade da proteína. Considerando que as rações<br />

de peixes possuem elevados teores de proteína<br />

quando comparadas com as rações de aves e suínos,<br />

a utilização de fitase r<strong>ed</strong>uz a excreção de nitrogênio e<br />

contribui para criação mais sustentável de peixes. Elevadas<br />

concentrações de nitrogênio e fósforo estimulam<br />

a eutrofização da água, diminuem a capacidade de<br />

suporte e aumentam o risco de peixes prontos para<br />

o abate com off-flavor, rejeitados pelo consumidor.<br />

Nos últimos anos, foram lançadas novas gerações<br />

SET/OUT 2018<br />

27


de fitase mais resistentes ao processamento térmico e<br />

adequadas às características do pH dos animais. Além<br />

disso, há disponibilidade no mercado de fitase líquida,<br />

que é adicionada após extrusão e secagem, permitindo<br />

garantia dos efeitos da enzima suplementada. Em<br />

busca de uma criação mais focada em rações ambientalmente<br />

sustentáveis com menor potencial poluente,<br />

uma pesquisa foi desenvolvida em parceria com a<br />

Universidades Estadual de Ponta Grossa, Universidade<br />

Estadual de Maringá e a Basf, objetivando de forma<br />

pioneira avaliar a possibilidade de elaborar ração extrusada<br />

para tilápias do Nilo sem alimentos de origem<br />

animal, sem inclusão de fontes inorgânicas de fósforo<br />

e suplementada com fitase.<br />

Configuração experimental<br />

Os proc<strong>ed</strong>imentos experimentais foram aprovados<br />

para execução pelo Comitê de Conduta Ética para<br />

Uso de Animais em Experimentação da Universidade<br />

Estadual de Ponta Grossa (Protocolo N° 6352/2017).<br />

Foi elaborada ração basal exclusivamente com alimentos<br />

de origem vegetal a base de milho, farelo de trigo,<br />

farelo de arroz e farelo de soja com 32,0 % de proteína<br />

bruta, 3300 kcal/kg de energia digestível, 0,8% de<br />

fósforo total e 0,9% de cálcio. A partir da ração basal,<br />

foram elaboradas três rações com 500, 1000 e 1500<br />

unidades de fitase ativa (UFA)/kg. Foi utilizada fitase<br />

microbiana (Natuphos® E-10,000 FTU/kg -1 – BASF,<br />

Corporation, Ludwigshafen, Germany). As rações foram<br />

elaboradas com base em análise prévia dos alimentos<br />

e confirmadas por meio das análises laboratoriais<br />

das rações. A atividade da enzima fitase também<br />

foi confirmada por meio de análise laboratorial após<br />

aplicação da enzima nas rações.<br />

As rações foram misturadas, moídas e extrusadas<br />

no AquaNutri (Botucatu, SP, Brasil). A moagem foi realizada<br />

em moinho centrífugo com peneiras com furos<br />

de 0,7 mm e a extrusão foi realizada em extrusor de<br />

rosca simples com matriz de 3 mm de diâmetro. Após<br />

secagem e resfriamento, a fitase foi diluída em água<br />

deionizada e pulverizada “on-top” de forma a obter<br />

rações sem e com 500, 1000 e 1500 UFA/kg.<br />

Foram utilizados 96 juvenis machos de tilápia do<br />

Nilo com peso inicial médio de 36 ± 1 g, distribuídos<br />

em oito aquários de alimentação com formato circular<br />

e volume total de 250 L, confeccionados em fibra de<br />

vidro. A temperatura da água e o oxigênio dissolvidos<br />

foram mantidos em 27 ± 0,2°C e 6 ± 0,5mg/L,<br />

respectivamente. Os peixes foram alimentados durante<br />

49 dias. Ao final do experimento, todos os peixes<br />

foram pesados. Quatro peixes foram utilizados para<br />

análise da composição corporal, três peixes foram coletados<br />

para a análise de composição de minerais das<br />

vertebras e três peixes para a coleta de sangue para as<br />

análises dos parâmetros sanguíneos. Os dados foram<br />

submetidos à análise de variância e em caso de diferenças,<br />

foram comparados pelo teste de Tukey (P <<br />

0,05).<br />

Figura 1. A) Ração extrusada suplementada com fitase líquida; B) Tilápias alimentadas com ração suplementada com 1000<br />

UFA/kg de fitase © Wilson Massamitu Furuya<br />

A<br />

B<br />

SET/OUT 2018<br />

28


Resultados<br />

Observou-se que os peixes alimentados com rações<br />

com 500 a 1500 UFA/kg apresentaram maior ganho de<br />

peso em relação aos peixes que consumiram a ração<br />

sem fitase (Figura 2). Já a conversão alimentar foi melhor<br />

em tilápias que consumiram rações com 1000 e 1500<br />

UFA/kg, em relação aos peixes que consumiram a ração<br />

sem fitase (Figura 3). Um dos sintomas clássicos da deficiência<br />

de fósforo é a maior deposição de gordura na<br />

carcaça e na presente pesquisa observou-se que a suplementação<br />

de 1000 e 1500 UFA/kg r<strong>ed</strong>uziu o teor de<br />

gordura na carcaça, quando comparado ao observado<br />

nos peixes que consumiram a ração sem fitase (Figura<br />

4). Da mesma forma, a suplementação de 1000 UFA/<br />

kg foi suficiente para maximizar a deposição de minerais<br />

na carcaça (Figura 5) e nos ossos. Peixes alimentados<br />

com rações suplementadas com 1000 e 1500 UFA/<br />

kg também apresentaram menores concentrações de<br />

triglicerídeos e colesterol e maiores concentrações de<br />

fósforo plasmático. Destaca-se os efeitos da fitase sobre<br />

a ação da enzima fosfatase alcalina, responsiva aos níveis<br />

de fitase, indicando maior disponibilidade do fósforo em<br />

peixes que consumiram as rações com fitase.<br />

Figura 2. Ganho de peso de juvenis de tilápias alimentados com<br />

rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />

Ganho de peso (g/peixe)<br />

100<br />

80<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

a<br />

a<br />

0 500 1000 1500<br />

Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />

Figura 3. Conversão alimentar de juvenis de tilápias alimentados<br />

com rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />

Conversão alimentar<br />

1,5<br />

1,2<br />

0,9<br />

0,6<br />

0,3<br />

0<br />

a<br />

ab<br />

0 500 1000 1500<br />

Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />

a<br />

b<br />

a<br />

b<br />

Figura 4. Gordura na carcaça de juvenis de tilápias alimentados<br />

com rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />

Gordura na carcaça (%)<br />

7,0<br />

5,5<br />

4,0<br />

2,5<br />

1<br />

a<br />

ab<br />

0 500 1000 1500<br />

Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />

Figura 5. Minerais na carcaça de juvenis de tilápias alimentados<br />

com rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />

Minerais na carcaça (%)<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

b<br />

bc<br />

0 500 1000 1500<br />

Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />

*<br />

Letras distintas indicam diferenças pelo teste de Tukey<br />

(P < 0,05).<br />

ab<br />

Figura 6. Tilápia alimentada com ração deficiente em fósforo e<br />

sem suplementação de fitase.<br />

a<br />

c<br />

a<br />

SET/OUT 2018<br />

29


Perspectivas<br />

A maior parte das rações de tilápias é comercializada<br />

na forma extrusada e a utilização de fitase líquida<br />

após extrusão e secagem permite maior segurança<br />

para garantir a atividade da enzima, considerando as<br />

variações das condições de processamento utilizadas<br />

nas fábricas de rações para peixes.<br />

A utilização de fitase<br />

líquida após extrusão e<br />

secagem permite maior<br />

segurança para garantir a<br />

atividade da enzima.<br />

Com a disponibilidade e menor custo dos alimentos<br />

de origem vegetal, que geralmente possuem menor<br />

custo em relação aos alimentos de origem animal, há<br />

grande interesse em aumentar o nível de inclusão para<br />

r<strong>ed</strong>uzir o custo de produção. No entanto, o fósforo<br />

presente nos alimentos de origem vegetal possui baixa<br />

disponibilidade. Assim, a fitase é uma alternativa para<br />

r<strong>ed</strong>uzir o custo de produção e permitir o adequado<br />

desempenho produtivo e saúde de tilápias.<br />

Nos últimos anos, as tilápias estão sendo desafiadas<br />

para obtenção de máxima performance e são criadas<br />

em altas densidades, sendo importante ferramentas<br />

nutricionais como a fitase que possam contribuir<br />

para melhoria do valor nutritivo das rações e a<br />

sustentabilidade da criação de peixes.<br />

SET/OUT 2018<br />

30


31<br />

SET/OUT 2018


© SloowFood - Punta Del Diablo<br />

SET/OUT 2018<br />

32


Reprodução do molusco<br />

de areia Mesodesma<br />

mactroides (Reeve, 1854)<br />

em laboratório<br />

Juan Jethro Silva Santos*<br />

Luis Alberto Romano<br />

Laboratório de Patologia de Organismos Aquáticos<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande - FURG<br />

Rio Grande, RS<br />

*juanjethrosantos@gmail.com<br />

Juliana Portella Bernardes<br />

Carlos Henrique Araujo de Miranda Gomes<br />

Laboratório de Moluscos Marinhos – LMM<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina – UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

A família Mesodesmatidae está representada<br />

por moluscos de areia que apresentam importância<br />

socioeconômica em diversas regiões do mundo,<br />

sendo apontadas como promissoras para aquicultura<br />

(Silva Santos et al., 2016), como as espécies “toheroa”<br />

Paphies ventricosa e “pipi” Paphies australis da Nova<br />

Zelândia (R<strong>ed</strong>fearn, 1982; Hooker, 1997; Gadomski<br />

et al., 2015) e da “macha” Mesodesma donacium no<br />

Chile e Peru (Uriarte, 2008; Ayerbe et al., 2017).<br />

No decorrer dos anos, pesquisas referentes a estas<br />

espécies estão sendo desenvolvidas, almejando<br />

informações que visem estabelecer protocolos de<br />

cultivo em laboratório (Hooker, 1997; Gadomski et<br />

al., 2015; Ayerbe et al., 2017).<br />

O marisco branco, Mesodesma mactroides (Reeve,<br />

1854), que possui sinônimo científico de Amarilladesma<br />

mactroides (Reeve, 1854), é uma espécie representante<br />

da família Mesodesmatidae, nativa do litoral do<br />

Brasil, Uruguai e Argentina distribuindo-se desde Ilha<br />

Grande, no Rio de Janeiro, até o sul da província<br />

de Buenos Aires, na Argentina (Rios, 1994). Esta<br />

espécie é dióica, sem dimorfismo sexual, e habita de<br />

forma agregada zonas entremarés de praias arenosas<br />

de regimes subtropicais e temperados, podendo<br />

se enterrar até mais de 20 cm de profundidade<br />

(Coscarón, 1959; Bergonci, 2005) (Figura 1).<br />

Estes animais são comercialmente explorados<br />

(Herrmann et al., 2011), assim como outros moluscos<br />

de areia, com extrações baseadas na retirada dos<br />

estoques naturais. Possuindo um valor histórico como<br />

recurso pesqueiro (Coscarón, 1959; McLachlan &<br />

Defeo, 2018), utilizados para alimentação humana<br />

(Figura 2) e para atividades recreativas, como isca de<br />

pesca (Bastida et al., 1991).<br />

SET/OUT 2018<br />

33


Figura 1. Furos na areia característicos da espécie Mesodesma mactroides, provenientes dos dois sifões, inalante e exalante<br />

(A); Pá de corte como ferramenta de extração (B); Espécimes adultos encontrados em profundidades acima de 10 cm (C,D).<br />

© Juan Jethro Silva Santos<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

Figura 2. Exemplos de culinária do marisco branco, Mesodesma mactroides. © Eduardo Nunes<br />

SET/OUT 2018<br />

Atualmente a população de marisco branco<br />

encontra-se drasticamente r<strong>ed</strong>uzida, devido a ação<br />

antrópica vinculada à extração excessiva (Carvalho<br />

et al., 2013a; Carvalho et al., 2013b; Silva Santos<br />

et al., 2016) e devido aos surtos de mortalidades<br />

massivas que vêm acometendo os estoques naturais<br />

desta espécie ao longo da sua distribuição geográfica<br />

(Ortega et al., 2012), cuja real causa das mortalidades<br />

ainda permanece desconhecida.<br />

Desta forma, pesquisas vêm sendo desenvolvidas,<br />

visando o avanço de estratégias e programas de<br />

gestão destes recursos (Gianelli et al., 2015), assim<br />

como, estudos ambientais (Carvalho et al., 2013a;<br />

Carvalho et al., 2013b; Silva Santos et al., 2016)<br />

e laboratoriais (Carvalho et al., 2015a; Carvalho<br />

et al., 2015b; Carvalho et al., 2016). No entanto,<br />

mesmo com diversas informações sobre este animal,<br />

até recentemente não se havia obtido sucesso na<br />

larvicultura do marisco branco em laboratório, passo<br />

importante para o desenvolvimento da aquicultura de<br />

uma nova espécie.<br />

Neste sentido, com o apoio da equipe técnica<br />

e estrutural do Laboratório de Moluscos Marinhos<br />

da Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina – LMM/<br />

UFSC, o objetivo inicial deste estudo foi realizar e<br />

relatar a larvicultura do marisco branco em laboratório,<br />

objetivo no qual se obteve êxito.<br />

34


Trabalho em laboratório<br />

O estudo iniciou-se no começo de 2017, com a coleta<br />

de reprodutores adultos de marisco branco na praia<br />

do Mar Grosso no município de São José do Norte, Rio<br />

Grande do Sul (2°3’10”S 51°59’26”O), onde foram armazenados<br />

e transportados ao LMM/UFSC. A partir disso,<br />

os organismos passaram por processos de aclimatação<br />

e condicionamento em laboratório, visando manter<br />

e ou maturar as gônadas para fins reprodutivos, informações<br />

estas até então desconhecidos para esta espécie.<br />

Esta etapa foi realizada com baldes contendo areia,<br />

temperatura controlada, fluxo contínuo de água e mix<br />

de microalgas para alimentação dos animais (Figura 3).<br />

Figura 3. Estruturas de condicionamento e aclimatação de<br />

reprodutores de marisco branco em laboratório. © Juan Jethro<br />

Silva Santos<br />

Acompanhou-se todo o desenvolvimento embrionário<br />

e larval nesta pesquisa, observando alterações<br />

morfológicas e biométricas, como: divisões celulares e<br />

metamorfoses para larvas trocóforas (Figura 5A), assim<br />

como, m<strong>ed</strong>idas de altura e comprimento, com registros<br />

de imagens ao longo deste período. Desta maneira foi<br />

possível descrever as alterações embrionárias até o estágio<br />

de larva véliger D (Figura 5B), e posteriormente,<br />

com observações estruturais diárias até as larvas estarem<br />

prontas para o assentamento, caracterizando as larvas<br />

p<strong>ed</strong>ivéligers (Figura 5C), finalizando esta primeira larvicultura<br />

desta espécie em 27 dias.<br />

Figura 5. Larva trocófoca (A), larva véliger D (B) e larvas<br />

umbonadas de M. mactroides. © Juan Jethro Silva Santos<br />

A<br />

B<br />

C<br />

Após o período de aclimatação, tentou-se realizar a<br />

desova por meio de indução por temperatura e a técnica<br />

de overnight, no entanto, foi possível apenas pela<br />

técnica de stripping (Helm et al.,2004) (Figura 4). Posteriormente<br />

a larvicultura seguiu-se utilizando adaptações<br />

aos manejos padrões já estabelecidos pelo LMM,<br />

para larvicultura de outras espécies comerciais (exóticas<br />

e nativas), como: Crassostrea gigas, Crassostrea gasar,<br />

Perna perna e Nodipecten Nodosus, com ajustes no sistema<br />

de aeração e alimentação, por exemplo, devido a<br />

falta de informações para o M. mactroides.<br />

Figura 4. Espécimes de M. mactroides maduros, pós<br />

condicionamento e aclimatação, utilizados para desova pela<br />

técnica de “stripping”. Seta indicando o tecido gonadal da<br />

espécie.© Juan Jethro Silva Santos<br />

Larvicultura<br />

A partir deste estudo inicial, foram realizados experimentos<br />

visando o efeito de diferentes variáveis, como:<br />

temperatura, salinidade e dieta, na larvicultura do marisco<br />

branco. Com estas informações tornou-se possível<br />

o estabelecimento dos pontos ótimos de cada variável<br />

analisada para o desenvolvimento embrionário e larval,<br />

contribuindo para o melhor assentamento e desenvolvimento<br />

de sementes desta espécie em laboratório. As sementes,<br />

pós assentamento, foram colocadas em sistemas<br />

adaptados (cilindros e cestos com areia) de downwelling<br />

em laboratório (Figura 6), recebendo alimentação diária<br />

de microalgas, demonstrando adaptação e crescimento<br />

positivos no período de 5 meses que permaneceram<br />

nestas estruturas (Figura 7).<br />

Atualmente estudos estão sendo desenvolvidos com<br />

as sementes proveniente destas etapas de produção, no<br />

qual, foram transportadas e alocadas em estruturas adaptadas<br />

no mar. Processo este que pode diminuir o custo<br />

de produção de manter as sementes em laboratório, visto<br />

que, a produção de microalgas é onerosa e trabalhosa,<br />

podendo custar cerca de 30% da produção de sementes<br />

de bivalves (Rivero-Rodriguez et al., 2007).<br />

SET/OUT 2018<br />

35


Figura 6. Sistema de “downwelling” adaptado com cestas e cilindros com areia para as sementes do marisco branco. © Juan Jethro<br />

Silva Santos<br />

Figura 7. Desenvolvimento das sementes de Mesodesma mactroides em laboratório.© Juan Jethro Silva Santos<br />

SET/OUT 2018<br />

Conclusão<br />

Nesta perspectiva, estes estudos propõem-se em contribuir com informações que visem servir de base<br />

para o desenvolvimento do pacote tecnológico da malacocultura desta espécie, colaborando futuramente para<br />

consolidação, tanto da produção comercial quanto para o repovoamento dos estoques naturais, processos<br />

que já vem acontecendo com representantes da mesma<br />

família do marisco branco Mesodesma mactroides.<br />

36<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos


37<br />

SET/OUT 2018


SET/OUT 2018<br />

38


Garoupas ao<br />

mar: conservação,<br />

crowdfunding e programa<br />

de recompensas para os<br />

apoiadores do projeto<br />

Cláudia Kerber<br />

R<strong>ed</strong>emar Alevinos<br />

Ilhabela, SP<br />

claudiakerber62@gmail.com<br />

O projeto Garoupas ao Mar<br />

Tenho certeza que compartilho com muitos<br />

o sentimento de que aqui no Brasil grande<br />

parte do domínio da produção de peixes<br />

nativos foi realizada através de pesquisas privadas<br />

realizadas nos cultivos e financiadas pelos próprios<br />

aquicultores. Assim também é o nosso trabalho na<br />

R<strong>ed</strong>emar. Fazemos papel de Estado quando fazemos<br />

pesquisa e quando fazemos fomento da atividade.<br />

Há cerca de 2 anos, depois de 10 anos de<br />

pesquisas privadas, conseguimos fechar os protocolos<br />

de produção de alevinos de garoupas e, por se tratar<br />

de uma espécie ameaçada, nos veio a ideia de utilizar<br />

os alevinos em projetos de repovoamento para<br />

recuperar os estoques na natureza.<br />

Pensamos então em várias formas de alavancar um<br />

projeto desta natureza. Primeiramente, montamos<br />

um bom time através de uma associação não<br />

governamental (www.atevi.org.br ), com especialistas<br />

em Genética (LAGOAA), em avaliação do ambiente


SET/OUT 2018<br />

40


marinho (Instituto de Pesca), mergulhadores e biólogos<br />

marinhos, com a anuência da APA Marinha do Litoral<br />

Norte de São Paulo. Mas quem financiaria um projeto<br />

de interesse difuso da coletividade? Ele não interessa<br />

a mim ou a você especificamente, mas à soci<strong>ed</strong>ade<br />

como um todo. E já sabemos que com os recursos<br />

públicos não podemos contar....<br />

Depois de definido o Projeto “Garoupas ao Mar”,<br />

chegamos à conclusão que para arrecadar os fundos<br />

necessários, a melhor opção seria um financiamento<br />

coletivo ou crowdfunding. Um tipo de “vaquinha”<br />

repaginada pela internet. E assim estamos fazendo.<br />

Neste tipo de financiamento coletivo, o indivíduo<br />

que se interessa pela causa entra no site da plataforma<br />

de financiamento, se informa sobre os detalhes do<br />

projeto, escolhe uma recompensa que esteja de<br />

acordo com o valor da sua doação e faz o pagamento<br />

com boleto ou cartão de crédito. Tem recompensa de<br />

certificado de adoção, camiseta, mergulhos e concorre<br />

até a um final de semana em suíte cinco estrelas<br />

no Hotel mais badalado de Ilhabela (DPNY). Mas,<br />

especificamente para nosso setor, chamam a atenção<br />

duas recompensas: Curso de produção de alimento<br />

vivo para larvicultura de peixes marinhos (5 dias hands<br />

on) e Curso de larvicultura de bijupirá (30 dias hands<br />

on). Os cursos serão realizados na R<strong>ed</strong>emar Alevinos<br />

em Ilhabela, SP.<br />

A plataforma recolhe os valores das doações<br />

durante 60 dias e se alguma coisa der errado na<br />

campanha ela devolve o dinheiro ao doador. Se tudo<br />

ocorrer como esperado este valor é transferido para o<br />

Projeto e ele se inicia.<br />

Justificativa do projeto<br />

A justificativa do repovoamento foi baseada no fato<br />

de que as populações marinhas estão declinando em<br />

todo o mundo. As três principais abordagens para evitar<br />

o esgotamento dos estoques são controlar os esforços<br />

de pesca (cotas de pesca, limitação de tamanho de<br />

captura, especificação de petrechos), garantir os<br />

locais e períodos de reprodução (defesos, áreas de<br />

proteção ambiental) e aumentar a população através<br />

de programas de repovoamento. Os dois primeiros<br />

métodos formam a base das políticas públicas para a<br />

conservação das espécies marinhas no Brasil e impõe<br />

sérias restrições à pesca artesanal. A terceira opção,<br />

o repovoamento, é muito popular em outros países<br />

e permite restabelecer a biomassa de reprodutores e<br />

acelerar a recuperação dos estoques assegurando a<br />

sobrevivências de espécies ameaçadas (Blankensip e<br />

Leber 1995), (Tessier, et al. 2012). O repovoamento<br />

de espécies marinhas tem sido utilizado desde o Século<br />

19 e, no Japão, o programa nacional de recuperação<br />

dos estoques pesqueiros, envolve mais de 80 espécies<br />

de peixes, moluscos e crustáceos. No Mar Cáspio,<br />

são criados e soltos anualmente mais de 12 milhões<br />

de juvenis de espécies de esturjão nativo (Acipenser<br />

persicus) que sustentam praticamente toda a indústria<br />

do caviar. Também são produzidos alevinos de outras<br />

espécies locais (Bartley e Bell 2008). Enfim, é uma<br />

estratégia muito utilizada em outros países.<br />

A escolha da espécie (Epinephelus marginatus)<br />

atendeu a três justificativas:<br />

A espécie é listada na R<strong>ed</strong> List da IUCN<br />

como ameaçada de extinção (A2d). No<br />

Brasil foi incluída na Lista de Recursos do<br />

MMA como sobre explotada (IN 05/2004) e também<br />

consta como sobre explotada no Decreto Estadual Nº<br />

56.031/2010 que define as espécies da fauna silvestre<br />

ameaçadas, colapsadas e sobre explotadas no estado<br />

de São Paulo. Atualmente é protegida pela Portaria<br />

MMA 445/20<strong>14</strong> na categoria Vulnerável, e já existe um<br />

Plano de Recuperação instituído pelo MMA (Portaria<br />

228/2018) cuja pesca é regulamentada pela Portaria IM<br />

41/2018;<br />

A importância ecológica de algumas espécies<br />

pr<strong>ed</strong>adores de topo de cadeia<br />

como a garoupa verdadeira está também<br />

no fato de exercerem alta influência na densidade de<br />

suas presas e na estrutura da comunidade de fauna<br />

(Anderson, et al. 20<strong>14</strong>), o que a torna importante na<br />

regulação e equilíbrio de comunidades em ambientes<br />

coralíneos (Tessier, et al. 2012);<br />

Tem hábitos s<strong>ed</strong>entários e estudos sobre<br />

a movimentação dela demonstram que<br />

permanecem em territórios pequenos,<br />

distintos e individuais (Koeck, et al. 20<strong>14</strong>) de 1500 m²<br />

até 2 ha (Astruch e Dalias 2007) viabilizando o monitoramento<br />

através de Censos Visuais.<br />

SET/OUT 2018<br />

41


No Brasil, uma iniciativa pioneira foi o projeto<br />

“Repovoamento do Litoral do Paraná com Alevinos de<br />

Robalo” que previa a produção de alevinos pelo Centro<br />

de Produção e Propagação de Organismos Marinhos<br />

(CPPOM) da Pontifícia Universidade<br />

Católica do Paraná com recursos da<br />

Secretaria de Ciência, Tecnologia e<br />

Ensino Superior/Fundo Paraná.<br />

O projeto colocou cerca de<br />

um milhão de larvas e 300<br />

mil alevinos de robalo nas<br />

baias do litoral paranaense<br />

em 2006-2007. Uma das<br />

críticas que se fez a esta<br />

iniciativa foi a fragilidade do<br />

monitoramento.<br />

Ao desenvolver ações de<br />

repovoamento, é primordial<br />

que as formas jovens tenham<br />

boa diversidade genética e<br />

sejam saudáveis garantindo que<br />

os alevinos a serem introduzidos não<br />

causem modificação da constituição genética<br />

da população selvagem. Essencial ainda que se aplique<br />

o monitoramento. O Projeto Garoupas ao Mar busca<br />

a recuperação dos estoques da Garoupa Verdadeira<br />

da APA Marinha do Litoral Norte de São Paulo através<br />

soltura, análise genética e monitoramento.<br />

Faça sua doação<br />

Todos nós, aquicultores, já fazemos a nossa parte<br />

na conservação dos oceanos ao oferecer ao mercado<br />

peixe para consumo, poupando os estoques naturais.<br />

Além disso, só a aquicultura é capaz de fornecer<br />

as formas jovens de espécies ameaçadas<br />

que são a base dos programas<br />

de repovoamento. Mas ainda assim,<br />

extinção é para sempre e não<br />

queremos que nossos filhos só<br />

conheçam a garoupa através da<br />

nossa nota de 100 reais, não é?<br />

Chego ao fim deste artigo convidando<br />

os colegas aquicultores<br />

a fazerem uma doação para<br />

este importante projeto até<br />

o dia 30 de novembro através<br />

da plataforma de financiamento:<br />

www.kickante.com.br/campanhas/<br />

garoupas-ao-mar na certeza de que<br />

isso também reforçará no grande público<br />

a reflexão sobre a grande importância da<br />

Aquicultura na conservação do Meio Ambiente.<br />

Consulte as referências bibliográficas em<br />

www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />

SET/OUT 2018<br />

Ajudamos você a vender seu peixe.<br />

42<br />

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gastronomia, no turismo e<br />

nos mercados nacionais e<br />

internacionais.<br />

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Cuiabá • MT<br />

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SET/OUT 2018<br />

O Sebrae em Mato Grosso é signatário do<br />

Pacto Global e trabalha comprometido com<br />

a agenda 2030 e com os Objetivos de<br />

Desenvolvimento Sustentável (ODS).<br />

Conra programação no<br />

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Mais informações:<br />

43<br />

0800 570 0800


SET/OUT 2018<br />

44


INVE do Brasil em ação:<br />

Uma visita ao nosso<br />

cliente Ambar Amaral<br />

Nosso cliente, Grupo<br />

Ambar Amaral, é um<br />

produtor integrado de<br />

tilápia com centro de produção de<br />

alevinos e juvenis, fazendas e uma<br />

moderna fábrica de ração em Santa<br />

Fé do Sul, estado de São Paulo,<br />

no Brasil. Dando continuidade à<br />

nossa longa relação e colaboração,<br />

a equipe da INVE Aquaculture visitou<br />

o local de produção da Ambar<br />

Amaral no primeiro semestre de<br />

2018 para avaliar e dar continuidade<br />

a nossa metodologia de trabalho<br />

conjunta visando a produção<br />

sustentável de tilápia premium com<br />

valor agregado, que a Ambar Amaral<br />

atualmente vende ao varejo<br />

com a marca “Brazilian Fish”.<br />

O Grupo<br />

Ambar Amaral e a<br />

INVE Aquaculture<br />

continuam a apoiar o<br />

cultivo sustentável de<br />

tilápia no Brasil.<br />

Parte desta colaboração é a<br />

incorporação dos probióticos da<br />

Inve Aquaculture nas rações de<br />

tilápia premium do Grupo Ambar<br />

Amaral, comercializados com a<br />

marca Raguife Rações. O presidente<br />

da Raguife, Felipe Amaral,<br />

confirmou que vê a parceria com<br />

a INVE Aquaculture como sendo<br />

de grande relevância para os objetivos<br />

de sua empresa em liderar<br />

o mercado, sendo referência<br />

na produção de proteínas de alta<br />

qualidade oriundas de produtores<br />

responsáveis, e para desenvolver<br />

continuamente alimentos<br />

inovadores e saudáveis entregues<br />

ao consumidor final.<br />

SET/OUT 2018<br />

45


Ao incorporar a solução inovadora da INVE Aquaculture à nossa linha de Rações Plus-<br />

Premium, visamos agregar valor à nossa ração apoiando a lucratividade dos produtores<br />

e aumentado a qualidade de seus produtos. Esses probióticos estão agora incorporados<br />

a quase 40% da nossa produção total. Muitos de nossos clientes confirmaram sua<br />

satisfação em poder cultivar seus peixes com altíssima competência.<br />

Felipe Amaral - Grupo Ambar Amaral<br />

Nem precisa dizer que o Grupo Ambar Amaral pratica o que prega, e usa consistentemente os probióticos da<br />

INVE Aquaculture em seus próprios cultivo.<br />

SET/OUT 2018<br />

No passado, costumávamos fazer um rodízio dos locais das<br />

nossas gaiolas de tilápia a fim de evitar a diminuição de<br />

desempenho dos peixes devido a r<strong>ed</strong>ução da qualidade da<br />

água. Desde que começamos a usar o probiótico Sanolife®<br />

PRO-F FMC da INVE Aquaculture, podemos manter<br />

resultados de longo prazo sem ter que recorrer a essa prática.<br />

Estamos certos de que essa estratégia vai continuar nos<br />

ajudando a manter o desempenho e a qualidade ambiental<br />

tanto nos locais de nossas gaiolas quanto nos nossos<br />

reservatórios de água.<br />

Felipe Amaral - Grupo Ambar Amaral<br />

46


47<br />

SET/OUT 2018


SET/OUT 2018<br />

48


Cooperativa de Pesca<br />

e Aquicultura de Goiás<br />

(COOPAQ) – Parte IV:<br />

a microbiologia como nossa<br />

aliada<br />

Raimundo Lima da Silva Junior<br />

Biomédico, Mestre em Biologia<br />

Núcleo de Pesquisas Replicon, Escola de Ciências Agrárias e Biológicas<br />

Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC,GO)<br />

Presidente e Sócio Fundador da Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ)<br />

railim.jr@gmail.com<br />

No terceiro artigo desta série (publicado na<br />

<strong>ed</strong>ição nº 12, maio/junho 2018), relatou-se<br />

como o excesso de sólidos pode comprometer<br />

os aspectos físico-químicos, zootécnicos e econômicos<br />

dos sistemas superintensivos. Diante deste cenário,<br />

a microbiologia tornou-se a principal aliada para o<br />

entendimento e funcionamento de todo sistema. Para<br />

explanar um pouco melhor sobre este entendimento,<br />

dividimos o assunto em dois artigos (4º e 5º da série).<br />

O primeiro mostrará como é possível obter bioflocos<br />

heterotróficos em poucos dias, e o segundo, como controlamos<br />

o nitrito de forma direta e eficiente no sistema<br />

BRASYS (Biofloc, RAS and Aquaponics System).<br />

Entendendo a comunidade microbiana<br />

No artigo anterior, explanou-se a importância do<br />

controle do volume de sólidos no cultivo de tilápias em<br />

sistemas superintensivos, que adotam o bioflocos como<br />

o cerne de controle dos elementos nitrogenados. Entretanto,<br />

o estudo dos ciclos biogeoquímicos do nitrogênio<br />

e carbono permite compreender e modular a síntese<br />

de polímeros orgânicos, como os polihidroxialcanoatos<br />

(PHAs) (Figura 1). Este composto é inerente em vesículas<br />

de acúmulo de reserva energética nas bactérias heterotróficas,<br />

como o Bacillus subtilis (Babel et al. 2001).<br />

A maioria dos probióticos disponíveis no mercado possuem<br />

esta bactéria como ingr<strong>ed</strong>iente principal no cultivo<br />

de bioflocos.<br />

Os PHAs podem representar cerca de 80% da matéria<br />

seca das bactérias e até 16% do peso seco do bioflocos<br />

(Schryver et al. 2012). A síntese deste polímero<br />

pelas bactérias heterotróficas depende diretamente da<br />

disponibilidade de fonte de amônia e carbono orgânico,<br />

cujo produto é armazenado no citoplasma bacteriano.<br />

A equação estequiométrica da síntese deste composto<br />

é representada por (Ebeling et al., 2006): NH 4<br />

+<br />

+<br />

1,18C 6<br />

H 12<br />

O 6<br />

(carbono orgânico) + HCO 3<br />

-<br />

+ 2,06O 2<br />

-> C 5<br />

H 7<br />

O 2<br />

N (PHA) + 6,06H 2<br />

O + 3,07CO 2<br />

. Convertendo<br />

de mols para gramas, para assimilar 1g de nitrogênio-amoniacal<br />

são necessários 15,17g de carboidrato<br />

(carbono orgânico), 3,57g de bicarbonatos (alcalinidade)<br />

e 4,71g de oxigênio. Com isso, são produzidos 8,07g<br />

de biomassa bacteriana e 9,65g de gás carbônico.<br />

Neste contexto, a amônia oriunda das excretas dos<br />

animais cultivados e da degradação da matéria orgânica<br />

presente na água de cultivo destina-se a síntese de<br />

biomassa bacteriana (PHA), desde que os parâmetros<br />

físico-químicos estejam adequados. Esta biomassa, de<br />

forma suplementar, serve de alimento para os animais,<br />

uma vez que possui alto teor de proteína microbiana,<br />

como podemos confirmar com a análise por espectrofotometria<br />

(espectrofotômetro de bolso SCiO®).<br />

SET/OUT 2018<br />

49


Figura 1. Fórmula química geral dos PHAs.<br />

Figura 2. Rotas metabólica da síntese de PHA a partir de ácido graxo<br />

e carboidrato. Adaptado de Babel y Steinbüchel (2001).<br />

SET/OUT 2018<br />

Contudo, com o ganho de peso dos animais e, consequentemente,<br />

com a maior oferta de ração ao longo<br />

do cultivo, a síntese de biomassa bacteriana tornou-se<br />

uma constante preocupação no dia a dia do produtor. O<br />

excesso de matéria orgânica no tanque de cultivo é um<br />

fator limitante para o sucesso da produção (Hargreaves,<br />

2006). Entre os principais fatores se destacam: aumento<br />

no consumo de oxigênio, com maior demanda energética<br />

dos aeradores; competição nutricional com a ração<br />

comercial, gerando “saci<strong>ed</strong>ade”; possível obstrução das<br />

brânquias dos animais cultivados; e consumo exacerbado<br />

de carbonatos para reposição da alcalinidade requerida.<br />

Todos estes fatores, quando controlados, podem<br />

contribuir para uma maior rentabilidade do cultivo. Esta<br />

questão foi demonstrada no relato das produções de tilápias<br />

pelo sistema BRASYS, no último artigo desta série.<br />

Entendo a rota metabólica de síntese do<br />

PHA<br />

Os PHAs foram descobertos entre 1923 e 1927,<br />

quando o microbiologista francês Lemoigne observou<br />

inclusões no citoplasma de uma bacteria (Azotobacter<br />

chroococcum) (Laycock et al., 2013). A natureza química<br />

destes compostos são poliésteres de hidroxialcanoatos<br />

sintetizados por diversos microrganismos, principalmente<br />

bactérias, como forma de acumular reservas de energia<br />

e carbono intracelular no seu citoplasma, quando em<br />

condições de excesso da fonte de carbono. Outros microorganismos<br />

também são capazer de produzir PHA,<br />

sendo estes mais de 300 tipos com a capacidade de sintetizar<br />

este polímero (Coats et al., 2011). A biossíntese<br />

de PHA pode ser descrita em quatro vias metabólicas<br />

principais, porém, exige uma série de reações enzimáticas,<br />

dependentes de cofatores e coenzimas, que auxiliam<br />

na conversão de elementos nitrogenados inorgânicos<br />

em um elemento orgânico: PHA. Todas estas vias<br />

metabólicas passam pela acetilcoenzima A (Acetil-CoA),<br />

que é um composto interm<strong>ed</strong>iário chave no metabolismo<br />

celular na oxidação total de moléculas orgânicas<br />

como o carboidratos, proteínas e lipídios (Figura 2). Trata-se<br />

de vias metabólicas semelhantes que ocorrem em<br />

diversos organismos, inclusive a de humanos. Em todas<br />

estas usa-se o carbono oriundo de fontes orgânicas, com<br />

o consumo de O 2<br />

.<br />

BFT Coopaq<br />

O metabolismo do PHA pode ser regulado em diferentes<br />

níveis. Pode-se ativar a expressão gênica da enzima<br />

PHA sintase em condições específicas, como na falta<br />

50<br />

de algum nutriente; por parte de metabólitos; na inibição<br />

por parte de enzimas provenientes de vias metabólicas<br />

competidoras, sendo que este conhecimento pode direcionar<br />

para a síntese de PHA (Kessler & Witholt, 1998).<br />

Aplicando um protocolo próprio para o start do bioflocos,<br />

simplificamos todo este processo utilizando elementos<br />

básicos: sal amoníaco, bicarbonato de sódio, probiótico<br />

a base de B. subtilis e carboidrato (dextrose ou açúcar<br />

mascavo). Desta forma, utilizando ingr<strong>ed</strong>ientes simples e<br />

nas dosagens corretas é possível sintetizar PHAs (Figura<br />

3). Diversos protocolos foram testados e o controle de<br />

nitrogenados foi possível em todos os testes realizados.<br />

Tais protocolos permitiram r<strong>ed</strong>uzir consideravelmente,<br />

o tempo de exposição à amônia e, consequentemente,<br />

r<strong>ed</strong>uzir a mortalidade e aumentar a densidade de<br />

animais por m³ de forma segura e controlada. Porém,<br />

outro nitrogenado tornou-se o maior vilão nos tanques<br />

de cultivo em sistemas hiperintesivos: nitrito. No próximo<br />

artigo iremos abordar como a Nitrossomonas sp. se<br />

transformou no maior vilão no controle de nitrogenados<br />

em sistema de<br />

produção aquícola.<br />

Aguardamos<br />

vocês!<br />

Figura 3. Cone<br />

Imhoff m<strong>ed</strong>indo<br />

volume de bioflocos:<br />

a) Bioflocos<br />

obtido a partir sal<br />

amoníaco (cloreto<br />

de amônio) com<br />

açúcar mascavo; b)<br />

Bioflocos obtido a<br />

partir da ureia com<br />

açúcar cristal.


RAISING LIFE<br />

Uma série d<strong>ed</strong>icada de soluções inovadoras para a aquicultura:<br />

Fração parietal premium<br />

rica em ingr<strong>ed</strong>ientes ativos<br />

Lev<strong>ed</strong>ura premium rica<br />

em selênio orgânico<br />

Fonte alternativa de proteína<br />

com propri<strong>ed</strong>ades funcionais<br />

Concentrado de lev<strong>ed</strong>uras<br />

vivas<br />

NADA É MAIS PRECIOSO QUE A VIDA, E ESTA É A FILOSOFIA QUE CONDUZ A PHILEO.<br />

Como a população global continua a crescer, o mundo enfrenta uma crescente demanda por alimentos<br />

e maiores desafios de sustentabilidade.<br />

Trabalhando na inter-relação entre nutrição e saúde, nos comprometemos em fornecer futuras soluções<br />

embasadas em evidências científicas que melhorem a saúde e o desempenho animal.<br />

Individualmente e em todos os países, o progresso de nosso time é liderado pelos mais avançados resultados<br />

científicos, assim como pela contribuição de experientes produtores.<br />

SET/OUT 2018<br />

vendas@phileo.lesaffre.com<br />

phileo-lesaffre.com<br />

51


Nitrogen transformations in aquaponic systems: A<br />

review<br />

Autores: Sumeth Wongkiew, Zhen Hu, Kartik Chandran, Jae WooLee & Samir Kumar Khanala<br />

Na lista dos mais citados da Aquacultural Engineering, o artigo “Nitrogen<br />

transformations in aquaponic systems: A review” foi publicado por pesquisadores<br />

das universidades norte-americanas do Havaí e Columbia, além da Universidade do<br />

Shandong, China, em 2017 (v. 76, jan/17, p. 9-19).<br />

Principais pontos do artigo:<br />

As espécies de nitrogênio nos sistemas aquapônicos são transformadas em<br />

vários compostos primários via processos bioquímicos;<br />

Os principais fatores que afetam a transformação do nitrogênio na aquaponia<br />

são o pH, oxigênio dissolvido, hidráulica do sistema, concentrações de amônia<br />

e nitrito, e relação C:N;<br />

Modelos estão sendo desenvolvidos para ilustrar a formação de nitrato e a<br />

tomada de nitrogênio pelas plantas nos sistemas aquapônicos.<br />

SET/OUT 2018<br />

52<br />

Figura 1. Sistema Aquapônico<br />

com diferentes estruturas para<br />

o cultivo das plantas. a) NFT;<br />

b) Floating; c) Mídias (argila<br />

expandida, por exemplo).


FUNCIONÁRIO APLICADO<br />

Esse peixe é truta<br />

SET/OUT 2018<br />

53


SET/OUT 2018<br />

Roberto Bianchini Derner<br />

Laboratório de Cultivo de Algas<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina - UFSC<br />

Florianópolis, SC<br />

roberto.derner@ufsc.br<br />

Estudo bibliométrico sobre as pesquisas em<br />

biotecnologia de microalgas<br />

Na coluna desta <strong>ed</strong>ição vamos explorar as informações<br />

contidas em um interessante artigo<br />

de revisão (Garrido-Cardenas et al, 2018; referência<br />

no final do texto), publicado recentemente na <strong>Revista</strong><br />

Algal Research, que trata da evolução e das tendências<br />

mundiais das pesquisas com microalgas, analisadas com<br />

base em um estudo bibliométrico, assim, todas as informações<br />

apresentadas nesta Coluna foram extraídas<br />

do artigo.<br />

Neste estudo, os autores determinaram o número<br />

de publicações e sua distribuição, bem como, os periódicos<br />

e as palavras-chave mais relevantes. O estudo<br />

bibliométrico foi desenvolvido com as informações do<br />

banco de dados Elsevier Scopus, utilizando a palavra<br />

microalga para a consulta.<br />

Na Figura 1 são apresentados os dados referentes<br />

ao número de publicações entre 1970 e 2017, sendo<br />

possível observar dois períodos distintos: no primeiro<br />

momento (1970 – 2005) houve um gradativo aumento<br />

no número de publicações a cada ano, enquanto,<br />

no segundo momento (2005 – 2017) ocorreu um<br />

crescimento vertiginoso, chegando a mais de 2.700<br />

publicações em 2017, sendo este um execelente indicador<br />

da importância das microalgas no cenário atual<br />

da pesquisa científica. Os autores atribuem este crescimento<br />

ao aumento da demanda do mercado por<br />

produtos de microalgas e pela consequente expansão<br />

no número de instalações de cultivo para a pesquisa<br />

e produção comercial. Das publicações, 81,45% são<br />

artigos publicados, 6,46% são trabalhos de eventos,<br />

5,88% são revisões, 2,60% são capítulos de livro,<br />

1,99% são artigos em processo de publicação e o<br />

restante são outros tipo de publicações. Os trabalhos<br />

foram publicados principalmente nos periódicos Bioresource<br />

Technology e Algal Research, mas também no<br />

Journal of Appli<strong>ed</strong> Phycology, Aquaculture, Journal of<br />

Phycology, Marine Ecology Progress Series e Journal<br />

of Experimental Marine Biology and Ecology. Pr<strong>ed</strong>ominantemente<br />

os trabalhos foram publicados em inglês<br />

(95,20%), porém, também em chinês (1,79%),<br />

espanhol (1,06%), francês (0,5%) e em outras línguas,<br />

sendo 0,40% em português. Em relação aos países,<br />

os Estados Unidos lideram em número de publicações<br />

(3.615), seguidos pela China (3.005), Espanha (1.593),<br />

França (1.456), Índia (1.206), Austrália (1.191), Alemanha<br />

(1.<strong>14</strong>5) e outros. Entretanto, ao normalizar o número<br />

de publicações pelo número de habitantes de<br />

cada país, a Austrália lidera este ranking (48,33 publicações<br />

por milhão de habitantes), seguida da Espanha<br />

(34,58) e França (22,42), ficando os Estados Unidos e<br />

a China em sétima e nona posições, respectivamente.<br />

Também foi evidenciado que grande parte dos artigos<br />

foi desenvolvida em trabalhos colaborativos entre as<br />

instituições de pesquisa dos diversos países.<br />

Na Figura 2 são apresentadas as palavras-chave<br />

mais empregadas nas publicações (somente aquelas<br />

que aparecem em pelo menos 1.000 artigos) e, estas<br />

incluem principalmente termos relacionados com as<br />

aplicações das microalgas como biomassa, biocombustível<br />

ou lipídios, além de outros relacionados com o organismo<br />

estudado, tais como, Chlorella ou Alga verde<br />

(Chlorophyta), e alguns relacionados à metodologia de<br />

cultivo, como Biorreator.<br />

O estudo também apresenta os sete gêneros de<br />

microalgas mais frequentemente empregados nas palavras-chave<br />

dos trabalhos produzidos nos dez países<br />

com maior número de publicações (Figura 3). Notadamente,<br />

o interesse por cada gênero não é o mesmo<br />

nos países, assim, pode ser visualizado que Chlamydomonas<br />

e Nannochloropsis são mais estudados nos EUA,<br />

enquanto Chlorella e Scen<strong>ed</strong>esmus são estudados principalmente<br />

na China e Phaeodactylum e Isochrysis na<br />

Espanha. Curiosamente, Spirulina, o sétimo gênero<br />

mais presente na literatura, não é uma das microalgas<br />

mais estudadas em nenhum dos dez países com maior<br />

número de publicações nessa área, porém, é o gênero<br />

mais comum nos estudos desenvolvidos no Brasil.<br />

Como conclusões, os autores apontam que a Bio-<br />

54


BIOTECNOLOGIA DE<br />

ALGAS<br />

tecnologia de Microalgas é um campo muito ativo; que<br />

nos últimos anos a produtividade científica aumentou<br />

exponencialmente em conjunto com a produção industrial;<br />

e que, nos próximos anos é esperado um aumento<br />

do número de publicações com o desenvolvimento<br />

de estudos com outros gêneros ainda não amplamente<br />

presentes na literatura científica.<br />

Garrido-Cardenas, Jose Antonio et al. Microalgae research worldwide.<br />

Algal Research, [s.l.], v. 35, p.50-60, nov. 2018. Elsevier BV. http://dx.doi.<br />

org/10.1016/j.algal.2018.08.005. Disponível em: . Acesso em: 23 out. 2018.<br />

3000<br />

2500<br />

Número de publicações<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

0<br />

1967 1972 1977 1982 1987 1992 1997 2002 2002 2012 2017<br />

Figura 1.<br />

Número de publicações<br />

entre 1970 e 2017.<br />

4500<br />

Número de publicações<br />

Número de publicações<br />

4000<br />

3500<br />

3000<br />

2500<br />

2000<br />

1500<br />

1000<br />

500<br />

0<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

Chlorella<br />

Biomassa<br />

Biocombustível<br />

Biorreator<br />

Chlamydomonas<br />

Lipídios<br />

Alga verde (Clorófita)<br />

Scen<strong>ed</strong>esmus<br />

Chlorella<br />

Ácidos gráxos<br />

Nannochlopsys<br />

Biodiesel<br />

Cianobactéria<br />

Fotossíntese<br />

Phaeodactylum<br />

Diatomácea<br />

EUA<br />

Espanha<br />

Austrália<br />

Japão<br />

Índia<br />

Dióxido de carbono<br />

Isochrysis<br />

Nitrogênio<br />

Fitoplâncton<br />

China<br />

França<br />

Alemanha<br />

Reino Unido<br />

Coreia do Sul<br />

Spirulina<br />

Figura 2.<br />

Principais palavraschave<br />

encontradas nas<br />

publicações.<br />

Figura 3.<br />

Representação do<br />

número de publicações<br />

relacionadas a cada<br />

gênero e a cada país.<br />

55<br />

SET/OUT 2018


Fábio Rosa Sussel<br />

SET/OUT 2018<br />

RAS Outdoor<br />

Pesquisador Científico da APTA - UPD<br />

Pirassununga, SP<br />

sussel@apta.sp.gov.br<br />

Seja água doce ou salgada, esta é uma tendência<br />

sem volta na aquicultura brasileira. Com um<br />

detalhe: colocando de vez a proteína aquática como a<br />

forma mais eficiente e sustentável de se produzir alimentos.<br />

Produção sustentável em baixas densidades?<br />

Não! Trata-se de criações intensivas e super intensivas.<br />

Diferente dos sistemas de recirculação indoor onde<br />

necessariamente se trabalha com uma estrutura de<br />

biofiltragem (filtro biológico composto por mídias<br />

para fixação das bactérias nitrificantes), a recirculação<br />

outdoor dispensa o uso de tais mídias. Os flocos de<br />

microrganismos que naturalmente se formam são suficientes<br />

para a fixação das bactérias nitrificantes.<br />

A proposta do tal sistema, em poucas palavras, é<br />

explorar ao máximo o recurso hídrico sem descartá-lo<br />

ao meio ambiente. A água utilizada num viveiro<br />

de produção vai para lagoas de decantação ou canais<br />

de drenagem onde, após ser tratada com aeração e<br />

probióticos, volta para os viveiros de produção. Sabe<br />

aquele nitrogênio amoniacal que todo produtor quer<br />

se ver livre? Pois então, custou caro (ração) para ser<br />

adicionado ao sistema. Se proporcionamos algumas<br />

condições mínimas, o próprio ambiente transforma-o<br />

em nitrito e depois em nitrato, sendo este último pouco<br />

tóxico para os peixes e camarões.<br />

Além de pouco tóxico, o nitrato é a base para uma<br />

produtividade primária eficiente, passando de nutriente<br />

para alimento natural. Ganha-se ainda uma água<br />

com outras características químicas desejáveis, especialmente<br />

no que tange a alcalinidade e dureza, proporcionando<br />

um ambiente de produção com maior<br />

poder tamponante.<br />

Ah, legal! Algo futurista! Muito interessante quando<br />

isto for realidade na nossa aquicultura ... Não é futurista<br />

não, já é realidade em nossa atividade. Algumas<br />

produções na água doce, outras em água salgada, uns<br />

mais tecnificados, outros mais simples, mas já temos<br />

vários exemplos de como isto é possível. Na prática,<br />

diferem entre si. Mas o princípio é o mesmo.<br />

O camarão marinho é o campeão de eficiência<br />

produtiva e formas diferentes do conceito RAS outdoor.<br />

Tem produções com captação de água oceânica,<br />

água de mangue, do subsolo junto ao litoral, do subsolo<br />

no interior e até água doce salinizada conforme<br />

o balanço iônico que a espécie demanda. Todos sem<br />

descarte de água! Na piscicultura de água doce o movimento<br />

ainda é tímido, mas já estão entendendo a<br />

mensagem que aquilo que outrora fora um problema<br />

(nitrogênio amoniacal), hoje é a solução.<br />

A tilapicultura em tanques escavados no Oeste do<br />

Paraná é o exemplo mais clássico em água doce. A<br />

produção de tambaquis no norte do pais, onde se preconiza<br />

o uso da água de um viveiro para outro, vem<br />

logo atrás. São sistemas diferentes de produção, mas<br />

com os mesmos princípios. No caso da produção de<br />

tambaquis o movimento que se observa para o aumento<br />

da produção ainda é o de abrir mais viveiros,<br />

enquanto que, aparentemente, o mais lógico seria intensificar<br />

a produção por meio do uso de aeradores e<br />

probióticos. Até porque o tambaqui responde bem ao<br />

consumo de alimento natural.<br />

Não existe uma regra para se praticar o RAS outdoor.<br />

Existe um conceito, muito simples por sinal. Dois<br />

fatores são imprescindíveis para tal proposta: oxigênio<br />

e bactérias nitrificantes. Oxigênio para os peixes e camarões?<br />

NÃO! Oxigênio para as bactérias benéficas.<br />

Atendendo as necessidades em oxigênio delas, certamente<br />

os animais de produção também terão suas necessidades<br />

atendidas. É relativamente simples trabalhar<br />

em harmonia com um sistema aquático de produção:<br />

na presença de oxigênio e bactérias nitrificantes, tudo<br />

entra em um círculo vicioso positivo. Na ausência destes,<br />

o círculo vicioso é negativo.<br />

56


NUTRIÇÃO<br />

Artur Nishioka Rombenso<br />

CSIRO – Austrália<br />

IPEMAR – Brasil<br />

Ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente modificados:<br />

a favor ou contra a tendência dos alimentos aquícolas?<br />

avanço na tecnologia genética já é realidade<br />

O em alguns setores aquícolas e no geral podese<br />

dizer que contribui para a expansão da atividade.<br />

Claro que esse tópico é bastante controverso, porém<br />

nesse artigo não entrarei nesses méritos. Em termos<br />

de nutrição, o desenvolvimento de ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

geneticamente modificados busca solucionar a<br />

dependência de ingr<strong>ed</strong>ientes de origem marinha como<br />

a farinha e o óleo de peixe. Alguns exemplos são:<br />

1. Fontes proteicas vegetais com melhores<br />

perfis de aminoácidos e menores fatores<br />

antinutricionais;<br />

2 Óleos vegetais com diferentes perfis de<br />

ácidos graxos e ricos em ácidos graxos chaves<br />

como DHA e EPA;<br />

3 Farinhas ou óleos de algas ricas em<br />

nutrientes chaves.<br />

Existem inúmeros trabalhos publicados sobre<br />

ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente modificados, inclusive em<br />

várias espécies de peixes, e no geral os resultados são<br />

promissores. Alguns desses ingr<strong>ed</strong>ientes ainda estão<br />

em estágios de experimentação e validação, enquanto<br />

outros já são bastante utilizados nas dietas comerciais.<br />

A soja é um grande exemplo de um ingr<strong>ed</strong>iente<br />

geneticamente modificado e esse fato, na maioria das<br />

vezes, passa despercebido. Ou seja, não existe uma<br />

cautela sobre o uso de soja em dietas aquícolas pelo<br />

fato de ser geneticamente modificada. Porém, isso não<br />

ocorre com outros ingr<strong>ed</strong>ientes, principalmente os<br />

mais recentes. Algo interessante, pois o foco está em<br />

alguns produtos que contêm nutrientes chaves como é<br />

o caso dos óleos vegetais e dos derivados de algas ou<br />

farinha de alga ricas em DHA e EPA.<br />

Gostaria de ressaltar que existe também uma<br />

nova vertente de dietas livres de qualquer ingr<strong>ed</strong>iente<br />

geneticamente modificado. Algumas empresas já<br />

artur.rombenso@csiro.au<br />

*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições<br />

vinculadas ao mesmo.<br />

aderem a essa linha e aparentemente existe um<br />

mercado promissor e em expansão. Agora vem a<br />

grande pergunta: será que estamos indo na direção<br />

correta buscando ingr<strong>ed</strong>ientes “otimizados” para<br />

dietas aquícolas através da engenharia genética? Será<br />

que, quando chegarmos no ingr<strong>ed</strong>iente ideal, esse<br />

será utilizado nas dietas? Vale a pena a reflexão, pois é<br />

crescente o interesse em saber a origem dos ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

utilizados nos produtos que iremos consumir. Assim,<br />

num futuro próximo, pode ocorrer uma grande<br />

mudança de rumo em relação à demanda de produtos/<br />

ingr<strong>ed</strong>ientes que não usam ou foram alimentados<br />

com ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente modificados. Em<br />

outras palavras, crescerá a demanda por ingr<strong>ed</strong>ientes<br />

que não são geneticamente modificados e também<br />

por peixes que não foram alimentados com esses<br />

ingr<strong>ed</strong>ientes. Na verdade, acr<strong>ed</strong>ito que haverá uma<br />

distinção de produtos, ou seja, existirão os produtos<br />

que são alimentados com ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente<br />

modificados e outros que não. Esses últimos consistirão<br />

em um produto com um valor agregado maior, fato<br />

que pode ser interessante para o produtor.<br />

O intuito dessa coluna foi trazer um tema atual que<br />

estará em debate nos próximos anos e quem sabe<br />

moldará parte do futuro da nutrição aquícola.<br />

SET/OUT 2018<br />

57


SET/OUT 2018<br />

58<br />

Rodolfo Luis Petersen<br />

Para qualquer área do conhecimento humano,<br />

um programa de melhoramento significa ajustar<br />

algum aspecto de um determinado processo em uma<br />

determinada circunstância para a obtenção de um resultado<br />

desejado. Sendo assim, em nosso caso, seria<br />

melhorar os indices zootécnicos através de um programa<br />

de seleção e cruzamentos, para um determinado<br />

sistema de cultivo (intensivo, semintensivo, em jaulas,<br />

em tanques de terra, superintensivo heterotrófico, RAS<br />

etc.) em um determinado ambiente (região geográfica,<br />

estuário, época do ano etc.)<br />

Como definimos na primeira coluna, o fenótipo é o<br />

resultado da ação combinada do genótipo e o ambiente<br />

de cultivo. As diferenças fenotípicas (variabilidade<br />

fenotípica) entre indivíduos podem ser devidas a diferencias<br />

genéticas (variabilidade genética) ou ambientais<br />

(variabilidade ambiental), assim como de uma ação<br />

combinada de ambas.<br />

A variabilidade ambiental está determinada por fatores<br />

bióticos e abióticos, sendo que ambos podem<br />

variar entre um estado ótimo e um estado estressante.<br />

Entre os fatores bióticos podemos considerar todos<br />

os seres vivos que atuam no ambiente de cultivo (microalgas,<br />

bactérias, vírus, invertebrados planctônicos e<br />

bentônicos), incluindo o HOMEM (manejo). Já entre<br />

os abióticos se destacam as propri<strong>ed</strong>ades físicas e químicas<br />

da água, do solo, infraestrutura disponível e insumos<br />

utilizados para o manejo das populações (rações,<br />

probióticos etc).<br />

Devido a grande variabilidade ambiental em sistemas<br />

extensivos e semintensivos, estes sistemas de cultivo<br />

justificam em muitos casos o desenvolvimento de<br />

PROGRAMAS LOCAIS, ou seja, o desenvolvimento de<br />

linhagens para uma determinada região. Já para o caso<br />

de sistemas intensivos com “controle ambiental”, o desenvolvimento<br />

de populações melhoradas possibilita a<br />

repetição de resultados médios mesmo em diferentes<br />

regiões e países com o uso de uma única população.<br />

O melhoramento genético está estritamente ligado<br />

aos centros de produção de formas jovens. A partir do<br />

Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />

Pontal do Paraná, PR<br />

rodolfopetersen@hotmail.com<br />

O que é um Programa de<br />

Melhoramento Genético?<br />

momento que os animais entram em um sistema de<br />

reprodução, a origem dos reprodutores e a forma de<br />

cruzá-los passam a ter uma importância vital na estrutura<br />

genética da população que estamos comercializando,<br />

seja para degradá-la ou melhorá-la, dependendo<br />

do caminho escolhido.<br />

Ainda não existe na aquicultura um monopólio na<br />

produção de sementes por grandes empresas de reprodução.<br />

Aliada a variabilidade ambiental dos sistemas<br />

e as doenças emergentes ao longo do tempo, existe a<br />

dificuldade de esterilizar os produtos e obter suas patentes.<br />

Como consequência disso, existe um número<br />

significativo de centros de reprodução no mundo todo,<br />

sem um controle genético e sanitário adequado.<br />

Um programa de melhoramento genético clássico<br />

envolve:<br />

Seleção das populações base para a formação<br />

de uma população sintética;<br />

Definição da estratégia de melhoramento:<br />

seleção ou cruzamento;<br />

Estimar a resposta à seleção ou a heteroses;<br />

Controlar a endogamia e a variabilidade<br />

genética;<br />

Estudar correlações genéticas e fenotípicas<br />

entre as características zootécnicas de<br />

maior interesse;<br />

Verificar a possível existência de interação<br />

genótipo ambiente entre diferentes regiões<br />

de onde as larvas serão utilizadas;<br />

Estabelecer um programa de controle<br />

sanitário.<br />

Dependendo do nível de inversão econômica podemos<br />

dividir um programa em básico e avançado. Tudo<br />

é uma questão de equilíbrio entre custo e benefício.<br />

Cada empresa que possua o ciclo fechado (reprodução<br />

e engorda) e um número significativo de hectares de<br />

engorda, pode ter um plano básico de melhoramen-


to para suas condições de cultivo. Alternativamente,<br />

se podem estabelecer associações de empresas com<br />

a unificação de recursos destinados ao melhoramento<br />

genético de suas áreas de engorda.<br />

Não podemos deixar de mencionar a importância<br />

do controle sanitário das larvas do programa, principalmente<br />

das principais viroses que deixam fortes impactos<br />

econômicos na indústria. Existem dois caminhos:<br />

construindo áreas específicas de seleção e produção de<br />

reprodutores em condições de estrito controle sanitário<br />

(NBC: núcleos de reprodução livres de enfermidades<br />

conhecidas), ou certificando os animais candidatos<br />

para reprodução como “livres” dos principais vírus de<br />

interesse (local ou mundial) com o auxílio de técnicas<br />

de biologia molecular.<br />

Poucas empresas no mundo desenvolvem programas<br />

familiares sofisticados. O foco destas empresas é o<br />

desenvolvimento de populações de crescimento rápido<br />

para semear sistemas intensivos ou superintensivos<br />

com controle ambiental.<br />

A grande maioria das empresas de reprodução<br />

anunciam programas de melhoramento, mas com variados<br />

níveis de execução real na prática, transformando<br />

a genética também numa ferramenta de marketing.<br />

Como Roger Doyle (famoso geneticista americano<br />

especialista em melhoramento genético de organismos<br />

aquáticos) menciona:<br />

“Identificar os melhores animais constituí 90% da<br />

arte na genética em aquicultura”.<br />

Poderíamos acrescentar:<br />

“Identificar a melhor estratégia economicamente viável<br />

e sustentável é o 100 % da arte dos cultivos aquícolas”.<br />

SET/OUT 2018<br />

59


SET/OUT 2018<br />

CSIRO - Austrália<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />

mauricioemerenciano@hotmail.com<br />

Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />

*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das<br />

instituições vinculadas ao mesmo.<br />

Conexão Tailândia: presente e futuro!<br />

Figura 1. Fazenda operando com sistemas “”clear-water” e grandes trocas de água.<br />

© Maurício G. C. Emerenciano<br />

Não é de hoje que esse país do sudeste Asiático é<br />

sinônimo de tecnologia e inovação na produção<br />

de camarões marinhos. Por isso a coluna Green Technologies<br />

desta <strong>ed</strong>ição trás como tema uma reflexão sobre<br />

o presente e futuro da carcinicultura desse incrível país.<br />

Com quase 70 milhões de habitantes e uma economia<br />

pulsante em franca expansão, a Tailândia destaca-se<br />

por sempre estar um passo a frente em tecnologias ligadas<br />

a aquicultura e em especial na produção intensiva de<br />

camarões marinhos. Em recente visita pela região de Prachuap,<br />

localizada a sudeste de Bangkok e banhada pelo<br />

Golfo da Tailândia, pude conhecer fazendas que produzem<br />

de 3 a (pasmem) mais de 12kg/m 3 ! Mas essa produtividade<br />

absurda é a que custo? A resposta é, em muitos<br />

casos, a custo de muita troca de água! Hoje quando o assunto<br />

é produção intensiva (ou super-intensiva) a escolha<br />

do sistema a ser adotado vai depender diretamente da<br />

disponibilidade de água. Neste sentido, algumas fazendas<br />

próximas da costa optam por sistemas clear-water e grandes<br />

trocas de água que podem chegar a mais de 1000L<br />

por cada Kg de ração ofertada (Figura 1). Na prática,<br />

isso pode chegar a mais de 30% de renovação por dia<br />

quando operam com grandes biomassas estocadas. Em<br />

viveiros de quase 1 hectare isso se traduz em muita água!<br />

No entanto, se toda essa água fosse reaproveitada eu até<br />

me convenceria que poderia ser uma alternativa “sustentável”.<br />

Mas infelizmente a realidade é bem diferente.<br />

Grande parte dessa água é descartada ao ambiente com<br />

pouco ou quase nulo tratamento. Na minha humilde ótica<br />

a conclusão não pode ser outra: uma bomba relógio<br />

prestes a explodir, alastrando doenças e comprometendo<br />

todo o ambiente no entorno das fazendas.<br />

Por outro lado, onde a disponibilidade de água é mais<br />

escassa pude conhecer fazendas que adotam práticas<br />

bem mais racionais de cultivo e que, por exemplo, recirculam<br />

a água descartada para uma série de viveiros<br />

de peixes até chegar a um reservatório onde pode ser<br />

tratada (caso necessário) e reaproveitada. Este modelo<br />

preconiza alta disponibilidade de alimento natural (zooplâncton)<br />

principalmente nas fases iniciais de cultivo, por<br />

meio do uso de fertilizantes orgânicos (ex.: farelos vegetais)<br />

e manipulação da comunidade microbiana. Sim!<br />

Estamos falando do famoso sistema conhecido como<br />

“Biomimicry” (Figura 2). Um belo exemplo de que com<br />

conhecimento tecnológico, biológico e mais especificamente<br />

microbiológico, é possível produzir grandes quantidades<br />

de camarões (e peixes) em pequenas áreas e de<br />

maneira amigável com o meio ambiente.<br />

Atrelados aos mais diferentes modelos e conceitos de<br />

produção (bioflocos, clear-water, entre outros), uma outra<br />

vertente que certamente vem ganhando força naquele<br />

país (e também em outros países da Ásia) é a produção<br />

indoor. Em recente matéria publicada<br />

no portal “The Fish Site”<br />

a empresa Charoen Pokphands<br />

Foods (CPF), uma potência mundial<br />

quando o assunto é cultivo<br />

de camarões marinhos, anunciou<br />

que nos próximos 5 anos espera<br />

converter a maior parte da sua<br />

produção para sistemas fechados<br />

em estufas. Hoje o número já<br />

surpreende, com 15-20% da sua<br />

produção sendo feita de maneira<br />

indoor naquele país. Certamente<br />

ainda vamos escutar muitas histórias<br />

desse gigante da carcinicultura,<br />

chamado Tailândia.<br />

60


Green<br />

TECHNOLOGIES<br />

Figura 2. Fazenda adotando o sistema “Biomimicry”: inovação e aplicação de conceitos tecnológico e biológico fazem toda a diferença.<br />

© Maurício G. C. Emerenciano


Giovanni Lemos de Mello<br />

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />

Editor-chefe da <strong>Revista</strong> Aquaculture Brasil<br />

Laguna, SC<br />

giovanni@aquaculturebrasil.com<br />

SET/OUT 2018<br />

Aquaculture Brasil na vanguarda dos<br />

eventos técnicos online<br />

Em 2017 a Aquaculture Brasil realizou, de forma<br />

inédita, o AquaOnline Brasil, este que foi o I<br />

Congresso Brasileiro Online de Aquicultura. O evento<br />

foi uma grata surpresa em todos os sentidos. Mais de<br />

4000 inscritos, 30 palestrantes, 3 minicursos e 500<br />

litros de cafés (rsss...)! A audiência online e ao vivo durante<br />

os cinco dias do congresso impressionou! Um<br />

fe<strong>ed</strong>back que recebemos com muito carinho foram de<br />

fotos enviadas por professores com seus alunos reunidos<br />

em sala de aula, assistindo ao vivo o AquaOnline<br />

pelo Brasil.<br />

Aproveitando o ensejo, desde já, se agende! O<br />

próximo AquaOnline Brasil está marcado para os dias<br />

23 a 26 de abril de 2019. A princípio, o evento será<br />

bianual, alternando com a realização do AQUACIÊN-<br />

CIA, que ocorre nos anos pares. Também já iniciamos<br />

as negociações para a realização do “AquaOnline<br />

América” e o “AquaOnline World”. Em breve surgirão<br />

os primeiros congressos latino-americanos e mundiais<br />

online de aquicultura.<br />

Regressando a 2017, de forma piloto (experimental),<br />

organizamos duas mesas r<strong>ed</strong>ondas online, sendo<br />

a primeira congregando os principais especialistas na<br />

criação de bijupirá (Rachycentron canadum). Para definir<br />

a pauta e auxiliar na composição do “time”, tivemos<br />

o apoio de dois de nossos colunistas: Ricardo V. Rodrigues,<br />

Prof. Titular da FURG e Artur N. Rombenso,<br />

Pesquisador do CSIRO/Austrália. Imagine os custos<br />

de realizar uma mesa r<strong>ed</strong>onda presencial em um País<br />

de dimensões continentais como o Brasil (passagem e<br />

hosp<strong>ed</strong>agem de todos, além de outras despesas). De<br />

forma online, é muito menos custoso.<br />

Meses depois, juntamos grandes nomes na temática<br />

“Qualidade de Água” com foco na carcinicultura<br />

marinha. Tanto assunto discutido, apesar de uma pauta<br />

previamente aprovada, que o mais difícil foi encerrar<br />

a sessão. Do conforto de sua casa ou escritório,<br />

nenhum convidado queria finalizar o encontro. Foram<br />

mais de quatro horas de um enriquec<strong>ed</strong>or debate.<br />

Após o AquaOnline Brasil 2018, uma das ideias foi<br />

a de organizar eventos menores, com dois ou três<br />

dias de duração, específicos sobre um determinado<br />

assunto, os quais denominamos de workshops online.<br />

Definimos os temas prioritários e de maior interesse<br />

para o Brasil e nasceu, como workshop primogênito,<br />

o “BFT Online”, I Workshop Online sobre Bioflocos.<br />

Convidamos a equipe do Projeto Camarão da FURG<br />

para ser nossa parceira, e isto fez toda a diferença para<br />

o grande sucesso do evento. Reunir os amigos e formar<br />

parcerias, não tem trabalho melhor!<br />

O BFT Online foi planejado em cinco meses, ocorrendo<br />

de 03 a 06 de setembro deste ano. Contamos<br />

com a presença de 16 palestrantes, 20 horas de conteúdo<br />

e mais de 80 inscritos.<br />

Um dos diferenciais de um workshop é que, ao invés<br />

de um evento “genérico”, ele aprofunda os conceitos<br />

numa determinada temática. No caso do BFT<br />

Online, foi possível convidar palestrantes que abordaram<br />

temas específicos, como manejo de sólidos, uso<br />

de probióticos, controle da amônia e do nitrito, berçários<br />

intensivos, entre outros.<br />

Para o início de 2019, novidades vêm por aí... em<br />

primeira mão para os leitores da coluna, realizaremos<br />

o “I Workshop Online sobre Tecnologia do Pescado”.<br />

Todas estas ações culminam em um canal do You-<br />

Tube, o “canal Aquaculture Brasil”. Estamos nos ajustes<br />

finais para o lançamento oficial do mesmo. Nos<br />

próximos meses surgirá um jeito novo de divulgar<br />

informações e conteúdo técnico de qualidade, para<br />

fazer a diferença na aquicultura brasileira e, por que<br />

não, mundial...<br />

62


Visão<br />

aquícola<br />

Figura 1. João Manoel Cordeiro Alves<br />

(Guabi) e Wilson Wasielesky Júnior<br />

(FURG), durante a gravação do BFT<br />

Online – I Workshop Online sobre<br />

Bioflocos.<br />

2017<br />

2018<br />

SET/OUT 2018<br />

2019<br />

63


Ranicultura<br />

Andre Muniz Afonso<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />

Palotina, PR<br />

andremunizafonso@gmail.com<br />

SET/OUT 2018<br />

O que se produz da rã? - Parte I<br />

(Produtos Comestíveis)<br />

A<br />

ranicultura, como toda atividade de exploração<br />

animal, dá origem a produtos de interesse<br />

comercial. A exemplo de outras atividades zootécnicas,<br />

este comércio não se restringe à produtos alimentícios,<br />

gerando o que chamamos de “produtos comestíveis”<br />

e “produtos não-comestíveis”. Neste primeiro, de<br />

três artigos, iremos abordar algumas características dos<br />

produtos usados na alimentação, de forma geral.<br />

O grupo de produtos comestíveis, também conhecido<br />

como “produtos primários”, se destaca, principalmente,<br />

pela presença da famosa “carne de rã”, a menina dos<br />

olhos da ranicultura. Suas propri<strong>ed</strong>ades nutricionais são<br />

mundialmente conhecidas, inclusive a ela são atribuídas<br />

curas muitas vezes milagrosas. Dentre as suas propri<strong>ed</strong>ades<br />

podemos destacar as seguintes características: a)<br />

proteína de alto valor biológico, configurada pela presença<br />

de todos os aminoácidos essenciais, com ótimo balanço<br />

aminoacídico e alta digestibilidade, ou seja, altamente<br />

biodisponível; b) baixo teor de gorduras, uma vez que<br />

nas análises de composição centesimal seu teor de lipídios<br />

não ultrapassa os 0,3 % (0,3 g em 100 g de carne), podendo<br />

ser intitulada como carne branca e magra; c) boa<br />

concentração de minerais, com destaque para o cálcio,<br />

cujos teores se apresentam três vezes maiores do que<br />

no leite; e d) hipoalergenicidade, que exprime o baixo<br />

potencial que o produto tem em provocar alergias alimentares<br />

no consumidor, por isso muitas vezes indicada<br />

para recém-nascidos, que rejeitam os outros produtos de<br />

origem animal, como o próprio leite e outras carnes.<br />

Ainda em relação aos produtos comestíveis existe a<br />

classe daqueles outrora denominados “subprodutos”,<br />

hoje conhecidos como coprodutos, pois além de não<br />

serem inferiores em termos de potencial de comercialização,<br />

constituem o ponto de equilíbrio em muitas indústrias<br />

que processam o pescado, globalmente. O que<br />

antes era, literalmente, “jogado fora”, desprezado ou<br />

utilizado apenas na indústria da alimentação animal (rações<br />

e afins), hoje constitui importante matéria prima para<br />

produtos usados na alimentação humana. Prova disso é<br />

a carne mecanicamente separada (CMS), um coproduto<br />

extraído da prensa mecânica do dorso da rã, que pode<br />

ser utilizado como matéria prima para pré-fritos (empa-<br />

64<br />

nados, “nuggets”, entre outros) e massas cárneas.<br />

Os órgãos, normalmente, não são aproveitados para<br />

consumo, sendo esta uma área ainda muito pouco explorada<br />

tanto pelas indústrias como pela comunidade científica.<br />

Novos produtos alimentícios podem surgir a partir<br />

da utilização destas partes do animal, melhorando o seu<br />

aproveitamento pelos abat<strong>ed</strong>ouros, a lucratividade na cadeia<br />

produtiva, como um todo, e diminuindo a quantidade<br />

de rejeitos a receberem o devido tratamento para<br />

que não se tornem passivos ambientais. Cabe lembrar<br />

que, estamos nos referindo ao consumo da rã no Brasil<br />

e em alguns países cuja culinária nos é mais familiar, com<br />

destaque para França, Bélgica, Espanha, Estados Unidos<br />

e México. Ultimamente, temos recebidos vídeos, provenientes<br />

de países do oriente, onde se verifica que toda rã<br />

é utilizada como alimento. Alguns autores vêm explorando<br />

o tema também em países africanos, com destaque<br />

para o Oeste Africano (Burkina Faso, Nigéria, Camarões<br />

etc.), onde as rãs nativas são exploradas sem qualquer<br />

Figura 1. a) Carcaça glaceada de rã-touro<br />

(vistas ventral e dorsal); b) carcaça glaceada<br />

de rã-touro dividida na linha da cintura<br />

(vistas ventral e dorsal); e c) pernas de rã-<br />

-touro frescas com parte da fraldinha.<br />

tipo de estratégia de<br />

captura, gerando a<br />

extinção de espécies<br />

locais e, consequentemente,<br />

desequilíbrios<br />

ecológicos.<br />

A carne de rã,<br />

um produto de excelente<br />

qualidade<br />

nutricional, de leve<br />

sabor, de boa aparência,<br />

ainda não<br />

conquistou o con-<br />

<strong>ed</strong>ições.<br />

raníco-<br />

próximas<br />

Saudações<br />

las!<br />

sumidor brasileiro,<br />

dado o seu baixo<br />

consumo. O que<br />

precisa ser feito para<br />

que isso aconteça?<br />

Abordaremos essa e<br />

outras questões nas


Marcelo Shei<br />

Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos<br />

Santos, SP<br />

shei@altamar.com.br<br />

Sistemas de Recirculação no Chile<br />

Entre os dias 17 e 20 de outubro, ocorreu em<br />

Puerto Montt, Chile, a 10º Edição da Feira Aquasur.<br />

Assim como no Brasil temos a FENACAM voltada<br />

principalmente para a indústria do camarão, a Aquasur,<br />

tem como foco principal a indústria de produção de salmão<br />

chilena, localizada nessa região. Essa é a segunda<br />

vez que vou ao evento e dessa vez, tive a oportunidade<br />

de realizar visitas técnicas em algumas instalações de<br />

produção de salmão que são o estado da arte em sistemas<br />

de recirculação, automação e operação de instalações<br />

de aquicultura em terra.<br />

A produção de salmão é dividida em duas fases. Na<br />

primeira, que vai da fertilização dos ovos até quando os<br />

animais atingem cerca de 250 g, chamados de smolts,<br />

ocorre em água doce. Na segunda fase, os smolts são<br />

transferidos para engorda em água marinha, que é feita<br />

em tanques-r<strong>ed</strong>e no mar. Na primeira fase, para otimizar<br />

o tempo de produção, evitar a entrada de parasitas<br />

e patógenos, minimizar o consumo e a interferência de<br />

qualidade de água de captação e em virtude da dependência<br />

climática, as empresas tem passado a utilizar sistemas<br />

de recirculação de água.<br />

Figura 1. Sistema de monitoramento e controle remoto de três<br />

estações de aquicultura da Cermaq, Chile.<br />

Os sistemas de recirculação das empresas que visitamos<br />

eram compostos basicamente por: filtros de<br />

tambores rotativos para a remoção de partículas sólidas,<br />

filtros biológicos submersos, torre de desgaseificação,<br />

desinfecção por ultra-violeta e ozônio e oxigenação a<br />

partir de O 2<br />

puro, injetado na linha de retorno. Muitos<br />

desses temas já abordados nessa coluna.<br />

Uma das empresas que visitamos, a Cermaq, possui<br />

um sistema para juvenis composto por 20 tanques de<br />

250 m 3 cada. Nele, são estocados animais que chegam<br />

com 5 g até atingirem 250 g, operando a densidades<br />

de estocagem que alcançam 60 Kg/m 3 . A operação dos<br />

sistemas dessa e de outras duas s<strong>ed</strong>es da empresa, são<br />

controladas remotamente através de uma única central,<br />

o que facilita a padronização de processos, protocolos e<br />

utilização de menos mão de obra.<br />

Concluindo, o que vimos foi a operação de uma<br />

aquicultura que, para conseguir continuar produzindo,<br />

nas últimas décadas precisou se estruturar e se adequar<br />

a novas normas ambientais, ao surgimento de patógenos<br />

e a um mercado bastante competitivo. Fica a lição aprendida<br />

com a Aquicultura Chilena.<br />

Figura 2. Tanques de produção de salmões em recirculação<br />

na Cermaq.<br />

SET/OUT 2018<br />

65


André Camargo<br />

Sócio Fundador da Escama Forte<br />

Botucatu, SP<br />

andre@escamaforte.com.br<br />

Será uma crise?<br />

Ao longo dos últimos 10 anos a tilapicultura<br />

brasileira vinha caminhando com relativa<br />

estabilidade em relação a produção, preços e mercado<br />

consumidor. Porém em meados de 2018 alguns fatores<br />

vieram a contribuir com um momento instável e que já<br />

perdura por alguns meses, preocupando os produtores.<br />

Uma combinação de efeitos da macroeconomia e<br />

o inverno brasileiro parecem ter impactado esta atividade<br />

que há tempos não sofria assim. A diminuição do<br />

consumo da tilápia nos pontos de venda vem trazendo<br />

consigo alguns efeitos em cascata que deixam o setor<br />

em sinal de alerta e levam os empreend<strong>ed</strong>ores a buscar<br />

novas alternativas e vias de escoamento da produção.<br />

Nas fazendas, os impactos são diversos, as vendas<br />

paralisadas ocasionam o aumento das densidades de<br />

estocagem nos tanques e desta forma algumas consequências<br />

podem ser sentidas. Aumento de densidade,<br />

problemas de fluxo de caixa, crescimento desordenado<br />

dos animais com aumento do peso médio de venda<br />

e o surgimento de doenças oriundas do aumento da<br />

densidade, são alguns dos problemas sentidos na pele<br />

pelo produtor.<br />

Secundariamente, os produtores não conseguem<br />

dar sequência em seus povoamentos, pois suas estruturas<br />

estão lotadas e isso faz com que este processo<br />

ganhe dimensões ao longo do tempo, prejudicando<br />

despescas futuras e comprometendo a produção em<br />

meses seguintes em algumas localidades. Além do preço<br />

pago ao produtor que naturalmente caiu.<br />

Por outro lado, podemos perceber movimentos estratégicos<br />

importantes que podem ser a chave do crescimento<br />

de nossa tilapicultura. Basicamente podemos<br />

verificar o aumento lento dos volumes destinados às<br />

exportações e também a diversificação dos mercados<br />

trabalhados pelas indústrias, versatilizando as vendas e<br />

atendendo mercados diferentes daquele das grandes<br />

r<strong>ed</strong>es de supermercados consumidoras de filés frescos.<br />

Com preços mais baixos, mercados mais populares estão<br />

sendo alcançados e talvez estejamos vivendo um<br />

ajuste do setor para a popularização de diversificação<br />

do mercado consumidor de tilápia no Brasil.<br />

Assim, como todos sabem, a crise acaba se tornando<br />

uma oportunidade e faz com que as realidades<br />

habituais mudem e façam a expansão do mercado de<br />

forma natural. O produtor neste momento deve ter<br />

paciência, cuidado com a inadimplência e continuar sua<br />

luta diária para diminuir os riscos de uma possível falta<br />

de tilápias em um futuro próximo.<br />

SET/OUT 2018<br />

66


Eduardo Gomes Sanches<br />

Instituto de Pesca / APTA<br />

Ubatuba, SP<br />

esanches@pesca.sp.gov.br<br />

SET/OUT 2018<br />

A precisão na preservação<br />

do passado<br />

Oincêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro,<br />

em setembro, me fez pensar sobre<br />

como lidamos com nosso passado. “Um povo que não<br />

conhece a sua história está condenado a repeti-la”, disse<br />

há cerca de 50 anos Ernesto Ché Guevara (a frase<br />

original é de Edmund Burke). A par da tristeza em<br />

assistirmos o que vem acontecendo no Brasil, resolvi<br />

escrever esta coluna analisando como temos preservado<br />

a história da aquicultura em nosso país.<br />

Quando comecei minha vida profissional a aquicultura<br />

era muito jovem no Brasil. Tínhamos poucos<br />

pesquisadores (tive a honra de conhecer e conviver<br />

com alguns expoentes desta época) e poucas unidades<br />

de pesquisa (que na época se constituíam em<br />

pequenos laboratórios improvisados em galpões nas<br />

propri<strong>ed</strong>ades rurais estatais que detinham viveiros e<br />

tanques). O setor produtivo era desorganizado, formado<br />

por entusiastas apaixonados, mas sem muito<br />

conhecimento, o desenvolvimento ocorria de forma<br />

lenta. Cursos de extensão e de pós-graduação eram<br />

um luxo disponíveis a poucos profissionais.<br />

Muito tempo passou desde então (quase trinta<br />

anos). É claro que muita coisa mudou. Hoje temos<br />

muitos profissionais altamente capacitados na<br />

aquicultura. O setor produtivo é organizado e bem<br />

representado. Existe ampla disponibilidade de aperfeiçoamento<br />

em excelentes instituições de ensino e<br />

pesquisa e através da internet as informações chegam<br />

ao campo em tempo real.<br />

O Brasil definitivamente é um player mundial na<br />

aquicultura e ainda temos muito potencial para crescer.<br />

Mas a pergunta que faço é: temos cuidado de nosso<br />

passado? Há pouco tempo atrás visitei o Polo Regional<br />

do Vale do Paraíba, da Agência Paulista de Tecnologia<br />

do Agronegócio (APTA) da Secretaria da Agricultura e<br />

Abastecimento do Estado de São Paulo, que abriga a<br />

Estação de Piscicultura de Pindamonhangaba. Quem<br />

me proporcionou a visita foi o colega pesquisador<br />

Sergio Henrique Canello Schalch que atualmente desenvolve<br />

seus trabalhos em aquicultura neste local. A<br />

mais de vinte e cinco anos atrás acompanhei trabalhos<br />

de reprodução de peixes naquela unidade. E confesso<br />

que fiquei impressionado com a visita. Apesar das dificuldades<br />

devido a restrição de verbas nas entidades<br />

públicas de pesquisa, e da complexidade que é operar<br />

um empreendimento de aquicultura estatal hoje no<br />

Brasil, o esforço do Sergio e dos demais colegas em<br />

preservar a estação e dar suporte ao setor produtivo<br />

regional são dignos de registro. A estação de pesquisa<br />

está produzindo muito peixe (de diferentes espécies<br />

e vari<strong>ed</strong>ades), interagindo com o setor produtivo e<br />

ainda fazendo pesquisa de ponta, financiada pela exigente<br />

Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de<br />

São Paulo (FAPESP).<br />

Muitos bons profissionais passaram por esta unidade<br />

de pesquisa ao longo do tempo. Foi uma satisfação<br />

observar o antigo layout dos viveiros (que era a tecnologia<br />

disponível na época) e ver como a aquicultura<br />

mudou. Ver como avançamos em sistemas produtivos<br />

com menor impacto ambiental e mais eficientes<br />

em termos econômicos. Foi interessante aprender<br />

como o Sergio tem modernizado a estação sem perder<br />

a essência do projeto original, em um esforço de<br />

preservar a memória de nossa aquicultura. Comprovando<br />

que não precisamos destruir o passado para<br />

criar o futuro. Podemos encontrar a precisão até na<br />

preservação de nosso passado.<br />

Posso adiantar a vocês que não é só em Pindamonhangaba<br />

que isto acontece. Diversas outras estações<br />

de pesquisa da década de 70 e 80 estão sendo<br />

modernizadas, mas preservando as características originais<br />

do projeto inicial. Representam nossa história<br />

que pode ser conhecida pelos novos profissionais<br />

da aquicultura. E estes tem um grande desafio. Lidar<br />

com a escassez de recursos para inovação científica<br />

(anunciada correntemente pelos órgãos de fomento<br />

da ciência) e ao mesmo tempo não descuidar do<br />

nosso passado. Como fazer isto ? Certamente a par-<br />

68


ceria com o segmento produtivo proporcionará as<br />

ferramentas para continuar o crescimento de nossa<br />

aquicultura. Não há mais espaço para ações isoladas.<br />

A construção do futuro dependerá de um esforço<br />

conjunto entre a academia e os produtores. Sem preservar<br />

nossas memórias não teremos futuro. Que a<br />

tragédia do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, nos<br />

remeta a uma reflexão sobre o que somos e onde<br />

queremos chegar. Nossa aquicultura precisa disto.<br />

Nosso pais precisa disto. Mas acima de tudo, nosso<br />

futuro depende disto.<br />

Até a próxima coluna.<br />

Polo Regional do Vale do Paraíba, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA) da Secretaria da Agricultura e<br />

Abastecimento do Estado de São Paulo, que abriga a Estação de Piscicultura de Pindamonhangaba.<br />

SET/OUT 2018<br />

69


Santiago Benites de Pádua<br />

Biovet Vaxxinova<br />

Vargem Grande Paulista, SP<br />

santiago.padua@biovet.com.br<br />

SET/OUT 2018<br />

Desafios sanitários na tilapicultura<br />

brasileira<br />

A<br />

piscicultura continental brasileira continua<br />

mantendo um ritmo acelerado de crescimento.<br />

Entre as diferentes espécies utilizadas para criação, a tilápia<br />

do Nilo cada vez mais amplia sua vantagem na liderança<br />

em volume de produção, apresentando versatilidade<br />

entre diferentes modelos de criação, bem como na<br />

indústria de processamento, além de conquistar cada vez<br />

mais o mercado consumidor. Novos polos de criação<br />

têm se estabelecido pelo Brasil, além do mais, os pólos<br />

de criação já consolidados não param de ampliar seu<br />

volume de produção. Neste ambiente de crescimento,<br />

parece que somente as crises hídricas poderiam abalar<br />

a continuidade de crescimento na criação de tilápia,<br />

como já vivenciado em algumas regiões. Contudo, os<br />

problemas sanitários poderão, de fato, atuar como um<br />

limitador caso não seja implementado um programa<br />

de vigilância e contingência de enfermidades com a<br />

capilaridade que a atividade possui.<br />

Doenças infecciosas<br />

Entre as doenças infecciosas que afligem a tilapicultura,<br />

temos diferentes agentes etiológicos, que por sua<br />

vez protagonizam desafios de menor ou maior impacto.<br />

Entre estes, temos as doenças parasitárias, bacterianas,<br />

fúngicas e virais. De forma geral, as doenças apresentam<br />

fatores de riscos que favorecem sua ocorrência em<br />

um determinado plantel, além disso, temos os grupos<br />

de riscos que são animais ou fases de criação que apresentam<br />

maior susceptibilidade a um determinado agente<br />

patogênico. Para gestão sanitária dos empreendimentos<br />

aquícolas, precisamos ter conhecimento destas informações,<br />

uma vez que para elaborar estratégias contra<br />

a introdução ou contenção de doenças infecciosas, necessariamente<br />

precisamos conhecê-las adequadamente.<br />

Histórico de doenças infecciosas na<br />

tilapicultura brasileira<br />

Tradicionalmente, as doenças parasitárias juntamente<br />

com as doenças bacterianas constituem-se nos principais<br />

desafios sanitários que têm acometido a tilapicultura<br />

brasileira. Protozoários tricodinídeos e os vermes monogenéticos<br />

figuraram como os principais ectoparasitos,<br />

causando infestações especialmente nas fases iniciais de<br />

criação. Entre as bactérias, diferentes espécies e sorotipos<br />

de Streptococcus são de longe os protagonistas entre<br />

os desafios bacterianos em períodos de altas na temperatura<br />

da água, causando típicos quadros de meningoencefalite.<br />

Por outro lado, o desafio de inverno é reservado<br />

para Francisella noatunensis subsp. orientalis, que atualmente<br />

está presente nos principais pólos de criação de<br />

tilápia no Brasil, inclusive no Nordeste. Contudo, o que<br />

mais preocupa o setor produtivo atualmente é a introdução<br />

das doenças virais, as quais algumas já circulam<br />

em regiões produtoras, tais como o Betanodavirus e<br />

Ranavirus.<br />

Vigilância epidemiológica deficiente<br />

Atualmente não dispomos de um sistema de vigilância<br />

epidemiológica, provida de ampla capilaridade, para<br />

monitorar as doenças emergentes que acometem a tilapicultura<br />

brasileira. Esta condição permite que casos<br />

recidivos de mortalidades agudas passem despercebidos,<br />

limitando seriamente a capacidade de demonstrar<br />

ao setor os reais problemas sanitários que ele enfrenta.<br />

Com isso, a deficiência de diagnóstico ágil e acurado,<br />

entre outras consequências, permite a livre circulação<br />

de animais infectados entre diferentes pólos de criação,<br />

sendo esta a principal forma de dispersão da doença.<br />

Talvez a indústria brasileira da tilápia ainda não tenha alcançado<br />

maturidade suficiente para elaborar, implantar e<br />

manter ativo um programa de monitoramento assíduo<br />

de enfermidades nos polos produtores. De fato, para<br />

mantermos o crescimento ordenado da atividade serão<br />

necessárias m<strong>ed</strong>idas como esta.<br />

Somente a partir do amplo e contínuo diagnóstico<br />

de enfermidades podemos ter capacidade de detecção<br />

das doenças emergentes e reemergentes que afligem o<br />

setor. A partir destas ações, são elaborados planos de<br />

contingência, estratégias de biosseguridade, salubridade,<br />

além de soluções como a elaboração de vacinas mais<br />

efetivas e completas, trazendo luz aos problemas até então<br />

mantidos em penumbra.<br />

70


Ricardo Vieira Rodrigues<br />

Estação Marinha de Aquacultura - EMA<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande - FURG<br />

Rio Grande, RS<br />

vr.ricardo@gmail.com<br />

LACQUA 2018<br />

Nesta <strong>ed</strong>ição deixarei um pouco de lado a temática<br />

da coluna, para abordar a realização do<br />

evento LACQUA em Bogotá. Entre os dias 23 e 26 de<br />

outubro desse ano ocorreu na cidade de Bogotá, Colômbia,<br />

o Congresso Latinoamericano de Aquicultura<br />

(LACQUA), realizado pelo Capítulo Latinoamericano<br />

da Soci<strong>ed</strong>ade Mundial de Aquicultura (WAS). O evento<br />

teve um número superior a 1300 inscritos, e também<br />

contou com uma feira de empresas ligadas à aquicultura.<br />

Nesta feira, mais de trinta empresas do ramo<br />

aquícola divulgaram seus produtos e serviços, principalmente<br />

empresas de rações e aditivos alimentares,<br />

além de equipamentos em geral para o setor.<br />

Entre professores, pesquisadores e estudantes,<br />

mais de 50 brasileiros participaram do evento (Figura<br />

1). Ao todo oito sessões de diferentes áreas (zooplâncton,<br />

bioflocos, sistema multitrófico, Macrobrachium e<br />

outros crustáceos, reprodução de peixes, toxicologia,<br />

larvicultura e espécies ornamentais) foram coordenadas<br />

por pesquisadores brasileiros.<br />

As sessões em destaque durante o LACQUA foram<br />

as de enfermidades em peixes, além de sessões sobre<br />

sistemas fechados de produção, como aquaponia, AMTI<br />

(sistema de aquicultura multitrófica integrada), RAS (sistema<br />

de recirculação) e bioflocos. Na sessão de enfermidades<br />

em peixes houveram 41 apresentações orais,<br />

distribuídas ao longo dos três dias de evento. Chamam<br />

atenção os resumos que relatam a ocorrência e perdas<br />

econômicas causadas pelo Vírus da Tilápia do Lago<br />

(TiLV) na América do Sul, além do desenvolvimento<br />

de diferentes possibilidades de vacinas para várias enfermidades<br />

de tilápia. As sessões de sistemas fechados<br />

em aquicultura são uma tendência atual na aquicultura<br />

mundial e receberam um número muito grande de ouvintes.<br />

Na sesão de bioflocos, estudos com camarão<br />

marinho e tilápia domiraram o ambiente, o que já era<br />

esperado, mas vários estudos com produção de peixes<br />

nativos de água doce (Piaractus brachypomus) e marinhos<br />

(Totoaba macdonaldi) se destacaram. Na sessão<br />

de sistemas aquapônicos e AMTI destaco os estudos<br />

com a utilização do pirarucu em sistema aquapônico,<br />

e os estudos com sistemas de água salobra integrando<br />

camarão e/ou tilápia com diferentes vegetais.<br />

Gostaria de chamar a atenção para a premiação<br />

dos estudantes, onde a brasileira Ariane Martins Guimarães,<br />

da Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina,<br />

teve seu trabalho oral intitulado “Schizochytrium limacinum<br />

meal in replacement of fish oil in practical diets for<br />

the juvenile pacific white shrimp” premiado durante o<br />

evento. Meus parabéns a Ariane, seus orientadores e<br />

colaboradores e a UFSC!<br />

Na sessão de peixe marinhos gostaria de destacar a<br />

apresentação intitulada “Reporte de la primeira reproducción<br />

y larvicultura del mero guasa Ephinephelus itajara en<br />

el mundo” realizada por Jaime Rojas Ruiz que pertence<br />

ao Oceanário Islas del Rosario em Cartagena, Colômbia.<br />

Em 2015 essa primeira<br />

reprodução e larvicultura<br />

do mero foi realizada com<br />

sucesso e no momento o<br />

Oceanário possui reprodutores<br />

F1 selecionados nessa<br />

primeira experiência.<br />

O próximo LACQUA<br />

será realizado em San José<br />

na Costa Rica, em novembro<br />

de 2019. Acho importante<br />

darmos força para o<br />

congresso Latinoamericano<br />

de Aquicultura. Estaremos<br />

lá!<br />

SET/OUT 2018<br />

71


SET/OUT 2018<br />

Alex Augusto Gonçalves<br />

Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC<br />

Universidade F<strong>ed</strong>eral Rural do Semi Árido - UFERSA<br />

Mossoró - RN<br />

alaugo@gmail.com<br />

Conservas de Pescado: um segmento<br />

ainda por ser explorado (...vai muito<br />

além da sardinha e atum!)<br />

processo de desenvolvimento de novos<br />

O produtos na indústria do pescado internacional<br />

está cada vez mais baseado na extensão de suas linhas<br />

de produtos, enquanto que a indústria do pescado<br />

nacional mantém-se estagnada, com poucos produtos<br />

quando comparados ao mercado norte-americano,<br />

europeu, ou asiático por exemplo, e necessita<br />

urgentemente diversificar seus produtos para competir<br />

no mercado global.<br />

Por outro lado, os produtos à base de pescado têm<br />

atraído considerável atenção como uma importante<br />

fonte de nutrientes para a dieta humana. Somado<br />

a isso, percebe-se um aumento na necessidade do<br />

consumidor na procura de produtos de conveniência,<br />

tais como produtos do tipo “pronto para comer” ou<br />

“pronto para cozinhar” ou “pronto para servir”, higienicamente<br />

preparados, em embalagens atraentes, de<br />

fácil abertura, e principalmente que não necessite da<br />

cadeia do frio para seu armazenamento, como os tradicionais<br />

produtos em conserva (enlatados).<br />

Infelizmente, o atrativo não é suficiente nos produtos<br />

à base de pescado para satisfazer as necessidades<br />

dos consumidores, visto que em alguns casos a presença<br />

de fraude econômica faz-se presente.<br />

Pouco se investe em produtos enlatados que não<br />

necessita da cadeia do frio para seu armazenamento,<br />

distribuição e comercialização (ainda estagnadas nas<br />

tradicionais espécies – sardinha e atum). O princípio<br />

básico em que a indústria do pescado está trabalhando<br />

é que não há demanda para produtos com valor agregado<br />

no mercado interno (incluindo novos produtos<br />

em conserva – será?), ou seja, os consumidores não<br />

são capazes de garantir a valorização dos produtos em<br />

termos de preço e qualidade.<br />

O enlatamento pertence a uma das categorias mais<br />

importantes na tecnologia de preservação de espécies<br />

marinhas para consumo humano, cujo objetivo principal<br />

consiste na preparação de um produto de boa<br />

qualidade capaz de ser armazenado durante um tempo<br />

razoável (1~2 anos), além de ser uma excelente<br />

forma de transporte do produto e não necessitar de<br />

refrigeração.<br />

O surgimento de produtos enlatados de valor agregado<br />

(novas espécies, novos cortes, combinação de<br />

peixes com algas, ovas, produtos defumados, produtos<br />

fermentados, novos molhos, etc.) é acelerado pelo<br />

padrão de demanda atual dos principais mercados de<br />

pescado em países exportadores. As pessoas se tornaram<br />

mais seletivas na escolha de alimentos e certamente<br />

estão dispostas a gastar mais para se alimentar.<br />

Valor agregado refere-se ao recurso “extra” de um<br />

item de interesse (produto, serviço, pessoa, etc.) que<br />

vai além das expectativas padrão em oferecer algo “a<br />

mais”, enquanto acrescenta pouco ou nada para o seu<br />

custo. Alguns produtos de conserva (enlatados) que<br />

estão sendo comercializados no Brasil, com valor agregado<br />

(i.e. salmão e bacalhau, com preço médio de R$<br />

15,00 e R$ 19,00 a lata, respectivamente), tem, apesar<br />

do alto valor, uma qualidade sensorial excelente e certamente<br />

está agradando o consumidor.<br />

Conservas (enlatamento) de pescado<br />

O enlatamento pertence a uma das categorias mais<br />

importantes na tecnologia de preservação de espécies<br />

marinhas e de água doce, para consumo humano. Durante<br />

este processo que envolve um intenso tratamento<br />

térmico em etapas de cozimento e esterilização, a<br />

natureza da matéria prima (pescado) sofre significativas<br />

alterações originando produtos com diferentes características<br />

sensoriais mantendo um elevado padrão de<br />

saudabilidade.<br />

Muitas espécies marinhas e de água doce resultam<br />

em excelentes produtos enlatados (muitos deles somente<br />

encontrados no exterior) como: bonitos e atuns<br />

(sólido, lascas, ralado, em óleo, em salmoura, com feijão,<br />

com algas, com isoflavonas, com vegetais, com ba-<br />

72


con, defumados, filés de atum em azeite com<br />

tomate seco e azeitona,.etc. ), bacalhau (em<br />

azeite e alho, com grão de bico, e bochechas<br />

de bacalhau, fígado de bacalhau defumado,<br />

etc.), sardinhas (ao natural, em azeite, em<br />

molho tomate, em molho picante, em molho<br />

de limão, filés de sardinha, defumados,<br />

filés de sardinha em azeite extra virgem, etc.),<br />

cavalinha, carapau, arenques, salmões (lascas,<br />

ralado, filés de salmão em azeite com alcaparras),<br />

tilápias, ovas de peixes, camarões,<br />

caranguejos ou patas de caranguejo, siris,<br />

polvos, lulas (anéis, recheadas, etc.), mexilhões,<br />

vieiras, enguias, rãs, algas, patês, etc.<br />

A abrangência de espécies que se adaptam<br />

ao processo de enlatamento e a praticidade<br />

dos produtos desenvolvidos, fazem<br />

com que este segmento tenha importância<br />

significativa no campo da nutrição humana.<br />

Por outro lado existem espécies marinhas<br />

que não se adaptam ao processo de enlatamento<br />

porque a estrutura molecular se desintegra<br />

quando submetido a severas condições<br />

de tratamento térmico. Com relação ao<br />

mercado brasileiro observa-se um perfil diferente<br />

do mundial existindo praticamente somente<br />

duas espécies comercializadas, onde a<br />

sardinha representa ~76% e o atum ~22%<br />

(os ~2% representam outras espécies como<br />

mexilhão, salmão, cavalinha, arenque, patês,<br />

etc.)<br />

Para tentar mudar esse cenário, a Embrapa<br />

realizou a prospecção de espécies<br />

nativas, como alternativa para o processo de<br />

enlatamento para a indústria de conservas de<br />

pescado. Entre os resultados, observou-se<br />

uma boa aceitação de mercado e intenção<br />

de compras das espécies de peixe nativo (tilápia,<br />

tambaqui, matrinxã, cachapinta, pacu,<br />

jundiá, rã), dinamizando o setor das indústrias<br />

de conservas a partir da introdução de<br />

novas espécies e criação de novos nichos de<br />

mercado, uma vez que a indústria demanda<br />

por um peixe nativo que seja proveniente de<br />

cultivo e com produção em escala. Esses estudos<br />

sugerem a introdução dessa tecnologia<br />

(conservas) na aquicultura através de pequenas<br />

unidades de processamento de pescado.<br />

No entanto, no mercado nacional, essas<br />

espécies ainda não foram introduzidas na indústria<br />

conserveira, uma vez que esses novos<br />

produtos (espécies) não estão sendo incluídos<br />

nas gôndolas dos supermercados. Talvez<br />

a necessidade de estudos de viabilidade<br />

econômica ainda seja necessária, por parte<br />

dos pesquisadores e das indústrias, pois pelos<br />

estudos de viabilidade técnica, bem como a<br />

disponibilidade de matéria-prima (produção<br />

em grande escala), principalmente oriundo<br />

da aquicultura permitem a inclusão de novas<br />

espécies.<br />

Para que os produtos enlatados sejam seguros,<br />

os fabricantes de pescado em conserva<br />

devem certificar-se de que o tratamento<br />

térmico ao qual estão sendo submetidos seja<br />

suficiente para eliminar todos os microrganismos<br />

patogênicos responsáveis pela deterioração.<br />

A esterilização a quente objetiva a<br />

inativação de bactérias e enzimas presentes<br />

no pescado. As enzimas são inativadas a uma<br />

temperatura relativamente baixa, porém, deve-se<br />

imprimir um tratamento térmico mais<br />

forte para as bactérias, ou seja, temperaturas<br />

relativamente elevadas por determinados<br />

períodos, especialmente se são capazes de<br />

formar esporos. Dessa maneira, a temperatura<br />

e a duração do processo devem ser suficientes<br />

para a destruição dos esporos mais<br />

resistentes ao calor.<br />

Considerações Finais<br />

A agregação de valor e a diversificação de<br />

produtos são os dois lados de uma mesma<br />

mo<strong>ed</strong>a que devem ser inseridas em nossas<br />

indústrias de pescado, principalmente nas de<br />

conserva (enlatados). Há uma necessidade<br />

crescente de produtos de pescado seguro e<br />

saudável com alta qualidade sensorial e pode<br />

ser atendida pela pesca e aquicultura. A tecnologia<br />

continuará a desempenhar um papel<br />

importante no negócio de agregação de valores,<br />

como as conservas (enlatados) com<br />

novas espécies, novos cortes, novos molhos,<br />

novos produtos (defumado, fermentado,<br />

marinado), dentre outros.<br />

SET/OUT 2018<br />

73


Defendeu!<br />

Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas<br />

informações para nossa aquicultura.<br />

Nome do acadêmico: Inácio Alves Neto<br />

Orientador: Prof. Dr. Wilson Wasielesky Jr<br />

Coorientador: Dr. Plínio Furtado<br />

Instituição: Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande, FURG –<br />

Programa de Pós-Graduação em Aquicultura<br />

Título do trabalho de mestrado:<br />

Efeito do uso de diferentes concentrações de magnésio na<br />

água do cultivo do camarão branco do Pacífico, Litopenaeus<br />

vannamei (Boone, 1931) em baixa salinidade, fase de<br />

engorda, com tecnologia de bioflocos.<br />

SET/OUT 2018<br />

Introdução: a carcinicultura marinha ocorre principalmente<br />

em áreas próximas da costa e vem desencadeando<br />

questões sociais, econômicas e ambientais.<br />

Com isso, o cultivo afastado da costa tem sido uma<br />

alternativa para os produtores, tornando-se mais viável<br />

devido ao menor custo de terra e legislação ambiental<br />

menos rigorosa. Contudo, esse afastamento gera custos<br />

econômicos com transporte de água ou produção<br />

de água salgada, e custos ambientais com efluentes<br />

salinizados lançados no ambiente pelas renovações,<br />

provocando salinização do solo e corpos receptores.<br />

Sendo assim, o uso de salinização artificial e reutilização<br />

da água são necessários para que o afastamento do cultivo,<br />

atualmente em expansão, seja mais sustentável. O<br />

sistema BFT permite o reuso da água por diversos ciclos,<br />

associado ao uso da salinização artificial, tornam-se<br />

alternativa ao reaproveitamento da água e uso de água<br />

marinha. Dentre os constituintes da salinização artificial,<br />

o magnésio é o elemento mais caro, ainda que seja<br />

apenas o quarto em concentração na água do mar, faz<br />

parte de processos como osmorregulação, transmissão<br />

neuromuscular, atua como cofator em inúmeras<br />

reações enzimáticas, influenciando diretamente o crescimento<br />

e sobrevivência dos camarões. Não havia recomendação<br />

definitiva sobre a concentração em água<br />

de baixa salinidade para cultivo de camarões marinhos.<br />

com 1,0g (±0,2g) provenientes de berçário nas<br />

mesmas condições, foram estocados na densidade<br />

de 500/m 3 em 18 caixas com 40L de volume útil<br />

e cultivados até alcançarem peso médio de 5 g.<br />

Foram testados seis tratamentos (n=3): tratamento<br />

controle com água do mar diluída e cinco com<br />

água artificialmente salinizada, sendo manipulado<br />

apenas o magnésio na relação Ca:Mg:K, todos com<br />

salinidade final de 5g/L. As relações utilizadas foram:<br />

T1=1:3:0,9 (165mg/L de Magnésio);<br />

T2=1:2:0,9 (110 mg/L de Magnésio);<br />

T3=1:1:0,9 (55mg/L de Magnésio);<br />

T4=1: 0,5:0,9 (27,5mg/L de Magnésio);<br />

T5=1:0,1:0,9 (5,5mg/L de Magnésio).<br />

Objetivo: avaliar o efeito de diferentes concentrações<br />

de magnésio na água de cultivo, no desempenho<br />

zootécnico do Litopenaeus vannamei cultivado em<br />

águas artificialmente salinizadas em sistema BFT.<br />

Materiais e métodos: o experimento foi<br />

realizado durante 42 dias, na Estação Marinha de<br />

Aquacultura da FURG. Juvenis de Litopenaeus vannamei<br />

74<br />

Figura 1. Análise dos<br />

macroelementos<br />

constituintes da<br />

salinização artificial<br />

coletados ao<br />

final do período<br />

experimental.


Os animais foram<br />

alimentados 2 vezes<br />

ao dia com a ração<br />

comercial (Guabi Potimar/38<br />

Active, 38%<br />

de proteína bruta).<br />

Resultados<br />

e<br />

Discussão: os parâmetros<br />

de qualidade<br />

de água foram<br />

monitorados durante<br />

todo o experimento<br />

e se mantiveram<br />

dentro daqueles considerados<br />

adequados<br />

para o desenvolvimento<br />

da espécie.<br />

Figura 2. Diluição e preparação da salinização artificial da água referente às relações<br />

testadas para cada tratamento.<br />

Salga mãe + Mg<br />

(120L)<br />

Unidades<br />

experimentais (40L)<br />

Salga mãe<br />

(600L)<br />

Tabela 1. Composição dos macroelementos constituintes da salga artificial referentes a coleta do 32° dia de cultivo na fase de engorda.<br />

TC: tratamento controle obtido a partir da diluição da água do mar; T1 a T5: diferentes relações em água salinizada artificialmente.<br />

Os melhores resultados quanto ao desempenho zootécnico foram observados no tratamento T3=1:1:0,9,<br />

com valores sem diferenças estatísticas em relação ao controle nos parâmetros de sobrevivência 88,33% ±<br />

10,41%, conversão alimentar 1,8±0,07, peso final 4,63g ± 0,53g. A sobrevivência no menor tratamento<br />

com Mg 2+ foi de 70%, e significativamente menor do que todos os outros tratamentos que variou de 90,0<br />

a 96,5%. Os índices de sobrevivência do presente estudo são considerados bons resultados, apesar das<br />

diferenças significativas encontradas entre os tratamentos, estando de acordo com Roy et al., (2007), com<br />

índices maiores nos tratamentos com maiores concentrações de Mg 2+ , variando de 80 a 96% ao final do<br />

cultivo. Em contrapartida, no tratamento com menor concentração do íon, foi obtido sobrevivência de 70%.<br />

Conclusão: o efeito da r<strong>ed</strong>ução do magnésio dentro da relação Cálcio : Magnésio : Potássio, mostra bons<br />

resultados até a proporção 1 : 1 : 0,9, não apresentando diferenças significativas na sobrevivência, crescimento<br />

e conversão alimentar aparente, comparados com a água do mar diluída e proporções de magnésio<br />

mais altas. Valores abaixo dessa porporção influenciaram<br />

negativamente estes parâmetros zootécnicos, indicando sua<br />

importância para a sanidade dos camarões. Nos custos finais<br />

com produção da salinização, houve uma economia de 26%<br />

com o tratamento T3 em relação ao T1 (relação encontrada<br />

na água do mar).<br />

O trabalho foi defendido em:<br />

17/07/2018<br />

SET/OUT 2018<br />

75


SET/OUT 2018<br />

76


Werner<br />

Jost<br />

Em 1981 chegou ao Brasil e por acaso conheceu<br />

a carcinicultura. Apostou nesse “negócio da<br />

China” e hoje é um dos maiores produtores de<br />

camarão do Brasil.<br />

Especialmente para a <strong>14</strong>ª <strong>ed</strong>ição,<br />

que circulará na FENACAM 2018,<br />

a Aquaculture Brasil entrevistou<br />

o suíço Werner Jost, economista,<br />

administrador de empresas e<br />

sócio-proprietário da Camanor<br />

Produtos Marinhos. A principal<br />

novidade da empresa em 2018<br />

foi sua aquisição pela gigante<br />

“CP Foods”, da Tailândia. Werner<br />

também comentou sobre os<br />

recentes avanços do AquaScience,<br />

apontando as perspectivas futuras<br />

do revolucionário sistema.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Werner, como foi a ideia de vir<br />

para o Brasil?<br />

Werner Jost: Sempre tive interesse na criação de organismos<br />

aquáticos, contudo, no princípio eu não conhecia<br />

muito bem o conceito de aquicultura. Mas sempre gostei<br />

muito de peixes! Cursei Economia e Administração<br />

e, durante a faculdade, tinha um negócio de compra<br />

de artesanato, importando produtos da América Latina<br />

e comercializando na Suíça. Por conta dessa operação,<br />

conheci o Brasil em 1981. Eu tinha quatro amigos suíços<br />

que trabalhavam em multinacionais no Estado de São<br />

Paulo. Um dia nos reunimos e pensamos em montar um<br />

projeto de criação de camarões, e<br />

eu, como tinha mais tempo livre,<br />

fiquei responsável pelo planejamento<br />

deste novo negócio. Na<br />

época, comentava-se que a carcinicultura<br />

era bastante promissora.<br />

Um “negócio da china”! Em 1981<br />

viajei para o Rio Grande do Norte,<br />

onde havia uma estação de pesquisas,<br />

e comecei a procurar um terreno<br />

para adquirir. O Estado estava<br />

fomentando a carcinicultura e a<br />

“propaganda” era que se forneciam<br />

pós-larvas, ração, crédito... decidimos<br />

arriscar! Vendi a parte da minha<br />

empresa ao meu sócio e resolvi<br />

encarar o desafio, tornando-me<br />

um carcinicultor! Estávamos no<br />

ano de 1982. A princípio eu imaginava<br />

tocar o negócio por uns dois ou três anos, depois<br />

vender e voltar para a Suíça, mas aqui estou há 36 anos!<br />

O Estado estava<br />

fomentando a<br />

carcinicultura e a<br />

“propaganda” era que se<br />

forneciam pós-larvas,<br />

ração, crédito...<br />

decidimos arriscar!<br />

AQUACULTURE BRASIL: A Camanor Produtos Marinhos<br />

e a Charoen Pokphand Foods (CP Foods), da Tailândia,<br />

fecharam um acordo onde a empresa tailandesa adquiriu<br />

uma participação de 40% da Camanor. O que motivou<br />

a Camanor a vender parte das suas ações?<br />

Werner Jost: A CP Foods é uma das maiores empresas<br />

mundiais de produção e processamento de camarão.<br />

Além disso, também é a maior produtora de ração<br />

do mundo. Existem vários pontos em que, para nós, é<br />

importante tê-los como parceiros. Mantemos contato<br />

com eles há quase 20 anos. Há 12 anos atrás tivemos<br />

uma primeira proposta de soci<strong>ed</strong>ade, mas a CP Foods,<br />

por algumas razões, declinou<br />

naquele momento. Desta vez<br />

deu certo e, para a Camanor,<br />

é importante ter essa abertura<br />

mundial. A dificuldade da exportação<br />

em virtude do câmbio<br />

desfavorável nos deixou muito<br />

“fechados” para o mundo. Atualmente,<br />

o camarão brasileiro tem<br />

pouca importância no mercado<br />

mundial porque não há exportação,<br />

ou seja, estamos totalmente<br />

fora do cenário global. Através<br />

da associação com uma empresa<br />

do porte da CP Foods, o mundo<br />

abre-se para nós. Não somente<br />

como empresa, mas também<br />

para nossa equipe, ampliando<br />

sua visão internacional, melhorando<br />

o inglês dos colaboradores, além do networking<br />

de todos. O segundo ponto a se considerar, e que tam-<br />

SET/OUT 2018<br />

77


Vista da Fazenda Canabrava, na Barra do Cunhaú, Rio Grande do Norte, onde opera o sistema Aquascience.<br />

SET/OUT 2018<br />

bém foi decisivo, é o fato de “unirmos” o Ocidente e<br />

o Oriente. O Robins McIntosh, considerado o “papa”<br />

da carcinicultura mundial, há 15 anos desenvolve na CP<br />

Foods um trabalho muito interessante com camarões,<br />

voltado especificamente às doenças e à genética. Ele<br />

sempre tentou estabelecer uma parceria com a Camanor<br />

e, depois de três anos de intensa negociação, conseguimos<br />

concretizar. É fantástico ter uma pessoa como<br />

o McIntosh ao nosso lado! E a negociação não foi tarefa<br />

fácil... A CP Foods é muito grande, e nunca havia comprado<br />

uma participação minoritária de uma empresa.<br />

Essa foi a primeira vez na história que eles compraram<br />

um percentual abaixo de 50% de um negócio.<br />

AQUACULTURE BRASIL: O que muda verdadeiramente<br />

na Camanor com a chegada da CP Foods?<br />

Werner Jost: Esse também foi um ponto interessante<br />

da negociação, pois não mudamos a equipe de nossa<br />

empresa. Não há ninguém da Tailândia vindo para cá.<br />

De certa forma isto traz tranquilidade a nossa equipe,<br />

além de mostrar a confiança que eles têm na Camanor<br />

e na capacidade de levarmos a empresa a diante. É interessante<br />

entender também o porquê de a CP Foods ter<br />

vindo para o Brasil. O país é um potencial consumidor<br />

e eles têm muito interesse que ocupemos o mercado e<br />

consigamos comercializar muito camarão no mercado<br />

interno. Este fato é, com certeza, um atrativo a mais<br />

para eles. Outro ponto é o AquaScience. Eles sabem a<br />

dificuldade e os desafios de se produzir em sistemas fechados.<br />

Em uma recente entrevista, o responsável pelo<br />

setor de aquicultura da CP Foods afirmou que, atualmente,<br />

20% da produção deles já ocorre em sistemas<br />

fechados, e ele acr<strong>ed</strong>ita que dentro de cinco anos este<br />

percentual aumentará para 100%. Assim, a CP Foods<br />

ser parceira da Camanor também traz maior segurança<br />

pra eles, visto que o sistema AquaScience é um modelo<br />

único de produção intensiva e altamente eficaz.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Onde a Camanor quer chegar?<br />

Werner Jost: Nós queremos ser um dos melhores, ou<br />

78<br />

quem sabe até o melhor produtor mundial, em termos<br />

não somente de tecnologia, mas também em custo de<br />

produção, organização e competitividade. Ser uma excelência<br />

mundial em vários aspectos: esse é o objetivo<br />

da Camanor. Para atingir esse objetivo, temos que trabalhar<br />

tendo como base um triângulo, onde em uma<br />

ponta existe o sistema de produção: o “AquaScience”;<br />

na outra ponta a pós-larva, e essa engloba não somente<br />

o conceito da genética e dos avanços visando a alta<br />

produtividade, mas também o conceito de sanidade.<br />

Não queremos um animal que cresça “estranhamente<br />

rápido”. Almejamos um animal sem doenças específicas<br />

que depois poderiam dificultam o seu desenvolvimento.<br />

E a terceira ponta deste triângulo é a ração. Hoje<br />

sabemos que existem muitos problemas de qualidade<br />

nas rações comercializadas no Brasil, ou melhor dizendo,<br />

pois talvez o conceito seja um pouco diferente: a<br />

maioria dos sistemas produtivos no Brasil são semi-intensivos,<br />

utilizando-se de 10 a 20 animais/m², onde<br />

as rações utilizadas funcionam como um complemento<br />

alimentar, em virtude de os viveiros possuírem alimento<br />

natural. Se você muda drasticamente para um<br />

sistema com 400 camarões/m², não pode se basear<br />

em alimentação natural. A dependência da ração é de<br />

100%. Nossa dificuldade atual é conseguir uma ração<br />

com qualidade adaptada a nossa condição de cultivo<br />

intensivo. A CP Foods nos trará novas tecnologias e<br />

diferentes conceitos para delinearmos nosso próprio<br />

laboratório de produção depós-larvas, além da questão<br />

da genética. Estamos trabalhando junto ao MAPA<br />

(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)<br />

para importar animais com melhor desempenho, melhorados<br />

geneticamente. Enquanto isso, aproveitando<br />

o nosso laboratório atual, temos animais que são baseados<br />

na genética da Aquatec, mas que já passaram<br />

pelo sistema AquaScience. Especificamente sobre a<br />

ração, a CP Foods analisou o cenário brasileiro atual<br />

e nos deu bastante fundamentação para conversarmos<br />

com nossos fornec<strong>ed</strong>ores nacionais, visando melhorar<br />

o nível de qualidade das rações que utilizamos. Uma<br />

última questão são os recursos financeiros que entra-


am através da negociação, os quais facilitarão levar a<br />

diante o conceito do AquaScience. Alguns produtores<br />

dizem que escondemos tudo, mas nosso investimento<br />

é muito alto! Ao mesmo tempo em que gastamos milhões<br />

de reais, perdemos também, porque o caminho<br />

que escolhemos em determinada questão nem sempre<br />

é o correto. Ajustes na rota sempre são necessários.<br />

AQUACULTURE BRASIL: A importação de camarões congelados<br />

apresenta um grande risco sanitário para a carcinicultura<br />

brasileira. Pensando que a Camanor trabalha<br />

em sistema fechado e biosseguro, esta importação deixaria<br />

de ser um risco para vocês?<br />

Werner Jost: Com certeza seria um risco! Com o<br />

AquaScience, nós encontramos uma maneira de como<br />

conviver com a mancha branca. Hoje, praticamente<br />

não perdemos mais camarão devido a essa enfermidade.<br />

Contudo, cada vírus e cada bactéria é uma nova<br />

história e não sabemos como o sistema poderá reagir,<br />

se sofreria ou não algum impacto. A sanidade é um<br />

ponto crucial no conceito do AquaScience. Para nós,<br />

como também para os demais produtores brasileiros,<br />

seria muito melhor que não houvesse a importação<br />

de camarão congelado de outros países, uma vez que<br />

no beneficiamento destes crustáceos não há garantias<br />

de que os resíduos do processamento não possam<br />

chegar ao meio ambiente e, muito rapidamente, alguma<br />

nova doença possa se disseminar para as fazendas.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Vocês já estão implantando a<br />

geração quatro (G4)? Como estão os ganhos de produtividade<br />

a cada geração e quais os principais desafios<br />

encontrados geração após geração?<br />

Werner Jost: A maioria dos viveiros construídos hoje<br />

estão na geração três (G3), entretanto, já estamos implantando<br />

alguns G4. Ao longo dos últimos 2-3 anos, trabalhamos<br />

na G3, modificando e melhorando consideravelmente<br />

esta geração. Estamos modificando os viveiros<br />

que construímos, cobrindo-os com estufa. Isto requer<br />

alto investimento. Também temos que prestar bastante<br />

atenção em cada alteração do sistema. Estamos muito<br />

confiantes que estas alterações mudarão a maneira de se<br />

produzir, no sentido de que os parâmetros fiquem ainda<br />

mais estáveis. No caso das estufas, especialmente a temperatura.<br />

Estamos aprendendo a manipular, no sentido<br />

positivo, a temperatura das estufas para atingirmos uma<br />

temperatura constante ao longo de todo o ano. Para a<br />

G4 estamos construindo uma unidade piloto, testando<br />

aspectos construtivos, utilizando diferentes materiais. Antes<br />

de começar a construir em grande escala uma nova<br />

geração, pretendemos realizar diversos testes e observar<br />

se o sistema está atendendo às nossas expectativas. Uma<br />

vez que estiver tudo certo, partimos para a expansão. A<br />

meta é construir 30 ha na G4. Essa nova geração trará<br />

um aumento de produtividade e nossa ideia é simplificar<br />

o sistema, tanto com relação aos insumos, estrutura,<br />

energia elétrica, como também na gestão. Para isso, as<br />

unidades de produção serão todas do mesmo tamanho,<br />

o que não é o caso das outras gerações. Essa novidade<br />

facilitará o planejamento, uma vez que todos os insumos<br />

serão calculados para tanques com iguais dimensões.<br />

Nosso objetivo é não somente aumentar a produtividade,<br />

como também simplificar e r<strong>ed</strong>uzir os custos de<br />

produção, tornando-nos competitivos a nível mundial.<br />

AQUACULTURE BRASIL: Há a ideia de replicar e comercializar<br />

o sistema AquaScience para outras empresas ou<br />

países?<br />

Werner Jost: Não temos a intensão de comercializar o<br />

sistema por duas razões, primeiro, porque sabemos da<br />

complexidade do AquaScience. Atualmente não conhecemos<br />

nenhuma outra empresa que teria a capacidade<br />

de absorver a complexibilidade deste modelo, não<br />

somente pela tecnologia empregada, bem como pelo<br />

gerenciamento. Segundo porque, uma vez que nós disseminemos<br />

a tecnologia, não teremos mais o controle<br />

do grupo, correndo riscos de o AquaScience ser implantado<br />

por terceiros. Para nós é fundamental ter essa<br />

vantagem competitiva que o sistema nos proporciona. A<br />

Camanor é uma empresa formal que atende a todos os<br />

requisitos ambientais e todas as exigências trabalhistas.<br />

Isto gera um custo enorme comparado a outros produtores<br />

que, por exemplo, não trabalham formalmente.<br />

Repassar esta tecnologia para outros países é pior ainda.<br />

Os asiáticos, por exemplo, são muito rápidos em absorver<br />

e aprender novas tecnologias, e poderíamos enfrentar<br />

uma dificuldade com relação ao mercado mundial.<br />

Portanto é importante deixar claro que o sistema também<br />

não irá para Ásia, mesmo com união da empresa<br />

com a CP Foods. Nós já possuímos diversas desvantagens<br />

competitivas produzindo no Brasil e o AquaScience<br />

é uma forma de termos um plus que nos possibilite ser<br />

mais competitivo a nível nacional e internacional. Sobre<br />

o que esperar da Camanor nos próximos anos, hoje temos<br />

20ha construídos e a ideia é construir outros 30 ha,<br />

produzindo 15 mil toneladas anuais em 50 ha de área<br />

produtiva. Após isso é possível a construção de uma<br />

nova fazenda. Vai depender da lucratividade que teremos.<br />

Isso não nos imp<strong>ed</strong>e também de ir para outro País,<br />

pois no Brasil, com sua política cambial, sempre teremos<br />

um câmbio supervalorizado, dificultando nossa competitividade.<br />

A grande vantagem de um câmbio valorizado<br />

seria você conseguir importar insumos, mas esbarramos<br />

nos altos impostos da importação. Mas vamos passo a<br />

passo. O primeiro é terminar os 50 ha de área produtiva<br />

e depois pensamos em outros desafios.<br />

SET/OUT 2018<br />

79


Rodrigo Carvalho<br />

Querido por todos da aquicultura brasileira, já estava mais do que na hora do Rodrigo Carvalho ser o<br />

destaque da seção “Eles fazem a diferença”.<br />

Engenheiro de Pesca (UFRPE, 1996), mestre em aquicultura (UFSC, 1999) e doutor em oceanografia<br />

biológica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (2011). Rodrigo nasceu em Recife<br />

(PE), é casado com a Ana Carolina e pai da Larissa, 24 anos, formada em administração e do Arthur, com<br />

8 anos e que sonha ser pesquisador... de tubarões!<br />

“Desde criança gosto de animais e de fazenda, na adolescência quando passava as férias na casa de praia<br />

de amigos, praticava caça submarina e sonhava com uma fazenda cheia de cavalos, vacas... na praia. Quando<br />

descobri a Engenharia de Pesca e prestei vestibular para a UFRPE ainda não sabia o que era a aquicultura, mas<br />

à m<strong>ed</strong>ida que conhecia a área tinha mais certeza de que os animais aquáticos fariam parte da minha vida, fosse<br />

criando ou fosse elaborando produtos. E assim foi, iniciando com meu primeiro trabalho profissional na Fishtec<br />

Consultores Associados, em Florianópolis, onde trabalhei com o Engenheiro de Pesca, Marcelo Chammas”.<br />

O trabalho ao lado de Itamar Rocha<br />

“Trabalhar com Itamar me trouxe um enorme<br />

aprendizado e crescimento profissional. Sou grato<br />

pela confiança que ele depositou em mim através de<br />

diversos projetos, desde a supervisão dos gerentes nas<br />

fazendas e coordenação dos programas de gestão de<br />

qualidade e certificação, à representação da indústria<br />

nas discussões técnicas com o Ministério da Agricultura,<br />

Pecuária e Abastecimento (MAPA), participação<br />

e organização de feiras internacionais como a SEA-<br />

FOOD EXPO e FENACAM e a <strong>ed</strong>ição da revista da<br />

ABCC”.<br />

SET/OUT 2018<br />

Legados deixados na ABCC<br />

“Os maiores legados que deixei durante a minha<br />

colaboração com a ABCC foram os documentos e<br />

cursos sobre gestão de qualidade e agregação de valor<br />

ao camarão cultivado, os boletins e a r<strong>ed</strong>e de informações<br />

sobre mercado que coordenei na época das<br />

exportações, a relação que construímos com a divisão<br />

de pescado do MAPA, a DIPES e o trabalho com a<br />

Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes<br />

(CCRC) após a crise do Plano Nacional de Controle<br />

de Resíduos e Contaminantes que quase levou<br />

à suspensão das exportações dos produtos cárneos<br />

e apícolas brasileiros. Formávamos uma boa equipe<br />

(Eduardo, Josemar, Glauber, Alfr<strong>ed</strong>o e eu) sob a regência<br />

de Itamar e que, embora pequena, dava conta<br />

de muitas frentes. Durante as discussões com as associações<br />

das indústrias de bovinos, suínos e aves ficou<br />

claro que o setor aquícola ainda tinha um caminho<br />

longo a percorrer para se consolidar no agronegócio<br />

brasileiro. Hoje, junto com pesquisadores da UFRN<br />

e de outras instituições colaboro de forma voluntária<br />

com a indústria nas questões técnicas, como aconteceu<br />

recentemente no episódio das importações de<br />

camarão do Equador. ”<br />

80<br />

Arthur, o futuro pesquisador... de<br />

tubarões!<br />

Família.


Novos rumos<br />

“Eu sempre gostei de fazer pesquisa e sonhava<br />

em fazer doutorado fora do país. Fiz duas tentativas,<br />

em 2000 e 2005 para trabalhar com peixes<br />

marinhos na Terra Nova e depois lagostas, na<br />

Tasmânia, mas não consegui auxílio. A crise no setor<br />

em 2005 deu um empurrão para eu retomar os<br />

meus planos de fazer doutorado e pretendia fazer<br />

com uma pesquisa aplicada. Quando conheci o Albert<br />

Tacon e p<strong>ed</strong>i para ser seu orientado no Hawaii<br />

ele me encorajou a fazer no Brasil sob a orientação<br />

do Daniel Lemos, a coorientação dele e o apoio da<br />

Guabi. Deu certo e graças a Deus, e aos amigos que<br />

surgiram no caminho, como o Oceanógrafo Ricardo<br />

Ota, foi uma experiência produtiva e gratificante,<br />

apesar de sofrer com a distância da família e com<br />

a troca do escritório e as viagens pelos trabalhos<br />

hidráulicos, elétricos e as inúmeras coletas de fezes<br />

de camarão no laboratório. No final do doutorado<br />

fui aprovado no concurso da Escola Agrícola de<br />

Jundiaí (EAJ), que é a Unidade de Ciências Agrárias<br />

da UFRN e faço parte do corpo docente dos cursos<br />

Técnico em Aquicultura e Engenharia de Alimentos<br />

e oriento alunos destes cursos e da Engenharia de<br />

Aquicultura e colaboro com duas pós-graduações”.<br />

Experiências internacionais<br />

“Graças ao inglês, e sempre reforço isso com<br />

os meus filhos e alunos, pude aproveitar, através<br />

do trabalho, experiências internacionais muito<br />

enriquec<strong>ed</strong>oras. Estas experiências iniciaram em<br />

2002 quando eu era gerente de uma das indústrias<br />

da Valença da Bahia Maricultura, e consegui o<br />

apoio do Vice-Presidente, o saudoso Mário Aurélio<br />

da Cunha Pinto, para participar do International<br />

Boston Seafood Show e buscar importadores para os<br />

nossos produtos. Esta experiência ampliou a minha<br />

visão sobre o mercado do pescado. Em 2003 fiz<br />

parte da delegação brasileira na reunião do Comitê<br />

para Pescado e Produtos Pesqueiros do CODEX<br />

(comitê conjunto FAO/OMS para alimentos) na<br />

Noruega, Entre 2004 e 2006 tive a oportunidade<br />

de representar o setor em eventos no Chile, Japão,<br />

França e Inglaterra e de volta à academia participei<br />

dos congressos da WAS no México e nos Estados<br />

Unidos. Entre 20<strong>14</strong> e 2017 integrei a equipe<br />

do projeto SUSAQUA-BRAZIL, uma iniciativa de<br />

pesquisadores da Noruega e do Brasil para avaliar<br />

as possibilidades e desafios para desenvolver uma<br />

indústria da maricultura verde e sustentável no<br />

Brasil aproveitando a experiência da Noruega para<br />

ajudar o país a desenvolver o seu potencial. Em<br />

Laboratório.<br />

2015 participei da Seafood Expo North America<br />

e em 2017 fiz parte da delegação brasileira que<br />

participou do Seminário Sobre Produção Aquícola<br />

e Desenvolvimento Pesqueiro na China e pudemos<br />

visitar empresas e centros de pesquisa. Foi uma<br />

experiência técnica e cultural muito rica que nos<br />

fez admirar e respeitar o desenvolvimento da<br />

China.<br />

Trabalho atual<br />

“Trabalho na Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ),<br />

que é a Unidade de Ciências Agrárias da UFRN. A<br />

EAJ foi fundada a 69 anos, antes mesmo da UFRN<br />

que completa 60 anos este ano. Trabalho no que<br />

gosto e com um grupo unido e atuante em diferentes<br />

áreas da aquicultura. Sou chefe do Laboratório<br />

de Tecnologia do Pescado onde desenvolvemos projetos<br />

de agregação de valor, controle de qualidade<br />

e aproveitamento de resíduos e coordeno o Laboratório<br />

de Nutrição de Organismos Aquáticos cujas<br />

linhas de pesquisa compreendem a determinação<br />

do valor nutricional de ingr<strong>ed</strong>ientes para ração, desenvolvimento<br />

de dietas para melhorar as características<br />

dos produtos, balanço iônico e sistemas de<br />

cultivo para tilápias e camarão marinho”.<br />

Projetos atuais<br />

“Meus projetos são incubar empresas na área<br />

de aquicultura e incentivar o empreend<strong>ed</strong>orismo,<br />

produzir peixes e camarões na estação de aquicultura<br />

da EAJ com alta tecnologia para atender as<br />

aulas práticas, pesquisas e produzir um pequeno<br />

exc<strong>ed</strong>ente para ajudar a manter a nossa estrutura.<br />

Construir a planta piloto para processamento<br />

de pescado na EAJ e melhorar as nossas estruturas<br />

para a realização aulas práticas, pesquisas e<br />

cursos. Publicar e, acima de tudo, colocar bons<br />

profissionais no mercado, sejam empreendendo,<br />

trabalhando em empresas ou atuando no ensino,<br />

pesquisa e extensão”.<br />

Rodrigo Carvalho daqui há 30 anos...<br />

“Estarei viajando, curtindo os netos, escrevendo<br />

artigos, colaborando com pesquisas d<strong>ed</strong>icadas à<br />

aquicultura e quem sabe, produzindo ou processando<br />

pescado.<br />

SET/OUT 2018<br />

81


Quem acompanha os perfis nas r<strong>ed</strong>es sociais voltados à carcinicultura marinha, sem dúvidas conhece a<br />

Fazenda AquaFer, de propri<strong>ed</strong>ade de Fernando Gonçalves de Souza Filho e mais 3 irmãos, além do<br />

seu pai. Carcinicultor há 18 anos, diretor da Associação dos Carcinicultores da Paraíba (ACPB) e<br />

cooperado da Aquivale (cooperativa de criadores de camarão), Fernando comenta que, em razão<br />

da síndrome da mancha branca (WSSV), atualmente eles trabalham com dois ciclos de verão,<br />

focados na despesca de camarões grandes (acima de 16 g), e apenas um ciclo de inverno, ambos<br />

em baixa densidade. Este último ciclo, apenas para “pagar as contas”, já que é no inverno que o<br />

vírus WSSV causa maiores problemas.<br />

Fazenda:<br />

AquaFer<br />

Fernando, um dos donos da<br />

Fazenda AquaFer<br />

SET/OUT 2018<br />

Data do povoamento: 24/11/2017<br />

Quantidade de PL estocadas: 500.000<br />

Área: 3,66 ha<br />

Densidade: <strong>14</strong> cam/m²<br />

Data da despesca: 02/03/2018<br />

Dias de cultivo: 98<br />

Peso final : 20,06 g<br />

Biomassa final: 5.035 Kg<br />

Produtividade: 1.375,7 Kg/ha<br />

Sobrevivência: 50,2%<br />

Total de ração: 6.433 Kg<br />

Conversão alimentar: 1,28:1<br />

82


83<br />

SET/OUT 2018

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