14 ed Revista Completa
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REVISTA<br />
EDIÇÃO<br />
<strong>14</strong><br />
SETEMBRO/OUTUBRO<br />
2018<br />
aquaculturebrasil.com<br />
ISSN 2525-3379<br />
WERNER<br />
JOST:<br />
Artigo: Perifíton,<br />
opção de alimento<br />
complementar na<br />
aquicultura - Parte II<br />
Camanor rumo a 15<br />
mil/ton ano em<br />
50 hectares<br />
Coluna: Conexão<br />
Tailândia, presente e<br />
futuro!<br />
Defendeu: Inácio Alves<br />
Neto, Pós-Graduação<br />
em Aquicultura - FURG<br />
Eles fazem a diferença:<br />
Rodrigo Carvalho<br />
MAR/ABR 2018<br />
1
Soluções para quem procura<br />
resultados consistentes.<br />
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A formulação exclusiva para tilápias e camarão do<br />
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melhorando o ganho de peso e eficácia alimentar.<br />
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AQUACULTURE BRASIL<br />
O MAIOR PORTAL DA AQUICULTURA<br />
BRASILEIRA!<br />
EDITOR-CHEFE:<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />
DIRETORES ASSISTENTES:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
DIREÇÃO DE ARTE:<br />
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Jéssica Brol<br />
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:<br />
Ademir Heldt, Alice Eiko Murakami, Amábile Frozza,<br />
Bruno Wernick, Carlos Henrique A de Miranda Gomes,<br />
Cecília Silva de Castro, Claudia Caramelo Brazão, Cláudia<br />
Kerber, Daiane Mompean Romera, Denis William<br />
Johansem de Campo, Eduardo Luis. C. Ballester, Fabiana<br />
Garcia, Fabrício Martins Dutra, Gabriel Nandi Corrêa,<br />
Inácio Alves Neto, Johnny Martins de Brito, Juan Jethro<br />
Silva Santos, Juliana Portella Bernardes, Katt Regina<br />
Lapa, Leandro Maurente, Luis Alberto Romano, Luiz<br />
Henrique Castro David, Marina Nunes Alexandre, Paulo<br />
César Abreu, Rafael Ortiz Kracizy, Raimundo Lima da<br />
Silva Junior, Roberta Almeida Rodrigues, Rodrigo Carvalho,<br />
Shayene Agatha Marzarotto, Tânia Cristina Pontes,<br />
Werner Jost e Wilson Massamitu Furuya.<br />
Os artigos assinados e imagens são de<br />
responsabilidade dos autores.<br />
COLUNISTAS:<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Andre Muniz Afonso<br />
André Camargo<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
Eduardo Gomes Sanches<br />
Fábio Rosa Sussel<br />
Giovanni Lemos de Mello<br />
Marcelo Roberto Shei<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Rodolfo Luís Petersen<br />
Santiago Benites de Pádua<br />
As colunas assinadas e imagens são de<br />
responsabilidade dos autores.<br />
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NOSSA REVISTA É IMPRESSA NA:<br />
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A revista AQUACULTURE BRASIL é uma publicação<br />
bimestral da EDITORA<br />
AQUACULTURE BRASIL LTDA ME.<br />
(ISSN 2525-3379).<br />
www.aquaculturebrasil.com<br />
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88790-000.<br />
A AQUACULTURE BRASIL não se<br />
responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios de<br />
terceiros.<br />
Eleição presidencial e Copa do Mundo ocorrem<br />
a cada quatro anos. Importante frisar este ponto<br />
inicial, uma vez que os brasileiros não se esquecem<br />
nem por um segundo desta periodicidade quadrienal,<br />
ao menos tratando-se de Copa do Mundo.<br />
Nós da Aquaculture Brasil trabalhamos 24 h<br />
diárias com mídias sociais, aliás, desde 1º de janeiro<br />
de 2016. A Aquaculture Brasil nasceu no Facebook<br />
e hoje se populariza ainda mais no Instagram<br />
e em outros portais e mídias sociais. Impactamos<br />
5 milhões de pessoas anualmente! Apesar de termos<br />
uma boa afinidade com o meio digital, jamais<br />
poderíamos imaginar a força das r<strong>ed</strong>es sociais nas<br />
eleições de 2018.<br />
Uma pena que o efeito avassalador destas mídias sociais não elegeu o melhor<br />
projeto, a menos a nível nacional. Pôde-se perceber, de forma online, a “polarização”<br />
também em nosso setor aquícola! Boa parte dos empresários apoiando<br />
em massa o candidato da direita, enquanto professores e estudantes lutando por<br />
candidatos de centro-esquerda, ou esquerda. Quem está com a razão, empregadores,<br />
formadores de recursos humanos, ou estudantes que representam o<br />
nosso futuro? Que dilema!<br />
E o que esperar para a aquicultura? A Associação Brasileira de Piscicultura, no<br />
dia seguinte a definição do novo Presidente do Brasil, lançou uma nota oficial<br />
(publicada em 29/out/18), indicando que “a mais importante demanda da PEIXE<br />
BR e de toda a cadeia da produção de peixes de cultivo é o retorno da atividade<br />
ao âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),<br />
destino tido como natural para abrigar a Aquicultura, uma vez que lá já estão<br />
as indústrias de insumos (genética, sanidade e nutrição), além da promoção da<br />
produção no exterior”.<br />
Segundo Itamar Rocha, principal liderança da carcinicultura marinha brasileira,<br />
“Quem defende essa heresia não tem noção das perspectivas do setor aquícola/carcinícola<br />
e da pesca industrial do Brasil. Voltar ao MAPA seria retroc<strong>ed</strong>er”.<br />
Definitivamente o ano de 2019 será de substanciais mudanças políticas e<br />
consequentemente, econômicas e sociais em nosso País. Que venham dias melhores!<br />
Contudo, até lá muita água ainda vai rolar...<br />
Enquanto 2018 está aí, vamos curtir a FENACAM 2018 – Feira Nacional do<br />
Camarão, que ocorre entre os dias 13 a 16 de novembro em Natal (RN), e<br />
também a 3ª Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, nos dias 13 e <strong>14</strong><br />
de novembro, em Cuiabá (MT). Aliás, falando nisso, acompanhe estes eventos<br />
com exclusividade em nossas mídias sociais.<br />
Dilemas a parte, quem sabe um dia as páginas, perfis e canais que falem<br />
sobre aquicultura também tenham milhões de seguidores (como a de vários políticos<br />
eleitos em 2018), e que sejam da Aquaculture Brasil e de seus parceiros,<br />
colaboradores e amigos!<br />
Estamos trabalhando com afinco para isto acontecer!<br />
Ótima leitura!<br />
Giovanni Lemos de Mello,<br />
Editor chefe.
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SUMÁRIO<br />
AQUACULTURE BRASIL - <strong>ed</strong>ição <strong>14</strong> set/out 2018<br />
08 FOTO DO LEITOR<br />
10 PRODUÇÃO DE MACROBRACHIUM ROSENBERGII EM<br />
SISTEMA DE BIOFLOCOS<br />
»»<br />
p.10<br />
<strong>14</strong> PERIFÍTON: UMA OPÇÃO DE ALIMENTO<br />
COMPLEMENTAR NA AQUICULTURA - PARTE II<br />
»»<br />
p.<strong>14</strong><br />
»»<br />
p.20<br />
20 FILTROS BIOLÓGICOS PARA SISTEMAS DE<br />
RECIRCULAÇÃO AQUÍCOLA (RAS)<br />
26 FITASE LÍQUIDA COMO FERRAMENTA DE<br />
DESEMPENHO E SUSTENTABILIDADE NA CRIAÇÃO<br />
DE TILÁPIAS<br />
32 REPRODUÇÃO DO MOLUSCO DE AREIA MESODESMA<br />
MACTROIDES (REEVE, 1854) EM LABORATÓRIO<br />
38 GAROUPAS AO MAR: CONSERVAÇÃO,<br />
CROWDFUNDING E PROGRAMA DE RECOMPENSAS<br />
PARA OS APOIADORES DO PROJETO<br />
44 INVE DO BRASIL EM AÇÃO: UMA VISITA AO NOSSO<br />
CLIENTE AMBAR AMARAL<br />
48 COOPERATIVA DE PESCA E AQUICULTURA DE GOIÁS<br />
(COOPAQ) – PARTE IV<br />
52 ARTIGOS PARA CURTIR E COMPARTILHAR<br />
53 CHARGES<br />
»»<br />
p.26<br />
»»<br />
p.32<br />
6
»»<br />
p.74<br />
»»<br />
p.76<br />
54 BIOTECNOLOGIA DE ALGAS<br />
56 ATUALIDADES E TENDÊNCIAS NA AQUICULTURA<br />
57 NUTRIÇÃO<br />
58 GENÉTICA<br />
»»<br />
p.38<br />
60 GREEN TECHNOLOGIES<br />
62 VISÃO AQUÍCOLA<br />
64 RANICULTURA<br />
65 RECIRCULATING AQUACULTURE SYSTEMS<br />
66 EMPREENDEDORISMO AQUÍCOLA<br />
68 AQUICULTURA DE PRECISÃO<br />
»»<br />
p.44<br />
70 SANIDADE<br />
71 PISCICULTURA MARINHA<br />
72 TECNOLOGIA DO PESCADO<br />
74 DEFENDEU<br />
76 ENTREVISTA - WERNER JOST<br />
80 ELES FAZEM A DIFERENÇA<br />
»»<br />
p.80<br />
82 DESPESCOU<br />
7
Equipe do Projeto Camarão - FURG, finalizando a despesca<br />
(Rio Grande, RS)<br />
Missileny Xavier<br />
Exemplar de camarão da<br />
Fazenda AquaFer<br />
(Rio Tinto, PB)<br />
Fernando G. de Souza Filho<br />
Sementes de ostra<br />
Crassostrea gigas prontas<br />
para iniciar a engorda<br />
(Florianópolis, SC)<br />
Eduardo da Luz<br />
SET/OUT 2018<br />
8
Coleta de material biológico para extração de DNA em Hypostomus affinis<br />
(Alegre, ES)<br />
Allan Emilio Pi<strong>ed</strong>ade<br />
Aula prática: defumação<br />
de pescado - UFGD<br />
(Dourados, MS)<br />
Heloisa Herrig<br />
SET/OUT 2018<br />
>><br />
Envie suas fotos mostrando a aquicultura no seu dia a dia<br />
e participe desta seção.<br />
r<strong>ed</strong>acao@aquaculturebrasil.com<br />
9
©Citron / CC-BY-SA-3.0<br />
SET/OUT 2018<br />
10
Produção de<br />
Macrobrachium rosenbergii<br />
em sistema de<br />
bioflocos<br />
Claudia Caramelo Brazão<br />
Rafael Ortiz Kracizy<br />
Fabrício Martins Dutra<br />
Ademir Heldt<br />
Leandro Maurente<br />
Amábile Frozza<br />
Cecília Silva de Castro<br />
Shayene Agatha Marzarotto<br />
Paulo César Abreu<br />
Eduardo Luis. C. Ballester*<br />
Laboratório de Carcinicultura<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná – UFPR<br />
Palotina, PR<br />
*elcballester@ufpr.br<br />
Quando comparada com a<br />
carcinicultura marinha, o cultivo<br />
de camarões de água doce<br />
pode ser considerado menos<br />
impactante ao meio ambiente.<br />
Contudo, essa atividade ainda<br />
causa preocupações com a<br />
descarga de efluentes em<br />
corpos d’agua naturais e com<br />
o possível escape de espécies<br />
produzidas para o ambiente,<br />
principalmente quando essas<br />
espécies são exóticas ao<br />
ecossistema natural (Valenti et<br />
al., 2010).<br />
Para permitir<br />
o sucesso na produção<br />
de espécies dulcícolas<br />
nestes sistemas há<br />
necessidade de preencher<br />
lacunas na informação<br />
desta modalidade de<br />
criação.<br />
Atualmente têm sido desenvolvidos<br />
sistemas fechados de<br />
criação, chamados de sistema<br />
de bioflocos (BFT), que previnem<br />
escapes de organismos<br />
e estimulam a ciclagem dos<br />
nutrientes na própria água do<br />
cultivo. Para permitir o sucesso<br />
na produção de espécies dulcícolas<br />
nestes sistemas há necessidade<br />
de preencher lacunas na<br />
informação desta modalidade<br />
de criação. Sendo assim uma<br />
série de trabalhos foi realizado<br />
para determinar algumas das<br />
principais condições de cultivo.<br />
SET/OUT 2018<br />
11
SET/OUT 2018<br />
Avaliação de diferentes densidades<br />
O primeiro passo foi determinar qual a densidade<br />
de animais adequada para realização do cultivo. No<br />
trabalho desenvolvido por Negrini et al., (2018),<br />
foi avaliado o efeito da densidade de estocagem no<br />
desempenho zootécnico de juvenis do camarão de água<br />
doce Macrobrachium rosenbergii, a principal espécie de<br />
camarão de água doce cultivada mundialmente.<br />
O trabalho foi desenvolvido em um sistema<br />
superintensivo com bioflocos. Os autores utilizaram<br />
tanques experimentais (microcosmos) com área de<br />
0,20 m². Os tanques foram conectados a dois tanques<br />
de matriz de 300 L (macrocosmo) com tecnologia<br />
de bioflocos, usados como unidades de recirculação<br />
(Figura 1).<br />
Figura 1. Esquema ilustrativo do sistema experimental.<br />
B<br />
R<br />
D<br />
A A A B<br />
Retorno da água<br />
Distribuição de água<br />
Tanque receptor<br />
Tanque distribuidor<br />
Lâmpadas fluorescentes<br />
Lâmpadas halógenas<br />
Unidades experimentais<br />
Juvenis de M. rosenbergii, com peso inicial de 0,315<br />
± 0,06 g (média ± desvio padrão) e comprimento<br />
inicial de 33,34 ± 2,26 mm, foram distribuídos<br />
aleatoriamente nos tanques em diferentes densidades<br />
de estocagem (50, 100, 150, 200 e 250 ind.m -2 ), em<br />
um período de 60 dias. A biomassa total ao final do<br />
experimento foi significativamente maior (p
Os resultados indicaram maior presença de B.<br />
subtilis no hepatopâncreas e de B. licheniformis na<br />
água, sendo as espécies diferenciadas pela morfologia<br />
das colônias e confirmadas pela técnica de Reação<br />
em Cadeia da Polimerase (PCR), utilizando primers<br />
específicos.<br />
Os resultados demonstrados, indicam que<br />
concentrações a partir de 1,08.10 5 UFC.g -1 (TP1)<br />
contribuem para a melhor sobrevivência de M.<br />
rosenbergii em sistema de bioflocos.<br />
RAS x BFT<br />
Ballester et al. (2017) também realizaram um<br />
compativo entre dois sistemas de criação para<br />
M. rosenbergii, sendo um com uso de sistema de<br />
recirculação de água com biofiltro (RAS) e outro com<br />
uso de flocos microbianos (BFT).<br />
No estudo pós-larvas de camarões com peso<br />
médio inicial de 0,13 ± 0,05 g foram acondicionadas<br />
aleatoriamente em seis unidades experimentais<br />
com 0,20 m² e volume de 50 L por trinta dias.<br />
O oxigênio dissolvido, temperatura e pH foram<br />
monitorados diariamente; a concentração de amônia<br />
foi determinada três vezes por semana; concentração<br />
de nitrito, alcalinidade e dureza foram m<strong>ed</strong>idas<br />
semanalmente. Para a formação de floco microbiano,<br />
o melaço foi usado para manter as concentrações de<br />
amônia em níveis seguros para a criação de camarão.<br />
As variáveis de qualidade da água permaneceram<br />
dentro do intervalo adequado para a produção da<br />
espécie. Ao final do experimento, foram avaliados<br />
sobrevivência, taxa de crescimento específico, ganho<br />
de peso e taxa de conversão alimentar. Diferenças<br />
foram encontradas apenas na taxa de conversão<br />
alimentar com melhores valores no tratamento de<br />
RAS (1,82:1) em relação ao tratamento BFT (2,25:1).<br />
Os microrganismos presentes nos tratamentos RAS<br />
e BFT também foram avaliados. As densidades de<br />
rotíferos, amebas e bactérias totais foram maiores<br />
no tratamento BFT, embora os mesmos organismos<br />
tenham sido encontrados no tratamento de RAS<br />
(Figura 2).<br />
Figura 2. Microrganismos fotografados em microscópio invertido, com o uso de câmara de Utermöhl proveniente das<br />
amostras do experimento em ambos os tratamentos . A) Ciliado Vorticella sp.; B) Ciliado Acineta sp.; C) Thecamoebena sp. e<br />
D) Rotifero.<br />
A<br />
B<br />
10 µm<br />
10 µm<br />
C<br />
D<br />
10 µm<br />
10 µm<br />
SET/OUT 2018<br />
Conclusão<br />
Os resultados dos experimentos com a produção de M. rosenbergii em sistema BFT demonstram a<br />
possibilidade de produzir estes camarões no sistema superintensivo com bioflocos, entretanto, apontam que as<br />
densidades de cultivo não podem ser tão altas quanto àquelas usadas para camarões marinhos. A supressão de<br />
suplementos vitamínicos e minerais nas rações pode ser realizada e a utilização de probióticos é benéfica para<br />
o cultivo. Entretanto, são necessárias avaliações econômicas criteriosas para determinar a viabilidade deste tipo<br />
de cultivo.<br />
13
© William Mebane<br />
SET/OUT 2018<br />
<strong>14</strong>
Perifíton:<br />
uma opção de alimento<br />
complementar na<br />
aquicultura - Parte II<br />
Roberta Almeida Rodrigues*<br />
Denis William Johansem de Campos<br />
Luiz Henrique Castro David<br />
Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />
Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />
Jaboticabal, SP<br />
*roberta.biologa10@gmail.com<br />
Daiane Mompean Romera<br />
Instituto Agronômico de Campinas - APTA<br />
Fabiana Garcia<br />
Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP<br />
Universidade Estadual Paulista (UNESP)<br />
Instituto de Pesca<br />
Centro do Pescado Continental - APTA<br />
pós conhecer os conceitos e as aplicações<br />
A gerais do perifíton, descritos na Parte I<br />
dessa série de artigos, nesta segunda parte serão<br />
apresentados dados e informações específicas sobre<br />
o uso de diferentes tipos e informações específicas<br />
sobre o uso de diferentes tipos de substratos. Além<br />
disso, como forma de compreender a dinâmica dos<br />
microrganismos que compõem o perifíton, serão<br />
expostas informações sobre a sua composição<br />
taxonômica e nutricional, e como o perifíton pode<br />
beneficiar os organismos cultivados.<br />
SET/OUT 2018<br />
15
SET/OUT 2018<br />
Os diferentes tipos de substratos<br />
O perifíton coloniza estruturas rígidas presentes<br />
na coluna d’água, denominadas de substratos.<br />
Essas estruturas são adicionadas como forma de<br />
aumentar a área superficial de contato e potencializar<br />
a disponibilidade de perifíton dentro do sistema<br />
de produção. Azim et al., (2004) mostra que a<br />
produtividade aumenta, proporcionalmente, à m<strong>ed</strong>ida<br />
que mais substrato é adicionado no sistema (Figura 1).<br />
Em trabalhos realizados pelo nosso grupo de pesquisa,<br />
a adição de 50% de área de substrato de bambu em<br />
tanques-r<strong>ed</strong>e e viveiros escavados tem mostrado ótimos<br />
resultados, principalmente em relação a diminuição da<br />
conversão alimentar e do tempo de cultivo.<br />
Existem inúmeros tipos de materiais que podem<br />
ser utilizados como substrato e a sua escolha<br />
é muito importante, pois isso irá interferir na<br />
composição taxonômica da comunidade perifítica e<br />
consequentemente no seu valor nutricional.<br />
A escolha do substrato deve ser baseada na origem<br />
do material, seu custo, facilidade de aquisição e manuseio,<br />
além de características de superfície adequadas<br />
para o desenvolvimento do perifíton. Portanto, é<br />
necessária a escolha de um material que não sobrecarregue<br />
o sistema, não libere nenhuma substância e<br />
que não seja consumido pelos organismos cultivados.<br />
O ideal é que o mesmo apresente superfície uniforme<br />
e que permita a fácil remoção do material aderido pelos<br />
animais cultivados. Para isso, o substrato deve estar<br />
bem fixo, pois os peixes realizam certa pressão para<br />
remover o perifíton.<br />
Vários estudos mostraram os benefícios do uso de<br />
diferentes tipos de substratos artificiais às unidades de<br />
produção. Nestes são utilizados materiais como: tubos<br />
de PVC com malha plástica, r<strong>ed</strong>e suspensa, bagaço<br />
de cana, polietileno de alta densidade (PEAD), bambu<br />
(considerado material de fácil aquisição, encontrado e<br />
retirado diretamente do campo), manta geotêxtil (que<br />
possui grande área para fixação do perifíton e custo<br />
elevado), entre outros (Figura 2).<br />
Composição taxonômica<br />
A diversidade taxonômica e a abundância do perifíton<br />
dependem de uma série de fatores, como: habitat<br />
e tipos de substrato, intensidade de luz, pressão de<br />
pastejo (ato de raspar o substrato, exercido pelos peixes<br />
para consumir o perifíton colonizado no substrato),<br />
disponibilidade de nutrientes, pH e perturbações físicas<br />
provocadas pela chuva e vento, os quais promovem o<br />
desprendimento do perifíton dos substratos.<br />
Em relação ao tempo de colonização e estabilização<br />
do perifíton, este pode variar de uma a quatro semanas.<br />
No reservatório de Nova Avanhandava, assim como<br />
em represas rurais no Noroeste Paulista, o tempo de<br />
16<br />
Figura 1. Relação entre produção e superfície do substrato contendo<br />
perifíton (Adaptado de Azim et al., 2004).<br />
Produtividade (Kg/ha)<br />
1500<br />
1250<br />
1000<br />
750<br />
500<br />
250<br />
0<br />
0 25 50 75 100<br />
Superfície do substrato (% área do viveiro)<br />
Figura 2 . Diferentes tipos de substratos utilizados na produção de perifíton.<br />
© William Mebane<br />
colonização para estabilização do acúmulo de matéria<br />
seca em substratos de bambu é de três semanas. Por este<br />
motivo, quando o objetivo é utilizar o perifíton como<br />
alimento complementar para a produção de peixes,<br />
inserimos os substratos ao menos duas semanas antes do<br />
povoamento dos viveiros ou tanques-r<strong>ed</strong>e com peixes.<br />
As comunidades perifíticas são geralmente<br />
constituídas por componentes autotróficos (Figura<br />
3) e heterotróficos, com frequente dominância de<br />
microalgas como diatomáceas (Bacillariophyceae), algas<br />
verdes (Chlorophyceae) e algas azuis (Cyanobacteria),<br />
além de bactérias, protozoários e fungos (Figura 4).
Figura 3 . Microalgas autotróficas encontradas no perifiton.© Roberta Almeida Rodrigues<br />
Figura 4 . Organismos heterotróficos encontrados no perifiton.© Roberta Almeida Rodrigues<br />
A proporção entre algas e organismos heterotróficos<br />
é o que caracteriza a comunidade perifítica em<br />
fase autotrófica ou heterotrófica. Se houver maior<br />
proporção de organismos fotossintetizantes, há<br />
maior disponibilidade de oxigênio dissolvido na água.<br />
Caso contrário, o perifíton irá competir por oxigênio<br />
com os organismos cultivados, situação similar ao<br />
que ocorre em sistemas de bioflocos, onde há<br />
necessidade constante de suplementação de oxigênio<br />
dissolvido e fontes exógenas de nutrientes (Figura<br />
5). A incidência de luz na coluna d’água é um fator<br />
determinante na caracterização do perifíton. Quanto<br />
maior a transparência da água, maior a ocorrência de<br />
microalgas em relação aos organismos heterotróficos<br />
(bactérias, fungos, protozoários, etc.) e cianofíceas. A<br />
elevada concentração de fósforo favorece a presença<br />
de algas filamentosas e cianofíceas. A relação ideal<br />
de nutrientes para um ótimo desenvolvimento da<br />
comunidade perifítica é de C/N/P : 119/17/1 (Azim<br />
et al., 2005). Desta maneira, conhecendo estas<br />
relações, o piscicultor pode direcionar suas práticas<br />
de manejo para propiciar um ambiente favorável ao<br />
desenvolvimento do perifíton com melhor qualidade<br />
nutricional.<br />
As algas que compõem o perifíton desempenham<br />
papel fundamental na ciclagem dos nutrientes, no<br />
balanço do pH, na remoção do gás carbônico, produção<br />
de oxigênio, absorção dos compostos nitrogenados e<br />
na melhora da qualidade de água. No entanto, devese<br />
tomar cuidado, pois algumas espécies de bactérias<br />
e microalgas podem causar problemas aos organismos<br />
aquáticos, devido à produção de diversas cianotoxinas,<br />
SET/OUT 2018<br />
17
Figura 5 . Comparação entre os alimentos naturais perifíton e biofloco (Fonte: Crab et al.,2007).<br />
Bioflocos<br />
Alimento<br />
O²<br />
Luz<br />
Fonte de carbono<br />
Peixe<br />
Alimento não consumido<br />
Fezes<br />
Bioflocos<br />
C:N = 20:1<br />
Perifíton<br />
Alimento<br />
O²<br />
Luz<br />
Peixe<br />
Alimento não consumido<br />
Fezes<br />
Perifiton<br />
C:N:P = 119:17:1<br />
C:N = 10:1<br />
SET/OUT 2018<br />
as quais são nocivas para os vertebrados, tais como<br />
anatoxina-a, saxitoxinas, cilindrospermopsina e<br />
microcistinas, interferindo, assim, no produto final.<br />
Exemplo disso, muito conhecido na aquicultura, é o<br />
Off-flavor, nome dado ao sabor e odor desagradáveis<br />
que os peixes adquirem devido à proliferação de<br />
cianobactérias, que ocorrem naturalmente no<br />
ambiente do viveiro, com altos e desequilibrados<br />
níveis de nutrientes. Além disso, esses microrganismos<br />
apresentam composição bioquímica diversificada<br />
(carboidratos, proteínas, lipídios, ácidos graxos, etc.)<br />
que varia de acordo com a espécie.<br />
Valor nutricional<br />
O perifíton constitui importante fonte<br />
complementar de alimento para as cadeias tróficas,<br />
pois possui elevado valor nutritivo baseado nos<br />
teores de proteínas, vitaminas, minerais, fósforo,<br />
carboidratos solúveis, lipídeos, ácidos graxos poliinsaturados<br />
(PUFA), esteróis, aminoácidos, e<br />
pigmentos. Alguns fatores podem afetar o valor<br />
nutricional da comunidade perifítica: disponibilidade<br />
de luz, disponibilidade de nutrientes no meio, tipo<br />
de substrato e pressão de pastejo. A tabela 1 mostra<br />
a composição do perifíton em diferentes tipos de<br />
substratos.<br />
Tabela 1 .Composição nutricional aproximada do perifíton crescido em diferentes tipos de substratos (Adaptado de Azim et<br />
al., 2005).<br />
18
A quantidade de perifíton em viveiros pode<br />
constituir de 15-40% de cinzas, dependendo do<br />
tipo de substrato (Azim et al., 2003). A pressão de<br />
pastejo pelos peixes é um fator que contribui para<br />
a r<strong>ed</strong>ução nos teores de cinzas do perifiton (Azim<br />
et al., 2002). Em relação à proteína presente no<br />
perifíton em viveiros ou tanques, esta pode variar de<br />
9-32% (Azim e Asa<strong>ed</strong>a, 2005). Nos estudos mais<br />
recentes do nosso grupo de pesquisa, verificamos<br />
que a qualidade da proteína presente em perifíton<br />
oriundo de substratos de bambu é muito superior a<br />
diversos ingr<strong>ed</strong>ientes usados na fabricação de ração<br />
comercial. Isto porque a diversidade de organismos<br />
faz com que seu perfil de aminoácidos se assemelhe<br />
muito ao encontrado na musculatura de tilápias do<br />
Nilo. Desta forma, é possível compensar a menor<br />
ingestão de ração com a oferta de alimento natural<br />
(perifíton) de alto valor nutricional, conferindo melhor<br />
desempenho produtivo dos peixes.<br />
Benefícios do perifíton para os<br />
organismos cultivados<br />
Além dos benefícios alimentares, o uso do perifíton<br />
pode contribuir para um mercado de produção<br />
agroecológica (Milstein et al., 2008; Saikia e Das,<br />
20<strong>14</strong>). Adicionalmente, tornam-se crescentes as<br />
evidências sobre o efeito positivo do perifíton na<br />
saúde dos peixes, isto porque o perifíton serve como<br />
substrato acessório para comunidades microbianas.<br />
Estas atuam como probiótico e r<strong>ed</strong>uzem os riscos de<br />
doenças sobre os organismos cultivados por meio da<br />
exclusão competitiva de patógenos, melhorando os<br />
índices zootécnicos de sobrevivência e crescimento.<br />
O terceiro e último tópico dessa série de matérias,<br />
trará informações sobre o aumento da produtividade e<br />
potencial econômico do uso de perifíton em sistemas<br />
de produção aquícola.<br />
Até a próxima <strong>ed</strong>ição!<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos
SET/OUT 2018<br />
20
Filtros biológicos<br />
para Sistemas de<br />
Recirculação Aquícola<br />
(RAS)<br />
Gabriel Nandi Corrêa<br />
Marina Nunes Alexandre<br />
Katt Regina Lapa<br />
Curso de Graduação em Aquicultura<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina, UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
katt.lapa@ufsc.br<br />
Fatores como limitações na qualidade<br />
e quantidade de água, custo da terra,<br />
limitações no descarte do efluente,<br />
impactos ambientais e enfermidades estão<br />
levando a indústria da aquicultura a práticas mais<br />
intensivas, utilizando cada vez mais os Sistemas<br />
de Recirculação em Aquicultura (SRA, ou RAS<br />
em inglês que significa Recirculating Aquaculture<br />
Systems) (Gutierrez-Wing; Malone, 2006). Os<br />
processos de tratamento da água aplicados em<br />
aquicultura podem ser separados em físicos,<br />
químicos e biológicos (Crab et al., 2007). Em um<br />
RAS, os principais desafios estão nos processos de<br />
remoção de sólidos em suspensão e no controle<br />
da acumulação de compostos nitrogenados<br />
(Greiner; Timmons, 1998). A filtração biológica<br />
é parte importante dos componentes que um<br />
RAS pode utilizar para manter a qualidade da<br />
água em sistemas mais intensificados (Gutierrez-<br />
Wing; Malone, 2005; Delong; Losordo, 2012).<br />
O nitrogênio (N) é um nutriente essencial para<br />
a vida e, na aquicultura, compostos nitrogenados<br />
são gerados naturalmente durante o processo<br />
produtivo (resíduos de ração e metabolismo<br />
dos peixes) (Ebeling, 2006). Na particularidade<br />
da piscicultura, o principal resíduo nitrogenado<br />
produzido pelos peixes é a amônia, excretada<br />
principalmente pelas brânquias (Wood, 1993;<br />
Ebeling, 2006; Delong; Losordo, 2012). A amônia<br />
pode ser tóxica para os peixes e é considerada<br />
um agente estressor, resultando na r<strong>ed</strong>ução do<br />
apetite e taxa de crescimento, podendo culminar<br />
em mortalidades quando encontrada em altas<br />
concentrações (Nelson; Cox, 1998; Ebeling, 2006;<br />
Delong; Losordo, 2012;). O processo biológico<br />
utilizado para controle/r<strong>ed</strong>ução dos compostos<br />
nitrogenados potencialmente tóxicos produzidos<br />
durante o ciclo produtivo, chama-se nitrificação.<br />
SET/OUT 2018<br />
21
Nitrificação<br />
Em sistemas de recirculação para aquicultura (RAS), a<br />
amônia é removida através do processo de nitrificação,<br />
bactérias nitrificantes, em condições aeróbias, oxidam<br />
a amônia até sua forma menos tóxica, o nitrato. Essa<br />
transformação é realizada, principalmente, por bactérias<br />
dos gêneros Nitrosomonas (que oxidam amônia a nitrito)<br />
e Nitrobacter (que oxidam nitrito a nitrato) (Figura 1).<br />
Figura 1. Reações de oxidação da amônia até nitrato (Fonte:<br />
Delong; Losordo, 2012).<br />
eficiência operacional de um biofiltro depende de fatores<br />
ambientais (Tabela 2) e de engenharia, por exemplo,<br />
acessibilidade da superfície de contato do meio<br />
filtrante, taxa de escoamento superficial (m 3 /(m 2 /dia)),<br />
fluxo de água, presença de bactérias competidoras. Diferentes<br />
tipos de biofiltros e materiais suporte para as<br />
bactérias estão disponíveis no mercado (Figura 2 e 3).<br />
Tabela 2. Parâmetros ambientais recomendados para operação de<br />
um biofiltro (Adaptado de Ebeling, 2006).<br />
SET/OUT 2018<br />
Alguns fatores impactam o processo de nitrificação,<br />
por exemplo: pH, temperatura, alcalinidade<br />
e salinidade, influenciam a ecologia microbiana que<br />
compõe o biofilme. A concentração de amônia, oxigênio<br />
dissolvido e resíduos, afetam o fornecimento de<br />
nutrientes para as bactérias. A competição de nutrientes<br />
e espaço com bactérias heterotróficas, impactam<br />
sobre o crescimento e fornecimento de nutrientes a<br />
comunidade bacteriana desejada (Chen et al., 2006).<br />
De acordo com Ebeling (2006) cerca de 3% da alimentação<br />
diária ofertada aos animais acaba como nitrogênio<br />
amoniacal na água. Dessa forma, 1 kg de ração<br />
ofertada introduziria 30 gramas de amônia no sistema,<br />
e para cada grama de amônia nitrificada temos os resultados<br />
estequimétricos apresentados na Tabela 1.<br />
Tabela 1. Consumo e produção do processo de nitrificação<br />
a cada 1 g de amônia (Adaptado de Ebeling, 2006).<br />
Filtros biológicos<br />
O filtro biológico, conhecido também como biofiltro,<br />
é um componente essencial de um sistema de recirculação<br />
para aquicultura, abrigando a comunidade microbiana<br />
responsável pela nitrificação (Delong; Losordo,<br />
2012). Ao usar um biofiltro deverá ser considerado o fato<br />
de estar conduzindo dois cultivos simultaneamente, o<br />
organismo cultivado e a biomassa bacteriana nitrificante.<br />
Os biofiltros são biorreatores dimensionados com<br />
alta área superficial de contato (AS) que permitem a<br />
fixação e o crescimento das bactérias nitrificantes. A<br />
Tipos de biofiltros<br />
Os biofiltros podem ser divididos em duas principais<br />
categorias: emergentes, como os filtros percoladores e<br />
discos rotativos (Figura 4), e submersos, com material<br />
suporte fixo ou em suspensão (Figuras 5 e 6) (Ebeling,<br />
2006; Fernandes et al., 2017). A maior parte da biofiltração<br />
em sistemas de recirculação tem sido focada<br />
em filtros aeróbios de leito fixo, com material suporte<br />
estático para o crescimento de um biofilme nitrificante.<br />
Nos últimos anos, a indústria da aquicultura vem<br />
optando por biofiltros mais facilmente operados, como<br />
os biofiltros de leito fluidizado/móvel (Moving B<strong>ed</strong> Biofilter<br />
Reactor, em inglês), carecendo de estudos que comparem<br />
o desempenho dos modelos existentes (Fernandes<br />
et al., 2017).<br />
No mercado, existem diferentes materiais suportes,<br />
ou mídias filtrantes como também são conhecidos,<br />
disponíveis para fixação das bactérias, devendo ser levada<br />
em consideração a área total disponível por metro<br />
cúbico de mídia e a funcionalidade do material nos<br />
manejos. Os mais amplamente utilizados são: materiais<br />
sintéticos de plástico, materiais de natureza porosa, brita,<br />
cascalho, areia, entre outros (Reynolds; Richards,<br />
1995; Sultana et al., 2017). Na Tabela 3 é apresentado<br />
o desempenho de diferentes tipos de materiais suportes<br />
e filtros flutuantes já estudados por pesquisadores.<br />
Salling et al., (2007) indicam que substratos alternativos<br />
como a madeira podem ser utilizados, entretanto,<br />
deve-se ficar atento com o tempo de vida útil<br />
desses materiais, pois podem gerar problemas secundários<br />
e comprometer a qualidade da água do sistema.<br />
22
Tabela 3. Desempenho de diferentes tipos de materiais suportes e filtros flutuantes.<br />
De acordo com Lekang (2010) é necessário 1m²<br />
de área superficial de material suporte para cada 1g<br />
de amônia produzida por dia. Conhecendo a quantidade<br />
de amônia produzida diariamente e a área superficial<br />
específica do material suporte, pode-se calcular<br />
o volume necessário de material no biofiltro.<br />
Tabela 4. Comparativo de remoção de amônia em filtros emergentes<br />
e filtros que utilizam materiais suporte tipo Bead ou areia<br />
(Adaptado de Ebeling, 2006).<br />
Figura 2. Elementos plásticos estruturados para biofiltro. Alta<br />
área superficial específica (ASE).<br />
Figura 3. Classificação dos biofiltros utilizados em aquicultura (Adaptado de Ebeling, 2006).<br />
BIO<br />
FIL<br />
TRA<br />
ÇÃO<br />
Crescimento em suspensão<br />
Bactérias heterotróficas<br />
Biofilme fixo<br />
Bactérias nitrificantes<br />
Emergentes<br />
Submersos<br />
Biológico rotativo<br />
Percolador<br />
Fluidizados<br />
Filtro de areia fluidizado<br />
MBBR<br />
Bead descendente<br />
SET/OUT 2018<br />
Fluidizáveis<br />
Filtro de espuma<br />
Bioclarificador Bead<br />
Filtro de areia ascendente<br />
Ensacados/<br />
fixo<br />
Material plástico<br />
Britas<br />
Conchas<br />
23
Figura 4. Filtros emergentes: a) Biodisco rotativo; b) Filtro percolador (Adaptado<br />
de Ebeling, 2006).<br />
Figura 5. Biofiltro submerso fluidizado, MBBR.<br />
© Katt Regina Lapa<br />
Figura 6. Filtro submerso pressurizado com material suporte tipo Bead.<br />
© Pk1 Micro Bead filter<br />
SET/OUT 2018<br />
Perspectivas e estudos em<br />
andamento<br />
Atualmente, a intensificação dos cultivos está<br />
cada vez mais comum. A aquicultura sustentável<br />
se baseia em: gerar um produto de qualidade,<br />
tendo uma produção lucrativa e preservando<br />
o meio ambiente (Valenti, 2002). O sistema<br />
de recirculação (RAS) permite o aumento na<br />
produção sem a necessidade de aumentar a área<br />
física, r<strong>ed</strong>uzindo impactos ambientais e gerando<br />
um produto sustentável. Sistemas como esses<br />
estão com muita visibilidade, e para a aquicultura<br />
continuar expandindo, tecnologias devem ser alvo<br />
de estudos a fim de desenvolver sistemas mais<br />
eficientes para reuso da água e r<strong>ed</strong>uzir ainda mais<br />
os impactos ambientais.<br />
Para a aquicultura<br />
continuar expandindo,<br />
tecnologias devem ser<br />
alvo de estudos<br />
a fim de desenvolver<br />
sistemas mais eficientes<br />
para reuso da água e r<strong>ed</strong>uzir<br />
ainda mais os impactos<br />
ambientais.<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
24
Fitase líquida<br />
como ferramenta<br />
de desempenho e<br />
sustentabilidade na<br />
criação de tilápias<br />
Tânia Cristina Pontes<br />
Johnny Martins de Brito<br />
Alice Eiko Murakami<br />
Wilson Massamitu Furuya*<br />
Universidade Estadual de Ponta Grossa<br />
Departamento de Zootecnia<br />
Ponta Grossa, PR<br />
*wmfuruya@uepg.br<br />
Bruno Wernick<br />
BASF Saúde & Nutrição<br />
Coordenador de Serviços Técnicos<br />
Maringá, PR<br />
PPZ/UEM - Maringá,PR. Trabalho realizado com apoio da CAPES - Código de Financiamento 001<br />
Importância da fitase na aquicultura<br />
Os cereais, legumes e co-produtos estão sendo<br />
amplamente utilizados como alimentos sustentáveis<br />
na formulação de rações para tilápias em substituição<br />
à farinha de peixe e outros alimentos proteicos de<br />
origem animal. No entanto, apresentam fatores antinutricionais,<br />
como ácido fítico, a principal forma de<br />
armazenamento do fósforo em vegetais. O ácido fítico<br />
também pode complexar insolúveis com outros minerais<br />
como o cálcio, magnésio, manganês, ferro e cobre.<br />
Assim, ocorre r<strong>ed</strong>ução na disponibilidade desses<br />
minerais, com consequente r<strong>ed</strong>ução no crescimento<br />
e aumento na excreção de fósforo. Além de aumentar<br />
a disponibilidade do fósforo, a fitase melhora a<br />
digestibilidade da proteína. Considerando que as rações<br />
de peixes possuem elevados teores de proteína<br />
quando comparadas com as rações de aves e suínos,<br />
a utilização de fitase r<strong>ed</strong>uz a excreção de nitrogênio e<br />
contribui para criação mais sustentável de peixes. Elevadas<br />
concentrações de nitrogênio e fósforo estimulam<br />
a eutrofização da água, diminuem a capacidade de<br />
suporte e aumentam o risco de peixes prontos para<br />
o abate com off-flavor, rejeitados pelo consumidor.<br />
Nos últimos anos, foram lançadas novas gerações<br />
SET/OUT 2018<br />
27
de fitase mais resistentes ao processamento térmico e<br />
adequadas às características do pH dos animais. Além<br />
disso, há disponibilidade no mercado de fitase líquida,<br />
que é adicionada após extrusão e secagem, permitindo<br />
garantia dos efeitos da enzima suplementada. Em<br />
busca de uma criação mais focada em rações ambientalmente<br />
sustentáveis com menor potencial poluente,<br />
uma pesquisa foi desenvolvida em parceria com a<br />
Universidades Estadual de Ponta Grossa, Universidade<br />
Estadual de Maringá e a Basf, objetivando de forma<br />
pioneira avaliar a possibilidade de elaborar ração extrusada<br />
para tilápias do Nilo sem alimentos de origem<br />
animal, sem inclusão de fontes inorgânicas de fósforo<br />
e suplementada com fitase.<br />
Configuração experimental<br />
Os proc<strong>ed</strong>imentos experimentais foram aprovados<br />
para execução pelo Comitê de Conduta Ética para<br />
Uso de Animais em Experimentação da Universidade<br />
Estadual de Ponta Grossa (Protocolo N° 6352/2017).<br />
Foi elaborada ração basal exclusivamente com alimentos<br />
de origem vegetal a base de milho, farelo de trigo,<br />
farelo de arroz e farelo de soja com 32,0 % de proteína<br />
bruta, 3300 kcal/kg de energia digestível, 0,8% de<br />
fósforo total e 0,9% de cálcio. A partir da ração basal,<br />
foram elaboradas três rações com 500, 1000 e 1500<br />
unidades de fitase ativa (UFA)/kg. Foi utilizada fitase<br />
microbiana (Natuphos® E-10,000 FTU/kg -1 – BASF,<br />
Corporation, Ludwigshafen, Germany). As rações foram<br />
elaboradas com base em análise prévia dos alimentos<br />
e confirmadas por meio das análises laboratoriais<br />
das rações. A atividade da enzima fitase também<br />
foi confirmada por meio de análise laboratorial após<br />
aplicação da enzima nas rações.<br />
As rações foram misturadas, moídas e extrusadas<br />
no AquaNutri (Botucatu, SP, Brasil). A moagem foi realizada<br />
em moinho centrífugo com peneiras com furos<br />
de 0,7 mm e a extrusão foi realizada em extrusor de<br />
rosca simples com matriz de 3 mm de diâmetro. Após<br />
secagem e resfriamento, a fitase foi diluída em água<br />
deionizada e pulverizada “on-top” de forma a obter<br />
rações sem e com 500, 1000 e 1500 UFA/kg.<br />
Foram utilizados 96 juvenis machos de tilápia do<br />
Nilo com peso inicial médio de 36 ± 1 g, distribuídos<br />
em oito aquários de alimentação com formato circular<br />
e volume total de 250 L, confeccionados em fibra de<br />
vidro. A temperatura da água e o oxigênio dissolvidos<br />
foram mantidos em 27 ± 0,2°C e 6 ± 0,5mg/L,<br />
respectivamente. Os peixes foram alimentados durante<br />
49 dias. Ao final do experimento, todos os peixes<br />
foram pesados. Quatro peixes foram utilizados para<br />
análise da composição corporal, três peixes foram coletados<br />
para a análise de composição de minerais das<br />
vertebras e três peixes para a coleta de sangue para as<br />
análises dos parâmetros sanguíneos. Os dados foram<br />
submetidos à análise de variância e em caso de diferenças,<br />
foram comparados pelo teste de Tukey (P <<br />
0,05).<br />
Figura 1. A) Ração extrusada suplementada com fitase líquida; B) Tilápias alimentadas com ração suplementada com 1000<br />
UFA/kg de fitase © Wilson Massamitu Furuya<br />
A<br />
B<br />
SET/OUT 2018<br />
28
Resultados<br />
Observou-se que os peixes alimentados com rações<br />
com 500 a 1500 UFA/kg apresentaram maior ganho de<br />
peso em relação aos peixes que consumiram a ração<br />
sem fitase (Figura 2). Já a conversão alimentar foi melhor<br />
em tilápias que consumiram rações com 1000 e 1500<br />
UFA/kg, em relação aos peixes que consumiram a ração<br />
sem fitase (Figura 3). Um dos sintomas clássicos da deficiência<br />
de fósforo é a maior deposição de gordura na<br />
carcaça e na presente pesquisa observou-se que a suplementação<br />
de 1000 e 1500 UFA/kg r<strong>ed</strong>uziu o teor de<br />
gordura na carcaça, quando comparado ao observado<br />
nos peixes que consumiram a ração sem fitase (Figura<br />
4). Da mesma forma, a suplementação de 1000 UFA/<br />
kg foi suficiente para maximizar a deposição de minerais<br />
na carcaça (Figura 5) e nos ossos. Peixes alimentados<br />
com rações suplementadas com 1000 e 1500 UFA/<br />
kg também apresentaram menores concentrações de<br />
triglicerídeos e colesterol e maiores concentrações de<br />
fósforo plasmático. Destaca-se os efeitos da fitase sobre<br />
a ação da enzima fosfatase alcalina, responsiva aos níveis<br />
de fitase, indicando maior disponibilidade do fósforo em<br />
peixes que consumiram as rações com fitase.<br />
Figura 2. Ganho de peso de juvenis de tilápias alimentados com<br />
rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />
Ganho de peso (g/peixe)<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
a<br />
a<br />
0 500 1000 1500<br />
Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />
Figura 3. Conversão alimentar de juvenis de tilápias alimentados<br />
com rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />
Conversão alimentar<br />
1,5<br />
1,2<br />
0,9<br />
0,6<br />
0,3<br />
0<br />
a<br />
ab<br />
0 500 1000 1500<br />
Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />
a<br />
b<br />
a<br />
b<br />
Figura 4. Gordura na carcaça de juvenis de tilápias alimentados<br />
com rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />
Gordura na carcaça (%)<br />
7,0<br />
5,5<br />
4,0<br />
2,5<br />
1<br />
a<br />
ab<br />
0 500 1000 1500<br />
Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />
Figura 5. Minerais na carcaça de juvenis de tilápias alimentados<br />
com rações com diferentes níveis de fitase líquida. *<br />
Minerais na carcaça (%)<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
b<br />
bc<br />
0 500 1000 1500<br />
Níveis de fitase nas rações (UFA/Kg)<br />
*<br />
Letras distintas indicam diferenças pelo teste de Tukey<br />
(P < 0,05).<br />
ab<br />
Figura 6. Tilápia alimentada com ração deficiente em fósforo e<br />
sem suplementação de fitase.<br />
a<br />
c<br />
a<br />
SET/OUT 2018<br />
29
Perspectivas<br />
A maior parte das rações de tilápias é comercializada<br />
na forma extrusada e a utilização de fitase líquida<br />
após extrusão e secagem permite maior segurança<br />
para garantir a atividade da enzima, considerando as<br />
variações das condições de processamento utilizadas<br />
nas fábricas de rações para peixes.<br />
A utilização de fitase<br />
líquida após extrusão e<br />
secagem permite maior<br />
segurança para garantir a<br />
atividade da enzima.<br />
Com a disponibilidade e menor custo dos alimentos<br />
de origem vegetal, que geralmente possuem menor<br />
custo em relação aos alimentos de origem animal, há<br />
grande interesse em aumentar o nível de inclusão para<br />
r<strong>ed</strong>uzir o custo de produção. No entanto, o fósforo<br />
presente nos alimentos de origem vegetal possui baixa<br />
disponibilidade. Assim, a fitase é uma alternativa para<br />
r<strong>ed</strong>uzir o custo de produção e permitir o adequado<br />
desempenho produtivo e saúde de tilápias.<br />
Nos últimos anos, as tilápias estão sendo desafiadas<br />
para obtenção de máxima performance e são criadas<br />
em altas densidades, sendo importante ferramentas<br />
nutricionais como a fitase que possam contribuir<br />
para melhoria do valor nutritivo das rações e a<br />
sustentabilidade da criação de peixes.<br />
SET/OUT 2018<br />
30
31<br />
SET/OUT 2018
© SloowFood - Punta Del Diablo<br />
SET/OUT 2018<br />
32
Reprodução do molusco<br />
de areia Mesodesma<br />
mactroides (Reeve, 1854)<br />
em laboratório<br />
Juan Jethro Silva Santos*<br />
Luis Alberto Romano<br />
Laboratório de Patologia de Organismos Aquáticos<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande - FURG<br />
Rio Grande, RS<br />
*juanjethrosantos@gmail.com<br />
Juliana Portella Bernardes<br />
Carlos Henrique Araujo de Miranda Gomes<br />
Laboratório de Moluscos Marinhos – LMM<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina – UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
A família Mesodesmatidae está representada<br />
por moluscos de areia que apresentam importância<br />
socioeconômica em diversas regiões do mundo,<br />
sendo apontadas como promissoras para aquicultura<br />
(Silva Santos et al., 2016), como as espécies “toheroa”<br />
Paphies ventricosa e “pipi” Paphies australis da Nova<br />
Zelândia (R<strong>ed</strong>fearn, 1982; Hooker, 1997; Gadomski<br />
et al., 2015) e da “macha” Mesodesma donacium no<br />
Chile e Peru (Uriarte, 2008; Ayerbe et al., 2017).<br />
No decorrer dos anos, pesquisas referentes a estas<br />
espécies estão sendo desenvolvidas, almejando<br />
informações que visem estabelecer protocolos de<br />
cultivo em laboratório (Hooker, 1997; Gadomski et<br />
al., 2015; Ayerbe et al., 2017).<br />
O marisco branco, Mesodesma mactroides (Reeve,<br />
1854), que possui sinônimo científico de Amarilladesma<br />
mactroides (Reeve, 1854), é uma espécie representante<br />
da família Mesodesmatidae, nativa do litoral do<br />
Brasil, Uruguai e Argentina distribuindo-se desde Ilha<br />
Grande, no Rio de Janeiro, até o sul da província<br />
de Buenos Aires, na Argentina (Rios, 1994). Esta<br />
espécie é dióica, sem dimorfismo sexual, e habita de<br />
forma agregada zonas entremarés de praias arenosas<br />
de regimes subtropicais e temperados, podendo<br />
se enterrar até mais de 20 cm de profundidade<br />
(Coscarón, 1959; Bergonci, 2005) (Figura 1).<br />
Estes animais são comercialmente explorados<br />
(Herrmann et al., 2011), assim como outros moluscos<br />
de areia, com extrações baseadas na retirada dos<br />
estoques naturais. Possuindo um valor histórico como<br />
recurso pesqueiro (Coscarón, 1959; McLachlan &<br />
Defeo, 2018), utilizados para alimentação humana<br />
(Figura 2) e para atividades recreativas, como isca de<br />
pesca (Bastida et al., 1991).<br />
SET/OUT 2018<br />
33
Figura 1. Furos na areia característicos da espécie Mesodesma mactroides, provenientes dos dois sifões, inalante e exalante<br />
(A); Pá de corte como ferramenta de extração (B); Espécimes adultos encontrados em profundidades acima de 10 cm (C,D).<br />
© Juan Jethro Silva Santos<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
Figura 2. Exemplos de culinária do marisco branco, Mesodesma mactroides. © Eduardo Nunes<br />
SET/OUT 2018<br />
Atualmente a população de marisco branco<br />
encontra-se drasticamente r<strong>ed</strong>uzida, devido a ação<br />
antrópica vinculada à extração excessiva (Carvalho<br />
et al., 2013a; Carvalho et al., 2013b; Silva Santos<br />
et al., 2016) e devido aos surtos de mortalidades<br />
massivas que vêm acometendo os estoques naturais<br />
desta espécie ao longo da sua distribuição geográfica<br />
(Ortega et al., 2012), cuja real causa das mortalidades<br />
ainda permanece desconhecida.<br />
Desta forma, pesquisas vêm sendo desenvolvidas,<br />
visando o avanço de estratégias e programas de<br />
gestão destes recursos (Gianelli et al., 2015), assim<br />
como, estudos ambientais (Carvalho et al., 2013a;<br />
Carvalho et al., 2013b; Silva Santos et al., 2016)<br />
e laboratoriais (Carvalho et al., 2015a; Carvalho<br />
et al., 2015b; Carvalho et al., 2016). No entanto,<br />
mesmo com diversas informações sobre este animal,<br />
até recentemente não se havia obtido sucesso na<br />
larvicultura do marisco branco em laboratório, passo<br />
importante para o desenvolvimento da aquicultura de<br />
uma nova espécie.<br />
Neste sentido, com o apoio da equipe técnica<br />
e estrutural do Laboratório de Moluscos Marinhos<br />
da Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina – LMM/<br />
UFSC, o objetivo inicial deste estudo foi realizar e<br />
relatar a larvicultura do marisco branco em laboratório,<br />
objetivo no qual se obteve êxito.<br />
34
Trabalho em laboratório<br />
O estudo iniciou-se no começo de 2017, com a coleta<br />
de reprodutores adultos de marisco branco na praia<br />
do Mar Grosso no município de São José do Norte, Rio<br />
Grande do Sul (2°3’10”S 51°59’26”O), onde foram armazenados<br />
e transportados ao LMM/UFSC. A partir disso,<br />
os organismos passaram por processos de aclimatação<br />
e condicionamento em laboratório, visando manter<br />
e ou maturar as gônadas para fins reprodutivos, informações<br />
estas até então desconhecidos para esta espécie.<br />
Esta etapa foi realizada com baldes contendo areia,<br />
temperatura controlada, fluxo contínuo de água e mix<br />
de microalgas para alimentação dos animais (Figura 3).<br />
Figura 3. Estruturas de condicionamento e aclimatação de<br />
reprodutores de marisco branco em laboratório. © Juan Jethro<br />
Silva Santos<br />
Acompanhou-se todo o desenvolvimento embrionário<br />
e larval nesta pesquisa, observando alterações<br />
morfológicas e biométricas, como: divisões celulares e<br />
metamorfoses para larvas trocóforas (Figura 5A), assim<br />
como, m<strong>ed</strong>idas de altura e comprimento, com registros<br />
de imagens ao longo deste período. Desta maneira foi<br />
possível descrever as alterações embrionárias até o estágio<br />
de larva véliger D (Figura 5B), e posteriormente,<br />
com observações estruturais diárias até as larvas estarem<br />
prontas para o assentamento, caracterizando as larvas<br />
p<strong>ed</strong>ivéligers (Figura 5C), finalizando esta primeira larvicultura<br />
desta espécie em 27 dias.<br />
Figura 5. Larva trocófoca (A), larva véliger D (B) e larvas<br />
umbonadas de M. mactroides. © Juan Jethro Silva Santos<br />
A<br />
B<br />
C<br />
Após o período de aclimatação, tentou-se realizar a<br />
desova por meio de indução por temperatura e a técnica<br />
de overnight, no entanto, foi possível apenas pela<br />
técnica de stripping (Helm et al.,2004) (Figura 4). Posteriormente<br />
a larvicultura seguiu-se utilizando adaptações<br />
aos manejos padrões já estabelecidos pelo LMM,<br />
para larvicultura de outras espécies comerciais (exóticas<br />
e nativas), como: Crassostrea gigas, Crassostrea gasar,<br />
Perna perna e Nodipecten Nodosus, com ajustes no sistema<br />
de aeração e alimentação, por exemplo, devido a<br />
falta de informações para o M. mactroides.<br />
Figura 4. Espécimes de M. mactroides maduros, pós<br />
condicionamento e aclimatação, utilizados para desova pela<br />
técnica de “stripping”. Seta indicando o tecido gonadal da<br />
espécie.© Juan Jethro Silva Santos<br />
Larvicultura<br />
A partir deste estudo inicial, foram realizados experimentos<br />
visando o efeito de diferentes variáveis, como:<br />
temperatura, salinidade e dieta, na larvicultura do marisco<br />
branco. Com estas informações tornou-se possível<br />
o estabelecimento dos pontos ótimos de cada variável<br />
analisada para o desenvolvimento embrionário e larval,<br />
contribuindo para o melhor assentamento e desenvolvimento<br />
de sementes desta espécie em laboratório. As sementes,<br />
pós assentamento, foram colocadas em sistemas<br />
adaptados (cilindros e cestos com areia) de downwelling<br />
em laboratório (Figura 6), recebendo alimentação diária<br />
de microalgas, demonstrando adaptação e crescimento<br />
positivos no período de 5 meses que permaneceram<br />
nestas estruturas (Figura 7).<br />
Atualmente estudos estão sendo desenvolvidos com<br />
as sementes proveniente destas etapas de produção, no<br />
qual, foram transportadas e alocadas em estruturas adaptadas<br />
no mar. Processo este que pode diminuir o custo<br />
de produção de manter as sementes em laboratório, visto<br />
que, a produção de microalgas é onerosa e trabalhosa,<br />
podendo custar cerca de 30% da produção de sementes<br />
de bivalves (Rivero-Rodriguez et al., 2007).<br />
SET/OUT 2018<br />
35
Figura 6. Sistema de “downwelling” adaptado com cestas e cilindros com areia para as sementes do marisco branco. © Juan Jethro<br />
Silva Santos<br />
Figura 7. Desenvolvimento das sementes de Mesodesma mactroides em laboratório.© Juan Jethro Silva Santos<br />
SET/OUT 2018<br />
Conclusão<br />
Nesta perspectiva, estes estudos propõem-se em contribuir com informações que visem servir de base<br />
para o desenvolvimento do pacote tecnológico da malacocultura desta espécie, colaborando futuramente para<br />
consolidação, tanto da produção comercial quanto para o repovoamento dos estoques naturais, processos<br />
que já vem acontecendo com representantes da mesma<br />
família do marisco branco Mesodesma mactroides.<br />
36<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos
37<br />
SET/OUT 2018
SET/OUT 2018<br />
38
Garoupas ao<br />
mar: conservação,<br />
crowdfunding e programa<br />
de recompensas para os<br />
apoiadores do projeto<br />
Cláudia Kerber<br />
R<strong>ed</strong>emar Alevinos<br />
Ilhabela, SP<br />
claudiakerber62@gmail.com<br />
O projeto Garoupas ao Mar<br />
Tenho certeza que compartilho com muitos<br />
o sentimento de que aqui no Brasil grande<br />
parte do domínio da produção de peixes<br />
nativos foi realizada através de pesquisas privadas<br />
realizadas nos cultivos e financiadas pelos próprios<br />
aquicultores. Assim também é o nosso trabalho na<br />
R<strong>ed</strong>emar. Fazemos papel de Estado quando fazemos<br />
pesquisa e quando fazemos fomento da atividade.<br />
Há cerca de 2 anos, depois de 10 anos de<br />
pesquisas privadas, conseguimos fechar os protocolos<br />
de produção de alevinos de garoupas e, por se tratar<br />
de uma espécie ameaçada, nos veio a ideia de utilizar<br />
os alevinos em projetos de repovoamento para<br />
recuperar os estoques na natureza.<br />
Pensamos então em várias formas de alavancar um<br />
projeto desta natureza. Primeiramente, montamos<br />
um bom time através de uma associação não<br />
governamental (www.atevi.org.br ), com especialistas<br />
em Genética (LAGOAA), em avaliação do ambiente
SET/OUT 2018<br />
40
marinho (Instituto de Pesca), mergulhadores e biólogos<br />
marinhos, com a anuência da APA Marinha do Litoral<br />
Norte de São Paulo. Mas quem financiaria um projeto<br />
de interesse difuso da coletividade? Ele não interessa<br />
a mim ou a você especificamente, mas à soci<strong>ed</strong>ade<br />
como um todo. E já sabemos que com os recursos<br />
públicos não podemos contar....<br />
Depois de definido o Projeto “Garoupas ao Mar”,<br />
chegamos à conclusão que para arrecadar os fundos<br />
necessários, a melhor opção seria um financiamento<br />
coletivo ou crowdfunding. Um tipo de “vaquinha”<br />
repaginada pela internet. E assim estamos fazendo.<br />
Neste tipo de financiamento coletivo, o indivíduo<br />
que se interessa pela causa entra no site da plataforma<br />
de financiamento, se informa sobre os detalhes do<br />
projeto, escolhe uma recompensa que esteja de<br />
acordo com o valor da sua doação e faz o pagamento<br />
com boleto ou cartão de crédito. Tem recompensa de<br />
certificado de adoção, camiseta, mergulhos e concorre<br />
até a um final de semana em suíte cinco estrelas<br />
no Hotel mais badalado de Ilhabela (DPNY). Mas,<br />
especificamente para nosso setor, chamam a atenção<br />
duas recompensas: Curso de produção de alimento<br />
vivo para larvicultura de peixes marinhos (5 dias hands<br />
on) e Curso de larvicultura de bijupirá (30 dias hands<br />
on). Os cursos serão realizados na R<strong>ed</strong>emar Alevinos<br />
em Ilhabela, SP.<br />
A plataforma recolhe os valores das doações<br />
durante 60 dias e se alguma coisa der errado na<br />
campanha ela devolve o dinheiro ao doador. Se tudo<br />
ocorrer como esperado este valor é transferido para o<br />
Projeto e ele se inicia.<br />
Justificativa do projeto<br />
A justificativa do repovoamento foi baseada no fato<br />
de que as populações marinhas estão declinando em<br />
todo o mundo. As três principais abordagens para evitar<br />
o esgotamento dos estoques são controlar os esforços<br />
de pesca (cotas de pesca, limitação de tamanho de<br />
captura, especificação de petrechos), garantir os<br />
locais e períodos de reprodução (defesos, áreas de<br />
proteção ambiental) e aumentar a população através<br />
de programas de repovoamento. Os dois primeiros<br />
métodos formam a base das políticas públicas para a<br />
conservação das espécies marinhas no Brasil e impõe<br />
sérias restrições à pesca artesanal. A terceira opção,<br />
o repovoamento, é muito popular em outros países<br />
e permite restabelecer a biomassa de reprodutores e<br />
acelerar a recuperação dos estoques assegurando a<br />
sobrevivências de espécies ameaçadas (Blankensip e<br />
Leber 1995), (Tessier, et al. 2012). O repovoamento<br />
de espécies marinhas tem sido utilizado desde o Século<br />
19 e, no Japão, o programa nacional de recuperação<br />
dos estoques pesqueiros, envolve mais de 80 espécies<br />
de peixes, moluscos e crustáceos. No Mar Cáspio,<br />
são criados e soltos anualmente mais de 12 milhões<br />
de juvenis de espécies de esturjão nativo (Acipenser<br />
persicus) que sustentam praticamente toda a indústria<br />
do caviar. Também são produzidos alevinos de outras<br />
espécies locais (Bartley e Bell 2008). Enfim, é uma<br />
estratégia muito utilizada em outros países.<br />
A escolha da espécie (Epinephelus marginatus)<br />
atendeu a três justificativas:<br />
A espécie é listada na R<strong>ed</strong> List da IUCN<br />
como ameaçada de extinção (A2d). No<br />
Brasil foi incluída na Lista de Recursos do<br />
MMA como sobre explotada (IN 05/2004) e também<br />
consta como sobre explotada no Decreto Estadual Nº<br />
56.031/2010 que define as espécies da fauna silvestre<br />
ameaçadas, colapsadas e sobre explotadas no estado<br />
de São Paulo. Atualmente é protegida pela Portaria<br />
MMA 445/20<strong>14</strong> na categoria Vulnerável, e já existe um<br />
Plano de Recuperação instituído pelo MMA (Portaria<br />
228/2018) cuja pesca é regulamentada pela Portaria IM<br />
41/2018;<br />
A importância ecológica de algumas espécies<br />
pr<strong>ed</strong>adores de topo de cadeia<br />
como a garoupa verdadeira está também<br />
no fato de exercerem alta influência na densidade de<br />
suas presas e na estrutura da comunidade de fauna<br />
(Anderson, et al. 20<strong>14</strong>), o que a torna importante na<br />
regulação e equilíbrio de comunidades em ambientes<br />
coralíneos (Tessier, et al. 2012);<br />
Tem hábitos s<strong>ed</strong>entários e estudos sobre<br />
a movimentação dela demonstram que<br />
permanecem em territórios pequenos,<br />
distintos e individuais (Koeck, et al. 20<strong>14</strong>) de 1500 m²<br />
até 2 ha (Astruch e Dalias 2007) viabilizando o monitoramento<br />
através de Censos Visuais.<br />
SET/OUT 2018<br />
41
No Brasil, uma iniciativa pioneira foi o projeto<br />
“Repovoamento do Litoral do Paraná com Alevinos de<br />
Robalo” que previa a produção de alevinos pelo Centro<br />
de Produção e Propagação de Organismos Marinhos<br />
(CPPOM) da Pontifícia Universidade<br />
Católica do Paraná com recursos da<br />
Secretaria de Ciência, Tecnologia e<br />
Ensino Superior/Fundo Paraná.<br />
O projeto colocou cerca de<br />
um milhão de larvas e 300<br />
mil alevinos de robalo nas<br />
baias do litoral paranaense<br />
em 2006-2007. Uma das<br />
críticas que se fez a esta<br />
iniciativa foi a fragilidade do<br />
monitoramento.<br />
Ao desenvolver ações de<br />
repovoamento, é primordial<br />
que as formas jovens tenham<br />
boa diversidade genética e<br />
sejam saudáveis garantindo que<br />
os alevinos a serem introduzidos não<br />
causem modificação da constituição genética<br />
da população selvagem. Essencial ainda que se aplique<br />
o monitoramento. O Projeto Garoupas ao Mar busca<br />
a recuperação dos estoques da Garoupa Verdadeira<br />
da APA Marinha do Litoral Norte de São Paulo através<br />
soltura, análise genética e monitoramento.<br />
Faça sua doação<br />
Todos nós, aquicultores, já fazemos a nossa parte<br />
na conservação dos oceanos ao oferecer ao mercado<br />
peixe para consumo, poupando os estoques naturais.<br />
Além disso, só a aquicultura é capaz de fornecer<br />
as formas jovens de espécies ameaçadas<br />
que são a base dos programas<br />
de repovoamento. Mas ainda assim,<br />
extinção é para sempre e não<br />
queremos que nossos filhos só<br />
conheçam a garoupa através da<br />
nossa nota de 100 reais, não é?<br />
Chego ao fim deste artigo convidando<br />
os colegas aquicultores<br />
a fazerem uma doação para<br />
este importante projeto até<br />
o dia 30 de novembro através<br />
da plataforma de financiamento:<br />
www.kickante.com.br/campanhas/<br />
garoupas-ao-mar na certeza de que<br />
isso também reforçará no grande público<br />
a reflexão sobre a grande importância da<br />
Aquicultura na conservação do Meio Ambiente.<br />
Consulte as referências bibliográficas em<br />
www.aquaculturebrasil.com/artigos<br />
SET/OUT 2018<br />
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TECNOLOGIAS NA<br />
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PRODUÇÃO |<br />
MERCADO |<br />
TECNOLOGIA |<br />
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gastronomia, no turismo e<br />
nos mercados nacionais e<br />
internacionais.<br />
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Realização:<br />
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Pacto Global e trabalha comprometido com<br />
a agenda 2030 e com os Objetivos de<br />
Desenvolvimento Sustentável (ODS).<br />
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SET/OUT 2018<br />
44
INVE do Brasil em ação:<br />
Uma visita ao nosso<br />
cliente Ambar Amaral<br />
Nosso cliente, Grupo<br />
Ambar Amaral, é um<br />
produtor integrado de<br />
tilápia com centro de produção de<br />
alevinos e juvenis, fazendas e uma<br />
moderna fábrica de ração em Santa<br />
Fé do Sul, estado de São Paulo,<br />
no Brasil. Dando continuidade à<br />
nossa longa relação e colaboração,<br />
a equipe da INVE Aquaculture visitou<br />
o local de produção da Ambar<br />
Amaral no primeiro semestre de<br />
2018 para avaliar e dar continuidade<br />
a nossa metodologia de trabalho<br />
conjunta visando a produção<br />
sustentável de tilápia premium com<br />
valor agregado, que a Ambar Amaral<br />
atualmente vende ao varejo<br />
com a marca “Brazilian Fish”.<br />
O Grupo<br />
Ambar Amaral e a<br />
INVE Aquaculture<br />
continuam a apoiar o<br />
cultivo sustentável de<br />
tilápia no Brasil.<br />
Parte desta colaboração é a<br />
incorporação dos probióticos da<br />
Inve Aquaculture nas rações de<br />
tilápia premium do Grupo Ambar<br />
Amaral, comercializados com a<br />
marca Raguife Rações. O presidente<br />
da Raguife, Felipe Amaral,<br />
confirmou que vê a parceria com<br />
a INVE Aquaculture como sendo<br />
de grande relevância para os objetivos<br />
de sua empresa em liderar<br />
o mercado, sendo referência<br />
na produção de proteínas de alta<br />
qualidade oriundas de produtores<br />
responsáveis, e para desenvolver<br />
continuamente alimentos<br />
inovadores e saudáveis entregues<br />
ao consumidor final.<br />
SET/OUT 2018<br />
45
Ao incorporar a solução inovadora da INVE Aquaculture à nossa linha de Rações Plus-<br />
Premium, visamos agregar valor à nossa ração apoiando a lucratividade dos produtores<br />
e aumentado a qualidade de seus produtos. Esses probióticos estão agora incorporados<br />
a quase 40% da nossa produção total. Muitos de nossos clientes confirmaram sua<br />
satisfação em poder cultivar seus peixes com altíssima competência.<br />
Felipe Amaral - Grupo Ambar Amaral<br />
Nem precisa dizer que o Grupo Ambar Amaral pratica o que prega, e usa consistentemente os probióticos da<br />
INVE Aquaculture em seus próprios cultivo.<br />
SET/OUT 2018<br />
No passado, costumávamos fazer um rodízio dos locais das<br />
nossas gaiolas de tilápia a fim de evitar a diminuição de<br />
desempenho dos peixes devido a r<strong>ed</strong>ução da qualidade da<br />
água. Desde que começamos a usar o probiótico Sanolife®<br />
PRO-F FMC da INVE Aquaculture, podemos manter<br />
resultados de longo prazo sem ter que recorrer a essa prática.<br />
Estamos certos de que essa estratégia vai continuar nos<br />
ajudando a manter o desempenho e a qualidade ambiental<br />
tanto nos locais de nossas gaiolas quanto nos nossos<br />
reservatórios de água.<br />
Felipe Amaral - Grupo Ambar Amaral<br />
46
47<br />
SET/OUT 2018
SET/OUT 2018<br />
48
Cooperativa de Pesca<br />
e Aquicultura de Goiás<br />
(COOPAQ) – Parte IV:<br />
a microbiologia como nossa<br />
aliada<br />
Raimundo Lima da Silva Junior<br />
Biomédico, Mestre em Biologia<br />
Núcleo de Pesquisas Replicon, Escola de Ciências Agrárias e Biológicas<br />
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC,GO)<br />
Presidente e Sócio Fundador da Cooperativa de Pesca e Aquicultura de Goiás (COOPAQ)<br />
railim.jr@gmail.com<br />
No terceiro artigo desta série (publicado na<br />
<strong>ed</strong>ição nº 12, maio/junho 2018), relatou-se<br />
como o excesso de sólidos pode comprometer<br />
os aspectos físico-químicos, zootécnicos e econômicos<br />
dos sistemas superintensivos. Diante deste cenário,<br />
a microbiologia tornou-se a principal aliada para o<br />
entendimento e funcionamento de todo sistema. Para<br />
explanar um pouco melhor sobre este entendimento,<br />
dividimos o assunto em dois artigos (4º e 5º da série).<br />
O primeiro mostrará como é possível obter bioflocos<br />
heterotróficos em poucos dias, e o segundo, como controlamos<br />
o nitrito de forma direta e eficiente no sistema<br />
BRASYS (Biofloc, RAS and Aquaponics System).<br />
Entendendo a comunidade microbiana<br />
No artigo anterior, explanou-se a importância do<br />
controle do volume de sólidos no cultivo de tilápias em<br />
sistemas superintensivos, que adotam o bioflocos como<br />
o cerne de controle dos elementos nitrogenados. Entretanto,<br />
o estudo dos ciclos biogeoquímicos do nitrogênio<br />
e carbono permite compreender e modular a síntese<br />
de polímeros orgânicos, como os polihidroxialcanoatos<br />
(PHAs) (Figura 1). Este composto é inerente em vesículas<br />
de acúmulo de reserva energética nas bactérias heterotróficas,<br />
como o Bacillus subtilis (Babel et al. 2001).<br />
A maioria dos probióticos disponíveis no mercado possuem<br />
esta bactéria como ingr<strong>ed</strong>iente principal no cultivo<br />
de bioflocos.<br />
Os PHAs podem representar cerca de 80% da matéria<br />
seca das bactérias e até 16% do peso seco do bioflocos<br />
(Schryver et al. 2012). A síntese deste polímero<br />
pelas bactérias heterotróficas depende diretamente da<br />
disponibilidade de fonte de amônia e carbono orgânico,<br />
cujo produto é armazenado no citoplasma bacteriano.<br />
A equação estequiométrica da síntese deste composto<br />
é representada por (Ebeling et al., 2006): NH 4<br />
+<br />
+<br />
1,18C 6<br />
H 12<br />
O 6<br />
(carbono orgânico) + HCO 3<br />
-<br />
+ 2,06O 2<br />
-> C 5<br />
H 7<br />
O 2<br />
N (PHA) + 6,06H 2<br />
O + 3,07CO 2<br />
. Convertendo<br />
de mols para gramas, para assimilar 1g de nitrogênio-amoniacal<br />
são necessários 15,17g de carboidrato<br />
(carbono orgânico), 3,57g de bicarbonatos (alcalinidade)<br />
e 4,71g de oxigênio. Com isso, são produzidos 8,07g<br />
de biomassa bacteriana e 9,65g de gás carbônico.<br />
Neste contexto, a amônia oriunda das excretas dos<br />
animais cultivados e da degradação da matéria orgânica<br />
presente na água de cultivo destina-se a síntese de<br />
biomassa bacteriana (PHA), desde que os parâmetros<br />
físico-químicos estejam adequados. Esta biomassa, de<br />
forma suplementar, serve de alimento para os animais,<br />
uma vez que possui alto teor de proteína microbiana,<br />
como podemos confirmar com a análise por espectrofotometria<br />
(espectrofotômetro de bolso SCiO®).<br />
SET/OUT 2018<br />
49
Figura 1. Fórmula química geral dos PHAs.<br />
Figura 2. Rotas metabólica da síntese de PHA a partir de ácido graxo<br />
e carboidrato. Adaptado de Babel y Steinbüchel (2001).<br />
SET/OUT 2018<br />
Contudo, com o ganho de peso dos animais e, consequentemente,<br />
com a maior oferta de ração ao longo<br />
do cultivo, a síntese de biomassa bacteriana tornou-se<br />
uma constante preocupação no dia a dia do produtor. O<br />
excesso de matéria orgânica no tanque de cultivo é um<br />
fator limitante para o sucesso da produção (Hargreaves,<br />
2006). Entre os principais fatores se destacam: aumento<br />
no consumo de oxigênio, com maior demanda energética<br />
dos aeradores; competição nutricional com a ração<br />
comercial, gerando “saci<strong>ed</strong>ade”; possível obstrução das<br />
brânquias dos animais cultivados; e consumo exacerbado<br />
de carbonatos para reposição da alcalinidade requerida.<br />
Todos estes fatores, quando controlados, podem<br />
contribuir para uma maior rentabilidade do cultivo. Esta<br />
questão foi demonstrada no relato das produções de tilápias<br />
pelo sistema BRASYS, no último artigo desta série.<br />
Entendo a rota metabólica de síntese do<br />
PHA<br />
Os PHAs foram descobertos entre 1923 e 1927,<br />
quando o microbiologista francês Lemoigne observou<br />
inclusões no citoplasma de uma bacteria (Azotobacter<br />
chroococcum) (Laycock et al., 2013). A natureza química<br />
destes compostos são poliésteres de hidroxialcanoatos<br />
sintetizados por diversos microrganismos, principalmente<br />
bactérias, como forma de acumular reservas de energia<br />
e carbono intracelular no seu citoplasma, quando em<br />
condições de excesso da fonte de carbono. Outros microorganismos<br />
também são capazer de produzir PHA,<br />
sendo estes mais de 300 tipos com a capacidade de sintetizar<br />
este polímero (Coats et al., 2011). A biossíntese<br />
de PHA pode ser descrita em quatro vias metabólicas<br />
principais, porém, exige uma série de reações enzimáticas,<br />
dependentes de cofatores e coenzimas, que auxiliam<br />
na conversão de elementos nitrogenados inorgânicos<br />
em um elemento orgânico: PHA. Todas estas vias<br />
metabólicas passam pela acetilcoenzima A (Acetil-CoA),<br />
que é um composto interm<strong>ed</strong>iário chave no metabolismo<br />
celular na oxidação total de moléculas orgânicas<br />
como o carboidratos, proteínas e lipídios (Figura 2). Trata-se<br />
de vias metabólicas semelhantes que ocorrem em<br />
diversos organismos, inclusive a de humanos. Em todas<br />
estas usa-se o carbono oriundo de fontes orgânicas, com<br />
o consumo de O 2<br />
.<br />
BFT Coopaq<br />
O metabolismo do PHA pode ser regulado em diferentes<br />
níveis. Pode-se ativar a expressão gênica da enzima<br />
PHA sintase em condições específicas, como na falta<br />
50<br />
de algum nutriente; por parte de metabólitos; na inibição<br />
por parte de enzimas provenientes de vias metabólicas<br />
competidoras, sendo que este conhecimento pode direcionar<br />
para a síntese de PHA (Kessler & Witholt, 1998).<br />
Aplicando um protocolo próprio para o start do bioflocos,<br />
simplificamos todo este processo utilizando elementos<br />
básicos: sal amoníaco, bicarbonato de sódio, probiótico<br />
a base de B. subtilis e carboidrato (dextrose ou açúcar<br />
mascavo). Desta forma, utilizando ingr<strong>ed</strong>ientes simples e<br />
nas dosagens corretas é possível sintetizar PHAs (Figura<br />
3). Diversos protocolos foram testados e o controle de<br />
nitrogenados foi possível em todos os testes realizados.<br />
Tais protocolos permitiram r<strong>ed</strong>uzir consideravelmente,<br />
o tempo de exposição à amônia e, consequentemente,<br />
r<strong>ed</strong>uzir a mortalidade e aumentar a densidade de<br />
animais por m³ de forma segura e controlada. Porém,<br />
outro nitrogenado tornou-se o maior vilão nos tanques<br />
de cultivo em sistemas hiperintesivos: nitrito. No próximo<br />
artigo iremos abordar como a Nitrossomonas sp. se<br />
transformou no maior vilão no controle de nitrogenados<br />
em sistema de<br />
produção aquícola.<br />
Aguardamos<br />
vocês!<br />
Figura 3. Cone<br />
Imhoff m<strong>ed</strong>indo<br />
volume de bioflocos:<br />
a) Bioflocos<br />
obtido a partir sal<br />
amoníaco (cloreto<br />
de amônio) com<br />
açúcar mascavo; b)<br />
Bioflocos obtido a<br />
partir da ureia com<br />
açúcar cristal.
RAISING LIFE<br />
Uma série d<strong>ed</strong>icada de soluções inovadoras para a aquicultura:<br />
Fração parietal premium<br />
rica em ingr<strong>ed</strong>ientes ativos<br />
Lev<strong>ed</strong>ura premium rica<br />
em selênio orgânico<br />
Fonte alternativa de proteína<br />
com propri<strong>ed</strong>ades funcionais<br />
Concentrado de lev<strong>ed</strong>uras<br />
vivas<br />
NADA É MAIS PRECIOSO QUE A VIDA, E ESTA É A FILOSOFIA QUE CONDUZ A PHILEO.<br />
Como a população global continua a crescer, o mundo enfrenta uma crescente demanda por alimentos<br />
e maiores desafios de sustentabilidade.<br />
Trabalhando na inter-relação entre nutrição e saúde, nos comprometemos em fornecer futuras soluções<br />
embasadas em evidências científicas que melhorem a saúde e o desempenho animal.<br />
Individualmente e em todos os países, o progresso de nosso time é liderado pelos mais avançados resultados<br />
científicos, assim como pela contribuição de experientes produtores.<br />
SET/OUT 2018<br />
vendas@phileo.lesaffre.com<br />
phileo-lesaffre.com<br />
51
Nitrogen transformations in aquaponic systems: A<br />
review<br />
Autores: Sumeth Wongkiew, Zhen Hu, Kartik Chandran, Jae WooLee & Samir Kumar Khanala<br />
Na lista dos mais citados da Aquacultural Engineering, o artigo “Nitrogen<br />
transformations in aquaponic systems: A review” foi publicado por pesquisadores<br />
das universidades norte-americanas do Havaí e Columbia, além da Universidade do<br />
Shandong, China, em 2017 (v. 76, jan/17, p. 9-19).<br />
Principais pontos do artigo:<br />
As espécies de nitrogênio nos sistemas aquapônicos são transformadas em<br />
vários compostos primários via processos bioquímicos;<br />
Os principais fatores que afetam a transformação do nitrogênio na aquaponia<br />
são o pH, oxigênio dissolvido, hidráulica do sistema, concentrações de amônia<br />
e nitrito, e relação C:N;<br />
Modelos estão sendo desenvolvidos para ilustrar a formação de nitrato e a<br />
tomada de nitrogênio pelas plantas nos sistemas aquapônicos.<br />
SET/OUT 2018<br />
52<br />
Figura 1. Sistema Aquapônico<br />
com diferentes estruturas para<br />
o cultivo das plantas. a) NFT;<br />
b) Floating; c) Mídias (argila<br />
expandida, por exemplo).
FUNCIONÁRIO APLICADO<br />
Esse peixe é truta<br />
SET/OUT 2018<br />
53
SET/OUT 2018<br />
Roberto Bianchini Derner<br />
Laboratório de Cultivo de Algas<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina - UFSC<br />
Florianópolis, SC<br />
roberto.derner@ufsc.br<br />
Estudo bibliométrico sobre as pesquisas em<br />
biotecnologia de microalgas<br />
Na coluna desta <strong>ed</strong>ição vamos explorar as informações<br />
contidas em um interessante artigo<br />
de revisão (Garrido-Cardenas et al, 2018; referência<br />
no final do texto), publicado recentemente na <strong>Revista</strong><br />
Algal Research, que trata da evolução e das tendências<br />
mundiais das pesquisas com microalgas, analisadas com<br />
base em um estudo bibliométrico, assim, todas as informações<br />
apresentadas nesta Coluna foram extraídas<br />
do artigo.<br />
Neste estudo, os autores determinaram o número<br />
de publicações e sua distribuição, bem como, os periódicos<br />
e as palavras-chave mais relevantes. O estudo<br />
bibliométrico foi desenvolvido com as informações do<br />
banco de dados Elsevier Scopus, utilizando a palavra<br />
microalga para a consulta.<br />
Na Figura 1 são apresentados os dados referentes<br />
ao número de publicações entre 1970 e 2017, sendo<br />
possível observar dois períodos distintos: no primeiro<br />
momento (1970 – 2005) houve um gradativo aumento<br />
no número de publicações a cada ano, enquanto,<br />
no segundo momento (2005 – 2017) ocorreu um<br />
crescimento vertiginoso, chegando a mais de 2.700<br />
publicações em 2017, sendo este um execelente indicador<br />
da importância das microalgas no cenário atual<br />
da pesquisa científica. Os autores atribuem este crescimento<br />
ao aumento da demanda do mercado por<br />
produtos de microalgas e pela consequente expansão<br />
no número de instalações de cultivo para a pesquisa<br />
e produção comercial. Das publicações, 81,45% são<br />
artigos publicados, 6,46% são trabalhos de eventos,<br />
5,88% são revisões, 2,60% são capítulos de livro,<br />
1,99% são artigos em processo de publicação e o<br />
restante são outros tipo de publicações. Os trabalhos<br />
foram publicados principalmente nos periódicos Bioresource<br />
Technology e Algal Research, mas também no<br />
Journal of Appli<strong>ed</strong> Phycology, Aquaculture, Journal of<br />
Phycology, Marine Ecology Progress Series e Journal<br />
of Experimental Marine Biology and Ecology. Pr<strong>ed</strong>ominantemente<br />
os trabalhos foram publicados em inglês<br />
(95,20%), porém, também em chinês (1,79%),<br />
espanhol (1,06%), francês (0,5%) e em outras línguas,<br />
sendo 0,40% em português. Em relação aos países,<br />
os Estados Unidos lideram em número de publicações<br />
(3.615), seguidos pela China (3.005), Espanha (1.593),<br />
França (1.456), Índia (1.206), Austrália (1.191), Alemanha<br />
(1.<strong>14</strong>5) e outros. Entretanto, ao normalizar o número<br />
de publicações pelo número de habitantes de<br />
cada país, a Austrália lidera este ranking (48,33 publicações<br />
por milhão de habitantes), seguida da Espanha<br />
(34,58) e França (22,42), ficando os Estados Unidos e<br />
a China em sétima e nona posições, respectivamente.<br />
Também foi evidenciado que grande parte dos artigos<br />
foi desenvolvida em trabalhos colaborativos entre as<br />
instituições de pesquisa dos diversos países.<br />
Na Figura 2 são apresentadas as palavras-chave<br />
mais empregadas nas publicações (somente aquelas<br />
que aparecem em pelo menos 1.000 artigos) e, estas<br />
incluem principalmente termos relacionados com as<br />
aplicações das microalgas como biomassa, biocombustível<br />
ou lipídios, além de outros relacionados com o organismo<br />
estudado, tais como, Chlorella ou Alga verde<br />
(Chlorophyta), e alguns relacionados à metodologia de<br />
cultivo, como Biorreator.<br />
O estudo também apresenta os sete gêneros de<br />
microalgas mais frequentemente empregados nas palavras-chave<br />
dos trabalhos produzidos nos dez países<br />
com maior número de publicações (Figura 3). Notadamente,<br />
o interesse por cada gênero não é o mesmo<br />
nos países, assim, pode ser visualizado que Chlamydomonas<br />
e Nannochloropsis são mais estudados nos EUA,<br />
enquanto Chlorella e Scen<strong>ed</strong>esmus são estudados principalmente<br />
na China e Phaeodactylum e Isochrysis na<br />
Espanha. Curiosamente, Spirulina, o sétimo gênero<br />
mais presente na literatura, não é uma das microalgas<br />
mais estudadas em nenhum dos dez países com maior<br />
número de publicações nessa área, porém, é o gênero<br />
mais comum nos estudos desenvolvidos no Brasil.<br />
Como conclusões, os autores apontam que a Bio-<br />
54
BIOTECNOLOGIA DE<br />
ALGAS<br />
tecnologia de Microalgas é um campo muito ativo; que<br />
nos últimos anos a produtividade científica aumentou<br />
exponencialmente em conjunto com a produção industrial;<br />
e que, nos próximos anos é esperado um aumento<br />
do número de publicações com o desenvolvimento<br />
de estudos com outros gêneros ainda não amplamente<br />
presentes na literatura científica.<br />
Garrido-Cardenas, Jose Antonio et al. Microalgae research worldwide.<br />
Algal Research, [s.l.], v. 35, p.50-60, nov. 2018. Elsevier BV. http://dx.doi.<br />
org/10.1016/j.algal.2018.08.005. Disponível em: . Acesso em: 23 out. 2018.<br />
3000<br />
2500<br />
Número de publicações<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
1967 1972 1977 1982 1987 1992 1997 2002 2002 2012 2017<br />
Figura 1.<br />
Número de publicações<br />
entre 1970 e 2017.<br />
4500<br />
Número de publicações<br />
Número de publicações<br />
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
Chlorella<br />
Biomassa<br />
Biocombustível<br />
Biorreator<br />
Chlamydomonas<br />
Lipídios<br />
Alga verde (Clorófita)<br />
Scen<strong>ed</strong>esmus<br />
Chlorella<br />
Ácidos gráxos<br />
Nannochlopsys<br />
Biodiesel<br />
Cianobactéria<br />
Fotossíntese<br />
Phaeodactylum<br />
Diatomácea<br />
EUA<br />
Espanha<br />
Austrália<br />
Japão<br />
Índia<br />
Dióxido de carbono<br />
Isochrysis<br />
Nitrogênio<br />
Fitoplâncton<br />
China<br />
França<br />
Alemanha<br />
Reino Unido<br />
Coreia do Sul<br />
Spirulina<br />
Figura 2.<br />
Principais palavraschave<br />
encontradas nas<br />
publicações.<br />
Figura 3.<br />
Representação do<br />
número de publicações<br />
relacionadas a cada<br />
gênero e a cada país.<br />
55<br />
SET/OUT 2018
Fábio Rosa Sussel<br />
SET/OUT 2018<br />
RAS Outdoor<br />
Pesquisador Científico da APTA - UPD<br />
Pirassununga, SP<br />
sussel@apta.sp.gov.br<br />
Seja água doce ou salgada, esta é uma tendência<br />
sem volta na aquicultura brasileira. Com um<br />
detalhe: colocando de vez a proteína aquática como a<br />
forma mais eficiente e sustentável de se produzir alimentos.<br />
Produção sustentável em baixas densidades?<br />
Não! Trata-se de criações intensivas e super intensivas.<br />
Diferente dos sistemas de recirculação indoor onde<br />
necessariamente se trabalha com uma estrutura de<br />
biofiltragem (filtro biológico composto por mídias<br />
para fixação das bactérias nitrificantes), a recirculação<br />
outdoor dispensa o uso de tais mídias. Os flocos de<br />
microrganismos que naturalmente se formam são suficientes<br />
para a fixação das bactérias nitrificantes.<br />
A proposta do tal sistema, em poucas palavras, é<br />
explorar ao máximo o recurso hídrico sem descartá-lo<br />
ao meio ambiente. A água utilizada num viveiro<br />
de produção vai para lagoas de decantação ou canais<br />
de drenagem onde, após ser tratada com aeração e<br />
probióticos, volta para os viveiros de produção. Sabe<br />
aquele nitrogênio amoniacal que todo produtor quer<br />
se ver livre? Pois então, custou caro (ração) para ser<br />
adicionado ao sistema. Se proporcionamos algumas<br />
condições mínimas, o próprio ambiente transforma-o<br />
em nitrito e depois em nitrato, sendo este último pouco<br />
tóxico para os peixes e camarões.<br />
Além de pouco tóxico, o nitrato é a base para uma<br />
produtividade primária eficiente, passando de nutriente<br />
para alimento natural. Ganha-se ainda uma água<br />
com outras características químicas desejáveis, especialmente<br />
no que tange a alcalinidade e dureza, proporcionando<br />
um ambiente de produção com maior<br />
poder tamponante.<br />
Ah, legal! Algo futurista! Muito interessante quando<br />
isto for realidade na nossa aquicultura ... Não é futurista<br />
não, já é realidade em nossa atividade. Algumas<br />
produções na água doce, outras em água salgada, uns<br />
mais tecnificados, outros mais simples, mas já temos<br />
vários exemplos de como isto é possível. Na prática,<br />
diferem entre si. Mas o princípio é o mesmo.<br />
O camarão marinho é o campeão de eficiência<br />
produtiva e formas diferentes do conceito RAS outdoor.<br />
Tem produções com captação de água oceânica,<br />
água de mangue, do subsolo junto ao litoral, do subsolo<br />
no interior e até água doce salinizada conforme<br />
o balanço iônico que a espécie demanda. Todos sem<br />
descarte de água! Na piscicultura de água doce o movimento<br />
ainda é tímido, mas já estão entendendo a<br />
mensagem que aquilo que outrora fora um problema<br />
(nitrogênio amoniacal), hoje é a solução.<br />
A tilapicultura em tanques escavados no Oeste do<br />
Paraná é o exemplo mais clássico em água doce. A<br />
produção de tambaquis no norte do pais, onde se preconiza<br />
o uso da água de um viveiro para outro, vem<br />
logo atrás. São sistemas diferentes de produção, mas<br />
com os mesmos princípios. No caso da produção de<br />
tambaquis o movimento que se observa para o aumento<br />
da produção ainda é o de abrir mais viveiros,<br />
enquanto que, aparentemente, o mais lógico seria intensificar<br />
a produção por meio do uso de aeradores e<br />
probióticos. Até porque o tambaqui responde bem ao<br />
consumo de alimento natural.<br />
Não existe uma regra para se praticar o RAS outdoor.<br />
Existe um conceito, muito simples por sinal. Dois<br />
fatores são imprescindíveis para tal proposta: oxigênio<br />
e bactérias nitrificantes. Oxigênio para os peixes e camarões?<br />
NÃO! Oxigênio para as bactérias benéficas.<br />
Atendendo as necessidades em oxigênio delas, certamente<br />
os animais de produção também terão suas necessidades<br />
atendidas. É relativamente simples trabalhar<br />
em harmonia com um sistema aquático de produção:<br />
na presença de oxigênio e bactérias nitrificantes, tudo<br />
entra em um círculo vicioso positivo. Na ausência destes,<br />
o círculo vicioso é negativo.<br />
56
NUTRIÇÃO<br />
Artur Nishioka Rombenso<br />
CSIRO – Austrália<br />
IPEMAR – Brasil<br />
Ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente modificados:<br />
a favor ou contra a tendência dos alimentos aquícolas?<br />
avanço na tecnologia genética já é realidade<br />
O em alguns setores aquícolas e no geral podese<br />
dizer que contribui para a expansão da atividade.<br />
Claro que esse tópico é bastante controverso, porém<br />
nesse artigo não entrarei nesses méritos. Em termos<br />
de nutrição, o desenvolvimento de ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
geneticamente modificados busca solucionar a<br />
dependência de ingr<strong>ed</strong>ientes de origem marinha como<br />
a farinha e o óleo de peixe. Alguns exemplos são:<br />
1. Fontes proteicas vegetais com melhores<br />
perfis de aminoácidos e menores fatores<br />
antinutricionais;<br />
2 Óleos vegetais com diferentes perfis de<br />
ácidos graxos e ricos em ácidos graxos chaves<br />
como DHA e EPA;<br />
3 Farinhas ou óleos de algas ricas em<br />
nutrientes chaves.<br />
Existem inúmeros trabalhos publicados sobre<br />
ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente modificados, inclusive em<br />
várias espécies de peixes, e no geral os resultados são<br />
promissores. Alguns desses ingr<strong>ed</strong>ientes ainda estão<br />
em estágios de experimentação e validação, enquanto<br />
outros já são bastante utilizados nas dietas comerciais.<br />
A soja é um grande exemplo de um ingr<strong>ed</strong>iente<br />
geneticamente modificado e esse fato, na maioria das<br />
vezes, passa despercebido. Ou seja, não existe uma<br />
cautela sobre o uso de soja em dietas aquícolas pelo<br />
fato de ser geneticamente modificada. Porém, isso não<br />
ocorre com outros ingr<strong>ed</strong>ientes, principalmente os<br />
mais recentes. Algo interessante, pois o foco está em<br />
alguns produtos que contêm nutrientes chaves como é<br />
o caso dos óleos vegetais e dos derivados de algas ou<br />
farinha de alga ricas em DHA e EPA.<br />
Gostaria de ressaltar que existe também uma<br />
nova vertente de dietas livres de qualquer ingr<strong>ed</strong>iente<br />
geneticamente modificado. Algumas empresas já<br />
artur.rombenso@csiro.au<br />
*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das instituições<br />
vinculadas ao mesmo.<br />
aderem a essa linha e aparentemente existe um<br />
mercado promissor e em expansão. Agora vem a<br />
grande pergunta: será que estamos indo na direção<br />
correta buscando ingr<strong>ed</strong>ientes “otimizados” para<br />
dietas aquícolas através da engenharia genética? Será<br />
que, quando chegarmos no ingr<strong>ed</strong>iente ideal, esse<br />
será utilizado nas dietas? Vale a pena a reflexão, pois é<br />
crescente o interesse em saber a origem dos ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
utilizados nos produtos que iremos consumir. Assim,<br />
num futuro próximo, pode ocorrer uma grande<br />
mudança de rumo em relação à demanda de produtos/<br />
ingr<strong>ed</strong>ientes que não usam ou foram alimentados<br />
com ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente modificados. Em<br />
outras palavras, crescerá a demanda por ingr<strong>ed</strong>ientes<br />
que não são geneticamente modificados e também<br />
por peixes que não foram alimentados com esses<br />
ingr<strong>ed</strong>ientes. Na verdade, acr<strong>ed</strong>ito que haverá uma<br />
distinção de produtos, ou seja, existirão os produtos<br />
que são alimentados com ingr<strong>ed</strong>ientes geneticamente<br />
modificados e outros que não. Esses últimos consistirão<br />
em um produto com um valor agregado maior, fato<br />
que pode ser interessante para o produtor.<br />
O intuito dessa coluna foi trazer um tema atual que<br />
estará em debate nos próximos anos e quem sabe<br />
moldará parte do futuro da nutrição aquícola.<br />
SET/OUT 2018<br />
57
SET/OUT 2018<br />
58<br />
Rodolfo Luis Petersen<br />
Para qualquer área do conhecimento humano,<br />
um programa de melhoramento significa ajustar<br />
algum aspecto de um determinado processo em uma<br />
determinada circunstância para a obtenção de um resultado<br />
desejado. Sendo assim, em nosso caso, seria<br />
melhorar os indices zootécnicos através de um programa<br />
de seleção e cruzamentos, para um determinado<br />
sistema de cultivo (intensivo, semintensivo, em jaulas,<br />
em tanques de terra, superintensivo heterotrófico, RAS<br />
etc.) em um determinado ambiente (região geográfica,<br />
estuário, época do ano etc.)<br />
Como definimos na primeira coluna, o fenótipo é o<br />
resultado da ação combinada do genótipo e o ambiente<br />
de cultivo. As diferenças fenotípicas (variabilidade<br />
fenotípica) entre indivíduos podem ser devidas a diferencias<br />
genéticas (variabilidade genética) ou ambientais<br />
(variabilidade ambiental), assim como de uma ação<br />
combinada de ambas.<br />
A variabilidade ambiental está determinada por fatores<br />
bióticos e abióticos, sendo que ambos podem<br />
variar entre um estado ótimo e um estado estressante.<br />
Entre os fatores bióticos podemos considerar todos<br />
os seres vivos que atuam no ambiente de cultivo (microalgas,<br />
bactérias, vírus, invertebrados planctônicos e<br />
bentônicos), incluindo o HOMEM (manejo). Já entre<br />
os abióticos se destacam as propri<strong>ed</strong>ades físicas e químicas<br />
da água, do solo, infraestrutura disponível e insumos<br />
utilizados para o manejo das populações (rações,<br />
probióticos etc).<br />
Devido a grande variabilidade ambiental em sistemas<br />
extensivos e semintensivos, estes sistemas de cultivo<br />
justificam em muitos casos o desenvolvimento de<br />
PROGRAMAS LOCAIS, ou seja, o desenvolvimento de<br />
linhagens para uma determinada região. Já para o caso<br />
de sistemas intensivos com “controle ambiental”, o desenvolvimento<br />
de populações melhoradas possibilita a<br />
repetição de resultados médios mesmo em diferentes<br />
regiões e países com o uso de uma única população.<br />
O melhoramento genético está estritamente ligado<br />
aos centros de produção de formas jovens. A partir do<br />
Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />
Pontal do Paraná, PR<br />
rodolfopetersen@hotmail.com<br />
O que é um Programa de<br />
Melhoramento Genético?<br />
momento que os animais entram em um sistema de<br />
reprodução, a origem dos reprodutores e a forma de<br />
cruzá-los passam a ter uma importância vital na estrutura<br />
genética da população que estamos comercializando,<br />
seja para degradá-la ou melhorá-la, dependendo<br />
do caminho escolhido.<br />
Ainda não existe na aquicultura um monopólio na<br />
produção de sementes por grandes empresas de reprodução.<br />
Aliada a variabilidade ambiental dos sistemas<br />
e as doenças emergentes ao longo do tempo, existe a<br />
dificuldade de esterilizar os produtos e obter suas patentes.<br />
Como consequência disso, existe um número<br />
significativo de centros de reprodução no mundo todo,<br />
sem um controle genético e sanitário adequado.<br />
Um programa de melhoramento genético clássico<br />
envolve:<br />
Seleção das populações base para a formação<br />
de uma população sintética;<br />
Definição da estratégia de melhoramento:<br />
seleção ou cruzamento;<br />
Estimar a resposta à seleção ou a heteroses;<br />
Controlar a endogamia e a variabilidade<br />
genética;<br />
Estudar correlações genéticas e fenotípicas<br />
entre as características zootécnicas de<br />
maior interesse;<br />
Verificar a possível existência de interação<br />
genótipo ambiente entre diferentes regiões<br />
de onde as larvas serão utilizadas;<br />
Estabelecer um programa de controle<br />
sanitário.<br />
Dependendo do nível de inversão econômica podemos<br />
dividir um programa em básico e avançado. Tudo<br />
é uma questão de equilíbrio entre custo e benefício.<br />
Cada empresa que possua o ciclo fechado (reprodução<br />
e engorda) e um número significativo de hectares de<br />
engorda, pode ter um plano básico de melhoramen-
to para suas condições de cultivo. Alternativamente,<br />
se podem estabelecer associações de empresas com<br />
a unificação de recursos destinados ao melhoramento<br />
genético de suas áreas de engorda.<br />
Não podemos deixar de mencionar a importância<br />
do controle sanitário das larvas do programa, principalmente<br />
das principais viroses que deixam fortes impactos<br />
econômicos na indústria. Existem dois caminhos:<br />
construindo áreas específicas de seleção e produção de<br />
reprodutores em condições de estrito controle sanitário<br />
(NBC: núcleos de reprodução livres de enfermidades<br />
conhecidas), ou certificando os animais candidatos<br />
para reprodução como “livres” dos principais vírus de<br />
interesse (local ou mundial) com o auxílio de técnicas<br />
de biologia molecular.<br />
Poucas empresas no mundo desenvolvem programas<br />
familiares sofisticados. O foco destas empresas é o<br />
desenvolvimento de populações de crescimento rápido<br />
para semear sistemas intensivos ou superintensivos<br />
com controle ambiental.<br />
A grande maioria das empresas de reprodução<br />
anunciam programas de melhoramento, mas com variados<br />
níveis de execução real na prática, transformando<br />
a genética também numa ferramenta de marketing.<br />
Como Roger Doyle (famoso geneticista americano<br />
especialista em melhoramento genético de organismos<br />
aquáticos) menciona:<br />
“Identificar os melhores animais constituí 90% da<br />
arte na genética em aquicultura”.<br />
Poderíamos acrescentar:<br />
“Identificar a melhor estratégia economicamente viável<br />
e sustentável é o 100 % da arte dos cultivos aquícolas”.<br />
SET/OUT 2018<br />
59
SET/OUT 2018<br />
CSIRO - Austrália<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />
mauricioemerenciano@hotmail.com<br />
Maurício Gustavo Coelho Emerenciano<br />
*As opiniões citadas abaixo são exclusivamente pessoais do autor e não necessariamente remetem as opiniões das<br />
instituições vinculadas ao mesmo.<br />
Conexão Tailândia: presente e futuro!<br />
Figura 1. Fazenda operando com sistemas “”clear-water” e grandes trocas de água.<br />
© Maurício G. C. Emerenciano<br />
Não é de hoje que esse país do sudeste Asiático é<br />
sinônimo de tecnologia e inovação na produção<br />
de camarões marinhos. Por isso a coluna Green Technologies<br />
desta <strong>ed</strong>ição trás como tema uma reflexão sobre<br />
o presente e futuro da carcinicultura desse incrível país.<br />
Com quase 70 milhões de habitantes e uma economia<br />
pulsante em franca expansão, a Tailândia destaca-se<br />
por sempre estar um passo a frente em tecnologias ligadas<br />
a aquicultura e em especial na produção intensiva de<br />
camarões marinhos. Em recente visita pela região de Prachuap,<br />
localizada a sudeste de Bangkok e banhada pelo<br />
Golfo da Tailândia, pude conhecer fazendas que produzem<br />
de 3 a (pasmem) mais de 12kg/m 3 ! Mas essa produtividade<br />
absurda é a que custo? A resposta é, em muitos<br />
casos, a custo de muita troca de água! Hoje quando o assunto<br />
é produção intensiva (ou super-intensiva) a escolha<br />
do sistema a ser adotado vai depender diretamente da<br />
disponibilidade de água. Neste sentido, algumas fazendas<br />
próximas da costa optam por sistemas clear-water e grandes<br />
trocas de água que podem chegar a mais de 1000L<br />
por cada Kg de ração ofertada (Figura 1). Na prática,<br />
isso pode chegar a mais de 30% de renovação por dia<br />
quando operam com grandes biomassas estocadas. Em<br />
viveiros de quase 1 hectare isso se traduz em muita água!<br />
No entanto, se toda essa água fosse reaproveitada eu até<br />
me convenceria que poderia ser uma alternativa “sustentável”.<br />
Mas infelizmente a realidade é bem diferente.<br />
Grande parte dessa água é descartada ao ambiente com<br />
pouco ou quase nulo tratamento. Na minha humilde ótica<br />
a conclusão não pode ser outra: uma bomba relógio<br />
prestes a explodir, alastrando doenças e comprometendo<br />
todo o ambiente no entorno das fazendas.<br />
Por outro lado, onde a disponibilidade de água é mais<br />
escassa pude conhecer fazendas que adotam práticas<br />
bem mais racionais de cultivo e que, por exemplo, recirculam<br />
a água descartada para uma série de viveiros<br />
de peixes até chegar a um reservatório onde pode ser<br />
tratada (caso necessário) e reaproveitada. Este modelo<br />
preconiza alta disponibilidade de alimento natural (zooplâncton)<br />
principalmente nas fases iniciais de cultivo, por<br />
meio do uso de fertilizantes orgânicos (ex.: farelos vegetais)<br />
e manipulação da comunidade microbiana. Sim!<br />
Estamos falando do famoso sistema conhecido como<br />
“Biomimicry” (Figura 2). Um belo exemplo de que com<br />
conhecimento tecnológico, biológico e mais especificamente<br />
microbiológico, é possível produzir grandes quantidades<br />
de camarões (e peixes) em pequenas áreas e de<br />
maneira amigável com o meio ambiente.<br />
Atrelados aos mais diferentes modelos e conceitos de<br />
produção (bioflocos, clear-water, entre outros), uma outra<br />
vertente que certamente vem ganhando força naquele<br />
país (e também em outros países da Ásia) é a produção<br />
indoor. Em recente matéria publicada<br />
no portal “The Fish Site”<br />
a empresa Charoen Pokphands<br />
Foods (CPF), uma potência mundial<br />
quando o assunto é cultivo<br />
de camarões marinhos, anunciou<br />
que nos próximos 5 anos espera<br />
converter a maior parte da sua<br />
produção para sistemas fechados<br />
em estufas. Hoje o número já<br />
surpreende, com 15-20% da sua<br />
produção sendo feita de maneira<br />
indoor naquele país. Certamente<br />
ainda vamos escutar muitas histórias<br />
desse gigante da carcinicultura,<br />
chamado Tailândia.<br />
60
Green<br />
TECHNOLOGIES<br />
Figura 2. Fazenda adotando o sistema “Biomimicry”: inovação e aplicação de conceitos tecnológico e biológico fazem toda a diferença.<br />
© Maurício G. C. Emerenciano
Giovanni Lemos de Mello<br />
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC<br />
Editor-chefe da <strong>Revista</strong> Aquaculture Brasil<br />
Laguna, SC<br />
giovanni@aquaculturebrasil.com<br />
SET/OUT 2018<br />
Aquaculture Brasil na vanguarda dos<br />
eventos técnicos online<br />
Em 2017 a Aquaculture Brasil realizou, de forma<br />
inédita, o AquaOnline Brasil, este que foi o I<br />
Congresso Brasileiro Online de Aquicultura. O evento<br />
foi uma grata surpresa em todos os sentidos. Mais de<br />
4000 inscritos, 30 palestrantes, 3 minicursos e 500<br />
litros de cafés (rsss...)! A audiência online e ao vivo durante<br />
os cinco dias do congresso impressionou! Um<br />
fe<strong>ed</strong>back que recebemos com muito carinho foram de<br />
fotos enviadas por professores com seus alunos reunidos<br />
em sala de aula, assistindo ao vivo o AquaOnline<br />
pelo Brasil.<br />
Aproveitando o ensejo, desde já, se agende! O<br />
próximo AquaOnline Brasil está marcado para os dias<br />
23 a 26 de abril de 2019. A princípio, o evento será<br />
bianual, alternando com a realização do AQUACIÊN-<br />
CIA, que ocorre nos anos pares. Também já iniciamos<br />
as negociações para a realização do “AquaOnline<br />
América” e o “AquaOnline World”. Em breve surgirão<br />
os primeiros congressos latino-americanos e mundiais<br />
online de aquicultura.<br />
Regressando a 2017, de forma piloto (experimental),<br />
organizamos duas mesas r<strong>ed</strong>ondas online, sendo<br />
a primeira congregando os principais especialistas na<br />
criação de bijupirá (Rachycentron canadum). Para definir<br />
a pauta e auxiliar na composição do “time”, tivemos<br />
o apoio de dois de nossos colunistas: Ricardo V. Rodrigues,<br />
Prof. Titular da FURG e Artur N. Rombenso,<br />
Pesquisador do CSIRO/Austrália. Imagine os custos<br />
de realizar uma mesa r<strong>ed</strong>onda presencial em um País<br />
de dimensões continentais como o Brasil (passagem e<br />
hosp<strong>ed</strong>agem de todos, além de outras despesas). De<br />
forma online, é muito menos custoso.<br />
Meses depois, juntamos grandes nomes na temática<br />
“Qualidade de Água” com foco na carcinicultura<br />
marinha. Tanto assunto discutido, apesar de uma pauta<br />
previamente aprovada, que o mais difícil foi encerrar<br />
a sessão. Do conforto de sua casa ou escritório,<br />
nenhum convidado queria finalizar o encontro. Foram<br />
mais de quatro horas de um enriquec<strong>ed</strong>or debate.<br />
Após o AquaOnline Brasil 2018, uma das ideias foi<br />
a de organizar eventos menores, com dois ou três<br />
dias de duração, específicos sobre um determinado<br />
assunto, os quais denominamos de workshops online.<br />
Definimos os temas prioritários e de maior interesse<br />
para o Brasil e nasceu, como workshop primogênito,<br />
o “BFT Online”, I Workshop Online sobre Bioflocos.<br />
Convidamos a equipe do Projeto Camarão da FURG<br />
para ser nossa parceira, e isto fez toda a diferença para<br />
o grande sucesso do evento. Reunir os amigos e formar<br />
parcerias, não tem trabalho melhor!<br />
O BFT Online foi planejado em cinco meses, ocorrendo<br />
de 03 a 06 de setembro deste ano. Contamos<br />
com a presença de 16 palestrantes, 20 horas de conteúdo<br />
e mais de 80 inscritos.<br />
Um dos diferenciais de um workshop é que, ao invés<br />
de um evento “genérico”, ele aprofunda os conceitos<br />
numa determinada temática. No caso do BFT<br />
Online, foi possível convidar palestrantes que abordaram<br />
temas específicos, como manejo de sólidos, uso<br />
de probióticos, controle da amônia e do nitrito, berçários<br />
intensivos, entre outros.<br />
Para o início de 2019, novidades vêm por aí... em<br />
primeira mão para os leitores da coluna, realizaremos<br />
o “I Workshop Online sobre Tecnologia do Pescado”.<br />
Todas estas ações culminam em um canal do You-<br />
Tube, o “canal Aquaculture Brasil”. Estamos nos ajustes<br />
finais para o lançamento oficial do mesmo. Nos<br />
próximos meses surgirá um jeito novo de divulgar<br />
informações e conteúdo técnico de qualidade, para<br />
fazer a diferença na aquicultura brasileira e, por que<br />
não, mundial...<br />
62
Visão<br />
aquícola<br />
Figura 1. João Manoel Cordeiro Alves<br />
(Guabi) e Wilson Wasielesky Júnior<br />
(FURG), durante a gravação do BFT<br />
Online – I Workshop Online sobre<br />
Bioflocos.<br />
2017<br />
2018<br />
SET/OUT 2018<br />
2019<br />
63
Ranicultura<br />
Andre Muniz Afonso<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Paraná - UFPR<br />
Palotina, PR<br />
andremunizafonso@gmail.com<br />
SET/OUT 2018<br />
O que se produz da rã? - Parte I<br />
(Produtos Comestíveis)<br />
A<br />
ranicultura, como toda atividade de exploração<br />
animal, dá origem a produtos de interesse<br />
comercial. A exemplo de outras atividades zootécnicas,<br />
este comércio não se restringe à produtos alimentícios,<br />
gerando o que chamamos de “produtos comestíveis”<br />
e “produtos não-comestíveis”. Neste primeiro, de<br />
três artigos, iremos abordar algumas características dos<br />
produtos usados na alimentação, de forma geral.<br />
O grupo de produtos comestíveis, também conhecido<br />
como “produtos primários”, se destaca, principalmente,<br />
pela presença da famosa “carne de rã”, a menina dos<br />
olhos da ranicultura. Suas propri<strong>ed</strong>ades nutricionais são<br />
mundialmente conhecidas, inclusive a ela são atribuídas<br />
curas muitas vezes milagrosas. Dentre as suas propri<strong>ed</strong>ades<br />
podemos destacar as seguintes características: a)<br />
proteína de alto valor biológico, configurada pela presença<br />
de todos os aminoácidos essenciais, com ótimo balanço<br />
aminoacídico e alta digestibilidade, ou seja, altamente<br />
biodisponível; b) baixo teor de gorduras, uma vez que<br />
nas análises de composição centesimal seu teor de lipídios<br />
não ultrapassa os 0,3 % (0,3 g em 100 g de carne), podendo<br />
ser intitulada como carne branca e magra; c) boa<br />
concentração de minerais, com destaque para o cálcio,<br />
cujos teores se apresentam três vezes maiores do que<br />
no leite; e d) hipoalergenicidade, que exprime o baixo<br />
potencial que o produto tem em provocar alergias alimentares<br />
no consumidor, por isso muitas vezes indicada<br />
para recém-nascidos, que rejeitam os outros produtos de<br />
origem animal, como o próprio leite e outras carnes.<br />
Ainda em relação aos produtos comestíveis existe a<br />
classe daqueles outrora denominados “subprodutos”,<br />
hoje conhecidos como coprodutos, pois além de não<br />
serem inferiores em termos de potencial de comercialização,<br />
constituem o ponto de equilíbrio em muitas indústrias<br />
que processam o pescado, globalmente. O que<br />
antes era, literalmente, “jogado fora”, desprezado ou<br />
utilizado apenas na indústria da alimentação animal (rações<br />
e afins), hoje constitui importante matéria prima para<br />
produtos usados na alimentação humana. Prova disso é<br />
a carne mecanicamente separada (CMS), um coproduto<br />
extraído da prensa mecânica do dorso da rã, que pode<br />
ser utilizado como matéria prima para pré-fritos (empa-<br />
64<br />
nados, “nuggets”, entre outros) e massas cárneas.<br />
Os órgãos, normalmente, não são aproveitados para<br />
consumo, sendo esta uma área ainda muito pouco explorada<br />
tanto pelas indústrias como pela comunidade científica.<br />
Novos produtos alimentícios podem surgir a partir<br />
da utilização destas partes do animal, melhorando o seu<br />
aproveitamento pelos abat<strong>ed</strong>ouros, a lucratividade na cadeia<br />
produtiva, como um todo, e diminuindo a quantidade<br />
de rejeitos a receberem o devido tratamento para<br />
que não se tornem passivos ambientais. Cabe lembrar<br />
que, estamos nos referindo ao consumo da rã no Brasil<br />
e em alguns países cuja culinária nos é mais familiar, com<br />
destaque para França, Bélgica, Espanha, Estados Unidos<br />
e México. Ultimamente, temos recebidos vídeos, provenientes<br />
de países do oriente, onde se verifica que toda rã<br />
é utilizada como alimento. Alguns autores vêm explorando<br />
o tema também em países africanos, com destaque<br />
para o Oeste Africano (Burkina Faso, Nigéria, Camarões<br />
etc.), onde as rãs nativas são exploradas sem qualquer<br />
Figura 1. a) Carcaça glaceada de rã-touro<br />
(vistas ventral e dorsal); b) carcaça glaceada<br />
de rã-touro dividida na linha da cintura<br />
(vistas ventral e dorsal); e c) pernas de rã-<br />
-touro frescas com parte da fraldinha.<br />
tipo de estratégia de<br />
captura, gerando a<br />
extinção de espécies<br />
locais e, consequentemente,<br />
desequilíbrios<br />
ecológicos.<br />
A carne de rã,<br />
um produto de excelente<br />
qualidade<br />
nutricional, de leve<br />
sabor, de boa aparência,<br />
ainda não<br />
conquistou o con-<br />
<strong>ed</strong>ições.<br />
raníco-<br />
próximas<br />
Saudações<br />
las!<br />
sumidor brasileiro,<br />
dado o seu baixo<br />
consumo. O que<br />
precisa ser feito para<br />
que isso aconteça?<br />
Abordaremos essa e<br />
outras questões nas
Marcelo Shei<br />
Fundador da Altamar Sistemas Aquáticos<br />
Santos, SP<br />
shei@altamar.com.br<br />
Sistemas de Recirculação no Chile<br />
Entre os dias 17 e 20 de outubro, ocorreu em<br />
Puerto Montt, Chile, a 10º Edição da Feira Aquasur.<br />
Assim como no Brasil temos a FENACAM voltada<br />
principalmente para a indústria do camarão, a Aquasur,<br />
tem como foco principal a indústria de produção de salmão<br />
chilena, localizada nessa região. Essa é a segunda<br />
vez que vou ao evento e dessa vez, tive a oportunidade<br />
de realizar visitas técnicas em algumas instalações de<br />
produção de salmão que são o estado da arte em sistemas<br />
de recirculação, automação e operação de instalações<br />
de aquicultura em terra.<br />
A produção de salmão é dividida em duas fases. Na<br />
primeira, que vai da fertilização dos ovos até quando os<br />
animais atingem cerca de 250 g, chamados de smolts,<br />
ocorre em água doce. Na segunda fase, os smolts são<br />
transferidos para engorda em água marinha, que é feita<br />
em tanques-r<strong>ed</strong>e no mar. Na primeira fase, para otimizar<br />
o tempo de produção, evitar a entrada de parasitas<br />
e patógenos, minimizar o consumo e a interferência de<br />
qualidade de água de captação e em virtude da dependência<br />
climática, as empresas tem passado a utilizar sistemas<br />
de recirculação de água.<br />
Figura 1. Sistema de monitoramento e controle remoto de três<br />
estações de aquicultura da Cermaq, Chile.<br />
Os sistemas de recirculação das empresas que visitamos<br />
eram compostos basicamente por: filtros de<br />
tambores rotativos para a remoção de partículas sólidas,<br />
filtros biológicos submersos, torre de desgaseificação,<br />
desinfecção por ultra-violeta e ozônio e oxigenação a<br />
partir de O 2<br />
puro, injetado na linha de retorno. Muitos<br />
desses temas já abordados nessa coluna.<br />
Uma das empresas que visitamos, a Cermaq, possui<br />
um sistema para juvenis composto por 20 tanques de<br />
250 m 3 cada. Nele, são estocados animais que chegam<br />
com 5 g até atingirem 250 g, operando a densidades<br />
de estocagem que alcançam 60 Kg/m 3 . A operação dos<br />
sistemas dessa e de outras duas s<strong>ed</strong>es da empresa, são<br />
controladas remotamente através de uma única central,<br />
o que facilita a padronização de processos, protocolos e<br />
utilização de menos mão de obra.<br />
Concluindo, o que vimos foi a operação de uma<br />
aquicultura que, para conseguir continuar produzindo,<br />
nas últimas décadas precisou se estruturar e se adequar<br />
a novas normas ambientais, ao surgimento de patógenos<br />
e a um mercado bastante competitivo. Fica a lição aprendida<br />
com a Aquicultura Chilena.<br />
Figura 2. Tanques de produção de salmões em recirculação<br />
na Cermaq.<br />
SET/OUT 2018<br />
65
André Camargo<br />
Sócio Fundador da Escama Forte<br />
Botucatu, SP<br />
andre@escamaforte.com.br<br />
Será uma crise?<br />
Ao longo dos últimos 10 anos a tilapicultura<br />
brasileira vinha caminhando com relativa<br />
estabilidade em relação a produção, preços e mercado<br />
consumidor. Porém em meados de 2018 alguns fatores<br />
vieram a contribuir com um momento instável e que já<br />
perdura por alguns meses, preocupando os produtores.<br />
Uma combinação de efeitos da macroeconomia e<br />
o inverno brasileiro parecem ter impactado esta atividade<br />
que há tempos não sofria assim. A diminuição do<br />
consumo da tilápia nos pontos de venda vem trazendo<br />
consigo alguns efeitos em cascata que deixam o setor<br />
em sinal de alerta e levam os empreend<strong>ed</strong>ores a buscar<br />
novas alternativas e vias de escoamento da produção.<br />
Nas fazendas, os impactos são diversos, as vendas<br />
paralisadas ocasionam o aumento das densidades de<br />
estocagem nos tanques e desta forma algumas consequências<br />
podem ser sentidas. Aumento de densidade,<br />
problemas de fluxo de caixa, crescimento desordenado<br />
dos animais com aumento do peso médio de venda<br />
e o surgimento de doenças oriundas do aumento da<br />
densidade, são alguns dos problemas sentidos na pele<br />
pelo produtor.<br />
Secundariamente, os produtores não conseguem<br />
dar sequência em seus povoamentos, pois suas estruturas<br />
estão lotadas e isso faz com que este processo<br />
ganhe dimensões ao longo do tempo, prejudicando<br />
despescas futuras e comprometendo a produção em<br />
meses seguintes em algumas localidades. Além do preço<br />
pago ao produtor que naturalmente caiu.<br />
Por outro lado, podemos perceber movimentos estratégicos<br />
importantes que podem ser a chave do crescimento<br />
de nossa tilapicultura. Basicamente podemos<br />
verificar o aumento lento dos volumes destinados às<br />
exportações e também a diversificação dos mercados<br />
trabalhados pelas indústrias, versatilizando as vendas e<br />
atendendo mercados diferentes daquele das grandes<br />
r<strong>ed</strong>es de supermercados consumidoras de filés frescos.<br />
Com preços mais baixos, mercados mais populares estão<br />
sendo alcançados e talvez estejamos vivendo um<br />
ajuste do setor para a popularização de diversificação<br />
do mercado consumidor de tilápia no Brasil.<br />
Assim, como todos sabem, a crise acaba se tornando<br />
uma oportunidade e faz com que as realidades<br />
habituais mudem e façam a expansão do mercado de<br />
forma natural. O produtor neste momento deve ter<br />
paciência, cuidado com a inadimplência e continuar sua<br />
luta diária para diminuir os riscos de uma possível falta<br />
de tilápias em um futuro próximo.<br />
SET/OUT 2018<br />
66
Eduardo Gomes Sanches<br />
Instituto de Pesca / APTA<br />
Ubatuba, SP<br />
esanches@pesca.sp.gov.br<br />
SET/OUT 2018<br />
A precisão na preservação<br />
do passado<br />
Oincêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro,<br />
em setembro, me fez pensar sobre<br />
como lidamos com nosso passado. “Um povo que não<br />
conhece a sua história está condenado a repeti-la”, disse<br />
há cerca de 50 anos Ernesto Ché Guevara (a frase<br />
original é de Edmund Burke). A par da tristeza em<br />
assistirmos o que vem acontecendo no Brasil, resolvi<br />
escrever esta coluna analisando como temos preservado<br />
a história da aquicultura em nosso país.<br />
Quando comecei minha vida profissional a aquicultura<br />
era muito jovem no Brasil. Tínhamos poucos<br />
pesquisadores (tive a honra de conhecer e conviver<br />
com alguns expoentes desta época) e poucas unidades<br />
de pesquisa (que na época se constituíam em<br />
pequenos laboratórios improvisados em galpões nas<br />
propri<strong>ed</strong>ades rurais estatais que detinham viveiros e<br />
tanques). O setor produtivo era desorganizado, formado<br />
por entusiastas apaixonados, mas sem muito<br />
conhecimento, o desenvolvimento ocorria de forma<br />
lenta. Cursos de extensão e de pós-graduação eram<br />
um luxo disponíveis a poucos profissionais.<br />
Muito tempo passou desde então (quase trinta<br />
anos). É claro que muita coisa mudou. Hoje temos<br />
muitos profissionais altamente capacitados na<br />
aquicultura. O setor produtivo é organizado e bem<br />
representado. Existe ampla disponibilidade de aperfeiçoamento<br />
em excelentes instituições de ensino e<br />
pesquisa e através da internet as informações chegam<br />
ao campo em tempo real.<br />
O Brasil definitivamente é um player mundial na<br />
aquicultura e ainda temos muito potencial para crescer.<br />
Mas a pergunta que faço é: temos cuidado de nosso<br />
passado? Há pouco tempo atrás visitei o Polo Regional<br />
do Vale do Paraíba, da Agência Paulista de Tecnologia<br />
do Agronegócio (APTA) da Secretaria da Agricultura e<br />
Abastecimento do Estado de São Paulo, que abriga a<br />
Estação de Piscicultura de Pindamonhangaba. Quem<br />
me proporcionou a visita foi o colega pesquisador<br />
Sergio Henrique Canello Schalch que atualmente desenvolve<br />
seus trabalhos em aquicultura neste local. A<br />
mais de vinte e cinco anos atrás acompanhei trabalhos<br />
de reprodução de peixes naquela unidade. E confesso<br />
que fiquei impressionado com a visita. Apesar das dificuldades<br />
devido a restrição de verbas nas entidades<br />
públicas de pesquisa, e da complexidade que é operar<br />
um empreendimento de aquicultura estatal hoje no<br />
Brasil, o esforço do Sergio e dos demais colegas em<br />
preservar a estação e dar suporte ao setor produtivo<br />
regional são dignos de registro. A estação de pesquisa<br />
está produzindo muito peixe (de diferentes espécies<br />
e vari<strong>ed</strong>ades), interagindo com o setor produtivo e<br />
ainda fazendo pesquisa de ponta, financiada pela exigente<br />
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de<br />
São Paulo (FAPESP).<br />
Muitos bons profissionais passaram por esta unidade<br />
de pesquisa ao longo do tempo. Foi uma satisfação<br />
observar o antigo layout dos viveiros (que era a tecnologia<br />
disponível na época) e ver como a aquicultura<br />
mudou. Ver como avançamos em sistemas produtivos<br />
com menor impacto ambiental e mais eficientes<br />
em termos econômicos. Foi interessante aprender<br />
como o Sergio tem modernizado a estação sem perder<br />
a essência do projeto original, em um esforço de<br />
preservar a memória de nossa aquicultura. Comprovando<br />
que não precisamos destruir o passado para<br />
criar o futuro. Podemos encontrar a precisão até na<br />
preservação de nosso passado.<br />
Posso adiantar a vocês que não é só em Pindamonhangaba<br />
que isto acontece. Diversas outras estações<br />
de pesquisa da década de 70 e 80 estão sendo<br />
modernizadas, mas preservando as características originais<br />
do projeto inicial. Representam nossa história<br />
que pode ser conhecida pelos novos profissionais<br />
da aquicultura. E estes tem um grande desafio. Lidar<br />
com a escassez de recursos para inovação científica<br />
(anunciada correntemente pelos órgãos de fomento<br />
da ciência) e ao mesmo tempo não descuidar do<br />
nosso passado. Como fazer isto ? Certamente a par-<br />
68
ceria com o segmento produtivo proporcionará as<br />
ferramentas para continuar o crescimento de nossa<br />
aquicultura. Não há mais espaço para ações isoladas.<br />
A construção do futuro dependerá de um esforço<br />
conjunto entre a academia e os produtores. Sem preservar<br />
nossas memórias não teremos futuro. Que a<br />
tragédia do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, nos<br />
remeta a uma reflexão sobre o que somos e onde<br />
queremos chegar. Nossa aquicultura precisa disto.<br />
Nosso pais precisa disto. Mas acima de tudo, nosso<br />
futuro depende disto.<br />
Até a próxima coluna.<br />
Polo Regional do Vale do Paraíba, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA) da Secretaria da Agricultura e<br />
Abastecimento do Estado de São Paulo, que abriga a Estação de Piscicultura de Pindamonhangaba.<br />
SET/OUT 2018<br />
69
Santiago Benites de Pádua<br />
Biovet Vaxxinova<br />
Vargem Grande Paulista, SP<br />
santiago.padua@biovet.com.br<br />
SET/OUT 2018<br />
Desafios sanitários na tilapicultura<br />
brasileira<br />
A<br />
piscicultura continental brasileira continua<br />
mantendo um ritmo acelerado de crescimento.<br />
Entre as diferentes espécies utilizadas para criação, a tilápia<br />
do Nilo cada vez mais amplia sua vantagem na liderança<br />
em volume de produção, apresentando versatilidade<br />
entre diferentes modelos de criação, bem como na<br />
indústria de processamento, além de conquistar cada vez<br />
mais o mercado consumidor. Novos polos de criação<br />
têm se estabelecido pelo Brasil, além do mais, os pólos<br />
de criação já consolidados não param de ampliar seu<br />
volume de produção. Neste ambiente de crescimento,<br />
parece que somente as crises hídricas poderiam abalar<br />
a continuidade de crescimento na criação de tilápia,<br />
como já vivenciado em algumas regiões. Contudo, os<br />
problemas sanitários poderão, de fato, atuar como um<br />
limitador caso não seja implementado um programa<br />
de vigilância e contingência de enfermidades com a<br />
capilaridade que a atividade possui.<br />
Doenças infecciosas<br />
Entre as doenças infecciosas que afligem a tilapicultura,<br />
temos diferentes agentes etiológicos, que por sua<br />
vez protagonizam desafios de menor ou maior impacto.<br />
Entre estes, temos as doenças parasitárias, bacterianas,<br />
fúngicas e virais. De forma geral, as doenças apresentam<br />
fatores de riscos que favorecem sua ocorrência em<br />
um determinado plantel, além disso, temos os grupos<br />
de riscos que são animais ou fases de criação que apresentam<br />
maior susceptibilidade a um determinado agente<br />
patogênico. Para gestão sanitária dos empreendimentos<br />
aquícolas, precisamos ter conhecimento destas informações,<br />
uma vez que para elaborar estratégias contra<br />
a introdução ou contenção de doenças infecciosas, necessariamente<br />
precisamos conhecê-las adequadamente.<br />
Histórico de doenças infecciosas na<br />
tilapicultura brasileira<br />
Tradicionalmente, as doenças parasitárias juntamente<br />
com as doenças bacterianas constituem-se nos principais<br />
desafios sanitários que têm acometido a tilapicultura<br />
brasileira. Protozoários tricodinídeos e os vermes monogenéticos<br />
figuraram como os principais ectoparasitos,<br />
causando infestações especialmente nas fases iniciais de<br />
criação. Entre as bactérias, diferentes espécies e sorotipos<br />
de Streptococcus são de longe os protagonistas entre<br />
os desafios bacterianos em períodos de altas na temperatura<br />
da água, causando típicos quadros de meningoencefalite.<br />
Por outro lado, o desafio de inverno é reservado<br />
para Francisella noatunensis subsp. orientalis, que atualmente<br />
está presente nos principais pólos de criação de<br />
tilápia no Brasil, inclusive no Nordeste. Contudo, o que<br />
mais preocupa o setor produtivo atualmente é a introdução<br />
das doenças virais, as quais algumas já circulam<br />
em regiões produtoras, tais como o Betanodavirus e<br />
Ranavirus.<br />
Vigilância epidemiológica deficiente<br />
Atualmente não dispomos de um sistema de vigilância<br />
epidemiológica, provida de ampla capilaridade, para<br />
monitorar as doenças emergentes que acometem a tilapicultura<br />
brasileira. Esta condição permite que casos<br />
recidivos de mortalidades agudas passem despercebidos,<br />
limitando seriamente a capacidade de demonstrar<br />
ao setor os reais problemas sanitários que ele enfrenta.<br />
Com isso, a deficiência de diagnóstico ágil e acurado,<br />
entre outras consequências, permite a livre circulação<br />
de animais infectados entre diferentes pólos de criação,<br />
sendo esta a principal forma de dispersão da doença.<br />
Talvez a indústria brasileira da tilápia ainda não tenha alcançado<br />
maturidade suficiente para elaborar, implantar e<br />
manter ativo um programa de monitoramento assíduo<br />
de enfermidades nos polos produtores. De fato, para<br />
mantermos o crescimento ordenado da atividade serão<br />
necessárias m<strong>ed</strong>idas como esta.<br />
Somente a partir do amplo e contínuo diagnóstico<br />
de enfermidades podemos ter capacidade de detecção<br />
das doenças emergentes e reemergentes que afligem o<br />
setor. A partir destas ações, são elaborados planos de<br />
contingência, estratégias de biosseguridade, salubridade,<br />
além de soluções como a elaboração de vacinas mais<br />
efetivas e completas, trazendo luz aos problemas até então<br />
mantidos em penumbra.<br />
70
Ricardo Vieira Rodrigues<br />
Estação Marinha de Aquacultura - EMA<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande - FURG<br />
Rio Grande, RS<br />
vr.ricardo@gmail.com<br />
LACQUA 2018<br />
Nesta <strong>ed</strong>ição deixarei um pouco de lado a temática<br />
da coluna, para abordar a realização do<br />
evento LACQUA em Bogotá. Entre os dias 23 e 26 de<br />
outubro desse ano ocorreu na cidade de Bogotá, Colômbia,<br />
o Congresso Latinoamericano de Aquicultura<br />
(LACQUA), realizado pelo Capítulo Latinoamericano<br />
da Soci<strong>ed</strong>ade Mundial de Aquicultura (WAS). O evento<br />
teve um número superior a 1300 inscritos, e também<br />
contou com uma feira de empresas ligadas à aquicultura.<br />
Nesta feira, mais de trinta empresas do ramo<br />
aquícola divulgaram seus produtos e serviços, principalmente<br />
empresas de rações e aditivos alimentares,<br />
além de equipamentos em geral para o setor.<br />
Entre professores, pesquisadores e estudantes,<br />
mais de 50 brasileiros participaram do evento (Figura<br />
1). Ao todo oito sessões de diferentes áreas (zooplâncton,<br />
bioflocos, sistema multitrófico, Macrobrachium e<br />
outros crustáceos, reprodução de peixes, toxicologia,<br />
larvicultura e espécies ornamentais) foram coordenadas<br />
por pesquisadores brasileiros.<br />
As sessões em destaque durante o LACQUA foram<br />
as de enfermidades em peixes, além de sessões sobre<br />
sistemas fechados de produção, como aquaponia, AMTI<br />
(sistema de aquicultura multitrófica integrada), RAS (sistema<br />
de recirculação) e bioflocos. Na sessão de enfermidades<br />
em peixes houveram 41 apresentações orais,<br />
distribuídas ao longo dos três dias de evento. Chamam<br />
atenção os resumos que relatam a ocorrência e perdas<br />
econômicas causadas pelo Vírus da Tilápia do Lago<br />
(TiLV) na América do Sul, além do desenvolvimento<br />
de diferentes possibilidades de vacinas para várias enfermidades<br />
de tilápia. As sessões de sistemas fechados<br />
em aquicultura são uma tendência atual na aquicultura<br />
mundial e receberam um número muito grande de ouvintes.<br />
Na sesão de bioflocos, estudos com camarão<br />
marinho e tilápia domiraram o ambiente, o que já era<br />
esperado, mas vários estudos com produção de peixes<br />
nativos de água doce (Piaractus brachypomus) e marinhos<br />
(Totoaba macdonaldi) se destacaram. Na sessão<br />
de sistemas aquapônicos e AMTI destaco os estudos<br />
com a utilização do pirarucu em sistema aquapônico,<br />
e os estudos com sistemas de água salobra integrando<br />
camarão e/ou tilápia com diferentes vegetais.<br />
Gostaria de chamar a atenção para a premiação<br />
dos estudantes, onde a brasileira Ariane Martins Guimarães,<br />
da Universidade F<strong>ed</strong>eral de Santa Catarina,<br />
teve seu trabalho oral intitulado “Schizochytrium limacinum<br />
meal in replacement of fish oil in practical diets for<br />
the juvenile pacific white shrimp” premiado durante o<br />
evento. Meus parabéns a Ariane, seus orientadores e<br />
colaboradores e a UFSC!<br />
Na sessão de peixe marinhos gostaria de destacar a<br />
apresentação intitulada “Reporte de la primeira reproducción<br />
y larvicultura del mero guasa Ephinephelus itajara en<br />
el mundo” realizada por Jaime Rojas Ruiz que pertence<br />
ao Oceanário Islas del Rosario em Cartagena, Colômbia.<br />
Em 2015 essa primeira<br />
reprodução e larvicultura<br />
do mero foi realizada com<br />
sucesso e no momento o<br />
Oceanário possui reprodutores<br />
F1 selecionados nessa<br />
primeira experiência.<br />
O próximo LACQUA<br />
será realizado em San José<br />
na Costa Rica, em novembro<br />
de 2019. Acho importante<br />
darmos força para o<br />
congresso Latinoamericano<br />
de Aquicultura. Estaremos<br />
lá!<br />
SET/OUT 2018<br />
71
SET/OUT 2018<br />
Alex Augusto Gonçalves<br />
Chefe do Laboratório de Tecnologia e Qualidade do Pescado - LAPESC<br />
Universidade F<strong>ed</strong>eral Rural do Semi Árido - UFERSA<br />
Mossoró - RN<br />
alaugo@gmail.com<br />
Conservas de Pescado: um segmento<br />
ainda por ser explorado (...vai muito<br />
além da sardinha e atum!)<br />
processo de desenvolvimento de novos<br />
O produtos na indústria do pescado internacional<br />
está cada vez mais baseado na extensão de suas linhas<br />
de produtos, enquanto que a indústria do pescado<br />
nacional mantém-se estagnada, com poucos produtos<br />
quando comparados ao mercado norte-americano,<br />
europeu, ou asiático por exemplo, e necessita<br />
urgentemente diversificar seus produtos para competir<br />
no mercado global.<br />
Por outro lado, os produtos à base de pescado têm<br />
atraído considerável atenção como uma importante<br />
fonte de nutrientes para a dieta humana. Somado<br />
a isso, percebe-se um aumento na necessidade do<br />
consumidor na procura de produtos de conveniência,<br />
tais como produtos do tipo “pronto para comer” ou<br />
“pronto para cozinhar” ou “pronto para servir”, higienicamente<br />
preparados, em embalagens atraentes, de<br />
fácil abertura, e principalmente que não necessite da<br />
cadeia do frio para seu armazenamento, como os tradicionais<br />
produtos em conserva (enlatados).<br />
Infelizmente, o atrativo não é suficiente nos produtos<br />
à base de pescado para satisfazer as necessidades<br />
dos consumidores, visto que em alguns casos a presença<br />
de fraude econômica faz-se presente.<br />
Pouco se investe em produtos enlatados que não<br />
necessita da cadeia do frio para seu armazenamento,<br />
distribuição e comercialização (ainda estagnadas nas<br />
tradicionais espécies – sardinha e atum). O princípio<br />
básico em que a indústria do pescado está trabalhando<br />
é que não há demanda para produtos com valor agregado<br />
no mercado interno (incluindo novos produtos<br />
em conserva – será?), ou seja, os consumidores não<br />
são capazes de garantir a valorização dos produtos em<br />
termos de preço e qualidade.<br />
O enlatamento pertence a uma das categorias mais<br />
importantes na tecnologia de preservação de espécies<br />
marinhas para consumo humano, cujo objetivo principal<br />
consiste na preparação de um produto de boa<br />
qualidade capaz de ser armazenado durante um tempo<br />
razoável (1~2 anos), além de ser uma excelente<br />
forma de transporte do produto e não necessitar de<br />
refrigeração.<br />
O surgimento de produtos enlatados de valor agregado<br />
(novas espécies, novos cortes, combinação de<br />
peixes com algas, ovas, produtos defumados, produtos<br />
fermentados, novos molhos, etc.) é acelerado pelo<br />
padrão de demanda atual dos principais mercados de<br />
pescado em países exportadores. As pessoas se tornaram<br />
mais seletivas na escolha de alimentos e certamente<br />
estão dispostas a gastar mais para se alimentar.<br />
Valor agregado refere-se ao recurso “extra” de um<br />
item de interesse (produto, serviço, pessoa, etc.) que<br />
vai além das expectativas padrão em oferecer algo “a<br />
mais”, enquanto acrescenta pouco ou nada para o seu<br />
custo. Alguns produtos de conserva (enlatados) que<br />
estão sendo comercializados no Brasil, com valor agregado<br />
(i.e. salmão e bacalhau, com preço médio de R$<br />
15,00 e R$ 19,00 a lata, respectivamente), tem, apesar<br />
do alto valor, uma qualidade sensorial excelente e certamente<br />
está agradando o consumidor.<br />
Conservas (enlatamento) de pescado<br />
O enlatamento pertence a uma das categorias mais<br />
importantes na tecnologia de preservação de espécies<br />
marinhas e de água doce, para consumo humano. Durante<br />
este processo que envolve um intenso tratamento<br />
térmico em etapas de cozimento e esterilização, a<br />
natureza da matéria prima (pescado) sofre significativas<br />
alterações originando produtos com diferentes características<br />
sensoriais mantendo um elevado padrão de<br />
saudabilidade.<br />
Muitas espécies marinhas e de água doce resultam<br />
em excelentes produtos enlatados (muitos deles somente<br />
encontrados no exterior) como: bonitos e atuns<br />
(sólido, lascas, ralado, em óleo, em salmoura, com feijão,<br />
com algas, com isoflavonas, com vegetais, com ba-<br />
72
con, defumados, filés de atum em azeite com<br />
tomate seco e azeitona,.etc. ), bacalhau (em<br />
azeite e alho, com grão de bico, e bochechas<br />
de bacalhau, fígado de bacalhau defumado,<br />
etc.), sardinhas (ao natural, em azeite, em<br />
molho tomate, em molho picante, em molho<br />
de limão, filés de sardinha, defumados,<br />
filés de sardinha em azeite extra virgem, etc.),<br />
cavalinha, carapau, arenques, salmões (lascas,<br />
ralado, filés de salmão em azeite com alcaparras),<br />
tilápias, ovas de peixes, camarões,<br />
caranguejos ou patas de caranguejo, siris,<br />
polvos, lulas (anéis, recheadas, etc.), mexilhões,<br />
vieiras, enguias, rãs, algas, patês, etc.<br />
A abrangência de espécies que se adaptam<br />
ao processo de enlatamento e a praticidade<br />
dos produtos desenvolvidos, fazem<br />
com que este segmento tenha importância<br />
significativa no campo da nutrição humana.<br />
Por outro lado existem espécies marinhas<br />
que não se adaptam ao processo de enlatamento<br />
porque a estrutura molecular se desintegra<br />
quando submetido a severas condições<br />
de tratamento térmico. Com relação ao<br />
mercado brasileiro observa-se um perfil diferente<br />
do mundial existindo praticamente somente<br />
duas espécies comercializadas, onde a<br />
sardinha representa ~76% e o atum ~22%<br />
(os ~2% representam outras espécies como<br />
mexilhão, salmão, cavalinha, arenque, patês,<br />
etc.)<br />
Para tentar mudar esse cenário, a Embrapa<br />
realizou a prospecção de espécies<br />
nativas, como alternativa para o processo de<br />
enlatamento para a indústria de conservas de<br />
pescado. Entre os resultados, observou-se<br />
uma boa aceitação de mercado e intenção<br />
de compras das espécies de peixe nativo (tilápia,<br />
tambaqui, matrinxã, cachapinta, pacu,<br />
jundiá, rã), dinamizando o setor das indústrias<br />
de conservas a partir da introdução de<br />
novas espécies e criação de novos nichos de<br />
mercado, uma vez que a indústria demanda<br />
por um peixe nativo que seja proveniente de<br />
cultivo e com produção em escala. Esses estudos<br />
sugerem a introdução dessa tecnologia<br />
(conservas) na aquicultura através de pequenas<br />
unidades de processamento de pescado.<br />
No entanto, no mercado nacional, essas<br />
espécies ainda não foram introduzidas na indústria<br />
conserveira, uma vez que esses novos<br />
produtos (espécies) não estão sendo incluídos<br />
nas gôndolas dos supermercados. Talvez<br />
a necessidade de estudos de viabilidade<br />
econômica ainda seja necessária, por parte<br />
dos pesquisadores e das indústrias, pois pelos<br />
estudos de viabilidade técnica, bem como a<br />
disponibilidade de matéria-prima (produção<br />
em grande escala), principalmente oriundo<br />
da aquicultura permitem a inclusão de novas<br />
espécies.<br />
Para que os produtos enlatados sejam seguros,<br />
os fabricantes de pescado em conserva<br />
devem certificar-se de que o tratamento<br />
térmico ao qual estão sendo submetidos seja<br />
suficiente para eliminar todos os microrganismos<br />
patogênicos responsáveis pela deterioração.<br />
A esterilização a quente objetiva a<br />
inativação de bactérias e enzimas presentes<br />
no pescado. As enzimas são inativadas a uma<br />
temperatura relativamente baixa, porém, deve-se<br />
imprimir um tratamento térmico mais<br />
forte para as bactérias, ou seja, temperaturas<br />
relativamente elevadas por determinados<br />
períodos, especialmente se são capazes de<br />
formar esporos. Dessa maneira, a temperatura<br />
e a duração do processo devem ser suficientes<br />
para a destruição dos esporos mais<br />
resistentes ao calor.<br />
Considerações Finais<br />
A agregação de valor e a diversificação de<br />
produtos são os dois lados de uma mesma<br />
mo<strong>ed</strong>a que devem ser inseridas em nossas<br />
indústrias de pescado, principalmente nas de<br />
conserva (enlatados). Há uma necessidade<br />
crescente de produtos de pescado seguro e<br />
saudável com alta qualidade sensorial e pode<br />
ser atendida pela pesca e aquicultura. A tecnologia<br />
continuará a desempenhar um papel<br />
importante no negócio de agregação de valores,<br />
como as conservas (enlatados) com<br />
novas espécies, novos cortes, novos molhos,<br />
novos produtos (defumado, fermentado,<br />
marinado), dentre outros.<br />
SET/OUT 2018<br />
73
Defendeu!<br />
Em algum lugar do Brasil, um acadêmico de graduação ou pós contribui com novas<br />
informações para nossa aquicultura.<br />
Nome do acadêmico: Inácio Alves Neto<br />
Orientador: Prof. Dr. Wilson Wasielesky Jr<br />
Coorientador: Dr. Plínio Furtado<br />
Instituição: Universidade F<strong>ed</strong>eral do Rio Grande, FURG –<br />
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura<br />
Título do trabalho de mestrado:<br />
Efeito do uso de diferentes concentrações de magnésio na<br />
água do cultivo do camarão branco do Pacífico, Litopenaeus<br />
vannamei (Boone, 1931) em baixa salinidade, fase de<br />
engorda, com tecnologia de bioflocos.<br />
SET/OUT 2018<br />
Introdução: a carcinicultura marinha ocorre principalmente<br />
em áreas próximas da costa e vem desencadeando<br />
questões sociais, econômicas e ambientais.<br />
Com isso, o cultivo afastado da costa tem sido uma<br />
alternativa para os produtores, tornando-se mais viável<br />
devido ao menor custo de terra e legislação ambiental<br />
menos rigorosa. Contudo, esse afastamento gera custos<br />
econômicos com transporte de água ou produção<br />
de água salgada, e custos ambientais com efluentes<br />
salinizados lançados no ambiente pelas renovações,<br />
provocando salinização do solo e corpos receptores.<br />
Sendo assim, o uso de salinização artificial e reutilização<br />
da água são necessários para que o afastamento do cultivo,<br />
atualmente em expansão, seja mais sustentável. O<br />
sistema BFT permite o reuso da água por diversos ciclos,<br />
associado ao uso da salinização artificial, tornam-se<br />
alternativa ao reaproveitamento da água e uso de água<br />
marinha. Dentre os constituintes da salinização artificial,<br />
o magnésio é o elemento mais caro, ainda que seja<br />
apenas o quarto em concentração na água do mar, faz<br />
parte de processos como osmorregulação, transmissão<br />
neuromuscular, atua como cofator em inúmeras<br />
reações enzimáticas, influenciando diretamente o crescimento<br />
e sobrevivência dos camarões. Não havia recomendação<br />
definitiva sobre a concentração em água<br />
de baixa salinidade para cultivo de camarões marinhos.<br />
com 1,0g (±0,2g) provenientes de berçário nas<br />
mesmas condições, foram estocados na densidade<br />
de 500/m 3 em 18 caixas com 40L de volume útil<br />
e cultivados até alcançarem peso médio de 5 g.<br />
Foram testados seis tratamentos (n=3): tratamento<br />
controle com água do mar diluída e cinco com<br />
água artificialmente salinizada, sendo manipulado<br />
apenas o magnésio na relação Ca:Mg:K, todos com<br />
salinidade final de 5g/L. As relações utilizadas foram:<br />
T1=1:3:0,9 (165mg/L de Magnésio);<br />
T2=1:2:0,9 (110 mg/L de Magnésio);<br />
T3=1:1:0,9 (55mg/L de Magnésio);<br />
T4=1: 0,5:0,9 (27,5mg/L de Magnésio);<br />
T5=1:0,1:0,9 (5,5mg/L de Magnésio).<br />
Objetivo: avaliar o efeito de diferentes concentrações<br />
de magnésio na água de cultivo, no desempenho<br />
zootécnico do Litopenaeus vannamei cultivado em<br />
águas artificialmente salinizadas em sistema BFT.<br />
Materiais e métodos: o experimento foi<br />
realizado durante 42 dias, na Estação Marinha de<br />
Aquacultura da FURG. Juvenis de Litopenaeus vannamei<br />
74<br />
Figura 1. Análise dos<br />
macroelementos<br />
constituintes da<br />
salinização artificial<br />
coletados ao<br />
final do período<br />
experimental.
Os animais foram<br />
alimentados 2 vezes<br />
ao dia com a ração<br />
comercial (Guabi Potimar/38<br />
Active, 38%<br />
de proteína bruta).<br />
Resultados<br />
e<br />
Discussão: os parâmetros<br />
de qualidade<br />
de água foram<br />
monitorados durante<br />
todo o experimento<br />
e se mantiveram<br />
dentro daqueles considerados<br />
adequados<br />
para o desenvolvimento<br />
da espécie.<br />
Figura 2. Diluição e preparação da salinização artificial da água referente às relações<br />
testadas para cada tratamento.<br />
Salga mãe + Mg<br />
(120L)<br />
Unidades<br />
experimentais (40L)<br />
Salga mãe<br />
(600L)<br />
Tabela 1. Composição dos macroelementos constituintes da salga artificial referentes a coleta do 32° dia de cultivo na fase de engorda.<br />
TC: tratamento controle obtido a partir da diluição da água do mar; T1 a T5: diferentes relações em água salinizada artificialmente.<br />
Os melhores resultados quanto ao desempenho zootécnico foram observados no tratamento T3=1:1:0,9,<br />
com valores sem diferenças estatísticas em relação ao controle nos parâmetros de sobrevivência 88,33% ±<br />
10,41%, conversão alimentar 1,8±0,07, peso final 4,63g ± 0,53g. A sobrevivência no menor tratamento<br />
com Mg 2+ foi de 70%, e significativamente menor do que todos os outros tratamentos que variou de 90,0<br />
a 96,5%. Os índices de sobrevivência do presente estudo são considerados bons resultados, apesar das<br />
diferenças significativas encontradas entre os tratamentos, estando de acordo com Roy et al., (2007), com<br />
índices maiores nos tratamentos com maiores concentrações de Mg 2+ , variando de 80 a 96% ao final do<br />
cultivo. Em contrapartida, no tratamento com menor concentração do íon, foi obtido sobrevivência de 70%.<br />
Conclusão: o efeito da r<strong>ed</strong>ução do magnésio dentro da relação Cálcio : Magnésio : Potássio, mostra bons<br />
resultados até a proporção 1 : 1 : 0,9, não apresentando diferenças significativas na sobrevivência, crescimento<br />
e conversão alimentar aparente, comparados com a água do mar diluída e proporções de magnésio<br />
mais altas. Valores abaixo dessa porporção influenciaram<br />
negativamente estes parâmetros zootécnicos, indicando sua<br />
importância para a sanidade dos camarões. Nos custos finais<br />
com produção da salinização, houve uma economia de 26%<br />
com o tratamento T3 em relação ao T1 (relação encontrada<br />
na água do mar).<br />
O trabalho foi defendido em:<br />
17/07/2018<br />
SET/OUT 2018<br />
75
SET/OUT 2018<br />
76
Werner<br />
Jost<br />
Em 1981 chegou ao Brasil e por acaso conheceu<br />
a carcinicultura. Apostou nesse “negócio da<br />
China” e hoje é um dos maiores produtores de<br />
camarão do Brasil.<br />
Especialmente para a <strong>14</strong>ª <strong>ed</strong>ição,<br />
que circulará na FENACAM 2018,<br />
a Aquaculture Brasil entrevistou<br />
o suíço Werner Jost, economista,<br />
administrador de empresas e<br />
sócio-proprietário da Camanor<br />
Produtos Marinhos. A principal<br />
novidade da empresa em 2018<br />
foi sua aquisição pela gigante<br />
“CP Foods”, da Tailândia. Werner<br />
também comentou sobre os<br />
recentes avanços do AquaScience,<br />
apontando as perspectivas futuras<br />
do revolucionário sistema.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Werner, como foi a ideia de vir<br />
para o Brasil?<br />
Werner Jost: Sempre tive interesse na criação de organismos<br />
aquáticos, contudo, no princípio eu não conhecia<br />
muito bem o conceito de aquicultura. Mas sempre gostei<br />
muito de peixes! Cursei Economia e Administração<br />
e, durante a faculdade, tinha um negócio de compra<br />
de artesanato, importando produtos da América Latina<br />
e comercializando na Suíça. Por conta dessa operação,<br />
conheci o Brasil em 1981. Eu tinha quatro amigos suíços<br />
que trabalhavam em multinacionais no Estado de São<br />
Paulo. Um dia nos reunimos e pensamos em montar um<br />
projeto de criação de camarões, e<br />
eu, como tinha mais tempo livre,<br />
fiquei responsável pelo planejamento<br />
deste novo negócio. Na<br />
época, comentava-se que a carcinicultura<br />
era bastante promissora.<br />
Um “negócio da china”! Em 1981<br />
viajei para o Rio Grande do Norte,<br />
onde havia uma estação de pesquisas,<br />
e comecei a procurar um terreno<br />
para adquirir. O Estado estava<br />
fomentando a carcinicultura e a<br />
“propaganda” era que se forneciam<br />
pós-larvas, ração, crédito... decidimos<br />
arriscar! Vendi a parte da minha<br />
empresa ao meu sócio e resolvi<br />
encarar o desafio, tornando-me<br />
um carcinicultor! Estávamos no<br />
ano de 1982. A princípio eu imaginava<br />
tocar o negócio por uns dois ou três anos, depois<br />
vender e voltar para a Suíça, mas aqui estou há 36 anos!<br />
O Estado estava<br />
fomentando a<br />
carcinicultura e a<br />
“propaganda” era que se<br />
forneciam pós-larvas,<br />
ração, crédito...<br />
decidimos arriscar!<br />
AQUACULTURE BRASIL: A Camanor Produtos Marinhos<br />
e a Charoen Pokphand Foods (CP Foods), da Tailândia,<br />
fecharam um acordo onde a empresa tailandesa adquiriu<br />
uma participação de 40% da Camanor. O que motivou<br />
a Camanor a vender parte das suas ações?<br />
Werner Jost: A CP Foods é uma das maiores empresas<br />
mundiais de produção e processamento de camarão.<br />
Além disso, também é a maior produtora de ração<br />
do mundo. Existem vários pontos em que, para nós, é<br />
importante tê-los como parceiros. Mantemos contato<br />
com eles há quase 20 anos. Há 12 anos atrás tivemos<br />
uma primeira proposta de soci<strong>ed</strong>ade, mas a CP Foods,<br />
por algumas razões, declinou<br />
naquele momento. Desta vez<br />
deu certo e, para a Camanor,<br />
é importante ter essa abertura<br />
mundial. A dificuldade da exportação<br />
em virtude do câmbio<br />
desfavorável nos deixou muito<br />
“fechados” para o mundo. Atualmente,<br />
o camarão brasileiro tem<br />
pouca importância no mercado<br />
mundial porque não há exportação,<br />
ou seja, estamos totalmente<br />
fora do cenário global. Através<br />
da associação com uma empresa<br />
do porte da CP Foods, o mundo<br />
abre-se para nós. Não somente<br />
como empresa, mas também<br />
para nossa equipe, ampliando<br />
sua visão internacional, melhorando<br />
o inglês dos colaboradores, além do networking<br />
de todos. O segundo ponto a se considerar, e que tam-<br />
SET/OUT 2018<br />
77
Vista da Fazenda Canabrava, na Barra do Cunhaú, Rio Grande do Norte, onde opera o sistema Aquascience.<br />
SET/OUT 2018<br />
bém foi decisivo, é o fato de “unirmos” o Ocidente e<br />
o Oriente. O Robins McIntosh, considerado o “papa”<br />
da carcinicultura mundial, há 15 anos desenvolve na CP<br />
Foods um trabalho muito interessante com camarões,<br />
voltado especificamente às doenças e à genética. Ele<br />
sempre tentou estabelecer uma parceria com a Camanor<br />
e, depois de três anos de intensa negociação, conseguimos<br />
concretizar. É fantástico ter uma pessoa como<br />
o McIntosh ao nosso lado! E a negociação não foi tarefa<br />
fácil... A CP Foods é muito grande, e nunca havia comprado<br />
uma participação minoritária de uma empresa.<br />
Essa foi a primeira vez na história que eles compraram<br />
um percentual abaixo de 50% de um negócio.<br />
AQUACULTURE BRASIL: O que muda verdadeiramente<br />
na Camanor com a chegada da CP Foods?<br />
Werner Jost: Esse também foi um ponto interessante<br />
da negociação, pois não mudamos a equipe de nossa<br />
empresa. Não há ninguém da Tailândia vindo para cá.<br />
De certa forma isto traz tranquilidade a nossa equipe,<br />
além de mostrar a confiança que eles têm na Camanor<br />
e na capacidade de levarmos a empresa a diante. É interessante<br />
entender também o porquê de a CP Foods ter<br />
vindo para o Brasil. O país é um potencial consumidor<br />
e eles têm muito interesse que ocupemos o mercado e<br />
consigamos comercializar muito camarão no mercado<br />
interno. Este fato é, com certeza, um atrativo a mais<br />
para eles. Outro ponto é o AquaScience. Eles sabem a<br />
dificuldade e os desafios de se produzir em sistemas fechados.<br />
Em uma recente entrevista, o responsável pelo<br />
setor de aquicultura da CP Foods afirmou que, atualmente,<br />
20% da produção deles já ocorre em sistemas<br />
fechados, e ele acr<strong>ed</strong>ita que dentro de cinco anos este<br />
percentual aumentará para 100%. Assim, a CP Foods<br />
ser parceira da Camanor também traz maior segurança<br />
pra eles, visto que o sistema AquaScience é um modelo<br />
único de produção intensiva e altamente eficaz.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Onde a Camanor quer chegar?<br />
Werner Jost: Nós queremos ser um dos melhores, ou<br />
78<br />
quem sabe até o melhor produtor mundial, em termos<br />
não somente de tecnologia, mas também em custo de<br />
produção, organização e competitividade. Ser uma excelência<br />
mundial em vários aspectos: esse é o objetivo<br />
da Camanor. Para atingir esse objetivo, temos que trabalhar<br />
tendo como base um triângulo, onde em uma<br />
ponta existe o sistema de produção: o “AquaScience”;<br />
na outra ponta a pós-larva, e essa engloba não somente<br />
o conceito da genética e dos avanços visando a alta<br />
produtividade, mas também o conceito de sanidade.<br />
Não queremos um animal que cresça “estranhamente<br />
rápido”. Almejamos um animal sem doenças específicas<br />
que depois poderiam dificultam o seu desenvolvimento.<br />
E a terceira ponta deste triângulo é a ração. Hoje<br />
sabemos que existem muitos problemas de qualidade<br />
nas rações comercializadas no Brasil, ou melhor dizendo,<br />
pois talvez o conceito seja um pouco diferente: a<br />
maioria dos sistemas produtivos no Brasil são semi-intensivos,<br />
utilizando-se de 10 a 20 animais/m², onde<br />
as rações utilizadas funcionam como um complemento<br />
alimentar, em virtude de os viveiros possuírem alimento<br />
natural. Se você muda drasticamente para um<br />
sistema com 400 camarões/m², não pode se basear<br />
em alimentação natural. A dependência da ração é de<br />
100%. Nossa dificuldade atual é conseguir uma ração<br />
com qualidade adaptada a nossa condição de cultivo<br />
intensivo. A CP Foods nos trará novas tecnologias e<br />
diferentes conceitos para delinearmos nosso próprio<br />
laboratório de produção depós-larvas, além da questão<br />
da genética. Estamos trabalhando junto ao MAPA<br />
(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)<br />
para importar animais com melhor desempenho, melhorados<br />
geneticamente. Enquanto isso, aproveitando<br />
o nosso laboratório atual, temos animais que são baseados<br />
na genética da Aquatec, mas que já passaram<br />
pelo sistema AquaScience. Especificamente sobre a<br />
ração, a CP Foods analisou o cenário brasileiro atual<br />
e nos deu bastante fundamentação para conversarmos<br />
com nossos fornec<strong>ed</strong>ores nacionais, visando melhorar<br />
o nível de qualidade das rações que utilizamos. Uma<br />
última questão são os recursos financeiros que entra-
am através da negociação, os quais facilitarão levar a<br />
diante o conceito do AquaScience. Alguns produtores<br />
dizem que escondemos tudo, mas nosso investimento<br />
é muito alto! Ao mesmo tempo em que gastamos milhões<br />
de reais, perdemos também, porque o caminho<br />
que escolhemos em determinada questão nem sempre<br />
é o correto. Ajustes na rota sempre são necessários.<br />
AQUACULTURE BRASIL: A importação de camarões congelados<br />
apresenta um grande risco sanitário para a carcinicultura<br />
brasileira. Pensando que a Camanor trabalha<br />
em sistema fechado e biosseguro, esta importação deixaria<br />
de ser um risco para vocês?<br />
Werner Jost: Com certeza seria um risco! Com o<br />
AquaScience, nós encontramos uma maneira de como<br />
conviver com a mancha branca. Hoje, praticamente<br />
não perdemos mais camarão devido a essa enfermidade.<br />
Contudo, cada vírus e cada bactéria é uma nova<br />
história e não sabemos como o sistema poderá reagir,<br />
se sofreria ou não algum impacto. A sanidade é um<br />
ponto crucial no conceito do AquaScience. Para nós,<br />
como também para os demais produtores brasileiros,<br />
seria muito melhor que não houvesse a importação<br />
de camarão congelado de outros países, uma vez que<br />
no beneficiamento destes crustáceos não há garantias<br />
de que os resíduos do processamento não possam<br />
chegar ao meio ambiente e, muito rapidamente, alguma<br />
nova doença possa se disseminar para as fazendas.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Vocês já estão implantando a<br />
geração quatro (G4)? Como estão os ganhos de produtividade<br />
a cada geração e quais os principais desafios<br />
encontrados geração após geração?<br />
Werner Jost: A maioria dos viveiros construídos hoje<br />
estão na geração três (G3), entretanto, já estamos implantando<br />
alguns G4. Ao longo dos últimos 2-3 anos, trabalhamos<br />
na G3, modificando e melhorando consideravelmente<br />
esta geração. Estamos modificando os viveiros<br />
que construímos, cobrindo-os com estufa. Isto requer<br />
alto investimento. Também temos que prestar bastante<br />
atenção em cada alteração do sistema. Estamos muito<br />
confiantes que estas alterações mudarão a maneira de se<br />
produzir, no sentido de que os parâmetros fiquem ainda<br />
mais estáveis. No caso das estufas, especialmente a temperatura.<br />
Estamos aprendendo a manipular, no sentido<br />
positivo, a temperatura das estufas para atingirmos uma<br />
temperatura constante ao longo de todo o ano. Para a<br />
G4 estamos construindo uma unidade piloto, testando<br />
aspectos construtivos, utilizando diferentes materiais. Antes<br />
de começar a construir em grande escala uma nova<br />
geração, pretendemos realizar diversos testes e observar<br />
se o sistema está atendendo às nossas expectativas. Uma<br />
vez que estiver tudo certo, partimos para a expansão. A<br />
meta é construir 30 ha na G4. Essa nova geração trará<br />
um aumento de produtividade e nossa ideia é simplificar<br />
o sistema, tanto com relação aos insumos, estrutura,<br />
energia elétrica, como também na gestão. Para isso, as<br />
unidades de produção serão todas do mesmo tamanho,<br />
o que não é o caso das outras gerações. Essa novidade<br />
facilitará o planejamento, uma vez que todos os insumos<br />
serão calculados para tanques com iguais dimensões.<br />
Nosso objetivo é não somente aumentar a produtividade,<br />
como também simplificar e r<strong>ed</strong>uzir os custos de<br />
produção, tornando-nos competitivos a nível mundial.<br />
AQUACULTURE BRASIL: Há a ideia de replicar e comercializar<br />
o sistema AquaScience para outras empresas ou<br />
países?<br />
Werner Jost: Não temos a intensão de comercializar o<br />
sistema por duas razões, primeiro, porque sabemos da<br />
complexidade do AquaScience. Atualmente não conhecemos<br />
nenhuma outra empresa que teria a capacidade<br />
de absorver a complexibilidade deste modelo, não<br />
somente pela tecnologia empregada, bem como pelo<br />
gerenciamento. Segundo porque, uma vez que nós disseminemos<br />
a tecnologia, não teremos mais o controle<br />
do grupo, correndo riscos de o AquaScience ser implantado<br />
por terceiros. Para nós é fundamental ter essa<br />
vantagem competitiva que o sistema nos proporciona. A<br />
Camanor é uma empresa formal que atende a todos os<br />
requisitos ambientais e todas as exigências trabalhistas.<br />
Isto gera um custo enorme comparado a outros produtores<br />
que, por exemplo, não trabalham formalmente.<br />
Repassar esta tecnologia para outros países é pior ainda.<br />
Os asiáticos, por exemplo, são muito rápidos em absorver<br />
e aprender novas tecnologias, e poderíamos enfrentar<br />
uma dificuldade com relação ao mercado mundial.<br />
Portanto é importante deixar claro que o sistema também<br />
não irá para Ásia, mesmo com união da empresa<br />
com a CP Foods. Nós já possuímos diversas desvantagens<br />
competitivas produzindo no Brasil e o AquaScience<br />
é uma forma de termos um plus que nos possibilite ser<br />
mais competitivo a nível nacional e internacional. Sobre<br />
o que esperar da Camanor nos próximos anos, hoje temos<br />
20ha construídos e a ideia é construir outros 30 ha,<br />
produzindo 15 mil toneladas anuais em 50 ha de área<br />
produtiva. Após isso é possível a construção de uma<br />
nova fazenda. Vai depender da lucratividade que teremos.<br />
Isso não nos imp<strong>ed</strong>e também de ir para outro País,<br />
pois no Brasil, com sua política cambial, sempre teremos<br />
um câmbio supervalorizado, dificultando nossa competitividade.<br />
A grande vantagem de um câmbio valorizado<br />
seria você conseguir importar insumos, mas esbarramos<br />
nos altos impostos da importação. Mas vamos passo a<br />
passo. O primeiro é terminar os 50 ha de área produtiva<br />
e depois pensamos em outros desafios.<br />
SET/OUT 2018<br />
79
Rodrigo Carvalho<br />
Querido por todos da aquicultura brasileira, já estava mais do que na hora do Rodrigo Carvalho ser o<br />
destaque da seção “Eles fazem a diferença”.<br />
Engenheiro de Pesca (UFRPE, 1996), mestre em aquicultura (UFSC, 1999) e doutor em oceanografia<br />
biológica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (2011). Rodrigo nasceu em Recife<br />
(PE), é casado com a Ana Carolina e pai da Larissa, 24 anos, formada em administração e do Arthur, com<br />
8 anos e que sonha ser pesquisador... de tubarões!<br />
“Desde criança gosto de animais e de fazenda, na adolescência quando passava as férias na casa de praia<br />
de amigos, praticava caça submarina e sonhava com uma fazenda cheia de cavalos, vacas... na praia. Quando<br />
descobri a Engenharia de Pesca e prestei vestibular para a UFRPE ainda não sabia o que era a aquicultura, mas<br />
à m<strong>ed</strong>ida que conhecia a área tinha mais certeza de que os animais aquáticos fariam parte da minha vida, fosse<br />
criando ou fosse elaborando produtos. E assim foi, iniciando com meu primeiro trabalho profissional na Fishtec<br />
Consultores Associados, em Florianópolis, onde trabalhei com o Engenheiro de Pesca, Marcelo Chammas”.<br />
O trabalho ao lado de Itamar Rocha<br />
“Trabalhar com Itamar me trouxe um enorme<br />
aprendizado e crescimento profissional. Sou grato<br />
pela confiança que ele depositou em mim através de<br />
diversos projetos, desde a supervisão dos gerentes nas<br />
fazendas e coordenação dos programas de gestão de<br />
qualidade e certificação, à representação da indústria<br />
nas discussões técnicas com o Ministério da Agricultura,<br />
Pecuária e Abastecimento (MAPA), participação<br />
e organização de feiras internacionais como a SEA-<br />
FOOD EXPO e FENACAM e a <strong>ed</strong>ição da revista da<br />
ABCC”.<br />
SET/OUT 2018<br />
Legados deixados na ABCC<br />
“Os maiores legados que deixei durante a minha<br />
colaboração com a ABCC foram os documentos e<br />
cursos sobre gestão de qualidade e agregação de valor<br />
ao camarão cultivado, os boletins e a r<strong>ed</strong>e de informações<br />
sobre mercado que coordenei na época das<br />
exportações, a relação que construímos com a divisão<br />
de pescado do MAPA, a DIPES e o trabalho com a<br />
Coordenação de Controle de Resíduos e Contaminantes<br />
(CCRC) após a crise do Plano Nacional de Controle<br />
de Resíduos e Contaminantes que quase levou<br />
à suspensão das exportações dos produtos cárneos<br />
e apícolas brasileiros. Formávamos uma boa equipe<br />
(Eduardo, Josemar, Glauber, Alfr<strong>ed</strong>o e eu) sob a regência<br />
de Itamar e que, embora pequena, dava conta<br />
de muitas frentes. Durante as discussões com as associações<br />
das indústrias de bovinos, suínos e aves ficou<br />
claro que o setor aquícola ainda tinha um caminho<br />
longo a percorrer para se consolidar no agronegócio<br />
brasileiro. Hoje, junto com pesquisadores da UFRN<br />
e de outras instituições colaboro de forma voluntária<br />
com a indústria nas questões técnicas, como aconteceu<br />
recentemente no episódio das importações de<br />
camarão do Equador. ”<br />
80<br />
Arthur, o futuro pesquisador... de<br />
tubarões!<br />
Família.
Novos rumos<br />
“Eu sempre gostei de fazer pesquisa e sonhava<br />
em fazer doutorado fora do país. Fiz duas tentativas,<br />
em 2000 e 2005 para trabalhar com peixes<br />
marinhos na Terra Nova e depois lagostas, na<br />
Tasmânia, mas não consegui auxílio. A crise no setor<br />
em 2005 deu um empurrão para eu retomar os<br />
meus planos de fazer doutorado e pretendia fazer<br />
com uma pesquisa aplicada. Quando conheci o Albert<br />
Tacon e p<strong>ed</strong>i para ser seu orientado no Hawaii<br />
ele me encorajou a fazer no Brasil sob a orientação<br />
do Daniel Lemos, a coorientação dele e o apoio da<br />
Guabi. Deu certo e graças a Deus, e aos amigos que<br />
surgiram no caminho, como o Oceanógrafo Ricardo<br />
Ota, foi uma experiência produtiva e gratificante,<br />
apesar de sofrer com a distância da família e com<br />
a troca do escritório e as viagens pelos trabalhos<br />
hidráulicos, elétricos e as inúmeras coletas de fezes<br />
de camarão no laboratório. No final do doutorado<br />
fui aprovado no concurso da Escola Agrícola de<br />
Jundiaí (EAJ), que é a Unidade de Ciências Agrárias<br />
da UFRN e faço parte do corpo docente dos cursos<br />
Técnico em Aquicultura e Engenharia de Alimentos<br />
e oriento alunos destes cursos e da Engenharia de<br />
Aquicultura e colaboro com duas pós-graduações”.<br />
Experiências internacionais<br />
“Graças ao inglês, e sempre reforço isso com<br />
os meus filhos e alunos, pude aproveitar, através<br />
do trabalho, experiências internacionais muito<br />
enriquec<strong>ed</strong>oras. Estas experiências iniciaram em<br />
2002 quando eu era gerente de uma das indústrias<br />
da Valença da Bahia Maricultura, e consegui o<br />
apoio do Vice-Presidente, o saudoso Mário Aurélio<br />
da Cunha Pinto, para participar do International<br />
Boston Seafood Show e buscar importadores para os<br />
nossos produtos. Esta experiência ampliou a minha<br />
visão sobre o mercado do pescado. Em 2003 fiz<br />
parte da delegação brasileira na reunião do Comitê<br />
para Pescado e Produtos Pesqueiros do CODEX<br />
(comitê conjunto FAO/OMS para alimentos) na<br />
Noruega, Entre 2004 e 2006 tive a oportunidade<br />
de representar o setor em eventos no Chile, Japão,<br />
França e Inglaterra e de volta à academia participei<br />
dos congressos da WAS no México e nos Estados<br />
Unidos. Entre 20<strong>14</strong> e 2017 integrei a equipe<br />
do projeto SUSAQUA-BRAZIL, uma iniciativa de<br />
pesquisadores da Noruega e do Brasil para avaliar<br />
as possibilidades e desafios para desenvolver uma<br />
indústria da maricultura verde e sustentável no<br />
Brasil aproveitando a experiência da Noruega para<br />
ajudar o país a desenvolver o seu potencial. Em<br />
Laboratório.<br />
2015 participei da Seafood Expo North America<br />
e em 2017 fiz parte da delegação brasileira que<br />
participou do Seminário Sobre Produção Aquícola<br />
e Desenvolvimento Pesqueiro na China e pudemos<br />
visitar empresas e centros de pesquisa. Foi uma<br />
experiência técnica e cultural muito rica que nos<br />
fez admirar e respeitar o desenvolvimento da<br />
China.<br />
Trabalho atual<br />
“Trabalho na Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ),<br />
que é a Unidade de Ciências Agrárias da UFRN. A<br />
EAJ foi fundada a 69 anos, antes mesmo da UFRN<br />
que completa 60 anos este ano. Trabalho no que<br />
gosto e com um grupo unido e atuante em diferentes<br />
áreas da aquicultura. Sou chefe do Laboratório<br />
de Tecnologia do Pescado onde desenvolvemos projetos<br />
de agregação de valor, controle de qualidade<br />
e aproveitamento de resíduos e coordeno o Laboratório<br />
de Nutrição de Organismos Aquáticos cujas<br />
linhas de pesquisa compreendem a determinação<br />
do valor nutricional de ingr<strong>ed</strong>ientes para ração, desenvolvimento<br />
de dietas para melhorar as características<br />
dos produtos, balanço iônico e sistemas de<br />
cultivo para tilápias e camarão marinho”.<br />
Projetos atuais<br />
“Meus projetos são incubar empresas na área<br />
de aquicultura e incentivar o empreend<strong>ed</strong>orismo,<br />
produzir peixes e camarões na estação de aquicultura<br />
da EAJ com alta tecnologia para atender as<br />
aulas práticas, pesquisas e produzir um pequeno<br />
exc<strong>ed</strong>ente para ajudar a manter a nossa estrutura.<br />
Construir a planta piloto para processamento<br />
de pescado na EAJ e melhorar as nossas estruturas<br />
para a realização aulas práticas, pesquisas e<br />
cursos. Publicar e, acima de tudo, colocar bons<br />
profissionais no mercado, sejam empreendendo,<br />
trabalhando em empresas ou atuando no ensino,<br />
pesquisa e extensão”.<br />
Rodrigo Carvalho daqui há 30 anos...<br />
“Estarei viajando, curtindo os netos, escrevendo<br />
artigos, colaborando com pesquisas d<strong>ed</strong>icadas à<br />
aquicultura e quem sabe, produzindo ou processando<br />
pescado.<br />
SET/OUT 2018<br />
81
Quem acompanha os perfis nas r<strong>ed</strong>es sociais voltados à carcinicultura marinha, sem dúvidas conhece a<br />
Fazenda AquaFer, de propri<strong>ed</strong>ade de Fernando Gonçalves de Souza Filho e mais 3 irmãos, além do<br />
seu pai. Carcinicultor há 18 anos, diretor da Associação dos Carcinicultores da Paraíba (ACPB) e<br />
cooperado da Aquivale (cooperativa de criadores de camarão), Fernando comenta que, em razão<br />
da síndrome da mancha branca (WSSV), atualmente eles trabalham com dois ciclos de verão,<br />
focados na despesca de camarões grandes (acima de 16 g), e apenas um ciclo de inverno, ambos<br />
em baixa densidade. Este último ciclo, apenas para “pagar as contas”, já que é no inverno que o<br />
vírus WSSV causa maiores problemas.<br />
Fazenda:<br />
AquaFer<br />
Fernando, um dos donos da<br />
Fazenda AquaFer<br />
SET/OUT 2018<br />
Data do povoamento: 24/11/2017<br />
Quantidade de PL estocadas: 500.000<br />
Área: 3,66 ha<br />
Densidade: <strong>14</strong> cam/m²<br />
Data da despesca: 02/03/2018<br />
Dias de cultivo: 98<br />
Peso final : 20,06 g<br />
Biomassa final: 5.035 Kg<br />
Produtividade: 1.375,7 Kg/ha<br />
Sobrevivência: 50,2%<br />
Total de ração: 6.433 Kg<br />
Conversão alimentar: 1,28:1<br />
82
83<br />
SET/OUT 2018