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CADERNO TRANSE

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<strong>TRANSE</strong> EM TRÓPICO<br />

RISO_SINUOSO_VIBRAÇÃO_<br />

SUOR<br />

fabiane carneiro<br />

O cor-de-rosa e o sinuoso para mim davam a letra...<br />

Algo de sexy e libidinoso...<br />

O riso na horizontal, com corpos comprimidos pelo<br />

peso e gravidade era falso, não tomava<br />

o corpo. Já o riso na vertical e no abraço era<br />

delicioso... o corpo era invadido e se retorcia...<br />

braços enrolados ao pescoço do outro, cabeça e<br />

tronco arremessados para trás, quadril para frente<br />

e pernas que se entrelaçavam às do outro corpo,<br />

risadas escancaradas e arregaçadas.<br />

O sinuoso era denso como que cavando o espaço.<br />

Se não tivesse a limitação do espaço do fundo<br />

da sala, da balada suadora, o sinuoso teria sido<br />

diferente. O corpo não ganhava o espaço<br />

com deslocamentos e sim se resolvia com<br />

sinuosidade em pequenas partes dissociadas e nos<br />

gestos... dedos que faziam círculos no chão, quadril<br />

que circunscrevia o espaço, braços e troncos que<br />

serpenteavam o teto.<br />

O tremor era espasmo. Geralmente durava pouco.<br />

O sinuoso colado no outro corpo era suor, suor,<br />

suor, mãos, pernas, quadril, pés enrolados.<br />

Derradeiramente acabava no chão, em um<br />

amontoado de corpos serpenteantes e famintos.<br />

LADAINHA<br />

A principal sensação do deslocar, na tentativa de<br />

conexão, era: orelhas pregadas nas paredes, cada<br />

uma em uma lateral, corpo expandido para a direita e<br />

esquerda. Energia, sons, rastros.<br />

Os relatos da escrita automática são muito<br />

reveladores... ADORO!!! Porque a conexão é tão<br />

difícil? Pelo menos metade do grupo já se conhece<br />

há algum tempo, mas mesmo assim a dificuldade<br />

permanece... Lembrei desse exercício que alguém<br />

deu para o Cartográfico nos seus primórdios...<br />

A gente se conhecia muito, mas precisou de um<br />

tempo para afinar a escuta de verdade. Será que<br />

desaprendemos a nos conectar? Será que esse<br />

mundo pautado basicamente nas imagens e no<br />

visual limitou a nossa conexão a somente esse<br />

sentido - a visão? Fiquei pensando no quanto a<br />

chegada a uma ação coletiva se pauta por elementos<br />

externos, que embalam vários indivíduos não<br />

conectados entre si, mas sim envoltos por essas<br />

ondas externas. O som, por exemplo. Uma música<br />

numa balada que leva os corpos individuais a<br />

entenderem que estão em um corpo único, mas<br />

na verdade não... individualidades embaladas por<br />

um mesmo som, num mesmo espaço... uma falsa<br />

conexão ou uma conexão distinta... não sei... talvez<br />

esteja pessimista quanto a qualquer possibilidade de<br />

conexão, só isso.<br />

Os símbolos entre a insistência da poesia eram<br />

os objetos de atenção. Esses devaneios entre<br />

a mesmice, esses lapsos em meio ao cotidiano,<br />

esses prolongamentos e distorções pela repetição...<br />

números, girafas, desenhos...<br />

GENGIBRE<br />

Fogo na boca

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