jornal aacel 31
Por ódio à esquerda, invocaram o monstro do autoritarismo (e ele veio)
Por ódio à esquerda, invocaram o monstro do autoritarismo (e ele veio)
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POR ÓDIO À ESQUERDA, INVOCARAMda imprensa, o monstro ia criando braços.
O MONSTRO DO AUTORITARISMO (E
Primeiro, em organizações susgidas nos
subterrâneos da política, financiados sabe-se lá
ELE VEIO)
por quem, que, na superfície, se identificavam
Sob o beneplácito e patrocínio doscomo “cidadãos de bem” e “patriotas”. Depois,
donos da imprensa, os zumbis da ditaduraencontraria abrigo entre as togas mais sinistras
tomam a Bolívia e estão à espreita no Brasil do Judiciario, que revelou uma inequívoca
2013. quase 30 anos após o fim da
vocação diatorial, misturada ao
ditadura militar no Brasil, parecia que
fundamentalismo religioso que também marca
estávamos livres do autoritarismo e com nossa
essa nova onda de autoritarismo em nosso
jovem democracia consolidada. O que ninguém
continente. Em vez de Constituição, essa gente
esperava é que, como em uma missa macabra,
jura seguir a Bíblia, ou sua peculiar
as elites conjurassem o monstro de volta.
interpretação dela.
Aproveitaram-se de um protesto legítimo contra
O próximo passo era arrancar do cargo a
o aumento dos ônibus em São Paulo para lançar
presidenta eleita do Brasil, Dilma Rousseff, e,
a semente. “O gigante acordou”, diziam. Mas
por conseguinte, o PT. Os protestos de 2013,
era um troll, disposto a tudo para entregar o
que, após serem desvirtuados pelo oportunismo
poder novamente aos gorilas verde-oliva que
midiático e pela extrema direita, chegaram ao
aterrorizaram o continente sul americano por
fim sem conseguir seu intento de derrubar
décadas.
Dilma, foram retomados com outra roupagem
O terreno para os saudosistas da ditadura
em 2015, logo aapós a reeleição. Nas ruas, os
vinha sendo semeado anos antes, desde 2009,
golpistas pederam o pudor e começaram a
com o golpe contra o presidente de Honduras,
invocar abertamente o demônio: “Intervenção
Manuel Zelaya, tirado de casa de pijamas e
militar já!”, bradavam homens e mulheres de
expulso do país. Invocado das catacumbas, o
verde e amarelo, possuídos pela paranoia
demônio autoritário migrou em seguida para o
anticomunista e pelo ódio à esquerda
Paraguai, onde derrubaria o presidente Fernando
alimentados durante anos pelo rádio, revistas,
Lugo em 2012. A mídia comercial braasileira se
jornais e TVs.
referiu a ambos os casos não como “golpes”,
Dilma foi impichada e Lula, preso. Mas a
mas utilizando o eufemismo “deposição
conspiração não trouxe, ao contrário do que
constitucional”. Recebia de braços abertos,
garantiam os pseudo “defensores da
assim, o retorno da prática de arrancar
democracia”, políticos salvadores da pátria e
governantes eleitos de seus cargos, como
sim demônios autoritários que estes setores
ocorria na ditadura que ela apoiou.
invocaram, a pretexto de exorcizar o PT do
Sob o beneplácito e patrocínio dos donos
poder. Um simpatizante declarado da ditadura
militar e da tortura, o capitão Jair Bolsonaro, foi
alçado à Presidência da República. A ameaça desopram nos ouvidos dos vivos. No bBrasil,
uma nova onda de governos militares pairaaliado do governo Bolsonaro, entre eles seu
sobre nossas cabeças, inclusive sobre as cabeçaspróprio filho, já falaram em “novo AI-5” e
da mídia que os ajudou a retornar do além-“excludentmorte. policiais que assassinassem cidadãos durante
de ilicitude” para militares ou
Agora o golpismo chega à Bolívia, com omanifestações ou protestos populares, tentando
Exército e a polícia forçando o presidente Evoressuscitar o peíodo mais cruel da ditadura que
Morales a deixar seu cargo. Não foi nem peloadmiram, quando qualquer cidadão podia ser
Congresso, como no caso de Zelaya, Lugo etorturado e morto apenas por questionar o
Dilma: foi um golpe militar clássico mesmo, àgoverno.
moda antiga. Uma quartelada. Tanto é que nem
@socialistamorena
a mídia brasileira está falando em “deposição
constitucional” desta vez.
Em sua declaração de renúncia, Evo
justifica que sai para livrar seus compatriotas
das perseguições, intimidações, sequestros,
ameaças e da tortura, exatamente como nos
tempos mais difíceis das ditaduras sulamericanas.
A casa de sua irmã foi incendiada,
assim como outras residências de governadores
e apoiadores do governo. O presidente segue
escondido, com a vida em perigo. A casa de Evo
foi saqueada e seus pertences, queimados.
A renúncia ocorre após um mês de
violência no país, desatada com a
inconformidade da oposição com o resultado da
eleição, em outubro, dando vitória a Evo, em
um pleito questionado pela OEA. Em uma das
cenas mais dantescas dos protestos, Patricia
Arce, prefeita de Vinto, pequena cidade vizinha
a Cochabamba, aliada de Evo Morales, foi
atacada, teve seu cabelo cortado e foi pintada de
vermelho.
Na manhã deste domingo, diante do
relatório da OEA apontando “irregularidades”
na contagem de votos, o presidente boliviano
resolveu convocar novos membros na corte
eleitoral. Era tarde. O Exército e a polícia o
obrigaram a renunciar. Tardios demais também
foram o “rechaço” da OEA a “qualquer saída
inconstitucional” na Bolívia e a recomendação
de que se “respeite o estado de direito”. O que
se vê no horizonte são tempos sombrios para os
bolivianos.
Como nos filmes de terror B, chamar os
mortos de volta sempre resulta em sangue
derramado e morte. Zumbis de torturadores
caminham pelos palácios dos governos sulamericanos.
Fantasmas de generais geocidas