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_entrevista
mulheres no Brasil é maior do que a de homens e a oportunidade
de trabalho é o inverso para essa realidade isso é compreensível.
Na selva, o animal que se alimenta e vive mais é o que também
corre mais. Na selva de pedra das grandes metrópoles a única
forma de se quebrar essa corrente também é a Educação. Avalio
que a situação de network entre as mulheres atualmente, é igual às
demais categorias. Funciona por camadas. A categoria de mulheres
lésbicas nem sempre é apoiada pela “não lésbica”. A categoria
de mulheres feministas nem sempre recebe apoio da categoria das
mulheres liberais. Cada um se relaciona conforme o seu nicho,
infelizmente. Razão pela qual não se chega a um diagnóstico social
de 100%. Quem “sobe” nem sempre se lembra de quem deixou
pra trás, nas empresas. Ou seja, tudo é do “humano” de cada um.
RMA Nos seus próprios negócios, como costumam
funcionar estas redes?
BD Redes sociais são facilitadores de conexões sociais entre
pessoas, grupos ou organizações que compartilham dos mesmos
valores ou interesses.
RMA Inovação ainda é um termo muito distante do
quotidiano de milhões de pequenas empresárias. Como
é possível inovar sem recorrer a grandes parcerias? Que
recomendação deixa a essas pequenas empresárias?
BD ão as pequenas empresas que hoje dominam o mercado e
geram emprego. Hoje uma pequena empresa consegue dar um
atendimento mais humanizado que as grandes empresas não dão.
Pois, em grandes empresas somos só um número. A inovação pode
acontecer sempre. Possuímos uma ferramenta barata e de fácil
acesso que são as redes sociais. Então, precisamos aprender a usála
mais para ter inovação nas pequenas empresas.
RMA A mulher começa a empreender na idade em que
tem de se afirmar no seu relacionamento amoroso e
constituir a sua família. Em África, por exemplo, sabemos
ainda da existência em algumas culturas onde se pratica
o casamento de menores de idade. Que impacto sente
que isso tem para o desenvolvimento económico de
África?
BD É muito triste e lamentável pensar que ainda existe esta prática
de casamentos de menores de idade, o mais absurdo é aceitar
que gera impacto no desenvolvimento económico do continente
africano. Independentemente de ser ou não cultural, penso que,
e como tenho acompanhado pelas notícias de alguns países
africanos, a luta para acabar com esta práticas, implica ter leis
severas e lembrando que os Direitos das Crianças foi declarado e
aprovado pelas Nações Unidas no ano de 1959. Deve-se criar mais
pautas para discutir e conscientizar as pessoas que defendem esta
cultura, criar mecanismos que protejam ainda mais as crianças,
com base na Declaração Universal dos seus direitos, para garantir
o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social. No
seu processo de desenvolvimento como Ser Humano.
RMA Sobre os rituais de puberdade da mulher africana,
acha que abala a auto-estima da mulher ou atrapalha o
sucesso no empreendedorismo?
BD Muitas mulheres africanas empreendedoras sabem que para
ter o sucesso em nossa jornada precisamos de muito empenho
e dedicação, e ainda desenvolver vários papéis. Também somos
cobradas e isso às vezes acaba por afetar a nossa auto-estima.
Acho que a purberdade da mulher africana, por mais que se inicie
ainda menina, não tem quase relevo nas sociedades matrilineares.
Por exemplo, em alguns países, acontece quando lhes aparece a
primeira menstruação ou antes e, noutros, depois de passar anos
ou mais. Falo sempre que no continente africano, as mulheres
já nascem com dupla jornada, cuidar da casa, dos interesses da
família, do seu próprio negócio e pela empresa onde trabalha, e
às vezes não temos tempo de cuidar de nós, da nossa aparência,
e é por este motivo que a maioria acaba sofrendo por baixa
autoestima. A nossa competência é questionada constantemente.
A dica que dou às mulheres é reservar um tempinho na semana
para se cuidarem melhor, ter essa consciência sempre de que, em
primeiro lugar temos de estar bem e só assim podemos passar isso
para as pessoas.
RMA Fale-nos sobre a sua mãe?
BD Me emociono sempre que falo da minha mãe, porque se sou
o que sou hoje é fruto dela. Paro para pensar em cada coisa que
aprendi através das suas ações. Vim de uma família muito humilde
e simples, mas com princípios. Ainda criança, a minha mãe
ensinou-me os quatros valores da vida, humildade, determinação,
garra e disciplina. Também me ensinou a ter equilíbrio emocional
e lembrar-me sempre de onde vim e olhar para onde pretendo
ir e chegar. Nunca esquecer da minha descendência e acreditar
em mim. É com muito orgulho que digo que sou filha de Fatima
Indjai Djoco, minha mãe, amiga, colega companheira, a dona do
meu sorriso mais lindo do mundo, rainha do meu reino, minha
fortaleza, meu luxo, conforto. Faltam-me palavras para descrever
o que sinto, gratidão pelos seus ensinamentos e conselhos mesmo
a longa distância. Amo-a todos os dias, por toda minha vida. É o
meu maior motivo para manter a cabeça erguida.
Enquanto criança,
enfrentei muitas
barreiras e vários
desafios. Na minha
adolescência, já num
país diferente e distante
(Brasil), conheci o
preconceito, xenofobia,
o alto preço que se paga,
com a referência, os
desafios, viver longe
de casa, da família e dos
amigos, ter que dividir
o pensamento entre o
pesadelo (..) e o sonho.
RMA Faz parte da agenda da VIRADA FEMININA, a
educação e reeducação dos meninos no que concerne
ao respeito pela mulher. Fale-nos sobre isso, o que é a
virada feminina?
BD A VIRADA FEMININA é o olhar e a voz do feminino sobre
os atuais desafios da Humanidade: educação, política, economia,
empreendedorismo, segurança, meio ambiente, cultura, saúde e
arte. Serão horas que se multiplicarão por anos, com ressonância
no setor privado, setor público, sociedade civil organizada e
cidadãos, com uma agenda de intenções intersetoriais e de
compromisso com o ODS 5 – Igualdade de género – AGENDA
2030/ONU – Organização das Nações Unidas/ODS Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável.
RMA Qual é o propósito deste projeto?
BD Propondo a inclusão da Virada Feminina no Calendário de
Eventos da Cidade de São Paulo, o principal propósito é iniciar
um Movimento Nacional e Internacional de fortalecimento
e conexão de iniciativas de empoderamento feminino. Serão
horas de atividades e atendimentos às mulheres. Em 2019, fui
responsável pelo GT DIVERSIDADE, com o tema: mulheres
invisíveis, onde os refugiados e imigrantes foram protagonistas.
Nesse evento foram incluídas palestras, uma feira cultural, evento
de culinária, desfile de moda, entre outras.
RMA Que opinião tem sobre a educação, cultura do
machismo, muita das vezes transmitidas pelas próprias
mulheres?
BD Penso que as nossas leis estão ultrapassadas. A constituição
precisa ser renovada, tal como o código penal, que permitem que
um homem que espanca a sua esposa é liberto no mesmo dia e
sai pela porta da frente. Temos alguns governantes que acham
indevido ensinar nas escolas aulas de educação sexual. Que
“barram” um livro, porque esse tem em suas páginas um beijo
gay. Nenhuma mulher reproduz a cultura do machismo. Elas
apenas praticam o que aprendem do mesmo Estado. Para mudar
a mentalidade de uma geração é preciso dar a ela conhecimento
sobre as coisas. Sobre seus direitos e deveres.
RMA O empoderamento e a esta mudança de visão e
postura na educação de meninas e meninos existirá
apenas para as mulheres da cidade e moradores de
favelas? Ou o programa estende-se às mulheres rurais,
indígenas e etc?
BD A Educação está em toda a parte. Conheço casos de
catadoras de papel que acham livros no lixão e levam para o
seu filho e o vê passando no vestibular. Já li sobre a história de
um morador de rua que achou no lixo um jogo de apostilas
de um famoso cursinho preparatório e passou em primeiro
lugar em um concurso do Banco do Brasil. Como inspiração
aconselho a conhecer a história do professor Roberto Carlos
Ramos que dá palestras em todo país. Que vindo de uma
família muito pobre, viveu como interno na Fundação Casa
(FEBEM), se relacionou com drogas, foi considerado pela
FEBEM como irrecuperável, mas com o tempo foi adotado
por uma cidadã de nacionalidade francesa que o levou para
seu país e lá aprendeu francês. Ao retornar ao Brasil, passou
no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais.
Voltou a FEBEM onde chegou a adotar 13 filhos. Hoje é autor
de vários livros infantis, condecorado com vários prémios e a
sua história virou um importante filme que inspirou milhares
de outros brasileiros e brasileiras iguais a mim.
RMA Todos podem ter oportunidades?
BD Não existem meninas ou meninas da cidade ou de favela
quando se tem um banco de escola e a oportunidade de está ali.
O conhecimento, eu repito é maior que tudo isso. Eu mesma sou
um exemplo disso. Meus pais não tinham nem a 4 série e mesmo
sendo de família humilde, eu concluí. E graças ao conhecimento,
me encontro em situação melhor do que as mulheres de minha
família, no passado. Hoje o que chamam de empoderamento não
está “em ter” um ótimo carro, ou lar ou milhares de seguidores
em redes sociais. O empoderamento está em minha mente. Um
ladrão pode roubar a minha carteira. Meu conhecimento ele
não rouba. E este programa estende-se às mulheres indígenas,
kilombolas e das favelas.
RMA Acredita ser possível atingirmos o respeito não só
pela igualdade, mas pela diversidade de género?
BD Acredito que o respeito é a fonte para qualquer questão.
O problema é conseguir que nesses tempos sombrios o respeito
venha realmente a acontecer.
RMA E como Africana que é, como avalia a participação
das mulheres africanas, de forma a causar impacto
positivo na vida de outras pessoas?
BD Neste contexto, falo da minha vivência no Brasil. Vejo
mobilização entre as mulheres no sentido, de uma empoderar
a outra. As ações afirmativas não vêm necessariamente de uma
avaliação acerca do impacto específico das iniciativas. Aos
poucos, este cenário vai mudar, mas é preciso ter paciência para
criar mecanismos e mostrar a importância e contributo que uma
mulher tem na influência e na dependência da outra, sempre.
RMA Tenciona levar a África que existe no Brasil, para
África. Como tenciona fazer isso?
BD Colaborar com a melhor visibilidade da Guiné Bissau nos
media brasileira, para que as suas ofertas, nas áreas de turismo
e trade sejam destacadas possibilitando uma maior expansão no
relacionamento entre os dois países. As notícias sobre os países do
continente africano, veiculadas nos media tradicionais, são mais
sensacionalistas do que educativas e motivadoras para abertura
de novas oportunidades de estreitar relacionamentos culturais,
científicos e económicos.
RMA Queria que nos deixasse o seu ponto de vista sobre
as mais diversas iniciativas de apoio e empoderamento
feminino e suas grandes manifestações.
BD A minha visão sobre este assunto vai muito além de aumento
das mulheres e meninas no empoderamento. Esta iniciativa veio
para agregar valor. As mulheres são uma parte importante da
cadeia global da Economia. Para ser empoderada é preciso ter
o conhecimento sobre os seus direitos e deveres, perante a sua
categoria como mulher. É de extrema importância na era que
vivemos hoje. Esta luta vem ganhando espaço e força no século
atual e é por este motivo que temos que contar com diversas
iniciativas para fortalecer mais a rede. Com a criação das redes
sociais esse poder de interação se multiplicou ainda mais.
mulher africana 32 fevereiro 2020
mulher africana 33 fevereiro 2020