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Revista Mulher Africana

Leia a edição de Fevereiro e Março

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_entrevista

mulheres no Brasil é maior do que a de homens e a oportunidade

de trabalho é o inverso para essa realidade isso é compreensível.

Na selva, o animal que se alimenta e vive mais é o que também

corre mais. Na selva de pedra das grandes metrópoles a única

forma de se quebrar essa corrente também é a Educação. Avalio

que a situação de network entre as mulheres atualmente, é igual às

demais categorias. Funciona por camadas. A categoria de mulheres

lésbicas nem sempre é apoiada pela “não lésbica”. A categoria

de mulheres feministas nem sempre recebe apoio da categoria das

mulheres liberais. Cada um se relaciona conforme o seu nicho,

infelizmente. Razão pela qual não se chega a um diagnóstico social

de 100%. Quem “sobe” nem sempre se lembra de quem deixou

pra trás, nas empresas. Ou seja, tudo é do “humano” de cada um.

RMA Nos seus próprios negócios, como costumam

funcionar estas redes?

BD Redes sociais são facilitadores de conexões sociais entre

pessoas, grupos ou organizações que compartilham dos mesmos

valores ou interesses.

RMA Inovação ainda é um termo muito distante do

quotidiano de milhões de pequenas empresárias. Como

é possível inovar sem recorrer a grandes parcerias? Que

recomendação deixa a essas pequenas empresárias?

BD ão as pequenas empresas que hoje dominam o mercado e

geram emprego. Hoje uma pequena empresa consegue dar um

atendimento mais humanizado que as grandes empresas não dão.

Pois, em grandes empresas somos só um número. A inovação pode

acontecer sempre. Possuímos uma ferramenta barata e de fácil

acesso que são as redes sociais. Então, precisamos aprender a usála

mais para ter inovação nas pequenas empresas.

RMA A mulher começa a empreender na idade em que

tem de se afirmar no seu relacionamento amoroso e

constituir a sua família. Em África, por exemplo, sabemos

ainda da existência em algumas culturas onde se pratica

o casamento de menores de idade. Que impacto sente

que isso tem para o desenvolvimento económico de

África?

BD É muito triste e lamentável pensar que ainda existe esta prática

de casamentos de menores de idade, o mais absurdo é aceitar

que gera impacto no desenvolvimento económico do continente

africano. Independentemente de ser ou não cultural, penso que,

e como tenho acompanhado pelas notícias de alguns países

africanos, a luta para acabar com esta práticas, implica ter leis

severas e lembrando que os Direitos das Crianças foi declarado e

aprovado pelas Nações Unidas no ano de 1959. Deve-se criar mais

pautas para discutir e conscientizar as pessoas que defendem esta

cultura, criar mecanismos que protejam ainda mais as crianças,

com base na Declaração Universal dos seus direitos, para garantir

o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social. No

seu processo de desenvolvimento como Ser Humano.

RMA Sobre os rituais de puberdade da mulher africana,

acha que abala a auto-estima da mulher ou atrapalha o

sucesso no empreendedorismo?

BD Muitas mulheres africanas empreendedoras sabem que para

ter o sucesso em nossa jornada precisamos de muito empenho

e dedicação, e ainda desenvolver vários papéis. Também somos

cobradas e isso às vezes acaba por afetar a nossa auto-estima.

Acho que a purberdade da mulher africana, por mais que se inicie

ainda menina, não tem quase relevo nas sociedades matrilineares.

Por exemplo, em alguns países, acontece quando lhes aparece a

primeira menstruação ou antes e, noutros, depois de passar anos

ou mais. Falo sempre que no continente africano, as mulheres

já nascem com dupla jornada, cuidar da casa, dos interesses da

família, do seu próprio negócio e pela empresa onde trabalha, e

às vezes não temos tempo de cuidar de nós, da nossa aparência,

e é por este motivo que a maioria acaba sofrendo por baixa

autoestima. A nossa competência é questionada constantemente.

A dica que dou às mulheres é reservar um tempinho na semana

para se cuidarem melhor, ter essa consciência sempre de que, em

primeiro lugar temos de estar bem e só assim podemos passar isso

para as pessoas.

RMA Fale-nos sobre a sua mãe?

BD Me emociono sempre que falo da minha mãe, porque se sou

o que sou hoje é fruto dela. Paro para pensar em cada coisa que

aprendi através das suas ações. Vim de uma família muito humilde

e simples, mas com princípios. Ainda criança, a minha mãe

ensinou-me os quatros valores da vida, humildade, determinação,

garra e disciplina. Também me ensinou a ter equilíbrio emocional

e lembrar-me sempre de onde vim e olhar para onde pretendo

ir e chegar. Nunca esquecer da minha descendência e acreditar

em mim. É com muito orgulho que digo que sou filha de Fatima

Indjai Djoco, minha mãe, amiga, colega companheira, a dona do

meu sorriso mais lindo do mundo, rainha do meu reino, minha

fortaleza, meu luxo, conforto. Faltam-me palavras para descrever

o que sinto, gratidão pelos seus ensinamentos e conselhos mesmo

a longa distância. Amo-a todos os dias, por toda minha vida. É o

meu maior motivo para manter a cabeça erguida.

Enquanto criança,

enfrentei muitas

barreiras e vários

desafios. Na minha

adolescência, já num

país diferente e distante

(Brasil), conheci o

preconceito, xenofobia,

o alto preço que se paga,

com a referência, os

desafios, viver longe

de casa, da família e dos

amigos, ter que dividir

o pensamento entre o

pesadelo (..) e o sonho.

RMA Faz parte da agenda da VIRADA FEMININA, a

educação e reeducação dos meninos no que concerne

ao respeito pela mulher. Fale-nos sobre isso, o que é a

virada feminina?

BD A VIRADA FEMININA é o olhar e a voz do feminino sobre

os atuais desafios da Humanidade: educação, política, economia,

empreendedorismo, segurança, meio ambiente, cultura, saúde e

arte. Serão horas que se multiplicarão por anos, com ressonância

no setor privado, setor público, sociedade civil organizada e

cidadãos, com uma agenda de intenções intersetoriais e de

compromisso com o ODS 5 – Igualdade de género – AGENDA

2030/ONU – Organização das Nações Unidas/ODS Objetivos

do Desenvolvimento Sustentável.

RMA Qual é o propósito deste projeto?

BD Propondo a inclusão da Virada Feminina no Calendário de

Eventos da Cidade de São Paulo, o principal propósito é iniciar

um Movimento Nacional e Internacional de fortalecimento

e conexão de iniciativas de empoderamento feminino. Serão

horas de atividades e atendimentos às mulheres. Em 2019, fui

responsável pelo GT DIVERSIDADE, com o tema: mulheres

invisíveis, onde os refugiados e imigrantes foram protagonistas.

Nesse evento foram incluídas palestras, uma feira cultural, evento

de culinária, desfile de moda, entre outras.

RMA Que opinião tem sobre a educação, cultura do

machismo, muita das vezes transmitidas pelas próprias

mulheres?

BD Penso que as nossas leis estão ultrapassadas. A constituição

precisa ser renovada, tal como o código penal, que permitem que

um homem que espanca a sua esposa é liberto no mesmo dia e

sai pela porta da frente. Temos alguns governantes que acham

indevido ensinar nas escolas aulas de educação sexual. Que

“barram” um livro, porque esse tem em suas páginas um beijo

gay. Nenhuma mulher reproduz a cultura do machismo. Elas

apenas praticam o que aprendem do mesmo Estado. Para mudar

a mentalidade de uma geração é preciso dar a ela conhecimento

sobre as coisas. Sobre seus direitos e deveres.

RMA O empoderamento e a esta mudança de visão e

postura na educação de meninas e meninos existirá

apenas para as mulheres da cidade e moradores de

favelas? Ou o programa estende-se às mulheres rurais,

indígenas e etc?

BD A Educação está em toda a parte. Conheço casos de

catadoras de papel que acham livros no lixão e levam para o

seu filho e o vê passando no vestibular. Já li sobre a história de

um morador de rua que achou no lixo um jogo de apostilas

de um famoso cursinho preparatório e passou em primeiro

lugar em um concurso do Banco do Brasil. Como inspiração

aconselho a conhecer a história do professor Roberto Carlos

Ramos que dá palestras em todo país. Que vindo de uma

família muito pobre, viveu como interno na Fundação Casa

(FEBEM), se relacionou com drogas, foi considerado pela

FEBEM como irrecuperável, mas com o tempo foi adotado

por uma cidadã de nacionalidade francesa que o levou para

seu país e lá aprendeu francês. Ao retornar ao Brasil, passou

no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais.

Voltou a FEBEM onde chegou a adotar 13 filhos. Hoje é autor

de vários livros infantis, condecorado com vários prémios e a

sua história virou um importante filme que inspirou milhares

de outros brasileiros e brasileiras iguais a mim.

RMA Todos podem ter oportunidades?

BD Não existem meninas ou meninas da cidade ou de favela

quando se tem um banco de escola e a oportunidade de está ali.

O conhecimento, eu repito é maior que tudo isso. Eu mesma sou

um exemplo disso. Meus pais não tinham nem a 4 série e mesmo

sendo de família humilde, eu concluí. E graças ao conhecimento,

me encontro em situação melhor do que as mulheres de minha

família, no passado. Hoje o que chamam de empoderamento não

está “em ter” um ótimo carro, ou lar ou milhares de seguidores

em redes sociais. O empoderamento está em minha mente. Um

ladrão pode roubar a minha carteira. Meu conhecimento ele

não rouba. E este programa estende-se às mulheres indígenas,

kilombolas e das favelas.

RMA Acredita ser possível atingirmos o respeito não só

pela igualdade, mas pela diversidade de género?

BD Acredito que o respeito é a fonte para qualquer questão.

O problema é conseguir que nesses tempos sombrios o respeito

venha realmente a acontecer.

RMA E como Africana que é, como avalia a participação

das mulheres africanas, de forma a causar impacto

positivo na vida de outras pessoas?

BD Neste contexto, falo da minha vivência no Brasil. Vejo

mobilização entre as mulheres no sentido, de uma empoderar

a outra. As ações afirmativas não vêm necessariamente de uma

avaliação acerca do impacto específico das iniciativas. Aos

poucos, este cenário vai mudar, mas é preciso ter paciência para

criar mecanismos e mostrar a importância e contributo que uma

mulher tem na influência e na dependência da outra, sempre.

RMA Tenciona levar a África que existe no Brasil, para

África. Como tenciona fazer isso?

BD Colaborar com a melhor visibilidade da Guiné Bissau nos

media brasileira, para que as suas ofertas, nas áreas de turismo

e trade sejam destacadas possibilitando uma maior expansão no

relacionamento entre os dois países. As notícias sobre os países do

continente africano, veiculadas nos media tradicionais, são mais

sensacionalistas do que educativas e motivadoras para abertura

de novas oportunidades de estreitar relacionamentos culturais,

científicos e económicos.

RMA Queria que nos deixasse o seu ponto de vista sobre

as mais diversas iniciativas de apoio e empoderamento

feminino e suas grandes manifestações.

BD A minha visão sobre este assunto vai muito além de aumento

das mulheres e meninas no empoderamento. Esta iniciativa veio

para agregar valor. As mulheres são uma parte importante da

cadeia global da Economia. Para ser empoderada é preciso ter

o conhecimento sobre os seus direitos e deveres, perante a sua

categoria como mulher. É de extrema importância na era que

vivemos hoje. Esta luta vem ganhando espaço e força no século

atual e é por este motivo que temos que contar com diversas

iniciativas para fortalecer mais a rede. Com a criação das redes

sociais esse poder de interação se multiplicou ainda mais.

mulher africana 32 fevereiro 2020

mulher africana 33 fevereiro 2020

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