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FREUD-Sigmund.-Obras-Completas-Imago-Vol.-01-1886-1889

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fidedignas de nosso conhecimento a respeito dele. Por essa razão, temos de descartar a idéia de que na

origem da histeria esteja situada alguma possível doença orgânica; e não devemos apelar para as

influências vasomotoras (espasmos vasculares) como causa dos distúrbios histéricos. Um espasmo

vascular é, em essência, uma modificação orgânica, cujo efeito é determinado pelas condições

anatômicas; difere da embolia, por exemplo, somente pelo fato de que não produz nenhuma alteração

permanente.

Juntamente com os sintomas físicos da histeria, pode-se observar toda uma série de distúrbios

psíquicos nos quais, futuramente, serão sem dúvida encontradas as modificações características da

histeria, mas cuja análise, até o momento, mal começou. Esses distúrbios psíquicos são alterações no

curso e na associação de idéias, inibições na atividade da vontade, exagero e repressão dos sentimentos

etc. - que podem ser resumidos como alterações na distribuição normal, no sistema nervoso, das

quantidades estáveis de excitação. Uma psicose, no sentido psiquiátrico do termo, não faz parte da

histeria, ainda que possa desenvolver-se sobre a base do estado histérico, nesse caso devendo ser

considerada uma complicação. Aquilo que popularmente se descreve como temperamento histérico -

instabilidade da vontade, alterações do humor, aumento da excitabilidade com diminuição de todos os

sentimentos altruísticos - pode estar presente na histeria, mas não é absolutamente necessário para seu

diagnóstico. Existem casos graves de histerianos quais está inteiramente ausente uma alteração psíquica

desse tipo; muitos dos pacientes que pertencem a essa classe encontram-se entre as pessoas mais amáveis

e inteligentes, de vontade muito forte, que percebem nitidamente sua doença como algo alheio à sua

natureza. Os sintomas psíquicos têm sua significação dentro do quadro total da histeria, mas não são mais

constantes do que os diferentes sintomas físicos, os estigmas. Por outro lado, as modificações psíquicas,

que devem ser assinaladas como o fundamento do estado histérico, ocorrem inteiramente na esfera da

atividade cerebral inconsciente, automática. Talvez ainda se possa acentuar que na histeria (como em

todas as neuroses) aumenta a influência dos processos psíquicos sobre os processos físicos do organismo,

e que os pacientes histéricos funcionam com um excesso de excitação no sistema nervoso - excesso que

se manifesta ora como inibidor, ora como irritante, deslocando-se com grande mobilidade dentro do

sistema nervoso. [1]

A histeria deve ser considerada como um estado, uma diátese nervosa que eclode de tempos em

tempos. A etiologia do status hystericus deve ser buscada inteiramente na hereditariedade: os histéricos

sempre têm uma disposição hereditária para perturbações da atividade nervosa; entre seus parentes são

encontrados epilépticos, doentes mentais, tabéticos etc. A transmissão hereditária direta da histeria

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