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FREUD-Sigmund.-Obras-Completas-Imago-Vol.-01-1886-1889

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fácil, especialmente quando eles envolvem articulações. Os estados mórbidos causados por trauma geral

grave (acidentes ferroviários etc.), conhecidos como “railway spine” e “railway brain”, são considerados

histeria por Charcot, com o que concordam os autores americanos, com inquestionável autoridade nesse

assunto. Esses estados freqüentemente possuem a mais sombria e grave aparência; apresentam-se

combinados com depressão e humor melancólico e mostram, seja de que maneira for, em numerosos

casos, uma combinação de sintomas histéricos com sintomas neurastênicos e orgânicos. Charcot provou

que também a encefalopatia conseqüente ao saturnismo está relacionada com a histeria e, ademais, que a

anestesia comum nos alcoólatras não é uma doença à parte, mas sim um sintoma de histeria. Contudo,

opõe-se à idéia de estabelecer diferentes subespécies de histeria (traumática, alcoólica, saturnina etc.); ele

insiste em que a histeria é sempre a mesma e que simplesmente é provocada por uma série de diferentes

causas incidentais. Também na sífilis de instalação recente tem-se observado o surgimento de sintomas

histéricos.

IV. EVOLUÇÃO DA HISTERIA. - A histeria, mais do que uma doença circunscrita, representa

uma anomalia constitucional. Em geral, seus primeiros sinais provavelmente aparecem na adolescência.

Na verdade, as doenças histéricas, mesmo as de gravidade considerável, não são raridade em crianças

entre seis e dez anos. Em meninos e meninas de intensa disposicão histérica, o período anterior e posterior

à puberdade enseja um primeiro surto da neurose. Na histeria infantil são encontrados os mesmos

sintomas das neuroses dos adultos. No entanto, os estigmas quase sempre são mais raros; em primeiro

plano estão as alterações psíquicas, os espasmos, os ataques e as contraturas. As crianças histéricas são,

com bastante freqüência, precoces e altamente dotadas; em numerosos casos, a histeria é, por certo,

simplesmente sintoma de profunda degeneração do sistema nervoso, que se manifesta em perversão moral

permanente. Conforme se sabe, a juventude, dos quinze anos em diante, é o período no qual a neurose

histérica, na maioria das vezes, se mostra ativa em pessoas do sexo feminino. Isto pode acontecer devido

a uma sucessão ininterrupta de distúrbios relativamente leves (histeria crônica), ou devido a diversos

surtos graves (histeria aguda) separados por intervalos livres que duram anos. Em geral, os primeiros

anos de um casamento feliz interrompem a doença; quando as relações conjugais se tornam mais frias e

os nascimentos sucessivos acarretam um esvaziamento, reaparece a neurose. Nas mulheres com mais de

quarenta anos, a doença geralmente não apresenta fenômenos novos; mas os antigos sintomas podem

persistir, e até mesmo numa idade avançada a doença pode intensificar-se diante de provocações fortes.

Os homens em idade juvenil parecem particularmente suscetíveis à histeria devida a trauma e intoxicação.

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