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Revista Ruminantes - Agricultura Regenerativa

A degradação do montado e o empobrecimento dos solos levaram Miguel Vacas de Carvalho a procurar soluções alternativas ao modelo tradicional de gestão do negócio agropecuário.

A degradação do montado e o empobrecimento dos solos levaram Miguel Vacas de Carvalho a procurar soluções alternativas ao modelo tradicional de gestão do negócio agropecuário.

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Regenerar o ecossistema | Entrevista a Miguel Vacas de Carvalho

"UM DOS PRINCÍPIOS DA AGRICULTURA REGENERATIVA É MANTER

O SOLO SEMPRE COBERTO."

As infestantes continuam a

ganhar terreno?

Segundo Nicole Masters, agroecologista,

devemos tomar decisões olhando para o que

queremos e não para o que não queremos.

Ainda há uns meses, um agricultor da

“Tertúlia Holística” que tem uma exploração

de vacas leiteiras, notou que quando as

vacas entravam numa determinada cerca, com

muitas plantas de uma determinada espécie

“infestante”, a produção de leite aumentava

10%. Curioso com a situação, fez uma análise a

essas plantas e ficou a saber que têm um teor de

proteína muito elevado. Portanto, eu já não sei

se são infestantes ou não. Noto, por exemplo,

que muitas vacas comem os cardos em flor. Os

cardos tem uma raiz muito profunda que estará,

certamente, a melhorar o solo.

Tem medido o impacto deste maneio

na matéria orgânica (MO) do solo?

Ainda não, mas no futuro gostaria de medir

de dois em dois anos por exemplo.

Aplica menos adubo nas searas?

Não, continuamos a aplicar o mesmo

adubo que sempre aplicámos. Contudo, na

Austrália aprendemos soluções que poderão

ser eficazes para diminuir a sua utilização.

Quando visitámos agricultores de uma

associação,VicNoTill, Matthew Mckinley

e David Sims, percebemos que há outras

maneiras de produzir. O seu foco é sempre

aumentar o lucro por hectare, criando um

sistema mais resiliente à seca ou ao excesso

de água.

Passaram a semear menos área

de fenos?

Fazemos questão de ter sempre assegurada

comida para dois anos. O que fizemos foi

aumentar a área de armazenamento.

Após três anos, que diferença têm no

número de animais por hectare?

Já não falamos em número de animais/

ha, falamos em número de animais (cabeça

normal - CN) /ha/dia, visto que também é

considerado o número de dias em que os

animais estão na cerca.

Atualmente estamos com números de 50 a

70 CN/ha/dia. O agricultor da exploração

de vacas leiteiras da “Tertúlia Holística”

já conseguiu 1200 CN/ha em 3 horas sem

sacrificar a produção. Resumindo, é possível,

sem perda de produção, ter 1200 cabeças a

pastar em apenas 1 hectare desde que o tenpo

de permanência seja adequado.

Que alterações fizeram na

exploração?

Juntámos rebanhos, fizemos cercas,

aumentámos os bebedouros.

Hoje em dia temos cerca de 60 cercas que

variam entre os 15 e 30 ha.

A ideia é continuar a dividir para aumentar o

impacto animal num curto período de tempo

permitindo ter grandes períodos de descanso

das parcelas.

Como determina o número de dias em

que as vacas estão em cada parque?

No primeiro ano dividíamos as cercas de

forma a que os animais estivessem apenas 3

dias por parque. Hoje em dia, dependendo

da altura do ano, como já temos cercas fixas

mais pequenas, o que fazemos é retirar os

animais quando queremos.

Neste momento não obrigamos as vacas

a comerem a parte inferior da planta pois,

sendo a menos nutricional, poderíamos

estar a condicionar a sua condição corporal.

Pensamos que assim é a melhor opção, nesta

altura do ano.

"Hoje temos 60 cercas, que variam entre 15 e 30 hectares.

Queremos dividir mais algumas cercas", diz Miguel.

“O próximo passo é juntar os porcos ao rebanho” diz Miguel, a rir.

O meu pai até fica com os cabelos em pé”.

RUMINANTES | JUL/AGO/SET 2020 67

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