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Revista Ruminantes - Agricultura Regenerativa

A degradação do montado e o empobrecimento dos solos levaram Miguel Vacas de Carvalho a procurar soluções alternativas ao modelo tradicional de gestão do negócio agropecuário.

A degradação do montado e o empobrecimento dos solos levaram Miguel Vacas de Carvalho a procurar soluções alternativas ao modelo tradicional de gestão do negócio agropecuário.

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Regenerar o ecossistema | Entrevista a Miguel Vacas de Carvalho

Em quanto aumentou o efetivo

desde que implementou este maneio?

Em 10%, quer nas vacas, quer nas ovelhas.

Isto poderia significar que tínhamos um

encabeçamento baixo, mas o que realmente me

alegra não é ter aumentado o encabeçamento,

é sim ter diminuído o número de dias que dou

de comer aos animais “à mão”. Este é um bom

indicador de que o sistema tem resultado e é

rentável, porque é na alimentação suplementar

das vacas que está o grande gasto, no nosso

caso cerca de 1,5€/animal/dia. Para nós o

segredo está no número de cercas. Quanto

mais, melhor, até um limite, claro.

Introduziu as ovelhas no rebanho das

vacas. Porque o fez?

Quando visitámos o agricultor australiano

Charlie Arnott vimos vacas e ovelhas a

pastar juntas. Achei piada e quisemos

experimentar. No princípio os animais

estranharam, mas uma semana depois já

estava tudo bem. Neste momento estão

separadas para facilitar o maneio nos currais

mas assim que for possível, voltamos a

juntá-las. Da pouca experiência dos rebanho

juntos, 2 meses, só retirei uma conclusão,

parece haver mais facilidade de entreajuda

entre os dois funcionários responsáveis pelas

vacas e pelas ovelhas. A vistoria a todos os

animais e às cercas é sempre feita por duas

pessoas. Pareceu-me uma boa técnica e é para

continuar.

O solo fica mais despido pelo facto de

as ovelhas comerem as plantas até

mais abaixo?

Nós é que controlamos a cobertura do solo.

Há duas linhas de pensamento neste sistema.

Jaime Elizondo defende que os animais

devem comer tudo até ao fim, comendo

sem seletividade. Greg Judy e Gabe Brown

defendem que a condição corporal está em

primeiro lugar, pois é onde se ganha dinheiro.

Contudo, o que já verificámos é que se

“obrigarmos” os animais a comer tudo até ao

fim a condição corporal piora e não temos a

cobertura do solo desejada. Ainda estamos

a aprender, depende da altura do ano, do

objetivo, do tipo de animais, etc..

Este ano, por exemplo, de meados de março

até meados de maio experimentámos mudar

os animais todos os dias. Reparámos que mal

se notava o que comiam e ao fim de 30 dias o

coberto vegetal recuperou por completo.

Em termos de saúde animal, melhorou

algum aspeto?

Também com um pensamento ecológico

retirámos os desparasitantes internos e no

futuro, se calhar, os externos. O que não

invalida que o façamos quando um animal

necessite. A ideia é desparasitar só os que

estão parasitados, com estas mudanças

frequentes ajudamos a que não se parasitem.

Além disso, o facto de ter várias espécies

animais a pastar juntas também ajuda no

controlo de parasitas, visto que alguns

parasitas são específicos de cada espécie e,

ao passarem no tubo digestivo da espécie que

não é hospedeira são inativados.

Que cercas utiliza?

Só usamos cercas eléctricas marca Gallagher.

No princípio fazíamos apenas com um

"AS CERCAS ELÉTRICAS, IMPRESCINDÍVEIS PARA ESTE SISTEMA,

SÃO MAIS BARATAS E MAIS FÁCEIS DE MONTAR DO QUE AS

CONVENCIONAIS DE REDE."

Carlos Grulha, funcionário da Herdade da Lobeira, prefere as

eletrificadoras alimentadas por painel solar por serem mais práticas. “Se

houver uma fuga não preciso de ir à origem e inspecionar o arame todo.”

Geralmente as eletrificadoras ligadas à corrente estão alguns quilómetros

afastadas do local em questão.

Cerca elétrica de 3 arames e alturas diferentes, preparada

para o rebanho misto de vacas, ovelhas e porcos.

COMPONENTES DUMA CERCA ELÉTRICA

Eletrificadora: transforma a corrente

elétrica em impulsos elétricos espaçados

no tempo. Pode ser alimentada a corrente

elétrica, a bateria ou a painel solar.

Condutor: transmite impulsos de energia

ao longo de todo o comprimento da cerca

(arame, fita, corda, etc.)

Postes: permitem fixar os condutores

Isoladores: isolam os impulsos de energia

dos postes de forma a que a energia não

flua para o terreno.

68 RUMINANTES | JUL/AGO/SET 2020

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