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Este ensaio apresenta um processo artístico fotográfico e escrito que trata
da relação entre presença e ausência, lembrança e realidade íntima e ilusória
através da preservação da memória. As fotografias trazem consigo a nudez que é
retratada por uma forma de impressão do vazio, preenchido apenas pelo corpo e
espaço.
Os ensaios fotográficos se configuram por autorretratos desenvolvidos
entre os anos de 2015 e 2020. O resultado gerou um diário visual (fotolivro) que
narra a luta pela intimidade, resgatando a memória real que as imagens possam
acionar. O cenário das imagens é composto por arquiteturas e objetos, corpo e
espaço, imagem e ambiente (lugares abandonados e antigos casarões). A
autorretratação imagética é composta por cenas e momentos que dependem de
um estado emocional.
Para que se compreenda as influências, inspirações e aspirações, as
narrativas são constituídas de escritos pessoais do autor. De fato, o desafio para o
autorretrato e para a escrita é em grande parte questionável pelo grau em que esses
autorretratos e fragmentos coletados dos diários pessoais são mais sobre um eu,
seja ele real ou fantasioso.
Dessa forma, os ensaios fotográficos (2015-2020) se configuram em uma
busca do que se pode encontrar nas imagens que possam ser “algo mais” do que
simplesmente imagens. Esse “algo mais” é desafiador, pois estabelecer um ponto
entre tempo e espaço é algo a ser compreendido através da incerteza proposta pela
disposição das formas e a indeterminação temporal e espacial do corpo e de
objetos.
sddddddd
In Memoriam
Mayzon Tayrone
In Memoriam
PRÓLOGO
Poema sobre a morte
É tão estranho
Sem vergonha de pensar na morte
Quando nenhum deles sabe que morreu
Ontem à noite sonhei que estava morto
Eu vim correndo com meu cão para o quarto dos mortos
Não havia nada para ser visto
Somente pedras e alguns arbustos
Uma paisagem de que os viajantes têm falado com frequência
Eu preferiria não morrer aqui
Mas em minha própria casa, onde eu não estava morto
Toda a morte
Toda a morte
No decorrer de uma vida
Escreva sobre a morte
Descreva no poema o que você sente, a respeito da morte
Diante da morte, eu sou como um animal
E o animal pode morrer, mas não escreve nada
As palavras morrem como moscas
Seus cadáveres em todos os lugares, varridos do papel branco
Dê um pouco de espaço à sujeira.
DORIAN
Diário primeiro
2015
Começo minha escrita refletindo sobre meu desejo de deixar para trás certos sentimentos
– ou, a propósito desta escrita, de revisitá-los. Vejo o tempo cronologicamente organizado e
gostaria de poder reviver novamente minhas memórias. É como se eu as pudesse sentir enquanto
estou comigo, a sós. Entretanto, a vida traz consigo nuances de acontecimentos inesperados que
contradizem o meu desejo mais íntimo – o de estar só. FAZER UMA PAGINA SOZINHA
[Segunda-feira, 04 de maio de 2015] Eu o vi pela primeira vez. Avistara um grupo
excêntrico de pessoas assentadas e conversando. Eu o avistei e prontamente fui em direção a ele.
Recordo-me de cumprimentar todos que ali se encontravam – e fiz questão de saber seu nome.
O sonho.
Havia um rapaz que me interessava, porém eu nunca o achava. Eu andava pelas ruas à sua
procura. Ele veio até mim e me abraçou, e enquanto eu o abraçava, ele desaparecera.
[Quarta-feira, 06 de maio de 2015] Pude conversar com ele pela primeira vez. Sentia-me
muito inseguro.
[Sábado, 09 de maio de 2015] O vi pela última vez naquela semana. Questiono-me sobre
seu real interesse. Penso então que deveria passar mais tempo com ele a descobrir se nele haveria
tal sentimento que em mim estava latente. Contava com a sorte para tornar a revê-lo.
[Quarta-feira, 13 de maio de 2015] Eu o vi. Ele não prestou tanta atenção. É como se o
caminho exigisse de mim um esforço tal qual o tamanho de meu desejo.
[Segunda-feira, 18 de maio de 2015] Os dias passavam e mais confuso eu ficava.
Precisava tomar uma decisão, ou iria me acabar em sentimentos que de nada me adiantariam.
Hoje deparei-me com ele. Ele sorriu e proferiu algum cumprimento.
Os dias passam e as coisas permanecem incógnitas. Nada se desenvolve.
[Quinta-feira, 21 de maio de 2015] Estou a todo tempo a pensar sobre como as coisas
deveriam acontecer. Isso é suficiente? Por que me sinto tão... perdido?
Meu aniversário se aproxima.
***
[Sexta-feira, 05 de junho de 2015] Pausa. É o momento no qual penso em muitas coisas que não
quero escrever aqui. Não estou certo ou se quer tomei alguma decisão. Portanto, prefiro continuar a pensar
profundamente.
[Quinta-feira, 18 de junho de 2015] Sinto-me como se estivesse numa escuridão profunda – e sem
saída. Ao mesmo tempo, parece-me que é assim que gostaria de estar.
[Sexta-feira, 19 de junho de 2015] Meu aniversário. Um alívio depois do que sentira nos últimos
dias. Houve um momento do dia no qual eu o encontrei. Eu sorri quando o vi. Como o admiro. Havia um
bom tempo desde a última vez que eu o vira. Nesse mesmo dia, eu estava expondo alguns trabalhos de
fotografia. Decido convidá-lo a ver alguns de meus trabalhos. Lembro-me de estarmos lado a lado vendo
e conversando sobre as imagens ali expostas. Ao término, dirigir-me a ele e lhe entreguei meu contanto.
Nessa mesma noite, vejo uma mensagem enviada por ele.
[Quarta-feira, 24 de junho de 2015] Mantivemos contanto e isso foi criando em mim uma certa
excitação. No final da tarde nós nos encontramos. Ele me presenteou com um livro de poesia. Meus dias
agora passam a ser preenchidos também por pensamentos sobre ele. Difícil tirá-lo da cabeça. Soma-se a
isso o fato de me sentir um pouco inseguro.
O livro com o qual fora presenteado trouxera a mim grandes reflexões. Eu o devorei em apenas
um dia. Encantei-me por Wislawa Szymborska (1923-2012). Eis, então, um poema da autora, de 1962,
que se tornara o meu favorito:
Conversa com a pedra
Bato à porta da pedra.
Sou eu, deixa-me entrar.
Quero penetrar no teu interior,
olhar ao redor,
prender-te como a respiração.
Sai - diz a pedra.
Sou hermeticamente fechada.
Mesmo quebradas em pedaços
vamos ficar hermeticamente fechadas.
Mesmo trituradas em grãos
não vamos deixar ninguém entrar.
Bato à porta da pedra.
Sou eu, deixa-me entrar.
Venho por curiosidade pura.
A vida é a única ocasião para ela.
Pretendo passear pelo teu palácio,
e depois visitar a folha e a gota d’água.
Não tenho muito tempo para tanto.
Minha mortalidade deveria te comover.
Sou de pedra - diz a pedra -
e sou obrigada a manter a seriedade.
Sai daqui.
Não tenho os músculos do riso.
Bato à porta da pedra.
Sou eu, deixa-me entrar.
Ouvi dizer que em ti há grandes salas vazias,
nunca vistas, inutilmente lindas,
surdas, sem eco de passos de quem quer que seja.
Reconhece, tu mesma não sabes muito sobre isto.
Salas grandes e vazias - diz a pedra -
mas nelas lugar não há.
Lindas, talvez, mas além do gosto
de teus pobres sentidos.
Podes me conhecer, mas me provar nunca.
Com toda a minha superfície me volto para ti,
mas com todo o meu interior te dou as costas.
Bato à porta da pedra.
Sou eu, deixa-me entrar.
Não posso esperar dois mil séculos
para entrar debaixo do teu teto.
Se não crês em mim - diz a pedra
Dirige-te à folha, ela te dirá o mesmo que eu,
e à gota d’água, que te dirá o mesmo que a folha.
Por fim pergunta aos fios de teu próprio cabelo.
Um riso se alarga em mim, um riso, um riso enorme,
que eu não sei rir.
Bato à porta da pedra.
Sou eu, deixa-me entrar.
Não tenho porta - diz a pedra.
Após minha ávida leitura, deparo-me com uma carta escrita por ele. Nunca li a carta (cinco anos
após, e ainda não a li). Sempre pego o pedaço de papel e encontro dificuldades em entender sua caligrafia.
Ainda a guardo comigo. Espero algum dia poder lê-la.
Bato à porta da pedra.
Sou eu, deixa-me entrar.
Não busco em ti um refúgio para a eternidade.
Não sou infeliz.
Não estou desabrigada.
Meu mundo é digno de retorno.
Vou entrar e sair com as mãos vazias.
E como prova de que realmente estive presente,
não vou mostrar nada além de palavras
às quais ninguém dará fé.
Não vais entrar - diz a pedra
Falta a ti o sentido da participação.
Nenhum sentido substitui o sentido da participação.
Mesmo a visão elevada até à clarividência
não serve para nada sem o sentido da participação.
Não vais entrar, tens apenas uma noção deste sentido,
apenas o seu germe, sua imagem.
***
[Quarta-feira, 01 de julho de 2015] As coisas se tornaram um pouco estranhas em relação a ele.
Assusta-me o fato de certas situações me afetarem profundamente. Nesses momentos, isolo-me. Não
entendo o motivo pelo qual as pessoas complicam tanto as coisas. Por isso, vejo-me sempre distanciando
cada vez mais. Não quero me machucar.
[Quinta-feira, 02 de julho de 2015] Continuamos nossa comunicação. Sinto-me cansado das
conversas por mensagens. Desejo vê-lo pessoalmente. Marcamos um encontro para o próximo sábado.
Tenho minha mente permeada de pensamentos.
[sábado, 04 de julho de 2015] O encontro. Fomos a uma exposição de artes. Tive momentos
agradáveis em sua companhia. Após, fomos a um bar. Conversamos muito aquela noite e também
bebemos.
O primeiro beijo.
Decido passar a noite com ele em sua casa.
Fora tudo muito bonito. É um tipo de beleza que não se explica em palavras.
[Quarta-feira, 08 de julho de 2015] Encontramo-nos novamente. Jantamos em um restaurante e,
logo após, caminhamos. Eu sentia sua falta. Ele, sempre mais calado, deixava-me pensativo. Gostaria de
saber o que se passava em sua mente.
Ele viaja, deixando em mim apenas saudades.
Alguns pensamentos retornam à mente. Pensamentos que me diziam que eu deveria me importar
menos, preocupar-me não seria uma boa escolha. É horrível quando ele se fecha. É tão difícil decifrá-lo.
Entretanto, lá estava eu, sentindo-me a cada dia mais distante. Não escolhera me distanciar, ele o fazia.
Ele se distanciava. Pelo menos, era a sensação que eu me deparava: no escuro.
[Terça-feira, 14 de julho de 2015] Não percebo ações intencionadas por parte dele. Sempre me
posiciono. Começo a me sentir cansado de ocupar tal lugar. Quando penso, entristeço-me. Quando penso,
mais cansado fico. Encontro-me nesta dualidade de sentimentos. Ele parece se importar... não. Todo esse
silêncio e distância me enfurece.
[Domingo, 19 de julho de 2015] Fomos ao cinema. Jantamos, após fomos ao seu ateliê. Fora lá,
nesse espaço, que tivemos nossa segunda noite juntos. Quando ao seu lado, sentia-me feliz. O beijo, o
abraço, o toque... o sexo. Meu coração se enchia cada vez mais. Era grande o que sentia. Nessa noite, eu
dizia para ele: “gosto de ti”. Ele sorrira e me respondera da mesma maneira: “também gosto de você”.
Todos esses relatos acabam por concluir, seriamente, o estado de ansiedade no qual me encontrava.
Estava lidando com um sentimento experimentado pela primeira vez. Era tudo novo. Não sabia exatamente
como lidar. Talvez essa minha insegurança tenha sido o fator importante do acontecimento por vir. Porém,
ressalto que eu era bastante novo e o sentimento que estava a experimentar também era.
[Quinta-feira, 23 de julho de 2015] Fomos a um show. Eu adorava estar em sua companhia. Ele
estava ali, ao meu lado e, assim, tivemos nossa terceira noite juntos. Sentia prazer em nossos momentos.
Sentia prazer ao ouvir sua voz. Sentia prazer em seu perfume.
[Sexta-feira, 31 de julho de 2015] Sempre estava a ter devaneios. Sonhava sempre além. Minha
sensibilidade era bela, mas ela também trazia algo com que eu não sabia lidar. Recordo-me de um momento
no qual uma conhecida havia me dito: “com o tempo você vai aprender a lidar com a sua sensibilidade.
Isso não quer dizer que estará imune aos sentimentos ruins; porém, com a maturidade, saberá lidar com
eles”. Meus sonhos, eles costumam me motivar... eles me fazem agir. Eles me fazem acreditar... dão
esperança.
Novamente, noto que algo está errado. O desejo de obter compreensão? Cá estou sempre a reparar,
a colocar ordem, clarear meus pensamentos. Entretanto, esses distanciamentos impostos por ele (em seu
silêncio), faziam-me questionar a relação que estávamos estabelecendo.
***
[Domingo, 02 de agosto de 2015] Eu aprecio acordar ao seu lado. Sempre tínhamos café da manhã
juntos aos finais de semana. Os sussurros ao ouvido. Assim ele se comunicava comigo todas as manhãs de
domingo.
[Quarta-feira, 05 de agosto de 2015] A distância criava em mim insegurança. Isso me cansava
tanto. Ele sabia que hoje seria um bom dia para nos vermos, mas ele simplesmente ignorava. Eu não estava
certo de quão seriamente ele estava levando nossos momentos juntos. Por conseguinte, pensava que ele só
estivesse tendo momentos.
[Segunda-feira, 10 de agosto de 2015] Tenho tido sonhos estranhos... como se algo me
assombrasse. Fora um dia tão longo. Talvez devesse não pensar tanto.
Uma pausa.
Outra pausa silenciosa.
[Quarta-feira, 12 de agosto de 2015] Queria poder ter apenas um dia para descansar. Muitos
pensamentos sobre essa situação... e os distanciamentos dele.
Música me faz bem.
Pude sorrir ao fim do dia.
Começo meu primeiro ateliê de fotografia na universidade. Confesso que fora um pouco
assustador esse primeiro contato com a câmera. Não tinha a prática de fotografar. Precisava escolher
um tema para trabalhar, mas ainda não sabia sobre o que tratar.
[Domingo. 16 de agosto de 2015] Whisky se tornara nossa bebida favorita. Era assim que
ficávamos juntos aos sábados. Ouvíamos boas músicas e bebíamos whisky. O final de semana passara
particularmente rápido.
As aulas de fotografia começam a despertar em mim curiosidades sobre algumas temáticas sobre
o corpo. A professora nos apresentara naquela tarde a fotógrafa Nan Goldin (1963). Tratei de ler sobre ela,
de ver seus trabalhos. Ficara encantando com seus trabalhos. Eram fotografias de retratos que despertavam
em mim um grande interesse.
[Quarta-feira, 19 de agosto de 2015] Apesar dos bons momentos, sempre achava que algo estava
errado. Algumas situações me irritavam. Questiono-me se ele realmente fazia valer o que tínhamos juntos.
Eu não o questionava e ele mantinha sempre o silêncio. Quando dizia algo, era tão vago e, às vezes,
machucava-me. Sentia como se em alguns momentos ele não quisesse estar ali. Quando decidia iniciar
uma conversa, ele demonstrava sempre não se importar. Foi o primeiro momento no qual me senti
miserável.
[Domingo, 23 de agosto de 2015] Tive um dia tão estranho. Estava a pensar em findar tal situação
que tanto me afligia. Estava cansado de sua frieza. Eis que ele me telefona a propósito de uma viagem a
São Paulo que queria que fizéssemos juntos. Essas ações muito me confundiam. Em certos momentos ele
era distante e frio, em outros ele demonstrava desinteresse.
[Domingo, 30 de agosto de 2015] Fomos a um festival de música na cidade. Pareceu-me que a ele
não agradava o fato de eu ter encontrado alguns amigos na festa. Ele se portara de uma maneira muito fria,
distante e ao mesmo tempo muito silenciosa.
Decido por não escrever muito neste dia. Estava cansado e não tinha ânimo para isso.
Dorian, siga em frente
Você vai vir até o fim?
Você nos deixará seguir em frente?
Balançando como as crianças
Escolhido para louvor
De dentro para fora
Com a face mais rígida
Como a mulher de olhos tristes falou que perdemos nossa chance
A última piada de morrer presa em nossas mãos
E a roda que resiste está dando outra volta
Dorian, siga em frente
Você vai vir até o fim?
Você nos deixará seguir em frente?
Dorian, você vai acompanhar-nos para baixo?
***
[Terça-feira, 01 de setembro de 2015] Um novo mês. Anseio por mudanças. Ainda há algumas
coisas que gostaria que fossem resolvidas.
Música me traz bons pensamentos. Passei o dia escutando uma de minhas pianistas favoritas:
Agnes Obel. Suas músicas são como sonhos de uma vida sensível. Dorian tornara-se a canção mais
apreciada.
Eles não saberão quem nós somos
Por isso podemos fingir
Está escrito nas montanhas
A linha que nunca termina
Enquanto o diabo falava, nós nos derramamos no chão
E as peças quebraram e as pessoas queriam mais
E a roda que resiste está dando outra volta
A letra dessa música é um tanto curiosa. Dorian significa “descendente de Dorus”, que por
conseguinte significa “Presente de Deus”. Pode também significar “que vem do mar”. Soma-se a isso o
escrito de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray. Sua maravilhosa beleza fascinava, pois Dorian tinha
sempre a aparência de alguém que se preservara da mácula do mundo. É um romance que trata desse
doloroso apólogo da degradação humana, pois jamais se faltou de uma grandeza dramática: o phatos de
uma alma em conflito consigo mesma e o mundo.
[Quinta-feira, 03 de setembro de 2015] Estou ansioso pela viagem. Continuo exausto de sempre
dizer coisas bonitas, e receber nada em retorno.
Palavras.
[Sábado, 05 de setembro de 2015] Viajo para São Paulo com ele. Eu adoeço durante a viagem;
mas visitamos lugares interessantes. São Paulo me interessou muito. Entretanto, tive de suportar seu
comportamento desapaixonado. Eu estava empolgado, por ser minha primeira vez na cidade. Ele,
contundo, por já ter vivido lá, não demonstrara tanto entusiasmo. Prometi a mim mesmo que, quando
voltássemos, eu iria conversar com ele.
[08 de setembro de 2015] Não consigo deixar de pensar sobre a maneira com a qual ele tem me
tratado. Não posso ocupar tal lugar. Sim, estou tentando encontrar uma forma de me livrar desse sentimento
ruim. Passei o dia todo sozinho. Percebo que eu estava evitando-o. Não queria vê-lo. Estava desapontado.
Frente a tudo o que me acontecia, eu percebia que o que estava a fotografar representava essa
angústia que me afligia. Eu fotografava em preto e branco. Tratavam-se de paisagens onde apenas a cidade
e a natureza se destacavam... silenciosas. Não havia ainda a presença do corpo. As imagens feitas pareciam
também representar dor. Uma dor que talvez fosse solitária. Uma dor que não queria ser exposta.
[09 de setembro de 2015] Desde o começo, eu não conseguia estar em um estado normal. Essa
relação estava a me fazer mal. Esse meu gostar estava a me fazer mal. Vou ao museu para encontrar um
amigo para conversar. Tenho o coração em pedaços. Estava aflito.
[10 de setembro de 2015] Sei que algo está errado. Passei o dia com um olhar triste. É ruim pensar
em não o ter, mas não posso permanecer assim. Tenho uma tristeza profunda.
[11 de setembro de 2015] Recebi uma mensagem dele hoje perguntando sobre meu dia. Apenas
isso. Tem sido assim, apenas isso. Tenho descoberto meu próprio ritmo frente às coisas pelas quais tenho
passado. Desejo que elas fossem bem diferentes de como são agora.
[17 de setembro de 2015] Estive melhor esta semana e me permito ver as coisas de diferentes
ângulos. Estou cansado de estar triste por essa relação frustrada. Não sei se sou corajoso o bastante para
tomar alguma decisão agora.
A aula desta tarde fora um documentário sobre Francesca Woodman (1958-1981). A artista
produzira fotografias em preto e branco, nas quais utilizava a própria imagem. Woodman tratara da
natureza instável da vida e de viver perto da morte. A artista explorou o corpo humano, seus limites e
temas como a solidão e a morte.
Enxergara ali um mistério... e também uma identificação.
[19 de setembro de 2015] Já faz quinze dias que não nos vemos – e apenas pude ouvir sua voz
uma única vez. Concluo que ele não se importa. Essa relação tem sido como um jogo no qual tenho que
me forçar ao sofrimento. Sábado era nosso dia. Ele disse, indiretamente, que talvez não quisesse me ver.
Só não compreendo o motivo de ainda gostar dele. O que estávamos tendo não estava me satisfazendo.
Sentia-me sozinho nesse relacionamento. Machucado por dentro.
Iceberg.
[22 de setembro de 2015] Eu passo o dia com um aperto no peito. Pensando... pensando... e
pensando. Como se eu não pudesse evitar. Mais alguns dias sem me comunicar com ele. Opto por enviarlhe
uma mensagem dizendo o que gostaria de lhe falar. Em minha mente, já havia decidido... após o envio
da mensagem, eu senti alívio.
[24 de setembro de 2015] O que tínhamos acabou. Não nós encontramos para falar face a face
porque ele não se dispôs. Agora sinto que não há mais o que eu pudesse fazer – e estou cansado. Sinto-me
tão estúpido por tudo que passamos.
[25 de setembro de 2015] Continuo a pensar sobre o que aconteceu.
Não quero vê-lo novamente.
[28 de setembro de 2015] Sem forças. Minha mente e coração estão perdidos. Minha face
permanece triste. Preciso ainda de um tempo para repensar tudo isso e me encontrar, de forma a me
fortalecer.
Está difícil.
Não sei mais o que devo escrever.
[30 de setembro de 2015] Ainda tentando achar uma luz. Estou completamente em um
descompasso. Sinto-me fraco. Tinha medo de revê-lo, por pura sorte – ou azar.
Os dias continuam a ser doentios.
Olhos pálidos.
Agora durmo.
E quando o gelo fica cinza,
Oh, e eu me tornei
Você me chama em suas palavras que você diz,
Oh, eu comecei
E quando os lençóis estão esgarçados,
E quando você caminha sozinho
Seus olhos rolam e em sua cabeça você diz
E você não pode esperar até maio,
Porque o inverno está apenas começando
Seus olhos voltam a rolar e em sua cabeça, diz você
No que eu me tornei?
No que eu me tornei?
E quando o gelo fica cinza
E a clareza desapareceu.
Seus olhos voltam a rolar e em sua cabeça você vê
No que eu me tornei?
Você é tão doce, você trapaceia, tão doce
The Empty Room (O Quarto vazio), 2015
The Other (O Outro), 2015
Intimacy (Intimidade), 2015
All alone (Sozinho), 2015
Diário segundo
2016
DAVID
Acordo.
Acordo desejando solitude.
Percebo que tenho estado distante.
Busco conforto em meus amigos e em estabelecer laços.
Planejo tanto para este mês e não vejo nenhum esforço.
Tristeza.
Abrigo-me na literatura e no cinema.
[10 de janeiro de 2016] Este filme em especial me chama a atenção: Carol. Em plena Nova Iorque
dos anos 50, a personagem Carol Aird, uma mulher elegante, está passando por um difícil processo de
divórcio. Então, Carol conhece Therese Belivet em uma loja. Neste instante, um interesse mútuo nasce
entre as duas mulheres. Therese é uma solitária jovem que, apesar de ter um namorado e se interessar por
fotografia, ainda não sabe ao certo o que fazer de sua vida. Elas se apaixonam e se tornam cada vez mais
próximas.
Therese é abandonada por Carol.
Memórias.
[Segunda-feira, 18 de janeiro de 2016] Um sentimento de solidão.
Um sonho.
Eu estava no escuro e tinha medo.
***
Tenho tido muitos sonhos.
Crio uma obsessão pelo cinema. Um novo filme chama a atenção: Anomalisa. O filme trata da
síndrome de Fregoli ou ilusão de duplas. É um raro distúrbio em que o paciente detém um delírio de que
diferentes pessoas são de fato uma única pessoa que muda de aparência ou está disfarçada. A pessoa com
este delírio também pode lembrar vagamente de lugares, objetos e eventos. O personagem principal era
um homem confuso sobre si mesmo e sobre a sua vida.
[Terça-feira, 02 de fevereiro de 2016] Ocupara-me de atividades que preenchiam meu dia.
O sentimento ainda estava ali. Ainda doía.
Tenho tido sonhos sobre ele.
[Domingo, 14 de fevereiro de 2016] Vejo-me completamente envolvido por novas canções. A
artista da vez se tornara importante no resgate do self. Achara uma canção sensível aos ouvidos. Ela falava
comigo.
Hear The Bells é uma canção sobre a campainha de alarme interior. É sobre aquele momento em
que você começa a ouvir seu corpo. É importante prestar atenção. Eu estava a tentar de tudo, mas tudo
começou comigo ouvindo os sinos.
Roubando de olhares através do buraco da chave
Na porta de madeira de uma parede de tijolo
As mudanças estão mantendo muitos segredos
Folclore de duzentos anos de idade
E no cemitério de Elizabeth, nunca ninguém vai
Ajoelhado rezando para uma lápide
Mas a lápide nunca diz
Ouça os sinos
Ouça os sinos
Quando o vento começa a cortar
Sempre, sempre à espreita
Dores, tente se concentrar
Agora estou perguntando a um bruxo médico,
mas o bruxo médico não vai dizer
Ouça os sinos
Ouça os sinos
[Quarta-feira, 16 de março de 2016] Vou escrever-lhe uma carta. Isto talvez passe... ou não.
[Quinta-feira, 24 de março de 2016] Preciso dar um passo para trás e me atentar ao caminho que
desejo seguir. Eu preciso apenas recomeçar.
[Segunda-feira, 28 de março de 2016] Saio para caminhar.
Gosto de momentos reflexivos.
Escolhas.
***
[Domingo, 03 de abril de 2016] Preciso estar fora do quarto. Estou a me cuidar. Realmente estou.
Um novo filme: Para minha amada morta. Após a morte de sua esposa, Fernando torna-se um
homem quieto e introspectivo. Todas as noites, o viúvo "revive" a presença da esposa, tentando organizar
seus pertences. Um dia, ele descobre, em uma fita VHS, uma surpresa que coloca em dúvida o amor da
esposa por ele. Fernando decide investigar a verdade por trás destas imagens, desenvolvendo uma obsessão
que consome seus dias e rotina.
Passado... presente.
Memórias.
[Sexta-feira, 15 de abril de 2016] Sinto-me cada vez mais envolvido nas aulas de fotografia.
Continuo a experimentar novos cenários nos quais me ponho à prova. Tenho obtido bons resultados. Isso
começa a me satisfazer.
Flutuando sobre o mar, as estrelas me observam
A corrente me leva para fora o que será, será
Ouça os sinos
***
[Domingo, 01 de maio de 2016] Mesmo ao tentar estar com outras pessoas, não consigo parar
de pensar nele. Tenho uma ótima tarde de chá com amigos. Ficara tudo calmo. Tento a cada dia ficar bem.
[Domingo, 08 de maio de 2016] Escolho mais cenas e narrativas para meus trabalhos em
fotografia. Quero que resultem em bons trabalhos. Isso cria em mim excitação. Toda semana um novo
projeto, novas séries de imagens.
Incertezas da vida.
***
[Domingo, 21 de fevereiro de 2016] Crio o hábito de passear pela cidade, a sós. Crio o hábito de
fazer coisas que de tal ou tal forma me fizessem caminhar. Sozinho, sigo em frente. Sempre em frente.
***
[Quarta-feira, 01 de junho de 2016] Sinto-me desanimado a escrever.
Não quero que meus diários se tornem livros vazios.
As memórias retornam.
[Domingo, 26 de junho de 2016] Eu às vezes tenho medo de me machucar novamente.
***
[Quinta-feira, 07 de julho de 2016] As coisas precisavam ser diferentes agora. Tudo isso sobre
minha vida... fechada, talvez; mas ainda sensível. Não sei como me manter forte. Sinto-me sozinho. Tenho
muita angústia no coração. Decido me calar. Não quero escrever aqui tudo que se passa ao redor.
[Terça-feira, 19 de julho de 2016] Tenho tido muitos sonhos. Após o último ano, eu não tenho
sido o mesmo. Sonho com ele. Era o mesmo desprezo vivido ao seu lado.
***
[Segunda-feira, 08 de agosto de 2016] Há bons momentos, mas eles são pequenas partes em minha
vida. A cada dia me sinto cada vez mais cansado.
Sem pensamentos perturbadores.
[Quarta-feira, 10 de agosto de 2016] Sinto como se eu estivesse em busca de respostas sobre tudo
o que ocorrera no último ano. Apesar de ainda estar entristecido, eu busco me cuidar. Questiono-me até
quando irei continuar a ter pensamentos sobre ele.
[Segunda-feira, 22 de agosto de 2016] Parece haver tanto o que se descobrir. Estou a escutar tanto
Running by the roads, Running by the fields, de David Wenngren. Se eu pudesse apenas descrevê-la em
palavras..., mas posso tocá-la no piano.
[Sexta-feira, 26 de agosto de 2016] Retorno a São Paulo. Dessa vez, sozinho. Estar na cidade
novamente me fez um pouco triste.
[Terça-feira, 06 de setembro de 2016] O Café se tornara meu lugar favorito. Sempre ia lá. Fizera
novos amigos. Estivera sempre cercado por eles. O Café também se tornara meu escape. O lugar onde eu
(re)pensava muitas coisas.
Depois de alguns meses, mesmo estando entristecido, recupero minha força.
Escrevo-lhe outra carta. Não as tenho enviado... apenas escrevo pelo simples exercício de lhe
escrever cartas.
[Quinta-feira, 22 de setembro de 2016] As quintas-feiras tornam-se tristes. É o dia da pausa dos
trabalhos, dos projetos... das fotografias.
[Quinta-feira, 29 de setembro de 2016] Trocara minhas idas ao cinema, pelas idas ao Café.
Trocara minhas tardes de chá, por noites de vinhos. As aulas nas sextas-feiras têm me mantido calmo e
mais envolvido com a fotografia.
***
[Domingo, 02 de outubro de 2016] Decido começar a pedalar junto à lagoa. Esse novo hábito
começa a causar em mim um grande prazer. Estar perto da água e sentir o vento no rosto... acabei por
descobrir uma nova forma de acalmar minha mente.
***
[Terça-feira, 01 de novembro de 2016] Recebo um convite de uma amiga para passar um tempo
em sua casa, enquanto ela está fora. Eu visito a casa para ter uma ideia desse novo espaço que iria habitar.
Acredito que ela tenha percebido que eu talvez necessitasse de tempo. Entretanto, continuo a não ter espaço
para outrem. Tenho estado silencioso ultimamente.
[Segunda-feira, 07 de novembro de 2016] Parece que tudo agora é um reflexo de escolhas
passadas. Vou me acostumar a isso.
Vulnerável.
[Sábado, 26 de novembro de 2016] Encontro-me aqui, neste novo espaço. Sinto-me contente.
***
***
[Sexta-feira, 02 de setembro de 2016] Está sendo muito bom retornar às aulas na universidade – é
incrível estar lá. Continuo a fotografar. Vejo que a temática permanece a mesma: melancólica.
Meu passado está sempre à espreita.
Um sonho.
Recordo-me de caminhar a um porão escuro. Ao adentrar o cômodo, lá estava ele..., mas não era
ele. Questiono-me o motivo de ter decido até ali.
Dessa forma, vejo que minha mente ainda não se livrara desse passado... escuro.
[Sábado, 03 de dezembro de 2016] Sinto-me sozinho aqui. Porém, estar aqui também tem me
feito muito bem. Estou por começar a me encontrar. Decido tocar músicas no piano. Quando toco, fico
completamente envolvido, como se a melodia chegasse aos ouvidos calmamente. Assim, começo a compor
minhas próprias melodias.
Aqui estou livre para percorrer diferentes caminhos.
[Segunda-feira, 26 de dezembro de 2016] A escrita e Virginia Woolf (1882-1941).
Eu sempre acreditei que a arte e a escrita existiam para nos salvar. Continuo, inclusive,
acreditando na possibilidade de que isso aconteça – afinal, os relatos são muitos. Com Virginia não foi
assim: ela se apegou tanto na esperança de que a palavra a salvaria que se recusava a ver as evidências de
que o extremo oposto estava acontecendo. E aconteceu, durante toda sua trajetória de vida, até um momento
final e decisivo: ao perceber que embora houvesse tanto esforço de sua parte para se elucidar por meio da
escrita, ela nunca chegaria à catarse que precisava. Então, esse foi seu fim: a palavra tirou sua vida.
[28 de dezembro de 2016] O ano está para terminar. Encontro-me silencioso. Estranho.
Eu senti as videiras se moverem dentro
Eu senti meu coração sangrar novamente
Não por um estranho, não por um amigo
E com suas palavras me puxou para dentro
Fora da estrada, saudando para sobreviver
Preso por algo que nunca me quis vivo
Tirei o brilho direto dos meus olhos
Eu o vi se mover do teto para o chão
Foi você ou eu adorei?
Um hipnotismo impossível de ignorar
Quanto mais eu tomava, mais me levava
Fora da estrada, saudando para sobreviver
Preso por algo que nunca me quis vivo
Tirei o brilho direto dos meus olhos
Segurei as rédeas
Deixar ir ou ser arrastado em seu nome
E as nuvens se separaram
E eu olhei para você, ateei fogo, incendiei fogo
E andei pelas ruas por quilômetros
Uma cara de perneira no exílio
Porque eu estava na estrada, saudando a minha sobrevivência
Preso por algo que nunca me quis vivo
Tirei o brilho direto dos meus olhos
Flores desveladas para quando eu estiver pronto para me render
Em rendição
Ether (Éter), 2016
Air (Ar), 2016 Fire (Fogo), 2016
Water (Água), 2016 Earth (Terra), 2016
Han var slet ikke glad for at være der (Ele não estava nada feliz por estar lá), 2016
The empty house (A casa vazia), 2016
A conversation with the stone (A conversa com a pedra), 2016
Recording time and space (Registro do tempo e espaço), 2016
Han er syg (Ele está doente), 2016 Angst (Angústia), 2016
Der er noget om snakken (Há algo sobre a conversa), 2016 Er zieht sich langsam aus (Ele está se despedindo lentamente), 2016
Woher kommt der (De onde isso vem), 2016
Etwas stimmt nicht (Algo está errado), 2016
Es gab einen Einbruch (Houve uma queda), 2016 Jetzt fange ich endlich damit an (Agora estou finalmente começando), 2016
Diário terceiro
2017
Constantemente ocupado.
Pareço estar em um momento confuso de minha vida.
Viajo para me inspirar.
Estou a aprender como aproveitar minhas pausas.
***
AMON
[Sexta-feira, 03 de fevereiro de 2017] A tristeza retorna.
Acordo às 3h da manhã com uma intensa dor de cabeça.
Sinto tudo cinza.
À companhia própria.
[Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017] Preciso me mudar em breve. Desejo retornar à escola de
arte.
[Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017] Acho um antigo par de binóculos em uma pequena
bolsa perdida nos porões de casa.
Um tesouro.
Como se eu tivesse o mundo em minhas mãos.
***
[Sexta-feira, 03 de março de 2017] Continuo a ler bastante. O balé também tem me
proporcionado um novo posicionamento.
[Domingo, 05 de março de 2017] O suicídio de um amigo. Sua mãe o encontra pendurado no
quintal de sua casa. Estou profundamente triste com essa notícia. Nesta noite, sento no quintal de casa,
acendo um cigarro e admiro as estrelas. Meus pensamentos estavam ali... com ele. Ao fundo, eu ouvia
Night and Dreams, de Tift Merritt.
Escuridão da noite, você me encontra aqui
Escuro toda a noite, você cai tão poderoso
Venha se esconder da luz do dia
Você é tão terno, terno, quieto!
Toda a noite, quando os sonhos rompem pela manhã
Você vai me ouvir gritar: volte, volte para casa.
Depois, apenas o silêncio.
Adormeço.
[Quinta-feira, 09 de março de 2017] Não desejo escrever.
Há esse vazio.
Noite passada tive um sonho estranho.
Confuso.
Belo.
[Sexta-feira, 24 de março de 2017] Desejo me esconder. Tenho tentado achar uma maneira de
compreender o que sinto.
É complexo.
Cosmos.
[Domingo, 23 de abril de 2017] Neste novo sonho, estava preso em uma maca. Não conseguia
sair, não conseguia me mover... então, eu vi minha бабушка (vovó). Ela olhara diretamente em meus olhos.
Eu pedi que me retirasse dali: “Бабушка, пожалуйста! Вытащи меня отсюда!”(Vovó, por favor! Tireme
daqui!). Suplicara. “Маленький...” (Pequenino...), dissera ela.
[Quarta-feira, 26 de abril de 2017] Precisara desocupar a casa onde estava. Sentia-me triste por
ter de partir. Passara a noite em claro... sem dormir.
Talvez precisasse de uma nova pausa.
***
[Segunda-feira, 01 de maio de 2017] Acho que tenho feito algumas escolhas erradas. Toda vez
que estou a escrever, reflito. Sempre estou a escutar alguma canção. Dessa vez, Soft Horizons, de Barbara
Monk. Isso me deixa calmo para dormir. A canção é calma, mas profunda.
***
[Domingo, 02 de abril de 2017] Começo por um sonho que tive na última noite. Não consigo me
recordar corretamente, mas Ele estava lá. Ele estava nervoso, culpando-me por todo o acontecido.
Eu o via neste sonho com tanta nitidez que era como se ele realmente estivesse ali... eu conseguia
o ver claramente depois de todo esse tempo. Eu pude ouvir sua voz, sentir o seu perfume, e vê-lo tão perto.
O sentimento que ficou foi como se tudo tivesse sido tão real. Todo sonho com ele é assim. Não
consigo explicar. Essa coisa... esse sentimento apenas existe aqui dentro. Fora frustrante ver o quão furioso
ele parecia estar. O entendimento do sonho só me fez pensar que talvez eu ainda me culpe por tudo que
aconteceu. Era eu todo o tempo naquele sonho. Não entendo como posso manter tais sentimentos em
mim... e já faz tanto tempo.
Não desejo vê-lo na realidade.
O único momento que comunico com ele é quando durmo.
Adormeço.
[Sexta-feira, 07 de abril de 2017] As aulas de arte continuam a despertar em mim novas ideias.
Permaneço com a prática da fotografia no ateliê da escola.
São 2h da manhã e ainda permaneço acordado. Não tenho conseguido dormir bem recentemente.
Minha mente não para...
Insônia.
Algumas palavras bastam. Não consigo manter os olhos abertos.
[Quinta-feira, 04 de maio de 2017] Um outro sonho. Estava preso em um labirinto. Tentava
achar uma saída. Era horrível me ver naquela situação.
Estado mental.
[Domingo, 07 de maio de 2017] Mais um sonho. Eu o vi. Ele estava diferente. Havia uma casa.
Uma tempestade estava se aproximando. Sentia-me completamente perdido.
Em sequência, um outro sonho. Estava em uma casa completamente tomada por heras. Havia um
quarto vazio.
[Sexta-feira, 12 de maio de 2017] Outro sonho.
Encontrava-me numa casa antiga.
Havia uma mulher de idade me dizendo o que deveria fazer.
Porém, eu tive medo.
Eu estava a me esconder num enorme guarda-roupa em uma sala vazia.
Queria fugir daquele lugar.
Sinto-me vazio por dentro.
***
[Segunda-feira, 05 de junho de 2017] Tive aulas de fotografia hoje. Estava muito inspirado.
Um sonho.
Estava em uma casa. Ele estava lá. Ele estava ao fundo de uma grande sala, quieto e silencioso,
apenas a me observar. Eu o notara, mas fingi que não o via. Sentia-me triste por revê-lo ali. Então, uma
voz diz: “Olhe quem está ali.” Eu fingi não escutar. De repente ele caminha em minha direção e diz: “Estou
vindo de uma longa viagem”. Não queria lhe falar, mesmo percebendo quão cansado ele estava. Ele se
aproxima e me abraça. Eu o empurro e digo que aquilo não estava correto. Perguntara a ele se tinha fome
ou se ele gostaria de se banhar. Por fim, digo que falaria com ele mais tarde, após o seu banho.
Enquanto ele se banhava, eu estava em uma sala a olhar para fora através de uma janela. Só agora
percebera detalhes daquela sala... parecia sua casa. Decido sair em direção ao exterior dessa casa. Havia
um lago e uma montanha. Havia um obstáculo que me distanciava dessa vista. Era um grande penhasco.
Eu tinha de pular. Tive medo. Olhei para trás em busca de um retorno, mas o caminho de volta já não
existia. Algumas pessoas insistiam para que eu pulasse, eu gritava: “Eu não consigo! Não agora. Não
depois de tê-lo visto”. Eu não tinha forças. Eu me mantive parado e encostado a uma parede próxima. De
repente, uma amiga aparece. Ela se aproxima e se posta ao meu lado, segura minha mão e diz: “Você é
capaz. Pule e verá quão forte você é”. Confio em suas palavras e... pulo. Após esse momento de hesitação,
sinto alívio. Eu começo a voar. Voei sobre a montanha e sobre o lago – sentia meus dedos tocando a água
do lago delicadamente. Era lindo tudo o que acontecia naquele momento. Quanto mais confiante me sentia,
mais alto eu voava.
Houve um momento que perdi meu equilíbrio e caí sobre uma ponte. Não me machucara. Apenas
caíra ali naquela ponte. Retorno à casa e o encontro em um porão. Estava a me acostumar com sua presença
ali. Caminhamos ao redor da casa e percebo que começara a me preocupar com ele. Eu estava disposto a
perdoá-lo. Ao invés de lhe falar, eu seguro sua mão e começos a voar. Gostara de voar segurando sua mão.
A tristeza se esvai.
Nós voávamos alto. Havia algo que eu gostaria de lhe mostrar. Com um movimento de mão, eu
mexo as nuvens e logo se revela um novo horizonte preenchido de montanhas, um rio, o pôr do sol e um
ar fresco.
Era o meu lugar secreto. Eu mostrara a ele. Pretendia voar até lá... com ele.
***
Um outro sonho. Este era um pouco parecido com o que tive meses atrás. Havia um lugar muito
bonito. Como se eu nunca o tivesse visto. Queria compartilhar a descoberta desse lugar com alguém; mas
ninguém estava lá.
Havia um muro cheio de heras que precisava ser escalado para se ter a vista desse lugar.
Machucara-me ao tentar subi-lo.
Acordo pela manhã e escuto a uma nova canção. Fora a primeira coisa que fiz ao acordar. A
música, coincidentemente, teve a ver com meus últimos sonhos.
É tão bom voltar a ver-te
E eu fecho o meu livro, mexo a minha mala, crio algum espaço
Porque é tempo de dar uma pausa a essa canção
Então, diga-me agora como têm sido estes últimos anos
Quando se vive para honrar o passado
E eu tenho estado bem, digo através de um sorriso
Estes sentimentos vêm e vão rapidamente
Acenda o seu cigarro, veja a fama nos seus olhos
Canta-me aquela nova canção que cantas
O tempo para ti e para mim nunca foi calmo
É importante e significa tudo
Porque os muros do jardim cresceram rapidamente
Antes de saber, você está fora dele
E a hera está adentrando
É tão bonito que o pode encontrar
E o tempo, ele sempre te manteve ao seu lado
Algumas pessoas ainda lutam contra o seu destino
Compreendi claramente o que disse com os seus olhos
Todos falamos de formas diferentes.
[Quinta-feira, 17 de agosto de 2017] Muitas coisas mudaram desde 2015. Pareço ainda estar
lidando com... o passado. Tenho medo... medo do invisível e do desconhecido.
***
[Terça-feira, 19 de setembro de 2017] Hoje fiz mais duas séries fotográficas. É bom quando eu
pego o que sinto e transformo isso em imagens.
***
[Terça-feira, 03 de outubro de 2017] Eu tive um sonho. Estava a enterrar partes de meu próprio
corpo – partes deterioradas. Era uma tarefa difícil, mas sentia que precisava terminá-la.
Fora um sonho macabro. Interessante, porém.
Talvez na realidade eu estivesse tentando pôr um fim em certas coisas passadas.
Não me sinto confortável.
Mas ele... ele continua aqui.
***
[Terça-feira, 14 de novembro de 2017] Memórias sobre ele preenchem minha mente. É
perturbador. É um obstáculo que começa a barrar o caminho que estou a percorrer. O mesmo sentimento
ruim. Como fazê-lo ir embora?
[Domingo, 26 de novembro de 2017] Agonia. Medo. Isso tudo parece não ter fim. A noite se esvai
e do medo nada se tem. Medo de fechar os olhos. Um invisível que dilacera o coração.
Pobre garoto desamparado.
Desejaria que nada disso estivesse aqui.
Nenhuma memória.
Um dia o medo cessará.
Aproveito-me de toda essa sensação obscura para fotografar.
Quero montar um diário de imagens.
***
[Quarta-feira, 20 de dezembro de 2017] Hoje fiz novas fotos. É a única coisa que me motiva no
momento.
[Sexta-feira, 29 de dezembro de 2017] Tem sido difícil adormecer. Tenho passado muitas noites
acordado. Acho que há algo em minha mente... isso precisa ser resolvido.
Uma viagem ao campo.
Er ist traurig (Ele está triste), 2017
Gestern waren wir nicht hier (Ontem, não estávamos aqui), 2017 Echo (Eco), 2017
Der Blitz und das Lied (o relâmpago e a música) No. 1, 2017 Der Blitz und das Lied (o relâmpago e a música) No. 2, 2017
Without the memory (Sem a memória), 2017
The haunted house (A casa assombrada), 2017
Hermetically sealed (Hermeticamente fechado), 2017
The suicide room (O quarto do suicida), 2017
Theatre Impressions (Impressões do teatro) - No. 1, 2017
Theatre Impressions (Impressões do teatro) - No. 2, 2017
Der blev danset hele natten (Houve dança toda a noite), 2017 Fanden tage ham! Koste hvad det vil (Droga, leve-o! Custe o que custar), 2017
Vanilla (Baunilha), 2017
Shame (Vergonha), 201
Mange onde gerninger (Muitas más ações) - No. 1, 2017 Mange onde gerninger (Muitas más ações) No. 2, 201
Diário quarto
2018
Escrevo meus primeiros versos. Os versos são junções de vários títulos de trabalhos
fotográficos já feitos por mim. O que me resta são memórias – e um grande medo de dar o primeiro passo.
O lugar habitual do homem post mortem é o escuro.
Estou entediado.
Não, não gosto disso.
Sobre o que deveria ser?
Provavelmente, é sobre a guerra.
As opiniões divergem.
HADES
Não posso mostrar o quanto estou feliz!
Eu quero tudo ou nada.
O sol desapareceu há muito tempo.
Eu, por outro lado, fiquei em casa.
Não consigo parar.
Agora, finalmente, começo com isso.
Quanto antes melhor.
Não é uma alternativa.
Falta algo.
Algo não está certo.
Eu poderia mentir, mas uma coisa é certa: somos livres.
[Domingo, 07 de janeiro de 2018] Descobrira no último ano a diabetes. Desde então, tenho
tentado me adaptar ao novo modo de viver. Não tem sido fácil. O início nunca é fácil. Os sintomas sempre
vão e vem. Fico irritado, fraco e cansado. Acho que o desânimo sentido no momento é por conta dessa
situação.
***
Retorno ao campo. Estar fora de casa me faz bem.
***
[Sábado, 24 de março de 2018] Tive um sonho completamente estranho. Eu estava passando por
uma rua e avistara uma casa antiga. Muitas pessoas corriam para fora da casa. Elas estavam muito
assustadas. Eu adentro a velha casa e vejo o motivo de tanto desespero: fantasmas que reviviam como
sombras, desprovidos da vitalidade física que conservavam em vida. Eles não me assustavam. Então vejo
um menino (um espectro) e lhe pergunto o motivo da casa ser assombrada. Ele me pergunta: “Você quer
mesmo saber?”. Respondo-lhe: “Sim”. Ele segura minha mão e o tempo começa a regredir.
Voltamos ao tempo em que a casa era habitada por aqueles fantasmas quando pessoas vivas. O
garoto me explicara que ali vivia uma família... aquela família. Ele era um dos filhos do casal. Ele me
mostrara como cada membro da família morrera. Todos foram assassinados por um garoto que segurava
um machado. Eu ficara perplexo. O garoto, então, leva-me para fora da casa. Vejo uma grande fogueira de
corpos sendo queimados. Eram os membros da família. Todos esquartejados. O garoto olha para mim e
sorri. Ele não soltara minha mão em momento algum.
Assim, quando compreendi toda a estória, ele solta minha mão, caminha para uma árvore próxima
à fogueira, sobe uma pequena escada ancorada à árvore e se enforca. Naquele momento, ficara em choque.
Ao observar detalhadamente, percebera que o garoto tinha a minha aparência. Era eu (o garoto) que matara
a família. Era eu (o garoto) que ali se enforcara.
Uma das analogias possíveis a esse sonho é ao Reino de Hades, que retratava o reino dos mortos
como o reino subterrâneo onde habitava a alma ou espectro (psykhé) dos que morreram.
***
[Domingo, 15 de abril de 2018] Tenho tentado estar mais silencioso, não necessariamente triste.
***
[Domingo, 13 de maio de 2018] As coisas se complicam em casa e isso está me afetando
profundamente. São coisas das quais não sinto orgulho. Elas só me desapontam. Não tenho conseguido
dormir.
***
[Domingo, 10 de junho de 2018] Decido no próximo mês fazer uma viagem.
[Terça-feira, 19 de junho de 2018] Primeira vez que opto por não comemorar meu aniversário.
Com o passar dos anos, eu fiquei mais... introspectivo.
[Sexta-feira, 13 de julho de 2018] Três anos se passaram e ainda me vejo afetado
(sentimentalmente) por ele. Não consigo gostar realmente de ninguém mais.
Soturno.
[Quarta-feira, 25 de julho de 2018] Eu viajo. Precisava de um tempo sozinho longe de tudo o que
estava ao redor.
***
[Segunda-feira, 13 de agosto de 2018] Pausa. Continuo a ter sonhos estranhos. Dessa vez sobre
desejos sexuais, afeição e amor. São sonhos cheios de enigmas e mistério. Eles me dizem que sou capaz
de achar as respostas para os enigmas. Só preciso identificar quais são.
***
[Quarta-feira, 19 de setembro de 2018] Passo os últimos três dias indo ao médico. Desenvolvo
uma doença autoimune, fazendo com que meu próprio corpo atacasse o meu organismo e tecidos da pele.
A cada dia minha condição piorava devido a essa doença.
***
[Domingo, 14 de outubro de 2018] Viajo para o campo. Pausa.
***
[Sábado, 10 de novembro de 2018] Tenho outro sonho. Estava preso em alguma atividade
complexa e difícil. Toda vez que terminava de concluir a tarefa, eu percebia que tinha que recomeçar mais
e mais vezes. Como se o sonho fosse uma espécie de ciclos repetitivos. Eu não conseguia me livrar disso.
Circling. "Circling" faz exatamente o que o seu título descreve. A melodia é uma voz que ecoa. É
sinistro, mas íntimo, como se a voz estivesse a chamar fantasmas.
Saí para passear
Circulando, circulando...
Todo aquele verde
***
[Segunda-feira, 18 de novembro de 2018] São 2h da manhã e não consigo adormecer. Acho que
os sonhos são comunicações, mensagens... eu tento dormir, mas não consigo.
***
[Quarta-feira, 19 de dezembro de 2018] Muitas memórias preenchendo minha mente. Memórias
sobre ele perpetuam minha mente. Não desejo continuar preso... quero expandir.
Acho que ele não me deixou.
Ele nunca vai.
Sem espaço.
Pesadelos na repetição
O amor que você deu, me mantém aqui
E chamar pelo seu nome, me mantém aqui
Pois a luz não estava lá
Durante anos e anos
Talvez a maneira como você caminha
Vai me mostrar como falar
Eu mesmo em estar aqui
Chego perto, aproximo
Segurando sua mão, me mantém aqui
E todas as formas como você está, me mantém aqui
Pois a luz não estava lá
Durante anos e anos
Talvez a maneira como você caminha
Vai me mostrar como falar
Eu mesmo para dormir
Pesadelos na repetição
Sua visão, bela, bela
E seu interior, lindo, belo...
Calling by your name (Chamando por seu nome), 2018
Kot w pustym mieszkaniu (O gato em um apartamento vazio) - No. 1, 2018 Kot w pustym mieszkaniu (O gato em um apartamento vazio) - No. 2, 2018
Kot w pustym mieszkaniu (O gato em um apartamento vazio) - No. 3, 2018 Walking into the darkness (Caminhado para a escuridão), 2018
While in the darkness (Enquanto na escuridão), 2018 De andre ble borte der ute (Os outros foram lá fora), 2018
The room was empty (O quarto estava vazio), 2018 The empty envelope (O envelope vazio), 2018
Seeking for answers (Buscando por respostas), 2018 Something seems to exist (Algo parece existir), 2018
Stepping into eternity (Entrando na eternidade), 2018 Nic się nie zmieniło (Nada mudou), 2018
Diário quinto
2019
[Terça-feira, 01 de janeiro de 2019] Viajo ao campo. São 2h da manhã. Decido andar pela cidade
para fotografá-la à noite.
[Domingo, 13 de janeiro de 2019] Tentando achar um caminho ao meu antigo self. Tenho sido
influenciado por tantas coisas desnecessárias. São 4h da manhã e não consigo dormir. O que está a
acontecer? Eu estava acostumado a sempre sonhar. É difícil ter esperança quando se sente triste.
Eu parei de me importar.
***
[Quarta-feira, 06 de fevereiro de 2019] Pensamentos terríveis. Paro de me sentir culpado.
Sinto a falta dele.
O tempo passa.
Sem ânimo para escrever nestes últimos dias.
HLUDWIG
***
[Sábado, 02 de março de 2019] Quero voltar para a luz. Esta tem sido minha busca. Não sei como
fazê-la. Como achar meu caminho de volta? Quero evitar o vazio, mas ele está sempre aqui. Velhos
sentimentos voltam a me assombrar.
[Quinta-feira, 14 de março de 2019] O acidente de carro.
[Domingo, 24 de março de 2019] O vazio. Tem havido muitos vazios.
Muitas coisas vieram à mente esta semana.
Pauso por um momento.
Chego ao limite.
Não durmo mais.
***
[Terça-feira, 02 de abril de 2019] Noto algumas mudanças de opinião.
[Domingo, 21 de abril de 2019] São 3h da manhã. Sem sono. Isso só tem piorado.
***
[Quarta-feira, 01 de maio de 2019] Não consigo produzir nenhum trabalho nestes últimos dias.
Como se houvesse uma nuvem escura a pairar sobre mim. Não estou certo sobre o que escrever hoje.
Continuo silencioso.
Estou distante.
***
[Sexta-feira, 17 de maio de 2019] Tornei-me uma pessoa fria e distante.
Continuo reflexivo.
***
***
[Terça-feira, 01 de outubro de 2019] Tenho a sensação de estar perdendo as coisas. Sinto que
me coloquei neste lado da vida e não quero mais sair. Como se eu tivesse conectado tão profundamente a
esse lado obscuro... invisível.
A chama se fora há muito tempo atrás.
Não sei se a quero novamente.
[Sexta-feira, 11 de outubro de 2019] Vou à casa de uma prima para passar uns dias. Os dias
passados lá me permitiram rever muitos questionamentos. Quando estou com alguém, vejo um outro eu.
Este ser, que habita aqui, desagrada-me muito. É como se esses outros “eus” fossem estranhos a mim.
[Domingo, 21 de julho de 2019] As férias me ajudam a voltar para luz. Eu estava quase lá.
Quase a acreditar em um novo futuro.
Sozinho.
***
[Segunda-feira, 19 de agosto de 2019] Uma amiga morre. Ela tinha apenas 49 anos. Sua morte me
fez pensar que o tempo passa rapidamente. Essas coisas me assustam um pouco. Não desejo parar por
agora.
[Segunda-feira, 26 de agosto de 2019] Depois que Ele se fora, eu prometi a mim mesmo que não
passaria por essa situação novamente.
Acho que estava a experimentar a sensação de 2015 novamente.
***
[Terça-feira, 03 de setembro de 2019] Sinto que perco uma parte de mim e de quem fui.
Acho que tenho tomado o caminho errado.
Sinto muito.
Estou na estrada sozinho.
Corujas geralmente são solitárias.
***
[Quarta-feira, 12 de novembro de 2019] Acho que às vezes criamos monstros em nossas mentes.
Tem sido uma longa jornada.
Sonho com ele novamente. Senti como se uma parte de mim estivesse em minha frente. Eu me
importava com ele e segurava sua mão.
[Quinta-feira, 20 de novembro de 2019] Encontro-me num lugar escuro agora.
É a mente.
É o coração.
Preciso colocar o passado no devido lugar.
Eu só preciso de tempo.
***
[Domingo, 01 de dezembro de 2019] Medo de deixa-lo ir. Não entendo o que me trava. Quero
colocar um fim a esse sentimento. Sempre estive em busca de respostas.
Quero caminhar em direção à grandeza.
[Quinta-feira, 19 de dezembro de 2019] Meus sonhos. Eles nunca chegam até mim. Sinto como
se minha mente não estivesse no lugar certo.
Estou me tornando em alguém que não quero me tornar.
[Terça-feira, 31 de dezembro de 2019] Apesar de tudo, continuo a ser um notável guerreiro.
Não sei se fiz as escolhas corretas.
Tempos sombrios.
Sinto-me no meio dessa escuridão.
Espera-se muita força para o que está por vir, Hludwig.
Entsprechend deiner Wirklichkeit (De acordo com sua realidade), 2019 Parliament of owls (Parlamento de corujas), 2019
What I have to tell you has nothing to do with the weather - No. 1 (O que tenho a dizer não tem nada a ver com o tempo), 2019 What I have to tell you has nothing to do with the weather - No. 2 (O que tenho a dizer não tem nada a ver com o tempo), 2019
Diário sexto
2020
Eu tinha um plano.
Eu tinha um passado.
Estava sempre a trabalhar depressa.
Eu conhecia as palavras, conhecia a mim mesmo.
Não precisei de qualquer ajuda.
Não podia ficar na mesma.
Foi um presente a admitir.
Foi um presente, quando eu estava errado.
Sabia-o uma vez, senti-o duas vezes.
Só eu, sozinho.
Um risco que corro, tinha de ganhar.
A revelação é uma linha longa e lenta.
Não podia ficar na mesma
Eu não podia ficar...
FABIUS
[Quarta-feira, 08 de janeiro de 2020] Os sonhos com Ele estão se dissolvendo lentamente. Ele
está indo embora... lentamente. Sim, leva tempo para o coração se curar.
[Terça-feira, 28 de janeiro de 2020] Tive um sonho de um bonito jardim.
***
Estrela da companhia
Deixando o jardim
Devo seguir em frente
Assim como a hera ao subir o muro de pedra
Caminhe até a minha beira
Em nome da mudança
Quem é único? É ele que me trará de volta?
Estrela do Norte
Quando eu tiver ido longe
Puxa-me de volta ao amor
Você será a ponte no meio
O tempo foge de mim
No que eu me tornei?
Eu sou a hera que trepa o muro de pedra
Junte-me agora
No clima da minha mente
Quanto mais sabemos, que sabemos, mais nos escondemos
Quem eu quero ser?
E então a quem sempre pertencerei?
Deixando o jardim
Em nome da mudança
Assim como a hera
Ao encontrar um novo caminho
[03 de maio de 2020] Percebo que algo me incomoda. Estava pensativo. Tive um sonho tão
estranho, mas não consigo lembrar.
Paciência.
Aguarde por ela
Você vai esperar por ela
Você vai esperar por ela
Você saberá quando está certo
Você saberá quando está certo
Por favor, deixe ir
Quando não se pode controlar
Você não está sozinho
É noite antes do amanhecer
Você precisa de paciência
Você precisa de paciência
***
***
[Terça-feira, 03 de março de 2020] O retorno às aulas na escola de arte. Estou empolgado com o
trabalho que pretendo desenvolver.
[Quarta-feira, 18 de março de 2020] O vírus. Mortes. Uma situação irreal.
***
[Quarta-feira, 01de abril de 2020] Sentindo falta dos dias passados. Quarentena estendida.
Um sentimento horrível.
[Quinta-feira, 22 de abril de 2020] Tenho tido sonhos. Eles têm me dito coisas. Continuo a buscar
a luz. Há um sentimento. Minha mente me diz que algo precisa ser feito.
Há esse antigo eu... tenho tentado conectar com ele.
O sensível eu.
Quero que ele penetre meu ser e se torne parte de mim no agora.
Acesso os meus sentimentos mais profundos.
[Domingo, 26 de abril de 2020] Desejo me manter em silêncio. Quieto.
***
[Quinta-feira, 04 de junho de 2020] Muito tem se passado em minha mente. Memórias de
momentos vividos. Memórias de pessoas que encontrara... amara. Há memórias que gostaria de esquecer...
[Sexta-feira, 10 de junho de 2020] Quero resgatar-me dessa escuridão.
***
[Domingo, 01 de julho de 2020] Gostaria que pudéssemos voltar ao normal novamente. A situação
continua longe de estar bem. Os dias parecem ser os mesmos. É perigoso lá fora.
***
[Quinta-feira, 13 de agosto de 2020] Estou quieto. Silencioso. Gostaria de não me importar tanto.
Pareço estar em um dilema que não quero escrever aqui.
Estou gritando por dentro em busca de respostas.
Não há. Por quê?
Fico a me perguntar.
[Quarta-feira, 26 de agosto de 2020] Tive um sonho dois dias atrás que me fez pensar em muitas
coisas. Era um sonho de busca por respostas sobre a vida. Havia aquela cena perto do oceano que não sai
da minha mente.
Primeira parte.
O sonho se passa numa antiga casa. Estava me sentindo completamente perdido. Como se eu
estivesse em busca de algo... de alguém. Eu estava em busca de um jovem. Era um jovem parecido comigo.
Eu sabia que ele era importante para mim. Ele havia desaparecido. Disseram-me que ele havia caído de
um precipício em um mar de águas escuras e agitadas. Eu o procurava em todos os lugares naquela casa.
Eu desço até um porão. Era um espaço aberto que havia debaixo da varanda da casa. Era um espaço
preenchido por terra. Disseram-me que eu deveria procurar ali. Não conseguia ficar de pé naquele lugar,
por conseguinte tive que rastejar pelo chão de terra. Enterradas e espalhadas no chão, várias partes pálidas
(torso, braços, mãos) de estuários em gesso constituíam-se como obstáculos. Eu percebera que não me
rastejava entre estátuas e, sim, corpos. Sentira horror por estar ali. Saio desse lugar e vejo que estava
completamente sujo.
Eu, então, desço um cerro onde a grama era cinza e seca. Saio correndo por essa colina ainda em
busca do jovem rapaz. Acreditavam que esse rapaz era um ser das águas, e ele havia pulado no mar para
se salvar de pessoas que o perseguiam. O vento forte toca-me a face. O céu estava completamente nublado.
O mar estava agitado. Eu paro na extremidade desse despenhadeiro. Havia uma árvore alta, cinza e seca,
quase preta, com alguns galhos. Eu estava ali a contemplar aquela água turva do mar. Estava em um transe.
Algo me chamava para dentro das águas. Eu sentia que eu iria encontra-lo lá.
De repente, minha mãe aparece nesse despenhadeiro. Estava um tanto aflita. Então, ela se apoia
naquela árvore, porque o despenhadeiro era bem inclinado, e então grita para mim: “Saia daí! É muito
perigoso para você. Venha! Saia daí!”. Ela estendia sua mão enquanto chamava por mim. Eu virei o rosto
em sua direção. Eu tinha o olhar vazio e contemplativo. Demoro a sair do transe no qual me encontrava.
Resolvo subir o despenhadeiro.
Ao passo que chego ao alto novamente, vejo que haviam capturado o jovem rapaz. Ele estava
morto. Ele estava preso a um tronco de madeira... exposto. Ao ver aquela cena, ficara bastante desolado.
Segunda parte.
Eu me encontrava assentado em uma escadaria de um prédio, defronte a uma avenida. Estava sem
camisa e me sentia desolado. Estava muito magro... pálido. Talvez pela morte do jovem rapaz. Decido
adentrar o prédio. Encontrava-me em um cômodo onde havia um espelho. Eu vejo meu reflexo nesse
espelho e percebo que algo incomodava a garganta. Ao abrir a boca percebo que havia algas/plantas
crescendo de dentro do corpo para fora. Em horror, começo a puxar a planta. Eu ia puxando e puxando,
sem acreditar que aquilo estava saindo de dentro de mim. Ela saia, mas também já havia criado raízes.
Quanto mais eu puxava, mais ferido ficava. Finalmente, eu a extraio por completo. Após me livrar por
completo daquela alga, vejo meu reflexo no espelho e um pensamento chega: eu era o jovem rapaz do
mundo das águas!
Por vezes sentimos que temos de fazer algo.
E temos de fazer algo ou controlá-la.
Mas depois, há outra forma de olhar para ela.
A vida é como uma onda que apanhamos.
A vida está pronta a acontecer e a desdobrar-se.
E nós somos apenas um navio.
Somos como um anel ou algo assim e isso acontece através de nós.
A vida acontece através de nós.
Nós não fazemos a vida, não escolhemos a vida.
A vida nos faz.
***
[Quinta-feira, 03 de setembro de 2020] Tenho tentando não pensar sobre esse sentimento de estar
só. Porém tenho sentido essa necessidade, por enquanto.
Deitado no escuro
Esperando pacientemente
Pilando como um diamante
Colocando-me para dormir
Cisne negro, eu me tornei
Eu não quero conhecer ninguém
Traga-me um estranho
Na véspera da renascença
O pêndulo acima do meu corpo balança
Saiba que eu sou um ser vivo que respira
Vejo lentamente a cor em meus olhos
De volta à vida, de volta à vida
Esperando com fome
Um pássaro sobre o mar
Sob a marinha
O desejo vem para mim
Espere, agora é diferente
Os poderes que vêm lentamente
Toque minha pele, ela é delicada
Eu posso sentir a mudança
O pêndulo acima do meu corpo balança
Saiba que eu sou um ser vivo que respira
Vejo lentamente a cor em meus olhos
De volta à vida, de volta à vida, de volta à
Visão
Som
Toque-me
Para encontrar
Ruim
Bom
Morto
Vivo
E a chuva o levará para o mar
Lentamente, acordo de um sonho para estar em outro sonho
Onde tudo se move ao ritmo de um tambor ressonante
Soa mais alto e mais alto e mais longo e mais longo
Todo o caminho até a fronteira
E de volta a quando éramos jovens e fora de nossas mentes
Fora de nossas mentes
Lentamente, eu caio em um sonho para pensar que isso é apenas um sonho
Como entrar e sair com meu coração batendo
Bate mais alto e mais alto e mais longo e mais longo
Todo o caminho até a fronteira
E de quando eu era jovem e fora de mim
Fora da minha mente
Vejo lentamente a cor em meus olhos
De volta à vida, de volta à vida
[Sábado, 05 de setembro de 2020] Preciso de tempo para mim mesmo. De qualquer forma, está
no passado agora.
Às vezes penso muito sobre isso.
[22 de setembro de 2020] Ele já se encontra distante... no fundo da mente.
[Quinta-feira, 29 de outubro de 2020] Estou a ler uma obra de Marcel Proust (1871-1922): A
fugitiva. O autor consegue unir a lembrança e a contemplação, a beleza e a dor, ao falar de perdas e
separações. Ele cria verdadeiras paisagens verbais, transformando o sofrimento em arte. Proust trata das
idas e vindas mentais, a corrosão dos sentimentos, o jogo da memória e da dúvida, o luto e a esperança.
Vejo esses elementos representados em meus ensaios fotográficos.
***
***
Os sinos do templo em desvanecimento acalmam as ondas.
O mundo é uma se move cuidadosamente.
A areia desenha suas constelações ao luar.
Os relógios voltam atrás no tempo para saudar a primavera,
Enquanto bonecos abandonados das algas marinhas com olhos de pérola abertos sonham,
Entre as baleias
Ressoar frequências escuras durante a noite.
Agora sonhamos com pedras.
Toda a suavidade desapareceu.
O sal altera tudo o que resta.
Ele forma seixos e sede eterna.
Ele esculpe seu corpo, de modo que você também irá vaporizar
[Segunda-feira, 02 de novembro de 2020] Sobre minha experiência, o que senti existiu só para
mim. Projeto-me no passado e no futuro sem me deixar deter pelas barreiras fictícias da morte. Essa
influência estende-se a meus sonhos de ocultismo e de imortalidade, que são apenas um esforço no sentido
de realizar o que eu desejo.
Numerosos fragmentos que se tornaram inúmeros fragmentos em mim.
[Quarta-feira, 11 de novembro de 2020] O meu eu atual não mais o ama, e o eu que o amara está
morto. Assim como o futuro, não é de uma vez, mas pouco a pouco que saboreamos o passado. Ele se
tornou uma lembrança indiferente e cheia de encanto. Seria esse o verdadeiro?, pergunto a mim mesmo,
ou seria antes uma criatura que, na escuridão na qual eu que rolava já há um tempo, me parecia a única
realidade? A mim, pareceu-me apenas uma débil parte de meu ser.
Isso se formava pouco a pouco no fundo de minha consciência.
Não me livrara de um sofrimento senão à custa de experimentá-lo com plenitude.
Era o caminho.
[Quarta-feira, 18 de novembro de 2020] Eu percebi que todo esse tempo estava a perseguir uma
criatura viva, depois outra, depois voltava à minha morta. Isso ocorria nas partes mais obscuras de mim
mesmo. Um despertar de reações dolorosas. Tive perfeitamente nos sonhos impressões de realidade do
que se passara.
[Sexta-feira, 20 de novembro de 2020] A memória de meus sonhos tornou-se duradoura. A fadiga
e a tristeza que eu experimentara resultaram menos, talvez, de haver amado inutilmente quem eu já
esquecera. Consolo-me, talvez, ao verificar que meu antigo amado não era, ao fim de certo tempo, senão
uma pálida lembrança do que ao verificar de novo em mim essa vã atividade que me faz perder tempo em
esmaltar a vida como uma vegetação humana e parasita, que também ao se converter é nada ao morrer.
[Quarta-feira, 25 de novembro de 2020] Ao escrever sobre tudo isso, percebo que o possível
advento desses novos “eus” se formara ao longo do tempo. Assuntam-me, porque são indiferentes ao objeto
de minha antiga afeição. Com o esquecimento vinha a supressão quase completa do sofrimento – uma
possibilidade de bem-estar – e isso eu fico a dever a um ser que não era outro senão um desses “eus” de
reserva, mantidos de prontidão – e coletados em meus diários. O “eu” excessivamente dilacerado. Essa
substituição, de resto, se realiza ano após ano, como o desgaste e a recomposição dos tecidos da pele.
[Sexta-feira, 27 de novembro de 2020] A impressão que eu experimentava não provaria uma
mudança tão profunda, uma morte tão completa do “eu” antigo, e a substituição tão completa de um “eu”
novo a esse “eu” antigo quanto a visão de um rosto de outrora. A verdade, porém, é que não me afligi mais
por me ter tornado outros, em virtude da passagem do tempo e pela ordem natural das coisas, do que me
afligiria em determinada época por ser, alternadamente, sujeito contraditório – perverso, delicado, sensível,
desinteressado, ambicioso – como alternadamente, sou a cada dia.
E a razão pela qual não me afligi é a mesma: o “eu” eclipsado – momentaneamente no último caso,
quando se trata do caráter, ou para sempre no primeiro caso, quando se trata de paixões – não está presente
para deplorar o outro, esse outro que, neste momento, ou daí por diante, é todo eu.
[Segunda-feira, 30 de novembro de 2020] Noto que a verdade e a vida são bem árduas e restavame
delas, que em suma eu as conhecesse, uma impressão em que a tristeza talvez fosse inferior à fadiga.
Já a morte age do mesmo modo que a ausência através de um fio transmissor, que é a memória. E é a arte,
coisa magnífica, que se encarrega de comunicar as impressões.
Dessa forma, a sabedoria, apoderando-se de algum acontecimento e fazendo-se passar pela
memória, lhe dá todo o relevo, dissocia ou recua uma superfície, e situa em perspectiva, em diferentes
pontos do espaço e do tempo, aquilo que, para os que não viveram a mesma experiência, parece
amalgamado numa superfície única. Porque há no mundo, onde tudo se gasta e tudo perece, uma coisa que
tomba em ruínas, que se destrói ainda mais completamente, deixando ainda menos vestígios do que a
Beleza: é o Sofrimento.
[Quarta-feira, 02 de dezembro de 2020] Para mais, é possível que, do mesmo modo, meus
pesadelos, à noite, sejam terríveis; mas ao acordar sou outra pessoa, que mal se preocupa com aquele que
o sucedeu e que, dormindo, era perseguido. Minha tendência, porém, foi recolher-me em novos
personagens. Não é porque os outros desaparecem que a afeição que lhe dedicava se debilita; é porque eu
mesmo morrera.
Vou cantar, para manter a paz
Abaixo, na gaiola que você construiu para mim
Uma caverna de ecos
O canário de um mineiro
Você era mais velho, você conhecia o caminho
Para me manter respirando mesmo que o ar fosse rarefeito
Não havia oxigênio
O canário de um mineiro
Conduza-me, lentamente
Eu sou seu detetive
Um sinal vivo de alerta
Mate-me lentamente
Enquanto eu lhe faço companhia
Estarei mantendo o tempo
Uma sentinela tão sensível
Você tem que me perder
Só para sentir o estado em que você se encontra
Você está preso à escuridão
O canário de um mineiro
Conduza-me, lentamente
Eu sou seu detetive
Um sinal vivo de alerta
Mate-me lentamente
Enquanto eu lhe faço companhia
Estarei mantendo o tempo
***
Der lyset ikke er skilt fra mørket (Onde a luz não está separada da escuridão), 2020 Boy with a broken heart (Garoto de coração partido), 2020
Poëzie is een daad Van bevestiging (Poesia é um ato de afirmação), 2020 Mysterious pain (Dor misteriosa), 2020
Unseen (Despercebido), 2020 Accepting My Sense Of Loneliness (Aceitando meu senso de solidão), 2020
Abstruse Psyche (Psiquê abstrusa), 2020 Truth untold (Verdade não dita), 2020
A night in sorrow (Uma noite de tristeza), 2020 Broken Dream (Sonho partido), 2020
From oppression comes light (Da opressão vem luz), 2020 Searching for my soul (Procurando minha alma), 2020
Mayzon Tayrone (1990)
Texto e fotografia por Mayzon Tayrone
Belo Horizonte-MG, Brazil, 2020-21