Revista Biosfera - 7ª Edição
Bem-vindos(as) à 7ª edição da Revista Biosfera! Como parte das atividades de extensão do grupo PET Biologia da UFSCar, a revista vem sendo feita desde 2017 e você pode encontrar cada uma das produções em versão digital aqui na plataforma Yumpu! A publicação deste semestre traz a temática de Aves Brasileiras e é dedicada à divulgação científica e discussão de tópicos atuais. Entre os assuntos abordados, você irá encontrar informações sobre as corujas-buraqueiras e seu nicho ecológico; a prática do “birdwatching” com várias dicas para a “passarinhada”; os beija-flores e suas relações mutualísticas com plantas; e a biodiversidade acreana. Além disso, nesta edição entrevistamos os ornitólogos Augusto Batisteli e Carolline Fieker, ambos doutores pela UFSCar. E não para por aí, também conversamos com alguns professores, de diferentes localidades do país, que coordenam Laboratórios de Ornitologia, trazendo um pouco sobre suas linhas de pesquisa. A revista também conta com um especial de registros fotográficos de biólogos que unem duas paixões: a fotografia e a fauna brasileira. Confira, ainda nesta edição, curiosidades científicas e iniciativas que merecem destaque! Ficou curioso(a)? Não deixe de conferir! Boa leitura e bom retorno, biólogos(as) e estudantes!
Bem-vindos(as) à 7ª edição da Revista Biosfera! Como parte das atividades de extensão do grupo PET Biologia da UFSCar, a revista vem sendo feita desde 2017 e você pode encontrar cada uma das produções em versão digital aqui na plataforma Yumpu! A publicação deste semestre traz a temática de Aves Brasileiras e é dedicada à divulgação científica e discussão de tópicos atuais. Entre os assuntos abordados, você irá encontrar informações sobre as corujas-buraqueiras e seu nicho ecológico; a prática do “birdwatching” com várias dicas para a “passarinhada”; os beija-flores e suas relações mutualísticas com plantas; e a biodiversidade acreana. Além disso, nesta edição entrevistamos os ornitólogos Augusto Batisteli e Carolline Fieker, ambos doutores pela UFSCar. E não para por aí, também conversamos com alguns professores, de diferentes localidades do país, que coordenam Laboratórios de Ornitologia, trazendo um pouco sobre suas linhas de pesquisa. A revista também conta com um especial de registros fotográficos de biólogos que unem duas paixões: a fotografia e a fauna brasileira. Confira, ainda nesta edição, curiosidades científicas e iniciativas que merecem destaque! Ficou curioso(a)? Não deixe de conferir! Boa leitura e bom retorno, biólogos(as) e estudantes!
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⠀⠀⠀⠀Uma evidência que fortemente sugere esse
modelo de reprodução, trata-se do fato de, em 2001,
terem sido observados todos os adultos de um grupo
de agulhas carregando alimento em seus bicos e se
enfileirando em frente ao ninho, esperando
pacientemente por sua vez de alimentar os filhotes
[6].
⠀⠀⠀⠀Embora a regra de Hamilton [7] deixe claro os
benefícios do apoio familiar na criação de indivíduos
geneticamente relacionados, as formas como esse
processo evolui variam profundamente e ainda mal
foi explorado como esse comportamento de
cooperação pôde convergir em ambientes tão
diversos quanto as planícies africanas e as matas
acreanas.
⠀⠀⠀⠀Diferentemente da agulha, pouco se publicou
sobre os hábitos da sovela-vermelha. Como a
agulha, a sovela vive em grupos que variam de 4 a 6
indivíduos em matas secundárias próximas a corpos
d'água com muitas embaúbas (Cecropia(
sp.).
Especula-se também que a sovela usufrua de uma
dinâmica de reprodução coletiva [8], porém
carecemos de fortes evidências documentais desse
comportamento. O mais próximo de dados empíricos
que temos são observações superficiais realizadas
no Peru, onde um grupo de sovelas nidificou e
dormiu coletivamente dentro de uma única cavidade
escavada em meio a um cupinzeiro de Nasutitermes
corniger [9].
⠀⠀⠀⠀Algo que difere a sovela da agulha é seu
comprimento maior e seu bico mais robusto. Devido a
esse tamanho mais avantajado e maior robustez no
bico, a sovela pode usufruir de uma dieta que inclui
presas maiores do que a da agulha que, por sua vez,
geralmente se alimenta apenas de borboletas
(Lepidoptera) e vespas e abelhas (Hymenoptera). Em
uma oportunidade em novembro de 2020, pude
dispor de 30 minutos observando o forrageio de dois
indivíduos de sovela-vermelha e incrivelmente uma
das aves, cujo tamanho era de aproximadamente 20
cm, capturou uma cigarra (Cicadidae) de cerca de
5cm em voo e a engoliu. O animal passou cerca de
um minuto rebatendo a presa em um galho para se
certificar de que estava morta. Isoladas na região do
Inambari, a sovela-vermelha e a agulha-de-garganta-
branca de fato adquiriram características únicas, as
quais estamos apenas agora começando a entender.
⠀⠀⠀⠀Embora mal tenhamos arranhado a superfície
⠀⠀⠀⠀
dos estudos sobre as complexas relações ecológicas
presentes na biodiversidade do Acre, é clara a
fragilidade dos ecossistemas desse estado. A presença
dos enormes bambuzais e a dinâmica cíclica de
constante transformação causada pela sua morte regem
o ritmo de toda a biota do centro do Inambari e qualquer
desarmonia pode trazer consigo consequências
imprevisíveis para o local como um todo.
⠀⠀⠀⠀A respeito disso, no ano de 2020, foram
constatados 9193 focos de incêndio no Acre, um
aumento de 35% em relação a 2019 e o maior número
de incêndios desde 2005 [10]. Além disso, de acordo
com os últimos dados da Unidade Central de
Geoprocessamento do Estado do Acre (UCEGEO), de
2018 para 2019 houve um aumento de 54% na taxa de
desmatamento no estado. Tal fato é surpreendente, pois
deve ser considerado que os desmatamentos que
ocorreram em 2019 foram os maiores já registrados nos
últimos 11 anos [11].
⠀⠀⠀⠀Infelizmente, esses números indicam que o Acre
atualmente se encontra na ponta do arco do
desmatamento que avança rumo ao norte através de
Rondônia. Essa expansão da fronteira agrícola no oeste
da Amazônia traz consigo uma brusca transformação da
paisagem e, assim, espécies típicas de ambientes
antrópicos e desgastados passam a colonizar locais
onde antes uma floresta úmida existia. Assim,
bioindicadores de clareiras e campos tomados por
gramíneas exóticas já são observados com frequência
no leste do Acre: casais de quiriri (Falco(
sparverius),
caminheiros-zumbidores (Anthus(
lutescens), corujas-
buraqueiras (Athene(
cunicularia), garças-vaqueiras
(Bubulcus ibis), quero-queros (Vanellus(
chillensis),
carcáras (Caracara(
plancus) ) [12] e até mesmo gaviões-
peneira (Elanus(
leucurus) ) hoje habitam as enormes
áreas abertas pela pecuária e fazem com que uma área
com vegetação equatorial pareça um campo antropizado
no interior de São Paulo.
⠀⠀⠀⠀A destruição de bambuzais já deixou suas vítimas
na Mata Atlântica do Brasil. A famosa pararu-espelho
(Claravis geoffroyi) ) era uma usuária obrigatória dos
bambuzais atlânticos. De hábitos nomádicos, sua vida
consistia na realização constante de movimentos
acompanhando o ciclo reprodutivo semélparo dos
bambuzais para se alimentar de suas sementes. Assim,
quando uma área completava seu ciclo e morria, ocorria
⠀⠀⠀⠀
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