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Moda e Negócios_EDIÇÃO 33

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José Nivaldo Junior<br />

O INIMIGO<br />

AINDA<br />

DESCONHECIDO<br />

No início da pandemia eu escrevi<br />

que aqueles donos da verdade,<br />

que ocupavam horas e mais<br />

horas por dia na televisão ditando<br />

regras, simplesmente não sabiam<br />

do que estavam falando. Hoje, depois<br />

de mais de um ano de sofrimento<br />

e pessoas mortas contadas<br />

aos milhões, a humanidade avançou<br />

bastante. No entanto, o inimigo<br />

invisível continua correndo na<br />

dianteira.<br />

O ser humano é um poço de contradições.<br />

O que move o mundo, desde<br />

sempre, são engrenagens econômicas<br />

poderosas, que moldam a organização<br />

social, a política e as próprias<br />

formas de pensar e entender<br />

a sociedade. Somos, também desde<br />

muito tempo, animais que se apaixonam.<br />

E as paixões nos dominam.<br />

Na vida pessoal, na política, no futebol,<br />

nas causas que abraçamos.<br />

Com relação à pandemia não é diferente.<br />

Os interesses econômicos<br />

estão por trás de tudo. Esses interesses,<br />

muitas vezes, são invisíveis<br />

como o vírus. Mas estão aí. A própria<br />

vacina é um encaminhamento<br />

indispensável que movimenta bilhões<br />

de dólares ao redor do planeta.<br />

Em última instância, um negócio<br />

como outro qualquer.<br />

Só a paixão, criada por essas engrenagens<br />

imperceptíveis, é capaz de<br />

justificar o furor com que se combateu<br />

e combate o chamado tratamento<br />

precoce da Covid-19. Verdade<br />

que alguns políticos, a exemplo<br />

de Trump e Bolsonaro, politizaram<br />

o debate. Mas remédio até tem cor,<br />

mas certamente não tem partido.<br />

Não entendo nada de remédio. Mas<br />

conheço a cláusula da Declaração<br />

de Helsinque que regulamenta as<br />

atividades médicas no mundo. Ali<br />

está estabelecido que o medicamento<br />

utilizado no tratamento de<br />

qualquer doença é uma decisão exclusiva<br />

da relação médico/paciente.<br />

Ponto. Qualquer especialista na<br />

área de saúde tem direito de externar<br />

livremente suas opiniões sobre<br />

as receitas da sua preferência. Mas<br />

ninguém, absolutamente ninguém,<br />

tem a prerrogativa de se meter na<br />

liberdade do médico indicar e do<br />

paciente aceitar qualquer prescrição<br />

razoável. O debate, nesse nível,<br />

nem deveria existir. É incrível que<br />

aconteça.<br />

Também fico perplexo com o comportamento<br />

dos políticos no mundo<br />

inteiro. Em certos momentos,<br />

parecem no mundo da lua. Apenas<br />

como exemplo, recentemente no<br />

Brasil a preocupação maior era com<br />

o orçamento. Dizem que um certo<br />

teto de gastos não pode ser ultrapassado<br />

no combate à pandemia e<br />

no socorro aos mais necessitados.<br />

Dá vontade de chamar um palavrão<br />

bem vulgar. Nem parece que<br />

estamos enfrentando uma guerra<br />

planetária. Não adianta preservar<br />

índices econômicos e sacrificar as<br />

pessoas. Quando vier a paz, trataremos<br />

de resolver outros problemas.<br />

Antes disso, temos que vencer o<br />

inimigo invisível, usar máscara, higienizar,<br />

manter o distanciamento.<br />

Festa e folia até dá rima, mas não<br />

combina com pandemia.<br />

José Nivaldo Junior<br />

Historiador. Consultor em<br />

comunicação. Da Academia<br />

Pernambucana de Letras.<br />

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