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Historiar 2021 ed. janeiro, fevereiro e março

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Quem é Daniel Munduruku?<br />

DM: Pertenço a um povo ancestral chamado Munduruku que carrega consigo a honra e a dignidade<br />

de ser brasileiro. Tenho orgulho de ser um brasileiro, pois nosso país carrega em seu DNA uma<br />

interculturalidade de fazer inveja a todos os demais países deste nosso planeta.<br />

É comum, no entanto, as pessoas olharem para mim e, devido à minha aparência, me verem um “índio”.<br />

Elas seguem a imagem que foi introjetada na mente delas. Pois lhes digo: eu sou Munduruku. Não sou<br />

“índio”. Não sou um apelido, uma negação. Sou uma afirmação, sou parte de um povo que tem uma<br />

história linda para contar.<br />

Naturalmente, quando eu era criança, não tinha acesso à tecnologia, apenas aos divertimentos que a<br />

nossa própria comunidade possuía. Cresci correndo no meio do mato, subindo em árvore, nadando<br />

nos rios, andando de canoa, ouvindo histórias que iam desde a criação do mundo a partir da ética do<br />

nosso povo, até as histórias de assustar que os avós, os velhos, os amigos e os irmãos contavam. Entre<br />

os indígenas o grande livro é a própria natureza, a soci<strong>ed</strong>ade e a maneira como essas soci<strong>ed</strong>ades se<br />

organizaram para viver a vida.<br />

Como você se tornou um escritor?<br />

DM: Nunca pensei muito nesse processo de escrever histórias. Às vezes, chegam à minha cabeça e me<br />

dá vontade de escrever sobre um tema. Há tempo eu só escrevia narrativas com a temática indígena.<br />

Hoje, eu dei um salto porque tem coisas que eu preciso dizer para as pessoas e não preciso usar só o<br />

argumento indígena. No livro O Menino e o Pardal falo do crescimento que acontece com qualquer<br />

criança de qualquer lugar do planeta.<br />

Como você aborda os temas da cultura indígena em seus livros?<br />

DM: Nos meus livros procuro mostrar os costumes indígenas para as crianças entenderem que os<br />

indígenas são povos mágicos e que essa mágica existe. O ocidente é tão racional que não permite que<br />

as crianças desenvolvam sua mágica interna. Vem aquela coisa chapadinha da explicação do currupira<br />

e do saci.<br />

Nos meus livros quero que a criança vivencie essa mágica, quando eu digo a elas que a gente sabe fazer<br />

chover, conversa com os espíritos da floresta, que a gente chama de avô o rio, considera os pássaros<br />

como nossos primos e que, quando os pássaros voam, trazem notícias de outros lugares. Na minha<br />

conversa com eles vou procurando colocá-los no contexto da cultura indígena.<br />

Como você se tornou um contador de Histórias?<br />

DM: Foi dando aulas que me descobri contador de histórias. Eu saia contando histórias nas escolas,<br />

nas praças e nas casas de amigos. Tempos depois, isso fez com que eu começasse a escrever minhas<br />

próprias histórias, sempre com o olhar voltado para as crianças e os jovens. Daí em diante, escrevi mais<br />

de quarenta livros e quero escrever muito mais ainda.<br />

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