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TRANSPARENCIA 2021

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Aos poucos Presidente

Getúlio vai sendo reconstruída

A cidade foi uma das mais afetadas pela enxurrada,

mas a recuperação total deve ser finalizada até junho

Uma tragédia que jamais foi

imaginada e que não poderia

ser retratada nem

mesmo nos piores pesadelos.

Em novembro do ano passado a

chuva deixou um rastro de destruição

no Alto Vale e marcou para sempre

a história da região. Em Presidente

Getúlio, a cidade mais atingida, a

água arrastou carros, destruiu casas

e levou muitas vidas. Passados quase

seis meses do evento climático, o

município entra na fase final de reconstrução

e mostra que a força da

solidariedade pode amenizar o sofrimento

ocasionado pelo desastre.

O bairro mais prejudicado pelo

temporal foi o Revólver, onde viviam

todas as 18 vítimas fatais da tragédia

na cidade. Hoje, os moradores

do local afirmam que todo o desespero

dos dias 17 e 18 de dezembro,

aos poucos e a medida que tudo vai

sendo reconstruído, vai se transformando

em lembranças, tristes lembranças.

O Ribeirão Revólver, que transbordou

naquela madrugada e arrastou

casas e famílias inteiras, passa por

desassoreamento e reconstrução do

leito. No local os trabalhos são para

a retirada de entulhos e a construção

de uma estrutura de pedra feita nas

laterais para conter o barro, além do

plantio de grama, ambos iniciados em

fevereiro e que devem ser concluídos

até junho. Assim como a reconstrução

de pontes e bueiros, a limpeza e

desobstrução de vias e barreiras, a

contenção e recuperação de vias e a

recuperação de galerias e aterros.

Ao todo o município recebeu

R$ 16,9 milhões de auxílio financeiro

da Defesa Civil Nacional, mas o que

marcou e fez toda a diferença foi a

solidariedade da população nos momentos

de maior necessidade, logo

após a tragédia. Campanhas de arrecadação

de donativos foram realizadas

em todo o Alto Vale e ajudaram a

amenizar o sofrimento dos getulienses

atingidos, que receberam mantimentos,

roupas, produtos de higiene

e limpeza, materiais de construção e,

em alguns casos, até dinheiro para

reconstruir as casas e adquirir pertences

perdidos pela água.

A moradora Veronica Suchara

lembra que naquela noite acordou

por acaso e já viu o seu carro sendo

arrastado pela água. Ela diz que em

poucos minutos a casa foi inundada

e a família quase não conseguiu se

salvar em meio a enxurrada. “Estouraram

os vidros da casa. Eu querendo

sair e não conseguia. Meu marido

gritava, tentava me puxar enquanto

a água me empurrava para trás. Ele

teve que me puxar pelo pescoço para

sair”. Inúmeros relatos como o de

Verônica se misturam entre as muitas

histórias com finais felizes, bênçãos

que confortam os corações daqueles

que sobreviveram a momentos tão

desesperadores. Foi o caso de Gisele

Kureck Martins, surpreendida três

semanas após a tragédia com a entrega

de uma de suas fotos do álbum

de gravidez, encontrada em meio a

lama por outra moradora. A imagem

que representa um momento tão feliz,

trouxe um novo significado para a

vida de toda a família.

Gisele teve a casa invadida pela

água de forma repentina e em meio

ao caos, não houve tempo para resgatar

as fotografias de suas duas

gestações. “Eu acreditava que tudo

tinha sido perdido para sempre, foi

uma surpresa quando recebi uma

mensagem por meio de uma rede

social da enfermeira Cheila Hoepers

contando que havia encontrado uma

das minhas fotos e que gostaria de

devolvê-la. Meu coração se acendeu.

Mesmo que de todas as fotos,

só tenha sobrado essa, da gravidez

do meu pequeno Miguel, ela mudou

tudo sobre aquela madrugada tão

triste. A Cheila a encontrou em meio

aos entulhos, recolheu e guardou

para me devolver. A foto ficou toda

suja, mas não quero limpá-la, vou

colocar em um quadro porque assim

ela representa muita coisa, essa lembrança

única, que nem era uma das

minhas favoritas, mas passou a ser,

volta pra mim carregada de amor e

de compaixão.”

Mesmo tendo perdido muito,

hoje Gisele agradece. “Quando a

água baixou e vimos tudo que tinha

acontecido com tantas pessoas, chegamos

a conclusão de que não podemos

reclamar. Nossa família está

completa e de toda aquela tristeza

a gente segue tirando lições. Foi isso

que eu senti ao receber a fotografia,

o fato de alguém ter se preocupado

em resgatar algo tão pessoal e simples,

em meio a todo aquele caos,

foi um grande exemplo de empatia e

sensibilidade. Talvez esse seja o maior

legado que toda essa tragédia nos

trouxe, o olhar para o outro, o amor

ao próximo, a compaixão, a empatia,

a gratidão.”

30 InVista + TRANSPARÊNCIA E S/A Agosto 2021

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