Revista Turismo & Negócios n. 180
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
opinião
Silvio Melo
Cronista e pesquisador
“
... Onde estão os
amigos de Breno
Accioly? Parecia
perguntar João
Condé
“
Centenário de Nascimento
do contista Breno Accioly - I
uando iremos “ressuscitar”
“QBreno Accioly ?”
A frase do contista e romancista
Flávio Moreira da Costa, autor da
antologia "Os Melhores Contos
Brasileiros" de todos os tempos onde
destacou o conto João Urso, edição
de 2009, fez jus ao tempo do esquecimento
do contista alagoano, durante
mais de 50 anos, desde a sua morte.
13 de março de 1966. O dia
seguinte era uma segunda-feira típica
do Rio de Janeiro. Quente como no
domingo da morte de Breno Accioly.
O poeta alagoano Lêdo Ivo assim
registrou o seu depoimento no capítulo
XXII do livro das suas memórias,
Confissões de um Poeta:
“ No instante em que deveríamos
segurar as alças do caixão
em que jazia o corpo de Breno
Accioly, descobrimos, talvez
com espanto, que éramos apenas
quatro: João Condé, Valdemar
Cavalcanti, Tadeu Rocha e eu. E
seis mãos eram necessárias para
carrega os despojos do autor de
João Urso, até o gavetão que o
esperava, no alto do cemitério.
Dois coveiros se apresentaram,
disfarçando em algumas palavras
de gentileza funerária o constrangimento
que se abatia sobre
aquela cena de enterro no quase
meio-dia cheio de sol. As duas
mãos anônimas se estenderam
para as alças livres, e assim Breno
Accioly pôde ser enterrado. ”
“... Onde estão os amigos de
Breno Accioly? Parecia perguntar
João Condé.”
“... Éramos adolescentes quando
nos conhecêramos. Praticamente,
começamos juntos a escrever nos
jornais de Maceió e Recife. Chegamos
quase juntos ao Rio. Nele, a
necessidade de afirmação literária
era mais desembaraçada e imperiosa.
Deu para fumar charutos e,
cheirando-os antes de acende-los,
costumava dizer-nos, a mim e a
João Cabral de Melo Neto: “Vamos
conquistar o Rio e expulsar a pontapés
esse pessoal que está aí.” Sua
estreia, com João Urso, foi realmente
um sucesso e uma consagração,
colocando-o na primeira linha de
nossos contistas.”
“... A linhagem intelectual a que
pertencia Breno Accioly era das mais
altas e nobres.”
Nasceu em Santana do Ipanema
(AL), em 22 de março de 1921, e
morreu em 13 de março de 1966, no
Rio de Janeiro (RJ). Filho do Desembargador
Manoel Xavier Accioly e de
D. Maria de Lourdes Rocha Accioly
e neto do “Coronel” Manoel Rodrigues
da Rocha e de D. Maria Izabel
Gonçalves Rocha (Dona Sinhá).
Afilhado do Padre Bulhões e devoto
de São José incentivado pela professora
Dona Josefa Lima (Zefinha
Lima), madrinha de São João, que o
alfabetizou. Morou no sobrado em
frente à praça que tem o nome do seu
avô materno, tendo como vizinhos
(duas casas à direita) Agissé, Poni e
Berenice Feitosa que inspiraram-no a
criar os personagens João Urso, Poni
e Cintia dos contos do seu livro mais
famoso, "João Urso", bem como
o Sr. Hermídio Firmo (duas casas à
esquerda) personagem de um dos
seus mais belos contos: "O Natal do
seu Hermídio".
Mudou-se com a família, em
meados de 1930, para Maceió onde
concluiu o ginásio e a escola secundária
no Colégio Diocesano. Durante o
ano de 1937, começou a escrever no
jornal católico "O Semeador".
34 Revista Turismo & Negócios