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duração. À vista disso, traçaremos, a seguir, os processos que foram responsáveis pelo
desenvolvimento de uma lógica antijudáica no âmbito da civilização ocidental, o que
nos permitirá visualizar, posteriormente, os pontos de ruptura e de continuidade entre o
antijudaísmo histórico e o antijudaísmo nazista propriamente dito.
Compreendendo o antijudaísmo
Feitas as considerações gerais acerca da ideologia nazista, comecemos a análise do
antijudaísmo com a leitura do seguinte trecho:
“[...] os judeus jamais deixarão deste orgulho e da glória de sua estirpe nobre. São
obstinados. Os cristãos devem precaver-se para que não sejam seduzidos por este
povo maldito e obstinado. [...] Nunca o sol iluminou um povo tão sanguinário e
vingativo, e ainda se julga o povo eleito de Deus! [...]. Em histórias muitas vezes são
acusados de envenenar poços, de roubar crianças e torturá-las [...] Eles habitam entre
nós, sob nossa proteção, usam nossa terra, nossas ruas, nossas feira e nossos becos. E,
muitas de nossas nobres autoridades, roncam impassíveis, de boca aberta, deixando os
judeus esvaziarem seus cofres [...] Como não trabalham, a nada têm direito, muito
menos que os paguemos com nosso dinheiro. No entanto, eles têm nosso dinheiro e
nossos bens e, apesar de estrangeiros, são donos em nossa terra.” (LUTHER, 1993,
p.10 – 17)
Figura 2. Martinho Lutero. Fonte:
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/
martinho-lutero.htm.
Por certo, uma leitura rápida poderia facilmente inferir
que o texto em questão foi escrito por algum nazista
enfurecido. As expressões de ódio e o evidente
sentimento de hostilidade em relação aos judeus
oferecem margem para tal interpretação. Trata-se,
todavia, de um texto produzido em meados do século
XVI, ou seja, cerca de 400 anos antes da ascensão
nazista na Alemanha. Seu autor é bastante conhecido:
Martinho Lutero (figura 2), o propagador da Reforma
Protestante. O trecho apresentado acima faz parte de uma obra mais ampla, intitulada
Sobre os Judeus e Suas Mentiras, escrita pelo reformador em 1543. No tratado, Lutero
exalou injúrias e difamações a respeito das populações judaicas que viviam no Sacro
Império Romano-Germânico (atual Alemanha), defendendo a perseguição dessas
populações e a destruição de seus bens.