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Nome-de-Guerra - Almada Negreiros

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CAPÍTULO 7

O TIO

Os pais do Antunes ainda vivem. É gente sumida na sua casa de província.

Conheceram-se num piquenique para o resto da vida. Se não nasceram um

para o outro, ficaram um para o outro desde então. Daqui nasceu o Antunes.

Porém, tudo eram episódios desde a data memorável daquele piquenique nos

pinhais. E correria tudo pelo melhor dos mundos se não fosse um tio, irmão

da mãe, o qual fazia todo o barulho da terra e arredores os trezentos e

sessenta dias no ano. Homem de vinho e de cavalos, com o seu competente

bigode de passar por diante de mulheres e outras evidências que o arvoravam,

sem competidor, a figura de mais prestígio da região. Tinha a boa intenção de

se meter de permeio onde não era chamado, o que em qualquer outro seria

logo mal visto. Sem filhos, queria fazer do seu sobrinho o seu digno Sucessor

no barulho da terra e nem Deus lhe tirava isso da ideia. Tinha-o já

experimentado em todas as provas masculinas e, como ele mesmo o

confessava: “antes o não tivesse experimentado!” Mas ainda que rebentasse

não descansaria enquanto não fizesse do sobrinho qualquer coisa que se visse.

A última prova era esta agora em Lisboa, aos cuidados do D. Jorge, o

experimentado companheiro, o qual o tio adorava por ser “bruto como as

casas e ordinário como um homem”. O colega tinha carta branca do tio para

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