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Nome-de-Guerra - Almada Negreiros

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café cujas portas nunca tinham sido fechadas desde a sua inauguração. Atrás,

pouco depois, vinha o Antunes com as outras duas e já estava na mesa uma

garrafa de bagaço, com os respetivos seis copinhos. Como de costume, o

Antunes queria pagar tudo e puxou da ordenada carteira onde as notas

grandes ficavam com as cores de fora. O D. Jorge deitou-lhe uns olhos

terríveis e a verdade é que o Antunes pôde não ter percebido, mas fechou a

carteira e meteu-a no bolso, o que era equivalente a ter percebido. E assim

ficou o D. Jorge em paz. Este chamou o criado e deu-lhe uma nota visível,

várias vezes o valor do bagaço, e não quis o troco. Queria um automóvel.

O motorista fez má cara com o número de passageiros. Não podia levar

mais de quatro. O D. Jorge aceitou discutir. Explicava que dois homens e

quatro mulheres é inferior a quatro homens. Quatro passageiros, ensinava o

D. Jorge pelos dedos ao motorista, é igual a dois homens e quatro mulheres,

sendo duas para cada um, não contando, é claro, com o motorista, que vai

ajudar a beber mais uma garrafa de bagaço. Bateu as palmas e pediu o bagaço

para dentro do café. As quatro raparigas já estavam no carro. O motorista

deu-lhe para achar graça e disse-lhe:

— ’Tá bem, senhor Dom Jorge.

Este e Antunes subiram para o carro. Veio o criado com a garrafa e os

copinhos. O D. Jorge apanhou logo a garrafa e perguntou ao criado, como

quem o desafia:

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