15.12.2022 Views

Nome-de-Guerra - Almada Negreiros

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A Judite olhou como de costume para o Antunes, com aquela curiosidade

que lhe fizeram ter por ele. Aquela cara não lhe dizia nada. Pelos dados que

tinha para ver homens, este era exatamente dos de não terem saído da casca.

Tinha bebido o bastante para não se enganar. Mas havia de tirar a prova. O

experimentado estava com uma fachada que para ela era novidade. E estava

nisto quando viu um olho do experimentado pôr-se significativo para ela e

com um gesto de boca indicar-lhe o Antunes. A Judite tirou disto tudo que era

para que ela se metesse com ele, e como estava bem disposta deu um

piparotezinho no ar por diante do nariz do Antunes. Este espantou-se, sorriuse,

fez todo o possível por encontrar de repente a naturalidade para

corresponder ao piparote da senhora, mas quem salvou a situação foi o

experimentado companheiro com uma destas palmadas na testa do Antunes

que até pareceu mais do que foi.

— Tás lá ou saíste a cavalo? — foi a pergunta que acompanhou a palmada

na testa.

O Antunes arranjava sorrisos, gostava de saber dizer qualquer coisa para

quando há daqueles momentos, queria sobretudo ser como um de quatro à

mesma mesa. Ele já o tinha reparado: só subia estar atrás, no passado, até

ontem, o mais tarde até entrar naquela sala. Tudo o mais era imprevisto, não

estava no seu programa, ele bem não queria ter vindo a Lisboa. Mas já que

eslava, ele gostava de poder estar. Nunca na sua vida fizera um esforço tão

grande como agora. Inútil. A primeira vez é a primeira vez. Amanhã fará

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!