Jornal Folha Sertaneja Nº 231 - Edição On-line
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A4
Edição 231 • Março 2024
31 de Março de 2024
A Chesf nasceu há 76 anos.
A luz de Paulo Afonso mudou a história do Nordeste
Mãe Velha, da primeira linha de transmissão de Paulo Afonso para Salvador
Neste 15 de março de
2024 a Chesf – Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco
– completa 76 anos de
vida intensa de uma história
que, em meados do século
passado mudou a história do
Nordeste.
15 de março de 1948 foi
a data em que o presidente
General Eurico Gaspar Dutra
instalou a primeira diretoria
desta empresa hidrelétrica,
no Rio de Janeiro.
Mas, a Chesf nasceu anos
antes. Primeiro, no sonho
do Engenheiro Agrônomo
Apolônio Jorge de Farias
Sales, Ministro da Agricultura
do Governo do Presidente
Getúlio Dorneles
Vargas. E esse sonho de
Apolônio Sales, nordestino
de Altinho, no agreste de
Pernambuco, tomou forma
nos Decretos-Leis Nº 8.031
e 8.032 levados por ele para
serem assinados pelo presidente
Getúlio Vargas no
dia 3 de outubro de 1945,
dia de Santa Terezinha, de
quem era Apolônio devoto,
criando a Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco
– Chesf. Os Decretos-Leis
foram assinados pelo presidente
Getúlio naquela data,
3/10/1945 e faziam nascer
ali esta grande empresa.
Apolonio Jorge de Farias Sales
Mas no Brasil, desde os
tempos de Deodoro da Fonseca,
vez por outra dá-se
uma sacudida no governo.
Foi o que aconteceu no dia
29 de outubro de 1945 com
o governo do presidente
Vargas. Ele foi deposto pelos
militares e o presidente
do Supremo Tribunal Federal,
o ministro José Linhares,
assumiu o governo
por uns meses e manteve as
eleições marcadas para 2 de
dezembro de 1945 quando
foi eleito, de forma indireta,
o novo presidente da República,
o Ministro da Guerra
de Getúlio, o General Eurico
Gaspar Dutra.
A atenções do novo presidente
e do seu ministério
se voltaram inicialmente
para outros problemas do
Brasil e os Decretos-Leis
de criação da Chesf ficaram
amarelando, adormecidos
em algum arquivo do Palácio
Presidencial por mais de
dois anos.
Presidente Dutra e grande comitiva em
visita à Cachoeira de Paulo Afonso (matéria
de O CRUZEIRO de 12/07/1947)
Em julho de 1947, o Presidente
Dutra e grande comitiva,
ministros, militares,
governadores, visitaram a Cachoeira
de Paulo Afonso e a
visita mereceu grande cobertura
jornalística, em várias páginas
da revista O CRUZEI-
RO datada de 12/07/1947.
Nessa reportagem, escrita
por Theófilo de Andrade
e com fotografias de Ângelo
Regato, o título – ENERGIA
PARA O NORDESTE - não
deixava nenhuma dúvida
sobre o propósito da visita
do Presidente Dutra e desta
grande comitiva à região.
No canto de uma página
dupla da revista com uma
foto da Cachoeira de Paulo
Afonso ocupando todo o espaço
das duas páginas, um
pequeno box traz esta nota:
608.000 CAVALOS! – Salto
principal da cachoeira
de Paulo Afonso que, aproveitada
industrialmente,
poderá fornecer 608.000
cavalos ao Nordeste, desde
a Bahia à Paraíba.
Em outra página a revista
traz a seguinte legenda abaixo
da foto da placa da visita
do Imperador D. Pedro II,
em 20 de outubro de 1859:
Revista O CRUZEIRO, 12 de julho de 1947
DOIS CHEFES DE ES-
TADO em Paulo Afonso.
Há quase 90 anos, visitou a
Cachoeira de Paulo Afonso
o Imperador D. Pedro II.
Foi o primeiro governante
do Brasil que ali pôs os
pés. – o segundo, quase cem
anos depois, foi o presidente
Eurico Dutra, conclamando
os brasileiros a dar uma solução
ao grande problema.
Oito meses depois dessa
visita, em 15 de março de
1948, o Presidente Dutra nomeia
e empossa a primeira
diretoria da Chesf formada
pelos engenheiros Antônio
José Alves de Souza – Presidente;
Adozindo Magalhães
de Oliveira – Diretor Administrativo;
Octávio Marcondes
Ferraz – Diretor Técnico
e Carlos Berenhauser Júnior
– Diretor Comercial.
O primeiro presidente da
Chesf já trabalhava na Divisão
de Águas do Ministério da
Agricultura há anos e em outras
oportunidades já tinha estado
na região fazendo estudos
sobre o rio São Francisco.
A partir da criação da
Chesf começou a grande
epopeia para se construir a
primeira usina hidrelétrica
de grande porte no Nordeste,
aproveitando-se a ideia
do cearense Delmiro Gouveia
que, há 35 anos passados
havia inaugurado a Usina Angiquinho,
na margem alagoana
do rio São Francisco, de
propriedade Cia. Agro Fabril
Mercantil S.A de Delmiro
Gouveia – AL e definitivamente
comprada pela Chesf
em 31 de outubro de 1957.
Os técnicos da Chesf optaram
em construir a Usina de
Paulo Afonso na margem baiana
do rio onde existiam terras
do povoado Forquilha, de poucas
casas esparsas, sendo a
Usina Hidrelétrica inaugurada
em 15 de janeiro de 1955.
Construir a 1ª Usina de
Paulo Afonso foi, de fato, uma
grande epopeia. Tudo no entorno
dos canteiros de obras
para se construir a Usina hidrelétrica,
a barragem Delmiro
Gouveia e todo o acampamento
da Chesf, chamado de
Cidade da Chesf, com mais
de 2 mil casas residenciais,
escolas, clubes sociais, hospital,
igreja, escritórios, era um
imenso deserto forrado pela
vegetação miúda da caatinga.
Da esquerda: Engenheiro Adozindo Magalhães de Oliveira - Diretor Administrativo;
Carlos Berenhauser Júnior - Diretor Comercial; Antônio José Alves de Souza - Presidente
e Octávio Marcondes Ferraz - Diretor Técnico.
O autor com o Engº Bret Cerqueira Lima
Tão inóspita era a região
que os primeiros técnicos
e engenheiros precisavam
ficar hospedados em Delmiro
Gouveia e trabalhar
em Paulo Afonso, cerca de
40 quilômetros distante.
Um destes foi o Engenheiro
Bret Cerqueira Lima que
me disse em um vídeo que
fiz com ele: - Isso aqui era
só mato, mato, caatinga braba.
Eu e outros engenheiros
ficávamos hospedados em
Delmiro Gouveia. Esta região
do hoje Bairro General
Dutra, na Chesf, onde fica o
CPA, a Casa da Diretoria da
Chesf, era chamada de Peito
de Moça...
Outro pioneiro de Paulo
Afonso, Engenheiro Luiz
Fernando Motta Nascimento,
que chegou a Forquilha
ainda quando da construção
da Usina Piloto em 1946,
acompanhando seu pai, o
Mestre Alfredo, eletricista
contratado para trabalhar
nesta Usina, foi estudante do
Ginásio Paulo Afonso, concluinte
de 1958 e depois de
formar-se em Engenharia foi
duas vezes diretor da Chesf
– da Diretoria de Suprimento
e da Diretoria de Construção.
Autor do livro Paulo
Afonso – Luz e Força Movendo
o Nordeste e de vários
documentários e publicações
da Memória da Eletricidade
tem muitas histórias sobre
esse sofrido começo, inclusive
sobre a construção da cerca
de arame farpada, trocada
depois por um muro de mais
de um quilômetro separando
a área da Chesf do Povoado
Forquilha:
- “Para a definição da área
limite da Chesf e a segurança
dos seus escritórios e moradias
do Acampamento da
Chesf, a Diretoria da Chesf,
atendendo a sugestão do Consultor
Jurídico Afrânio de
Carvalho, cercou as áreas do
Acampamento e das Obras”.
Luiz Fernando Motta Nascimento e seu
livro sobre Paulo Afonso
Todas as ações da Chesf
para construir esta primeira
usina e, depois várias outras,
se revestiram de trabalho excepcional
de nordestinos rudes,
a maioria sem nenhum
conhecimento técnico, tanto
que a Chesf precisou estabelecer
um convênio com
o SENAI e criar, paralelamente
à suas escolas para
as crianças, uma escola profissionalizante
para formar
parte da mão de obra que
precisava, além de cuidar de
alfabetizar muitos deles em
horários noturnos...
Guaritas da Chesf em 1950
Operários da Chesf, “cassacos” cavando
túnel para a instalação da 1ª Usina de
Paulo Afonso
E foram esses homens
rudes, nordestinos que vieram
das terras castigadas
pela seca, que construíram a
maior empresa do Nordeste.
Para isso, não mediam
nenhum esforço, viravam as
noites e madrugadas, enfurnavam-se,
sem camisas, nos
túneis que iam sendo abertos
com dinamite, e por isso ganharam
o apelido de cassacos.
Operários da Chesf, “cassacos” cavando
túnel para a instalação da 1ª Usina de
Paulo Afonso
As fotos da época, quando
não havia nenhuma legislação
ou normas sobre uso de
equipamentos de proteção,
mostram homens sem camisa,
suando forte, no calor dos
túneis e no clima nordestino,
preparando tudo para que, a
80 metros de profundidade
nos paredões de granito, fossem
criadas as condições para
que se instalassem os grandes
geradores de energia hidroelétrica
para que o Nordeste brasileiro
saísse da condição de
grande miséria em que vivia.
Os estudos sobre a região
a equiparavam com os piores
índices de desenvolvimento
humano dos países
mais pobres da África.
Daí ter dito certa vez e repetido
sempre que se faz necessário
que o Nordeste brasileiro
tem dois grandes capítulos em
sua história: o Nordeste A/C
(antes da Chesf) e o Nordeste
D/C (depois da Chesf).
Presidente Café Filho inaugura a 1ª
Usina de Paulo Afonso em 15 de janeiro
de 1955.
A primeira Usina da
Chesf foi inaugurada em 15
de janeiro de 1955, pelo presidente
da República, João
Café Filho, nordestino do
Rio Grande do Norte.