CAPOEIRA - Jornalismo da UFV
CAPOEIRA - Jornalismo da UFV
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MURILO DA LUZ<br />
<strong>CAPOEIRA</strong><br />
Jogo, Cultura e Educação<br />
Viçosa – MG<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
2011<br />
1
MURILO DA LUZ<br />
<strong>CAPOEIRA</strong><br />
Jogo, Cultura e Educação<br />
Projeto Experimental apresentado ao Curso de<br />
Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Federal de Viçosa, como requisito parcial para obtenção<br />
do título de Bacharel em <strong>Jornalismo</strong>.<br />
Orientadora: Soraya Maria Ferreira Vieira<br />
Viçosa – MG<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
2011<br />
2
Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa<br />
Departamento de Comunicação Social<br />
Curso de Comunicação Social / <strong>Jornalismo</strong><br />
Projeto Experimental intitulado Capoeira – Jogo, Cultura e Educação, de autoria do<br />
estu<strong>da</strong>nte Murilo <strong>da</strong> Luz, submetido à banca examinadora constituí<strong>da</strong> pelos seguintes<br />
professores:<br />
_______________________________________________________<br />
Profa. Dra. Soraya Maria Ferreira Vieira. Orientadora.<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>.<br />
_______________________________________________________<br />
Prof. Ms. Maurício de Medeiros Caleiro.<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>.<br />
________________________________________________________<br />
Le<strong>da</strong> Pasta<br />
Editora Executiva do Programa Bem-Estar, <strong>da</strong> Rede Globo.<br />
Viçosa, 17 de novembro de 2011<br />
3
4<br />
Agradeço primeiramente aos meus pais,<br />
que são os principais responsáveis por eu estar concluindo esta etapa <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>, por terem<br />
me <strong>da</strong>do sempre liber<strong>da</strong>de para eu tomar minhas decisões, Aos meus irmãos, que são os<br />
melhores irmãos do mundo. A minha madrinha Aurora, pelo apoio de sempre, e a to<strong>da</strong> a<br />
minha família e amigos de Rio Preto, que de alguma forma contribuíram para minha<br />
formação.<br />
Aos meus irmãos de República Arequipa<br />
Robertinho, Lucão, Baby, Calango, Cigano e aos meus irmãos de Viçosa Diego, Sukita,<br />
Ludog, Diogo, Pinheiro, Xandinho, Conrado, Daniel, Assa-fay. A minha namora<strong>da</strong> Isabela,<br />
que esteve sempre ao meu lado e teve que me agüentar por um ano falando todo dia de<br />
capoeira. Aos amigos e amigas <strong>da</strong> COM 08, a melhor turma que existe, e aos outros amigos<br />
de Viçosa, que são muitos para serem citados.<br />
A to<strong>da</strong> equipe <strong>da</strong> TV Viçosa,<br />
onde passei dois anos e aprendi muito com todos. Aos repórteres, a todos que passaram pelo<br />
Núcleo de Produção, a todos os funcionários, que sempre me ofereceram estrutura e suporte<br />
técnico. Especialmente a Luís Neno, Felipe Menicucci, Marcel Ângelo, Pedromar e Gato, que<br />
foram ensinadores e grandes companheiros.<br />
À professora Soraya,<br />
que me colocou no caminho certo quando eu estava perdido, me deu liber<strong>da</strong>de para criar e<br />
confiou no meu projeto. Foi muito mais do que uma orientadora pra mim.<br />
Por fim, a todos os entrevistados,<br />
que foram sempre muito prestativos e além de fontes, me auxiliaram muito na execução do<br />
projeto. Especialmente ao Contramestre Veiza<strong>da</strong> e ao Professor Vitinho, que me mostraram<br />
os caminhos e me aju<strong>da</strong>ram de to<strong>da</strong>s as formas possíveis.
RESUMO:<br />
Esse vídeo documentário, produzido como Trabalho de Conclusão de Curso do curso de<br />
Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, pretende mostrar os<br />
diversos campos de conhecimento propiciados pela capoeira e como essa prática pode<br />
contribuir para a educação e cultura de crianças e adolescentes, através de projetos sociais.<br />
Para isso, o documentário traz a história, o desenvolvimento e as perspectivas <strong>da</strong> capoeira,<br />
focando a microrregião de Viçosa como local de realização do trabalho.<br />
PALAVRAS-CHAVE:<br />
Documentário; Capoeira; Cultura Popular; Educação; Viçosa.<br />
ABSTRACT:<br />
This video documentary, produced as Completion of Course Work in the Social<br />
Communication/ Journalism from the Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa ,want to show the<br />
many areas of knowledge offered by capoeira and how this practice can contribute to the<br />
education and culture of childrens and teenagers, trough social projects. To this, the<br />
documentary brings the history, the development and the capoeira’s perspectives, focusing<br />
on the micro region of Viçosa as the local of work realization.<br />
WORD KEYS:<br />
Documentary; Capoeira; Popular Culture; Education; Viçosa<br />
5
“Porque se a vi<strong>da</strong> se transforma em arte o mundo mu<strong>da</strong>.<br />
6<br />
“E mu<strong>da</strong>r o mundo é a grande utopia.”<br />
(Luiz Alberto de Abreu)
SUMÁRIO<br />
CAPÍTULO 01 – <strong>CAPOEIRA</strong>: CULTURA POPULAR E EDUCAÇÃO<br />
1.1 Dos Quilombos à Viçosa.......................................................................................................8<br />
1.2 O conhecimento popular contribuindo para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.....................................................10<br />
CAPÍTULO 02 – O DOCUMENTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE DIVULGAÇÃO<br />
DAS DIVERSAS FORMAS DE CONHECIMENTO PROPICIADAS PELA<br />
<strong>CAPOEIRA</strong><br />
2.1 Documentário e <strong>Jornalismo</strong>................................................................................................13<br />
2.2 O documentário como transmissão de conhecimento e formação......................................14<br />
CAPÍTULO 03 - METEDOLOGIA E RELATÓRIO TÉCNICO<br />
3.1 Pré Produção.......................................................................................................................17<br />
3.2 Produção e Entrevistas........................................................................................................21<br />
3.3 Pós-Produção......................................................................................................................25<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 28<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 29<br />
ANEXOS................................................................................................................................. 30<br />
7
CAPÍTULO 01 – <strong>CAPOEIRA</strong>: CULTURA POPULAR E EDUCAÇÃO<br />
1.1 Dos quilombos à Viçosa<br />
A capoeira é uma forma de expressão cultural cujo nascimento ocorre no Brasil na<br />
época em que os colonizadores portugueses começaram a man<strong>da</strong>r escravos africanos para<br />
trabalhar em terras brasileiras. Com a obrigação de trabalho forçado, freqüentemente existiam<br />
revoltas de escravos, que então criaram os quilombos, locais onde esses negros fugidos de<br />
seus senhores se refugiavam, ou seja, além de abrigo, era o lugar em que deveriam se<br />
organizar contra possíveis ataques, uma vez que eram rebelados. Esse foi, portanto, o grande<br />
incentivo para se chegar à capoeira, uma luta que se disfarça de <strong>da</strong>nça e que carrega tantos<br />
significados com ela. A prática, por conseqüência, tem seu primeiro registro como luta de<br />
combate, sendo a arma dos negros que buscavam a liber<strong>da</strong>de.<br />
É visto, então, que a capoeira nasce entrelaça<strong>da</strong> com acontecimentos históricos muito<br />
significativos para o país, como a época <strong>da</strong> escravidão. E essa ligação continua quando a<br />
capoeira começa a se proliferar por diversas partes do país. Isso acontece devido ao episódio<br />
histórico em que a corte portuguesa mu<strong>da</strong>-se para o Brasil, o que levou a criação de ci<strong>da</strong>des e,<br />
por conseqüência, levou também os escravos além <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s. Dessa forma, a urbanização<br />
do país levou consigo a capoeira para demais lugares.<br />
A capoeira continuou se desenvolvendo e fazendo parte de uma rica cultura que<br />
envolve traços africanos e tem a característica de se miscigenar por ca<strong>da</strong> lugar onde passa.<br />
Após a abolição <strong>da</strong> escravatura, os negros continuaram sendo marginalizados na socie<strong>da</strong>de e a<br />
capoeira estigmatiza<strong>da</strong>, tratando com perseguição àqueles que a praticavam.<br />
No entanto, o futuro <strong>da</strong> prática não foi prejudicado por essa perseguição, pelo<br />
contrário, talvez essa discriminação tenha somado para que a arte se tornasse mais completa.<br />
Apenas séculos mais tarde, com a grande colaboração de Mestre Pastinha e Mestre Bimba,<br />
duas grandes figuras <strong>da</strong> capoeira na Bahia, fez com que esta deixasse de ser proibi<strong>da</strong> pelas leis<br />
do país e ganhasse status de elemento cultural. Isso só foi possível porque o regime de<br />
Getúlio Vargas e sua forma de governo, que se baseava em um nacionalismo exacerbado,<br />
acabaram sendo proveitosos, pois se passou a pensar a cultura popular brasileira de uma nova<br />
forma.<br />
8
A capoeira foi utiliza<strong>da</strong> pelo Estado Novo e pelo regime de 68 como um dos<br />
símbolos <strong>da</strong> pátria, com o objetivo de criar uma ideologia nacional. Ao mesmo<br />
tempo, contudo, o capoeirista se apropriou desse discurso e se transformou no<br />
detentor de um saber que, de desprezado e discriminado, passou a único e precioso.<br />
(BREDA, 2005, p.7)<br />
Mestre Bimba tem grande mérito, pois ele mudou os rumos <strong>da</strong> capoeira. Em 1937 ele<br />
criou o Centro de Cultura Física e Luta Regional, a<strong>da</strong>ptando regras para que a capoeira<br />
deixasse o seu aspecto de malandragem e de oposição a um sistema de outrora para se tornar<br />
uma ativi<strong>da</strong>de pratica<strong>da</strong> em academia. Isso aconteceu porque Bimba disfarçou a capoeira de<br />
luta, fez exibições e acabou por conseguir o aceite do governo, que tirou a prática do código<br />
penal.<br />
Mestre Pastinha, assim como Bimba, foi um grande educador. Ele é um principal<br />
nome <strong>da</strong> capoeira de angola. No entanto, apesar do respeito, existiu um desacordo em relação<br />
à criação <strong>da</strong> Luta Regional, pois os capoeiristas de angola entendiam que era negativo para a<br />
preservação <strong>da</strong>s tradições.<br />
A capoeira Angola guar<strong>da</strong> as tradições e Mestre Pastinha tratava a capoeira como uma<br />
grande brincadeira, sem que isso a impedisse de ser uma luta eficiente. Ele sempre trabalhou<br />
muito contra a violência. “Nossos movimentos não têm pressa de chegar, mas quando chegam<br />
é de forma harmoniosa. É um diálogo de corpos, eu venço quando o meu parceiro não tem<br />
mais respostas para as minhas perguntas. (VIEIRA, 1997, apud MELLO, 2002, p.06)<br />
No entanto, os adeptos <strong>da</strong> capoeira regional acreditam que a transformação foi<br />
necessária, pois foi ela que trouxe o aspecto de luta de combate, que, segundo os praticantes,<br />
foi essencial para que ela se mantivesse como parte <strong>da</strong> cultura nacional. Dessa forma, a<br />
capoeira transformou-se e atualmente é também ensina<strong>da</strong> como esporte de academia, mas isso<br />
não faz com que ela se torne uma prática esportiva, porque ela tem uma complexi<strong>da</strong>de muito<br />
maior. Quem vive essa tradição não a deixa acabar e uma maneira disso acontecer, por<br />
exemplo, é a criação de projetos sociais.<br />
Essa nova maneira de se tratar a capoeira pode ser inseri<strong>da</strong> inclusive no contexto <strong>da</strong><br />
educação atual, à medi<strong>da</strong> que o velho estigma feito aos adeptos <strong>da</strong> capoeira diminuiu, fazendo<br />
com que os ensinamentos possam abranger ca<strong>da</strong> vez mais lugares, algo que anteriormente a<br />
esse processo não poderia ser sequer pensado.<br />
9
No Brasil, existem vários grupos de capoeira que fazem trabalhos com comuni<strong>da</strong>des.<br />
Dessa forma, essa expressão cultural ganha força e consegue permanecer com seus ideais,<br />
agregando conhecimento de uma maneira lúdica e que traz benefícios múltiplos para quem<br />
pratica e estu<strong>da</strong> a arte. Com isso, o nosso objetivo é realizar um trabalho de conclusão de<br />
curso em forma de documentário que contemple esse fator histórico <strong>da</strong> capoeira, para que se<br />
possa entender como a prática é passa<strong>da</strong> atualmente e, portanto, como ela pode acrescentar na<br />
vi<strong>da</strong> de muitas pessoas, principalmente quando é volta<strong>da</strong> a população mais carente, cuja<br />
identificação com a cultura popular é mais forte.<br />
Dos quilombos até Viçosa, local escolhido para a realização do documentário<br />
“Capoeira – Jogo, Cultura e Educação”, a capoeira teve muitas mu<strong>da</strong>nças, mas seus<br />
ensinamentos que outrora tinham a função de defesa e também de resgate de origens,<br />
atualmente se mostram como forma de inclusão social e educação por métodos diferentes dos<br />
tradicionais, ressaltando to<strong>da</strong>s as características dessa prática que é vivencia<strong>da</strong> nas próprias<br />
comuni<strong>da</strong>des escolares como também na microrregião de Viçosa. A meta é mostrar através<br />
do documentário como a capoeira é uma ativi<strong>da</strong>de complexa e consegue possibilitar<br />
conhecimento em diversas áreas, como a música, a <strong>da</strong>nça, a luta, a arte e o esporte, essenciais<br />
na formação de um ci<strong>da</strong>dão, além de mostrar como esse trabalho tem sido feito atualmente e<br />
fatores que podem colaborar para o futuro <strong>da</strong> capoeira.<br />
1.2 O conhecimento popular contribuindo para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
A capoeira, pela sua história e pela sua missão, é vista como um instrumento de<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, tendo em vista as diversas características formadoras <strong>da</strong> prática, que é vista como<br />
um importante elemento <strong>da</strong> cultura popular brasileira. Esses elementos têm como função<br />
carregar uma forte ligação com identi<strong>da</strong>de. Dessa forma, faz-se a partir de uma integração de<br />
pessoas em uma região qualquer, que juntas criam valores que formam seus costumes,<br />
hábitos, linguagem e conhecimentos, mas isso só acontece devido à miscigenação de culturas.<br />
“O homem come, dorme, trabalha e faz política, reproduz-se, faz guerra e faz amor, mas o que<br />
dá graça à sua vi<strong>da</strong> é a cultura. E o que dá graça à cultura é a diversi<strong>da</strong>de.” (BRANT, 2005,<br />
p.13)<br />
As pessoas vêem, então, na cultura popular uma forma de se sentirem inseri<strong>da</strong>s em um<br />
contexto, uma forma de terem relações sociais com seus semelhantes, ou seja, de inclusão.<br />
10
Esses saberes não são transmitidos pela escola, são transmitidos pela comuni<strong>da</strong>de, pois a<br />
comuni<strong>da</strong>de é um fator essencial para a preservação <strong>da</strong> cultura popular, uma vez que ela<br />
aproxima as pessoas de um mesmo universo, <strong>da</strong>ndo segurança e passando uma idéia de<br />
identificação com seu meio.<br />
A cultura popular pode ter seu ensinamento passado para uma parcela muito maior de<br />
pessoas por meio desse processo, como já é feito entre membros de uma comuni<strong>da</strong>de, por<br />
exemplo, pois nesse momento ela se revitaliza em várias partes do mundo, e, por<br />
conseqüência, vem “revitalizando também as possibili<strong>da</strong>des de se pensar e agir sobre os<br />
processos de educação vigentes em nossa socie<strong>da</strong>de, a partir de outros ângulos e outras<br />
possibili<strong>da</strong>des.” (ABIB, 2006, p.64)<br />
No entanto, existe uma barreira a ser quebra<strong>da</strong>, principalmente em relação à capoeira,<br />
que é a negação do conhecimento popular pelo ensino formal, embora nos últimos anos<br />
tenham ocorrido, com a globalização, uma nova forma de pensar a educação, mas essa<br />
transformação e apoio necessário embora tenham crescido ain<strong>da</strong> não conseguem atingir seus<br />
objetivos, algo que só pode ser contemplado através de estudos relacionados à formação<br />
humanística e a capoeira. Contudo, um indicativo de que a inserção <strong>da</strong> capoeira no contexto<br />
<strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de está em ascensão é, mesmo com falta de apoio, o aumento <strong>da</strong> prática em<br />
academias do Brasil e também do exterior, devido à a<strong>da</strong>ptação constante dessa expressão<br />
cultural como forma de se agregar conhecimento.<br />
Com o passar do tempo, a cultura negra <strong>da</strong> capoeira se incorporou à socie<strong>da</strong>de e<br />
passou a influenciar a <strong>da</strong>nça, as artes marciais, o esporte, a música e a literatura. Em<br />
contraparti<strong>da</strong>, sofreu influências e absorveu modificações que a descaracterizaram,<br />
transmutando-a em bem de consumo, regra<strong>da</strong> e institucionaliza<strong>da</strong>. Não era mais o<br />
malandro a “vadiar” sua brincadeira na rua, entre a cachaça e a prostituta, e sim o<br />
atleta numa academia treinando seu esporte. (BREDA, 2005, p.7)<br />
Sendo assim, “sua crescente desportivização, sua inserção no contexto educacional e a<br />
grande investigação acadêmica, têm levado esta manifestação a ganhar, ca<strong>da</strong> vez mais,<br />
espaços institucionais” (MELLO, 2002, p.1). Isso se deve ao fato <strong>da</strong> capoeira ser uma forma<br />
de estudo <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> população brasileira, estando diretamente liga<strong>da</strong> a história do país.<br />
Juntamente ao aspecto educacional, temos presente na capoeira a questão de inclusão<br />
social, já que numa ro<strong>da</strong> funções são dividi<strong>da</strong>s e existe uma harmonia total entre praticantes.<br />
É visto, portanto, algo em comum que aproxima as pessoas.<br />
11
A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre seus membros, a cooperação em ativi<strong>da</strong>des de mobilização do<br />
grupo, que vai de mutirões para construção <strong>da</strong> sede até realização de eventos<br />
envolvendo outros grupos, além de uma relação de irman<strong>da</strong>de desenvolvi<strong>da</strong> pelos<br />
capoeiras de um mesmo grupo, são exemplos de como o sentido de comuni<strong>da</strong>de está<br />
presente nesses espaços (ABIB, 2006, p.63)<br />
Isso se deve a força de um elemento de cultura popular, cujo contexto social é próximo<br />
ao <strong>da</strong>s pessoas excluí<strong>da</strong>s socialmente.<br />
O universo <strong>da</strong> cultura popular, enquanto um campo extremamente rico e<br />
diversificado, em que a orali<strong>da</strong>de e a rituali<strong>da</strong>de abrigam saberes dos mais<br />
significativos, remete a to<strong>da</strong> uma ancestrali<strong>da</strong>de onde residem aspectos<br />
importantíssimos relacionados à “história não conta<strong>da</strong>” dos derrotados, aos<br />
processos identitários <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s subalternas <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de, ao ethos do povo<br />
oprimido, enfim, à cultura dos excluídos do nosso país. (ABIB, 2006, p.65)<br />
Portanto, essa força que tem a capoeira <strong>da</strong><strong>da</strong> sua história que carrega, <strong>da</strong> tradição, só<br />
tem a somar para a socie<strong>da</strong>de, caso seja coloca<strong>da</strong> como meio de inclusão, enriquecendo<br />
culturalmente a educação, sobretudo <strong>da</strong>s populações mais carentes.<br />
12
CAPÍTULO 02 – O DOCUMENTÁRIO COMO INSTRUMENTO DE DIVULGAÇÃO<br />
DAS DIVERSAS FORMAS DE CONHECIMENTO PROPICIADAS PELA<br />
<strong>CAPOEIRA</strong><br />
2.1 Documentário e jornalismo<br />
O documentário é um gênero audiovisual que se aproxima amplamente do jornalismo<br />
por se tratar de um veículo que retrata a reali<strong>da</strong>de, com objetivi<strong>da</strong>de. Nesse ponto ele se<br />
distancia <strong>da</strong> narrativa ficcional do cinema, em que o diretor tem a liber<strong>da</strong>de de criar seu<br />
próprio referencial, ain<strong>da</strong> que existam exceções, uma vez que diretores de filmes possam<br />
utilizar imagens reais e o diretor do documentário também tem a possibili<strong>da</strong>de de incluir<br />
simulações e atuações fictícias para compor sua produção. (MELO, 2002)<br />
Por outro lado, existe o distanciamento <strong>da</strong> prática jornalística, devido à parciali<strong>da</strong>de,<br />
sobretudo no tratamento dos fatos ao representá-lo. No documentário, o diretor pode assumir<br />
o seu referencial, seu ponto de vista, sem que isso comprometa a objetivi<strong>da</strong>de ou distorça os<br />
objetivos.<br />
Ao contrário do que ocorre com os gêneros jornalísticos, a parciali<strong>da</strong>de é bem vin<strong>da</strong><br />
no documentário. Por isso afirmamos que o documentário não é um gênero<br />
propriamente jornalístico. Enquanto o jornalismo busca um efeito de objetivi<strong>da</strong>de ao<br />
transmitir as informações, no documentário predomina um efeito de subjetivi<strong>da</strong>de,<br />
evidenciado por uma maneira particular do autor/diretor contar a sua história. Este<br />
gênero é fortemente marcado pelo “olhar” do diretor sobre seu objeto. O<br />
documentarista não precisa camuflar a sua própria subjetivi<strong>da</strong>de ao narrar um fato.<br />
Ele pode opinar, tomar partido, se expor, deixando claro para o espectador qual o<br />
ponto de vista que defende. Esse privilégio não é concedido ao repórter sob pena de<br />
ser considerado parcial, tendencioso e, em última instância, de manipular a notícia.<br />
(MELO, 2002, p.7)<br />
No documentário, cabe ao diretor construir os depoimentos para que sua história<br />
possa ser conta<strong>da</strong>. A partir dessa concepção, é possível que se façam descobertas que fogem<br />
às perspectivas teóricas, pois está em jogo algo que Melo (2002) chama de “polifonia <strong>da</strong>s<br />
vozes”. Essa polifonia, no jornalismo, às vezes pode ser encara<strong>da</strong> como forma de<br />
manipulação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. No entanto, no documentário essa característica presente na<br />
montagem <strong>da</strong>s cenas que dá sentido à narrativa é utiliza<strong>da</strong> para revelar o ponto de vista do<br />
autor.<br />
13
(...) a costura de vozes caminha para que, ao final, o espectador chegue a um<br />
entendimento claro de qual é o posicionamento do documentarista sobre o tema<br />
retratado. Tudo é trabalhado para assinalar o ponto de vista do diretor. A síntese<br />
global revela-se no caráter autoral do gênero, traduzido pela relação estabeleci<strong>da</strong><br />
entre o ponto de vista e a maneira como a tese defendi<strong>da</strong> pelo documentarista se<br />
materializa no filme. (MELO, 2002, p.11)<br />
No entanto, a proximi<strong>da</strong>de ao jornalismo pode ser vista também no formato de como a<br />
notícia é passa<strong>da</strong> em ambos os casos. No jornalismo, a notícia tem que ser narra<strong>da</strong> de forma<br />
mais urgente. Ou seja, “o jornalismo, que pode ser entendido como a função humana de narrar<br />
a aventura humana para os humanos, tudo isso no calor <strong>da</strong> hora, ou seja, é sempre um<br />
discurso de um sujeito sobre um segundo sujeito (sua fonte ou seu personagem) para um<br />
terceiro sujeito, o público”. (BUCCI, 2004, apud SOUZA, 2006, p.5). No documentário,<br />
segundo Gustavo Souza, essa narrativa deve ir além.<br />
Um aspecto chave é a capaci<strong>da</strong>de do narrador de construir a sua história a partir de<br />
novos rearranjos, para que oralmente ela possa ser passa<strong>da</strong> adiante e absorvi<strong>da</strong> pelo<br />
ouvinte. Isso não implica, contudo, o acréscimo de novas informações na narrativa,<br />
mas sim a certeza de que ca<strong>da</strong> narrador preserve as suas marcas autorais. É nesse<br />
sentido que reside o aspecto artesanal <strong>da</strong> narrativa, porque ela é construí<strong>da</strong> por<br />
processos singulares, que ca<strong>da</strong> narrador carrega consigo. A mera reprodução de<br />
informações contribui apenas para o seu empobrecimento (SOUZA, 2006, p.5)<br />
No documentário Capoeira – Jogo, Cultura e Educação essas características são<br />
experimenta<strong>da</strong>s expressando o ponto de vista do diretor em relação à forma de divulgar essa<br />
manifestação cultural. O resultado dessa experiência de produção forma-se para o espectador,<br />
possibilitando-o conhecer ricos elementos <strong>da</strong> cultura popular brasileira, além de fatos<br />
históricos e aspectos <strong>da</strong> formação humanística, trazendo ao público a informação por meio<br />
dos entrevistados, para que eles tenham embasamento para novas discussões sobre a<br />
contribuição <strong>da</strong> capoeira como forma de conhecimento em diversos campos.<br />
2.2 O documentário como transmissão de conhecimento e formação<br />
Existem várias formas de se transmitir conhecimento, por meio dos livros, <strong>da</strong><br />
orali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> vivência em comuni<strong>da</strong>de. O documentário Capoeira – Jogo, Cultura e<br />
14
Educação tenta reafirmar essa tese, mostrando como os diversos conhecimentos que são<br />
carregados juntos com a capoeira são passados por gerações e é por isso que esse rico<br />
elemento <strong>da</strong> cultura popular, assim como os demais, não é esquecido. A documentação<br />
audiovisual tem o papel importante nessa busca pela transmissão de conhecimento, pois<br />
objetiva de maneira eficiente através do audiovisual formar a opinião <strong>da</strong>s pessoas sobre<br />
determinado assunto. Sua linguagem tem o poder de chegar ao público mais amplo, diferente<br />
do livro.<br />
O audiovisual é um meio ficaz e na mediação do processo de apropriação do<br />
conhecimento, porque comporta em sua composição vários elementos de linguagem<br />
que propiciam uma compreensão em vários níveis. Assim, podem facilmente<br />
desencadear associações que levam aos sentidos e aos signi ficados. (FONSECA,<br />
1998, apud FAGUNDES E ZANDONADE, 2003, p.42)<br />
Dessa forma, o documentário visa atingir várias cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população, podendo<br />
divulgar como a capoeira está inseri<strong>da</strong> em uma comuni<strong>da</strong>de. O vídeo como produto pode ser<br />
elemento no processo <strong>da</strong> quebra de preconceito que ain<strong>da</strong> é encontrado na população em<br />
relação à inserção de conhecimento popular, além de promover a formação humanística e<br />
inclusão social.<br />
Acreditamos que o meio audiovisual seria então o instrumento ideal para o debate<br />
sobre a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> capoeira como forma de conhecimento popular contribuindo para a<br />
educação, uma vez que a intenção principal do documentário é mostrar que a prática é um<br />
instrumento capaz de promover a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, além de ser portadora de conhecimento<br />
extremamente necessário para que se possa <strong>da</strong>r uma formação a quem precisa através <strong>da</strong><br />
valorização <strong>da</strong> própria cultura ali atuante e existente.<br />
(...) o vídeo documentário deve, além de estabelecer ligações entre os assuntos<br />
retratados e o mundo em que os espectadores estão inseridos, valorizar os indivíduos<br />
em suas potenciali<strong>da</strong>des e capaci<strong>da</strong>des de construção pessoal. Com isso, acredita-se<br />
que possa ser possível o surgimento de comuni<strong>da</strong>des valoriza<strong>da</strong>s, que acreditem na<br />
força <strong>da</strong> participação de todos em busca de um bem comum. (FAGUNDES E<br />
ZANDONADE, 2003, p.44)<br />
15
De acordo com Fagundes e Zandonade, cabe ao documentário levar às pessoas<br />
assuntos que não são vistos no cotidiano noticioso, pois “no jornalismo diário a prática<br />
profissional se volta para a transmissão dos fatos visíveis, meramente quantitativos e factuais,<br />
sem contestar os motivos que levaram ao fato” (FAGUNDES E ZANDONADE, 2003, p.32).<br />
Ou seja, ain<strong>da</strong> falta às televisões comerciais, devido à valorização ca<strong>da</strong> vez maior do tempo<br />
na grade de programação, espaço para se aprofun<strong>da</strong>r assuntos relacionados à formação<br />
humanística do público, o que aumenta a importância de se produzir documentários, que além<br />
de informativos, tenham fins educacionais, que possam desmistificar alguns temas que ain<strong>da</strong><br />
sofram preconceito, justamente pela sua origem popular.<br />
Tudo isso só salienta que o gênero audiovisual tem um papel fun<strong>da</strong>mental como<br />
instrumento de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, devido ao seu grau elevado de entendimento. Ressaltamos assim<br />
que nosso objetivo com o trabalho de conclusão de curso Capoeira – Jogo, Cultura e<br />
Educação é de fazer a divulgação dessa prática na região de Viçosa sobre seu conteúdo para<br />
fins sócio-educacionais, além de mostrar que a ci<strong>da</strong>de tem capaci<strong>da</strong>de para desenvolver<br />
projetos muito maiores.<br />
16
CAPÍTULO 03 – METODOLOGIA E RELATÓRIO TÉCNICO<br />
3.1 Pré-produção<br />
O tema do documentário foi escolhido devido a uma mesclagem de interesses: cultura<br />
popular, esportes e jornalismo audiovisual. Dessa forma, a escolha do formato documentário<br />
foi devi<strong>da</strong> a maior facili<strong>da</strong>de na divulgação de uma cultura popular como a capoeira que tem<br />
características como a orali<strong>da</strong>de na transmissão de conhecimento. Depois disso, veio o<br />
período de pesquisa e seleção de fontes, que junto com a proposta de filmagem são as divisões<br />
estabeleci<strong>da</strong>s na fase de pré-produção.<br />
a) Pesquisa<br />
O processo de pesquisa começou antes mesmo de saber que faria esse projeto<br />
experimental, quando fiz uma reportagem sobre uma ro<strong>da</strong> de capoeira de Viçosa para a<br />
disciplina de Telejornalismo e conheci o trabalho de alguns grupos de capoeira do município.<br />
Depois disso fui convi<strong>da</strong>do a participar de um batizado (nome <strong>da</strong>do ao ritual de troca de<br />
cor<strong>da</strong>s na capoeira) e descobri quantas crianças e adolescentes participam de projetos sociais<br />
na região e o auxílio que a prática tem na vi<strong>da</strong> dessas pessoas – a maioria vin<strong>da</strong> de<br />
comuni<strong>da</strong>des carentes.<br />
Quando decidi fazer o documentário, reuni uma bibliografia volta<strong>da</strong> para o lado<br />
educacional <strong>da</strong> capoeira, o primeiro objetivo era conseguir mostrar como essa arte poderia<br />
aju<strong>da</strong>r na vi<strong>da</strong> de muitas pessoas. Fiz um aprofun<strong>da</strong>mento nos conhecimentos <strong>da</strong> cultura<br />
popular brasileira para entender o processo de transimissão, sentimento de comuni<strong>da</strong>de e a<br />
aproximação que as comuni<strong>da</strong>des menos favoreci<strong>da</strong>s têm com essas manifestações culturais.<br />
Por fim, fiz uma pesquisa na história <strong>da</strong> capoeira alia<strong>da</strong> à história do Brasil,<br />
entendendo o desenvolvimento <strong>da</strong> capoeira no país. Além disso, a complexi<strong>da</strong>de que faz dessa<br />
prática estar inclusive cota<strong>da</strong> para entrar nos currículos escolares está baseado na sua força<br />
educacional. Além do material bibliográfico, dois documentários sobre os dois maiores<br />
mestres de capoeira (“Mestre Pastinha – Uma vi<strong>da</strong> pela Capoeira” e “Mestre Bimba – A<br />
Capoeira Ilumina<strong>da</strong>”) contribuíram muito para a pesquisa.<br />
17
) Seleção de Fontes<br />
A seleção de fontes foi feita basea<strong>da</strong> no primeiro contato que tive com o grupo que me<br />
convidou para o batizado, mais precisamente ao Professor Vitinho, que segundo o Mestre<br />
Fuinha, de Belo Horizonte, é referência na região de Viçosa pelo trabalho com projetos<br />
sociais. Então ele se tornou o primeiro personagem envolvido no documentário, pois além de<br />
fonte documental, também foi um colaborador para este projeto experimental.<br />
Professor Vitinho Contramestre Veiza<strong>da</strong><br />
O segundo nome veio por indicação do primeiro. O Contramestre Veiza<strong>da</strong> foi<br />
escolhido porque, além de trabalhar com projetos em prol <strong>da</strong> capoeira em comuni<strong>da</strong>des<br />
carentes, ele veio para Viçosa para fazer mestrado no Departamento de Educação <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
sobre a formação de profissionais que estão ensinando a capoeira como instrumento<br />
educacional. Além de fonte, Veiza<strong>da</strong> também foi importante na colaboração bibliográfica.<br />
Depois de ter dois personagens que estão à frente de trabalhos importantes na região<br />
de Viçosa, procurei por fontes que poderiam comprovar a força educacional, cultural e social<br />
<strong>da</strong> capoeira. Por meio <strong>da</strong> professora Patrícia Vargas, do Departamento de História <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>, eu<br />
encontrei a Historiadora e Secretária de Educação e Cultura de Brás Pires-MG Karla Leal Luz<br />
de Souza Santos, que tem no currículo pesquisas sobre capoeira, além de atuar em um cargo<br />
importante para o debate sobre o tema proposto.<br />
18
Karla Leal Marcelo Oliveira<br />
Mais duas fontes importantes para a composição do documentário foram os<br />
professores Marcelo Oliveira, professor de Antropologia do Departamento de Ciências<br />
Sociais <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>, especialista em Cultura Popular e Beto, professor de Psicologia do Esporte<br />
<strong>da</strong> UNIVIÇOSA, que por problemas de saúde acabou não participando <strong>da</strong>s gravações.<br />
Além dos professores, três crianças foram escolhi<strong>da</strong>s como personagens do<br />
documentário. A idéia era mostrar o lado de quem participa e está vivendo a capoeira em seu<br />
cotidiano, comprovando os aspectos positivos citados pelos profissionais. O critério de<br />
seleção foi dos professores, pois eles quiseram que os personagens fossem exemplos para os<br />
demais com a participação, então escolheram os mais experientes.<br />
Caio Vanessa Bruno<br />
19
A forma de contato inicial foi através de e-mail e telefone. Dessa maneira, pude saber<br />
<strong>da</strong>s especificações de ca<strong>da</strong> um, suas disponibili<strong>da</strong>des e assim fiz o agen<strong>da</strong>mento para uma<br />
primeira entrevista com ca<strong>da</strong> um.<br />
c) Proposta de Filmagem<br />
Depois de fazer a seleção de fontes, decidi fazer um pré-roteiro, organizando uma<br />
proposta de filmagem e o que seria abor<strong>da</strong>do com ca<strong>da</strong> fonte, além de uma primeira direção<br />
de imagens, para que a produção já começasse estabeleci<strong>da</strong>.<br />
Primeira Parte<br />
Pré- Roteiro<br />
Resgate Histórico – Depoimento sobre a o nascimento <strong>da</strong> capoeira, seu<br />
desenvolvimento e destaques que estão aliados à história do Brasil<br />
Fonte principal: Karla Leal – Historiadora e Secretária de Educação e Cultura de Brás<br />
Pires<br />
Imagens: <strong>da</strong>dos históricos colocados na tela, fotos antigas, ro<strong>da</strong> de capoeira<br />
Segun<strong>da</strong> Parte<br />
Passagem <strong>da</strong> história para a importância do conhecimento popular na formação de<br />
indivíduos - depoimentos cultura popular e entra<strong>da</strong> aos depoimentos de formação<br />
humanística<br />
Fontes principais: Karla Leal – Historiadora e Marcelo Oliveira – Antropólogo<br />
Imagens: Exercício de capoeira (mostrando elementos característicos como os<br />
instrumentos) introduzindo as imagens <strong>da</strong>s crianças praticando.<br />
Terceira Parte<br />
Desenvolvimento do documentário – depoimentos de crianças (personagens) que<br />
participam de projetos falando o que é a capoeira na vi<strong>da</strong> delas<br />
20
Nessa parte os depoimentos vão falar dos projetos sociais – como é feito o aprendizado<br />
(didática) mesclando com depoimentos sobre as formas de conhecimento que a<br />
capoeira proporciona e benefícios (antropologia, psicologia, música, exercício físico)<br />
Imagens: aulas de projetos com crianças<br />
Quarta Parte<br />
Final – depois de mostrar os benefícios causados com a capoeira, a questão final é<br />
como tratar a questão do incentivo à prática (apoio de prefeituras)<br />
Para concluir, a questão in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong> será: o que falta para a maior divulgação <strong>da</strong> capoeira<br />
e qual são as perspectivas de quem trabalha com ela?<br />
3.2 Produção e entrevistas<br />
O período de produção começou em agosto e foi bastante cansativo, pois como decidi<br />
fazer o documentário sozinho, tive que contar com as próprias fontes para a realização <strong>da</strong>s<br />
entrevistas. Apesar de um pré-roteiro estabelecido, a ca<strong>da</strong> conversa com os entrevistados<br />
surgiam novas idéias, que foram complementando o desenvolvimento do trabalho.<br />
Outra dificul<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> foi em relação ao transporte, já que na maioria <strong>da</strong>s vezes<br />
me desloquei sozinho até os locais de entrevistas com todo o equipamento, além de fazer to<strong>da</strong><br />
a montagem e execução durante as filmagens. O equipamento utilizado foi emprestado do<br />
curso de Comunicação Social e, por algumas vezes, devido à dificul<strong>da</strong>de de conciliar os<br />
horários agen<strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s entrevistas com a disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s câmeras, tive que emprestar<br />
equipamentos <strong>da</strong> TV Viçosa.<br />
Como a produção começou via e-mail, quando começaram primeiros encontros prégravação,<br />
os entrevistados já sabiam sobre a proposta do documentário, facilitando a<br />
conversa, apesar de sempre surgirem fatos inesperados.<br />
1º Encontro – 24.08.2011 – Academia Cordão de Ouro<br />
21
Na academia do Professor Vitinho, foi a primeira elaboração sobre o tema, já que<br />
como ele tem projetos que já foram apresentados em prefeituras <strong>da</strong> região que contemplam o<br />
meu tema de trabalho.<br />
Nesse dia, fui sem nenhum equipamento de gravação, com o objetivo apenas de<br />
acompanhar a ro<strong>da</strong> de capoeira, que me direcionaria para um roteiro mais elaborado de<br />
filmagens. Marquei já a <strong>da</strong>ta de gravação com o professor na própria academia, além de uma<br />
viagem para a ci<strong>da</strong>de de Coimbra-MG, onde ele dá aula em um projeto social há mais de<br />
cinco anos. O projeto beneficia mais de 100 crianças e tem apoio <strong>da</strong> Prefeitura Municipal de<br />
Coimbra-MG.<br />
2º Encontro – 05.09.2011 – ASAV<br />
Conheci pessoalmente nesse dia o Contramestre Veiza<strong>da</strong>, que é de Lorena-SP e veio<br />
para Viçosa com o objetivo de divulgar a capoeira na região, além de conseguir uma extensão<br />
com a Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, já que ele considera fun<strong>da</strong>mental o envolvimento<br />
desta com o crescimento <strong>da</strong> prática, principalmente se tratando do aspecto tratado no<br />
documentário.<br />
Fui com ele até a sede <strong>da</strong> ASAV – Associação dos Servidores <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>, que cede<br />
espaço para que ele ministre aulas para crianças e adolescentes carentes do Morro do<br />
Pintinho. Acompanhei durante to<strong>da</strong> a manhã e marquei uma <strong>da</strong>ta para que eu pudesse gravar e<br />
pedi a ele que indicasse uma criança para ser personagem do documentário.<br />
3º Encontro – 06.09.2011 – Departamento de Ciências Sociais<br />
Na terça-feira de manhã fui ao Departamento de Ciências Sociais e tive o primeiro<br />
contato pessoalmente com o professor Marcelo Oliveira. Expliquei o conteúdo do<br />
documentário e tive uma aula de cultura popular. Marquei a <strong>da</strong>ta de gravação com ele, que<br />
teve que ser adia<strong>da</strong> por motivo de viagem do mesmo.<br />
4º Encontro – 06.09.2011 – UNIVIÇOSA<br />
22
O professor Beto me pediu para ir até a UNIVIÇOSA para acompanhar um estágio de<br />
psicologia, para que entendesse um pouco do seu trabalho. Nesse dia, conversamos sobre a<br />
minha proposta e ele se mostrou interessado com a participação.<br />
Marcamos uma <strong>da</strong>ta para gravação em seu consultório, mas devido a vários<br />
compromissos <strong>da</strong> fonte essa <strong>da</strong>ta foi adiando e por problemas de saúde a participação do<br />
psicólogo acabou não acontecendo.<br />
5º Encontro – 16.09.2011 – Câmara Municipal de Viçosa<br />
A historiadora Karla Leal veio a uma reunião na Câmara de Viçosa sobre a criação de<br />
um projeto de cultura regional, pois ela exerce o cargo de secretária de Cultura e Educação e<br />
aproveitando a vin<strong>da</strong> dela marcamos uma conversa, já que a minha i<strong>da</strong> a Brás Pires-MG seria<br />
muito complica<strong>da</strong>, pois a ci<strong>da</strong>de tem um trajeto muito ruim para se fazer de ônibus.<br />
Ela trouxe para mim alguns materiais que me auxiliaram na parte teórica, além de me<br />
<strong>da</strong>r boas dicas, já que fez vários estudos nesse campo. Deixamos para marcar a gravação por<br />
telefone quando ela viesse novamente para Viçosa em alguma reunião de trabalho.<br />
6º Encontro – 21.09.2011 – Academia Cordão de Ouro<br />
Esse foi o primeiro dia de gravações. Realizei a entrevista com o professor Vitinho na<br />
academia onde ele dá as aulas, local do encontro anterior. Levei câmera, tripé, luz focal de<br />
LED e microfone de lapela. Apesar de contar com a aju<strong>da</strong> do meu amigo Thiago Mossato,<br />
encontrei as primeiras dificul<strong>da</strong>des em trabalhar desprovido de estrutura necessária. Também<br />
encontrei dificul<strong>da</strong>de com a falta de intimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fonte com a câmera.<br />
Nesse dia, também gravei imagens <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> de capoeira, com enquadramentos mais<br />
fechados, mostrando a ludici<strong>da</strong>de e alegria encontra<strong>da</strong>s num momento de ro<strong>da</strong>. Além disso,<br />
captei imagens dos instrumentos musicais característicos <strong>da</strong> capoeira: berimbau, pandeiro,<br />
atabaque.<br />
7º Encontro – 26.09.2011 – ASAV<br />
23
Nesse dia, fui até o Morro do Pintinho para captar imagens e tive a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> também<br />
estu<strong>da</strong>nte de Comunicação Social Isabela Zampier. Além de me auxiliar com iluminação e<br />
cinegrafia, foi também um aprendizado para ela. Gravei imagens de to<strong>da</strong> a aula ministra<strong>da</strong><br />
pelo Contramestre Veiza<strong>da</strong>, desde o aquecimento até a ro<strong>da</strong> característica. As crianças, já<br />
acostuma<strong>da</strong>s com a minha presença depois de um primeiro contato, estavam mais soltas e<br />
pude fazer um bom trabalho.<br />
Ao final do treino, coletei entrevistas com o professor e com Vanessa, a personagem<br />
que ele me indicou para participar <strong>da</strong>s filmagens. O resultado dessa vez foi bastante animador,<br />
apesar <strong>da</strong>s imagens um pouco prejudica<strong>da</strong>s pela iluminação excessiva do local.<br />
8º Encontro – 03.10.2011 – Coimbra-MG<br />
A i<strong>da</strong> à ci<strong>da</strong>de de Coimbra foi complica<strong>da</strong>, pois tive que pegar ônibus com todo<br />
equipamento e como precisava de mais tempo não pude contar com aju<strong>da</strong> de ninguém. Além<br />
disso, no local onde é realizado o projeto, a ilumação externa é excessiva. Esses fatos<br />
prejudicaram um pouco a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imagem, mas consegui gravar boas imagens de<br />
ângulos diferentes do outro projeto, para <strong>da</strong>r uma característica diferente a ca<strong>da</strong> um.<br />
Depois dos treinamentos, gravei depoimentos com dois personagens Caio e Bruno,<br />
que já são mais experientes no projeto. Eles também ficaram tímidos à câmera, mas foram<br />
naturais.<br />
9º Encontro – 04.10.2011 – Departamento de Ciências Sociais<br />
Na terça à tarde fui até o gabinete do professor Marcelo Oliveira para gravação <strong>da</strong><br />
entrevista. Sua participação foi uma aula de educação através de conhecimento popular. Nesse<br />
dia, não tive aju<strong>da</strong> para as filmagens, mas também não tive dificul<strong>da</strong>des, apenas com o<br />
transporte do equipamento.<br />
10º Encontro – 05.10.2011 – Centro de Vivência <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
A historiadora Karla Leal veio novamente à Viçosa e pudemos gravar seu depoimento.<br />
O local escolhido foi em frente ao Centro de Vivência <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>, pela facili<strong>da</strong>de de acesso <strong>da</strong><br />
24
entrevista<strong>da</strong> e pela beleza do ambiente. Senti falta apenas de um rebatedor de luz, pois estava<br />
sozinho e não pude fazer uso do equipamento.<br />
Devido à intimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fonte com o assunto, ela acabou se tornando o fio condutor <strong>da</strong><br />
sequência do documentário. Esse dia foi o encerramento de uma maratona de filmagens de<br />
três dias seguidos.<br />
3.3 Pós-Produção<br />
a) Edição e Animação<br />
To<strong>da</strong>s as imagens foram grava<strong>da</strong>s em fitas mini DV (Digital Videocassete) e<br />
captura<strong>da</strong>s na TV Viçosa. Fiz to<strong>da</strong>s as gravações no formato DV SP 720 x 480 60i 44.1kHz,<br />
no entanto, com uma troca de proporção de pixels, regulei a câmera para gravar com aspecto<br />
de vídeo widescreen 16:9. Depois de capturado, levei as gravações para casa com meu HD<br />
externo Samsung 500GB e fiz to<strong>da</strong> a edição no meu notebook Acer.<br />
O programa de edição utilizado no documentário foi o Grass Valley Canopus Edius<br />
6.3. A primeira parte <strong>da</strong> edição foi fazer os cortes em to<strong>da</strong>s as entrevistas, deixando apenas o<br />
que estivesse dentro do pré-roteiro. Até esse momento eu não sabia se precisaria de narração<br />
para interligar os pontos do documentário, o que só foi sabido na hora <strong>da</strong> montagem.<br />
No momento <strong>da</strong> montagem que surgiu a idéia de separar em pequenos capítulos,<br />
conseguindo criar uma dinâmica maior, separando os assuntos como um livro. Coloquei os<br />
depoimentos em sequência, já pensando nos clipes de imagens que viriam para intercalar com<br />
as falas.<br />
A trilha sonora foi pré-estabeleci<strong>da</strong>, trazendo musicas que relembrassem momentos<br />
históricos dos escravos até situações entre mestres e alunos, pois pude conhecer bastante <strong>da</strong>s<br />
músicas nos encontros que tive. Porém, durante a montagem, surgiram novas músicas que<br />
compunham as cenas, casando com o assunto tratado no capítulo e foi assim que surgiu a<br />
seleção final de trilha.<br />
Nos clipes musicais, tentei provar ao espectador o que estava sendo contado pelas<br />
fontes, trazendo imagens lúdicas de ro<strong>da</strong> de capoeira, de instrumentos musicais, de partes do<br />
treinamento. Nessas partes, usei filtros de cor e de áudio para aprimorar as imagens e corrigir<br />
25
alguns erros de iluminação causados pela falta de equipamento, além de filtros para causar<br />
efeito de filme antigo no começo do documentário.<br />
Usei filtros de vídeo, de maneira mais comedi<strong>da</strong>, também nas falas dos entrevistados,<br />
para melhorar cor, brilho e contraste. As transições de vídeo utiliza<strong>da</strong>s foram para suavizar os<br />
cortes, principalmente em trocas de capítulo e pré e pós-clipes.<br />
A arte de abertura, do GC e dos capítulos foi feita no programa Adobe Photoshop CS4<br />
e anima<strong>da</strong>s no programa Adobe After Effects CS4. Utilizei efeito de luz no background para<br />
compor o quadro, além de um berimbau transformado no programa de edição de arte. A fonte<br />
utiliza<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as artes foi a Abigail Regular e todos os movimentos foram feitos no<br />
programa de finalização.<br />
A concepção visual foi pensa<strong>da</strong> lembrando a simplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> capoeira, mas sem<br />
perder o tom de ludici<strong>da</strong>de. O quadro de abertura trouxe as letras formando uma ro<strong>da</strong>, assim<br />
como os grupos utilizam em seus brasões.<br />
b) Orçamento, Material e Cronograma<br />
Orçamento<br />
Descrição Valor<br />
4 fitas Mini DV (compra<strong>da</strong>s) R$ 60,00<br />
Passagem para Coimbra-MG (i<strong>da</strong> e volta) R$ 10,00<br />
Pilhas R$ 6,00<br />
Impressões e Papelaria R$ 30,00<br />
DVD’s R$ 10,00<br />
Material<br />
Quanti<strong>da</strong>de Descrição<br />
26
4 Fitas mini DV Sony 60 minutos (utiliza<strong>da</strong>s)<br />
1 Câmera de Vídeo Sony HVR-Z7 HDV<br />
1 Tripé para câmera de Vídeo<br />
2 Iluminador Focal de LED<br />
2 Microfone de lapela Sony<br />
4 Baterias Info-lithium<br />
1 Aparelho de captura Sony HDV HVR-M15AN<br />
1 Notebook Acer<br />
1 HD externo Samsung 500GB<br />
Cronograma<br />
Pesquisa e<br />
Pré-<br />
Produção<br />
Produção e<br />
gravação<br />
Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro<br />
X<br />
X<br />
X<br />
X X X<br />
Roteiro X X<br />
Edição X X<br />
Revisão e<br />
Apresentação<br />
27<br />
X
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O vídeo documentário Capoeira – Jogo, Cultura e Educação, na sua função de projeto<br />
experimental de Conclusão de Curso, teve um papel fun<strong>da</strong>mental na minha formação, não só<br />
como bacharel em <strong>Jornalismo</strong>, mas numa formação humanística, pois conseguiu me<br />
aproximar <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de social no exercício jornalístico. Durante a produção, pude<br />
mergulhar no universo <strong>da</strong>s manifestações culturais, além de estar diante de um público muito<br />
especial, que são os participantes dos projetos sociais de capoeira em Viçosa e na região.<br />
A escolha do gênero audiovisual proporcionou um resultado muito interessante, pois<br />
a transmissão <strong>da</strong> cultura popular brasileira é feita principalmente através <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de.<br />
Portanto, poder retratar a capoeira como resgate histórico, mas também trazendo o debate, é<br />
uma forma de contribuição para que o conhecimento de um povo não seja esquecido. Mais do<br />
que isso, é colocar em questão a maneira de se tratar essa cultura e repensar a educação no<br />
Brasil.<br />
Uma limitação no processo de expansão <strong>da</strong> capoeira na região de Viçosa e também<br />
em todo o Brasil é a resistência dos mestres, professores e praticantes. Ao mesmo tempo em<br />
que almejam divulgar a capoeira e conseguir mais projetos sociais que auxiliem a vi<strong>da</strong> de<br />
muitas pessoas, existe um medo muito grande em globalizar a arte, temendo a per<strong>da</strong> dos<br />
valores, sentidos e origens <strong>da</strong> própria capoeira. Essa é a grande barreira que a capoeira tem<br />
que atravessar e acreditamos que a forma de se conseguir divulgar e praticar ca<strong>da</strong> vez mais<br />
essa arte seria a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> capoeira na grade curricular <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des.<br />
Durante o período de produção, foi o que ficou constatado e o que se objetivou ter<br />
passado como mensagem. Com o farmato audiovisual, acreditamos ter conseguido colocar em<br />
prática o jornalismo que além de informar, desperta no espectador o senso crítico sobre o<br />
tema abor<strong>da</strong>do. Característica essa muito peculiar ao vídeo documentário, devido a sua<br />
linguagem clara e maior liber<strong>da</strong>de autoral.<br />
28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ABIB, Pedro Rodolpho Jungers. Cultura popular, educação e lazer: uma abor<strong>da</strong>gem sobre a capoeira e<br />
o samba. Práxis Educativa. Ponta Grossa, PR, v. 1, n. 1, p. 58-66, jan.-jun 2006.<br />
BRANT, Leonardo (org.). Diversi<strong>da</strong>de Cultural. Globalização e culturas locais: dimensões, efeitos e<br />
perspectivas. São Paulo: Escrituras Editora: Instituto Pensarte, 2005.<br />
BREDA, Omri. A capoeira como prática educativa transformadora. Portal Capoeira. Disponível em:<br />
Acessado em 28. Mar.<br />
2011<br />
FAGUNDES, Maria Cristina de Jesus. ZANDONADE, Vanessa. O vídeo documentário como<br />
instrumento de mobilização social. 2003. Monografia (Graduação em Comunicação Social com<br />
habilitação em <strong>Jornalismo</strong>) - Instituto Municipal Superior de Assis. Assis, SP, 2003<br />
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cultura corporal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA,<br />
ESPORTE, LAZER E DANÇA, VIII., 2002, Ponta Grossa, PR. As ciências sociais e a história <strong>da</strong><br />
educação física, esporte, lazer e <strong>da</strong>nça. Anais... Ponta Grossa, PR: Universi<strong>da</strong>de Estadual de Ponta<br />
Grossa, 2002.<br />
MELO, Cristina Vieira Teixeira de. O documentário como gênero audiovisual. In: XXV Congresso<br />
Anual em Ciência <strong>da</strong> Comunicação,2002, Salvador/BA. Disponível em www.intercom.org.br<br />
MWEWA, Christian Muleka. VAZ, Alexandre Fernandez. Corpo e indústria cultural: notas para<br />
compreensão <strong>da</strong> capoeira na socie<strong>da</strong>de contemporânea. Poiésis – Revista do programa de pósgraduação<br />
em educação – mestrado – universi<strong>da</strong>de do sul de santa Catarina – UNISUL, Tubarão.<br />
v.1, n. 2, p. 116 – 126, Jul./Dez. 2008.<br />
MESTRE BIMBA: A <strong>CAPOEIRA</strong> ILUMINADA (Luiz Fernando Goulart, Brasil, 2007)<br />
PALHARES, Leandro Ribeiro. SANTOS, Gilbert de Oliveira. A capoeira na formação docente de<br />
educação física. Pensar a Prática, Goiânia, v. 13, n. 3, p. 114, set./dez. 2010<br />
PENAFRIA, Manuela. O ponto de vista no filme documentário. Biblioteca on-line de ciências <strong>da</strong><br />
comunicação. Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Beira Interior. Departamento de Comunicação e Artes. 2001.<br />
Acessado em: www.bocc.ubi.pt<br />
PASTINHA! UMA VIDA PELA <strong>CAPOEIRA</strong> (Antônio Carlos Muricy, Brasil, 1998)<br />
SOUZA, Gustavo. Aproximações e divergências entre documentário e jornalismo. UNIrevista, Rio de<br />
Janeiro. Vol. 1, n° 3, p.1-8, jul. 2006.<br />
29
ANEXOS<br />
ROTEIRO DA VERSÃO FINAL<br />
Título: Capoeira - Jogo, Cultura e Educação<br />
Direção: Murilo <strong>da</strong> Luz<br />
Duração: 2_ minutos<br />
CLIPE INICIAL COM<br />
IMAGENS DE RODA<br />
DE<br />
<strong>CAPOEIRA</strong> COM<br />
EFEITOS DE PAUSA,<br />
DESTACANDO O<br />
TOQUE DO<br />
BERIMBAU<br />
ANIMAÇÃO COM<br />
TÍTULO DO<br />
DOCUMENTÁRIO:<br />
<strong>CAPOEIRA</strong> – JOGO,<br />
CULTURA E<br />
EDUCAÇÃO<br />
KARLA LEAL<br />
Trilha Sonora: “Paranauê” – Abadá Capoeira<br />
Trilha Sonora: “Paranauê” – Abadá Capoeira<br />
30<br />
FADE PARA<br />
FADE PARA<br />
A gente até hoje sabe duas coisas: Não conseguimos chegar<br />
de onde a capoeira veio. O que a gente acha primordial é que<br />
a gente acredita a partir de to<strong>da</strong>s essas leituras que a capoeira<br />
nasceu no Brasil. Ela tem a característica de ser uma<br />
manifestação cultural genuinamente brasileira. Em nenhum<br />
lugar do mundo... Ela foi leva<strong>da</strong> para a África pelos
CRÉDITOS INICIAIS<br />
SOB TRILHA<br />
SONORA<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
KARLA LEAL<br />
TRECHO SOBRE<br />
ARTE:<br />
“DIANTE DESSA<br />
SITUAÇÃO, OS<br />
NEGROS SE<br />
REVOLTARAM E,<br />
FORMANDO<br />
brasileiros e não trazi<strong>da</strong>. A capoeira em si, não alguns<br />
movimentos, mas a capoeira como ela é conheci<strong>da</strong> ela foi<br />
leva<strong>da</strong> para a África pelos brasileiros, mas ela é uma<br />
manifestação cultural nossa!<br />
Trilha Sonora: “Paranauê” – Abadá Capoeira<br />
31<br />
FADE PARA<br />
FADE PARA<br />
A história <strong>da</strong> capoeira faz parte <strong>da</strong> história do Brasil então<br />
preservar a capoeira, preservar essa cultura é preservar<br />
também a história do Brasil, a história dos excluídos do Brasil<br />
CORTA PARA<br />
A capoeira em si ela traz consigo essa característica de ser<br />
uma manifestação em que uma forma de resistência ao<br />
sistema que não preparou nenhum terreno para receber esse<br />
negro que foi abolido <strong>da</strong> escravidão. Ele foi abolido <strong>da</strong><br />
escravidão e jogado à própria sorte.<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala
GRUPOS,<br />
TENTARAM<br />
BUSCAR SEU<br />
ESPAÇO NA<br />
SOCIEDADE. COM<br />
MEDO DAS<br />
MANIFESTAÇÕES<br />
VIOLENTAS, O<br />
GOVERNO<br />
BRASILEIRO<br />
CONSIDEROU A<br />
PRÁTICA DA<br />
<strong>CAPOEIRA</strong> COMO<br />
CRIME”.<br />
KARLA LEAL<br />
IMAGENS DO<br />
CÓDIGO PENAL<br />
IMAGENS DE UM<br />
TRECHO DE<br />
REPORTAGEM DO<br />
JORNAL COMÉRCIO<br />
DE CAMPINAS<br />
TÍTULO - <strong>CAPOEIRA</strong><br />
COMO CULTURA:<br />
ESTRATÉGIA DE<br />
32<br />
FADE PARA<br />
E nesse momento foi criado o Código Penal de 1890. Esse<br />
código trouxe a capoeira como artigo. Ela foi inseri<strong>da</strong> no<br />
Código Penal dos Vadios e Capoeiras. Esse artigo trata de<br />
simplesmente a prática de movimentos denominados<br />
capoeiras era passível de ser preso por você estar em local<br />
público... Correrias, qualquer tipo de manifestação que<br />
incitasse a se pensar que tinha relações com a capoeira você<br />
seria preso por isso e teria punição de três meses a um ano e<br />
meio...<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala
GETÚLIO VARGAS FADE PARA<br />
KARLA LEAL<br />
TÍTULO - MESTRE<br />
BIMBA E MESTRE<br />
PASTINHA: OS<br />
PRIMEIROS<br />
EDUCADORES<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
IMAGENS DE<br />
MESTRE PASTINHA<br />
E MESTRE BIMBA<br />
No final do Século XX, com o do Getúlio Vargas, aí a<br />
capoeira começa a receber um novo status, uma estratégia do<br />
próprio governo de regulamentar essa prática para que ela não<br />
se tornasse continuamente um transtorno para a ordem<br />
pública, uma ameaça à ordem pública. E com o passar do<br />
tempo, a capoeira se torna uma manifestação cultural<br />
respeita<strong>da</strong>, a gente pode colocar entre aspas, uma<br />
manifestação cultural “respeita<strong>da</strong>”, mas ela traz no seu<br />
interior, na sua essência, uma série de preconceitos...<br />
33<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala<br />
FADE PARA<br />
No contexto histórico onde esses dois mestres viveram era um<br />
contexto onde a capoeira ela ain<strong>da</strong> era marginaliza<strong>da</strong>, além do<br />
preconceito ela ain<strong>da</strong> era ilegal, era proibi<strong>da</strong>. Então, o fator<br />
culminante para esse processo, para essa iniciativa foi o fato<br />
de tentar tornar a capoeira uma ativi<strong>da</strong>de legal... E a maneira<br />
que os dois enxergaram isso era realmente torná-la um<br />
instrumento a favor <strong>da</strong> educação, porque o que precisava na<br />
época era mu<strong>da</strong>r a imagem de quem praticava capoeira, do<br />
capoeirista... Realmente naquela época quem praticava<br />
capoeira era vagabundo, era desempregado, era o cara que<br />
trabalhava no cais, no porto... Então ela era tacha<strong>da</strong> como<br />
ativi<strong>da</strong>de marginal. Então a capoeira teve que vestir uma
CLIPE DE IMAGENS<br />
DE MENINOS DOS<br />
PROJETOS SOCIAIS<br />
DE <strong>CAPOEIRA</strong><br />
JOGANDO NA RODA<br />
E TOCANDO<br />
INSTRUMENTOS<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
TÍTULO - <strong>CAPOEIRA</strong>:<br />
EDUCAÇÃO E<br />
CULTURA<br />
MARCELO<br />
OLIVEIRA<br />
roupagem diferente, ela teve que incorporar uma roupagem<br />
diferente até mesmo para ela sobreviver... Então eles<br />
enxergaram essa arte como uma forma de educar o indivíduo.<br />
34<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “O mestre que me ensina” – Abadá Capoeira<br />
FADE PARA<br />
Preservar a cultura é preservar a história e a capoeira ela é<br />
genuinamente brasileira então ela acaba sendo mais<br />
importante ain<strong>da</strong> porque nasceu aqui né... Então se a gente<br />
acabar com essa cultura a gente acaba também negando a<br />
nossa história<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala<br />
FADE PARA<br />
Quando a gente coloca que ela é uma forma tradicional do<br />
conhecimento que legitima o passado, mas atualiza o<br />
presente, já estamos colocando uma questão bastante flui<strong>da</strong><br />
no que diz respeito a todo esse campo de conhecimento que
KARLA LEAL<br />
MARCELO<br />
OLIVEIRA<br />
TÍTULO –<br />
envolve a capoeira. É uma arte popular porque se caracteriza<br />
dentro de uma questão de patrimônio cultural tradicional... É<br />
uma arte pratica<strong>da</strong> por várias cama<strong>da</strong>s sociais, sobretudo as<br />
cama<strong>da</strong>s mais populares, por isso que se caracteriza bastante<br />
por uma questão de cultura popular... E ela é uma forma de<br />
prática de conhecimento que implica numa <strong>da</strong>s maneiras de<br />
interpretar o mundo.<br />
CORTA PARA<br />
As manifestações culturais devem ser valoriza<strong>da</strong>s porque a<br />
gente, se não tiver essa manifestação cultural preserva<strong>da</strong>, a<br />
nossa história perde o seu sentido... A nossa história é a<br />
história do Brasil, não é a história individual, é a história de<br />
um povo, de uma socie<strong>da</strong>de, é uma parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de muitos.<br />
Essa história do Brasil é conta<strong>da</strong> pelo povo... Povo não é a<br />
elite política, não é a elite intelectual... A cultura é popular, a<br />
cultura é social, é a manifestação de pequenos grupos<br />
35<br />
CORTA PARA<br />
Quando a gente pensa a arte <strong>da</strong> capoeira como uma forma de<br />
conhecimento e atualização de mundo, se reportando a uma<br />
tradição, a maneira como ela é joga<strong>da</strong>, a maneira como ela é<br />
canta<strong>da</strong>, a maneira como ela é conta<strong>da</strong>, que são três aspectos<br />
importantes no campo <strong>da</strong> capoeira... é muito importante<br />
porque a gente começa a li<strong>da</strong>r com um sujeito que se apropria<br />
de uma cultura popular no sentido de atualizar suas visões de<br />
mundo.<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala
FORMAÇÃO DE<br />
CRIANÇAS E<br />
ADOLESCENTES<br />
KARLA LEAL<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
KARLA LEAL<br />
PROFESSOR<br />
VITINHO<br />
36<br />
FADE PARA<br />
A capoeira ela tem uma importância na educação que hoje a<br />
gente trabalha com crianças que tem um grave problema com<br />
limites, com a educação <strong>da</strong> própria família mesmo de <strong>da</strong>r<br />
limites a essas crianças, de mostrar um pouco o que é a sua<br />
cultura, de onde nós viemos, porque que nós somos assim,<br />
porque nossa socie<strong>da</strong>de é multicor e isso tudo a capoeira pode<br />
trazer pra gente.<br />
CORTA PARA<br />
A escola hoje é uma instituição defasa<strong>da</strong>, as famílias hoje<br />
estão defasa<strong>da</strong>s, principalmente essas famílias carentes. E o<br />
poder público acaba deixando de lado essas comuni<strong>da</strong>des com<br />
projetos, com incentivo, então a capoeira acaba sendo como<br />
um resgate a essa população<br />
CORTA PARA<br />
É uma ótima forma de resgate <strong>da</strong> cultura, <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong><br />
sua cultura, <strong>da</strong> sua origem, <strong>da</strong> sua história e mostrar também<br />
para essas crianças quais são as quali<strong>da</strong>des que essa ativi<strong>da</strong>de<br />
além de lúdica, musical, física tem, qual é a importância disso<br />
para a própria história, então eu acho que seria um trabalho<br />
bastante interessante.<br />
CORTA PARA<br />
A gente li<strong>da</strong> na capoeira como uma família, uma grande<br />
família... Então a criança acaba que se identifica com a<br />
família <strong>da</strong> capoeira. Então ela cria um relacionamento muito
CLIPE DE IMAGENS<br />
DOS PROJETOS<br />
SOCIAIS DE<br />
<strong>CAPOEIRA</strong> COM<br />
CENAS DA RODA<br />
CAIO<br />
BRUNO<br />
VANESSA<br />
grande entre as pessoas do grupo e com isso ela ganha<br />
educação, respeito... Então além de a gente trabalhar<br />
flexibili<strong>da</strong>de, coordenação motora, música, ritmo, a gente<br />
trabalha a parte educacional <strong>da</strong> criança<br />
Trilha Sonora: “Moleque é tu” – Mestre Acordeon<br />
37<br />
FADE PARA<br />
FADE PARA<br />
Há muito tempo atrás eu ficava sem na<strong>da</strong> pra fazer. Ficava<br />
sem na<strong>da</strong>, só an<strong>da</strong>ndo na rua, tipo vagabundo... Aí ficava por<br />
ai, an<strong>da</strong>ndo, an<strong>da</strong>ndo, an<strong>da</strong>ndo... Mas aí agora eu entrei na<br />
capoeira, agora eu distraio a minha cabeça<br />
CORTA PARA<br />
Pra mim foi bom porque antes eu ficava vendo televisão,<br />
essas coisas... Aí eu ficava com dor de cabeça, essas coisas<br />
assim... Agora eu venho pra cá, faço exercícios, essas coisas,<br />
não tenho mais muita dor de cabeça.<br />
CORTA PARA<br />
Ah, me ensinou a ter educação, me ensinou a comportar,<br />
muita coisa...<br />
CORTA PARA
CAIO<br />
BRUNO<br />
TÍTULO – <strong>CAPOEIRA</strong><br />
E OS PROJETOS<br />
SOCIAIS<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
PROFESSOR<br />
VITINHO<br />
IMAGENS DOS<br />
A respeitar a vez dos outros, que ca<strong>da</strong> um pode chegar a sua<br />
vez... Fazendo a gente criar coragem, continuar...<br />
38<br />
CORTA PARA<br />
Ah, antes eu não prestava atenção na aula, essas coisas assim.<br />
Agora já eu presto atenção na aula, já tiro nota boa...<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala<br />
FADE PARA<br />
Eu basicamente posso te dizer que a minha formação foi<br />
dentro de uma academia de capoeira. Os valores, os<br />
princípios, a noção de respeito, de integri<strong>da</strong>de, a vontade de<br />
crescer to<strong>da</strong> foi motiva<strong>da</strong> dentro de uma academia de<br />
capoeira. Eu tive uma família muito desestrutura<strong>da</strong>, com<br />
problemas de alcoolismo, então eu simplesmente acredito<br />
nesses projetos sociais para reproduzir tudo aquilo que eu<br />
obtive como ganho.<br />
CORTA PARA<br />
Realmente é difícil <strong>da</strong> gente salvar to<strong>da</strong>s as crianças de<br />
estarem no crime, no mundo <strong>da</strong>s drogas...<br />
Mas só <strong>da</strong> gente saber que no meio de cem aí umas dez, vinte,<br />
a gente vai conseguir tirar... Se ca<strong>da</strong> um pensar assim a gente
ALUNOS<br />
TREINANDO NO<br />
PROJETO SOCIAL<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
IMAGENS DOS<br />
ALUNOS<br />
TREINANDO NO<br />
PROJETO SOCIAL<br />
PROFESSOR<br />
VITINHO<br />
CAIO<br />
BRUNO<br />
pode conseguir um mundo melhor.<br />
39<br />
CORTA PARA<br />
O que me motiva a fazer esse trabalho é saber que eu estou<br />
auxiliando na vi<strong>da</strong> de vários indivíduos, de várias crianças...<br />
E que isso vai ter um resultado no futuro como ci<strong>da</strong>dão, como<br />
indivíduo mesmo...<br />
CORTA PARA<br />
O brilho no olho <strong>da</strong> criança, <strong>da</strong> gente estar oferecendo uma<br />
coisa pra ela que talvez ela não tivesse condição financeira de<br />
pagar para poder fazer uma ativi<strong>da</strong>de. E a gente poder ir lá e<br />
oferecer isso para a criança, o retorno é muito maior do que o<br />
retorno financeiro.<br />
CORTA PARA<br />
Fico feliz por poder fazer, que minha mãe não tem<br />
preconceito, minha mãe aceita... Porque tem muita gente que<br />
tem preconceito.<br />
CORTA PARA<br />
Nós batemos papo, nós ficamos conversando, a gente se<br />
conhece mais...<br />
CORTA PARA
VANESSA<br />
CAIO<br />
CLIPE COM<br />
IMAGENS DAS<br />
CRIANÇAS<br />
DURANTE<br />
TREINAMENTO NO<br />
PROJETO SOCIAL<br />
PROFESSOR<br />
VITINHO<br />
IMAGENS DAS<br />
CRIANÇAS<br />
APRENDENDO OS<br />
MOVIMENTOS DA<br />
<strong>CAPOEIRA</strong><br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
Ah, felici<strong>da</strong>de...<br />
Isso aqui... É tudo pra mim!<br />
40<br />
CORTA PARA<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Aprender e Ensinar a Capoeira” – Mestre<br />
Capixaba<br />
FADE PARA<br />
As crianças menores, a gente trabalha a capoeira de uma<br />
forma mais lúdica, a gente trabalha a história <strong>da</strong> capoeira, a<br />
gente trabalha um pouco mais de flexibili<strong>da</strong>de, de<br />
coordenação motora principalmente... E à medi<strong>da</strong> que a<br />
criança vai atingindo um pouquinho mais de i<strong>da</strong>de, a gente<br />
procura trabalhar a capoeira de uma forma diferente, mas de<br />
uma forma geral a gente procura não ensinar para a criança a<br />
parte <strong>da</strong> luta <strong>da</strong> capoeira.<br />
CORTA PARA<br />
Trabalhar a música na capoeira acaba trazendo felici<strong>da</strong>de para<br />
as pessoas, porque as muitas músicas retratam a história do<br />
negro, lições de vi<strong>da</strong>... Muitas músicas trazem situações<br />
inusita<strong>da</strong>s de muitos mestres, que acabam querendo passar
CLIPE COM<br />
IMAGENS DE<br />
INSTRUMENTOS<br />
MUSICAIS<br />
CARACTERÍSTICOS<br />
DA <strong>CAPOEIRA</strong><br />
SENDO TOCADOS<br />
TÍTULO –<br />
INCENTIVO,<br />
ORGANIZAÇÃO E<br />
CONFLITOS<br />
KARLA LEAL<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
uma mensagem para quem está ali. É a música, são os<br />
instrumentos que dão ritmo na ro<strong>da</strong>, no jogo <strong>da</strong> capoeira.<br />
41<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Você diz que sabe tudo” – Mestre Barrão<br />
FADE PARA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala<br />
FADE PARA<br />
Eu acho que ain<strong>da</strong> tem um ranço, um ranço muito grande de<br />
valorizar pouco o que veio de origem negra, o que veio de<br />
origem mais humilde.<br />
CORTA PARA<br />
Pra romper esse preconceito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a socie<strong>da</strong>de só vai<br />
olhar a capoeira com outros olhos quando ela conseguir<br />
mostrar essa organização, essa formação adequa<strong>da</strong> e não<br />
deixando de lado a parte cultural, artística, de raiz, de<br />
tradição. É conseguir mesclar essas duas coisas: a raiz, a
KARLA LEAL<br />
PROFESSOR<br />
VITINHO<br />
KARLA LEAL<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
tradição, os fun<strong>da</strong>mentos com a organização, a formação<br />
adequa<strong>da</strong> e aí sim o poder público vai conseguir enxergar a<br />
capoeira com outros olhos e até mesmo incentivar e apoiar os<br />
projetos com capoeira.<br />
42<br />
CORTA PARA<br />
No contexto geral, a gente não vê projetos. Se você entrar na<br />
Lei de Incentivo à Cultura você vê muito pouco alguém<br />
pedindo aju<strong>da</strong> para trabalhar com capoeira.<br />
CORTA PARA<br />
Os mestres e contramestres teriam que ter mais união, parar<br />
de pensar tanto em grupo e trabalhar mais em prol <strong>da</strong> capoeira<br />
CORTA PARA<br />
Eu acho que o conflito maior que a gente tem hoje é o papel<br />
<strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de em relação à capoeira enquanto professor de<br />
Educação Física e do outro lado quem está à margem que é o<br />
capoeirista. Então esse embate do profissional que tem<br />
diploma para isso, que é uma qualificação, um diploma e<br />
alguém que traz consigo uma tradição cultural.<br />
CORTA PARA<br />
Muitos acreditam que quando a capoeira se profissionalizar<br />
ela vai deixar de ser a arte, vai deixar um pouco de lado esse<br />
negócio de cultura, de raiz, <strong>da</strong>quela coisa de orali<strong>da</strong>de, do<br />
antigo mestre que adquiriu conhecimento do mestre dele, que<br />
é do outro mestre, não teve escola para aprender, foi
KARLA LEAL<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
KARLA LEAL<br />
propriamente dentro <strong>da</strong> academia, dentro de onde se<br />
desenvolvia a arte que esse indivíduo aprendeu, então<br />
conflita, acaba conflitando a coisa <strong>da</strong> cultura, <strong>da</strong> raiz com a<br />
coisa <strong>da</strong> profissionalização, com a coisa <strong>da</strong> organização <strong>da</strong><br />
capoeira, com a coisa do futuro <strong>da</strong> capoeira. É o futuro se<br />
chocando com o passado.<br />
43<br />
CORTA PARA<br />
O próprio pessoal que é mestre de capoeira, que trabalha com<br />
academia de capoeira deveria transformar isso em projetos,<br />
porque aí a gente ia ter como brigar se esses projetos não<br />
fossem aprovados, a gente ia poder questionar por quê.<br />
Porque se a gente também não man<strong>da</strong>r os projetos não tem<br />
como a gente questionar porque que o governo não está<br />
fornecendo essa verba.<br />
CORTA PARA<br />
Não existe uma organização que administre a capoeira no<br />
geral, então os grupos são responsáveis pela formação dos<br />
futuros professores e mestres de capoeira e ca<strong>da</strong> um tem a sua<br />
linguagem, ca<strong>da</strong> um tem seu método de formação ou de<br />
didática e a questão maior é investigar como esses grupos<br />
estão fazendo isso.<br />
CORTA PARA<br />
Se continuar <strong>da</strong> maneira que está, eu acho que vai diminuir<br />
ca<strong>da</strong> vez mais.<br />
FADE PARA
TÍTULO –<br />
INDAGAÇÕES E<br />
PERSPECTIVAS<br />
KARLA LEAL<br />
MARCELO<br />
OLIVEIRA<br />
Trilha Sonora: “Toques de Berimbau” – Capoeira Senzala<br />
44<br />
FADE PARA<br />
Na secretaria que eu trabalho eu já pedi desde o ano passado a<br />
inclusão <strong>da</strong> capoeira como ativi<strong>da</strong>de extracurricular, não está<br />
dentro do conteúdo, mas para que a criança tenha mais<br />
espaço, tenha mais uma ativi<strong>da</strong>de, mas uma ativi<strong>da</strong>de que tem<br />
fun<strong>da</strong>mento, não é simplesmente a capoeira por esporte e só.<br />
Antes a gente chegava para a escola e perguntava se ela<br />
queria executar o projeto e agora não. Agora a escola vai ter o<br />
comprometimento <strong>da</strong> execução dos projetos, então o<br />
professor, o diretor, os alunos, todo mundo vai estar<br />
envolvido e essa é uma oportuni<strong>da</strong>de, é uma porta para a<br />
entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> capoeira aí se for o caso.<br />
CORTA PARA<br />
Se estivermos colocando aqui que a capoeira é uma forma de<br />
manifestação cultural, mas que comporta e se embasa numa<br />
forma de conhecimento de mundo super elabora<strong>da</strong>, liga<strong>da</strong> a<br />
uma tradição, uma história, ela sem dúvi<strong>da</strong> nenhuma ela é um<br />
elemento fun<strong>da</strong>mental para compor currículos escolares,<br />
então a idéia de pensar a capoeira como tema de currículos<br />
escolares além de muitos outros temas de manifestações desse<br />
Brasil extremamente diverso etnicamente eu considero uma<br />
questão fun<strong>da</strong>mental para inclusive repensar a educação no<br />
sistema brasileiro<br />
CORTA PARA
KARLA LEAL<br />
CONTRAMESTRE<br />
VEIZADA<br />
CRÉDITOS<br />
Quem é que tem o papel de fazer esse trabalho? Não é isso<br />
que nos importa, o que nos importa é que nossos pequenos<br />
ci<strong>da</strong>dãos saibam que a capoeira é tão importante quando um<br />
conteúdo de história que vai mostrar para eles só no papel<br />
como que foi a nossa história enquanto a capoeira carrega<br />
uma manifestação que pode falar por si só.<br />
45<br />
CORTA PARA<br />
O que é importante para o profissional de capoeira saber? O<br />
que é importante para o profissional de capoeira ensinar? Será<br />
que está acontecendo de uma maneira correta? Será que está<br />
acontecendo de uma maneira que vai realmente auxiliar na<br />
educação do ser humano? Porque se essa é a proposta, será<br />
mesmo que o cara que está ensinando capoeira ele está<br />
educando ou ele está adestrando? Ou ele está só reproduzindo<br />
movimento? Então isso é uma pergunta muito importante<br />
porque ela diz respeito ao futuro <strong>da</strong> capoeira...<br />
Trilha Sonora: “Mundo Enganador” – Mestre Barrão<br />
FADE PARA