arquivo .PDF - Jornalismo da UFV
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ANDRIZA ANDRADE<br />
JORDANA BELO<br />
“FÉ NA TERRA -<br />
DOCUMENTÁRIO SOBRE A<br />
TROCA DE SABERES 2011”<br />
Viçosa – MG<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
Novembro, 2011
ANDRIZA ANDRADE<br />
JORDANA BELO<br />
“FÉ NA TERRA -<br />
DOCUMENTÁRIO SOBRE A<br />
TROCA DE SABERES 2011”<br />
Projeto experimental apresentado ao Curso<br />
de Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, como<br />
requisito parcial para obtenção do título de<br />
Bacharel em <strong>Jornalismo</strong>.<br />
Orientadora: Soraya Maria Ferreira Vieira<br />
Co-orientação: Marcelo Loures dos Santos<br />
Viçosa - MG<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
Novembro, 2011<br />
2
Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa<br />
Departamento de Comunicação Social<br />
Curso de Comunicação Social/<strong>Jornalismo</strong><br />
Projeto experimental intitulado “Fé na Terra- documentário sobre a Troca de<br />
Saberes 2011”, de autoria <strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte Andriza Maria Teodolindo de Andrade e Jor<strong>da</strong>na<br />
Diógenes Belo, aprova<strong>da</strong> pela banca examinadora constituí<strong>da</strong> pelos seguintes professores:<br />
____________________________________________________<br />
Profa. Dra. Soraya Maria Ferreira Veira – Orientadora<br />
Departamento de Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
____________________________________________________<br />
Prof. Dr. Willer Araujo Barbosa<br />
Departamento de Educação <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
_____________________________________________________<br />
Profa. Mª. Laene Mucci Daniel<br />
Departamento de Comunicação Social/ <strong>Jornalismo</strong> <strong>da</strong> <strong>UFV</strong><br />
Viçosa, 24 de novembro de 2011<br />
3
RESUMO<br />
“Fé na Terra” é um documentário sobre a Troca de Saberes 2011, evento que ocorre na<br />
Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa e busca resgatar e valorizar o conhecimento popular<br />
dialogando com o conhecimento científico, de forma a quebrar a hierarquia que existe entre<br />
esses saberes. Contado por seus protagonistas, o documentário mostra como juntos os<br />
movimentos sociais, agricultores, sindicalistas, mulheres, jovens, pesquisadores e técnicos<br />
tentam gerar uma nova plataforma de conhecimento.<br />
Através de temas pertinentes aos seus cotidianos- como agricultura familiar, a luta pela<br />
permanência na terra, o cui<strong>da</strong>do com o meio ambiente, as questões de gênero, a construção<br />
de uma educação que aten<strong>da</strong> aos jovens do campo e a cultura popular – numa perspectiva<br />
agroecológica, esses 'personagens' <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real propõem um novo modelo de socie<strong>da</strong>de.<br />
Uma socie<strong>da</strong>de mais justa, mais igualitária, que respeite as diferenças, mas que<br />
principalmente respeite a natureza e o meio ambiente.<br />
PALAVRAS-CHAVE:<br />
Comunicação, agroecologia, movimentos sociais, documentário.<br />
ABSTRACT<br />
“Fé na Terra” is a documentary about the event “Troca de Saberes 2011” that happens<br />
annually in Viçosa Federal University. This event intends to rescue and value folk<br />
knowledge and its interaction with formal scientific knowledge seeking to break the<br />
hierarchic gap between them. Told by its protagonists, the documentary shows the<br />
interaction between social movements, farmers, union members, women, youth, researchers<br />
and technicians trying to engender a new platform of knowledge.<br />
Through subjects related to their <strong>da</strong>ily activities – like family agriculture, the struggle to<br />
keep their rural property, gender related matters, an education system that fits rural youth<br />
and folk culture – in an agro ecologic approach, these real life characters suggest a new<br />
society model. A society with more equal opportunities and fairness, respecting the<br />
differences and mostly respecting nature and environment.<br />
KEY-WORDS:<br />
Communication, Agro ecology, Social Movements, Documentary.<br />
4
SUMÁRIO<br />
01. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 11<br />
1.0 OS SABERES PRESENTES NA TROCA DE SABERES ............................................................. 11<br />
1.1 COMUNICAÇÃO E MUDANÇAS SOCIAIS ............................................................................ 20<br />
02. RELATÓRIO TÉCNICO ................................................................................................. 23<br />
2.0 PRÉ-PRODUÇÃO ................................................................................................................. 23<br />
2.0.1 Pesquisa ............................................................................................................................. 23<br />
2.0.2 Reuniões pré-Troca de Saberes ........................................................................................ 24<br />
2.0.3 Elaboração do Roteiro de Filmagem ............................................................................... 24<br />
2.0.4 O pré-roteiro ...................................................................................................................... 25<br />
2.1 PRODUÇÃO ......................................................................................................................... 26<br />
2.2 PÓS-PRODUÇÃO ................................................................................................................. 28<br />
2.2.1 Edição, Montagem e finalização ...................................................................................... 28<br />
2.3 EQUIPE TÉCNICA ................................................................................................................ 29<br />
2.4 EQUIPAMENTOS ................................................................................................................. 30<br />
2.5 ORÇAMENTO ...................................................................................................................... 30<br />
2.6 DURAÇÃO DO VÍDEO: ......................................................................................................... 30<br />
01:02:39................................................................................................................................... 30<br />
2.7 TRILHA SONORA ................................................................................................................ 30<br />
03. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 31<br />
04. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 33<br />
ANEXOS .................................................................................................................................... 34<br />
5
AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço primeiramente a pessoa responsável pelo meu envolvimento no<br />
documentário, o professor Marcelo Loures, que se mostrou muito mais que um orientador,<br />
mas uma pessoa que passei e admirar e por quem tenho um imenso carinho. Aos professores<br />
do Departamento de Educação, Edgar Coelho e Willer Araujo, que considero também<br />
orientadores desse trabalho.<br />
Á minha queri<strong>da</strong> orientadora e amiga, Soraya Ferreira, pela paciência aos infinitos<br />
desabafos, dedicação e por acreditar no meu trabalho. Com certeza uma <strong>da</strong>s pessoas que<br />
mais influenciaram na minha formação, obriga<strong>da</strong> pelo carinho!<br />
Á tod@s participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes, por quem eu me apaixonei. Participar<br />
do mundo de vocês com certeza mudou o meu mundo também, quero que saibam que tenho<br />
um respeito enorme por todos vocês. Aos participantes, coordenadores e parceiros <strong>da</strong> Troca<br />
de Saberes que estão na luta por um mundo melhor, menos desigual e mais justo.<br />
Á minha família que sempre me apoiou e que fizeram parte desse trabalho<br />
acompanhando ca<strong>da</strong> etapa, ca<strong>da</strong> angústia, ca<strong>da</strong> alívio e ca<strong>da</strong> alegria! Sem vocês sempre ao<br />
meu lado, me apoiando eu não teria conseguido. Aos meus pais por serem muito pais, no<br />
sentido mais completo <strong>da</strong> palavra. Aos meus amados irmãos, meus melhores amigos e<br />
companheiros.<br />
Aos amigos que aju<strong>da</strong>ram com conversas, opiniões e críticas. Em especial agradeço<br />
aos amigos que aju<strong>da</strong>ram na concretização desse documentário: Alessandra Stropp, Thiago<br />
Padovan, Raul Gondim, Kelen Ribeiro, Paula Machado e Vitor Secchin. Sem vocês<br />
realmente seria difícil. Ás amigas Carol, Myrna, Kênia, Poli, Nathi pelo apoio, amizade e<br />
amor.<br />
Ao Museu de Ciências <strong>da</strong> Terra que nos abrigou por diversas noites durante to<strong>da</strong> a<br />
graduação. Foram milhares de cafés, cigarros e ás vezes até uma cervejinha para <strong>da</strong>r conta.<br />
Aos amigos integrantes do pequeno “gueto <strong>da</strong> comunicação” por me<br />
acompanharem, pelos rocks e por construirmos juntos uma nova visão de jornalismo.<br />
Aramis Assis, Eloah Barreto, Geanini Hackbardt e Talita Aquino.<br />
Á Tchaikovsky por me inspirar com suas composições.<br />
Á mãe Terra!!<br />
Andriza Andrade<br />
6
Agradeço, primeiramente, a todos aqueles que participaram <strong>da</strong> Troca de Saberes 2011, desde<br />
acadêmicos, passando por autori<strong>da</strong>des políticas, até os moradores rurais <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata<br />
Mineira, que vieram à <strong>UFV</strong> representar e defender, humildemente, o conhecimento popular,<br />
o saber <strong>da</strong>queles que dia a dia trabalham com a terra.<br />
Agradeço a todo o apoio <strong>da</strong> orientadora Soraya Ferreira, que foi um auxílio fun<strong>da</strong>mental<br />
para mim, tanto para as conversas de orientação como para a montagem do vídeo. Obriga<strong>da</strong><br />
pela atenção, pela compreensão e pela confiança.<br />
Agradeço ao Museu de Ciências <strong>da</strong> Terra e ao Vitor Secchin, que disponibilizaram para nós<br />
o espaço, os computadores e as ferramentas necessárias para que longas horas fossem<br />
dedica<strong>da</strong>s à edição e produção deste vídeo, bem como outros profissionais <strong>da</strong> área de<br />
comunicação que me aju<strong>da</strong>ram a responder pequenas dúvi<strong>da</strong>s acerca do trabalho que<br />
realizei. Foi uma troca de aprendizados.<br />
E, por último, os agradecimentos aos que mais importam para mim: minha família e amigos.<br />
Agradeço pelos abraços e pelas palavras sem os quais seria impossível encerrar esta etapa.<br />
Todos os choros, os momentos de desespero, as noites sem dormir de ansie<strong>da</strong>de... desde o<br />
começo de todo o procedimento, quando meus planos para o TCC eram outros, estavam<br />
sempre ao meu lado, <strong>da</strong>ndo o apoio que acalentou minhas tristezas e amenizou a ansie<strong>da</strong>de.<br />
Obriga<strong>da</strong>!<br />
Jor<strong>da</strong>na Belo<br />
7
INTRODUÇÃO<br />
Logo nos primeiros dias de gravação do documentário <strong>da</strong> Troca de Saberes<br />
ouvimos a Dona Conceição, de Paula Cândido, dizer por repeti<strong>da</strong>s vezes que tinha muita fé<br />
na terra. Na hora não entendemos muito porque ela estava dizendo aquilo, mas aquela frase<br />
marcou muito. Quando terminaram as gravações <strong>da</strong> semana de realização <strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes entendemos perfeitamente o que a Dona Conceição queria dizer com aquela frase. A<br />
terra para ela, a mãe-terra, é muito mais que um meio de se sustentar e sustentar a sua<br />
família. A terra é de onde ela tira sua cura, seus remédios, onde ela cui<strong>da</strong> com respeito, onde<br />
ela respeita os animais e os ciclos. A agroecologia assim é mais que uma ciência, é um<br />
movimento social e um modo de viver. É uma forma de respeitar a vi<strong>da</strong>, os ciclos naturais, a<br />
natureza, as águas, os animais, o sol, a lua, as estações do ano, o meio ambiente. E, por isso<br />
“Fé na Terra” se tornou o nome do documentário.<br />
O projeto <strong>da</strong> Troca de Saberes foi iniciado com o programa TEIA, que sempre<br />
buscou estabelecer, através de projetos de extensão, o diálogo fora <strong>da</strong> academia. Como<br />
programa, o TEIA busca articular diferentes projetos de extensão em diálogo com os<br />
movimentos sociais fomentando a cultura e a participação popular. Apresentam em seu<br />
corpo docente e discente os princípios <strong>da</strong> interdisciplinari<strong>da</strong>de em ativi<strong>da</strong>des de ensino,<br />
pesquisa e extensão. Tal proposta transformadora pretende incidir pela própria organização<br />
acadêmica, reconhecendo o saber popular como um outro saber possível. Em acordo com<br />
Boaventura de Sousa Santos, a invisibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s práticas populares traria <strong>da</strong>nos também<br />
para a teoria produzi<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> academia.<br />
Hoje vivemos um problema complicado, uma discrepância entre teoria e prática<br />
social que é nociva para a teoria e também para a prática. Para uma teoria cega, a<br />
prática social é invisível; para uma prática cega, a teoria social é irrelevante. E essa<br />
é uma situação que temos de atravessar se tentamos entrar no âmbito <strong>da</strong><br />
articulação entre os movimentos sociais. (...) não é simplesmente de um<br />
conhecimento novo que necessitamos; o que necessitamos é de um novo modo de<br />
produção de conhecimento. Não necessitamos de alternativas, necessitamos é de<br />
um pensamento alternativo ás alternativas. (BOAVENTURA, 2007, p.20)<br />
A partir desse diálogo democrático e horizontalizado produzido pelo TEIA nas<br />
comuni<strong>da</strong>des, foi se percebendo a necessi<strong>da</strong>de de estabelecer esse intercâmbio com a<br />
8
universi<strong>da</strong>de, para que a construção de um novo conhecimento inclua as partes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
que antes era excluí<strong>da</strong>s. Foi assim, que aos poucos surgiu a Troca de Saberes, com o intuito<br />
de promover esse diálogo que já existia. É difícil precisar quando começou a Troca de<br />
Saberes, mas o encontro com esse nome surgiu em 2009. Hoje, a Troca de Saberes é um<br />
encontro que acontece anualmente na Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, durante a realização<br />
<strong>da</strong> Semana do Fazendeiro, no mês de julho. A idéia não é trazer essas pessoas como um<br />
objeto de estudo ou uma experiência, a idéia é aprender, trocar e adquirir conhecimentos que<br />
muitas vezes a ciência não possui, e também que o conhecimento científico sirva para<br />
melhorar a vi<strong>da</strong> dessas pessoas. A ideia é <strong>da</strong>r voz a quem não tinha voz, presença a quem<br />
estava ausente para gerar o novo com o novo. Boaventura de Sousa Santos defende a idéia<br />
de utilizar a Sociologia <strong>da</strong>s Ausências, caracteriza<strong>da</strong> por ele como:<br />
muito do que não existe em nossa reali<strong>da</strong>de é produzido ativamente como não<br />
existente, e por isso a armadilha maior pra nós é reduzir a reali<strong>da</strong>de ao que existe.<br />
Assim, de imediato compartimos essa racionali<strong>da</strong>de preguiçosa, que realmente<br />
produz como ausente muita reali<strong>da</strong>de que poderia estar presente. A Sociologia <strong>da</strong>s<br />
Ausências é um procedimento transgressivo, uma sociologia insurgente para tentar<br />
mostrar que o que não existe é produzido ativamente como não existente, como<br />
uma alternativa não crível, como uma alternativa descartável, invisível á reali<strong>da</strong>de<br />
hegemônica do mundo. (idem, 2007, p.28-29)<br />
Envolvendo os movimentos sociais, os sindicatos e trabalhadores rurais e os<br />
estu<strong>da</strong>ntes do campo a Troca de Saberes traz temas que fazem parte do cotidiano dos<br />
participantes para que a interação e o diálogo seja mais convi<strong>da</strong>tivo e horizontalizado.<br />
Estando familiarizado com esses temas conseguem debatê-los e contribuir ativamente. Os<br />
temas centrais dessa edição <strong>da</strong> Troca de Saberes foram economia popular solidária, gênero,<br />
saúde integral, cultura, educação do campo e soberania alimentar, todos discutidos numa<br />
perspectiva agroecológica.<br />
A colocação <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> Troca de Saberes dentro do contexto <strong>da</strong> Semana do<br />
Fazendeiro tem por objetivo realizar uma crítica a <strong>UFV</strong>. Tradicionalmente agrária, a <strong>UFV</strong><br />
forma profissionais voltados para o trabalho em grandes latifúndios e sem conhecer outra<br />
reali<strong>da</strong>de de quem vive <strong>da</strong> terra e pratica a agroecologia, modelo de agricultura sustentável,<br />
que trabalha agricultura e meio ambiente juntos, respeitando todos os seres vivos que vivem<br />
naquele lugar de forma mais saudável. Grande parte dos participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes<br />
são trabalhadores e trabalhadoras rurais, donos de pequenas proprie<strong>da</strong>des de terra, alguns<br />
ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, integrantes do Movimento dos<br />
Trabalhadores Rurais Sem- Terra- MST, do Movimento dos Atingidos pelas Barragens-<br />
9
MAB, <strong>da</strong> Via Campesina e também integrantes do movimento pelo direito a educação no<br />
campo, mais especificamente alunos, diretores, pais e educadores <strong>da</strong>s Escolas Família-<br />
Agrícola- EFA‟s.<br />
A participação desses grupos levanta a importância de autori<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
civil reconhecer o papel dessas pessoas dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de que está mais preocupa<strong>da</strong> com o<br />
meio ambiente, com as mu<strong>da</strong>nças climáticas e sociais, a maneira como li<strong>da</strong>mos com o nosso<br />
espaço. Discutir o direito a terra, a agroecologia, o direito a educação no campo, são<br />
assuntos que aparentemente não dizem respeito a quem mora na região urbana, mas se<br />
tornam indispensáveis para mu<strong>da</strong>r o atual modelo de socie<strong>da</strong>de. Este modelo excludente<br />
coloca como relevante o global e não o particular. Boaventura de Sousa Santos afirma que<br />
“o global e universal é hegemônico; o particular e local não conta, é invisível, descartável,<br />
desprezível.” (BOAVENTURA, 2007, p.31)<br />
Nesse sentido, o material audiovisual produzido para o documentário terá um papel<br />
fun<strong>da</strong>mental na divulgação <strong>da</strong> Troca de Saberes. A ideia é <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a esses grupos<br />
que foram renegados ao longo dos anos pela socie<strong>da</strong>de, sendo seu conhecimento desprezado<br />
pelo conhecimento científico. A Troca de Saberes, ao se constituir como um projeto pioneiro<br />
dentro <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, seja um exemplo para que outras instituições de<br />
ensino abram seus horizontes para uma nova forma de pesquisa e extensão. É uma<br />
experiência que ao ser compartilha<strong>da</strong> pode servir de inspiração para futuros projetos, dentro<br />
e fora <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>. O audiovisual é um meio que ao usar de recursos de imagens e áudio facilita<br />
o entendimento atingindo o objetivo <strong>da</strong> divulgação acerca do que é a Troca de Saberes.<br />
Outro importante objetivo é o registro, a importância de que esse evento não se perca ao<br />
longo dos anos, e que no futuro outras pessoas também tenham acesso ao que já aconteceu, a<br />
forma como as coisas aconteceram e foram construí<strong>da</strong>s.<br />
É um registro contado pelas pessoas que participam, coordenam, constroem a Troca<br />
de Saberes mostrando que todos têm papel protagonista dentro dessa discussão e construção.<br />
O documentário retrata a multiplici<strong>da</strong>de de vozes e diferentes saberes presentes na Troca de<br />
Saberes, e que, apesar de to<strong>da</strong> essa diversi<strong>da</strong>de conseguem estabelecer um diálogo,<br />
trocando, interagindo e compartilhando o conhecimento.<br />
10
01. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />
1.0 Os Saberes presentes na Troca de Saberes<br />
A Troca de Saberes possui uma metodologia inovadora que promove a interação e<br />
o compartilhamento de conhecimentos. A Troca de Saberes tem um momento prévio de<br />
elaboração e preparação que é construído coletivamente, junto com os parceiros e<br />
envolvidos. Esse ano se concretizou a ideia de construir o que foi o grande ponto de<br />
encontro, onde acontecem algumas instalações e apresentações culturais, onde também são<br />
feitas as discussões coletivas. A idéia do Empório <strong>da</strong>s Matas é criar um lugar interativo com<br />
elementos que suscitava a troca, a criativi<strong>da</strong>de e a discussão que assumiu o lugar de grande<br />
ponto de socialização dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />
Os participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes gostam de caracterizar essa interação também<br />
como Ecologia de Saberes, por ser uma forma mais ampla e global de designar o que<br />
realmente ocorre nessa interação entre conhecimento científico e popular. O termo foi criado<br />
pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos, que ele caracteriza como<br />
A ecologia de saberes são conjuntos de práticas que promovem uma nova<br />
convivência activa de saberes no pressuposto que todos eles, incluindo o saber<br />
científico, se podem enriquecer nesse diálogo. Implica uma vasta gama de acções<br />
de valorização, tanto do conhecimento científico, como de outros conhecimentos<br />
práticos, considerados úteis, cuja partilha por pesquisadores, estu<strong>da</strong>ntes e grupos<br />
de ci<strong>da</strong>dãos serve de base á criação de comuni<strong>da</strong>des epistêmicas mais amplas que<br />
convertem a universi<strong>da</strong>de num espaço público de interconhecimento onde os<br />
ci<strong>da</strong>dãos e os grupos sociais podem intervir sem ser exclusivamente na posição de<br />
aprendizes. (BOAVENTURA, 2005, p. 77-78)<br />
Como já foi dito anteriormente, a Troca de Saberes possui alguns temas centrais<br />
como: agroecologia, que busca debater também economia popular solidária e soberania<br />
alimentar; gênero que debate o assunto também no âmbito <strong>da</strong> agroecologia e <strong>da</strong> situação <strong>da</strong><br />
mulher no campo; saúde integral; os movimentos sociais e suas lutas; cultura que busca não<br />
só o resgate, mas também a valorização <strong>da</strong> cultura popular; questões diversas liga<strong>da</strong>s a terra;<br />
e educação do campo que debate a importância <strong>da</strong> metodologia <strong>da</strong> alternância¹ educativa<br />
¹ Metodologia <strong>da</strong> alternância se caracteriza com momentos de formação dentro <strong>da</strong> escola e nas comuni<strong>da</strong>des onde os estu<strong>da</strong>ntes estão<br />
inseridos, por isso eles passam parte do tempo nas Escolas Famílias-Agrícola e uma parte nas comuni<strong>da</strong>des.<br />
11
para as EFA´s e as escolas que atendem o MST, considerando que esses alunos possuem<br />
uma reali<strong>da</strong>de diferente dos alunos do meio urbano.<br />
A metodologia <strong>da</strong> Troca de Saberes apresenta como um dos elementos principais as<br />
instalações pe<strong>da</strong>gógicas. Trata-se de dispositivos de diálogo em construção, em que através<br />
de um tema específico, provocado por um de seus agentes busca-se a discussão entre<br />
pesquisadores, estu<strong>da</strong>ntes, agricultores e parceiros. Ao compartilhar suas experiências<br />
busca-se a construção de uma nova percepção através dessas informações compartilha<strong>da</strong>s.<br />
Isso se torna fun<strong>da</strong>mental para que os envolvidos coloquem as suas reali<strong>da</strong>des, pois segundo<br />
Boaventura de Sousa Santos “nossa racionali<strong>da</strong>de se baseia na idéia <strong>da</strong> transformação do<br />
real, mas não na compreensão do real. E este é nosso problema hoje: a transformação sem<br />
compreensão está nos levando a situações de desastre.” (BOAVENTURA, 2007, p. 28).<br />
Estes dispositivos possibilitam<br />
que a ciência entre não como uma monocultura mas como parte de uma ecologia<br />
mais ampla de saberes, em que o saber científico possa dialogar com o saber laico,<br />
com o saber popular, com o saber dos indígenas, com o saber <strong>da</strong>s populações<br />
urbanas marginais, com o saber camponês. (...) Somos contra as hierarquias<br />
abstratas de conhecimento, <strong>da</strong>s monoculturas que dizem, por princípio, “a ciência<br />
é a única, não há outros saberes”. Vamos iniciar, nesta ecologia, afirmando que o<br />
importante não é ver como o conhecimento representa o real, mas conhecer o que<br />
determinado conhecimento produz na reali<strong>da</strong>de; a intervenção no real. Estamos<br />
tentando uma concepção pragmática do saber. (idem, 2007, p.32-33)<br />
Nesse contexto é imprescindível discutir e valorizar a cultura desse povo, pois não<br />
há transformação sem cultura e cultura sem transformação. O termo cultura aqui toma um<br />
conceito muito mais amplo do que simples conjunto de práticas de um povo liga<strong>da</strong>s a<br />
reali<strong>da</strong>de de uma determina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e sim como uma força social capaz de transformar<br />
aquela socie<strong>da</strong>de. Para Maria <strong>da</strong> Glória Gohn, “a cultura popular foi redefini<strong>da</strong> como<br />
sinônimo de resistência popular.” (GOHN, 2001, p.42) A cultura popular ao se definir<br />
enquanto práticas sociais produzi<strong>da</strong>s pelo povo, toma sentidos mais amplos e torna o<br />
papel <strong>da</strong> cultura presente no folclore e nas reivindicações <strong>da</strong>s associações<br />
populares, como elementos fun<strong>da</strong>mentais para a construção de uma nova<br />
hegemonia política de determina<strong>da</strong> nação. Como sabemos, o conceito de<br />
hegemonia gramsciniano inclui a cultura como processo social global e o<br />
transforma em ferramenta fun<strong>da</strong>mental para o processo de transformação social, á<br />
medi<strong>da</strong> que ele forma a visão de mundo dos grupos sociais. Construir visões de<br />
mundo diferencia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s elites dominantes é tarefa do novo intelectual orgânico.<br />
Desenvolver as práticas de resistência embuti<strong>da</strong>s na cultura popular faz parte desse<br />
processo. A cultura popular assume, portanto, uma concepção estratégica, parte do<br />
processo de busca de mu<strong>da</strong>nças e transformações sociais. (GOHN, 2001, p. 43)<br />
12
Dentro <strong>da</strong> discussão sobre a cultura popular busca-se o reconhecimento <strong>da</strong> cultura<br />
enquanto prática social, a cultura que é passa<strong>da</strong> de pai pra filho, os costumes, a comi<strong>da</strong>,<br />
enfim todos os elementos culturais presentes na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quelas pessoas. Uma forma de<br />
mostrar que a cultura não está presente somente em espetáculos de <strong>da</strong>nça, teatro, no clube,<br />
na televisão ou no cinema, essa arte elitiza<strong>da</strong> e espetaculariza<strong>da</strong>, mas a arte e a cultura<br />
enquanto prática cultural e conjunto de costumes de um determinado lugar. Em uma <strong>da</strong>s<br />
entrevistas realiza<strong>da</strong>s o artista popular conhecido como Tião Farinha<strong>da</strong>² conta que os<br />
movimentos começaram a perceber que não há como trabalhar a mobilização do povo sem<br />
trabalhar a cultura e as manifestações artísticas <strong>da</strong>quele lugar. As pessoas passam a se<br />
reconhecer mais, e assim enxergam e se posicionam de forma diferente frente ao mundo, se<br />
valorizam mais e reconhecem o valor <strong>da</strong> sua cultura. Dentro <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des os mestres<br />
griôs são fun<strong>da</strong>mentais, pois eles sintetizam seus valores, a sua cultura que faz parte <strong>da</strong><br />
tradição popular e é passado de pai para filho, reconhecendo e valorizando a cultura de seus<br />
ancestrais. Esses mestres não possuem o conhecimento acadêmico, mas a sua sabedoria e<br />
conhecimento são transmitidos para a comuni<strong>da</strong>de. A palavra é de origem africana e<br />
indígena que significa o mais velho que tem o conhecimento popular. Esses papéis são<br />
fun<strong>da</strong>mentais, pois segundo Paulo Freire<br />
os camponeses desenvolvem sua maneira de pensar e de visualizar o mundo de<br />
acordo com pautas culturais que, obviamente, se encontram marca<strong>da</strong>s pela<br />
ideologia dos grupos dominantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de global que fazem parte. Sua<br />
maneira de pensar, condiciona<strong>da</strong> por seu atuar ao mesmo tempo em que a este<br />
condiciona, de há muito e não de hoje, se vem constituindo, cristalizando. E se<br />
muitas destas formas de pensar e atuar persistem hoje, mesmo em áreas em que os<br />
camponeses se experimentam em conflitos na defesa de seus direitos, com mais<br />
razão permanecem aquelas em que não tiveram uma tal experiência. (FREIRE,<br />
2001, p.37)<br />
A valorização <strong>da</strong> cultura do povo é muito importante para que eles sintam o valor<br />
<strong>da</strong> sua cultura. A partir do momento que eles percebem a importância <strong>da</strong>queles costumes<br />
desenvolvidos nas comuni<strong>da</strong>des, do que é passado entre as gerações, entre outras<br />
manifestações culturais, essas pessoas passam a ver o valor <strong>da</strong> sua cultura também no<br />
mundo. Trabalhar a cultura é fun<strong>da</strong>mental para que essas pessoas se questionem mais e<br />
busquem o seu reconhecimento e o seu espaço dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, por isso os movimentos<br />
sociais vêm percebendo a importância de valorizar e resgatar a cultura popular.<br />
.<br />
² Entrevista realiza<strong>da</strong> com o artista popular Tião Farinha<strong>da</strong> durante as gravações <strong>da</strong> Troca de Saberes. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza<br />
Andrade no dia 13 de julho de 2011 na ci<strong>da</strong>de de Viçosa.<br />
13
Outro assunto muito discutido foi o direito a educação, a educação volta<strong>da</strong> para a<br />
reali<strong>da</strong>de dos alunos do campo e de grupos como o MST. Os alunos <strong>da</strong>s Escolas Família-<br />
Agrícola (EFA‟s) trouxeram seus levantamentos e a necessi<strong>da</strong>de de avançar nessa discussão<br />
para que tanto a socie<strong>da</strong>de como o Estado reconheçam as reais necessi<strong>da</strong>des desses alunos.<br />
A partir <strong>da</strong> busca pela reforma do aparelho educacional, pretende-se que essa<br />
mu<strong>da</strong>nça parta <strong>da</strong> base e chegue ás universi<strong>da</strong>des. É necessário que a educação se<br />
transforme para que permita o acesso e permanência dessas pessoas dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de,<br />
se não continuaremos a propagar o velho modelo excludente e por isso,<br />
A resistência tem de envolver a promoção de alternativas de pesquisa, de<br />
formação, de extensão e de organização que apontem para a democratização do<br />
bem público universitário, ou seja, para o contributo específico <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de na<br />
definição e solução colectivas dos problemas sociais, nacionais e globais.<br />
(BOAVENTURA, 2005, p. 62)<br />
E acrescenta ain<strong>da</strong>, que<br />
A responsabili<strong>da</strong>de social <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de tem de ser assumi<strong>da</strong> pela universi<strong>da</strong>de,<br />
aceitando ser permeável ás deman<strong>da</strong>s sociais, sobretudo áquelas oriun<strong>da</strong>s de<br />
grupos sociais que não têm poder para as impor. A autonomia universitária e a<br />
liber<strong>da</strong>de académica- que, no passado, foram esgrimi<strong>da</strong>s para desresponsabilizar<br />
socialmente a universi<strong>da</strong>de- assumem agora uma nova premência, uma vez que só<br />
elas podem garantir uma resposta empenha<strong>da</strong> e criativa aos desafios <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de social. (BOAVENTURA, 2005, p. 91)<br />
Esse debate traz vários elementos como a educação enquanto instrumento de<br />
transformação social. Esse novo modelo de educação deve surgir <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de discutir<br />
um modelo voltado para a reali<strong>da</strong>de de quem vive no campo. As EFA‟s assumem assim um<br />
modelo alternativo de educação. Esse novo modelo de educação vem também para combater<br />
o êxodo rural, pois à partir do momento que o jovem vê a importância <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, a<br />
valorização do seu trabalho e <strong>da</strong> sua cultura, ele passa a enxergar que há meios de sobreviver<br />
ali vivendo <strong>da</strong> terra.<br />
Outros vários temas permearam a Troca de Saberes, também liga<strong>da</strong>s as questões <strong>da</strong><br />
terra. Nesse sentido a agroecologia é o principal tema do encontro, na ver<strong>da</strong>de todos os<br />
temas são discutidos sob a perspectiva agroecológica. Nesta Troca de Saberes surgiram<br />
temas que foram os eixos transversais <strong>da</strong> agroecologia e fazem parte intrinsecamente <strong>da</strong><br />
temática como economia popular solidária, saúde integral e soberania alimentar. Como já foi<br />
14
dito, para muitas pessoas a agroecologia é considera<strong>da</strong> um movimento social, pois significa<br />
a luta pela vi<strong>da</strong>, a luta por um mundo mais justo, por uma agricultura sustentável que não se<br />
embase no ganho do capital e político. Nesse sentido, a agroecologia é pratica<strong>da</strong> pelos<br />
agricultores familiares que tiram <strong>da</strong> natureza apenas o que precisam para seu sustento, e<br />
assim não esgotam todos os recursos <strong>da</strong> natureza como é realizado na agricultura<br />
convencional. O conhecimento técnico aju<strong>da</strong> muitos os camponeses a praticarem a<br />
agroecologia, que os auxilia em situações de risco <strong>da</strong> lavoura, portanto<br />
Subestimar a capaci<strong>da</strong>de criadora e recriadora dos camponeses, desprezar seus<br />
conhecimentos, não importa o nível em que se achem, tentar “enchê-los” com o<br />
que aos técnicos lhe parece certos são expressões, em última análise, <strong>da</strong> ideologia<br />
dominante. Não queremos, contudo, com isto dizer que os camponeses devam<br />
permanecer no estado em que se encontram com relação a seu enfrentamento com<br />
o mundo natural e á sua posição em face <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política do país. Queremos<br />
afirmar que eles não devem ser considerados como “vasilhas” vazias nas quais se<br />
vá depositando o conhecimento dos especialistas, mas, pelo contrário, sujeitos,<br />
também, do processo de sua capacitação. (FREIRE, 2001, p. 36)<br />
Outro tema de grande importância foi saúde integral, entendido como sendo a saúde<br />
<strong>da</strong>s águas, dos animais, <strong>da</strong> terra, <strong>da</strong>s plantas, do meio ambiente e <strong>da</strong>s pessoas que vivem<br />
naquele espaço. O assunto está ligado a agroecologia, pois é muito comum hoje no campo o<br />
número de pessoas doentes, principalmente com câncer, devido o uso de agrotóxicos e<br />
insumos agrícolas. Isso traz ain<strong>da</strong> uma mu<strong>da</strong>nça cultural, pois antigamente as pessoas se<br />
curavam mais através de medi<strong>da</strong>s naturais como chás, homeopatia e florais e, devido a<br />
invisibili<strong>da</strong>de e preconceito <strong>da</strong><strong>da</strong> a estes meios de cura as pessoas recorrem mais aos<br />
remédios alopáticos deixando de acreditar nas curas alternativas.<br />
A soberania alimentar também foi um tema recorrente dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes,<br />
pois o modelo latifundiário-hegemônico pelo qual a agricultura tem se desenvolvido não<br />
leva em consideração a quali<strong>da</strong>de em que os alimentos chegam a população e apenas no<br />
ganho econômico. Para Laércio Meirelles<br />
O conceito foi inicialmente postulado pela Via Campesina e pode ser intitulado<br />
como “o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados,<br />
acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e o direito de decidir seu<br />
próprio sistema alimentar e produtivo.” Apesar deste direito ser incontestável e<br />
exigível, o modelo de desenvolvimento adotado de maneira hegemônica pouco<br />
tem colaborado para seu alcance. (MEIRELLES, 2008, p.1)<br />
15
A partir do momento que se discute uma nova forma de produção e quali<strong>da</strong>de de<br />
vi<strong>da</strong> é importante que se considere as outras formas de economia existente nessas<br />
comuni<strong>da</strong>des. A Economia Popular Solidária surge dentro <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des, pois é muito<br />
comum no processo agroecológico os agricultores trocarem seus produtos e desenvolverem<br />
outras relações de trabalho e comercialização.<br />
Economia popular solidária é o reconhecimento de que existem outras formas de<br />
economia e de organização do trabalho, crédito, comercialização que resistem aos<br />
padrões hegemônicos <strong>da</strong> economia capitalista. Por quê que é importante discutir<br />
economia solidária quando se fala de agroecologia? Porque na agroecologia tem a<br />
dimensão econômica que os agricultores estabelecem as relações econômicas antes<br />
inclusive de existir capitalismo. São outras manifestações de mercado, outras<br />
relações de trabalho, outras relações sociais que envolvem relação de proximi<strong>da</strong>de<br />
entre as pessoas e de confiança nas relações econômicas que elas estabelecem.<br />
(MÁRCIO GOMES DA SILVA) ³<br />
A importância desse tipo de relação é que ela simplesmente extrapola as formas de<br />
comercialização convencional imposta pela socie<strong>da</strong>de capitalista. Os agricultores<br />
extrapolam esse conceito e consideram que a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de deve se estender aos animais, aos<br />
vizinhos, à terra e ou lugar onde estão inseridos. Isso gera uma economia de troca, como no<br />
caso <strong>da</strong>s mulheres que trocam doces, o que uma produz e a outra não, o excesso de produção<br />
e como elas estão diretamente liga<strong>da</strong>s ao trabalho do quintal trocam alimentos entre si.<br />
Boaventura de Sousa Santos propõe que assim façamos uma ecologia <strong>da</strong>s produtivi<strong>da</strong>des<br />
que dentro <strong>da</strong> Sociologia <strong>da</strong>s Ausências<br />
consiste na recuperação e valorização dos sistemas alternativos de produção, <strong>da</strong>s<br />
organizações econômicas populares, <strong>da</strong>s cooperativas operárias <strong>da</strong>s empresas<br />
autogestiona<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> economia solidária etc., que a ortodoxia produtivista<br />
capitalista ocultou ou desacreditou. (BOAVENTURA, 2007, p. 36)<br />
Todos esses debates estão intimamente ligados á questão agroecológica, que<br />
defende exatamente um novo modelo de produção, que seja mais humana e menos<br />
excludente. Ao trazer esses temas para dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de questionam os modelos<br />
disseminados dentro <strong>da</strong> academia, e colocam temas que são invisíveis como de fun<strong>da</strong>mental<br />
importância para transformar o modelo predominante<br />
A necessi<strong>da</strong>de de uma nova institucionali<strong>da</strong>de de democracia externa é<br />
fun<strong>da</strong>mental para tornar transparentes, mensuráveis, reguláveis e compatíveis as<br />
pressões sociais sobre as funções <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de. E sobretudo para as debater no<br />
³ Entrevista Márcio Gomes <strong>da</strong> Silva sobre Economia Popular Solidária. Márcio é mestre em Gestão de Cooperativas e é técnico do Centro<br />
de Tecnologias Alternativas <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata (CTA-ZM). Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza Andrade no dia 07 de outubro de 2011 na ci<strong>da</strong>de<br />
de Viçosa.<br />
16
espaço público <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de e torná-las objecto de decisões democráticas. Esta<br />
é uma <strong>da</strong>s vias de democracia participativa para o novo patamar de legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
universi<strong>da</strong>de pública. (BOAVENTURA, 2005, p.102)<br />
A universi<strong>da</strong>de deve valorizar as diferentes formas de conhecimento que existem.<br />
Ter um espaço como a Troca de Saberes dentro de uma universi<strong>da</strong>de pública vem mostrar<br />
como o reconhecimento do saber popular tem mu<strong>da</strong>do. Trazer os movimentos sociais para<br />
dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é também uma forma de construir a democracia coletivamente já que<br />
esses grupos vêm se mobilizando em busca que seus interesses sejam reconhecidos.<br />
A questão de gênero foi um tema que trouxe relevantes discussões. O que mais<br />
impressionou foi a força com que as mulheres vieram a Troca de Saberes, trazendo suas<br />
questões e as colocando como fun<strong>da</strong>mental para avançar na construção de uma socie<strong>da</strong>de<br />
mais justa que não exclua as mulheres como vem acontecendo através dos séculos. O<br />
sofrimento que essa exclusão traz também na auto-estima, na forma com que essas mulheres<br />
se vêem dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de é muito grande. Boaventura de Sousa Santos caracteriza essa<br />
exclusão de grupos minoritários, por algum tipo de diferença física ou biológica como<br />
monocultura <strong>da</strong> naturalização <strong>da</strong>s diferenças<br />
que ocultam hierarquias, <strong>da</strong>s quais a classificação racial, a étnica, a sexual (...) são<br />
as mais persistentes. Ao contrário <strong>da</strong> relação capital/ trabalho, aqui a hierarquia<br />
não é causa <strong>da</strong>s diferenças mas sua conseqüência, porque os que são inferiores<br />
nessas classificações naturais, o são “por natureza”, e por isso a hierarquia é uma<br />
conseqüência de sua inferiori<strong>da</strong>de; desse modo se naturalizam as diferenças.<br />
(idem, 2007, p. 30)<br />
As mulheres têm exigido que seu trabalho e seu valor dentro do conjunto <strong>da</strong><br />
agricultura familiar sejam reconhecidos, pois muitas vezes o trabalho delas é renegado<br />
apenas como uma aju<strong>da</strong> ou apoio. Esse preconceito também vem do fato dessas mulheres<br />
serem as responsáveis pelo trabalho de beneficiamento do excesso de produção como<br />
produção de doces e compotas e o próprio artesanato. Esse trabalho não é considerado<br />
rentável ou como parte <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> doméstica. Muitas vezes, as mulheres são excluí<strong>da</strong>s do<br />
processo de comercialização e gerenciamento <strong>da</strong> produção, mas nesse processo em que as<br />
mulheres vêm se organizando em cooperativas, no próprio trabalho desenvolvido nos<br />
quintais, isso tem mu<strong>da</strong>do. As mulheres têm entrado também no mercado e assumido cargos<br />
que antes eram exclusivos dos homens, como fazer parte dos sindicatos rurais. Além delas<br />
estarem assumindo esses cargos, elas também tem se articulado criando os sindicatos de<br />
mulheres, em que elas debatem suas questões e aju<strong>da</strong>m umas as outras. Esta é a prova de<br />
17
que as mulheres estão buscando o seu espaço, estão em movimento para que seus direitos<br />
sejam reconhecidos, e vencem assim a cultura opressora do silêncio que vem <strong>da</strong>ndo ao longo<br />
de séculos invisibili<strong>da</strong>de ás mulheres. Para Paulo Freire<br />
Esta “cultura do silêncio”, gera<strong>da</strong> nas condições objetivas de uma reali<strong>da</strong>de<br />
opressora, não somente condiciona a forma de estar sendo dos camponeses<br />
enquanto se acha vigente a infra-estrutura que a cria, mas continua condicionandoos,<br />
por largo tempo, ain<strong>da</strong> quando sua infra-estrutura tenha sido modifica<strong>da</strong>.<br />
(FREIRE, 2001, p.37)<br />
A participação dessas mulheres nos sindicatos e em outros movimentos mais<br />
globais como a Marcha Mundial <strong>da</strong>s Mulheres as coloca em contato com outras<br />
possibili<strong>da</strong>des de enfrentar essa reali<strong>da</strong>de. É claro que vivemos outro contexto, em que as<br />
mulheres têm a responsabili<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>r dos filhos e do lar e ao mesmo tempo, trabalham<br />
e geram ren<strong>da</strong>. Esse movimento faz com que elas se reconheçam e principalmente,<br />
reconheçam o seu valor dentro do conjunto familiar, e não de uma forma isola<strong>da</strong>. É o<br />
princípio <strong>da</strong> legitimação <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças, mesmo que de forma lenta, <strong>da</strong>s<br />
diferenças históricas <strong>da</strong><strong>da</strong>s a homens e mulheres. Boaventura de Sousa Santos ressalta a<br />
importância <strong>da</strong> ecologia do reconhecimento<br />
O procedimento que proponho é descolonizar nossas mentes para poder produzir<br />
algo que distinga, em uma diferença, o que é produto <strong>da</strong> hierarquia e o que não é.<br />
Somente devemos aceitar as diferenças que restem depois que as hierarquias forem<br />
descarta<strong>da</strong>s. Ou seja: mulher e homem são distintos depois que fizermos uma<br />
sociologia ecológica para ver o que não está conectado com a hierarquia.<br />
(BOAVENTURA, 2007, p. 35)<br />
O grande problema que as mulheres ain<strong>da</strong> enfrentam na socie<strong>da</strong>de contemporânea é<br />
o preconceito socialmente construído ao longo de séculos, em que não sabemos mais<br />
diferenciar o que foi imposto para as mulheres do papel que a mulher deve desempenhar.<br />
Ain<strong>da</strong> é difícil romper com a socie<strong>da</strong>de patriarcal, mas vivemos sem dúvi<strong>da</strong> um momento<br />
em que as mulheres têm mostrado o seu poder de decisão e capaci<strong>da</strong>de. A força <strong>da</strong><br />
participação <strong>da</strong>s mulheres dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes vem legitimar isso, pois como o<br />
intuito de trazer essas pessoas para dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é construir um novo<br />
conhecimento é importante que eles atentem para que esse novo conhecimento garanta o<br />
espaço <strong>da</strong>s mulheres e seja mais democrático que o atual modelo.<br />
Hoje convivemos com diversos movimentos sociais que buscam um lugar ao sol.<br />
Depois de tantos séculos de opressão e de uma constante luta de classes, ain<strong>da</strong> presenciamos<br />
na nossa socie<strong>da</strong>de essa luta, caracteriza<strong>da</strong> por grandes desigual<strong>da</strong>des e a exclusão social. Os<br />
18
movimentos sociais lutam contra a ordem vigente e buscam através <strong>da</strong> mobilização mu<strong>da</strong>r<br />
alguns padrões sociais, por lutarem por direitos “incomuns” aos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de colocam<br />
alguns assuntos em pauta exigindo do governo e socie<strong>da</strong>de civil uma maior discussão acerca<br />
do assunto.<br />
Todos os temas colocados até o momento são considerados como movimentos<br />
sociais atuais. A agroecologia por lutar pela vi<strong>da</strong>, as EFA‟s por lutar por um outro modelo<br />
de educação, a cultura popular por se constituir enquanto força mobilizadora agente <strong>da</strong>s<br />
transformações, se constituem enquanto movimentos sociais por lutarem por outro modelo<br />
de socie<strong>da</strong>de.<br />
Nessa perspectiva outros grupos também trouxeram contribuições significativas no<br />
contexto <strong>da</strong> elaboração de um novo conhecimento: o Movimento dos Trabalhadores Rurais<br />
Sem-Terra- MST, o Movimento dos Atingidos pelas Barragens- MAB, os militantes <strong>da</strong><br />
Comissão Pastoral <strong>da</strong> Terra- CPT, Via Campesina, entre outros. A presença dessas pessoas<br />
que vem se movimentando dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em busca de seus direitos se constituem<br />
como forças <strong>da</strong> emancipação social desses grupos. Para Boaventura de Sousa Santos o único<br />
problema é que<br />
esta tem sido organiza<strong>da</strong> por meio de uma tensão entre regulação e emancipação<br />
social, entre ordem e progresso, entre uma socie<strong>da</strong>de com muitos problemas e a<br />
possibili<strong>da</strong>de de resolvê-los em outra melhor, que são as expectativas. Então, é<br />
uma socie<strong>da</strong>de que pela primeira vez cria essa tensão entre experiências correntes<br />
do povo, que ás vezes são ruins, infelizes, desiguais, opressoras, e a expectativa de<br />
uma vi<strong>da</strong> melhor, de uma socie<strong>da</strong>de melhor. (idem, 2007, p.17-18)<br />
O autor ain<strong>da</strong> coloca que os instrumentos que regulam essas diferenças estão em<br />
crise, “entretanto, não está em crise a ideia de que necessitamos de uma socie<strong>da</strong>de melhor,<br />
de que necessitamos de uma socie<strong>da</strong>de mais justa. As promessas <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de- a<br />
liber<strong>da</strong>de, a igual<strong>da</strong>de e a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de- continuam sendo uma aspiração mundial.”<br />
(BOAVENTURA, 2007, p.18-19)<br />
A presença desses grupos é exatamente para que eles tragam as suas contribuições<br />
para gerar um novo patamar de conhecimento e claro <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a essas pessoas que<br />
são excluí<strong>da</strong>s desse modelo de educação universitária, que não propõe um ensino voltado<br />
para outras reali<strong>da</strong>des. Trazer essas pessoas é a possibili<strong>da</strong>de, quem sabe, <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de<br />
fazer uma inversão e apren<strong>da</strong> também com outras reali<strong>da</strong>des. Os movimentos sociais tem se<br />
colocado como um ótimo exemplo em ganho de força política.<br />
19
Consideramos a participação dos atores sociais nas políticas sociais um elemento<br />
vivo e atuante nas socie<strong>da</strong>des modernas. Sua presença é elemento crucial para a<br />
consoli<strong>da</strong>ção do processo democrático, principalmente no que se refere ás<br />
estruturas locais. Certamente as formas de manifestação e o modo de mobilização<br />
<strong>da</strong>s pessoas têm se transformado. (GOHN, 2001, p.83-84)<br />
O MST na luta pela reforma agrária, por exemplo, mostra que essa luta é também<br />
dos estu<strong>da</strong>ntes e técnicos <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, que em sua maioria se formam e trabalham para<br />
os grandes latifundiários. A própria produção do conhecimento é sempre volta<strong>da</strong> para os<br />
donos do poder econômico. O MAB ao lutar pelos direitos de quem é expulso de sua terra<br />
em situações de barragem, mostra que essa é também uma luta que envolve to<strong>da</strong> a<br />
socie<strong>da</strong>de, pois estão destruindo a natureza e o meio ambiente. Aliás, colocar a luta do MAB<br />
é muito pertinente também por questão de justiça, pois muitas <strong>da</strong>s pessoas que são expulsas<br />
de suas terras para que sejam construí<strong>da</strong>s as barragens, tem uma relação muito mais<br />
profun<strong>da</strong> com a terra do que a própria geração de ren<strong>da</strong>. São pessoas que vivem <strong>da</strong> terra,<br />
gostam de estar no campo e isso nenhuma empresa nunca vai conseguir indenizar. É assim<br />
que essas forças sociais que surgem dos movimentos sociais conquistam aos poucos seu<br />
espaço e assim, transformam também os conceitos de justiça e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Maria <strong>da</strong> Glória<br />
Gohn coloca<br />
que é necessário refun<strong>da</strong>r a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e redefinir os direitos porque estamos<br />
numa nova era política e social, na qual os conflitos sociais não são apenas pela<br />
distribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, mas são, fun<strong>da</strong>mentalmente, conflitos de interpretação sobre<br />
o sentido de justiça. Isto confere um papel importante a todos os processos de<br />
gestão social e política. Deve-se fazer um esforço para buscar um consenso entre o<br />
justo e o injusto. Assim, a questão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia ganha centrali<strong>da</strong>de. (idem, 2001, p.<br />
89)<br />
A generosi<strong>da</strong>de, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e digni<strong>da</strong>de são conceitos subjetivos, mas sem<br />
dúvi<strong>da</strong> são termos que a nossa socie<strong>da</strong>de precisa resignificar para avançarmos no atual<br />
modelo de socie<strong>da</strong>de muito liga<strong>da</strong> as questões materiais e que se esquece dos aspectos<br />
humanos.<br />
1.1 Comunicação e Mu<strong>da</strong>nças Sociais<br />
Historicamente, os grandes meios de comunicação sempre pertenceram á uma<br />
pequena parcela <strong>da</strong> população, o que dificultava o acesso de classes menos privilegia<strong>da</strong>s a<br />
esses meios. A concentração dos grandes meios de comunicação reproduz uma lógica de<br />
20
marginalização <strong>da</strong>queles discursos que se apresentam como um contraponto aos interesses<br />
dos detentores destes meios. Os movimentos sociais aparecem assim, como um dos sujeitos<br />
mais desfavorecidos nessa relação, sendo constantemente criminalizados pela grande mídia.<br />
Porém, as novas tecnologias têm afetado diretamente a forma de relacionamento e<br />
interação <strong>da</strong>s pessoas. A comunicação tem sofrido grandes transformações e outras formas<br />
de fazer o jornalismo têm colocado em questão se somente os profissionais de comunicação<br />
detém o poder de informar. Os novos meios de comunicação como a utilização de rádios<br />
comunitárias, jornais, boletins e a popularização de câmeras digitais, câmera de telefone<br />
celular, bem como o uso crescente <strong>da</strong>s redes sociais, como facebook e twitter, tem<br />
possibilitado ás pessoas outras formas de se comunicar e isso interfere também na forma de<br />
fazer o jornalismo. Esses novos canais possibilitam que os movimentos e outros grupos<br />
marginalizados <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de façam uma contraposição á grande mídia. Abre<br />
caminhos para outros diálogos com a socie<strong>da</strong>de, acentuando-lhes a visibili<strong>da</strong>de pública,<br />
tendo como conseqüência a constituição de “coletivos em redes por aproximação temáticas,<br />
anseios e práticas comuns de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia” (MORAES, 2000, p.154).<br />
É importante que os meios de comunicação dêem visibili<strong>da</strong>de a certas práticas que<br />
ocorrem dentro <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong>de. O modelo de conhecimento produzido pela socie<strong>da</strong>de<br />
ocidental, segundo Boaventura, perdeu legitimi<strong>da</strong>de no último século em função <strong>da</strong> sua<br />
distância para a socie<strong>da</strong>de. Sendo assim ele considera que não é possível invisibilizar o<br />
conhecimento produzido pelos movimentos sociais, sob a pena de ampliar essa distância e<br />
persistir em um conhecimento empobrecido e insuficiente para responder as deman<strong>da</strong>s<br />
cotidianas. Para tanto é preciso construir um espaço de reconhecimento e legitimação dos<br />
processos de luta e de mobilização destes grupos, que lutam por uma transformação <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de e pelo futuro.<br />
Então me pareceu que, provavelmente, o mais preocupante no mundo de hoje é<br />
que tanta experiência social fique desperdiça<strong>da</strong>, porque ocorre em lugares remotos.<br />
Experiências muito locais, não muito conheci<strong>da</strong>s nem legitima<strong>da</strong>s pelas ciências<br />
sociais hegemônicas, são hostiliza<strong>da</strong>s pelos meios de comunicação social e por<br />
isso têm permanecido invisíveis, “desacredita<strong>da</strong>s”. (BOAVENTURA, 2007, p.23-<br />
24)<br />
Nesse contexto a produção audiovisual assume um significativo papel ao retratar<br />
essas experiências, para que elas não se percam ao longo do tempo. O conceito de<br />
representação se baseia no fato de que por mais que pareça que um produto audiovisual<br />
21
mostre a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quela imagem e som, na ver<strong>da</strong>de é a re-apresentação do real. Para Bill<br />
Nichols<br />
Se o documentário fosse uma reprodução <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, esses problemas seriam<br />
bem menos graves. Teríamos simplesmente a réplica ou cópia de algo já existente.<br />
Mas ele não é uma reprodução <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, é uma representação do mundo em<br />
que vivemos. Representa uma determina<strong>da</strong> visão do mundo, uma visão com a qual<br />
talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela<br />
representados nos sejam familiares. (NICHOLS, 2005, p. 47)<br />
O gênero documentário é o que mais se aproxima <strong>da</strong> reprodução do real, pois<br />
diferente do gênero ficção, em que os atores são dirigidos e já têm dimensão do que vão<br />
representar, no documentário as pessoas dão depoimentos <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, nos seus<br />
ambientes e portanto,<br />
As “pessoas” são trata<strong>da</strong>s como atores sociais: continuam a levar a vi<strong>da</strong> mais ou<br />
menos como fariam sem a presença <strong>da</strong> câmera. Continuam a ser atores culturais e<br />
não artistas teatrais. Seu valor para o cineasta consiste não no que promete uma<br />
relação contratual, mas no que a própria vi<strong>da</strong> dessas pessoas incorpora. Seu valor<br />
reside não nas formas pelas quais disfarçam ou transformam comportamento e<br />
personali<strong>da</strong>de habituais, mas nas formas pelas quais comportamento e<br />
personali<strong>da</strong>de habituais servem às necessi<strong>da</strong>des do cineasta. (idem, 2005, p.31)<br />
O documentário possui um caráter informativo que muito se aproxima do modelo<br />
<strong>da</strong>s reportagens televisivas, porém com mais detalhes e mais vozes retrata<strong>da</strong>s e envolvi<strong>da</strong>s,<br />
não apenas uma visão de determinado fato, acontecimento ou reali<strong>da</strong>de. Assim, como uma<br />
reportagem deve mostrar diversas visões de um fato, o documentário também possui essa<br />
característica de retratar um fato e documentar a história. O documentário “Fé na Terra”<br />
mostra claramente esta característica, pois exibe a percepção do encontro não só do ponto de<br />
vista de quem o elabora, mas também dos participantes, autori<strong>da</strong>des políticas envolvi<strong>da</strong>s, e o<br />
que ca<strong>da</strong> um desses “personagens” pensa dos temas que permeiam o encontro <strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes. Isso fica bem claro nos capítulos temáticos do documentário que intercala as falas<br />
dos agricultores e agricultoras com as falas dos militantes de diversos movimentos sociais,<br />
dos técnicos, professores, estu<strong>da</strong>ntes e pesquisadores que fazem parte desse processo.<br />
Porém, uma grande diferença <strong>da</strong>s reportagens televisivas e os documentários é a<br />
aproximação que um documentário exige entre quem filma e os envolvidos. Numa<br />
reportagem televisiva, pela efemeri<strong>da</strong>de que a caracteriza, e mesmo sendo um produto<br />
também audiovisual que exige certo aprofun<strong>da</strong>mento, pelo tempo e rapidez que é feito não<br />
consegue estabelecer uma relação tão profun<strong>da</strong>. O documentário exige uma relação mais<br />
22
próxima, um envolvimento maior para conseguir representar aquela reali<strong>da</strong>de. É necessário<br />
ouvir várias vozes que vivem aquele fato que se pretende documentar.<br />
Há normas e convenções que entram em ação, no caso dos documentários, para<br />
aju<strong>da</strong>r a distingui-los: o uso de comentário com voz de Deus, as entrevistas, a<br />
gravação de som direto, os cortes para introduzir imagens que ilustrem ou<br />
compliquem a situação mostra<strong>da</strong> numa cena e o uso de atores sociais, ou de<br />
pessoas em suas ativi<strong>da</strong>des e papéis cotidianos, como personagens principais do<br />
filme. Todos estão entre as normas e convenções comuns a muitos documentários.<br />
Outra convenção é a predominância de uma lógica informativa, que organiza o<br />
filme no que diz respeito às representações que ele faz do mundo histórico. (idem,<br />
2005, p.54)<br />
O documentário é assim uma releitura dessa reali<strong>da</strong>de documenta<strong>da</strong> através do<br />
audiovisual. No processo de produção de um produto audiovisual, há várias etapas como<br />
filmagem, edição, montagem o que permite que o filme construa argumentos, gere<br />
questionamentos e discussão. O uso de sons e imagens combina<strong>da</strong>s facilita o entendimento<br />
do que o documentário procura documentar, constrói uma ponte para o entendimento e por<br />
isso, o documentário tem uma capaci<strong>da</strong>de de provocar e suscitar uma discussão mais<br />
reflexiva.<br />
02. RELATÓRIO TÉCNICO<br />
2.0 Pré-Produção<br />
Para a realização deste Projeto Experimental, desde o início desse ano foi realizado<br />
uma pesquisa bibliográfica sobre os movimentos sociais e a forma como eles vem se<br />
articulando dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Tivemos ain<strong>da</strong> a participação em algumas reuniões na<br />
semana pré-Troca de Saberes e com integrantes do projeto, e ain<strong>da</strong> e elaboração de um<br />
roteiro de filmagens.<br />
2.0.1 Pesquisa<br />
O primeiro semestre letivo desse ano foi dedicado a pesquisa bibliográfica que<br />
resultou no projeto de monografia exigido pela disciplina COM 390. O tempo de pesquisa<br />
serviu como base teórica para desenvolvimento do trabalho, o que nos ajudou a entender<br />
23
como a Troca de Saberes funciona tendo essas pessoas como protagonistas desse encontro.<br />
Essa pesquisa contribuiu para entendermos também o processo de produção de um<br />
documentário enquanto produto jornalístico, e importância dessa prática tanto para o<br />
jornalismo como para a socie<strong>da</strong>de e as futuras gerações.<br />
2.0.2 Reuniões pré-Troca de Saberes<br />
Durante uma semana antes <strong>da</strong> realização do encontro <strong>da</strong> Troca de Saberes,<br />
participamos de algumas reuniões com os coordenadores e pessoas que constroem<br />
coletivamente esse encontro. Essas reuniões foram fun<strong>da</strong>mentais para entendermos o<br />
processo de construção, a relevância dos temas abor<strong>da</strong>dos para os participantes, como<br />
acontece a estruturação <strong>da</strong>s instalações pe<strong>da</strong>gógicas, além de to<strong>da</strong> logística como transporte,<br />
alojamento, alimentação e etc.<br />
Essa participação nos ajudou a entender a importância de ca<strong>da</strong> um <strong>da</strong>queles agentes<br />
dentro do espaço de estruturação <strong>da</strong> Troca de Saberes, como vivenciar o que havíamos<br />
pesquisado e estreitar os laços como assuntos que antes pareciam muito distantes <strong>da</strong> nossa<br />
reali<strong>da</strong>de. Essa inserção ajudou ain<strong>da</strong> a entender a reali<strong>da</strong>de e a necessi<strong>da</strong>de de discutir<br />
determinados assuntos, para que conseguíssemos documentar de forma mais fidedigna essas<br />
reali<strong>da</strong>des. Entender esse processo facilitou bastante a elaboração do roteiro de filmagem.<br />
2.0.3 Elaboração do Roteiro de Filmagem<br />
O roteiro de filmagem foi construído junto com o professor do Departamento de<br />
Educação, Marcelo Loures. De acordo com o que foi visto nas reuniões, conseguimos<br />
visualizar o que era realmente relevante e o que gravaríamos apenas para fins de registro.<br />
Durante a elaboração do roteiro, tentamos visualizar como seria o vídeo, quais os<br />
pontos centrais e como usaríamos essas imagens. Foi pensado inicialmente em casarmos o<br />
que aconteceu na semana anterior ao encontro, com a semana de realização <strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes. No pré-roteiro definimos ain<strong>da</strong> quais os depoimentos seriam fun<strong>da</strong>mentais para o<br />
desenvolvimento do documentário, as pessoas que entrevistaríamos e as rotas mais<br />
importantes já que várias coisas aconteciam simultaneamente e seria impossível gravarmos<br />
24
to<strong>da</strong>s. Pensamos ain<strong>da</strong> em gravar após a Troca de Saberes nas comuni<strong>da</strong>des participantes do<br />
encontro, para mostrar como esse conhecimento é levado para lá, porém, por questão de<br />
tempo do documentário vimos que não seria possível.<br />
2.0.4 O pré-roteiro<br />
- Abertura oficial- domingo á noite. 10 de julho.<br />
- Montagem do empório- sábado e domingo pela manhã. 09 e 10 de julho.<br />
- Gravar: alojamentos e a chega<strong>da</strong> dos participantes.<br />
- Interlocução do conhecimento universi<strong>da</strong>de/comuni<strong>da</strong>de<br />
- Trabalho <strong>da</strong> relatoria<br />
- Documentário não linear- Intercalar imagens do que aconteceu na preparação e execução.<br />
Na parte final, o pós Troca de Saberes.<br />
Depoimentos:<br />
Irene: os entraves dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de/ dificul<strong>da</strong>des.<br />
Willer: entendimento/concepção <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />
Marcelo: metodologia/ formação/ processo<br />
Nina- organização<br />
Padeiro- cultura<br />
Bete- CTA: questão de gênero.<br />
Depoimentos agricultores/ representantes dos movimentos sociais.<br />
- Amauri- Espera Feliz- agricultor/poeta/homeopata- vinculação dele com a universi<strong>da</strong>de,<br />
como construiu sua relação, qual o papel <strong>da</strong> Troca de Saberes dentro dessa relação dele com<br />
a comuni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de com a comuni<strong>da</strong>de.<br />
- Seu Nenê- Sindicato dos Trabalhadores Rurais Araponga<br />
- Abatiá- Agricultor de Tombos<br />
- Gilmar- sobre as EFAS<br />
- Vera- Agricultora familiar de Paula Cândido<br />
- Ermelin<strong>da</strong>- agricultora familiar<br />
- Irene- Agricultora familiar- sindicato de Tombos<br />
Instalações:<br />
Apiário<br />
25
Animais Silvestres: realiza<strong>da</strong> no Instituto Mineiro de Agropecuária- IMA<br />
Movimentos Sociais: GAO<br />
Cultura: Casa <strong>da</strong> Paz<br />
Plenárias:<br />
Durante a segun<strong>da</strong>, terça e quarta são realiza<strong>da</strong>s as mesas redon<strong>da</strong>s com intuito de<br />
aprofun<strong>da</strong>r as discussões.<br />
Após as instalações pe<strong>da</strong>gógicas são realizados grupos de discussão em que os participantes<br />
apontam os principais temas levantados pelo grupo.<br />
2.1 Produção<br />
O documentário sobre a Troca de Saberes começou a ser gravado na primeira semana<br />
de julho, uma semana antes do encontro. Nessas primeiras gravações foram registra<strong>da</strong>s as<br />
reuniões gerais, em que estava presente grande parte dos envolvidos na organização do<br />
encontro: pesquisadores, professores, alunos, estagiários e voluntários. Ain<strong>da</strong> nessa semana<br />
foi grava<strong>da</strong> a oficina de relatoria, ofereci<strong>da</strong> ás pessoas responsáveis pelo registro escrito do<br />
que acontece. Além do trabalho de preparação <strong>da</strong>s instalações, que foi registra<strong>da</strong> com o<br />
intuito de ser usado no documentário mostrando a organização <strong>da</strong> instalação e como ela<br />
ocorre de fato, foram feitas imagens <strong>da</strong> reunião <strong>da</strong> instalação que ocorreu no IMA sobre<br />
saúde animal e sobre cultura que ocorreu na Casa <strong>da</strong> Paz.<br />
Além <strong>da</strong> importância de se registrar uma parte do trabalho de preparação do<br />
encontro, essas imagens registra<strong>da</strong>s na primeira semana foram usa<strong>da</strong>s de forma não-linear<br />
no documentário. Essas imagens serão intercala<strong>da</strong>s com aquelas grava<strong>da</strong>s semana de<br />
realização <strong>da</strong> Troca de Saberes tornando o documentário mais dinâmico.<br />
A segun<strong>da</strong> semana de gravação começou no domingo, 10 de julho de 2011, no<br />
primeiro dia <strong>da</strong> Troca de Saberes. Foram feitas imagens <strong>da</strong> abertura oficial <strong>da</strong> Semana do<br />
Fazendeiro, <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> á Viçosa dos participantes do encontro, do ca<strong>da</strong>stramento e<br />
apresentação cultural de Tião Farinha<strong>da</strong>. Na segun<strong>da</strong>-feira, houve a abertura oficial <strong>da</strong> Troca<br />
de Saberes com apresentação de Thyaga e ban<strong>da</strong> que começou o dia com uma <strong>da</strong>nça no pau<br />
de fita, um momento de interação entre todos os participantes, pessoas <strong>da</strong> organização e as<br />
crianças. Nesse dia teve ain<strong>da</strong> uma mesa-redon<strong>da</strong> composta pelo sub-secretário de<br />
agricultura familiar do estado de Minas Gerais, Edmar Gadelha, um representante do<br />
26
Ministério <strong>da</strong> Agricultura, professores, pesquisadores e alunos <strong>da</strong> <strong>UFV</strong> e representantes dos<br />
movimentos sociais, que junto com os participantes discutiram e levantaram as seguintes<br />
questões. A falta de apoio do governo com esses agricultores familiares e a burocracia por<br />
eles enfrenta<strong>da</strong> para conseguir financiamento, a certificação de produto agroecológico, o uso<br />
do agrotóxico, foram algumas questões levanta<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>s com as autori<strong>da</strong>des presente.<br />
Na terça-feira iniciaram as instalações pe<strong>da</strong>gógicas espalha<strong>da</strong>s em diversas partes <strong>da</strong><br />
<strong>UFV</strong>. Foram registra<strong>da</strong>s as instalações que ocorreram no Empório: dos movimentos sociais,<br />
do papel <strong>da</strong> mulher na comuni<strong>da</strong>de e as relações de gênero e dos integrantes <strong>da</strong>s Escolas<br />
Família- Agrícola, as EFA‟s. Na Villa Gianetti foi grava<strong>da</strong> a instalação de cultura que<br />
ocorreu na Casa <strong>da</strong> Paz. Depois <strong>da</strong>s instalações todos os grupos se reuniram no Empório e<br />
trouxeram os levantamentos e questões para serem discutidos coletivamente. Um momento<br />
em que todos compartilham seus conhecimentos, o conhecimento assim não é egoísta, ele é<br />
dividido e serve para ca<strong>da</strong> um de uma forma. Ain<strong>da</strong> na terça houve mesa redon<strong>da</strong> no<br />
Departamento de Economia Rural, mais uma vez os grupos se dividiram e trouxeram<br />
questões a serem debati<strong>da</strong>s. No Empório teve apresentações culturais, com o grupo de<br />
Congado de Airões que também participaram <strong>da</strong> Troca de Saberes e de Tião Farinha, mestre<br />
griô de Espera Feliz.<br />
Na quarta-feira foi o último dia do encontro. A dinâmica de gravação foi pareci<strong>da</strong><br />
com a terça, pois também houve instalações pe<strong>da</strong>gógicas e discussão no Empório. Porém, na<br />
quarta foram realizados os registros de depoimentos dos participantes, extremamente<br />
importantes para o documentário. Esses depoimentos foram feitos com representantes dos<br />
movimentos, os agricultores, alunos, diretores e pais de alunos <strong>da</strong>s Escolas Família-<br />
Agrícola. O evento encerrou com a apresentação <strong>da</strong>s alunas do curso de Dança, Rafaela<br />
Grupioni e Aline Villaça. Nesse dia gravamos os alojamentos, que foi um dos grandes<br />
problemas enfrentados pela organização <strong>da</strong> Troca de Saberes, pois foi cancelado de último<br />
hora por parte <strong>da</strong> <strong>UFV</strong> os alojamentos destinados aos participantes do encontro. Os<br />
alojamentos foram improvisados em diversas partes <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>, como o Parque <strong>da</strong> Ciência,<br />
ITCP e diversas casas <strong>da</strong> Villa Gianetti, e também na ci<strong>da</strong>de na casa de pessoas que cederam<br />
suas casas generosamente e no Centro de Tecnologias Alternativas- CTA localiza<strong>da</strong> na<br />
Violeira.<br />
27
2.2 Pós-produção<br />
Depois do acontecimento do encontro, o mês de agosto foi dedicado a capturar o<br />
material audiovisual e fazer a seleção de toma<strong>da</strong>s. Parte desse material foi descartado devido<br />
a problemas de áudio, causado por um mau contato no microfone utilizado nas gravações.<br />
O mês de setembro foi utilizado para resgatar parte desse material perdido, e no<br />
término <strong>da</strong>s gravações. Foram feitas as últimas entrevistas com a organização do encontro,<br />
como também estagiários e parceiros. Esses depoimentos foram o fio condutor do<br />
documentário, em que, para que não fosse necessária a utilização de off’s para narrar<br />
determinados acontecimentos. O documentário se constitui-se como um relato dos próprios<br />
participantes sem uma terceira pessoa.<br />
Após o término <strong>da</strong>s gravações realizamos o trabalho de decupagem do material<br />
coletado, o que foi um processo bem demorado devido a quanti<strong>da</strong>de de material audiovisual<br />
capturado. Através <strong>da</strong> decupagem, fizemos a seleção de cenas, finalizamos o roteiro de<br />
edição e iniciamos a edição em outubro.<br />
2.2.1 Edição, Montagem e finalização<br />
A edição do documentário foi feita em cima de capítulos com os temas <strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes. Inicialmente foi pensado em intercalar momentos anteriores a Troca de Saberes,<br />
como as reuniões e pré-instalações pe<strong>da</strong>gógicas. Porém decidimos que mostrar os principais<br />
temas de discussão era fun<strong>da</strong>mental, exibindo através dos temas os levantamentos dos<br />
participantes o porquê desses temas serem tão relevantes dentro do cotidiano de onde estão<br />
inseridos. Assim, os capítulos têm as temáticas dos principais temas do encontro como<br />
movimentos sociais, agroecologia, saúde integral, soberania alimentar, economia popular<br />
solidária, gênero, educação do campo e cultura popular. A partir desses temas foi mostrado<br />
como eles foram desenvolvidos ao longo <strong>da</strong> Troca de Saberes, através <strong>da</strong>s instalações<br />
pe<strong>da</strong>gógicas, grupos de discussão e plenárias. Além dos capítulos temáticos dois capítulos<br />
também foram fun<strong>da</strong>mentais: o primeiro que caracteriza o que é a Troca de Saberes e o<br />
segundo que explica a metodologia utiliza<strong>da</strong>.<br />
Com os capítulos e temas definidos, os separamos em bloco. O primeiro bloco<br />
contém os capítulos: o que é Troca de Saberes, a metodologia utiliza<strong>da</strong> e a importância de<br />
28
envolver os movimentos sociais. O segundo bloco foi direcionado às questões <strong>da</strong> terra:<br />
agroecologia, soberania alimentar, saúde integral e economia popular solidária. O terceiro<br />
bloco ficou com as temáticas: gênero, educação do campo e cultura popular.<br />
A edição foi realiza<strong>da</strong> no programa de edição Premiere. Depois de realiza<strong>da</strong> essa<br />
primeira edição pensamos em colocar uma animação para ca<strong>da</strong> bloco. No primeiro bloco foi<br />
feita a animação com a arte do documentário. Na segun<strong>da</strong> um homem entra jogando<br />
agrotóxico na plantação e outro homem entra dizendo que ele não pode fazer aquilo. Na<br />
terceira uma mulher leva seu filho a escola e depois vai trabalhar, que caracteriza a educação<br />
do campo e o movimento <strong>da</strong>s mulheres. Esteticamente, decidimos por uma animação mais<br />
simples, com cores vivas e desenhos lúdicos, com elementos mais simples aproximando <strong>da</strong><br />
característica do encontro.<br />
A montagem e finalização do documentário foi realizado no programa Final Cut,<br />
momento em que arrumamos todos os áudios <strong>da</strong> mesma altura, acrescentamos legen<strong>da</strong>,<br />
músicas e os créditos finais. Ao colocar todos os capítulos em sequência foi possível<br />
visualizar o produto geral e ver o que precisava ser melhorado, por exemplo, algumas falas<br />
considera<strong>da</strong>s redun<strong>da</strong>ntes foram retira<strong>da</strong>s e a diferença de áudio de uma fala para outra. Esse<br />
processo foi realizado no Rio de Janeiro em uma produtora profissional, utilizando<br />
computadores Macintosh, onde podemos usufruir de mais recursos junto ao programa final<br />
cut. Foi realiza<strong>da</strong> a edição de ca<strong>da</strong> imagem separa<strong>da</strong>mente colocando to<strong>da</strong>s do mesmo<br />
tamanho, consertamos a luz, demos magnitude para que as imagens ficassem mais reais e<br />
clareamos imagens que estavam escuras.<br />
Para finalizar foi criado um menu contendo o vídeo do documentário e as fotografias<br />
Still que registraram os diversos momentos <strong>da</strong> Troca de Saberes. Foi colocado ain<strong>da</strong> o<br />
contato <strong>da</strong> diretora do documentário.<br />
2.3 Equipe técnica<br />
Direção: Andriza Andrade<br />
Produção: Andriza Andrade, Paula Machado, Vitor Secchin<br />
Roteiro: Andriza Andrade e Marcelo Loures<br />
Operadores de câmera: Andriza Andrade, Giuliano Sales, Kelen Ribeiro, Paula Machado,<br />
Vitor Sechin, Wanessa Marinho<br />
Transporte: Andriza Andrade<br />
Fotografia Still: Carolina Félix, Giuliano Sales e Paula Machado<br />
29
Entrevistas: Andriza Andrade<br />
Edição e Montagem: Andriza Andrade e Jor<strong>da</strong>na Belo<br />
Assistente de Montagem: Alessandra Stropp<br />
Finalização: Alessandra Stropp e Andriza Andrade<br />
Arte Gráfica: Felipe Rhein, Giuliano Sales e Thiago Padovan<br />
Animação: Léo Faria<br />
Orientação: Soraya Ferreira<br />
Co-orientação: Marcelo Loures<br />
2.4 Equipamentos<br />
Câmera filmadora Sony<br />
Câmera filmadora Panasonic<br />
Câmera fotográfica Sony<br />
Computadores: Dell e Macintosh<br />
2.5 Orçamento<br />
Alimentação:<br />
Transporte: 500,00<br />
Fitas mini dv‟s: 130,00<br />
Dvd‟s: 20,00<br />
Capas para Dvd: 20,00<br />
Impressões: 40,00<br />
Impressões etiquetas e capa Dvd: 27,00<br />
Capa personaliza<strong>da</strong>: 175,00<br />
Finalização:<br />
2.6 Duração do vídeo:<br />
01:02:39<br />
2.7 Trilha Sonora<br />
30
- A música tema que está no menu do DVD, no início do documentário e nas animações<br />
chama-se Oslodum, de autoria de Gilberto Gil e está disponível no site Domínio Público.<br />
- A música “Peneirei Fubá” é de Domínio público e está neste documentário na<br />
interpretação do artista popular <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata Mineira, Tião Farinha<strong>da</strong>.<br />
- As outras músicas são de autoria de Tião Farinha<strong>da</strong> e as concessões de autorização de uso<br />
e reprodução foram devi<strong>da</strong>mente autoriza<strong>da</strong>s pelo artista.<br />
03. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A Troca de Saberes se constitui com um espaço de abertura para que a universi<strong>da</strong>de<br />
abra caminhos para o conhecimento popular, um conhecimento que já foi muito<br />
desvalorizado e marginalizado. A interação <strong>da</strong> academia com esses conhecimentos é<br />
fun<strong>da</strong>mental, porque vivemos uma época em que as pessoas estão ca<strong>da</strong> vez mais se<br />
mobilizando em busca de seus direitos, em busca de seu espaço. Esse contato é essencial<br />
para que a academia dê visibili<strong>da</strong>de á certas práticas e movimentos que vem ocorrendo e<br />
nem sempre as pessoas têm sensibili<strong>da</strong>de para buscar entender esses conhecimentos,<br />
aprender e trocar com essas pessoas. Entender essas visões de mundo se torna importante<br />
para uma socie<strong>da</strong>de que está ca<strong>da</strong> vez mais preocupa<strong>da</strong> com as questões ambientais, com um<br />
modo de vi<strong>da</strong> sustentável e assim, consequentemente com outras formas de vi<strong>da</strong>. Nesse<br />
sentido, entendermos o mundo e sua multiplici<strong>da</strong>de de vozes é importante para<br />
conseguirmos transformá-lo.<br />
A agroecologia e os diversos temas que a permeiam, mostrado no documentário, é<br />
um movimento social e um modelo alternativo de produção, de cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> terra e <strong>da</strong> natureza.<br />
Mas, sem dúvi<strong>da</strong> a agroecologia para quem a pratica é um estilo de vi<strong>da</strong> e uma escolha. Por<br />
isso, a realização do documentário “Fé na Terra” tentou imergir no mundo dos participantes,<br />
entender a reali<strong>da</strong>de deles para que to<strong>da</strong>s essas reali<strong>da</strong>des fossem demonstra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> forma<br />
mais próxima dos envolvidos.<br />
Foi extremamente relevante para o processo de consoli<strong>da</strong>ção do documentário<br />
participar de algumas reuniões do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Araponga, encontro<br />
de mulheres e algumas reuniões <strong>da</strong> Associação Mineira de Agroecologia realiza<strong>da</strong>s no<br />
Centro de Tecnologia Alternativa <strong>da</strong> Zona <strong>da</strong> Mata (CTA-ZM). Foi a partir desse contato<br />
31
que passamos a entender melhor o cotidiano e porque essas temáticas retrata<strong>da</strong>s no filme<br />
estão tão liga<strong>da</strong>s a vi<strong>da</strong> dos participantes <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />
Ao longo do processo de construção do documentário “Fé na Terra” passamos<br />
também a questionar o modo de se fazer o jornalismo e a comunicação de massa, que muitas<br />
vezes não dá visibili<strong>da</strong>de aos movimentos sociais e a outros estilos de vi<strong>da</strong> que prevalecem<br />
além dos padrões hegemônicos que nos são colocados pela socie<strong>da</strong>de capitalista. Ver como<br />
a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, a generosi<strong>da</strong>de, a preocupação com a coletivi<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> existe nos faz<br />
acreditar que é possível construir um outro modelo de socie<strong>da</strong>de, que não se baseia apenas<br />
no ganho do capital, que seja mais justo e igual.<br />
Por fim, participar <strong>da</strong> Troca de Saberes e ao longo do documentário questionamos<br />
as universi<strong>da</strong>des públicas brasileiras que nunca deu muita possibili<strong>da</strong>de para que o povo<br />
ocupasse esses espaços de fato, por se constituírem enquanto espaço de construção de<br />
conhecimento para as elites. Assim, falta identi<strong>da</strong>de desses espaços com o povo e trazer<br />
essas pessoas para dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de e valorizar o conhecimento popular é também a<br />
possibili<strong>da</strong>de de fazer <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de um espaço realmente democrático.<br />
32
04. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
ESTEVÃO, Sebastião Augusto. Cultura popular e transformações sociais. Entrevista<br />
realiza<strong>da</strong> no dia 13 de julho de 2011 em Viçosa. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza Andrade.<br />
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liber<strong>da</strong>de e outros escritos. São Paulo: Paz e Terra,<br />
2001 (9ª edição).<br />
GOHN, Maria <strong>da</strong> Glória. Educação não-formal e cultura política. São Paulo: Cortez,<br />
2001.<br />
MEIRELLES, Laércio. Soberania Alimentar e a construção de mercados locais para<br />
produtos <strong>da</strong> Agricultura Familiar. v. 1. Edição 1. Outubro de 2008.<br />
MORAES, Dênis de. Comunicação virtual e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia: Movimentos sociais e políticos<br />
na internet. Revista Brasileira de Ciências <strong>da</strong> Comunicação. Rio de Janeiro, nº. 2,<br />
julho/dezembro de 2000.<br />
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário; tradução Mônica Saddy Martins-<br />
Campinas, SP: Papirus, 2005.<br />
SANTOS, Boaventura Sousa. A universi<strong>da</strong>de no século XXI: Para uma Reforma<br />
Democrática e Emancipatória <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de. São Paulo: Cortez Editora, 2005 (3ª<br />
edição).<br />
SANTOS, Boaventura Sousa. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social.<br />
São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.<br />
SILVA, Márcio Gomes. Economia Popular Solidária. Entrevista realiza<strong>da</strong> no dia 07 de<br />
outubro de 2011 em Viçosa. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Andriza Andrade.<br />
33
ANEXOS<br />
Fotos:<br />
Segundo dia de gravação: abertura oficial <strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />
34
Segundo dia de gravação: <strong>da</strong>nça <strong>da</strong> fita, grande ro<strong>da</strong> no Empório.<br />
Empório <strong>da</strong>s Matas.<br />
35
Segundo dia de gravação: debate no Espaço Fernando Sabino.<br />
Terceiro dia de gravação: debate no Empório.<br />
36
Terceiro dia de gravação: debate no Departamento de Economia Rural.<br />
Quarto dia de gravação: debate no Empório.<br />
37
Quarto dia de gravação: entrevista Mestre Boi, Congado de Airões.<br />
Quarto dia de gravação: apresentação Folia de Reis do Estouro- Araponga.<br />
38
Termo de autorização de direito de uso de imagem<br />
Termo de Compromisso<br />
Eu,<br />
abaixo-assinado, residente á<br />
portador <strong>da</strong> cédula de identi<strong>da</strong>de<br />
e CPF<br />
, concedo para livre utilização,<br />
direitos sobre a minha imagem e som <strong>da</strong> minha voz a qualquer tempo para integrar<br />
o vídeo documentário intitulado “Fé na Terra- documentário sobre a Troca de<br />
Saberes 2011”, sob a direção de Andriza Maria Teodolino de Andrade, portadora<br />
<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de MG- 13.240.444 e CPF 077.743.666-36.<br />
Declaro ain<strong>da</strong> estar ciente <strong>da</strong> proposição do projeto e que aceito participar do<br />
mesmo autorizando consequentemente e universalmente qualquer exploração<br />
comercial, distribuição e exibição <strong>da</strong> obra por todo e qualquer veículo, ou meio de<br />
comunicação e publici<strong>da</strong>de existente para exibição pública ou domiciliar,<br />
reprodução no Brasil ou no Exterior, podendo as cenas <strong>da</strong> obra em questão ser<br />
utiliza<strong>da</strong>s para fins comerciais ou não, exibições em festivais ou outros meios que<br />
se fizerem necessários.<br />
Assinatura<br />
Nome<br />
Viçosa, de de 2011.<br />
39
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE TRILHA SONORA<br />
Eu, abaixo assinado, na quali<strong>da</strong>de de titular dos direitos autorais <strong>da</strong>s músicas (música e<br />
letra) relaciona<strong>da</strong>s abaixo, <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> musical _____________________________<br />
autorizo o aluno(a) ________________________________________portador do<br />
RG__________________ e CPF_________________________, a utilizar as músicas de<br />
minha autoria como trilha sonora do documentário intitulado “Fé na Terra” por ele(a)<br />
desenvolvido, na categoria de Trabalho de Conclusão de Curso, ou ain<strong>da</strong> em outros canais<br />
de TV ou mídias por ela autorizados, sem limitação de tempo ou de número de exibições,<br />
no Brasil e/ou Exterior. Esta autorização inclui o uso do programa que contenham as<br />
músicas cita<strong>da</strong>s abaixo, em todo o tipo de transmissão e reprodução de imagens, em<br />
televisão aberta, fecha<strong>da</strong>, por assinatura e internet, bem como qualquer outro processo de<br />
transporte de sinal de vídeo como DVD´s e fitas VHS ou em futuras mídias por meio <strong>da</strong>s<br />
quais os programas possam ser exibidos.<br />
Na condição de Realizador e Produtor dos programas que contenham as músicas cujo uso<br />
ora é cedido, o aluno (a) ____________________________________________, poderá<br />
dispor livremente do programa que contenham as músicas abaixo lista<strong>da</strong>s a título gratuito,<br />
inclusive estando autoriza<strong>da</strong> a ceder sua exibição a terceiros, não cabendo a mim qualquer<br />
direito e/ou remuneração, a qualquer tempo e título.<br />
Músicas com direitos de utilização cedidos:<br />
1) _________________________________<br />
2) _________________________________<br />
3) _________________________________<br />
___________________, _____ de ________________ 2011.<br />
Nome: _____________________________________________<br />
Assinatura: _________________________________________<br />
End.: ______________________________________________<br />
Fone:______________________________________________<br />
e-mail:_____________________________________________<br />
CPF: _____________________/ CI_____________________<br />
40
Falas iniciais<br />
Bloco 1: O que é a<br />
Troca de Saberes, a<br />
Metodologia utiliza<strong>da</strong> e<br />
a importância dos<br />
Movimentos Sociais<br />
para a Troca de<br />
Saberes.<br />
Irene<br />
Gumercindo<br />
ROTEIRO FINAL<br />
E a gente aí, tá nessa luta pela agroecologia, isso aí tem sido<br />
fun<strong>da</strong>mental pra nós que é a luta pela vi<strong>da</strong>.<br />
As universi<strong>da</strong>des precisam dialogar com os saberes, com as<br />
diferentes formas de saber popular.<br />
Valorização <strong>da</strong> pessoa, do sujeito, então educação é pensar<br />
num todo.<br />
O agronegócio não está nem aí pras pessoas, simplesmente<br />
pro dinheiro e agroecologia pra vi<strong>da</strong>, pra diversi<strong>da</strong>de.<br />
Porque tudo nós temos que avaliar, tudo faz parte de uma<br />
vi<strong>da</strong> de agroecologia. A agroecologia nasce dentro <strong>da</strong> gente,<br />
não é difícil não.<br />
Fazer um agregado de conhecimento e força de vontade pra<br />
coisa poder an<strong>da</strong>r.<br />
Terra pra gente ela é viva e ela é mãe, é como se fosse uma<br />
mãe.<br />
Se a gente negar a mata, nós estamos negando a nossa<br />
ancestrali<strong>da</strong>de, nós temos o pé fincado o terra, temos o pé<br />
fincado na mata.<br />
Enquanto nós organizamos pra libertar, os poderosos<br />
organiza pra oprimir, então a nossa luta sempre vai existir,<br />
agora a nossa vitória depende de nós<br />
Animação com a logo do documentário em movimento.<br />
Música Oslodum de Gilberto Gil ao fundo.<br />
Porque o que nós queremos na ver<strong>da</strong>de não é a troca, mas a<br />
interação de saberes. Que saberes são esses? Saberes dos<br />
acadêmicos com os saberes dos não acadêmicos. No nosso<br />
caso em especial, o conhecimento acadêmico com o<br />
conhecimento dos agricultores e agricultoras familiares.<br />
Então trazer todos vocês que estão aqui para dentro <strong>da</strong><br />
universi<strong>da</strong>de para nós é uma satisfação muito grande,<br />
especialmente porque nós não estamos trazendo as pessoas<br />
aqui pra dentro para que possam nos ouvir falar, nós estamos<br />
trazendo vocês aqui pra dentro para que vocês possam falar e<br />
para que nós aprendemos a ouvir, porque infelizmente os<br />
cientistas, os pesquisadores estu<strong>da</strong>m muito, nós todos né,<br />
professores que estamos aqui, fazemos nosso curso de<br />
graduação, fazemos o mestrado, fazemos o doutorado,<br />
entramos nas nossas pesquisas e ficamos cegos e surdos.<br />
Então a universi<strong>da</strong>de precisa aprender a ouvir, a Troca de<br />
Saberes é isso, é compartilhar é falar e escutar, é trocar to<strong>da</strong>s<br />
as experiências que a gente precisa para que realmente a<br />
gente possa trazer desenvolvimento para aqueles que<br />
41
Willer<br />
Luís Cláudio<br />
Irene<br />
Willer<br />
Irene<br />
Gumercindo<br />
Irene<br />
precisam, o desenvolvimento pro campo, mas o<br />
desenvolvimento realmente sustentável, que seja um<br />
desenvolvimento equilibrado, não com base no ganho<br />
político, não com base no capital, mas que seja um<br />
desenvolvimento justo, solidário e que dê oportuni<strong>da</strong>de a<br />
todos.<br />
Somos sujeitos dessa Troca de Saberes. Todos que<br />
participarem são construtores desses saberes. Obviamente,<br />
que à medi<strong>da</strong> em que nós vamos estar recebendo aqui em<br />
torno de 200 trabalhadores e trabalhadoras rurais dessa<br />
região, a gente quer entender que essas pessoas são sujeitos<br />
grandes e significativos dessa Troca de Saberes. Não<br />
significa que eu deixe de ser também sujeito disso, mas<br />
significa que na lógica <strong>da</strong> hierarquização dos saberes, dos<br />
poderes, nós temos que diminuir o nosso poder e temos que<br />
aumentar o poder <strong>da</strong>s pessoas com quem vai estar interagido,<br />
para que a gente possa buscar um diálogo mais<br />
horizontalizado.<br />
O que nós devemos nos perguntar aqui nesse momento é: a<br />
quem serve a universi<strong>da</strong>de brasileira? Se a universi<strong>da</strong>de<br />
brasileira falhar em servir ao seu povo, a sua gente, se a<br />
universi<strong>da</strong>de brasileira falhar em acabar com a miséria não<br />
adianta ela produzir todos os artigos científicos do mundo.<br />
E nessa perspectiva a gente quer construir uma agricultura<br />
diferente, um modo diferente de li<strong>da</strong>r com a agricultura, que<br />
no nosso caso a gente trabalha segundo os princípios <strong>da</strong><br />
agroecologia.<br />
Nós não estamos querendo reforçar a lógica do discurso do<br />
agronegócio, <strong>da</strong> monocultura, se não que <strong>da</strong> ecologia de<br />
saberes, se não que de uma perspectiva popular.<br />
Essa interação entre os conhecimentos acadêmicos e não<br />
acadêmicos ele já vem acontecendo há muito tempo e<br />
principalmente dentro <strong>da</strong> perspectiva agroecológica e em<br />
2009 a gente teve então a oportuni<strong>da</strong>de junto de construir um<br />
evento que a gente chama de Troca de Saberes dentro <strong>da</strong><br />
Semana do Fazendeiro, junto, em articulação com a Semana<br />
do Fazendeiro e com o apoio aí mais explícito <strong>da</strong> pró-reitoria<br />
de extensão.<br />
A extensão deve ser a ativi<strong>da</strong>de universitária que articula o<br />
ensino e a pesquisa e viabiliza a relação com a socie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>í<br />
o chamado para o diálogo <strong>da</strong> pesquisa cientifica com o<br />
conhecimento popular.<br />
E na Troca de Saberes o que na ver<strong>da</strong>de nós queremos é um<br />
sinergismo entre os conhecimentos e quando isso aconteceu,<br />
o processo é um processo longo, então a gente já vem nessa<br />
construção há muito tempo. Então nessa interação com os<br />
agricultores <strong>da</strong> região buscando respeitar e valorizar os<br />
conhecimentos deles e buscando momentos em que esse<br />
conhecimento possa interagir com o conhecimento<br />
42
Sara<br />
Abatiá<br />
Irene<br />
Elza Ilza<br />
Irene Alves<br />
Início capítulo de<br />
metodologia: Marcelo<br />
Marcelo (Semana pré-<br />
Troca de Saberes)<br />
acadêmico também pra gerar um conhecimento novo.<br />
A valorização dos saberes, seria <strong>da</strong>r mais valor a aquilo que a<br />
gente aprende, ao todo, a história de vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um, prestar<br />
mais atenção no que aconteceu com ca<strong>da</strong> pessoa, o que<br />
aconteceu com ca<strong>da</strong> ou o que aconteceu comigo, é conhecer<br />
mais as pessoas, compreendê-las.<br />
Eu acho o mais interessante dessa Troca de Saberes que os<br />
saberes, né, você nunca esquece <strong>da</strong>quilo que você aprende e<br />
hoje um dos maiores ganhos é você estar informado, estar<br />
capacitado, e sair, que a gente tem ganhado muito com isso.<br />
E a Troca de Saberes desperta muito para que isso aconteça.<br />
Você não pode se eternizar naquilo que você aprende, porque<br />
todos nós sabemos que somos mortais, mas o projeto<br />
continua vivo. Então isso é um grande objetivo para nós,<br />
você compartilha aquilo que você vêm que é o objetivo de<br />
trocar os saberes e leva muitos conhecimentos para a nossa<br />
comuni<strong>da</strong>de.<br />
Eles possuem um conhecimento muito valioso e esse<br />
conhecimento por muito tempo ele foi desvalorizado e<br />
desrespeitado. Então um dos objetivos é valorizar e resgatar<br />
esses conhecimentos.<br />
O que mudou, o que eu vejo é o interesse <strong>da</strong> ampliação,<br />
inclusive de multiplicação através <strong>da</strong> Troca de Saberes<br />
chegando até na ponta esses conhecimentos para os<br />
agricultores e agricultoras que mesmo não participando aqui<br />
que chegam até eles, e até elas agriculturas esse trabalho que<br />
vem se desenvolvendo que é essa Troca de Saberes, que pra<br />
gente é um troca de experiência <strong>da</strong>quilo que nós sabemos e<br />
levando e multiplicando não só para as pessoas, mas também<br />
aqui pros participantes.<br />
Então essa troca de conhecimento, quando se reúne, ela frui,<br />
ela cresce. Por quê? Porque junta os dois, e a gente entra com<br />
a teoria e com a prática e a gente consegue. Então, às vezes<br />
as pessoas <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de não têm tanta informação naquilo<br />
que a gente faz no dia a dia, que é as plantas, que é a geração<br />
de ren<strong>da</strong>, que é a gente produzir de quali<strong>da</strong>de, sem veneno,<br />
então a gente vem para a prática trocar essa experiência.<br />
Aquilo que a gente não sabe lá a gente aprende aqui e aquilo<br />
que a gente pode trazer, a gente troca umas com as outras.<br />
A metodologia <strong>da</strong> Troca de saberes, como to<strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes na ver<strong>da</strong>de, ela foi construí<strong>da</strong> nos coletivos, então a<br />
gente tinha os grupos de trabalho que dividiam as tarefas e<br />
que foram decididos lá nas primeiras reuniões <strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes, a gente juntou os movimentos sociais, a gente<br />
juntou os professores envolvidos nas Trocas de Saberes<br />
anteriores, os professores do programa TEIA e lá a gente<br />
começou a discutir como seria a Troca de Saberes desse ano<br />
A ideia é que a gente fizesse uma mobilização dessas<br />
comuni<strong>da</strong>des falando um pouco, ééé, fazendo uma avaliação<br />
43
Edmar Gadelha<br />
Marcelo<br />
Irene<br />
Marcelo<br />
Marcelo (Semana pré-<br />
Troca de Saberes)<br />
Vladimir<br />
Marcelo<br />
do que foi a Troca de Saberes do ano passado e propor,<br />
tirando propostas.<br />
Nós temos ai a metodologia <strong>da</strong> ação extensionista que veio ai<br />
há muitos anos atrás para modernizar a agricultura no país<br />
que trouxe vários tipos de conseqüência para a agricultura<br />
familiar e agora nós temos essa metodologia <strong>da</strong> Troca de<br />
Saberes.<br />
Que uma <strong>da</strong>s características principais <strong>da</strong> Troca de Saberes é<br />
ter um formato diferenciado <strong>da</strong>quele modelo tradicional, de<br />
uma fala expositiva, de uma fala verticaliza<strong>da</strong>, de alguém<br />
que sabe pra alguém que não sabe. Então a grande<br />
preocupação nossa é construir uma metodologia que fosse<br />
mais participativa possível e o mais próxima possível de uma<br />
reali<strong>da</strong>de dos agricultores.<br />
A gente pensou então que seria: a fala rápi<strong>da</strong> dessas pessoas;<br />
depois uma fala de dez minutos, só para suscitar o debate;<br />
depois nós dividiríamos em grupos: dez grupos, oito grupos,<br />
essas pessoas nos grupos elas escolheriam dois a três temas<br />
para elas debaterem; e, depois que elas debatessem esses dois<br />
a três temas, a gente <strong>da</strong>ria um tempo pro trabalho em grupo e<br />
voltaria para fazer a plenária. Imagens em off dos grupos de<br />
discussão.<br />
Então a gente fomentava muito uma metodologia dialógica<br />
assim, muito de conversa, muito de contar.<br />
Na terça-feira e na quarta começam as instalações<br />
pe<strong>da</strong>gógicas. As instalações pe<strong>da</strong>gógicas, para quem não<br />
sabe, são aqueles espaços onde ou o movimento social ou o<br />
programa ou o professoro qualquer instituição que seja<br />
parceira vai apresentar uma proposta de discussão. A<br />
proposta <strong>da</strong> instalação pe<strong>da</strong>gógica é estabelecer uma<br />
interlocução entre as pessoas que tem um saber específico<br />
sobre um tema e as outras pessoas que vivem esse problema<br />
nas questões do cotidiano. (Imagens em off <strong>da</strong>s instalações<br />
pe<strong>da</strong>gógicas) Feita essa discussão nas instalações<br />
pe<strong>da</strong>gógicas reúne todo mundo no Empório, um espaço que<br />
vai ter em frente o DCE e ali faz-se uma discussão, se<br />
vincula essas temáticas com diversos temas transversais, que<br />
é agroecologia, educação do campo, gênero, economia<br />
popular solidária, e outras temáticas.<br />
O ideal é que isso seja feito durante o, que tenha dentro<br />
encontro um momento de avaliação, onde as pessoas, os<br />
participantes mesmo, discutam se aquela ativi<strong>da</strong>de cumpriu<br />
ou não os objetivos, o que ela cumpriu, o que ela não<br />
cumpriu.<br />
Outra coisa que aconteceu nessa Troca de Saberes que foi<br />
muito bacana, foi a idéia do Empório (imagens em off do<br />
Empório e <strong>da</strong>s discussões que lá ocorreram). A proposta do<br />
Empório era um espaço, era uma própria instalação<br />
pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> Troca de Saberes de to<strong>da</strong> Troca de Saberes.<br />
44
Início capítulo<br />
Movimentos Sociais:<br />
Tião Farinha<strong>da</strong> canta<br />
no Empório<br />
Willer<br />
Edmar Gadelha<br />
Gumercindo<br />
Então era um espaço ambientado onde você tinha vários<br />
elementos que suscitava nos trabalhadores, nos pequenos<br />
agricultores, nas pessoas dos movimentos, nos estu<strong>da</strong>ntes<br />
todo mundo que participava, era elementos que suscitava o<br />
cotidiano. Se você for pegar as filmagens, se você for pegar<br />
as fotos, os registros, você tem no fundo sempre muitas<br />
pessoas se encontrando e conversando e falando de coisas<br />
que tem a ver com os movimentos, tem a ver sobre o dia-adia<br />
ou contando pia<strong>da</strong>. Então era um espaço muito rico de<br />
encontro, um manancial de muitas idéias, de muitas<br />
propostas, e que talvez a gente desenvolva ou repita no<br />
próximo ano. A idéia não é manter um formato que tá sendo<br />
bem sucedido, mas é sempre uma possibili<strong>da</strong>de de provocar.<br />
Traga a bandeira de luta<br />
Deixa a bandeira passar<br />
Essa é a nossa conduta<br />
Vamos unir pra mu<strong>da</strong>r<br />
O processo universitário tem que refazer a curva do diálogo.<br />
A universi<strong>da</strong>de brasileira, uma universi<strong>da</strong>de nova com<br />
menos de 100 anos é uma universi<strong>da</strong>de fortemente elitiza<strong>da</strong>.<br />
É uma universi<strong>da</strong>de que vem se constituindo enquanto<br />
construção de conhecimento para as elites e agora já se<br />
percebe que não é possível apenas esse viés<br />
Desde a época que a gente passou ai trabalhando a criação do<br />
movimento sindical, <strong>da</strong>s organizações sindicais, <strong>da</strong>s<br />
organizações dos movimentos sociais, do próprio CTA e isso<br />
aqui era como se fosse um palácio cercado com muros muito<br />
altos onde o povo ficava do lado de fora. E isso então é<br />
significativo um movimento aqui como esse dentro <strong>da</strong> <strong>UFV</strong>,<br />
tão de parabéns.<br />
Nós já em articulação com os movimentos sociais<br />
começamos a repensar o formato <strong>da</strong> Semana do Fazendeiro,<br />
inclusive para trazer para dentro desse espaço aqueles que<br />
não tinham presença aqui na universi<strong>da</strong>de. Nós também<br />
desenvolvemos dentro <strong>da</strong> pró-reitoria de Extensão e Cultura<br />
um trabalho de maior aproximação com os movimentos<br />
sociais, á partir <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> Assessoria de Movimentos<br />
Sociais. A avaliação que nós tínhamos até<br />
entrarmos/participarmos <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> <strong>UFV</strong> é aquilo<br />
que todos os professores que estão aqui, estu<strong>da</strong>ntes sabem<br />
que o histórico dessa universi<strong>da</strong>de é de uma ótima relação<br />
com as empresas, uma ótima relação com os<br />
empreendedores, mas que não tinha uma aproximação<br />
adequa<strong>da</strong> e o diálogo adequado com os movimentos sociais,<br />
com os trabalhadores e as trabalhadoras. Então nós estamos<br />
recomeçando, iniciando uma nova fase dentro <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa, que é <strong>da</strong> aproximação com<br />
os movimentos sociais, com os trabalhadores e as<br />
trabalhadoras. Então a Troca de Saberes na Semana do<br />
45
Willer<br />
Marta<br />
Sônia<br />
Marta<br />
Sônia<br />
Kênio<br />
Fazendeiro vem <strong>da</strong>r esse formato, vem <strong>da</strong>r voz a quem não<br />
tinha, vem <strong>da</strong>r presença a quem não estava presente, vem <strong>da</strong>r<br />
espaço a aqueles que realmente precisam <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de<br />
pública.<br />
E é nessa perspectiva que a gente convi<strong>da</strong> os movimentos e<br />
organizações pra conhecerem a nossa dinâmica universitária.<br />
Ao convi<strong>da</strong>r os movimentos e organizações sociais, a gente<br />
constitua um novo patamar de construção do conhecimento<br />
de geração dos saberes. A importância dos movimentos<br />
sociais é para que a gente faça um pouco a inversão dessa<br />
dívi<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gógica, dessa dívi<strong>da</strong> social que a universi<strong>da</strong>de<br />
brasileira tem com a população desse país.<br />
Ain<strong>da</strong> até hoje ain<strong>da</strong> vejo a dúvi<strong>da</strong> de muitos companheiros<br />
aí que perguntam o que é o MAB? (imagens em off <strong>da</strong><br />
bandeira do MAB) O MAB somos nós trabalhadores né que<br />
quando chega a empresa ou até mesmo antes de chegar as<br />
empresas barrageiras, onde que nós temos que se organizar<br />
né. O MAB hoje somos nós os trabalhadores, as pessoas<br />
comuns, mas somos aquelas pessoas que vivem mexendo.<br />
Eu faço parte <strong>da</strong> Marcha Mundial <strong>da</strong>s Mulheres e também é<br />
pauta <strong>da</strong> marcha tá discutindo isso, de tá levando<br />
reivindicação, de denúncia nessa coisa, porque é uma<br />
situação que traz muito sofrimento pras famílias e<br />
principalmente as mulheres, porque as mulheres na situação<br />
que tem mineração, que tem barragem as mulheres é umas<br />
<strong>da</strong>s que são muito atingi<strong>da</strong>s também, por vários tipos mais de<br />
violência.<br />
E foi quando no ano passado pra nossa surpresa e nem foi<br />
surpresa, pra alguns sim, mas pra nós do movimento não foi,<br />
quando o pessoal dos Direitos Humanos visitou Fumaça e<br />
realmente constata neh Kênio, como ta aí no relatório de<br />
Direitos Humanos que em Fumaça nossos direitos foi<br />
violado. Primeiramente, porque a empresa ela foca quando<br />
vê um militante, ela fala que nóis somos liderança, ela passa<br />
a ameaçar nóis de morte na região, ela coloca pessoas na<br />
comuni<strong>da</strong>de, escolhe pessoas dentro <strong>da</strong> igreja e assim, nóis<br />
somos trabalhador, nóis sabe que nós temos direito, e é<br />
aonde que nóis trabalhadores não podemos ter medo <strong>da</strong>s<br />
grandes empresas.<br />
Agricultoras que viveu a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> na roça, gosta de tá na<br />
roça, sendo ameaça<strong>da</strong>s de ser expulsa <strong>da</strong> sua terra, de ser<br />
expulsa sem direito a na<strong>da</strong>. Eles falando que indenizam, mas<br />
não indenizam porque a indenização as vezes ela dá um valor<br />
de pagar a terra, mas a gente não é só o valor <strong>da</strong> terra que é<br />
que tem valor pra gente, o valor de tá ali, de tá junto, de ter<br />
uma alimentação saudável, é um lugar onde a gente vive bem<br />
com a família.<br />
To<strong>da</strong>s as pessoas que de alguma forma tiravam o sustento<br />
<strong>da</strong>quela comuni<strong>da</strong>de, hoje também é reconhecido enquanto<br />
46
Lucas<br />
Seu Nenê<br />
Edmar Gadelha<br />
Reinaldo<br />
Edilei<br />
atingido. Mas, nós do movimento temos a ideologia que não<br />
somente essas pessoas que são atingi<strong>da</strong>s, mas as pessoas <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de também são atingi<strong>da</strong>s, por causa do preço <strong>da</strong> luz que é<br />
muita cara.<br />
Sem a organização popular a gente não vai ter as conquistas<br />
que a gente teve esse tempo todo, nessas pequenas<br />
conquistas que a gente teve a nível de Estado. A gente tá<br />
chegando no limite já que a pequena fatia do bolo sobra pro<br />
pobre não vai ter mais, então a gente vai ter que romper com<br />
o modelo latifundiário, o modelo que é predominate no<br />
Brasil desde 1.500. (Imagens em off <strong>da</strong> bandeira do MST)<br />
A reforma agrária foi abandona<strong>da</strong> no Brasil e por isso o lema<br />
do último Congresso do MST foi reforma agrária por justiça<br />
social e por soberania alimentar. Sem justiça social e<br />
soberania alimentar a gente não vai te reforma agrária, a<br />
gente não vai ter um modelo que não seja excludente como é<br />
o do Brasil.<br />
Então nós resolvemos criar o Sindicato dos Trabalhadores<br />
Rurais em 89, já criamos o Sindicato dos Trabalhadores<br />
Rurais com esse perfil, pra que ele lutasse por terra. Então<br />
nós criamos a secretaria dos Sem-Terra dentro do sindicato<br />
quase todos os sindicatos não tem essa secretaria, o nosso<br />
tem, secretaria do Sem-Terra. E o nosso modelo que nós<br />
conseguimos lá é <strong>da</strong>r nome de conquista de terra, porque<br />
terra na ver<strong>da</strong>de a gente acha que ela pode ser vendi<strong>da</strong> e a<br />
terra ela não é compra<strong>da</strong> e nem vendi<strong>da</strong>, ela é conquista<strong>da</strong>,<br />
então nós conquistamos a terra com aju<strong>da</strong> solidária de um<br />
todo.<br />
A sub-secretaria <strong>da</strong> agricultura familiar foi cria<strong>da</strong> agora<br />
recentemente pelo governador e é uma reivindicação<br />
histórica dos movimentos sociais diga-se de passagem. Há<br />
muitos e muitos anos os movimentos, o movimento sindical<br />
principalmente vinha lutando pra ter uma secretaria de<br />
agricultura familiar. Infelizmente não conseguimos a<br />
secretaria, mas conseguimos a sub-secretaria e a luta<br />
continua ai pra gente conseguir uma secretaria a altura <strong>da</strong><br />
agricultura familiar de Minas Gerais.<br />
Temos que rever muita coisa o movimento sindical tem<br />
muitos desafios ain<strong>da</strong>... Mas <strong>da</strong>qui uns anos a avaliação do<br />
seu trabalho, os desafios, os trabalhos, algumas coisas por<br />
necessi<strong>da</strong>de mesmo e outras coisas por opção. Mas a gente<br />
sabe que ain<strong>da</strong> tem muitos problemas sociais, visto o que o<br />
companheiro colocou a questão <strong>da</strong>s águas né, e tem outros<br />
vários, quem milita ai sabe.<br />
A gente tem que aproveitar esses momentos, foram vários<br />
que aconteceu pra sair <strong>da</strong>qui com alguma coisa né Ronaldo,<br />
alguma ação em conjunta, porque os movimentos sociais<br />
estão respirando por canudinho. Mas diz que a situação não<br />
tá tão ruim, que não possa piorar, então piorar mais não tem<br />
47
Willer<br />
Tião Farinha<strong>da</strong> canta<br />
Bloco 2: Agroecologia,<br />
Soberania Alimentar,<br />
Saúde Integral e<br />
Economia Popular<br />
Solidária.<br />
Dadinho<br />
Martín<br />
jeito, isso serve se consolo pra nós. Então a gente vai ficar<br />
muito atento desses fenômenos e vamos tentar construir uma<br />
síntese á partir desses encontros dos movimentos sociais para<br />
que algumas ações a gente possa fazer em conjunto.<br />
Há saberes populares que nós ain<strong>da</strong> estamos invisibilizando,<br />
não <strong>da</strong>ndo inteligibili<strong>da</strong>de pra ele, é essa perspectiva <strong>da</strong>s<br />
organizações e dos movimentos na Troca de Saberes. Não é<br />
possível que a universi<strong>da</strong>de continue de costas pra um<br />
conjunto de saberes dessa população. Então repetindo é<br />
necessário que á partir desses saberes, nós configuremos uma<br />
plataforma de pesquisa onde participativamente as pessoas<br />
vão sendo consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s desde o seu processo de deman<strong>da</strong> até<br />
o seu processo de implementação.<br />
Arroz de praxe e o feijão<br />
Feijão na palha coração cheio de amor (2x)<br />
Peguei na palha gritando a reforma agrária<br />
Porque a luta não pára quando se conquista o chão<br />
Fazendo estudo juntando a companheira<strong>da</strong><br />
Fazendo cooperativa pra avançar na produção<br />
Arroz de praxe e o feijão<br />
Feijão na palha coração cheio de amor<br />
Animação sobre Agroecologia: dois agricultores, um jogando<br />
agrotóxico na terra e outra fala que não pode. Música<br />
Oslodum de Gilberto Gil ao fundo.<br />
Eu penso assim que quando eu quero ser produtor<br />
agroecológico, eu vejo a agroecologia com meu vizinho, com<br />
meu companheiro, eu vejo a agroecologia dentro <strong>da</strong> minha<br />
casa na educação dos filhos, em todos os setor <strong>da</strong> minha<br />
vi<strong>da</strong>. Agroecologia quando você fala do mundo melhor em<br />
uma socie<strong>da</strong>de transforma<strong>da</strong> eu tenho que começar a<br />
transformar dentro de mim. Uma coisa muito importante que<br />
venho analisando desde o inicio <strong>da</strong>s falas que parece que há<br />
um obstáculo dentro do setor político, uma política agrícola<br />
volta<strong>da</strong> para agroecologia, parece que há um impacto aí que<br />
a gente não consegue avançar, parece que é isso que nos<br />
impede. Mas eu começo a analisar dentro <strong>da</strong> gente: o quê que<br />
eu quero? Será que o dinheiro somente? A solução pra nós<br />
no momento? Talvez eu tenho recurso dentro <strong>da</strong> minha<br />
proprie<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong> minha casa e talvez eu não aproveito.<br />
Tem os nossos recursos: praticar a agroecologia. Eu lembro<br />
que o companheiro falou que é difícil, não é difícil, não é, eu<br />
provo. É só você respeitar, ter sabedoria e paciência, esperar<br />
que aquilo vai acontecer. E nós temos o recurso na mão,<br />
temos, porque temos a terra, aqueles pegam na terra, ali tá o<br />
começo <strong>da</strong> agroecologia.<br />
Não, o cara fica lá fica na fé, no coração, na ralação<br />
trabalhando com a terra, porque respeita e se o Estado tivesse<br />
48
Geraldo<br />
Edmar Gadelha<br />
Irene<br />
Lucas<br />
Mariana<br />
Seu Nenê<br />
Hermínio<br />
sensibili<strong>da</strong>de pra olhar pra isso e pra valorizar á partir de<br />
política pública e trabalhando essa questão: meio ambiente e<br />
agricultura juntos.<br />
A comi<strong>da</strong> aqui no Brasil é garanti<strong>da</strong> pela agricultura familiar,<br />
então meu filho se você puder me aju<strong>da</strong>r ai, porque eu já tô<br />
cansado de ser chamado de jeca tatu com essa mixaria por<br />
que não tem dinheiro pra agricultura familiar aí. Obrigado!<br />
Eu acho que umas <strong>da</strong>s questões aqui extremamente<br />
relevantes e com certeza já é um problema que aflige a<br />
agricultura familiar é a forma de execução <strong>da</strong>s políticas<br />
públicas. A gente até consegue fazer um bom diagnóstico <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de, nós conseguimos definir ações que possam ser<br />
importante, propostas, a formulação do programa <strong>da</strong> política,<br />
mas a execução é um grande desafio e nós não temos<br />
instrumentos ain<strong>da</strong> no Brasil para fazer a execução eficiente<br />
dessas políticas públicas na minha opinião.<br />
Eu queria fazer minha as palavras do Seu Nenê e man<strong>da</strong>r um<br />
recado pro MDA: agroecologia não dá pra esperar, estamos<br />
perdendo vi<strong>da</strong>s, pássaros, borboletas, minhocas, gente, onça<br />
pinta<strong>da</strong>, onça par<strong>da</strong>, lobo guará, estamos perdendo bactérias,<br />
fungos, estamos perdendo vi<strong>da</strong> com essa agricultura<br />
convencional que não respeita o meio ambiente, que usa<br />
agrotóxico, que usa adubo químico sem dó nem pie<strong>da</strong>de, que<br />
corta as matas, estraga o solo e polui as nossas águas.<br />
Ver como algumas campanhas, alguns elementos centrais pra<br />
gente trabalhar, uma campanha que foi lança<strong>da</strong> pela Via<br />
Campesina agora, uma campanha permanente contra o<br />
agrotóxico, uma campanha permanente porque ela só vai<br />
acabar quando acabar o agrotóxico e quando acabar esse<br />
modelo de produção que a gente não concor<strong>da</strong>, o modelo<br />
convencional.<br />
Discutimos que outra coisa que vem contribuir e fortalecer<br />
essa questão <strong>da</strong> saúde, e eliminar ca<strong>da</strong> vez mais o uso do<br />
agrotóxico é a questão <strong>da</strong> diversificação <strong>da</strong> produção, que é<br />
onde a gente coloca que um grande potencial e<br />
fortalecimento disso é agroecologia, porque eu até disse no<br />
grupo que quando a gente vivencia essa questão <strong>da</strong><br />
agroecologia, não é só dizer agroecologia, mas pra viver e<br />
fazer a agroecologia acontecer só consegue á partir do<br />
momento que a gente trabalha a agroecologia com o coração,<br />
com amor e aí tudo passa a ser mais saudável.<br />
Quando eu vejo jogar o Ran<strong>da</strong>p lá na terra, tem técnico<br />
infelizmente formado nessa universi<strong>da</strong>de que costuma falar<br />
que aquilo pode até beber, mas nunca vi ele tomar <strong>da</strong>quele<br />
troço, pra nós é o mesmo que botar fogo na roupa <strong>da</strong> mãe, tá,<br />
é mesma coisa, pega sua mãe e bota fogo na roupa dela é a<br />
mesma coisa de um Ran<strong>da</strong>p lá na terra. É assim que a gente<br />
enxerga as coisas.<br />
Tem uns produtor ai de herbici<strong>da</strong> produzindo agora uns<br />
49
Capítulo Soberania<br />
Alimentar: Pedro<br />
Edmar<br />
Abatiá<br />
Lucas<br />
Início capítulo Saúde<br />
Integral: Ivo<br />
herbici<strong>da</strong> seletivo na nossa região aqui, tá chegando lá no<br />
nosso município: o ci<strong>da</strong>dão planta o milho e usa esse<br />
produto, cabou não precisa de capinar mais não. Cebola,<br />
você planta cebola passa o herbici<strong>da</strong>, cabou não precisa mais<br />
de capinar cebola é só colher, só irrigar e colher. Então isso<br />
aí vai alastrando duma tal maneira que o veneno lá vai<br />
tomando conta, é um inferno. E a ca<strong>da</strong> dia havendo menos<br />
gente na roça pra trabalhar a solução é essa mesmo.<br />
Que a roça é um grande lugar, um ótimo lugar a roça pra se<br />
viver, boas águas, boas quali<strong>da</strong>de de alimento, então se<br />
tivesse o incentivo talvez até alguém <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de iria pra roça<br />
também, mas não só tem discriminação aí acaba tirando a<br />
motivação <strong>da</strong> pessoa.<br />
Trazer para vocês a notícia de que sob a minha ótica, sob o<br />
meu entendimento, hoje no Brasil, hoje em Minas, nós<br />
estamos vivendo um momento que eu acho que é um dos<br />
mais significativos. Eu sou do Instituto Mineiro de<br />
Agropecuária e eu trabalho com certificação, fiscalização de<br />
produtos, é questão de segurança alimentar e que agora passa<br />
a ser tratado sob a perspectiva de inclusão social, de<br />
valorização dos produtos <strong>da</strong> agroecologia, <strong>da</strong> produção<br />
orgânica.<br />
A questão de como é que a gente trabalha a soberania<br />
alimentar dentro desse contexto, sendo que dentro <strong>da</strong>s<br />
próprias escolas estaduais tem resistência de o pessoal aceitar<br />
os nossos alimentos.<br />
Que nem to<strong>da</strong> comi<strong>da</strong> ela é alimento, mas quando se diz<br />
agroecologia, a gente esta aí para <strong>da</strong>r o aval. Está sempre<br />
nessa discussão... comi<strong>da</strong> você acha em todo lugar, agora<br />
alimento são poucos lugares. Quando está dentro do sistema<br />
agroecológico, então quer dizer que a gente pode fazer esse<br />
trabalho de conscientização.<br />
Tentar trazer um pouco do elemento que a gente tem<br />
construído dentro do MST sobre agroecologia, que na<br />
ver<strong>da</strong>de a gente vai trazer um pouco <strong>da</strong> agroecologia a gente<br />
traz muito o debate <strong>da</strong> soberania alimentar. Então trazendo<br />
um pouco dessa questão <strong>da</strong> autonomia e <strong>da</strong> soberania<br />
alimentar, quando a gente fala de autonomia eu prestei muita<br />
atenção quando ouvi o Paulinho de Araponga falando sobre<br />
autonomia, a questão <strong>da</strong> terra. A terra ela traz autonomia,<br />
como que a gente vai ter autonomia senão domina a<br />
produção na terra.<br />
Se falar <strong>da</strong> saúde integral como sendo a saúde <strong>da</strong> terra, a<br />
saúde <strong>da</strong> água, a saúde <strong>da</strong>s plantas, a saúde dos animais.<br />
Uma boa água é também reflexo de uma boa saúde, cui<strong>da</strong>r<br />
<strong>da</strong>s artérias do solo, <strong>da</strong>s artérias <strong>da</strong> terra, cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong><br />
terra passa a ser importante, para que as águas não precisam<br />
ser trata<strong>da</strong>s nesses tratamentos que são feitos na ci<strong>da</strong>de, são<br />
colocados outros ingredientes que não são, como cloro e<br />
50
Edmar<br />
Sara<br />
Mariana<br />
Início capítulo<br />
Economia Popular<br />
Solidária<br />
Márcio<br />
Bin<br />
outras coisas que não são tão boas pra saúde. Uma outra<br />
coisa que se mostrou pra saúde integral é a consciência,<br />
então quanto mais consciência a gente tiver em relação a<br />
esses elementos: o sol, a terra, o ar e a água nos temos mais<br />
indicadores de saúde.<br />
Dentro de saúde integral tem as questões que são culturais.<br />
Por que antigamente as famílias usavam os chás naturais,<br />
resolviam problema e hoje não? Será que é só psicológico?<br />
Que fatores estão por trás disso?<br />
O uso <strong>da</strong> homeopatia: ele era muito mais utilizado do que<br />
hoje, hoje nós temos ai drogas, drogas ai com os remédios, a<br />
pessoa se entope de remédio. A homeopatia é sempre foi<br />
mais utilizado antes, hoje não é tanto.<br />
Quando a gente discutiu essa questão do agrotóxico a gente<br />
colocou muito essa questão <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> família e a gente vê<br />
que dentro <strong>da</strong> família, uma <strong>da</strong>s pessoas que mais sofre com o<br />
uso dos resíduos dos agrotóxicos são as mulheres. As vezes<br />
quantos abortos acontecem, quantas situação de depressão, a<br />
questão de pressão, quantos câncer tem sido diagnosticado ai<br />
causado pelos agrotóxicos.<br />
Bandeira <strong>da</strong> Economia Solidária com música Oslodum de<br />
Gilberto Gil ao fundo.<br />
Economia popular solidária, reconhecimento de que existem<br />
outras formas de economia e de organização do trabalho,<br />
crédito, comercialização que resistem aos padrões<br />
hegemônicos <strong>da</strong> economia capitalista. Na Troca de Saberes,<br />
economia solidária foi um eixo transversal <strong>da</strong>s discussões,<br />
relacionando com cultura, com agroecologia, com gênero.<br />
Por quê que é importante discutir economia solidária quando<br />
se fala de agroecologia? Porque na agroecologia tem a<br />
dimensão econômica que os agricultores estabelecem as<br />
relações econômicas antes inclusive de existir capitalismo.<br />
São outras manifestações de mercado, outras relações de<br />
trabalho, outras relações sociais que envolvem relação de<br />
proximi<strong>da</strong>de entre as pessoas e de confiança nas relações<br />
econômicas que elas estabelecem, tanto a nível comunitário<br />
quanto a níveis mais amplos, como é o exemplo que a gente<br />
tem aqui na Zona <strong>da</strong> Mata <strong>da</strong>s cooperativas de crédito,<br />
cooperativa de produção e associações.<br />
Nós discutimos lá economia popular solidária e ai assim, o<br />
pessoal do Movimento pela Vi<strong>da</strong> passou por lá, falaram que<br />
discutiram na oficina deles a cultivação do alface em estufa e<br />
falaram a importância disso e que tem tudo a ver com<br />
economia popular solidária. Passaram por lá várias<br />
instalações que falaram pra importância <strong>da</strong> economia popular<br />
solidária, o uso <strong>da</strong> medicina alternativa, como se produzir<br />
alimentos saudáveis, maior conscientização nas escolas, no<br />
caso <strong>da</strong> estética e dos produtos pra alimentação que muitos<br />
51
Irene<br />
Dadinho<br />
Irene<br />
Dadinho<br />
Irene<br />
Dadinho<br />
Bin<br />
Márcio<br />
Valdeci<br />
nutricionistas pegam ai a questão dos produtos serem as<br />
vezes pequeno, então isso tudo foi discutido. Discutimos<br />
também a ligação do Código Florestal e Economia Popular<br />
Solidária que ás vezes garra alguma coisa aí e discutimo<br />
também o papel <strong>da</strong>s políticas públicas para o fortalecimento<br />
<strong>da</strong> Economia Popular Solidária que entra aí o PENAE e o<br />
PAA. Discutimo a importância <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong><br />
economia popular solidária.<br />
A economia solidária com os animais silvestres, por<br />
exemplo, vender um papagaio pra comprar uma bala?<br />
Eu deixei até um recado com ele: nós vamos pagar caro com<br />
isso, nós vamos pagar caro, o homem vai pagar caro com<br />
isso, porque eu vejo quantos fazem isso diz que é solidário.<br />
Talvez até aju<strong>da</strong> o outro, dá uma cesta ou até um boi o outro,<br />
mas elimina a natureza. Eu vejo que nóis precisa melhorar<br />
demais, muito. Tem gente fazendo? Tem, tem, tem muita<br />
coisa boa já pratica<strong>da</strong>.<br />
Por exemplo, quando você planta uma banana e deixa pros<br />
animais comerem lá, penduradinha lá, que eu conheço a<br />
proprie<strong>da</strong>de dele ele pendura o cacho de banana pros animais<br />
silvestres comerem. Isso é ser solidário?<br />
Sim, sim é solidário.<br />
Então soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de não é só com a gente não?<br />
Não, não é só comigo não. Não é só eu <strong>da</strong>r a luz, a água meu<br />
vizinho não. É esperar ele também, porque se eu fosse brigar<br />
com ele tinha arrumado um inimigo, queria que ele sesse<br />
solidário comigo obrigado, é soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de também.<br />
Discutimos também a importância dos animais, temos que<br />
ser solidários com os animais, com os seres que estão ao<br />
nosso redor, senão a gente não tá vivendo aí a economia<br />
popular solidária.<br />
Então falar de Economia Solidária é valorizar essas outras<br />
manifestações econômicas que ocorrem nos meios populares.<br />
E a gente no nosso município, muitas vezes a gente acha que<br />
a gente tá pautando muita coisa, mas tem município que não<br />
tem nem aquilo que a gente tem. E essa troca de saberes tem<br />
um papel muito importante de sair <strong>da</strong>qui com propostas<br />
concretas para que isso aconteça nos municípios. Hoje a<br />
questão do CONAB e o PENAE virou mo<strong>da</strong>. Virou mo<strong>da</strong><br />
por quê? Porque realmente isso faz a Economia Popular<br />
Solidária acontecer, porque o recurso chega lá na ponta, para<br />
quem realmente precisa. E quem tá mais organizado em<br />
associações, cooperativas, consegue assimilar isso melhor e<br />
fazer isso acontecer no dia a dia. E aí eu acho que o<br />
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de ca<strong>da</strong> município desse<br />
tem um papel muito importante para fazer essas políticas<br />
públicas acontecer, porque precisa de estrutura, precisa de<br />
pessoas e capacitar também essas pessoas, buscar parceria<br />
para que essa Economia Popular Solidária aconteça.<br />
52
Elza Ilza<br />
Valdeci<br />
Bloco 3: Gênero,<br />
Educação do Campo e<br />
Cultura Popular<br />
Beth<br />
Mariana<br />
Elza Ilza<br />
Marta<br />
Nós mulheres, enquanto mulheres, vivenciamos isto,<br />
fazemos isto, nessa troca de mercadoria, até no panhar<br />
emprestado com a vizinha e muitas vezes a gente não<br />
reconhece isso, não vê isso como economia solidária. A troca<br />
de produtos... não tenho dinheiro para comprar um produto,<br />
ou que seja um doce etc que eu não sei fazer, mas a outra<br />
sabe fazer outro tipo de doce. Para que comprar? a gente<br />
troca! Isso também é uma economia solidária. E dentro desse<br />
processo, na economia solidária, o processo agroecológico,<br />
nós mulheres temos uma forma de produzir não pensando de<br />
fato, em primeiro lugar, o comércio em si, mas sim a<br />
quali<strong>da</strong>de dos arredores: de ter isso no fundo do quintal, o<br />
cui<strong>da</strong>do com o quintal. Isso é economia solidária. Então é<br />
uma forma de estar pensando, em primeiro lugar, essa<br />
quali<strong>da</strong>de.<br />
E também aqui, né, pelas instalações, o que deu para<br />
perceber que liga isso de economia solidária; ou isso não tem<br />
na<strong>da</strong> a ver e nós estamos ficando doido de armar uma ten<strong>da</strong><br />
numa universi<strong>da</strong>de federal e ficar aqui, numa época de<br />
colheita, uma época aperta<strong>da</strong>, ficar aqui 3, 4 dias discutindo<br />
isso. Ou nós somos doidos ou nós estamos certos mesmo.<br />
Animação <strong>da</strong> mãe levando filho a escola e indo trabalhar.<br />
Música Oslodum de Gilberto Gil ao fundo.<br />
A gente trabalha com gênero né e trabalha principalmente<br />
fortalecendo o trabalho <strong>da</strong>s mulheres, até porque assim já<br />
existe uma coisa na socie<strong>da</strong>de que é meio que <strong>da</strong>do isso, que<br />
as pessoas acham que isso é natural quando não é né, ele é<br />
construído socialmente que tem assim, homens e mulheres<br />
com papéis diferenciados, sendo que os papéis que as<br />
mulheres cumprem ele tem menos importância, ele tem<br />
menos valor que o dos homens né.<br />
Nós discutimos a questão de gênero no nosso grupo né e a<br />
primeira pergunta que surgiu lá foi o que é gênero? E ai a<br />
gente definindo diferenças entre homens e mulheres, na<br />
discussão a gente vê que a única diferença ela é biológica,<br />
porque socialmente dizendo não há diferença, na ver<strong>da</strong>de a<br />
gente aprende a conviver com essa diferença, mas<br />
caminhando junto, sabendo que não tem isso é de mulher e<br />
isso é de homem.<br />
E agroecologia vem contribuindo também pra essas mulheres<br />
perceberem essa relação de gênero mulher e homem<br />
percebam que a questão doméstica não é só afazeres pra<br />
mulher, é o conjunto, por isso que fala conjunto <strong>da</strong><br />
agricultura familiar, se é conjunto <strong>da</strong> agricultura familiar ali<br />
está o homem, está a mulher, está os filhos nesse conjunto.<br />
Nós vimos que trabalhar a consciência <strong>da</strong> nossa família,<br />
dentro <strong>da</strong> agroecologia, é o que mais está nos instigando, nos<br />
levando a ter mais essa consciência, porque nós é quem sabe<br />
53
Beth<br />
Margari<strong>da</strong><br />
Mariana<br />
Lucas<br />
Beth<br />
o que o nosso menino come. É nessa questão de que nós<br />
mulheres é quem sabe. Porque nós é que sabe o dia em que o<br />
feijão tá pouco; é nós mulheres é que sabe quando a coberta<br />
tá fina e que tem um que está lá sem descobrir; nós é que<br />
sabe que o chinelo do outro arrebentou; é nós que sabe tudo.<br />
Então, se nós é que sabe tudo, é nós quem tem que man<strong>da</strong>r<br />
no trem.<br />
E aí na agricultura familiar é onde a gente vê isso se<br />
expressando mais claramente, porque se confunde um pouco<br />
o que que é o trabalho doméstico, o trabalho dito reprodutivo<br />
com o trabalho produtivo, aquele que gera ren<strong>da</strong>, que gera o<br />
dinheiro pras famílias né? Então existe uma certa confusão<br />
entre esses papéis, porque na agricultura familiar o espaço do<br />
quintal e <strong>da</strong> casa também são espaços produtivos né, não são<br />
espaços só dos trabalhos domésticos e tal. E isso nem sempre<br />
é visível.<br />
Na valorização do trabalho invisível <strong>da</strong> mulher, como já foi<br />
falado por outro grupo; esse trabalho que garante a economia<br />
<strong>da</strong> família, que é o trabalho invisível dos quintais, que<br />
realmente tem-se soberania alimentar e que esse trabalho não<br />
é aparecido, ele é invisível. Então ali que a gente vai se, que<br />
aparece na nossa vi<strong>da</strong>. E no poder de decisão e autonomia<br />
<strong>da</strong>s mulheres, porque ela não pode ser só aquela pessoa que<br />
está ali, „mais um‟; mas que tem que participar e tem que ter<br />
poder de decisão também.<br />
A mulher tem gerado ren<strong>da</strong> dentro de casa e antes <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />
ela tem gerado a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e isso gera saúde, porque<br />
a mulher se potencializa, a alta estima dela vai lá em cima,<br />
sabe que além de pensar na criação do filho, na educação do<br />
filho ela também tá contribuindo financeiramente e isso<br />
muito assim nos orgulha e faz com que a gente ca<strong>da</strong> vez mais<br />
se doa nesse sentido.<br />
A produção no campo é a produção <strong>da</strong> família. Se a gente<br />
não traz essa autonomia também pra mulher, pra ela<br />
produzir, pra ela ter seu ganha-pão e ter de onde tira o<br />
alimento, enquanto a gente não conseguir isso vai continuar<br />
acontecendo <strong>da</strong> mulher, até reproduzir e de nós<br />
reproduzirmos de que a mulher não produz na<strong>da</strong>, que ela não<br />
traz na<strong>da</strong> de bom, sendo que na ver<strong>da</strong>de, a mulher sempre tá<br />
ali no dia-a-dia trazendo muito equilíbrio, muita produção<br />
pra casa.<br />
Então assim, as mulheres elas lutam muito pra conseguir<br />
expressar o valor do trabalho delas e que ele seja<br />
reconhecido. E dentro <strong>da</strong> Troca de Saberes é fun<strong>da</strong>mental a<br />
gente manter esse espaço, um espaço <strong>da</strong>s mulheres e o<br />
espaço, e e e e, não é só a gente pensar nos eventos: ah, tem<br />
um espaço pras mulheres e o resto do evento os homens<br />
conduzem, acho que a gente tem que, por uma questão de<br />
democracia, a gente tem que garantir que as mulheres<br />
54
Mariana<br />
Elza Ilza<br />
Beth<br />
Capítulo sobre<br />
Educação no Campo.<br />
Rosânia<br />
Gilmar<br />
estejam presentes em todos os espaços. Então na construção<br />
já <strong>da</strong> Troca de Saberes a gente tá lá o tempo todo preocupado<br />
com isso.<br />
Acho que em to<strong>da</strong> convivência, todo relacionamento tem<br />
uma palavrinha que é muito mágica né, que é o respeito né?<br />
A partir do momento que a gente se respeita e respeita o<br />
outro você dá oportuni<strong>da</strong>de de se conhecer. Eu acho que<br />
muitas vezes o que falta dessa relação homem e a mulher é<br />
um respeitar o direito e deveres de ca<strong>da</strong> um.<br />
Então quando ela fala assim, essa questão do respeito, essa é<br />
até uma questão muito forte, essa relação do poder, por mais<br />
que essa mulher não está inseri<strong>da</strong> nessa discussão, nesse<br />
conjunto <strong>da</strong> agricultura familiar, mas ela tem aquilo como o<br />
espaço dela de poder.<br />
A gente tem aí, uma socie<strong>da</strong>de que é desigual né, a gente<br />
percebe isso né, a socie<strong>da</strong>de patriarcal, extremamente<br />
machista, onde as mulheres não têm as mesmas<br />
oportuni<strong>da</strong>des que os homens né. Então se a gente tá<br />
construindo um espaço de construção do conhecimento e<br />
esse espaço ele é diferenciado, a gente tá querendo fazer algo<br />
revolucionário, então assim, o mais democrático possível é<br />
importante que a gente esteja preocupado com as inserção<br />
<strong>da</strong>s mulheres nesses espaços. Então quando a gente faz uma<br />
abor<strong>da</strong>gem de gênero num espaço como o Troca de Saberes<br />
qual é a intencionali<strong>da</strong>de disso? É garantir espaços de poder<br />
iguais para homens e mulheres.<br />
Tião Farinha<strong>da</strong> e Gilmar cantam:<br />
Não vou sair do campo pra poder ir pra escola<br />
Educação no Campo é direito e não esmola<br />
O povo agricultor, o homem e a mulher<br />
O negro quilombola com seu canto de afoxé<br />
de cunha caeté, castanheira e seringueira<br />
pescadores e você, e com certeza estão de pé.<br />
Não vou sair do campo pra poder ir pra escola<br />
Educação no Campo é direito e não esmola.<br />
Se houver educação e não houver transformação também aí<br />
não funciona. Então a educação para nós é levar em conta o<br />
ser humano, a pessoa. E quando a gente fala <strong>da</strong> prática e<br />
teoria de uma escola, que a gente quer mu<strong>da</strong>r, a gente fala de<br />
modelo de educação, porque pra mim o problema está em<br />
todo o sistema de educação, tem muita coisa para melhorar e<br />
ser adequa<strong>da</strong> à reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas e onde ela está inseri<strong>da</strong>.<br />
Eu acho que a educação do campo vem como uma forma,<br />
como um exemplo de mu<strong>da</strong>nça.<br />
Ca<strong>da</strong> Escola Família Agrícola, ela surge a partir de uma<br />
necessi<strong>da</strong>de de uma comuni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>s famílias, <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong>quela região. A partir <strong>da</strong>í eles percebem a necessi<strong>da</strong>de de,<br />
além de discutir a terra, a água, a produção, é importante<br />
também discutir a educação.<br />
55
Lucas<br />
Rosânia<br />
Natália<br />
Aluna EFA<br />
Sara<br />
Carolina<br />
Rosânia<br />
Acho que a educação do campo tem a importância primordial<br />
quando a gente vai falar em dominar o conhecimento,<br />
quando a gente vai falar em uma educação que mantenha a<br />
pessoa no campo, que mantenha o agricultor no campo e o<br />
jovem.<br />
A missão <strong>da</strong>s EFA‟s ser instrumento para propagandear a<br />
agroecologia, é de tá trabalhando isso mesmo, mostrar os<br />
princípios básicos e fazer com que essa juventude enten<strong>da</strong> o<br />
que realmente quer dizer agroecologia, aprender a fazer<br />
agroecologia e tá propagandeando esse instrumento.<br />
Entrando também na questão <strong>da</strong> educação do campo, eu acho<br />
que é a tentativa, de como foi dito: Não é a gente ficar aqui<br />
cultuando eternamente o passado, mas é de resgatar esse<br />
conhecimento e valorizar. Informação tem sim, o agricultor<br />
familiar, tem sim o estu<strong>da</strong>nte, tem sim o professor, mas<br />
porque ela tá sendo <strong>da</strong><strong>da</strong> pra gente? Pra que? Pra gente<br />
trabalhar para os latifundiários? Pra esse pessoal que man<strong>da</strong><br />
a gente jogar agrotóxico?<br />
Eu fui lá pra EFA, porque a escola estadual não tava batendo<br />
com minha reali<strong>da</strong>de, porque eu sou filha de agricultor<br />
familiar. E assim o que eu via lá na escola estadual não batia<br />
com a reali<strong>da</strong>de, porque eu queria tipo continuar no campo<br />
aju<strong>da</strong>ndo meus pais e eles... Primeiro o preconceito que<br />
existe que é muito grande com qualquer pessoa, até que<br />
comigo não foi tanto, porque eu moro na ci<strong>da</strong>de mesmo. Mas<br />
quem vem <strong>da</strong> zona rural estu<strong>da</strong>r lá é muito ruim e é mais<br />
engraçado ain<strong>da</strong> quando você fala: eu quero estu<strong>da</strong>r na EFA.<br />
Aí fala: você vai estu<strong>da</strong>r lá? Você vai pra roça aprender a<br />
capinar? Tá bom, você aprende a capinar, você aprende a<br />
trabalhar na roça, mas você aprende muito mais com a<br />
convivência. Tanto que to<strong>da</strong>s as matérias que você aprende<br />
na Estadual, você aprende na Escola Família Agrícola.<br />
A educação do campo está volta<strong>da</strong> para o estudo do meio<br />
ambiente, <strong>da</strong> atmosfera, tá volta<strong>da</strong> também para a cultura do<br />
campo, para as pessoas do campo. A educação do campo<br />
ensina a plantar, ensina formas de cui<strong>da</strong>r do alimento como<br />
que não se utiliza química; assim a alimentação fica bem<br />
melhor.<br />
Imagem em off do cartaz “Fechar escola é crime”. O<br />
movimento tai com o cartaz “Fechar escola é crime” eu to<br />
procurando um cartaz nosso aqui e é isso que a Zil<strong>da</strong> trouxe.<br />
Lá tinha uma escola muito boa há muitos anos atrás, que<br />
atendia quando o movimento nem tava lá, fecharam a escola<br />
e agora o movimento tem três áreas próximas que tem<br />
condições de abrir escola e a luta é essa, porque o Estado<br />
vem no processo de fechar escola, pra ca<strong>da</strong> uma que o<br />
Governo Federal abre os Estados fecham dez.<br />
E aqui nós temos jovens <strong>da</strong> zona rural, mas também <strong>da</strong> zona<br />
urbana, que está lá nas escolas agrícolas, <strong>da</strong> educação do<br />
56
Capítulo Cultura<br />
Popular<br />
Guilherme (Padeiro)<br />
Apresentação <strong>da</strong> Folia<br />
de Reis do Estouro-<br />
Araponga<br />
Rafaela<br />
Tião Farinha<strong>da</strong><br />
Márcio<br />
campo. E aí eu lanço para eles uma pergunta: entre as nossas<br />
dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s e o modelo convencional, se eles<br />
gostariam de ficar com a gente ou de voltar para uma escola<br />
convencional? Porque a gente consegue ver com eles lá, a<br />
olhos vistos, apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des, as transformações que<br />
esses jovens fazem durante esse processo de formação e que<br />
aí, pra mim, a educação pega a agroecologia, cultura e todo o<br />
contexto do meio ambiente. Não existe educação sem<br />
transformação, e nem transformação sem educação. E é isso<br />
que eu queria deixar aqui.<br />
Cantoria<br />
Não vou sair do campo pra poder ir pra escola<br />
Educação no campo é direito e não esmola.<br />
Imagens em off <strong>da</strong> bandeira <strong>da</strong> EFA.<br />
Thyaga: Bom dia para vocês e agradecer a oportuni<strong>da</strong>de de<br />
estarmos aqui, nesse momento e a gente vai fazer uma<br />
brincadeira, liga<strong>da</strong> a tantos movimentos indígenas e também<br />
de várias culturas de pessoas que se unem em volta de uma<br />
ro<strong>da</strong> e também as crianças nas suas brincadeiras de ro<strong>da</strong>, nos<br />
seus cancioneiros populares.<br />
Adê e Thyaga cantam<br />
Nossas mãos estão liga<strong>da</strong>s carregando a cultura, a amizade e<br />
alegria<br />
Gira Girô, nossa ro<strong>da</strong> já chegou (4x)<br />
Fazer um pouco do relato de como surgiu essa idéia de ter<br />
uma instalação de cultura. Quando a gente veio desde o ano<br />
passado, no primeiro Troca de Saberes, com o ciclo de<br />
cultura, a gente trouxe pro círculo mestres <strong>da</strong> cultura, artistas<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> região; pessoas que estavam envolvi<strong>da</strong>s com a<br />
arte, com a cultura.<br />
Música instrumental.<br />
O que eu vivi é minha tradição, o que minha mãe viveu que<br />
eu aprendi é isso assim <strong>da</strong> gente pensar que cultura primeiro<br />
é na gente assim, a gente tem muita coisa dentro <strong>da</strong> gente que<br />
vem pra gente não perder nossa própria identi<strong>da</strong>de, não<br />
esquecer <strong>da</strong>s nossas memórias, ancestrais, vô, vó, <strong>da</strong> onde a<br />
gente veio, tá na gente, como que a gente aprendeu, que que<br />
a gente come, não tá distante, não tá em lugar pago, não tá<br />
em clube, não tá na escola apenas, tá na gente primeiro.<br />
Esse espaço nosso aqui é exatamente pra fomentar isso na<br />
gente, provocar. E o mais importante é a gente entender que<br />
nós somos um ser cultural, nós somos um ser cultural, o que<br />
nós temos nos pertence, foi nos <strong>da</strong>do her<strong>da</strong>do de família.<br />
A gente trazer isso pra dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é importante,<br />
aí trago tá aqui o Sebastião Farinha<strong>da</strong>, é um agente cultural,<br />
ele não tem diploma superior pra trabalhar com isso, agora<br />
olha o trabalho que é feito em Espera Feliz nas comuni<strong>da</strong>des.<br />
57
Tião Farinha<strong>da</strong><br />
Tião Farinha<strong>da</strong> canta<br />
Gilmar<br />
Tião Farinha<strong>da</strong><br />
Mestre Boi<br />
Apresentação Congado<br />
de Airões na Troca de<br />
Saberes.<br />
Mãe Dú<br />
Tião Farinha<strong>da</strong><br />
O meu trabalho é desenvolvido em parceria com o<br />
movimento social, com o sindicato, com as cooperativas. E o<br />
movimento percebeu, no decorrer <strong>da</strong> história, a gente<br />
começou a bancar isso também, dentro <strong>da</strong>s agen<strong>da</strong>s de luta<br />
que não dá para trabalhar a organização do povo sem<br />
trabalhar a cultura, sem trabalhar a arte. Então eu faço esse<br />
trabalho. To<strong>da</strong> a nossa pauta de luta a gente prioriza trabalhar<br />
a cultura, o resgate <strong>da</strong> cultura, criar espaços e eventos para as<br />
pessoas se apresentarem e acompanhar, também, as<br />
manifestações culturais que existem no município.<br />
Peneirei fubá, fubá caiu<br />
Eu tornei peneirar, fubá subiu<br />
Ai, ai, ai a nossa vez chegou<br />
Ai, ai, ai que não te tem amor<br />
Nós temos que potencializar isso que esse povo tá fazendo,<br />
potencializar folias, congados, os clubes, o povo que trabalha<br />
com artesanato, o povo que trabalha com as barracas na<br />
festa, o povo que canta as músicas regionais.<br />
Esse espaço que a gente vem construindo ia ser muito<br />
importante para a gente fazer o debate, porque assim eu<br />
acredito muito que a cultura é um elemento muito importante<br />
pra transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. E ele tem que ser pros<br />
grupos culturais também bandeira política.<br />
Há uns anos atrás estava muito desligado o povo <strong>da</strong> roça com<br />
o povo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Com o pequeno conhecimento, hoje, pela<br />
terceira vez já desse encontro, alguém já tem conhecimento<br />
do sofrimento do indivíduo <strong>da</strong> roça né. E é muito bom esse<br />
Troca de Saberes, eu venho aqui e eu estou ouvindo vocês,<br />
vocês também estão ouvindo o meu sofrimento e tem que ver<br />
(entra imagem em off <strong>da</strong> apresentação do Congado de<br />
Airões) os 'gravata' para eles observar o que pode fazer,<br />
porque de papel todo mundo já está cheio de papel e a prática<br />
não vê na<strong>da</strong>.<br />
Música do Congado.<br />
Cultura é solução nos nossos ancestrais. Que todo mundo<br />
aqui, a maioria, é descendente de africano. Mesmo quem não<br />
for brasileiro e de outros países também tem descendência<br />
africana. Então isso aí é cultura. O que é nosso está ficando<br />
para trás e as coisas novatas estão entrando. Então, quer<br />
dizer, a gente está aceitando mais as culturas dos outros<br />
países e esquecemos <strong>da</strong> nossa.<br />
O mestre griô são essas personali<strong>da</strong>des que a gente encontra<br />
nas comuni<strong>da</strong>des e que têm o conhecimento popular. São<br />
pessoas que não têm conhecimento acadêmico mas a sua<br />
sabedoria vem sendo repassa<strong>da</strong> de tradição a tradição, são<br />
esses o mestre griô. É um dialeto <strong>da</strong> cultura popular mesmo,<br />
indígena e africana.<br />
58
Apresentação Grupo<br />
Gengibre- Rafaela<br />
Grupioni e Aline<br />
Villaça.<br />
Aline Villaça recita<br />
uma poesia<br />
Continua áudio Aline<br />
recitando poesia.<br />
Apresentação realiza<strong>da</strong> no último dia <strong>da</strong> Troca de Saberes,<br />
quarta-feira.<br />
Queria ter <strong>da</strong> flor a essência para perfumar o campo e ci<strong>da</strong>de,<br />
queria ter a capaci<strong>da</strong>de de germinar <strong>da</strong> semente para<br />
alimentar a fome do povo para não deixar que existam<br />
indigentes (volta imagens em off <strong>da</strong> apresentação <strong>da</strong> Aline e<br />
Rafaela) , queria ter <strong>da</strong> flor a essência para perfumar campo<br />
e ci<strong>da</strong>de, acreditando que somos flor e semente. Flores que<br />
perfumam a vi<strong>da</strong> e sementes que alimentam sonhos, queria<br />
ter <strong>da</strong> flor a essência para perfumar campo e ci<strong>da</strong>de, queria<br />
ter a capaci<strong>da</strong>de de germinar <strong>da</strong> semente para alimentar a<br />
fome do povo para não deixar que existam indigentes,<br />
acreditando que somos flor e semente. Flores que perfumam<br />
a vi<strong>da</strong> e sementes que alimentam sonhos, queria ter <strong>da</strong> flor a<br />
essência para perfumar campo e ci<strong>da</strong>de, com seu perfume<br />
aniquilar os odores <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. Queria ter a capaci<strong>da</strong>de<br />
de germinar <strong>da</strong> semente para alimentar a fome do povo e não<br />
deixar que existam indigentes, acreditando que somos flor e<br />
semente, flores que perfumam a vi<strong>da</strong> e sementes que<br />
alimentam sonhos.<br />
Créditos finais.<br />
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