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Dumplin - Julie Murphy

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— E agora está envergonhado?<br />

— Não, não! — Ele levanta as mãos, como se pudessem apagar suas palavras. — O que eu quero<br />

dizer é que o impulso foi irresistível. Só estou envergonhado por não ter nem me dado ao trabalho de ver<br />

se você estava a fim. E peço desculpas por não ser uma coisa que você queria que eu fizesse.<br />

— Não tem problema — respondo, principalmente porque ele não costuma falar muito e estou meio<br />

fascinada com isso.<br />

Ele dá um passo na minha direção.<br />

— Você quer dizer que me perdoa, mas não quer que se repita nunca mais ou... que gostou?<br />

Dou de ombros, porque o resto do corpo está paralisado.<br />

Ele avança mais um passo. Tudo fica em silêncio por um momento. É a minha chance de recuar e<br />

impedir que isso, seja lá o que for, aconteça. Mas sinto o autocontrole começar a fugir.<br />

— Porque eu tenho a impressão de que você também me beijou.<br />

Meu rosto começa a arder. Agora ele me pegou.<br />

— Não foi ruim. Só não foi nenhuma bomba atômica — minto.<br />

— Basicão?<br />

Mordo os lábios, fazendo-os desaparecerem. Dou três passos, diminuindo a distância entre nós.<br />

Ele apoia os cotovelos na caminhonete e inclina a cabeça para trás.<br />

Faço o mesmo e, por um momento, ficamos observando o céu, até eu romper o silêncio.<br />

— Quer dizer que você me beijou por impulso? — A tensão que contrai meus músculos diminui<br />

quando me sinto mais à vontade com ele. — Mas por quê? — Só que o zum-zum continua. A vibração da<br />

adrenalina.<br />

Gotas de chuva pingam na gente, fazendo com que o ar fique instantaneamente carregado de umidade.<br />

Bo olha para o alto, como se estivesse tentando descobrir um jeito de fazer com que parem.<br />

— Vamos entrar na caminhonete. — Abre a porta do carona para mim e eu me sento, enquanto ele dá<br />

uma corrida até o outro lado e entra.<br />

Por pouco o temporal não nos pega. As gotas batem furiosas no para--brisas. O barulho é tão alto que<br />

ele é quase obrigado a gritar:<br />

— Que nota você daria, de um a dez?<br />

— Você não vai mudar de assunto, vai?<br />

— É que eu sou meio egomaníaco.<br />

Estou me sentindo corajosa. Ou melhor, eu sou corajosa.<br />

— Talvez você devesse me dar outro. Para eu dizer qual o melhor.<br />

Ele pigarreia, e eu o observo intensamente.<br />

— Bom, geralmente eu prefiro acertar de primeira, mas detestaria privar você de um bis. — Ele se<br />

afasta do volante na minha direção. Sua mão aninha meu rosto. Abaixando a cabeça, seus lábios quase<br />

encontram os meus.<br />

— Tem certeza?<br />

Surpreendendo até a mim mesma, não respondo. Apenas beijo Bo Larson. E, quando ele entreabre os<br />

lábios junto aos meus, não penso nisso. Porque, pela primeira vez na vida, eu sou aceita. Totalmente<br />

aceita, sem nenhuma pergunta.<br />

Ele segura meu rosto com as duas mãos e me puxa para mais perto.<br />

Se El sente um décimo disso quando está com Tim, então não sei como pode ter esperado tanto para<br />

transar com ele, porque, quando os lábios de Bo se movem sobre os meus, não consigo pensar em mais<br />

nada além de nós dois.<br />

Suas mãos passam para meu pescoço e ombros. Seu toque faz com que ondas de emoção percorram<br />

meu corpo. Excitação. Terror. Euforia. Tudo ao mesmo tempo. Mas então ele vai descendo os dedos<br />

pelas minhas costas até a cintura. Prendo o fôlego. A sensação é como uma verdadeira punhalada nas<br />

costas. Minha cabeça trai o corpo. A realidade de Bo me tocando. A ideia de Bo sentindo a gordura nas<br />

minhas costas e o pneu na cintura me dá ânsias de vômito. Pois na mesma hora eu me comparo com todas<br />

as garotas que ele já deve ter tocado. Todas com as costas retas e a cintura fina.<br />

— Desculpe. — Seu fôlego sai quente e rápido.<br />

— Não, não, não se desculpe. — Não sou desse tipo de garota. Não passo horas me olhando no<br />

espelho, pensando nas mil e uma maneiras como poderia ficar ainda mais bonita. A ideia de fugir dos<br />

seus braços me envergonha de um jeito que não entendo totalmente.<br />

Ele nega com a cabeça.<br />

— Não, quer dizer, eu não devia ter... Acho que não... deveria namorar ninguém no momento.<br />

O estranho é que, até ele tocar no assunto, a ideia — a possibilidade — de namorarmos nem tinha me

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