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— E também vai acompanhá-la no concurso. Foi tão fofo. E ele até deu um beijo no rosto dela. Foi a<br />
coisa mais ousada que eu já tinha visto.<br />
A aula continua se arrastando, e eu me pergunto o quanto sou idiota por esperar que Millie fosse<br />
humilhada. Se ela antes tivesse pedido a minha opinião, eu teria dito que a ideia era fofa, mas teria feito<br />
o possível para que não a pusesse em prática. Não por achar que ela não merece ir ao baile e ter um<br />
acompanhante, e sim por não querer que seja alvo de deboche. Nunca desejaria uma experiência dessas<br />
para ninguém. E, mesmo assim, Millie já passou por isso. Ela já serviu de exemplo de infinitas piadas.<br />
Mas lá está a garota, totalmente na dela, sem dar a mínima para o que os outros vão pensar.<br />
Quase me dói saber que ela está se aventurando de uma maneira tão corajosa. É como ver uma velha<br />
amiga de quem você se afastou e se lembrar de todas as experiências que compartilharam.<br />
A aula acaba e sou empurrada pela porta por uma enxurrada de alunos. Posso ouvir Bo conversando<br />
com José Herrera sobre trigonometria e depois sobre uma festa.<br />
No corredor, uma parede de garotas nos detém. Estão de mãos dadas, como numa partida de Red<br />
Rover.*<br />
* Jogo em que os participantes de um time devem ficar de mãos dadas (como um cordão de isolamento), enquanto um participante do time<br />
adversário tenta romper o cordão. (N.T.)<br />
— Desculpe pelo atraso — diz uma delas.<br />
— Só vai demorar um minuto — acrescenta outra.<br />
Bekah Cotter está atrás da galera, usando um shortinho jeans, sapatilhas douradas e uma T-shirt branca<br />
vários números acima do seu, com um nozinho amarrado às costas. Os dizeres em silkscreen são: Vem ao<br />
Baile da Maria Cebola comigo... Ela gira um bastão entre os dedos, esperando que o pessoal se aquiete.<br />
Amanda está atrás de mim, flexionando os dedos dos pés.<br />
— Só de olhar para esse short minha calcinha já entra na bunda.<br />
Bekah respira fundo e, sem anunciar, gira o bastão no ar, atirando-o sobre o ombro para apanhá-lo em<br />
seguida, enquanto faz uma ginástica tão brusca e rápida que mal dá para acompanhar. É o máximo, e,<br />
ainda assim, nem um décimo tão complicado como o que já a vi fazer nas partidas de futebol americano.<br />
Seu talento vai arrasar no concurso.<br />
Ela lança o bastão para o alto e faz o mesmo tipo de rotação doida, e então pousa de costas e pega o<br />
bastão no instante em que ele se encontra prestes a cair no chão. Quando seu traseiro está em pleno ar,<br />
fica claro quem ela vai convidar para o baile. Em cada um dos bolsos do shortinho jeans estão as letras B<br />
e O em glitter.<br />
Os colegas da aula de história o empurram até a frente das garotas. Ele sorri, e mal tenho coragem de<br />
olhar quando Bekah segura sua mão. Bo dá uma olhada para o lado, e eu sei que me vê. Mas não há<br />
tempo para decisão ou pensamento. Ele concorda. E agora eles são Bekah e Bo. Bo e Bekah.<br />
Empurro Amanda da minha frente e vou abrindo caminho por entre o tráfego de alunos que se dirigem<br />
ao estacionamento. Com os olhos fixos no chão, observo o mar de pés até encontrar um banheiro. Fico de<br />
joelhos e reviro a mochila, procurando uma coisa. O celular? Uma granada?<br />
No fundo da mochila, encontro um marcador permanente. Retiro a tampa, me viro para o espelho e,<br />
como a pessoa totalmente sã que eu sou, começo a escrever na minha própria testa.<br />
Eu não havia refletido sobre a logística de ir do ponto A ao ponto B enquanto estava<br />
escrevendo na testa. Só depois de me olhar no espelho é que me dou conta de que<br />
agora não tem mais volta. Mesmo que eu queira, acho que é chamado de marcador permanente por uma<br />
razão.<br />
Andando até o estacionamento o mais depressa possível, jogo os cabelos por cima do rosto, como o<br />
Primo Coisa da Família Addams, confiando na visão que me resta por entre os fios e rezando ao Menino<br />
Jesus para não ser atropelada.<br />
E lá está ele. Caminhando até o seu carro.<br />
— Mitch! — grito. — Mitch!<br />
Essa foi uma péssima ideia. Aliás, acho que é seguro dizer que todas as minhas ideias são péssimas.<br />
Ele se vira.<br />
— Will? — Seu rosto se contrai, deixando transparecer a preocupação. — Aconteceu alguma coisa?<br />
Você está bem?<br />
Quando chego a alguns passos dele, jogo os cabelos para trás, deixando que veja meu rosto.<br />
Sua preocupação se transforma em perplexidade.<br />
— alobeC airaM on somaV<br />
— Merda — murmuro. — Escrevi na frente do espelho.