Anuário DHPP - Polícia Civil - Governo do Estado de São Paulo
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Copyright © 2008 da 1ª Edição pela Editora Roca Ltda.<br />
ISBN: 978-85-7241-778-5<br />
Nenhuma parte <strong>de</strong>sta publicação po<strong>de</strong>rá ser reproduzida, guardada pelo sistema “retrieval” ou transmitida <strong>de</strong><br />
qualquer mo<strong>do</strong> ou por qualquer outro meio, seja este eletrônico, mecânico, <strong>de</strong> fotocópia, <strong>de</strong> gravação, ou outros,<br />
sem prévia autorização escrita da Editora.<br />
Fotografias: Ricar<strong>do</strong> Scholl Pinheiro<br />
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE<br />
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.<br />
S241d<br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (Esta<strong>do</strong>). <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong>. Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong><br />
Proteção à Pessoa <strong>DHPP</strong>. - <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> : Roca, 2008.<br />
il.<br />
Anexos<br />
Inclui bibliografia<br />
ISBN 978-85-7241-778-5<br />
1. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (Esta<strong>do</strong>). <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong>. Departamento <strong>de</strong> Homicídios e<br />
<strong>de</strong> Proteção à Pessoa. I. Título<br />
08-4064. CDD: 363.209816<br />
CDU: 351.742(815.6)<br />
2008<br />
To<strong>do</strong>s os direitos para a língua portuguesa são reserva<strong>do</strong>s pela<br />
EDITORA ROCA LTDA.<br />
Rua Dr. Cesário Mota Jr., 73<br />
CEP 01221-020 – <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> – SP<br />
Tel.: (11) 3331-4478 – Fax: (11) 3331-8653<br />
E-mail: vendas@editoraroca.com.br – www.editoraroca.com.br<br />
Impresso no Brasil<br />
Printed in Brazil
AGRADECIMENTOS<br />
A edição <strong>de</strong>ste trabalho somente foi possível pela <strong>de</strong>dicação e empenho inestimáveis<br />
<strong>do</strong>s escrivães <strong>de</strong> polícia Vera Lucia Pereira Sergio e Alexandre Schnei<strong>de</strong>r; pela colaboração<br />
<strong>de</strong>cisiva <strong>do</strong>s Delega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Drs. Adriano Roberto Figueire<strong>do</strong>, Wilson Roberto<br />
Costa e Laerte Idalino Marzagão Júnior; pelas imagens artisticamente retratadas por<br />
Ricar<strong>do</strong> Scholl Pinheiro, Investiga<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong>; pelos textos gentilmente cedi<strong>do</strong>s por<br />
seus ilustres autores; pelos essenciais apoios culturais oferta<strong>do</strong>s pelas empresas e instituições:<br />
Editora Roca, Editora Saraiva, Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil/Escola Superior<br />
<strong>de</strong> Advocacia – Secção <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, Sindicato das Empresas <strong>de</strong> Serviços Contábeis e das<br />
Empresas <strong>de</strong> Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />
(SESCON/SP), Demarest Almeida Advoga<strong>do</strong>s, Fe<strong>de</strong>ração Israelita <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong> (FISESP) e Associação <strong>do</strong>s Delega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (ADPESP);<br />
e pela indispensável confiança que nos foi <strong>de</strong>positada pelos Excelentíssimos Doutores<br />
Ronal<strong>do</strong> Augusto Bretas Marzagão, Secretário da Segurança Pública; Maurício José<br />
Lemos Freire, Delega<strong>do</strong> Geral <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong>; e <strong>Paulo</strong> Afonso Bicu<strong>do</strong>, Delega<strong>do</strong> Geral <strong>de</strong><br />
<strong>Polícia</strong> Adjunto.<br />
A to<strong>do</strong>s, nossa imensa gratidão.<br />
Servi<strong>do</strong>res públicos que somos, continuaremos a honrar o compromisso com a causa<br />
pública.<br />
Até breve!<br />
IV
JOSÉ SERRA<br />
GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO<br />
RONALDO AUGUSTO BRETAS MARZAGÃO<br />
SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO<br />
GUILHERME BUENO DE CAMARGO<br />
SECRETÁRIO-ADJUNTO DA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO<br />
MAURÍCIO JOSÉ LEMOS FREIRE<br />
DELEGADO GERAL DE POLÍCIA<br />
PAULO AFONSO BICUDO<br />
DELEGADO GERAL ADJUNTO<br />
CARLOS JOSÉ PASCHOAL DE TOLEDO<br />
DELEGADO DE POLÍCIA DIRETOR DO <strong>DHPP</strong><br />
ADRIANO ROBERTO FIGUEIREDO<br />
DIVISIONÁRIO DA ASSISTÊNCIA POLICIAL DO <strong>DHPP</strong><br />
MARCOS CARNEIRO LIMA<br />
DIVISIONÁRIO DA DIVISÃO DE HOMICÍDIOS DO <strong>DHPP</strong><br />
FRANCISCO IELO FILHO<br />
DIVISIONÁRIO DA DIVISÃO DE PROTEÇÃO À PESSOA DO <strong>DHPP</strong><br />
V
VI<br />
CONTEÚDO<br />
INTRODUÇÃO 1<br />
O DIA SEGUINTE 5<br />
Carlos José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong><br />
INVESTIGAÇÃO PURA 9<br />
Vicente Greco Filho<br />
POR QUE SEMPRE CONFIEI NO <strong>DHPP</strong>? 11<br />
José Ruy Borges Pereira<br />
O CONCEITO DAS PRIMEIRAS 48 HORAS NOS CASOS<br />
DE INVESTIGAÇÃO DO CRIME DE HOMICÍDIO 13<br />
Marcos Carneiro Lima<br />
A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO<br />
LOCAL DE CRIME 17<br />
Jane Marisa Pacheco Belucci e Telma Rocha Leite<br />
O DEPARTAMENTO DE HOMICÍDIOS E DE PROTEÇÃO<br />
À PESSOA 21<br />
Fernan<strong>do</strong> Capez<br />
UMA PARCERIA EM DEFESA DA VIDA 23<br />
José <strong>Paulo</strong> Menegucci<br />
A IMPORTÂNCIA DA PAPILOSCOPIA NO <strong>DHPP</strong> 25<br />
Ivo Apareci<strong>do</strong> Franco e Gisele Ta Gein Melo<br />
MENTE ARDILOSA PARA O CRIME 29<br />
Pablo Rodrigo França<br />
“UM CASO FEDERAL” DO <strong>DHPP</strong> 33<br />
Luiz Carlos <strong>do</strong>s Santos Gonçalves e<br />
Pedro Barbosa Pereira Neto
UMA IMPORTANTE PARCERIA NO COMBATE À<br />
HOMOFOBIA 34<br />
Alexandre Santos<br />
LUTA CONTRA A DISCRIMINAÇÃO 35<br />
Hédio Silva Júnior<br />
“PÉROLA” DA POLÍCIA CIVIL PAULISTA 37<br />
Fábio Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Almeida Delmanto<br />
<strong>DHPP</strong>: EFICIÊNCIA NO CUMPRIMENTO DA<br />
MISSÃO PÚBLICA 39<br />
Luiz Flávio Borges D’Urso<br />
ENFRENTAMENTO À ESCRAVIDÃO MODERNA 43<br />
Anália Belisa Ribeiro<br />
O “ESPÍRITO” DO SOE – <strong>DHPP</strong> 46<br />
Marcos Carneiro Lima<br />
POLÍCIA JUDICIÁRIA EFICIENTE E CIDADÃ 49<br />
Luís Geral<strong>do</strong> Sant´Ana Lanfredi<br />
POLÍCIA MODELAR 53<br />
<strong>Paulo</strong> José da Costa Jr. e Fernan<strong>do</strong> José da Costa<br />
TRÁFICO DE SERES HUMANOS 55<br />
Márcia Heloísa Men<strong>do</strong>nça Ruiz<br />
UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA 65<br />
Carlos José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong><br />
ANEXO I – A Inovação 68<br />
ANEXO II – A Evolução 72<br />
ANEXO III – A Repercussão 80<br />
ANEXO IV – O Perfil 86<br />
VII
Em um espaço <strong>de</strong> aproximadamente 1 milhão e 500 mil<br />
metros quadra<strong>do</strong>s são força<strong>do</strong>s a conviver 5% da população<br />
<strong>do</strong> Brasil; sobrevivem e interagem entre si, com as coisas<br />
produzidas e instituições, ou seja, são 10 milhões e 800<br />
mil habitantes cujos <strong>de</strong>sejos são, supostamente, controla<strong>do</strong>s<br />
pela legislação e moral vigentes. Presume-se o controle, pois<br />
na busca contínua <strong>do</strong> viver e na administração das vonta<strong>de</strong>s,<br />
reprimidas ou não, dá-se o choque, principalmente<br />
pela enorme <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre as gentes.<br />
Situações <strong>do</strong> acaso, cotidianamente vivenciadas, são<br />
responsáveis pela criação e manutenção <strong>de</strong> disputas e conflitos<br />
intersubjetivos. Por isso, a soma da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
pessoas à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos insaciáveis, infundi<strong>do</strong>s<br />
pela mídia e pari<strong>do</strong>s pelo consumismo irrefrea<strong>do</strong>, rompe a<br />
estabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ethos, geran<strong>do</strong> flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comportamento<br />
nas mais diversas situações.<br />
Diferentes oportunida<strong>de</strong>s e meios trazem fadiga às já<br />
frágeis relações humanas. Daí o mal-estar, a náusea,<br />
acinzentan<strong>do</strong> a alma <strong>do</strong> homem, acorrentan<strong>do</strong>-o aos próprios<br />
<strong>de</strong>sejos ambiciona<strong>do</strong>s. A escolha, quan<strong>do</strong> se dá, é<br />
pelo consumo: possível ou não! O matiz que aguça o olhar<br />
<strong>do</strong>s homens provém das ilícitas bugigangas esparramadas<br />
pelos ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res ambulantes: um só produto não basta para<br />
saciar a vonta<strong>de</strong>, é preciso sempre mais. Acolá, o brilho<br />
<strong>do</strong>s olhos maquila<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mulheres povoa o Parque da Luz,<br />
meros objetos entre as obras <strong>de</strong> arte que brotam <strong>de</strong>sse ponto<br />
ver<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. O velho centro da capital<br />
é colori<strong>do</strong> e, tanto quanto as cores que se espalham, o<br />
micropo<strong>de</strong>r em forma <strong>de</strong> teia acentua ainda mais a peque-<br />
INTRODUÇÃO<br />
1<br />
nez humana, encerran<strong>do</strong> o homem em intransigências mil,<br />
sufocan<strong>do</strong>-o e geran<strong>do</strong> <strong>de</strong>sesperança.<br />
É nessa ebulição <strong>de</strong> sentimentos que o crime <strong>de</strong> homicídio<br />
cinge o ápice da agressivida<strong>de</strong> humana, rematan<strong>do</strong> o<br />
ciclo <strong>de</strong> emoções com a extinção <strong>do</strong> outro. Tão complexo<br />
quanto o próprio ser humano, seu trato exige uma lógica<br />
distinta da persecução meramente burocrática. Não se trata<br />
aqui <strong>de</strong> personagens cria<strong>do</strong>s pelo escritor escocês Sir<br />
Arthur Conan Doyle, mas sim <strong>de</strong> homens e mulheres <strong>de</strong><br />
carne e osso, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s, nada obstante, <strong>do</strong> brilho e da obstinação<br />
sherlockianas.<br />
A criação <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção<br />
à Pessoa (<strong>DHPP</strong>) em 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1986, pelo<br />
então governa<strong>do</strong>r Franco Montoro, só fez aglutinar esses<br />
homens e mulheres, que na condução da investigação<br />
<strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> homicídio <strong>do</strong>loso e <strong>de</strong> roubo com resulta<strong>do</strong><br />
morte acumularam expertise que irradia nos corre<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong>ste prédio, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> quaisquer vicissitu<strong>de</strong>s<br />
pessoais.<br />
É fato que o vigor da polícia paulista é exemplo interestadual<br />
e, no caso <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, as constantes visitas <strong>de</strong><br />
profissionais da área, que buscam conhecimento e aprimoramento,<br />
recompensam com orgulho o trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>.<br />
Ainda há muito que conquistar, porém, nosso trabalho é<br />
fonte <strong>de</strong> citações e exemplo para as congêneres das <strong>de</strong>mais<br />
unida<strong>de</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração, principalmente porque o <strong>DHPP</strong><br />
soube receber e assimilar as transformações históricas ocorridas<br />
nas últimas décadas, agregan<strong>do</strong> ao estereótipo<br />
clássico <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r astuto a imagem <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r
VIII
prepara<strong>do</strong> e capacita<strong>do</strong> para enfrentar o novo contexto da<br />
realida<strong>de</strong> vivida. A título <strong>de</strong> exemplo, o ano <strong>de</strong> 2007 foi<br />
encerra<strong>do</strong> com um amplo <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> aprimoramento sobre<br />
Ciência Criminal, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelo Diretor <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, Carlos<br />
José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong>. O evento, também promovi<strong>do</strong> pela<br />
OAB, contou com a participação <strong>de</strong> Delega<strong>do</strong>s, Juízes,<br />
Advoga<strong>do</strong>s, Promotores, Oficiais da <strong>Polícia</strong> Militar e integrantes<br />
<strong>do</strong> meio acadêmico.<br />
Mas o rol <strong>de</strong> atribuições <strong>de</strong>ste Departamento não se<br />
restringe à investigação <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> mortes intencionais.<br />
Somam-se o combate ao tráfico interno <strong>de</strong> pessoas; as<br />
investigações das lesões corporais e tentativas <strong>de</strong> homicídio;<br />
a apuração <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> intolerância; a proteção às<br />
testemunhas e a resolução <strong>do</strong>s inúmeros <strong>de</strong>saparecimentos<br />
<strong>de</strong> pessoas.<br />
3<br />
A nova diretoria <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Homicídios, ciente<br />
<strong>do</strong> valor <strong>do</strong>s homens e mulheres que integram seu corpo<br />
policial, optou por re<strong>de</strong>finir a estética <strong>do</strong> tradicional <strong>Anuário</strong><br />
– <strong>DHPP</strong>, prestan<strong>do</strong>-lhes uma homenagem. A arte, em sua<br />
busca <strong>de</strong> revolucionar o mun<strong>do</strong>, volta-se aqui para os seres<br />
humanos policiais e, num passeio fotográfico, <strong>de</strong>volve-lhes,<br />
por meio das imagens captadas pelos fotógrafos e policiais<br />
Ricar<strong>do</strong> Scholl e Telma <strong>de</strong> Souza, instantes <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong><br />
vivi<strong>do</strong>, quase sempre <strong>de</strong>spercebi<strong>do</strong> em face das tarefas cotidianas<br />
– muitas vezes mecânicas, automatizadas. O belo, o<br />
sombrio, a <strong>do</strong>r e o sorriso po<strong>de</strong>rão ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s nas páginas<br />
que se seguem. Os textos, tais como as fotografias,<br />
são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e não se <strong>de</strong>ixarão corromper com o tempo.<br />
Passa<strong>do</strong> e futuro se confun<strong>de</strong>m a cada instante capta<strong>do</strong><br />
através <strong>do</strong> olhar <strong>do</strong>s fotógrafos e colegas <strong>de</strong> profissão.
Permito-me a ausência <strong>de</strong> modéstia.<br />
Mas é questão <strong>de</strong> Justiça.<br />
Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pôr os pingos nos is.<br />
A <strong>Polícia</strong> foi a protagonista da queda <strong>do</strong>s homicídios <strong>do</strong>losos<br />
na capital <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, como <strong>de</strong> resto em to<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong>.<br />
Comparativamente ao ano 2000, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />
contabilizou em 2007 redução da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 71% no índice<br />
<strong>de</strong> homicídios <strong>do</strong>losos pratica<strong>do</strong>s 2 .<br />
Enquanto em 2000 foram registra<strong>do</strong>s 5.327 assassinatos,<br />
2007 terminou com 1.538 mortes intencionais cometidas.<br />
Simplesmente 3.789 pessoas <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser mortas.<br />
É um fato histórico que merece os exatos dimensionamento<br />
e contextualização.<br />
Suponhamos que essa legião <strong>de</strong> pessoas, majoritariamente<br />
homens, pre<strong>do</strong>minantemente jovens, possua a estatura<br />
mediana <strong>de</strong> 1,70m. Imaginemos to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ita<strong>do</strong>s, um corpo<br />
segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> outro, em linha reta. Calculemos a extensão da<br />
fila formada horizontalmente. Perto <strong>de</strong> 6.500m <strong>de</strong> corpos<br />
perfila<strong>do</strong>s. Agora, como se fosse mágica, to<strong>do</strong>s levantamse<br />
e tomam, cada qual, o próprio rumo. Vidas preservadas<br />
e produtivas.<br />
Entretanto, não é à magia que se <strong>de</strong>ve creditar a tendência<br />
já consolidada em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio <strong>do</strong>s homicídios <strong>do</strong>losos.<br />
1 Carlos José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong> é Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Diretor <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>.<br />
2 Fonte: Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Análise e Planejamento (CAP).<br />
O dia seguinte<br />
Carlos José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong> 1<br />
5<br />
Para alguns <strong>de</strong>bate<strong>do</strong>res <strong>do</strong> tema trata-se <strong>de</strong> fenômeno<br />
multifatorial <strong>de</strong> complexa explicação 3 .<br />
O caso <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> por instituições<br />
internacionais, como a Organização das Nações Unidas<br />
para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o Banco<br />
Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento (BID) e a Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Harvard nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, teve um personagem principal:<br />
sua <strong>Polícia</strong>.<br />
A equação que possibilitou neutralizar os homicidas contumazes,<br />
<strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> alenta<strong>do</strong> espectro <strong>de</strong> mortes, guarda<br />
um binômio essencial: investigar e pren<strong>de</strong>r. Para que possa<br />
<strong>de</strong>pois a Justiça con<strong>de</strong>nar 4 .<br />
O pesquisa<strong>do</strong>r José Vicente da Silva Filho, recorrente<br />
nas discussões sobre o assunto, aponta que os índices <strong>de</strong><br />
homicídios em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> caíram justamente porque aqui<br />
existe o <strong>do</strong>bro da eficiência nacional em encarcerar criminosos<br />
que agri<strong>de</strong>m a socieda<strong>de</strong> 5 .<br />
De fato, <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> é o Esta<strong>do</strong> que ostenta as maiores<br />
taxas <strong>de</strong> encarceramento <strong>de</strong> bandi<strong>do</strong>s 6 .<br />
Talvez seja isso que explique a estagnação, senão o recru<strong>de</strong>scimento<br />
<strong>de</strong>sses crimes no restante <strong>do</strong> Brasil. Os <strong>de</strong>mais<br />
3 Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, “Queda a comemorar”, 29/10/07.<br />
4 Agora SP, “Homicídios em queda”, 29/10/07.<br />
5 Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, “Bandi<strong>do</strong> é na ca<strong>de</strong>ia”, José Vicente da Silva<br />
Filho, 22/10/07.<br />
6 Fonte: Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Análise e Planejamento (CAP).
Esta<strong>do</strong>s da Fe<strong>de</strong>ração pren<strong>de</strong>m pouco 7 . Porto Alegre é a<br />
capital brasileira, entre as 13 maiores <strong>do</strong> país, on<strong>de</strong> o homicídio<br />
mais cresceu em 2007, segun<strong>do</strong> estatísticas das Secretarias<br />
Estaduais da Segurança Pública correspon<strong>de</strong>ntes. Em<br />
2007 ocorreram 430 homicídios na cida<strong>de</strong>, contra 273 em<br />
2006, o que significa um aumento <strong>de</strong> 57,5% 8 . Em Salva<strong>do</strong>r<br />
o acréscimo foi <strong>de</strong> 38,26% no mesmo perío<strong>do</strong>. Foram 1.337<br />
homicídios em 2007, contra 967 no ano anterior 9 .<br />
Essa opinião encontra eco nas vozes <strong>de</strong> outros renoma<strong>do</strong>s<br />
estudiosos da matéria.<br />
O sociólogo Luiz Flávio Sapori, que foi Secretário Adjunto<br />
da Segurança Pública <strong>de</strong> Minas Gerais, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que no combate<br />
ao crime <strong>de</strong> homicídio o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é marcar<br />
presença por meio <strong>de</strong> uma repressão qualificada: investigan<strong>do</strong><br />
e pren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> criminosos. Em outras palavras: crian<strong>do</strong> estruturas<br />
<strong>de</strong> investigação sólidas. E <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> tem-se <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> por isso 10 .<br />
O também sociólogo Glauco Soares não discrepa <strong>de</strong>sse<br />
diagnóstico ao distinguir o case paulista: “Não há qualquer<br />
problema meto<strong>do</strong>lógico em relação aos números apresenta<strong>do</strong>s<br />
pelo <strong>Governo</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, que tem os melhores da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
país. Se houver dúvidas basta comparar os da<strong>do</strong>s com os<br />
números <strong>de</strong> vítimas <strong>de</strong> homicídios divulga<strong>do</strong>s pelo Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong>, que são absolutamente isentos” 11 .<br />
7 http://vejaonline.abril.com.br, “Queda da violência em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>”,<br />
Reinal<strong>do</strong> Azeve<strong>do</strong>.<br />
8 Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, “Homicídios em Porto Alegre crescem 57,5%”,<br />
Gilmar Pentea<strong>do</strong>, 18/02/08.<br />
9 Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, “Homicídios em Porto Alegre crescem 57,5%”,<br />
Gilmar Pentea<strong>do</strong>, 18/02/08.<br />
10 O Globo, “Bom para <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, ruim para o Rio”, Natanael Damasceno,<br />
02/06/08.<br />
11 O Globo, “Bom para <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, ruim para o Rio”, Natanael Damasceno,<br />
02/06/08.<br />
6<br />
O jornalista Reinal<strong>do</strong> Azeve<strong>do</strong>, articulista da revista Veja,<br />
é aritmeticamente taxativo: “<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> tem 40% <strong>do</strong>s presos<br />
<strong>do</strong> país. Existem 227,63 presos por 100 mil habitantes no<br />
Brasil; em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> essa relação salta para 341,98 por 100<br />
mil habitantes. Em 2001, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> tinha 67.649<br />
presos; em 2006, eles eram 143.310 – mais <strong>do</strong> que o <strong>do</strong>bro.<br />
Entre 1996 e 2006, o número <strong>de</strong> presos aumentou 10 vezes.<br />
Até julho <strong>de</strong> 2006, haviam ingressa<strong>do</strong> no sistema prisional <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> 4.832 pessoas – 800 por mês ou um preso por hora.<br />
Em suma, a ação implacável da polícia paulista resultou em<br />
mais bandi<strong>do</strong>s presos e mais pessoas vivas 12 .<br />
Embora não se tenha da<strong>do</strong> ainda o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>de</strong>staque a<br />
essa acentuada queda <strong>de</strong> homicídios no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong><br />
e, especialmente, em sua Capital, vale lembrar que em Nova<br />
York a redução alcançada <strong>de</strong> 73% nesse tipo <strong>de</strong> crime <strong>de</strong>man<strong>do</strong>u<br />
uma década 13 . Outros <strong>de</strong>sempenhos notáveis foram<br />
observa<strong>do</strong>s nas cida<strong>de</strong>s colombianas <strong>de</strong> Cali (queda <strong>de</strong> 25%)<br />
e Bogotá (queda <strong>de</strong> 70%), num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> nove anos.<br />
Aflora que o caso <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> já po<strong>de</strong> ser inseri<strong>do</strong> entre<br />
os mais louváveis <strong>do</strong> panorama internacional 14 , já que o<br />
<strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> 71% aqui anota<strong>do</strong> operou-se em sete anos.<br />
No contexto assim circunstancia<strong>do</strong>, sobressai a atuação<br />
<strong>de</strong>terminante <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong> nos limites da capital paulista, a partir<br />
da edificação <strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong> “Plano <strong>de</strong> Combate aos<br />
Homícidios Dolosos” em 2001, cujas vigas mestras, sedimentadas,<br />
forneceram elementos viáveis aos resulta<strong>do</strong>s<br />
12 http://vejaonline.abril.com.br, “Queda da violência em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>”,<br />
Reinal<strong>do</strong> Azeve<strong>do</strong>.<br />
13 Diário Oficial <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> – DOE, “Em oito anos, número <strong>de</strong> homicídios<br />
no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> caiu mais <strong>de</strong> 60%”, 09/11/07.<br />
14 www.josevicente.com.br, “Para<strong>do</strong>xos da Segurança Pública – Crise e<br />
Sucesso”, p. 5.
colima<strong>do</strong>s, passan<strong>do</strong> pela priorida<strong>de</strong> absoluta ao levantamento<br />
profissional <strong>do</strong> local <strong>de</strong> crime, objetivan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>svendamento<br />
da autoria <strong>de</strong>litiva em até 48 horas da prática <strong>do</strong><br />
evento, a exemplo das melhores polícias especializadas em<br />
homicídios <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A eficácia <strong>de</strong>ssas ações é o que tem<br />
vali<strong>do</strong> ao Grupo Especializa<strong>do</strong> em Assessoramento <strong>de</strong> Local<br />
<strong>de</strong> Crime (GEACrim) elogios pelo país 15 .<br />
Todavia, percepção mais sensível alia-se às ocorrências<br />
<strong>de</strong> homicídios múltiplos ou chacinas, que igualmente diminuíram<br />
vertiginosamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001 16 . Em 2001 foram<br />
catalogadas 43 ocorrências. Em 2007 foram 13. Em 2008,<br />
até o final <strong>do</strong> mês julho, temos apenas três episódios<br />
registra<strong>do</strong>s, contra oito em igual perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>.<br />
Traça<strong>do</strong> esse auspicioso panorama, acossa a mente <strong>do</strong>s<br />
opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> direito <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s à causa da Segurança<br />
Pública qual o futuro que ansiamos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> consolida<strong>do</strong><br />
o fato histórico esquadrinha<strong>do</strong>.<br />
A visão prospectiva <strong>de</strong> nossa missão exige estimularmos as<br />
inovações e a a<strong>do</strong>ção das tendências contemporâneas em<br />
Segurança Pública. Buscar o novo sem jamais per<strong>de</strong>r o foco.<br />
Fomentar indica<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho e <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s.<br />
Gestão empresarial. Caminhar pari passu com to<strong>do</strong>s<br />
os atores envolvi<strong>do</strong>s na persecução criminal. É que apurar as<br />
infrações penais não basta, se da autoria <strong>de</strong>litiva indicada<br />
não sobrevier a <strong>de</strong>núncia e a con<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> infrator. Cabe<br />
15 O Globo, “Bom para <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, ruim para o Rio”, Natanael Damasceno,<br />
02/06/08. Jornal <strong>do</strong> Comércio, “A Metrópole Contra-Ataca”,<br />
Recife, PE, 12/05/2008.<br />
16 KAHN, Túlio, et al. “Homicídios em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>”. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. CAP/SSP,<br />
JULHO/2004.<br />
7<br />
combinar a prevenção eficaz à elevada resolutivida<strong>de</strong> e estas<br />
à reduzida reincidência criminal. Receita <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
livre e segura. Manti<strong>do</strong>s os preda<strong>do</strong>res sociais longe das ruas,<br />
po<strong>de</strong>r-se-á então investir com sucesso em programas sociais 17 .<br />
O professor Herman Goldstein, um <strong>do</strong>s mais profun<strong>do</strong>s<br />
conhece<strong>do</strong>res da polícia norte-americana, ensina que “Para<br />
cuidar <strong>de</strong> crimes graves a gran<strong>de</strong> esperança da polícia é a<br />
flexibilida<strong>de</strong> – uma maior disposição para testar idéias. Isso<br />
requer que ela assuma alguns riscos inerentes a qualquer experiência,<br />
que avalie cuida<strong>do</strong>samente seus esforços, e que se<br />
disponha a <strong>de</strong>scartar as idéias que se provarem ineficazes” 18 .<br />
Com efeito, ao mirar o futuro a organização <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver<br />
ferramentas e apoiar a troca <strong>de</strong> experiências, promoven<strong>do</strong> a gestão<br />
<strong>do</strong> conhecimento daí origina<strong>do</strong>. A produção <strong>de</strong> idéias e a<br />
criativida<strong>de</strong> em face das dificulda<strong>de</strong>s surgidas serão o diferencial<br />
19 . Para tanto, é imperiosa a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong>. De<br />
romperem-se paradigmas individuais e institucionais, <strong>de</strong> forma<br />
a utilizar ao máximo o eleva<strong>do</strong> potencial dissemina<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
conhecimento. Lidar com pessoas interagin<strong>do</strong> em grupos, ten<strong>do</strong><br />
em mente objetivos comuns e focan<strong>do</strong> exclusivamente o cliente<br />
– o usuário <strong>de</strong> serviço público – não é tarefa das mais simples 20 .<br />
Realmente, talvez seja este o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio a ser enfrenta<strong>do</strong><br />
no dia seguinte.<br />
17 Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, “Bandi<strong>do</strong> é na ca<strong>de</strong>ia”, José Vicente da Silva<br />
Filho, 22/10/07.<br />
18 GOLDSTEIN, Herman. Polician<strong>do</strong> uma socieda<strong>de</strong> livre. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>,<br />
EDUSP, 2007, p. 98.<br />
19 http://imasters.uol.com.br/artigo/3784/governanca, “Gestão <strong>do</strong> conhecimento<br />
– quebran<strong>do</strong> paradigmas individuais, Alexandre Men<strong>de</strong>s, 15/07/2008.<br />
20 http://imasters.uol.com.br/artigo/3784/governanca, “Gestão <strong>do</strong> conhecimento<br />
– quebran<strong>do</strong> paradigmas individuais, Alexandre Men<strong>de</strong>s, 15/07/2008.
Na variada gama <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s da função<br />
policial, não se tem da<strong>do</strong> a merecida importância à investigação<br />
pura, aquela que, a partir <strong>de</strong> um crime <strong>de</strong> autoria<br />
<strong>de</strong>sconhecida, por meio <strong>de</strong> observação, aplicação <strong>de</strong> regras<br />
técnicas e da experiência comum, chega à i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>do</strong> agente criminoso.<br />
Isso é o que se faz, silenciosa e eficientemente, no <strong>DHPP</strong>.<br />
O processo é complexo e representa uma das mais apuradas<br />
manifestações da inteligência humana.<br />
Três elementos são fundamentais no nem sempre fácil<br />
caminho: a intuição, o conhecimento das regras da experiência<br />
comum e o apoio das chamadas ciências forenses.<br />
A intuição é um fenômeno psicológico, aptidão <strong>de</strong> que<br />
nem to<strong>do</strong>s são significativamente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s, mas que to<strong>do</strong>s<br />
temos e que interage permanentemente com a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captação das regras <strong>de</strong> comportamento<br />
das pessoas.<br />
A experiência é condição <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> lógica da atuação<br />
da intuição. Não há intuição sem experiência e a<br />
intuição, que é a percepção <strong>de</strong> algo além <strong>do</strong> racionalmente<br />
posto, existe a partir da experiência <strong>de</strong> cada um. Contu<strong>do</strong>,<br />
a intuição é que age como um impulso para a obtenção da<br />
1 Vicente Greco Filho é Professor Titular da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
Investigação pura<br />
Vicente Greco Filho 1<br />
9<br />
prova daquilo que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo se enten<strong>de</strong>u como possível<br />
ou provável.<br />
Assim, um levantamento <strong>de</strong> local não é apenas uma fotografia.<br />
É, além das fotografias ou outras formas <strong>do</strong>cumentais,<br />
a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> minúcias potencialmente relevantes escolhidas<br />
pela experiência e ditadas pela intuição. Daí se<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam as diligências.<br />
A tomada <strong>de</strong> um <strong>de</strong>poimento ou um interrogatório não é<br />
apenas a transcrição <strong>do</strong> que a pessoa falou, mas a formulação<br />
das perguntas certas, com a forma e a impostação<br />
certas e a transmissão <strong>de</strong> uma mensagem emotiva que possam<br />
abrir caminho para a revelação <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>. A<br />
própria transcrição passa por um filtro semiótico.<br />
Tu<strong>do</strong> isso coloca<strong>do</strong> como uma hipótese intuída, mas que<br />
precisa ser explicitada em elementos suficientes <strong>de</strong> convicção<br />
para a utilização processual futura.<br />
Po<strong>de</strong> parecer que a coisa seja mais simples, mas não é,<br />
porque exige intuição, experiência, conhecimento das diversas<br />
linguagens envolvidas, raciocínio e, o mais das vezes,<br />
pertinácia, rapi<strong>de</strong>z, discrição e criativida<strong>de</strong>.<br />
Todas essas qualida<strong>de</strong>s, institucional e pessoalmente, o<br />
<strong>DHPP</strong> tem e as utiliza. Pena que sejam pouco divulgadas.
Em minha função <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Direito Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> 1º Tribunal<br />
<strong>do</strong> Júri <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (o maior Tribunal <strong>do</strong> Júri da<br />
América Latina), durante mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos convivi com as<br />
equipes <strong>de</strong> investigação <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>. Sem citar nomes para<br />
não esquecer e magoar gran<strong>de</strong>s amigos que fizemos ao<br />
longo <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, posso dizer que o Departamento<br />
<strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa, conhecida<br />
nos meios policiais e jurídicos como <strong>DHPP</strong>, é órgão policial<br />
daqueles que, como paulistas que somos, temos orgulho <strong>de</strong><br />
mencionar em todas as oportunida<strong>de</strong>s em que nos entrevistamos<br />
com as mais variadas platéias jurídicas. De quantos<br />
e quantos <strong>de</strong>litos <strong>do</strong>losos contra a vida presenciamos as<br />
soluções por intermédio <strong>do</strong>s valorosos <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>s e agentes<br />
policiais, que sempre fizeram parte <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>legacia especializada.<br />
Esse grifo tem razão <strong>de</strong> ser: em nossa vida sempre<br />
valorizamos os especialistas. Em matéria <strong>de</strong> investigação,<br />
principalmente, a especialização é fundamental, já que os<br />
méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalho e o entrosamento entre as diversas<br />
fases da apuração penal <strong>de</strong>vem ser dirigi<strong>do</strong>s em prol <strong>do</strong>s<br />
objetivos a serem alcança<strong>do</strong>s. Por isso, o <strong>DHPP</strong>, como ór-<br />
1 José Ruy Borges Pereira é Desembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong><br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
Por que sempre confiei no <strong>DHPP</strong>?<br />
José Ruy Borges Pereira 1<br />
11<br />
gão especializa<strong>do</strong> que é, atingiu níveis <strong>de</strong> altíssima admiração<br />
entre magistra<strong>do</strong>s, promotores e <strong>de</strong>mais profissionais<br />
<strong>do</strong> Direito Penal. Quan<strong>do</strong> o <strong>DHPP</strong> assume uma investigação,<br />
tem-se a certeza <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>lito não ficará impune.<br />
Como Magistra<strong>do</strong>, hoje Desembarga<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong><br />
Justiça <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, como paulista e paulistano, como professor<br />
e profissional <strong>do</strong> Direito Criminal, peço às altas<br />
autorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Executivo paulista que dêem to<strong>do</strong> apoio a<br />
essa <strong>de</strong>legacia especializada em investigar os <strong>de</strong>litos mais<br />
graves <strong>de</strong> nossa legislação penal. A apuração da autoria<br />
<strong>de</strong>litiva <strong>do</strong>s homicídios e latrocínios é a vitrine da nossa<br />
Segurança Pública. A cada caso esclareci<strong>do</strong>, correspon<strong>de</strong><br />
a menor sensação <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong>. Quanto maior o número<br />
<strong>de</strong> crimes contra a pessoa <strong>de</strong>cifra<strong>do</strong>s, maior será a credibilida<strong>de</strong><br />
da nossa polícia.<br />
Essa missão <strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar homicídios intencionais e latrocínios<br />
<strong>de</strong> autoria misteriosa, encontrar pessoas <strong>de</strong>saparecidas<br />
e proteger testemunhas <strong>de</strong> crimes ameaçadas, entre outras<br />
ativida<strong>de</strong>s essenciais, transformou o <strong>DHPP</strong>, indubitavelmente,<br />
na elite da investigação criminal brasileira.
O conceito das primeiras 48 horas nos casos<br />
<strong>de</strong> investigação <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> homicídio<br />
Cada ser humano possui um conjunto <strong>de</strong> maneiras e<br />
hábitos, maneiras próprias <strong>de</strong> ver e reagir ao mun<strong>do</strong> que o<br />
cerca, suas idiossincrasias. As características <strong>de</strong> cada um<br />
somam-se às <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais integrantes da socieda<strong>de</strong>, geran<strong>do</strong><br />
valores e comportamentos que se transferem para as<br />
instituições, tanto públicas como privadas.<br />
Assim, <strong>de</strong>vemos reconhecer que o trabalho policial, mais<br />
especificamente o da investigação policial, é fruto <strong>de</strong> uma<br />
série <strong>de</strong> valores culturais e profissionais dissemina<strong>do</strong>s em<br />
nossa socieda<strong>de</strong>. Com o passar <strong>do</strong> tempo, diante das inovações,<br />
esses conceitos vão moldan<strong>do</strong>-se à nova realida<strong>de</strong>.<br />
Contu<strong>do</strong>, dada a absurda velocida<strong>de</strong> das transformações<br />
que estão ocorren<strong>do</strong>, essa rea<strong>de</strong>quação, nos diversos campos<br />
<strong>do</strong> conhecimento, por vezes não consegue acompanhar<br />
o ritmo das mudanças, persistin<strong>do</strong> procedimentos ineficientes<br />
e anacrônicos.<br />
Dentro <strong>de</strong>ssa visão, tornou-se consensual a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> criar um grupo especializa<strong>do</strong> em aten<strong>de</strong>r os locais <strong>de</strong><br />
homicídios, por ocasião <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> assessoramento<br />
pelas unida<strong>de</strong>s policiais territoriais: o Grupo Especializa<strong>do</strong><br />
em Assessoramento <strong>de</strong> Local <strong>de</strong> Crime (GEACrim), incorpora<strong>do</strong><br />
à estrutura da Divisão <strong>de</strong> Homicídios. Os policiais das<br />
1 Marcos Carneiro Lima é Delega<strong>do</strong> Divisionário <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> da Divisão<br />
<strong>de</strong> Homicídios.<br />
Marcos Carneiro Lima 1<br />
13<br />
diversas carreiras, assim, tornariam-se especializa<strong>do</strong>s na<br />
missão <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r o local <strong>de</strong> homicídios, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a<br />
gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> crime em questão e <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios para<br />
esclarecê-lo.<br />
A idéia nuclear era estruturar essa equipe para lidar com<br />
sua missão principal: esclarecer o crime <strong>de</strong> homicídio rapidamente,<br />
colhen<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong>s os vestígios e informações no<br />
local <strong>do</strong> <strong>de</strong>lito, sen<strong>do</strong> ressaltada sua importância pelo fato<br />
<strong>de</strong> o corpo da vítima estar presente. O objetivo da investigação<br />
é reconstruir o passa<strong>do</strong>, assim como montar um<br />
quebra-cabeça no qual a primeira peça é a mais importante.<br />
O <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> tempo é prejuízo incisivo para a investigação.<br />
Portanto, é necessário convergir to<strong>do</strong>s os esforços,<br />
com a participação efetiva <strong>de</strong> toda a equipe <strong>de</strong> policiais<br />
especializa<strong>do</strong>s, para agilizar ao máximo as investigações,<br />
ou seja, aplicar o conceito das primeiras 48 horas na investigação<br />
<strong>de</strong> homicídios como filosofia <strong>de</strong> trabalho.<br />
Não basta apenas a utilização <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rno arsenal no<br />
combate ao crime <strong>de</strong> homicídios, hoje possibilita<strong>do</strong> pelo<br />
avanço tecnológico. O mais importante é a mudança <strong>de</strong><br />
atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s policiais envolvi<strong>do</strong>s em tal <strong>de</strong>safio, procuran<strong>do</strong><br />
apresentar maior agilida<strong>de</strong> e objetivida<strong>de</strong> em seu trabalho.<br />
Além <strong>do</strong>s fatores técnicos que abrangem a coleta <strong>de</strong><br />
materiais que auxiliarão nas investigações, como projéteis,<br />
estojos, manchas <strong>de</strong> sangue etc., existe a questão <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
emocional das pessoas vinculadas ao homicídio: as
testemunhas, os parentes e amigos da vítima e, principalmente,<br />
os suspeitos, e toda essa gama <strong>de</strong> informações<br />
<strong>de</strong>verá ser coletada o mais breve possível, para garantir<br />
efetiva qualida<strong>de</strong> à investigação.<br />
Para a aplicação <strong>de</strong>ssa mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> não<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> nenhuma lei, mas sim <strong>de</strong> uma nova postura<br />
profissional, reconhecen<strong>do</strong> o fato <strong>de</strong> que nosso trabalho<br />
– que é muito bom – precisa melhorar e muito. Deixan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
la<strong>do</strong> as questões que nos atormentam no tocante à valorização<br />
das carreiras policiais como um to<strong>do</strong>, cabe a nós a<br />
15<br />
nobre missão <strong>de</strong> investigar e apontar o autor <strong>do</strong> crime para<br />
a Justiça, pois a família, em primeiro lugar, e, conseqüentemente,<br />
toda a socieda<strong>de</strong> anseiam por uma pronta resposta<br />
da polícia para minimizar o efeito <strong>de</strong> tal crime.<br />
Portanto, rompen<strong>do</strong> com velhas tradições cartorárias, fruto<br />
da nossa herança ibérica, <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> uma polícia<br />
burocrática, lenta e <strong>de</strong>sconexa com os anseios da socieda<strong>de</strong><br />
para firmar a imagem <strong>de</strong> uma polícia eficiente, profissional,<br />
legalista e respeitável, ten<strong>do</strong> como base princípios que estão<br />
presentes nos institutos mais perenes: a hierarquia e a disciplina.
A importância da preservação <strong>do</strong> local <strong>de</strong> crime<br />
O termo “criminalística” foi emprega<strong>do</strong> pela primeira<br />
vez em 1893, na Alemanha, pelo juiz <strong>de</strong> instrução e professor<br />
<strong>de</strong> direito penal Hans Gross que, por essa razão, é<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o pai da Criminalística.<br />
A parte científica da busca e procura <strong>de</strong> soluções para<br />
casos criminais está entregue à Criminalística. É ela que resolve<br />
cientificamente os problemas relativos ao crime e ao criminoso.<br />
Com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s conhecimentos científicos, a<br />
Criminalística tornou-se uma disciplina, um sistema. Em seu<br />
âmbito atualmente se reúnem e são aproveita<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
forneci<strong>do</strong>s pelas diversas ciências, por algumas artes e por<br />
outras disciplinas policiais.<br />
Nos crimes contra a pessoa, a Criminalística é um instrumento<br />
indispensável a toda investigação <strong>de</strong> um assassino.<br />
Alexandre Lacasagne, cientista forense, afirmou em 1889<br />
que “o maior mérito <strong>do</strong> esclarecimento é <strong>do</strong> próprio cadáver,<br />
pois a vítima <strong>de</strong> um assassinato guarda <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si a<br />
história precisa <strong>de</strong> sua morte. Um cadáver é a testemunha<br />
mais importante <strong>de</strong> um homicídio”.<br />
O exame <strong>do</strong> local <strong>do</strong> crime <strong>de</strong>ve ser sempre imediato,<br />
como já dizia Locard: “cada minuto <strong>de</strong> <strong>de</strong>mora da chegada<br />
<strong>do</strong> Perito ao local correspon<strong>de</strong> a um quilômetro que ele<br />
se afasta da verda<strong>de</strong>”.<br />
1 Jane Marisa Pacheco Belucci é Perita Criminal Chefe da Equipe <strong>de</strong> Perícias<br />
<strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>; Telma Rocha Leite é Fotógrafa Criminal da mesma equipe.<br />
Jane Marisa Pacheco Belucci e Telma Rocha Leite 1<br />
17<br />
O diagnóstico da morte e a elucidação <strong>do</strong>s mecanismos<br />
que levaram à morte <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, muitas vezes, mais <strong>do</strong>s elementos<br />
recolhi<strong>do</strong>s no local <strong>do</strong> crime <strong>do</strong> que <strong>de</strong> uma necropsia.<br />
É <strong>de</strong> suma importância que to<strong>do</strong> o exame <strong>do</strong> local <strong>do</strong><br />
crime transforme-se no ponto <strong>de</strong> partida da investigação<br />
criminal.<br />
Para tanto, é indispensável uma rigorosa preservação<br />
<strong>do</strong> local <strong>do</strong> crime, sua fixação.<br />
Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não se permitir que o local on<strong>de</strong><br />
ocorreu um homicídio seja toca<strong>do</strong> antes da chegada <strong>do</strong><br />
perito, pois é ali que se encontram to<strong>do</strong>s os elementos fundamentais<br />
para o esclarecimento das causas <strong>do</strong> crime, tais<br />
como: posição <strong>do</strong> cadáver, <strong>do</strong>s móveis que o ro<strong>de</strong>iam,<br />
posição e situação das armas e aspecto das manchas <strong>de</strong><br />
sangue, entre outros.<br />
No <strong>DHPP</strong> é utiliza<strong>do</strong>, tanto quanto necessário, o aparelho<br />
Crime Scope, um aparelho que emite luz ultravioleta <strong>de</strong><br />
alta potência e que possibilita o rastreamento em uma área<br />
extremamente ampla. Com o Crime Scope po<strong>de</strong>-se coletar<br />
evidências que passariam <strong>de</strong>spercebidas, como flui<strong>do</strong>s corporais,<br />
unhas, cabelos, impressões digitais, pegadas, sêmen,<br />
resíduos <strong>de</strong> pólvora, sangue etc.<br />
O Luminol também é utiliza<strong>do</strong> para <strong>de</strong>tectar sangue,<br />
mesmo que já tenha si<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> a lavagem ou<br />
tingimento. O Luminol é uma substância que reage com o<br />
ferro encontra<strong>do</strong> na hemoglobina <strong>do</strong> sangue. Essa reação<br />
é fosforescente.
Além da avaliação <strong>do</strong>s locais <strong>de</strong> crime, a perícia <strong>do</strong><br />
<strong>DHPP</strong> também se sai muito bem em reconstituições. Nestas,<br />
o lema também é visum et repetum, sen<strong>do</strong> que o objetivo é<br />
exatamente observar e repetir a dinâmica <strong>do</strong> evento.<br />
Nas reconstituições, muitas vezes nos <strong>de</strong>paramos com o<br />
fenômeno das verda<strong>de</strong>s transitórias, isto é, mutáveis por<br />
conta da materialização <strong>do</strong> relato.<br />
Realizamos as simulações com animação em 3-D, com<br />
base nas versões <strong>de</strong> testemunhas e conforme os resulta<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os exames apresenta<strong>do</strong>s, como o perinecroscópico,<br />
o necroscópico, a balística e o residuográfico, além <strong>do</strong>s<br />
relatórios <strong>de</strong> investigação.<br />
Com a planta <strong>de</strong> um local colocada em 3-D, faz-se a<br />
reconstituição e é possível “caminhar no ambiente”.<br />
19<br />
Outro recurso é a filmagem.<br />
A filmagem durante as simulações facilita o esclarecimento<br />
<strong>do</strong> caso e registra <strong>de</strong>talhes importantes que enriquecem<br />
o lau<strong>do</strong> e, por sua vez, o inquérito.<br />
As reconstituições são feitas em conjunto com os trabalhos<br />
fotográficos. Posteriormente, são editadas e gravadas em DVD.<br />
Gostaríamos <strong>de</strong> ressaltar que somente o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong> possui duas carreiras eminentemente técnicas imprescindíveis<br />
nos locais <strong>de</strong> crime: os Fotógrafos Técnicos Periciais<br />
e os Desenhistas Periciais.<br />
Os trabalhos realiza<strong>do</strong>s por fotógrafos e <strong>de</strong>senhistas periciais<br />
são importantes a ponto <strong>de</strong> justificar a preservação<br />
<strong>de</strong>ssas duas carreiras caso haja uma eventual reestruturação<br />
no <strong>DHPP</strong>.
O Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa<br />
O Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa<br />
(<strong>DHPP</strong>) revelou-se um <strong>do</strong>s mais eficientes serviços especializa<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> investigação da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, ten<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação, em 1957, <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong><br />
um inestimável papel no esclarecimento <strong>de</strong> homicídios<br />
<strong>do</strong>losos com autoria <strong>de</strong>sconhecida e, assim, contribuí<strong>do</strong> para<br />
levar às barras da Justiça homicidas passionais, ocasionais,<br />
mata<strong>do</strong>res em série e assassinos profissionais.<br />
Sua atuação técnica e impessoal contribuiu para reduzir<br />
em 75% o índice <strong>de</strong> homicídios na capital paulista<br />
nos últimos oito anos, inserin<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> no<br />
nível <strong>de</strong> aceitabilida<strong>de</strong> fixa<strong>do</strong> pela Organização das Nações<br />
Unidas.<br />
Dividi<strong>do</strong> em quatro Divisões, duas <strong>de</strong>las diretamente<br />
vinculadas à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Judiciária, quais sejam, a<br />
Divisão <strong>de</strong> Homicídios, <strong>de</strong>stinada ao esclarecimento <strong>de</strong><br />
homicídios <strong>do</strong>losos e roubos segui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> morte, e a Divisão<br />
<strong>de</strong> Proteção à Pessoa, cujo papel prepon<strong>de</strong>rante encontrase<br />
no combate ao tráfico <strong>de</strong> seres humanos, aos crimes <strong>de</strong><br />
intolerância, na proteção a testemunhas e na busca à pessoa<br />
<strong>de</strong>saparecida, o Departamento possui um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />
1 Fernan<strong>do</strong> Capez é Promotor <strong>de</strong> Justiça e Deputa<strong>do</strong> Estadual em <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong>.<br />
Fernan<strong>do</strong> Capez 1<br />
21<br />
único instituí<strong>do</strong> pelo Plano Diretor <strong>de</strong> Informática e é internacionalmente<br />
respeita<strong>do</strong>. Em 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1986<br />
foi formalmente cria<strong>do</strong> pelo Decreto n. 24.919.<br />
Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representante <strong>do</strong> Ministério Público e,<br />
mais ainda, <strong>de</strong> promotor <strong>de</strong> justiça que atuou no tribunal<br />
<strong>do</strong> júri durante cinco anos, tenho o privilégio <strong>de</strong> atestar a<br />
relevância <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong> na edificação <strong>de</strong> um processo penal<br />
arrima<strong>do</strong> em provas seguras e substanciosas, responsáveis<br />
pelo sucesso na empreitada processual da tribuna acusatória,<br />
<strong>do</strong> que <strong>de</strong>correu a imensa credibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse órgão<br />
perante o Po<strong>de</strong>r Judiciário e o Ministério Público.<br />
Não importa se a vítima e seus familiares têm ou não<br />
prestígio social ou político, nem se o suspeito <strong>de</strong>tém ou<br />
não po<strong>de</strong>r econômico. A serieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s<br />
pelo <strong>DHPP</strong> garante sua isenção e imparcialida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong>-o<br />
essencial ao Esta<strong>do</strong> Democrático <strong>de</strong> Direito.<br />
Atualmente, como <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> estadual, sinto-me no <strong>de</strong>ver<br />
legal, ético e moral <strong>de</strong> prestigiar com todas as minhas energias<br />
o trabalho <strong>do</strong>s valorosos policiais que integram esse<br />
Departamento especializa<strong>do</strong>, ou melhor, esse centro <strong>de</strong><br />
excelência da polícia paulista.
A vida humana ocupa o mais alto posto na hierarquia<br />
<strong>de</strong> valores <strong>do</strong>s bens jurídicos tutela<strong>do</strong>s pela lei brasileira.<br />
Isso se materializa, a nível infraconstitucional, no estabelecimento<br />
<strong>do</strong> crime <strong>de</strong> homicídio como o prêmio da parte<br />
especial <strong>do</strong> Código Penal. A primazia da vida é conceito<br />
que se encontra profundamente arraiga<strong>do</strong> em nossa cultura<br />
e <strong>de</strong>le advém toda a complexa estrutura estatal <strong>de</strong>stinada<br />
à proteção da vida, estrutura esta na qual a <strong>Polícia</strong> é colocada<br />
em um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Nunca antes, na história<br />
da <strong>Polícia</strong>, foi vista tamanha preocupação com a preservação<br />
da vida <strong>do</strong>s cidadãos. Essa preocupação não se limita à<br />
reprodução incessante <strong>de</strong> lemas institucionais, mas traduzse<br />
em ações efetivas que buscam, a qualquer custo, diminuir<br />
o risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes fatais, otimizar o pronto atendimento<br />
<strong>de</strong> casos emergenciais, reduzir a letalida<strong>de</strong> nas ações policiais<br />
e tantas outras iniciativas que procuram, <strong>de</strong> forma<br />
geral, assegurar que a luta contra os altos índices <strong>de</strong> violência<br />
continue a ser vencida por nós, homens <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>.<br />
Nesse contexto, merece <strong>de</strong>staque a participação <strong>do</strong> Departamento<br />
<strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa, órgão<br />
altamente especializa<strong>do</strong> da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua criação, apresenta excelência mo<strong>de</strong>lar e é motivo<br />
<strong>de</strong> orgulho para toda a população paulista. Nos mais<br />
1 José <strong>Paulo</strong> Menegucci é Coronel Correge<strong>do</strong>r da <strong>Polícia</strong> Militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
Uma parceria em <strong>de</strong>fesa da vida<br />
José <strong>Paulo</strong> Menegucci 1<br />
23<br />
<strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> existência, o <strong>DHPP</strong> notabilizou-se na solução<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s casos, que chamaram a atenção <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o<br />
povo brasileiro. Mas não é somente sob a luz <strong>do</strong>s holofotes<br />
que funciona o <strong>DHPP</strong>. A Correge<strong>do</strong>ria da <strong>Polícia</strong> Militar, que<br />
tem no <strong>DHPP</strong> um inseparável parceiro, está cre<strong>de</strong>nciada a<br />
dar testemunho <strong>do</strong> profissionalismo e da <strong>de</strong>dicação dispensa<strong>do</strong>s<br />
aos casos envolven<strong>do</strong> vítimas incógnitas ao gran<strong>de</strong><br />
público, pessoas comuns, por vezes esquecidas pela própria<br />
família, mas que recebem, por parte daquele órgão, a atenção<br />
e a <strong>de</strong>dicação necessária. O <strong>DHPP</strong> revelou-se, ao longo<br />
<strong>do</strong>s anos, um parceiro <strong>de</strong> inestimável valor, que muito tem<br />
contribuí<strong>do</strong> no solucionamento <strong>do</strong>s casos envolven<strong>do</strong> policiais<br />
militares, principalmente aqueles que foram vitima<strong>do</strong>s no<br />
cumprimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver ou em <strong>de</strong>corrência da nobre função<br />
policial a eles confiada, exercen<strong>do</strong> relevante papel na <strong>de</strong>puração<br />
<strong>de</strong> nosso público interno e na manutenção da saú<strong>de</strong><br />
institucional da <strong>Polícia</strong> Militar, à medida que seus trabalhos<br />
possibilitam levar às barras da justiça os poucos celera<strong>do</strong>s<br />
que insistem em vergar nosso glorioso uniforme.<br />
Em nome <strong>do</strong>s Oficiais e Praças da Correge<strong>do</strong>ria da <strong>Polícia</strong><br />
Militar e também em nome <strong>do</strong>s policiais militares vítimas,<br />
cuja sauda<strong>de</strong> ainda amarga nossos corações, agra<strong>de</strong>cemos<br />
a to<strong>do</strong>s os integrantes <strong>de</strong>sse estima<strong>do</strong> órgão, ao qual<br />
muito <strong>de</strong>vemos. Nosso muito obriga<strong>do</strong> e que Deus os ilumine,<br />
para que possam continuar a prestar os serviços com o<br />
<strong>de</strong>no<strong>do</strong> e a galhardia que sempre caracterizaram a atuação<br />
<strong>de</strong>sse Departamento.
A importância da papiloscopia no <strong>DHPP</strong><br />
Subjaz no significante “papiloscopia” uma série <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s;<br />
um <strong>de</strong>les emerge da antiga tradição <strong>de</strong> macular<br />
o malfeitor, tornan<strong>do</strong>-o visível aos olhos da socieda<strong>de</strong> –<br />
nessa época ainda se aplicavam penas físicas aos con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s.<br />
Se essa prática foi relegada ao tempo histórico,<br />
não se po<strong>de</strong> dizer que foi o progresso, mas uma obstinação<br />
cientificista em procurar um estereótipo criminoso comum<br />
que criou méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investigação sobre o corpo, com o<br />
estabelecimento <strong>de</strong> categorias e subcategorias <strong>de</strong> suas partes<br />
a fim <strong>de</strong> também tornar visível o criminoso aos olhos da<br />
socieda<strong>de</strong>. Isso se <strong>de</strong>ve a muitos estu<strong>do</strong>s, muito material e<br />
muitas <strong>de</strong>scobertas, entre elas a papiloscopia como técnica<br />
científica.<br />
Três princípios restaram como bases sólidas da papiloscopia,<br />
encerran<strong>do</strong>-a hermeticamente em suas próprias<br />
verda<strong>de</strong>s. O primeiro princípio é o da “perenida<strong>de</strong>”, pois<br />
são imperecíveis os <strong>de</strong>senhos origina<strong>do</strong>s pelas cristas<br />
papilares <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o sexto mês <strong>de</strong> vida intra-uterina até a putrefação<br />
cadavérica completa. A “imutabilida<strong>de</strong>” <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos,<br />
mesmo nos casos <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças, como a hanseníase, é o segun<strong>do</strong><br />
postula<strong>do</strong>. O terceiro é a “variabilida<strong>de</strong>”: não há<br />
impressões papilares idênticas.<br />
1 Ivo Apareci<strong>do</strong> Franco é Papiloscopista Policial Chefe <strong>do</strong> Setor <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> Cadáveres <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>; Gisele da Conceição Ta Gein Melo é<br />
Papiloscopista Policial <strong>do</strong> mesmo setor.<br />
Ivo Apareci<strong>do</strong> Franco e Gisele Ta Gein Melo 1<br />
25<br />
A técnica <strong>de</strong> coleta das impressões e conseqüente i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>do</strong> ser humano é rápida, <strong>de</strong> baixo custo e altamente<br />
eficaz e sua importância, infelizmente, só se <strong>de</strong>ixa perceber<br />
em gran<strong>de</strong>s tragédias, tais como os recentes aci<strong>de</strong>ntes<br />
aéreos ocorri<strong>do</strong>s no Brasil. Aprimorar o sistema <strong>de</strong> coleta e<br />
i<strong>de</strong>ntificação humana ainda é uma meta a ser alcançada,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> se fala em implantar um banco <strong>de</strong><br />
da<strong>do</strong>s único em to<strong>do</strong> o país e um registro <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />
nacional.<br />
Ressaltar a importância da papiloscopia no <strong>DHPP</strong> é cometer<br />
um excesso, pois talvez já faça parte <strong>do</strong> imaginário<br />
popular relacioná-la com a investigação criminal; o que se<br />
<strong>de</strong>ve ressaltar, até a exaustão, é a importância da preservação<br />
<strong>do</strong> local <strong>do</strong> crime, cenário que exala significa<strong>do</strong>s,<br />
cuja capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura restringe-se a especialistas.<br />
Esses investiga<strong>do</strong>res utilizam um arsenal <strong>de</strong> objetos curiosos<br />
e específicos, pois a <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> das provas exige<br />
materiais muito <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s, como um pincel especial feito<br />
com a pena <strong>de</strong> uma ave come<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> carniça da África, o<br />
marabu: sua maciez elimina os resíduos in<strong>de</strong>sejáveis, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong><br />
apenas as marcas da impressão <strong>de</strong>ixada. Pós e<br />
reagentes químicos também fazem parte da maleta <strong>de</strong> trabalho<br />
<strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>res.<br />
O trabalho pericial possibilita a elaboração <strong>de</strong> lau<strong>do</strong>s<br />
conclusivos que certifiquem a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> um criminoso;<br />
um bom exemplo disso ocorreu na prisão <strong>de</strong> Diogo Souza<br />
Veloso, acusa<strong>do</strong> da morte <strong>do</strong> Policial Militar Edson Roberto
Ambrósio, <strong>de</strong> 31 anos. O crime, cujo inquérito tramitou<br />
pela Equipe A-Sul <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, ocorreu no mês <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
2007. No fatídico dia, o policial e seu parceiro trabalhavam<br />
na Ronda Escolar <strong>de</strong> um bairro da Zona Sul <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong> e, durante uma patrulha rotineira, avistaram um caminhão<br />
para<strong>do</strong> irregularmente. Ao <strong>de</strong>scer para admoestar<br />
27<br />
o motorista <strong>do</strong> veículo, o policial vitima<strong>do</strong> foi surpreendi<strong>do</strong>,<br />
assim como seu companheiro <strong>de</strong> farda, por três ladrões<br />
que executavam um roubo naquele exato momento. Diogo<br />
Souza Veloso foi i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> e preso após a perícia no<br />
veículo que os ladrões utilizaram para empreen<strong>de</strong>r o roubo<br />
<strong>do</strong> caminhão e fugir.
Em 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006, às 03:58, três indivíduos muni<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo “invadiram mediante arrombamento”<br />
a residência da vítima, on<strong>de</strong> <strong>do</strong>rmia com sua esposa (testemunha<br />
presencial: Sra. Eliane Cristina Lopes C. Gomes) e,<br />
após acordá-los, exigiram a entrega <strong>de</strong> certa soma em dinheiro<br />
que sabiam haver no local; assim, encaminharam a<br />
vítima até o escritório <strong>do</strong> imóvel e, minutos <strong>de</strong>pois, encostaram<br />
o travesseiro em sua cabeça e efetuaram disparos,<br />
causan<strong>do</strong> o óbito ainda no local, evadin<strong>do</strong>-se os três<br />
indivíduos em seguida com a consumação da subtração <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>cumentos pessoais, valores e objetos eletrônicos. Houve<br />
o assessoramento <strong>de</strong>ste Departamento Especializa<strong>do</strong> que,<br />
ratifican<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o <strong>de</strong>scrito, além <strong>do</strong> trabalho técnico-pericial,<br />
elencou os únicos valores que a “viúva” entendia existentes<br />
no local: “seriam, talvez, provenientes <strong>de</strong> tratativas da venda<br />
<strong>de</strong> imóvel localiza<strong>do</strong> na Rua Valentin Lorenzetti, 239,<br />
Parque Cocaia, <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, SP, da vítima ao inquilino que<br />
apenas conhecia, não pessoalmente, por Leandro” (sic).<br />
Foram mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> minuciosa investigação. Inúmeras<br />
or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> serviços expedidas e relatórios anexa<strong>do</strong>s,<br />
pesquisas, <strong>de</strong>poimentos, alguns suspeitos “não reconheci<strong>do</strong>s”<br />
e, após incansável e absoluta <strong>de</strong>dicação aos trabalhos<br />
<strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Judiciária, com o término <strong>de</strong>sse Inquérito Policial<br />
1 Pablo Rodrigo França é Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong>, Titular da Equipe D-Sul<br />
da 1ª Delegacia da Divisão <strong>de</strong> Homicídios.<br />
Mente ardilosa para o crime<br />
Pablo Rodrigo França 1<br />
29<br />
foi possível perceber a materialida<strong>de</strong> <strong>do</strong> injusto grave e,<br />
em tese, indícios reluzentes <strong>de</strong> autoria, motivação e to<strong>do</strong> o<br />
iter <strong>do</strong> crime (manobra ardilosa e meticulosamente arquitetada<br />
visan<strong>do</strong> esquáli<strong>do</strong> benefício patrimonial), como típica<br />
ficção cinematográfica.<br />
A investigação foi pautada no único indício <strong>do</strong> intrinca<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>lito patrimonial: “qual a origem <strong>do</strong>s valores que os criminosos<br />
sabiam existir e que nem a esposa po<strong>de</strong>ria afirmar”. Hoje,<br />
observan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sfecho <strong>do</strong>s procedimentos, verifica-se a gran<strong>de</strong><br />
mente ardilosa <strong>do</strong> criminoso sem qualquer padrão ético <strong>de</strong><br />
conduta. Mas, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, com o cumprimento efetivo das<br />
prisões e, em tese, o esclarecimento <strong>do</strong> crime, o que fica registra<strong>do</strong><br />
é a magnificência <strong>do</strong>s trabalhos elabora<strong>do</strong>s pelos<br />
<strong>de</strong>vota<strong>do</strong>s funcionários <strong>de</strong>ste Departamento Especializa<strong>do</strong>.<br />
Apurou-se pelas provas anexadas aos autos que, Leandro<br />
Pereira Alves, inquilino e compromissário compra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> imóvel<br />
da vítima, antes <strong>do</strong> crime, efetuou tratativas comerciais<br />
para a aquisição e transferência da referida proprieda<strong>de</strong><br />
por R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Acreditan<strong>do</strong> na operação<br />
comercial, a vítima, Antônio, retirou to<strong>do</strong>s os pertences<br />
guarda<strong>do</strong>s no prédio. Dias <strong>de</strong>pois, não haven<strong>do</strong> constata<strong>do</strong><br />
o <strong>de</strong>pósito <strong>do</strong> valor acorda<strong>do</strong> e sem a mesma certeza, começou<br />
a pressionar o agora indicia<strong>do</strong> astuto.<br />
Demonstran<strong>do</strong> total ausência <strong>de</strong> honra<strong>de</strong>z, em ilação prevista<br />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que resta incluso nos autos, Leandro<br />
combinou o pagamento para “o final da tar<strong>de</strong>” <strong>do</strong> dia 7 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 2006, evitan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>pósito bancário (por conta <strong>do</strong>
horário). Não haven<strong>do</strong> a certeza da quantia exata entregue à<br />
vítima, esta retornou à sua residência com o valor após assinar<br />
recibo <strong>do</strong> pagamento, que enten<strong>de</strong>mos ter si<strong>do</strong> parcial. Na<br />
madrugada <strong>do</strong> dia 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006 ocorreu o “latrocínio”<br />
pratica<strong>do</strong> por três indivíduos e a reaquisição <strong>do</strong> valor pago.<br />
Como se não bastassem as provas apensas, em <strong>de</strong>monstração<br />
<strong>de</strong> profissionalismo excepcional, a equipe <strong>de</strong><br />
investiga<strong>do</strong>res e escrivães localizou nova vítima, agora<br />
patrimonial, <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> indivíduo. Inusitadamente, crente<br />
da impunida<strong>de</strong>, ousou afrontar a competente equipe que o<br />
investigava e comercializou o imóvel <strong>de</strong> que era apenas<br />
inquilino, em tese, juntan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos contrafeitos e dispon<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> coisa alheia (pois pertencia ao espólio) como se<br />
fosse própria (espécie <strong>de</strong> estelionato com ofício para apuração<br />
da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área – 101º DP). Na excelência <strong>do</strong><br />
persecutório consta a assentada <strong>de</strong>ssa vítima e, então, novo<br />
proprietário, Ednei Almeida Sampaio, que confirmou a<br />
aquisição <strong>do</strong> imóvel mediante o pagamento <strong>de</strong> R$<br />
38.000,00 (trinta e oito mil reais) diretamente a Leandro,<br />
afirman<strong>do</strong> a ciência <strong>do</strong> golpe “apenas meses <strong>de</strong>pois” (sic).<br />
Em trabalho <strong>de</strong> campo e levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração todas<br />
as informações que chegavam à equipe, em ativida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pura inteligência policial, após negativa <strong>de</strong> reconhecimento,<br />
houve a <strong>de</strong>terminação, com absoluta certeza da<br />
vítima presencial, <strong>de</strong> que, além <strong>de</strong> Leandro Pereira Alves,<br />
os outros <strong>do</strong>is indivíduos que ceifaram a vida <strong>de</strong> seu esposo<br />
eram os a<strong>do</strong>lescentes, à época <strong>do</strong>s fatos, Jefferson<br />
Sercun<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s Santos e Danilo Sercun<strong>de</strong>s Gomes, ambos<br />
primos da amásia <strong>do</strong> autor intelectual.<br />
Assim, foi consuma<strong>do</strong> o <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> um “soberbo artífice<br />
<strong>de</strong>linqüente”. A motivação <strong>de</strong>clinada está reluzente: o<br />
30<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> adquirir, sem esforço lícito, o imóvel da vítima<br />
utilizan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos provavelmente falsos e, com isso,<br />
após ser o autor mental e executor <strong>do</strong> <strong>de</strong>lito primeiro e<br />
mais grave, acreditan<strong>do</strong> fielmente em sua impunida<strong>de</strong>,<br />
comercializou patrimônio alheio com nova vítima, agora<br />
patrimonial. A<strong>do</strong>lescentes infratores, primos já envolvi<strong>do</strong>s<br />
em <strong>de</strong>litos graves, foram convoca<strong>do</strong>s como solda<strong>do</strong>s<br />
mercenários por parentesco, amiza<strong>de</strong> ou falta <strong>de</strong> senso<br />
ético e moral, realizan<strong>do</strong> juntos, em unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnios,<br />
o execrável e hedion<strong>do</strong> crime contra a vida e o<br />
patrimônio. To<strong>do</strong>s, reprise-se, foram reconheci<strong>do</strong>s com<br />
absoluta certeza pela testemunha/vítima e viúva Sra.<br />
Eliane Cristina Lopes Candi<strong>do</strong> Gomes.<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o consistente conjunto probatório<br />
(provas materiais, testemunhais, vínculo <strong>de</strong> parentesco e grau<br />
<strong>de</strong> periculosida<strong>de</strong>, motivação repugnante, relatórios <strong>de</strong> investigação<br />
e reconhecimentos), além da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
um procedimento penal eficaz, com o preenchimento <strong>do</strong>s<br />
requisitos previstos em lei, houve representação e parecer<br />
favorável com <strong>de</strong>cretação da prisão temporária <strong>de</strong> Leandro<br />
Pereira Alves, com cumprimento no dia 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
2008. Concluí<strong>do</strong> o Inquérito Policial houve, ainda, a representação<br />
e o cumprimento pela prisão preventiva <strong>do</strong> cita<strong>do</strong><br />
indicia<strong>do</strong> (em 19 <strong>de</strong> junho <strong>do</strong> corrente ano), com <strong>de</strong>núncia<br />
recebida pela Justiça Competente com incurso nas normas<br />
<strong>do</strong>s arts. 157, § 3º, segunda parte, e, em concurso formal,<br />
157, § 2º, incisos I, II e V, <strong>do</strong> vigente Código Penal brasileiro.<br />
Importante consignar que, apesar <strong>de</strong> hoje maiores <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>, Danilo Sercun<strong>de</strong>s Gomes e Jefferson Sercun<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />
Santos eram a<strong>do</strong>lescentes à época <strong>do</strong> crime. Assim, pela<br />
gravida<strong>de</strong> da infração e visan<strong>do</strong> aplicação <strong>do</strong> mínimo <strong>de</strong>
justiça, houve também, e <strong>de</strong> maneira simultânea, representação<br />
à Vara Especial, pela “internação provisória e<br />
apreensão <strong>do</strong>s mesmos”, sen<strong>do</strong> que, após análise, foi<br />
<strong>de</strong>ferida com efetivo cumprimento poucos dias <strong>de</strong>pois.<br />
O fato acima <strong>de</strong>scrito reporta diferentes maneiras <strong>de</strong><br />
atuação <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> policiais civis <strong>de</strong>ste Departamento.<br />
31<br />
Alguns esclarecimentos, com a somatória <strong>de</strong> vários fatores,<br />
po<strong>de</strong>m ocorrer em mais ou menos tempo. Apenas uma única<br />
semelhança em qualquer <strong>do</strong>s fatos relata<strong>do</strong>s com autoria<br />
por esta especializada: persistência, <strong>de</strong>dicação, respeito<br />
absoluto pelas famílias, sentimento <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> ao importante<br />
cargo que ocupa e reverência à vida.
“Um caso fe<strong>de</strong>ral” <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong><br />
Luiz Carlos <strong>do</strong>s Santos Gonçalves e Pedro Barbosa Pereira Neto 1<br />
O bem jurídico vida não é, como às vezes se procura<br />
fazer crer, estadual. Sua gran<strong>de</strong>za não permite que ele se<br />
reduza a uma das esferas da repartição <strong>de</strong> competências,<br />
própria <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral. Ele não é nem estadual, nem<br />
municipal, nem fe<strong>de</strong>ral. Desta forma, a norma-garantia dada<br />
aos acusa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s crimes <strong>do</strong>losos contra a vida – que serão<br />
objeto <strong>de</strong> julgamento pelo tribunal <strong>do</strong> júri – repercute em<br />
to<strong>do</strong>s os ramos <strong>do</strong> Judiciário Brasileiro. Se, normalmente,<br />
os júris são organiza<strong>do</strong>s pela Justiça Comum Estadual, nem<br />
por isso se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scartar que um crime <strong>do</strong>loso contra a<br />
vida atente, também, contra interesses da União Fe<strong>de</strong>ral,<br />
<strong>de</strong> forma a atrair a competência da Justiça Fe<strong>de</strong>ral. Teremos,<br />
então, um júri fe<strong>de</strong>ral.<br />
Pois logo na manhã <strong>do</strong> dia 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1998 um<br />
caso <strong>de</strong>sses, tristemente, se apresentou. Foi assassina<strong>do</strong>,<br />
na porta <strong>de</strong> sua casa, num bairro <strong>de</strong> classe média da zona<br />
norte paulistana, o valoroso e sau<strong>do</strong>so Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral Dr. Alcioni Serafim <strong>de</strong> Santana. Ele atuava no setor<br />
<strong>de</strong> Correições da <strong>Polícia</strong> Fe<strong>de</strong>ral em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e tinha um<br />
inexcedível prestígio, como um policial zeloso, atento aos<br />
<strong>de</strong>talhes, profun<strong>do</strong> conhece<strong>do</strong>r da lei e intolerante com a<br />
incompetência e a corrupção. Sua morte abalou a comunida<strong>de</strong><br />
jurídica <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e, em especial, a própria <strong>Polícia</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral e o Ministério Público Fe<strong>de</strong>ral.<br />
1 Luiz Carlos <strong>do</strong>s Santos Gonçalves e Pedro Barbosa Pereira Neto são<br />
Procura<strong>do</strong>res Regionais da República.<br />
33<br />
Mas, então, surgiram inúmeras perguntas: teria si<strong>do</strong> um<br />
latrocínio? Um crime passional? Uma vingança? Ou um<br />
homicídio para sinalizar que sua ativida<strong>de</strong> correicional estava<br />
incomodan<strong>do</strong> alguém?<br />
Foi então que, nós, <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s para acompanhar as<br />
investigações, travamos contato com esse setor tão especial<br />
e <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, o <strong>DHPP</strong>. Quan<strong>do</strong><br />
chegamos à cena <strong>do</strong> crime, lá já estava um Delega<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>DHPP</strong>. Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> inquérito policial fe<strong>de</strong>ral que foi instaura<strong>do</strong><br />
para a apuração <strong>do</strong> crime, houve também um inquérito<br />
conduzi<strong>do</strong> por um Delega<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>. As reuniões <strong>de</strong> trabalho<br />
que fizemos foram muitas, às vezes em horas <strong>de</strong><br />
madrugada avançada. Foram ouvidas testemunhas, realizadas<br />
acareações, investigadas <strong>de</strong>núncias telefônicas: to<strong>do</strong>s<br />
os elementos que pu<strong>de</strong>ssem colaborar para a elucidação<br />
daquele crime foram minu<strong>de</strong>nte e pacientemente coligi<strong>do</strong>s<br />
pelo <strong>DHPP</strong>, trabalhan<strong>do</strong> em colaboração, mas com in<strong>de</strong>pendência,<br />
com a <strong>Polícia</strong> Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Então a verda<strong>de</strong> real surgiu <strong>de</strong>sta atuação combinada<br />
e parceira, entre instituições que tantos querem ver<br />
separadas e isoladas: a <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong>, a <strong>Polícia</strong> Fe<strong>de</strong>ral, o<br />
Ministério Público, Estadual e Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Nós apren<strong>de</strong>mos muito com a meto<strong>do</strong>logia e proficiência<br />
<strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa da<br />
<strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. E quan<strong>do</strong>, nos júris fe<strong>de</strong>rais que<br />
se seguiram, a <strong>de</strong>fesa quis lançar dúvida sobre as provas<br />
coligidas, nós pu<strong>de</strong>mos dizer: vocês não conhecem o <strong>DHPP</strong>.
Uma importante parceria no combate à homofobia<br />
A Associação da Parada <strong>do</strong> Orgulho <strong>de</strong> Gays, Lésbicas,<br />
Bissexuais e Transgêneros <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (APOGLBT)<br />
vem <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>, nos últimos anos, uma parceria extremamente<br />
importante com a Delegacia <strong>de</strong> Crimes Raciais<br />
e Delitos <strong>de</strong> Intolerância (DECRADI) no trabalho <strong>de</strong> combate<br />
à homofobia e outras formas <strong>de</strong> discriminação a que<br />
estão sujeitas as pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros<br />
(LGBT).<br />
A partir <strong>de</strong> 2005, essa relação foi estreitada com o início<br />
das ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Projeto Re<strong>de</strong> Cidadã, que consiste basicamente<br />
em prestar atendimento jurídico gratuito à população<br />
<strong>de</strong> LGBT dan<strong>do</strong> encaminhamento aos casos utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong><br />
uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos humanos construída na capital.<br />
Fazen<strong>do</strong> parte <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong>, encontra-se a DECRADI, que<br />
tem si<strong>do</strong> bastante eficiente no acolhimento e atendimento<br />
da população LGBT vitimada por crimes <strong>de</strong> intol erância e<br />
violência em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> sua orientação sexual ou i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gênero.<br />
A <strong>de</strong>legacia tem si<strong>do</strong> parceira não só <strong>do</strong> trabalho jurídico<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela instituição, como também<br />
1 Alexandre Santos é Presi<strong>de</strong>nte da Associação da Parada <strong>do</strong> Orgulho<br />
<strong>de</strong> Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
Alexandre Santos 1<br />
34<br />
no que se refere à participação e representação em diversas<br />
ativida<strong>de</strong>s realizadas pela APOGLBT. A DECRADI tem<br />
da<strong>do</strong> apoio a campanhas educativas para fazer frente ao<br />
grave problema representa<strong>do</strong> pelo baixo índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia<br />
<strong>de</strong> casos <strong>de</strong> violência homofóbica (como é o caso da<br />
campanha “Não se Cale!”), acompanha<strong>do</strong> atos públicos<br />
contra a violência homofóbica e se feito presente em seminários<br />
e palestras. Deve-se ressaltar a participação, <strong>de</strong> forma<br />
efetiva, levan<strong>do</strong> informações à população e apoian<strong>do</strong> a<br />
segurança nas ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Mês <strong>do</strong> Orgulho LGBT, como<br />
nas Feiras Culturais e também nas Paradas que realizamos<br />
na capital.<br />
Em contrapartida, a APOGLBT tem procura<strong>do</strong>, em parceria<br />
com universida<strong>de</strong>s e órgãos governamentais, produzir<br />
conhecimento sobre o perfil <strong>de</strong> vitimização homofóbica entre<br />
os participantes da Parada e, também, elaborar campanhas<br />
para aumentar o nível <strong>de</strong> informação da população<br />
LGBT no que diz respeito a como agir em casos <strong>de</strong> discriminação<br />
ou violência motivadas por orientação sexual ou<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero.
Dentre os feitos e conquistas que <strong>de</strong>vem orgulhar a <strong>Polícia</strong><br />
<strong>Civil</strong> paulista, sobressai a criação e o crescente reconhecimento<br />
e prestígio granjea<strong>do</strong>s pela Delegacia <strong>de</strong> Crimes<br />
Raciais e Delitos <strong>de</strong> Intolerância.<br />
Nos últimos anos o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> vem registran<strong>do</strong><br />
uma significativa queda nos índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s crimes,<br />
graças à atuação cada vez mais profissionalizada <strong>de</strong><br />
suas polícias, com <strong>de</strong>staque para o serviço <strong>de</strong> inteligência<br />
da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong>.<br />
No entanto, ao mesmo tempo assistimos ao aumento <strong>de</strong><br />
crimes relaciona<strong>do</strong>s com intolerância racial, religiosa e<br />
homofóbica. Trata-se <strong>de</strong> fenômeno que atormenta as <strong>de</strong>mocracias<br />
em várias partes <strong>do</strong> planeta e que no caso brasileiro<br />
se faz cada vez mais presente nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos.<br />
O que singulariza nosso esta<strong>do</strong> é que aqui possuímos uma<br />
equipe <strong>de</strong> policiais especializa<strong>do</strong>s nestes tipos <strong>de</strong> crimes, aptos<br />
a reprimir com eficácia a ação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>linqüentes e treina<strong>do</strong>s<br />
para enfrentar a complexida<strong>de</strong> e os subterfúgios próprios <strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong>litos <strong>de</strong> intolerância. Além disso, os profissionais da<br />
DECRADI <strong>de</strong>stacam-se também pelo diálogo com o Movimento<br />
Negro, com as entida<strong>de</strong>s representativas das religiões<br />
afro-brasileiras e <strong>de</strong>mais movimentos sociais que lutam contra<br />
a discriminação.<br />
Parabéns a toda a equipe da Delegacia <strong>de</strong> Crimes Raciais<br />
e Delitos <strong>de</strong> Intolerância.<br />
Luta contra a discriminação<br />
Hédio Silva Júnior 1<br />
35<br />
1 Hédio Silva Júnior é advoga<strong>do</strong>, Mestre em Direito Processual Penal e<br />
Doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP, ex-Secretário da Justiça<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (gestão Alckmin) e Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r Executivo <strong>do</strong><br />
Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s das Relações <strong>de</strong> Trabalho e Desigualda<strong>de</strong>s (CEERT).
Embora a advocacia criminal esteja passan<strong>do</strong>, nos dias<br />
<strong>de</strong> hoje, por grave crise, haja vista o envolvimento <strong>de</strong> maus<br />
advoga<strong>do</strong>s no crime, as invasões ilegais a escritórios <strong>de</strong><br />
advocacia, as interceptações telefônicas clan<strong>de</strong>stinas etc.,<br />
ela continua sen<strong>do</strong> uma das mais belas especialida<strong>de</strong>s da<br />
advocacia. Sim, porque, se <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> exerce a <strong>de</strong>fesa<br />
daquele que está sen<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong> evitar a punição<br />
<strong>de</strong> um possível inocente ou mesmo a aplicação <strong>de</strong> uma<br />
pena injusta ou <strong>de</strong>sproporcional, <strong>de</strong> outro acaba por auxiliar<br />
o Esta<strong>do</strong> na entrega da prestação jurisdicional. Daí<br />
porque é a advocacia indispensável à administração da<br />
justiça, conforme reza a própria Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />
O papel da polícia civil na investigação <strong>do</strong> crime tem<br />
si<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong>s últimos anos, aperfeiçoa<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma consi<strong>de</strong>rável,<br />
embora existam ainda problemas, como a má<br />
remuneração <strong>do</strong> seu quadro funcional ou mesmo a <strong>de</strong>ficiência<br />
tecnológica, uma realida<strong>de</strong> ainda existente em muitas<br />
<strong>de</strong>legacias, quer da capital, quer <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />
Assim como a advocacia criminal se apresenta como a<br />
mais bela das especialida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> direito, na polícia civil <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, o Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong><br />
Proteção à Pessoa (<strong>DHPP</strong>) constitui, na voz unânime daque-<br />
1 Fábio Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Almeida Delmanto é Advoga<strong>do</strong> criminalista e Mestre<br />
em Direito Processual Penal pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (USP).<br />
“Pérola” da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> paulista<br />
Fábio Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Almeida Delmanto 1<br />
37<br />
les que militam na área, o <strong>de</strong>partamento mais respeita<strong>do</strong><br />
da polícia, a merecer to<strong>do</strong> o aplauso <strong>do</strong>s governantes, da<br />
imprensa e da população <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
Não são poucos os crimes <strong>de</strong> homicídio <strong>de</strong> autoria até<br />
então <strong>de</strong>sconhecida que são soluciona<strong>do</strong>s, com eficiência<br />
e rapi<strong>de</strong>z, pelo <strong>DHPP</strong>, possibilitan<strong>do</strong> que seus investiga<strong>do</strong>s<br />
sejam submeti<strong>do</strong>s à prisão provisória, se o caso recomendar,<br />
e leva<strong>do</strong>s a julgamento pelo Po<strong>de</strong>r Judiciário.<br />
O mesmo se diga com relação aos crimes <strong>de</strong> intolerância<br />
racial e ao <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> pessoas, sem citar outros<br />
casos, que recebem <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong> – verda<strong>de</strong>ira “pérola” da<br />
polícia civil <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> – a <strong>de</strong>vida atenção e<br />
cuida<strong>do</strong> na solução <strong>do</strong> problema.<br />
Como advoga<strong>do</strong> criminalista, quero <strong>de</strong>ixar aqui o testemunho<br />
<strong>de</strong> que o <strong>DHPP</strong> respeita o advoga<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong> que<br />
cada um faça o seu trabalho, sempre <strong>de</strong> forma ética e respeitosa,<br />
tu<strong>do</strong> com a finalida<strong>de</strong> comum, qual seja, a <strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobrir,<br />
com isenção e certeza máximas, o responsável pelo crime.<br />
Estamos certos <strong>de</strong> que o trabalho conjunto <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, <strong>do</strong><br />
Po<strong>de</strong>r Judiciário, <strong>do</strong> Ministério Público e da Advocacia tornará<br />
possível resolver, com a serieda<strong>de</strong> e a rapi<strong>de</strong>z<br />
necessárias, os casos <strong>de</strong> difícil solução, que tanto afligem a<br />
população ameaçada pelo crime.<br />
Desejamos, por fim, muito sucesso para a Revista <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>,<br />
certos <strong>de</strong> que a literatura especializada, tão esperada por<br />
to<strong>do</strong>s, contribuirá, em muito, para o aperfeiçoamento contínuo<br />
<strong>do</strong> próprio <strong>DHPP</strong> e, por conseqüência, da prestação <strong>do</strong> serviço<br />
em prol da proteção da população <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.
<strong>DHPP</strong>: eficiência no cumprimento da missão pública<br />
No ano <strong>de</strong> 2001, somente um em cada cinco homicídios<br />
investiga<strong>do</strong>s pelo Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção<br />
à Pessoa (<strong>DHPP</strong>) era esclareci<strong>do</strong>. Hoje, a taxa <strong>de</strong> solução<br />
beira os 50%. Ou seja, em cada <strong>do</strong>is casos trabalha<strong>do</strong>s, um<br />
é soluciona<strong>do</strong>, embora já tenha havi<strong>do</strong> ano em que o índice<br />
<strong>de</strong> solução chegou a <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong> total estuda<strong>do</strong> pelo setor<br />
da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> responsável por i<strong>de</strong>ntificar e<br />
pren<strong>de</strong>r autores <strong>de</strong> homicídios e latrocínios, consuma<strong>do</strong>s ou<br />
tentativas. Esse resulta<strong>do</strong> reflete uma expressiva evolução na<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>s profissionais que compõem o <strong>DHPP</strong>.<br />
É uma vitória para os policiais civis e um ganho imensurável<br />
para a socieda<strong>de</strong> paulista que pena com a alta criminalida<strong>de</strong>.<br />
Certamente, ainda não chegamos ao ponto i<strong>de</strong>al, pois<br />
uma consi<strong>de</strong>rável parcela <strong>do</strong>s crimes ainda não é investigada,<br />
mas sinaliza o acerto <strong>de</strong> rumo da política a<strong>do</strong>tada<br />
pelo <strong>DHPP</strong>. Para a advocacia esse fato tem importância<br />
singular, pois o índice <strong>de</strong> esclarecimento consi<strong>de</strong>ra apenas<br />
os casos <strong>de</strong> assassinatos que o Departamento encaminhou<br />
ao Po<strong>de</strong>r Judiciário. Houve um processo judicial acompanha<strong>do</strong><br />
por um advoga<strong>do</strong> e um veredicto. Nem to<strong>do</strong>s os<br />
casos passam pelo <strong>DHPP</strong>, que recebe a missão <strong>de</strong> solucionar<br />
somente aqueles em que a vítima morreu na cena <strong>do</strong><br />
crime ou em situações muito excepcionais.<br />
1 Luiz Flávio Borges D’Urso é Advoga<strong>do</strong> Criminalista, Mestre e Doutor pela<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e presi<strong>de</strong>nte da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
Brasil, SP.<br />
Luiz Flávio Borges D’Urso 1<br />
39<br />
Urge, assim, expandir o número <strong>de</strong> inquéritos policiais,<br />
que são os boletins <strong>de</strong> ocorrência, originários <strong>do</strong>s distritos<br />
policiais, encaminha<strong>do</strong>s para serem investiga<strong>do</strong>s pelo <strong>DHPP</strong>.<br />
Deve-se reconhecer que uma consi<strong>de</strong>rável quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
crimes não é investigada por falta <strong>de</strong> profissionais. Esse<br />
processo passa necessariamente pelas políticas <strong>de</strong> segurança<br />
pública que levem a um aumento <strong>do</strong> contingente <strong>de</strong><br />
policiais, investimentos em tecnologia e melhores condições<br />
<strong>de</strong> trabalho e salários condizentes com a especialização<br />
ímpar da carreira. Nesse senti<strong>do</strong>, o <strong>DHPP</strong> tem da<strong>do</strong> <strong>de</strong>monstrações<br />
in<strong>de</strong>léveis <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> técnica.<br />
Um caso recente tornou-se emblemático: um copeiro <strong>de</strong><br />
um renoma<strong>do</strong> empresário paulista foi encontra<strong>do</strong> morto com<br />
sinais <strong>de</strong> luta e violência. Dois veículos da residência haviam<br />
si<strong>do</strong> rouba<strong>do</strong>s. Em menos <strong>de</strong> 24 horas, o <strong>DHPP</strong><br />
investigou e reuniu provas que acabaram por levar à prisão<br />
o autor <strong>do</strong> crime, que era caseiro da mansão. É essa a<br />
<strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong> que o brasileiro almeja: rápida e eficiente. Conclusiva<br />
em to<strong>do</strong>s os casos investiga<strong>do</strong>s. Esse resulta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>corre <strong>de</strong> investimentos. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>, o<br />
<strong>DHPP</strong> criou o Grupo Especializa<strong>do</strong> em Assessoramento <strong>de</strong><br />
Local <strong>do</strong> Crime (GEAcrim), que tem como foco as primeiras<br />
48 horas após um crime. Nada mais é <strong>do</strong> que investir em<br />
inteligência. Traçar planos e <strong>de</strong>senvolver logística para solucionar<br />
casos com os recursos humanos e tecnológicos<br />
disponíveis. Porém, mais <strong>do</strong> que resolver crimes, o i<strong>de</strong>al<br />
seria sempre que os crimes fossem evita<strong>do</strong>s.
Esse é um trabalho que o <strong>DHPP</strong> mostra conhecer profundamente.<br />
Des<strong>de</strong> 2001, o número <strong>de</strong> prisões <strong>de</strong> coman<strong>do</strong>s<br />
ou autores <strong>de</strong> crimes só tem cresci<strong>do</strong>, num resulta<strong>do</strong><br />
inquestionável. No perío<strong>do</strong> 2001-2005, as prisões efetuadas<br />
pelo <strong>DHPP</strong> saltaram <strong>de</strong> 368 para 1.388, com significativo<br />
reflexo positivo nas regiões on<strong>de</strong> esses indivíduos atuavam.<br />
É preciso agir com pragmatismo, pois a socieda<strong>de</strong> mostra-se<br />
ansiosa por ações que venham a se traduzir num pouco mais<br />
41<br />
<strong>de</strong> tranqüilida<strong>de</strong>, sentimento que se tornou uma espécie <strong>de</strong><br />
mosca branca, num país on<strong>de</strong> os índices <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong><br />
caminham em curva ascen<strong>de</strong>nte. A socieda<strong>de</strong> quer uma<br />
polícia executan<strong>do</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção e repressão aos<br />
crimes que suprimem a liberda<strong>de</strong> pessoal, como os seqüestros,<br />
ou que coloque em risco seu bem maior – a sua vida e<br />
<strong>de</strong> seus familiares. O <strong>DHPP</strong> tem cumpri<strong>do</strong> sua missão pública<br />
e respondi<strong>do</strong> aos anseios da socieda<strong>de</strong>.
Enfrentamento à escravidão mo<strong>de</strong>rna<br />
O princípio da dignida<strong>de</strong> da pessoa humana i<strong>de</strong>ntifica<br />
um espaço <strong>de</strong> integrida<strong>de</strong> moral a ser assegura<strong>do</strong> a todas<br />
as pessoas por sua só existência no mun<strong>do</strong>. Assim <strong>de</strong>ve ser<br />
trata<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o ser humano: acima <strong>de</strong> qualquer preço. Como<br />
o crime organiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> tráfico <strong>de</strong> seres humanos simplesmente<br />
ignora a máxima da dignida<strong>de</strong> humana, resta à<br />
socieda<strong>de</strong> e ao po<strong>de</strong>r público prevenir e enfrentar esse tipo<br />
<strong>de</strong> prática criminosa, pautan<strong>do</strong> suas condutas e <strong>de</strong>cisões<br />
pela concreção <strong>do</strong> princípio da dignida<strong>de</strong> humana, verda<strong>de</strong>ira<br />
progênie <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os princípios – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento<br />
da persecução investigatória, no contato com as vítimas,<br />
até o momento da aplicação da pena aos infratores.<br />
O tráfico <strong>de</strong> pessoas é uma das formas mais explícitas <strong>de</strong><br />
escravidão mo<strong>de</strong>rna. Embora tenha si<strong>do</strong> abolida oficialmente,<br />
a escravidão nunca foi realmente erradicada. Trata<strong>do</strong>s<br />
internacionais, leis nacionais e resoluções compulsórias po<strong>de</strong>m<br />
ser capazes <strong>de</strong> proibir o tráfico, no entanto, colocar um<br />
ponto final nessa prática <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> muito mais <strong>do</strong> que<br />
ferramentas legais, políticas e procedimentos legislativos.<br />
Proteger os direitos humanos, prevenin<strong>do</strong> e enfrentan<strong>do</strong> o<br />
tráfico <strong>de</strong> seres humanos, é uma tarefa extremamente difícil e<br />
ambiciosa, principalmente no que diz respeito ao tráfico <strong>de</strong><br />
mulheres, por ensejar lucros altíssimos, supera<strong>do</strong>s pelo tráfico<br />
1 Anália Belisa Ribeiro é Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Escritório <strong>de</strong> Prevenção e<br />
Enfrentamento ao Tráfico <strong>de</strong> Pessoas da Secretaria <strong>de</strong> Justiça e da Defesa<br />
da Cidadania.<br />
Anália Belisa Ribeiro 1<br />
43<br />
<strong>de</strong> armas e <strong>de</strong> drogas (da<strong>do</strong>s da United Nations Office on<br />
Drug and Crime Prevention – UNODCP). Demais disso, as<br />
pessoas traficadas, na maioria <strong>do</strong>s casos, não se consi<strong>de</strong>ram<br />
vítimas, quer por não possuírem a verda<strong>de</strong>ira noção <strong>de</strong> que<br />
estão pratican<strong>do</strong> contra elas um crime, ou, ainda, por sentirem-se<br />
francamente seguras <strong>de</strong> que foi livre sua opção <strong>de</strong><br />
aceitar as sedutoras propostas. Por oportuno, vale salientar<br />
que dada a situação <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong> das vítimas no local <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>stino, não têm elas condições <strong>de</strong> reivindicar seus direitos.<br />
As pessoas vítimas <strong>do</strong> tráfico <strong>de</strong> seres humanos, ao chegarem<br />
ao local <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, têm os <strong>do</strong>cumentos confisca<strong>do</strong>s<br />
e são forçadas a trabalhar em condições miseráveis, mediante<br />
pagamento irrisório a pretexto <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem quitar<br />
uma dívida pretensamente contraída com passagens, roupas,<br />
entre outros objetos. Em breve espaço <strong>de</strong> tempo,<br />
percebem que jamais irão conseguir pagar tais dívidas,<br />
transforman<strong>do</strong>-se em verda<strong>de</strong>iras escravas <strong>do</strong>s alicia<strong>do</strong>res,<br />
inclusive impedidas <strong>de</strong> sair <strong>do</strong> local em que se encontram<br />
confinadas, bem como proibidas <strong>de</strong> manter qualquer tipo<br />
<strong>de</strong> comunicação com amigos e/ou familiares.<br />
O incremento da prática <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> crime revela que<br />
não há limites à violência contra pessoas frágeis e in<strong>de</strong>fesas<br />
<strong>do</strong> po<strong>de</strong>rio das organizações criminosas globalizadas.<br />
“O drástico nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social no Brasil e a falta<br />
<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego são fatores que impulsionam<br />
brasileiros a <strong>de</strong>ixarem suas casas e até o seu país” (tradução<br />
não oficial, Almeida, Leite e Ne<strong>de</strong>rstigt, 2006, 34). Essa cau-
sa natural <strong>de</strong>veria ser a primeira e central observação <strong>de</strong> qualquer<br />
conclusão sobre tráfico interno e internacional <strong>de</strong> pessoas,<br />
não somente por ser uma questão óbvia, mas por nos lembrar<br />
que os esforços anti-tráfico po<strong>de</strong>rão, na verda<strong>de</strong>, não ter qualquer<br />
efeito real, mas apenas um efeito paliativo, promoven<strong>do</strong><br />
pouca assistência, sem qualquer providência tomada contra a<br />
contínua exploração <strong>do</strong> ser humano.<br />
Esses são resulta<strong>do</strong>s, em gran<strong>de</strong> parte, das atuais políticas<br />
macroeconômicas e sociais aglutinadas ao crescimento ilimita<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> capitalismo e da globalização, baseada no princípio <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong> livre e <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> não-intervenção estatal. Assim,<br />
um <strong>do</strong>s maiores <strong>de</strong>safios para o governo brasileiro será a<br />
implementação da Política e <strong>do</strong> Plano Nacional <strong>de</strong> Enfrentamento<br />
ao Tráfico <strong>de</strong> Pessoas. Nesse senti<strong>do</strong>, cabe-lhe garantir<br />
a eficácia e eficiência das ações planejadas, com vistas à estruturação<br />
<strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong> direitos humanos a ser<br />
<strong>de</strong>senvolvida em parceria pelo po<strong>de</strong>r público e socieda<strong>de</strong> civil.<br />
O governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> surge como <strong>de</strong>staque<br />
no cenário nacional na gestão <strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong><br />
45<br />
prevenção e enfrentamento ao tráfico <strong>de</strong> pessoas. Tal construção<br />
se materializa por meio da parceria entre as ações<br />
<strong>de</strong>senvolvidas pelo Departamento <strong>de</strong> Proteção à Pessoa<br />
da Secretaria <strong>de</strong> Segurança Pública em conjunto com o<br />
Escritório <strong>de</strong> Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico <strong>de</strong> Pessoas<br />
da Secretaria <strong>de</strong> Justiça e Defesa da Cidadania.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s como frutos <strong>de</strong>ssa parceria<br />
servem <strong>de</strong> inspiração para to<strong>do</strong> o país, uma vez que<br />
ações conjuntas são <strong>de</strong>senvolvidas com vistas à assistência<br />
integral às vítimas. Assim, vem o <strong>DHPP</strong> prestar um<br />
relevante serviço na repressão <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong>, além<br />
<strong>de</strong> colaborar com as ações <strong>de</strong> prevenção junto à socieda<strong>de</strong><br />
civil.<br />
Finalmente, é importante enfatizar que a participação<br />
ativa <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>partamento constrói um cenário pioneiro no<br />
enfrentamento ao tráfico <strong>de</strong> pessoas no Brasil por ser capaz<br />
<strong>de</strong> implantar ações arrojadas e inova<strong>do</strong>ras oriundas<br />
<strong>de</strong> uma polícia cidadã, pautan<strong>do</strong> suas intervenções pelo<br />
mais estrito respeito aos direitos humanos.
Toda mudança gera reações, tanto positivas quanto<br />
negativas. Sobretu<strong>do</strong> em se tratan<strong>do</strong> da estrutura estatal,<br />
rígida por natureza, qualquer alteração é motivo<br />
<strong>de</strong> polêmica e provoca a inevitável pergunta: por que<br />
mudar quan<strong>do</strong> sempre se trabalhou <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada<br />
maneira?<br />
A respota está na opinião pública que, ao contrário<br />
<strong>do</strong> que imaginamos, se ressente da ineficiência da polícia<br />
e, notadamente, <strong>de</strong> uma qualificação profissional mais<br />
a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> seus integrantes, diante da evolução frenética<br />
da socieda<strong>de</strong> e seus anseios.<br />
Dentro <strong>de</strong>ssa premissa, foi sugerida a criação <strong>do</strong> Setor<br />
<strong>de</strong> Operações Especiais <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong> (SOE-<strong>DHPP</strong>). Tal<br />
unida<strong>de</strong> visa a aplicação <strong>de</strong> uma nova mentalida<strong>de</strong> nas<br />
ações policiais <strong>de</strong> maior risco: a preservação da integrida<strong>de</strong><br />
física <strong>do</strong>s policiais, bem como <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais cidadãos<br />
e mesmo <strong>de</strong> suspeitos, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> estrito limite da legalida<strong>de</strong>,<br />
objetivan<strong>do</strong> a obtenção <strong>de</strong> provas e indícios <strong>de</strong><br />
crimes <strong>de</strong> homicídio.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse setor baseou-se no conceito<br />
<strong>de</strong> que, em situações especiais, a polícia <strong>de</strong>verá dar uma<br />
resposta no mesmo nível, exigin<strong>do</strong>, assim, o concurso <strong>de</strong><br />
policiais diferencia<strong>do</strong>s pela especialização e treinamento.<br />
1 Marcos Carneiro Lima é Delega<strong>do</strong> Divisionário <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> da Divisão<br />
<strong>de</strong> Homicídios.<br />
O “Espírito” <strong>do</strong> SOE – <strong>DHPP</strong><br />
Marcos Carneiro Lima 1<br />
46<br />
Um <strong>do</strong>s fatos que antece<strong>de</strong>ram esse conceito foi o ocorri<strong>do</strong><br />
em Austin, Texas, em 01/08/1966, quan<strong>do</strong> um único<br />
homem, Charles Witman, estudante da Universida<strong>de</strong> local,<br />
passo a atirar nas pessoas <strong>de</strong> forma indiscriminada, matan<strong>do</strong><br />
um todal <strong>de</strong> 15 e ferin<strong>do</strong> 31.<br />
Em 1969, os policiais John Nelson e Daryl Gates, da<br />
<strong>Polícia</strong> <strong>de</strong> Los Angeles, criaram o primeiro grupo <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong><br />
SWAT (Special Weapons and Tactics), sigla que, em<br />
inglês, significa armas e táticas especiais. A idéia propagou-se<br />
para to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, aprimoran<strong>do</strong>-se com o tempo e,<br />
hoje, equipes especiais são referências em inúmeros <strong>de</strong>partamentos<br />
<strong>de</strong> polícia.<br />
É importante <strong>de</strong>ixar claro que a nossa essência é a investigação<br />
e, portanto, a regra é o policial não ostensivo, bem<br />
como seus equipamentos, incluin<strong>do</strong>-se a viatura. Contu<strong>do</strong>, nas<br />
situações especiais, por uma série <strong>de</strong> motivos, faz-se necessário<br />
que o grupo se apresente <strong>de</strong> forma homogênea e ímpar.<br />
Efetuada a operação, os integrantes <strong>do</strong> grupo operacional<br />
trocam <strong>de</strong> vestimentas, voltan<strong>do</strong> seu foco para a investigação.<br />
O objetivo das operações é fornecer suporte às Delegacias<br />
da Divisão e suas respectivas equipes, bem como às<br />
outras unida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção<br />
à Pessoa no <strong>de</strong>senvolvimento das investigações.<br />
Visan<strong>do</strong> sempre imprimir maior precisão e agilida<strong>de</strong> nas<br />
operações, temos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> novos méto<strong>do</strong>s e técnicas, como<br />
a utilização <strong>de</strong> cachorros treina<strong>do</strong>s. Tal prática já ocorre<br />
nas forças armadas e policiais <strong>de</strong> várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>
há muito tempo, mas, especificamente na área <strong>de</strong> investigação<br />
<strong>de</strong> homicídios, é algo pioneiro no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong>. Por sorte, um <strong>do</strong>s policiais, Wagner Freitas<br />
Montanher, é a<strong>de</strong>stra<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cães e, <strong>de</strong> forma voluntária e<br />
cívica, os tem emprega<strong>do</strong> nas operações com resulta<strong>do</strong>s<br />
expressivos e sem ônus para o Esta<strong>do</strong>.<br />
47<br />
Aproveito a oportunida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>stacar o empenho <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s os membros da equipe que incorporam o “Espírito <strong>do</strong><br />
SOE-<strong>DHPP</strong>”, com profissionalismo, <strong>de</strong>dicação, disciplina e<br />
integrida<strong>de</strong>. A eles, minhas homenagens e agra<strong>de</strong>cimentos,<br />
pois, em razão <strong>do</strong>s trabalhos que vêm sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s,<br />
sinto mais orgulho <strong>de</strong> ser policial civil.
<strong>Polícia</strong> Judiciária eficiente e cidadã<br />
Creio que a investigação <strong>de</strong> um fato ou acontecimento<br />
<strong>de</strong> interesse jurídico-penal seja uma das ativida<strong>de</strong>s humanas<br />
mais intensas e específicas, pela or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fatores, circunstâncias<br />
e conjecturas que nela interferem e exigem<br />
equacionamento, até porque só a coerente pon<strong>de</strong>ração<br />
intelectual das respectivas variáveis viabilizará (<strong>de</strong> certo) a<br />
busca da reconstrução histórica <strong>de</strong> um contexto, <strong>de</strong>snudan<strong>do</strong><br />
as nuances e as contingências que efetivamente influenciaram<br />
sua eclosão ou interferiram no seu <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento.<br />
E tal ativida<strong>de</strong>, como particular manifestação <strong>de</strong> um engenho,<br />
encontra na polícia judiciária a sua principal<br />
mentora, ainda que – hoje em dia e infelizmente – poucos<br />
sejam aqueles efetivamente prepara<strong>do</strong>s para o <strong>de</strong>sempenho<br />
superlativo <strong>de</strong> tal mister.<br />
De fato, questiona-se, nestes tempos, se o inquérito policial<br />
acometi<strong>do</strong> constitucionalmente à polícia judiciária (civil,<br />
militar ou fe<strong>de</strong>ral, cada qual em seu âmbito <strong>de</strong> atribuições)<br />
ainda é um instrumento váli<strong>do</strong>, e mais, legítimo, para aparelhar<br />
ou <strong>de</strong>spoletar a persecução penal, idéia essa resulta<strong>do</strong><br />
da inexata compreensão <strong>de</strong> garantia que o inquérito policial<br />
encerra. Contu<strong>do</strong>, admite-se que pensamentos como esses<br />
só nascem e ganham corpo quan<strong>do</strong> o objeto <strong>do</strong> inquérito<br />
policial, vale dizer, a investigação é vilipendiada ou não é<br />
1 Luís Geral<strong>do</strong> Sant’Ana Lanfredi é Juiz <strong>de</strong> Direito Titular da 2ª Vara das<br />
Execuções Criminais e Correge<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Presídios da Comarca <strong>de</strong> Taubaté.<br />
Luís Geral<strong>do</strong> Sant’Ana Lanfredi 1<br />
49<br />
levada a efeito com o mínimo <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong> que se espera.<br />
Essa triste constatação é um duro golpe na eficiência <strong>do</strong><br />
sistema penal, que <strong>de</strong>ixa antever a questionável disposição<br />
das polícias para o cuida<strong>do</strong> com uma ativida<strong>de</strong> que lhe é<br />
fim. Na verda<strong>de</strong>, processo penal <strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma investigação<br />
eficiente é uma pífia manifestação <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>pon<strong>do</strong> contra a própria segurança que representa aos<br />
cidadãos. Somente um corpo <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s e<br />
entreti<strong>do</strong>s com as técnicas e procedimentos <strong>de</strong> polícia judiciária<br />
está à altura <strong>de</strong> confirmar o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Direito numa<br />
área tão sensível e que coloca em risco a segurança e a<br />
liberda<strong>de</strong> individual <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s.<br />
Nesse quadro, forçoso convir que esse circunstancial não<br />
é o contexto que alimenta a rotina diária <strong>do</strong> Departamento<br />
<strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa (<strong>DHPP</strong>), em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
Com efeito, aí se faz investigação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, com técnicas<br />
e tirocínio, sagacida<strong>de</strong> e disposição, em condições <strong>de</strong> aproveitar<br />
elementos mínimos <strong>de</strong> prova para confrontá-los com o<br />
histórico <strong>de</strong> uma ocorrência ou da perícia técnica, crian<strong>do</strong><br />
um ambiente i<strong>de</strong>al para a valorização <strong>do</strong> profissional entreti<strong>do</strong><br />
com tais ativida<strong>de</strong>s.<br />
O Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa<br />
(<strong>DHPP</strong>) em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, po<strong>de</strong>-se dizer sem quaisquer rebuços,<br />
ainda é um <strong>de</strong>sses segmentos que cultuam a investigação<br />
como méto<strong>do</strong>, marcan<strong>do</strong> a diferença no seu atuar. Aliás,<br />
pesa (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio) saber que ali estão aqueles que<br />
efetivamente acreditam num i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> polícia judiciária puro
e perfeito, resgatan<strong>do</strong> os conceitos inerentes à boa técnica<br />
da observação, reflexão e pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong><br />
prova que levarão à <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> crimes. De fato,<br />
minu<strong>de</strong>nciar um crime e suas contingências não é habilida<strong>de</strong><br />
imanente, mas que se conquista com afinco, <strong>de</strong>dicação<br />
e i<strong>de</strong>al, apanágios virtuosos que <strong>de</strong>lineiam o perfil <strong>do</strong>s profissionais<br />
que trabalham no Departamento <strong>de</strong> Homicídios e<br />
<strong>de</strong> Proteção à Pessoa (<strong>DHPP</strong>).<br />
Por essa razão é que qualquer <strong>de</strong>poimento pessoal não<br />
po<strong>de</strong> negar a verda<strong>de</strong> e a aspiração <strong>de</strong> que a polícia judiciária<br />
chegue um dia a ter o padrão <strong>de</strong> trabalho e a realização,<br />
<strong>de</strong> iniciativa e elucidação, como os tem o Departamento<br />
<strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa (<strong>DHPP</strong>) perante os<br />
seus casos. Muito mais <strong>do</strong> que índices positivos sobreleva,<br />
nesse particular, a confirmação da confiança <strong>do</strong>s cidadãos<br />
numa Instituição séria, que não cansa <strong>de</strong> fazer <strong>do</strong> seu cotidiano<br />
uma entrega incansável em favor <strong>do</strong>s interesses volta<strong>do</strong>s<br />
para uma socieda<strong>de</strong> melhor e mais justa.<br />
51
Po<strong>de</strong>-se dizer, com segurança, que a policia nacional,<br />
com maior precisão a paulistana, é mo<strong>de</strong>lo para a América<br />
Latina, ou melhor dizen<strong>do</strong>, para os <strong>de</strong>mais continentes.<br />
Como advoga<strong>do</strong>s criminalistas ou cientistas <strong>do</strong> direito,<br />
portanto, como <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong> Democrático <strong>de</strong><br />
Direito, <strong>do</strong>s princípios fundamentais <strong>do</strong> homem, é correto<br />
afirmar que a polícia tem um papel fundamental na boa<br />
aplicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preceitos.<br />
Na maioria das vezes, nos encontramos em la<strong>do</strong>s opostos.<br />
A polícia na esfera da investigação e nós na <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s<br />
interesses <strong>de</strong> um investiga<strong>do</strong>. Assim, po<strong>de</strong>mos, sem receio,<br />
tecer elogios sinceros a esta Instituição, quan<strong>do</strong> avoca<strong>do</strong>s<br />
a fazê-lo.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, é ela dividida em Departamentos. Cada<br />
qual com a sua função e equipe. Uns, certamente, sem<br />
<strong>de</strong>smerecimento aos <strong>de</strong>mais, mas imprescindíveis uns e<br />
outros.<br />
1 <strong>Paulo</strong> José da Costa Jr. é Professor livre-<strong>do</strong>cente da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Roma<br />
e Professor titular da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>;<br />
Fernan<strong>do</strong> José da Costa é Mestre pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, advoga<strong>do</strong> criminalista.<br />
<strong>Polícia</strong> mo<strong>de</strong>lar<br />
<strong>Paulo</strong> José da Costa Jr. e Fernan<strong>do</strong> José da Costa 1<br />
53<br />
Nesses últimos, encontramos o Departamento <strong>de</strong> Homicídios<br />
e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa (<strong>DHPP</strong>).<br />
Neste Departamento, o combate é contra a perda da<br />
própria raça humana, investigan<strong>do</strong> aqueles que infringem<br />
o bem tutela<strong>do</strong> da vida.<br />
Isso, muitas vezes, sem pessoal ou aparato mínimo<br />
necessário.<br />
Após décadas <strong>de</strong> labuta, este momento é oportuno para<br />
expressar nossa admiração e confiança pelo trabalho realiza<strong>do</strong><br />
pelo <strong>DHPP</strong> que, como já foi dito, mesmo, na maioria<br />
das vezes aparentemente em la<strong>do</strong>s antagônicos, realiza<br />
um papel fundamental para a socieda<strong>de</strong>, com trabalho sério,<br />
honesto e competente.<br />
Poucos são os que alcançam um nível <strong>de</strong> êxito como este<br />
Departamento. Se outros Esta<strong>do</strong>s, Nações, quiçá Continentes<br />
tivessem uma polícia como essa, certamente teríamos<br />
um mun<strong>do</strong> melhor.
O tráfico <strong>de</strong> seres humanos surgiu há séculos, porém<br />
vem nos últimos anos tornan<strong>do</strong>-se um problema <strong>de</strong> dimensões<br />
cada vez maiores, sen<strong>do</strong> inclusive chama<strong>do</strong> por<br />
algumas pessoas <strong>de</strong> “a forma mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> escravidão”.<br />
Neste diapasão, cada vez mais a problemática tem alcança<strong>do</strong><br />
espaço <strong>de</strong>ntro das iniciativas governamentais e da socieda<strong>de</strong><br />
civil, que estão se unin<strong>do</strong> para criar programas, incentivar<br />
a aplicação <strong>de</strong> ações e a<strong>do</strong>tar leis severas contra esse crime.<br />
O tráfico <strong>de</strong> seres humanos converge para si as atenções<br />
globais em virtu<strong>de</strong> da sua gravida<strong>de</strong> e celerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu alastramento<br />
pelo mun<strong>do</strong> inteiro. Po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um país,<br />
<strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong> para o outro, ou <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> para outra, bem<br />
como entre países fronteiriços e até entre diferentes continentes.<br />
E, por conseguinte, também ocorre no Brasil, que vem<br />
a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> políticas públicas efetivas para combater e enfrentar<br />
o tráfico <strong>de</strong> seres humanos.<br />
Mundialmente, um importante marco inicial, gera<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> diversas ações, foi o Protocolo <strong>de</strong><br />
Palermo, <strong>do</strong>cumento em que foram signatárias diversas nações<br />
integrantes da Organização das Nações Unidas<br />
(ONU), o que é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um evi<strong>de</strong>nte avanço <strong>do</strong> Direito<br />
Internacional, sen<strong>do</strong> o gran<strong>de</strong> êxito da obtenção <strong>do</strong>s<br />
direitos humanos. Sua <strong>de</strong>nominação é Convenção Contra<br />
o Crime Organiza<strong>do</strong> Transnacional e Protocolo Adicional<br />
para a Prevenção e Punição <strong>do</strong> Tráfico <strong>de</strong> Pessoas, Especial-<br />
1 Márcia Heloísa Men<strong>do</strong>nça Ruiz é Delegada <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Titular da 1ª<br />
Delegacia da Divisão <strong>de</strong> Proteção à Pessoa.<br />
Tráfico <strong>de</strong> seres humanos<br />
Márcia Heloísa Men<strong>do</strong>nça Ruiz 1<br />
55<br />
mente Mulheres e Crianças, ratifica<strong>do</strong> pelo Brasil por intermédio<br />
<strong>do</strong>s Decretos nº 5.015 e 5.017 <strong>de</strong> 12/03/2004.<br />
O Protocolo no artigo 3º estabelece a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> que é o<br />
“tráfico <strong>de</strong> pessoas”: “o recrutamento, o transporte, a transferência,<br />
o alojamento ou o acolhimento <strong>de</strong> pessoas, recorren<strong>do</strong><br />
à ameaça ou uso da força ou a outras formas <strong>de</strong> coação, ao<br />
rapto, à frau<strong>de</strong>, ao engano, ao abuso <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> ou à<br />
situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ou à entrega ou aceitação <strong>de</strong><br />
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento <strong>de</strong> uma<br />
pessoa que tenha autorida<strong>de</strong> sobre outra para fins <strong>de</strong> exploração.<br />
A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da<br />
prostituição <strong>de</strong> outrem ou outras formas <strong>de</strong> exploração sexual,<br />
o trabalho ou serviços força<strong>do</strong>s, escravatura ou práticas similares<br />
à escravatura, a servidão ou a remoção <strong>de</strong> órgãos”.<br />
A exploração sexual, a escravidão e a remoção <strong>de</strong> órgãos<br />
são os <strong>de</strong>litos combati<strong>do</strong>s pelo Protocolo, pois afrontam<br />
to<strong>do</strong>s os princípios <strong>do</strong>s direitos humanos.<br />
As ativida<strong>de</strong>s para as quais pessoas são traficadas variam<br />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o país ou o tipo <strong>de</strong> economia. Entretanto,<br />
estu<strong>do</strong>s e diagnósticos que a Organização Internacional <strong>do</strong><br />
Trabalho (OIT) vem coletan<strong>do</strong> indicam que, na sua maioria,<br />
são pessoas para trabalhar em serviços <strong>do</strong>mésticos, plantações<br />
ou extrativismo, construção, minas, oficinas e fábricas,<br />
hotéis, bares, restaurantes, ambulantes e mendicância. No contexto<br />
da exploração sexual, meninos, meninas, a<strong>do</strong>lescentes,<br />
mulheres e homens são trafica<strong>do</strong>s e submeti<strong>do</strong>s a trabalho na<br />
prostituição, pornografia e turismo sexual.<br />
Sabe-se que o Brasil tem si<strong>do</strong> o país <strong>de</strong> origem, <strong>de</strong>stino e<br />
trânsito <strong>de</strong> muitas vítimas, quer sejam mulheres e a<strong>do</strong>les-
centes trazidas para fins <strong>de</strong> exploração sexual comercial,<br />
quer sejam homens e mulheres trabalha<strong>do</strong>res que são transporta<strong>do</strong>s<br />
e manti<strong>do</strong>s em situações análogas à <strong>de</strong> escravo.<br />
Tema que merece <strong>de</strong>staque para ser analisa<strong>do</strong>, diante <strong>do</strong><br />
que estabelece o Protocolo, é o <strong>do</strong> consentimento da<strong>do</strong> pela<br />
vítima <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> pessoas. O artigo consi<strong>de</strong>ra irrelevante o<br />
consentimento se tiver si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> qualquer um <strong>do</strong>s meios<br />
referi<strong>do</strong>s, recorren<strong>do</strong> à ameaça ou uso da força ou a outras<br />
formas <strong>de</strong> coação, ao rapto, à frau<strong>de</strong>, ao engano, ao abuso<br />
<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> ou à situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ou à entrega<br />
ou aceitação <strong>de</strong> pagamentos ou benefícios. Este consentimento<br />
da<strong>do</strong> pela vítima é ti<strong>do</strong> como inváli<strong>do</strong>. Por isso, o texto <strong>do</strong><br />
Protocolo <strong>de</strong>ixa claro que quan<strong>do</strong> o consentimento obti<strong>do</strong> é<br />
vicia<strong>do</strong>, ele é nulo. Também estabelece que se o recrutamento,<br />
o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento<br />
para fins <strong>de</strong> exploração for <strong>de</strong> uma criança, será consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />
“tráfico <strong>de</strong> pessoas” mesmo que não envolva qualquer <strong>do</strong>s<br />
meios referi<strong>do</strong>s da alínea “a” <strong>do</strong> artigo. Com isto, não há<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prova <strong>de</strong> consentimento inváli<strong>do</strong> ou da exploração<br />
sempre que a vítima for criança ou a<strong>do</strong>lescente.<br />
Muito bem foi pon<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> por Jesus (2003) em sua obra<br />
“Tráfico Internacional <strong>de</strong> Mulheres e Crianças – Brasil”, ao<br />
mencionar que a parte substancial <strong>do</strong> tráfico global resi<strong>de</strong><br />
em mover uma pessoa <strong>de</strong> uma região para outra, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>do</strong>s limites <strong>de</strong> um único país, observan<strong>do</strong>-se que o consentimento<br />
da vítima em seguir viagem não exclui a culpabilida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> traficante ou explora<strong>do</strong>r, nem limita o direito que<br />
ela tem à proteção oficial. Segun<strong>do</strong> o autor, o requisito<br />
central no tráfico é a presença <strong>do</strong> engano, da coerção, da<br />
dívida e <strong>do</strong> propósito <strong>de</strong> exploração. E o tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />
que a vítima se engajou, lícita ou ilícita, moral ou imoral,<br />
não se mostra relevante para <strong>de</strong>terminar se seus direitos<br />
56<br />
foram viola<strong>do</strong>s ou não, o que importa é que o traficante<br />
impe<strong>de</strong> ou limita seriamente o exercício <strong>de</strong> seus direitos,<br />
constrange sua vonta<strong>de</strong>, viola seu corpo.<br />
Segun<strong>do</strong> Castilho (2007), em seu artigo “Tráfico <strong>de</strong> pessoas:<br />
da Convenção <strong>de</strong> Genebra ao Protocolo <strong>de</strong> Palermo”,<br />
houve um intenso <strong>de</strong>bate sobre o tema <strong>do</strong> consentimento e<br />
esclarece que a “situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>” da vítima<br />
po<strong>de</strong> ser aplicada na maior parte <strong>do</strong>s casos em que ocorre<br />
exploração <strong>de</strong> qualquer natureza, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da interpretação<br />
<strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong> direito.<br />
Na verda<strong>de</strong>, o tráfico <strong>de</strong> seres humanos muitas vezes se<br />
apresenta como o estágio mais avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> um longo processo<br />
<strong>de</strong> exclusão social (Colares, 2004).<br />
Para <strong>de</strong>bater sobre a problemática <strong>do</strong> consentimento<br />
oferta<strong>do</strong> pela vítima, <strong>de</strong>vemos nos ater ao que preconiza a<br />
norma internacional que foi ratificada pelo Brasil, que é o<br />
Protocolo <strong>de</strong> Palermo. Este instrumento não quer que alguém<br />
<strong>de</strong>sista ou abra mão <strong>de</strong> bens que são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s inalienáveis,<br />
como a liberda<strong>de</strong>, o respeito, a vida, a dignida<strong>de</strong>. Porém, o<br />
gran<strong>de</strong> dilema é que a manifestação <strong>do</strong> pensamento vigente<br />
na nossa socieda<strong>de</strong> é da permissivida<strong>de</strong> da prostituição como<br />
uma coisa absolutamente normal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não seja com a<br />
nossa mulher, irmã, mãe, filha ou filho.<br />
Destarte, também se ventila o fato da naturalização da<br />
exploração <strong>de</strong> alguns segmentos sociais, como por exemplo,<br />
das mulheres e travestis, em que algumas pessoas não<br />
vêem nestes seres humanos explora<strong>do</strong>s e prejudica<strong>do</strong>s como<br />
seres iguais. Isso faz com que a socieda<strong>de</strong> passe, a partir<br />
<strong>de</strong>sse fenômeno da naturalização, a não enxergar esse ser<br />
viola<strong>do</strong>, explora<strong>do</strong> como sujeito <strong>de</strong> direitos humanos universais.<br />
A <strong>de</strong>sconstrução da humanida<strong>de</strong> da vítima por parte<br />
da socieda<strong>de</strong> e <strong>do</strong> viola<strong>do</strong>r é um problema muito gran<strong>de</strong>
para se conseguir efetivamente fazer valer as regras <strong>do</strong>s<br />
direitos humanos e precisa ser combatida.<br />
Infelizmente, a naturalização alcança os opera<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
direito e até a educação recebida pelas pessoas traficadas.<br />
Leva muitas vezes as vítimas a não se enxergarem como<br />
sujeitos <strong>de</strong> direitos porque, na verda<strong>de</strong>, nunca foram tratadas<br />
como pessoas garanti<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os direitos<br />
universais. Isto causa, muitas vezes, um ciclo vicioso que<br />
é muito difícil <strong>de</strong> ser extermina<strong>do</strong>.<br />
O tema é ainda para o Direito Pátrio muito novo e <strong>de</strong>ve<br />
ser bastante discuti<strong>do</strong>, pois pessoas são traficadas e exploradas<br />
sexualmente, não sen<strong>do</strong> esse mun<strong>do</strong> da prostituição<br />
só <strong>de</strong> distração, farra, balada, noitada e <strong>do</strong> trabalho análogo<br />
ao <strong>de</strong> escravo <strong>de</strong> roupas com custo baixo.<br />
O tráfico <strong>de</strong> seres humanos é, na verda<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />
a terceira maior fonte <strong>de</strong> lucro <strong>do</strong> crime organiza<strong>do</strong>, somente<br />
per<strong>de</strong>n<strong>do</strong> para drogas e armas.<br />
Segun<strong>do</strong> o relatório da Organização Internacional <strong>do</strong> Trabalho<br />
(OIT) em 2005, o comércio ilegal <strong>de</strong> pessoas movimenta<br />
quantias exorbitantes <strong>de</strong> dinheiro, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se estimar um<br />
lucro anual <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 31,6 bilhões <strong>de</strong> dólares.<br />
As principais causas <strong>do</strong> tráfico <strong>de</strong> seres humanos, segun<strong>do</strong><br />
Jesus (2003), são: ausência <strong>de</strong> direitos ou baixa aplicação<br />
das regras internacionais <strong>de</strong> direitos humanos; discriminação<br />
<strong>de</strong> gênero e violência contra a mulher, pobreza e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> renda; instabilida<strong>de</strong> econômica;<br />
guerras; <strong>de</strong>sastres naturais e instabilida<strong>de</strong> política.<br />
Há no Brasil situações <strong>de</strong> extrema disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
econômica e cultural. Essa realida<strong>de</strong> faz com que as pessoas<br />
se <strong>de</strong>sloquem para os gran<strong>de</strong>s centros empresariais, como<br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e Rio <strong>de</strong> Janeiro. Estas cida<strong>de</strong>s recebem muitos<br />
a<strong>do</strong>lescentes, mulheres e homens que saem <strong>de</strong> outras regiões<br />
57<br />
<strong>do</strong> país em busca <strong>de</strong> uma nova vida, distante das condições<br />
<strong>de</strong> miserabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem.<br />
Estu<strong>do</strong>s mencionam que as vítimas e os alicia<strong>do</strong>res passam<br />
principalmente pelos Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Goiás<br />
e Ceará (Colares, 2004). Na capital paulista, os atrativos são<br />
os gran<strong>de</strong>s aeroportos e portos, além <strong>de</strong> ser o principal centro<br />
econômico nacional, conforme esclarece o pesquisa<strong>do</strong>r Colares.<br />
Com mais <strong>de</strong> quarenta milhões <strong>de</strong> habitantes (Fundação<br />
Sistema Estadual <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s (SEADE), 2005), <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong> é o Esta<strong>do</strong> mais populoso <strong>do</strong> Brasil e a terceira unida<strong>de</strong><br />
administrativa mais populosa da América <strong>do</strong> Sul. É<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o “motor econômico” <strong>do</strong> Brasil e o mais importante,<br />
o mais rico e o que tem o maior Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Humano <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> é responsável<br />
por mais <strong>de</strong> 31% <strong>do</strong> produto interno bruto (PIB) <strong>do</strong> país.<br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> também possui um eleva<strong>do</strong> número <strong>de</strong> pessoas<br />
que se <strong>de</strong>slocam das diferentes localida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> país, a fim<br />
<strong>de</strong> obterem melhores condições <strong>de</strong> vida ou para realizarem<br />
negócios, além <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada a “porta” preferida<br />
<strong>de</strong> saída <strong>de</strong> pessoas vítimas <strong>de</strong> tráfico.<br />
A cida<strong>de</strong> é um local <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino interno das vítimas <strong>de</strong><br />
exploração sexual, para permanência provisória ou <strong>de</strong>finitiva,<br />
mesmo porque muitas <strong>de</strong>las já estan<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
sexo, <strong>de</strong>sejam completar o ciclo da ca<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> tráfico, que<br />
seria a obtenção <strong>de</strong> condições e chance <strong>de</strong> ir para países<br />
estrangeiros. É também um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino para os habitantes<br />
<strong>de</strong> países da América <strong>do</strong> Sul que migram para cá, a<br />
fim <strong>de</strong> conseguir um trabalho nas oficinas <strong>de</strong> costura.<br />
O número <strong>de</strong> habitantes <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, com as condições<br />
econômicas <strong>do</strong> local, mais a naturalização da prostituição<br />
foram fatores <strong>de</strong> instalação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> sexo, que nada<br />
mais é <strong>do</strong> que um jogo entre oferta e <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> serviços
sexuais. Esse merca<strong>do</strong> e a organização empresarial relativa<br />
a ele, a indústria <strong>do</strong> sexo, envolve uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhos<br />
sexuais, em bordéis, boates, bares, discotecas, saunas,<br />
casas <strong>de</strong> massagem, serviços <strong>de</strong> acompanhantes, agências<br />
matrimoniais, hotéis, motéis, cinemas, revistas pornôs, filmes<br />
e ví<strong>de</strong>os e prostituição na rua. A metrópole paulista também<br />
atrai uma gama <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s tipos, o que gera<br />
uma competição acirrada entre os fabricantes <strong>de</strong> produtos.<br />
Esta competitivida<strong>de</strong> fez criar um terreno fértil para a proliferação,<br />
na área <strong>do</strong> vestuário, <strong>de</strong> oficinas <strong>de</strong> costura que se<br />
abarcam <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra escrava para obter baixos custos<br />
<strong>de</strong> produção e com isto superar outros fabricantes que trabalham<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s preceitos legais e éticos vigentes.<br />
Neste panorama é que atua a 1ª Delegacia da Divisão <strong>de</strong><br />
Proteção à Pessoa <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, que tem a atribuição <strong>de</strong> executar<br />
as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prevenção e repressão ao crime <strong>de</strong> redução a<br />
condição análoga à <strong>de</strong> escravo e por intermédio da Portaria<br />
DGP – 20, <strong>de</strong> 29/04/2005, passou a investigar o fenômeno<br />
<strong>do</strong> tráfico interno <strong>de</strong> pessoas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>.<br />
A partir disso, a <strong>de</strong>legacia passou a investigar tal <strong>de</strong>lito e<br />
assim conseguiu coletar da<strong>do</strong>s das vítimas para traçar o perfil<br />
da exploração sexual na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, e continuou a<br />
investigar o <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> redução a condição análoga à <strong>de</strong> escravo,<br />
passan<strong>do</strong> também a buscar da<strong>do</strong>s para traçar o perfil<br />
<strong>de</strong>stas vítimas. Foram utiliza<strong>do</strong>s como fonte <strong>de</strong> pesquisa 18<br />
(<strong>de</strong>zoito) Inquéritos Policiais instaura<strong>do</strong>s por auto <strong>de</strong> prisão<br />
em flagrante <strong>de</strong>lito, entre 1999 a março <strong>de</strong> 2008, sen<strong>do</strong> 12<br />
(<strong>do</strong>ze) <strong>do</strong> <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> redução a condição análoga à <strong>de</strong> escravo<br />
e 06 (seis) <strong>de</strong> tráfico interno <strong>de</strong> pessoas. É salutar constar que<br />
a pesquisa com relação ao <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> tráfico interno teve seu<br />
marco inicial em 2005, uma vez que somente neste ano a Lei<br />
nº 11.106/05 instituiu tal <strong>de</strong>lito em nossa legislação.<br />
59<br />
A pesquisa i<strong>de</strong>ntificou nas vítimas: o sexo; a faixa etária<br />
e a região <strong>de</strong> origem.<br />
Os Inquéritos Policiais escolhi<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> amostragem<br />
foram aqueles que tinham si<strong>do</strong> finda<strong>do</strong>s e encaminha<strong>do</strong>s<br />
à Justiça. To<strong>do</strong>s foram precedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> diligências policiais anteriores<br />
ao flagrante <strong>de</strong>lito. Constatou-se que havia casas <strong>de</strong><br />
prostituição, on<strong>de</strong> pessoas estavam sen<strong>do</strong> exploradas sexualmente<br />
e nelas havia ambientes <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s à moradia das vítimas<br />
e também oficinas <strong>de</strong> costuras, on<strong>de</strong> estrangeiros irregulares,<br />
na maioria das vezes, estavam sen<strong>do</strong> manti<strong>do</strong>s para trabalharem<br />
como costureiros no mesmo local em que <strong>do</strong>rmem e se<br />
alimentam. Os <strong>de</strong>litos pratica<strong>do</strong>s pelos autores foram tipifica<strong>do</strong>s,<br />
em sua maioria, na primeira modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> prostituição,<br />
favorecimento a prostituição e tráfico interno <strong>de</strong> pessoas e<br />
na segunda modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> redução a condição análoga à <strong>de</strong><br />
escravo e artigo 125 da Lei nº 6.815/80, incisos VII e XII.<br />
Foram lidas as <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> 233 (duzentas e trinta e três)<br />
vítimas, sen<strong>do</strong> 90 (noventa) vítimas <strong>de</strong> exploração sexual e 143<br />
(cento e quarenta e três) vítimas <strong>de</strong> trabalho força<strong>do</strong>. O número<br />
<strong>de</strong> pessoas indiciadas pelo tráfico <strong>de</strong> pessoas para exploração<br />
sexual foi 23 (vinte e três), sen<strong>do</strong> 09 (nove) homens e 14<br />
(quatorze) mulheres. Já pelo <strong>de</strong>lito <strong>de</strong> exploração laboral foram<br />
indiciadas 14 (quatorze) pessoas, todas homens, sen<strong>do</strong> 9 (nove)<br />
bolivianos; 1 (um) paraguaio e 4 (quatro) coreanos.<br />
As áreas on<strong>de</strong> estavam instaladas as casas <strong>de</strong> prostituição<br />
foram: <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2005 na zona sul, <strong>de</strong> 2006 na zona<br />
oeste, <strong>de</strong> 2007 na zona sul e <strong>de</strong> 2008 na zona leste, todas<br />
da capital paulista. As áreas das oficinas <strong>de</strong> costura foram:<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Suzano e na capital, nos bairros <strong>do</strong> Pari,<br />
Bom Retiro e Pirituba e em alguns bairros da Zona Norte.<br />
O valor <strong>do</strong>s programas sexuais realiza<strong>do</strong>s pelas vítimas<br />
varia <strong>de</strong> R$ 30,00 (trinta reais) a R$ 100,00 (cem reais),
pelo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> meia hora. Do valor pago pelos clientes,<br />
que em todas as oportunida<strong>de</strong>s eram homens, uma quantia<br />
fica para o <strong>do</strong>no da casa <strong>de</strong> prostituição. Alguns valores como<br />
alimentação e moradia também eram cobra<strong>do</strong>s, como foi<br />
verifica<strong>do</strong> no Inquérito Policial <strong>de</strong> 2005, em que se cobravam<br />
R$ 10,00 (<strong>de</strong>z reais) como diária <strong>do</strong> alojamento e R$ 5,00<br />
(cinco reais ) para alimentação fornecida durante o dia, fora os<br />
R$ 2,00 (<strong>do</strong>is reais) referentes a cada minuto <strong>de</strong> utilização<br />
<strong>do</strong> telefone. Nos <strong>de</strong>mais casos, o alojamento e a alimentação<br />
não eram cobra<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> as <strong>de</strong>clarações das vítimas.<br />
Todas as casas <strong>de</strong> prostituição também impõem regras<br />
paras as vítimas, algumas sob pena <strong>de</strong> dispêndio monetário.<br />
Verificou-se que há cartazes geralmente espalha<strong>do</strong>s pelo local<br />
como: “Aviso- Por <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m nos quartos, banheiros sujo<br />
molha<strong>do</strong>. Multa <strong>de</strong> R$ 20,00 para todas que estiverem nos<br />
quartos no horário da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m exceto a garota que avisar”.<br />
E ainda, “Escala <strong>de</strong> Atendimento Telefone Março<br />
Segunda-Feira 20/03 Bianca... Por gentileza a escala <strong>de</strong>ve<br />
ser cumprida por todas sem exceções, quem não respeitar o<br />
horário será multada no final <strong>do</strong> dia em R$ 30,00! Grata!”.<br />
Nas oficinas <strong>de</strong> costura há uma única regra básica, que<br />
é trabalhar no horário <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> sem parar. Também há<br />
o <strong>de</strong>sconto <strong>do</strong> valor pago pela peça confeccionada para<br />
custeio da moradia e alimentação.<br />
O meio <strong>de</strong> transporte utiliza<strong>do</strong> pelas vítimas <strong>de</strong> tráfico<br />
interno que vieram <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s foi o ro<strong>do</strong>viário.<br />
A gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>las veio <strong>de</strong> ônibus para <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>,<br />
porém algumas chegaram <strong>de</strong> carro, sen<strong>do</strong> trazidas pelo<br />
próprio traficante. As regiões <strong>de</strong> origem das vítimas são:<br />
<strong>do</strong> próprio Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e/ou capital: 17 pessoas; <strong>do</strong><br />
Su<strong>de</strong>ste: 37 pessoas; <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste: 28 pessoas; <strong>do</strong> Centro-<br />
Oeste: 06 pessoas; <strong>do</strong> Norte: 03 pessoas e <strong>do</strong> Sul: 03<br />
61<br />
pessoas. Já no trabalho análogo ao <strong>de</strong> escravo, as vítimas<br />
vieram da Bolívia, num total <strong>de</strong> 67 (sessenta e sete) pessoas,<br />
e <strong>do</strong> Paraguai, num total <strong>de</strong> 76 (setenta e seis) pessoas.<br />
Os motivos nem sempre foram amplamente menciona<strong>do</strong>s,<br />
mas se po<strong>de</strong> verificar que muitas vieram atrás <strong>de</strong><br />
melhores condições <strong>de</strong> vida, para po<strong>de</strong>rem trabalhar e sustentar<br />
a si ou sua família. E mais, os bolivianos e paraguaios<br />
também visam a obtenção <strong>de</strong> alimentação.<br />
Das 90 vítimas <strong>de</strong> tráfico para exploração sexual, todas<br />
são <strong>do</strong> sexo feminino e com faixa etária <strong>de</strong> 17 a 37 anos.<br />
Já o mesmo não se po<strong>de</strong> falar das vítimas <strong>de</strong> trabalho escravo,<br />
em que há ambos os sexos, sen<strong>do</strong> 93 (noventa e<br />
três) homens e 50 (cinqüenta) mulheres.<br />
O tempo médio das vítimas na ativida<strong>de</strong> sexual, segun<strong>do</strong><br />
informações prestadas por elas, é <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos. Com<br />
relação ao trabalho nas oficinas <strong>de</strong> costura, o que se apurou<br />
é que muitas <strong>de</strong>las não eram costureiras, apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o<br />
ofício <strong>de</strong>ntro das próprias oficinas <strong>de</strong> costura.<br />
Todas as vítimas <strong>de</strong> exploração sexual <strong>de</strong>clararam ter<br />
consciência <strong>de</strong> que iriam trabalhar no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> sexo. Já<br />
o mesmo não se po<strong>de</strong> falar das que são exploradas no<br />
trabalho, pois algumas foram contratadas para serem babás<br />
e cozinheiras que ganhariam US$ 200,00 (duzentos<br />
dólares) por mês ou R$ 500,00 (quinhentos reais).<br />
O valor pago pela confecção das roupas é por peça e<br />
varia <strong>de</strong> R$ 0,80 (oitenta centavos) a R$ 3,00 (três reais).<br />
Deste valor o <strong>do</strong>no da oficina <strong>de</strong> costura efetua uma divisão<br />
por três, sen<strong>do</strong> que <strong>do</strong>is terços permanecem com o <strong>do</strong>no da<br />
oficina <strong>de</strong> costura a título <strong>de</strong> moradia e alimentação e um<br />
terço é pago para o costureiro escraviza<strong>do</strong>. A peça feita na<br />
oficina <strong>de</strong> costura em algumas oportunida<strong>de</strong>s era vendida
na loja por R$ 49,90 (quarenta e nove reais e noventa centavos)<br />
e R$ 69,90 (sessenta e nove reais e noventa centavos).<br />
Todas as oficinas <strong>de</strong> costura funcionam em casas ou apartamentos<br />
e no mesmo local em que trabalham, <strong>do</strong>rmem e<br />
se alimentam. Muitas vezes, as vítimas chegam a dividir o<br />
cômo<strong>do</strong> com outras famílias. Os locais têm pouca iluminação<br />
porque as janelas ficam fechadas para que ninguém<br />
perceba o que está funcionan<strong>do</strong> ali. Os trabalha<strong>do</strong>res ocupam<br />
pequenos espaços com fiação exposta e com mau<br />
cheiro. Passam cerca <strong>de</strong> 10 a 15 horas trabalhan<strong>do</strong> diariamente<br />
e só param para comer e <strong>do</strong>rmir. Nenhum <strong>do</strong>s<br />
trabalha<strong>do</strong>res tem Carteira <strong>de</strong> Trabalho e Previdência Social<br />
assinada, convênio médico ou equipamentos <strong>de</strong> segurança.<br />
As condições econômicas das vítimas são precárias, vindas<br />
<strong>de</strong> famílias pobres <strong>de</strong> seus países ou cida<strong>de</strong>s.<br />
A análise <strong>do</strong>s Inquéritos Policiais pesquisa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>monstra<br />
que as vítimas <strong>de</strong> exploração sexual na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><br />
<strong>Paulo</strong> sabiam que iriam trabalhar em prostituição. Já as <strong>de</strong><br />
trabalho análogo ao <strong>de</strong> escravo nem sempre tinham conhecimento<br />
das condições que iriam enfrentar.<br />
Portanto, os da<strong>do</strong>s concretos compila<strong>do</strong>s das ocorrências<br />
policiais confirmam as práticas <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> exploração sexual<br />
e trabalho escravo em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e tangibilizam a questão<br />
com <strong>de</strong>talhamento suficiente para permitir o planejamento <strong>de</strong><br />
ações para combater <strong>de</strong> forma estratégica este mal que permeia<br />
nossa socieda<strong>de</strong>, que é a exploração <strong>de</strong> seres humanos.<br />
Ações estratégicas para coibir este fenômeno partem <strong>do</strong><br />
Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa. Dentre<br />
elas: a estruturação <strong>de</strong> uma Delegacia Especializada<br />
para prevenir e combater o tráfico <strong>de</strong> seres humanos; a<br />
criação <strong>do</strong> banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s específico <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> seres<br />
humanos, na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inteligência Policial, que proces-<br />
63<br />
sará as ocorrências registradas pela <strong>Polícia</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>,<br />
com aplicativos mo<strong>de</strong>rnos, on<strong>de</strong> será registra<strong>do</strong> o perfil da<br />
vítima, <strong>do</strong>s alicia<strong>do</strong>res e <strong>de</strong>mais envolvi<strong>do</strong>s na exploração<br />
sexual e laboral. Alia<strong>do</strong> a estas iniciativas, <strong>de</strong>stacamos o<br />
trabalho <strong>de</strong> proteção à pessoa executa<strong>do</strong> pela 3ª Delegacia<br />
<strong>de</strong> Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, on<strong>de</strong><br />
as vítimas que estão sen<strong>do</strong> ameaçadas ou temerosas pelos<br />
problemas enfrenta<strong>do</strong>s pela exploração recebem proteção<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por intermédio <strong>do</strong> Proteção às Vítimas e Testemunhas<br />
Ameaçadas (PROVITA/SP).<br />
É necessário que as pessoas tomem consciência <strong>de</strong> que o<br />
problema existe e <strong>de</strong>ve ser enfrenta<strong>do</strong> e combati<strong>do</strong>, afinal a<br />
socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>tém papel fundamental para combater as violações<br />
<strong>de</strong> direitos humanos. Sem dúvida, conscientizar, eliminar<br />
as formas <strong>de</strong> discriminação, promover o trabalho sério e<br />
com competência é uma tarefa difícil, mas totalmente possível<br />
se a socieda<strong>de</strong> e órgãos públicos se unirem para atuar.<br />
Urge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se realizar um trabalho <strong>de</strong> transformação<br />
da mentalida<strong>de</strong>, da cultura e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> agir,<br />
que hoje permitem a naturalização da situação <strong>de</strong> exclusão<br />
absoluta <strong>de</strong> certos segmentos da socieda<strong>de</strong>, como é o caso<br />
das pessoas exploradas sexualmente. A conscientização é<br />
um <strong>do</strong>s pilares nesta mudança e as medidas visan<strong>do</strong> romper<br />
esse perverso ciclo <strong>de</strong> violações precisam tomar cada vez<br />
mais assento em nossa socieda<strong>de</strong>.<br />
Sem dúvida é um trabalho <strong>de</strong> transformação da mentalida<strong>de</strong>,<br />
da cultura e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> agir, que proporcionará um<br />
futuro em que prevalecerá a intolerância da socieda<strong>de</strong> e<br />
<strong>do</strong>s indivíduos com as práticas <strong>de</strong> afronta aos direitos humanos<br />
e notadamente com situações <strong>de</strong> exclusão absoluta<br />
<strong>de</strong> certos segmentos da socieda<strong>de</strong>, como é o caso das vítimas<br />
<strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> seres humanos.
“O Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> é o profissional <strong>do</strong> Direito<br />
que tem a mão armada a serviço <strong>do</strong> Direito. Seu primeiro<br />
cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser o autopoliciamento. A fim <strong>de</strong> que a força<br />
<strong>de</strong> que dispõe – e que lhe é dada para que previna ou reprima<br />
as lesões da or<strong>de</strong>m jurídica que afetam a segurança e liberda<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>s indivíduos – não o leve a ser o causa<strong>do</strong>r maior das<br />
A corrupção não é privativa <strong>de</strong> nenhum país. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> forma ou regime <strong>de</strong> governo. A<strong>de</strong>re e impregna<br />
i<strong>de</strong>ologias, convicções filosóficas, <strong>de</strong>voções religiosas, ban<strong>de</strong>iras<br />
políticas 3 .<br />
No Brasil, a questão nos cala fun<strong>do</strong>.<br />
1 Carlos José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong> é Delega<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Diretor <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>.<br />
2 DALLARI, Dalmo <strong>de</strong> Abreu. O Renascer <strong>do</strong> Direito. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>: Saraiva.<br />
1980. p. 47.<br />
3 OLIVEIRA, Edmun<strong>do</strong>. Crimes <strong>de</strong> Corrupção. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense,<br />
1991, p. 119-120.<br />
Uma reflexão necessária<br />
Carlos José Paschoal <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong> 1<br />
ofensas aos preceitos jurídicos 2 .”<br />
65<br />
<strong>São</strong> como cupins que <strong>de</strong>voram a estrutura da vida pública.<br />
Vorazes, estão aloja<strong>do</strong>s no seio da Nação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os i<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> Cabral 4 .<br />
Mas não é meramente essa renegada herança colonialista<br />
portuguesa que explica a perenida<strong>de</strong> da corrupção<br />
nacional.<br />
Bolívar Lamounier enten<strong>de</strong> que é a míope visão geral, inspirada<br />
em Rousseau, que a sustenta. “O povo é essencialmente<br />
4 Folha <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. “A gran<strong>de</strong> caverna”. Carlos Heitor Cony. 10/07/<br />
2008.
om. O ambiente o corrompe” 5 . O renoma<strong>do</strong> cientista político<br />
ensina que nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América a leitura social<br />
<strong>do</strong> problema é mais realista. Invoca a <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong> Hobbes:<br />
“As pessoas são más, <strong>de</strong>manda vigiar-lhes o comportamento<br />
sempre”. Ou, em outras palavras, “é preciso cumprir a lei,<br />
porque se não cumpri-la, a transgressão será generalizada” 6 .<br />
Recorta<strong>do</strong> o diagnóstico às organizações policiais, a conclusão<br />
não é divergente: os policiais são servi<strong>do</strong>res públicos,<br />
seleciona<strong>do</strong>s no conjunto da comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>verão servir<br />
e proteger. O mau uso da autorida<strong>de</strong> investida, traduzi<strong>do</strong><br />
em ganhos pessoais, <strong>de</strong>ve ser coibi<strong>do</strong>. Ora, um policial<br />
que aceita propinas faz exatamente o que é pago pelo contribuinte<br />
para evitar. É como um bombeiro que provoca<br />
incêndios ou um médico que dissemina <strong>do</strong>enças 7 .<br />
Daniel Kaufmann, economista chileno, que foi dirigente<br />
<strong>do</strong> Banco Mundial, alertava em 2004 sobre aquilo que<br />
ainda não per<strong>de</strong>u a atualida<strong>de</strong>: “A corrupção na <strong>Polícia</strong> é<br />
um <strong>de</strong>sastre para a economia porque provoca uma explosão<br />
nos índices <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong>. Isso tem um preço alto<br />
para o país. Segun<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Banco Mundial, o custo<br />
<strong>do</strong> crime no Brasil chega a 11% <strong>do</strong> PIB. A conta inclui<br />
gastos com segurança e saú<strong>de</strong> e a morte <strong>de</strong> pessoas em<br />
plena capacida<strong>de</strong> produtiva” 8 .<br />
5 O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. “Admitamos somos corruptos”. Entrevista Bolívar<br />
Lamounier. 13/07/2008.<br />
6 O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. “Admitamos somos corruptos.” Entrevista Bolívar<br />
Lamounier. 13/07/2008.<br />
7 GOLDSTEIN, Herman. Polician<strong>do</strong> uma Socieda<strong>de</strong> Livre. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>:<br />
EDUSP, 2007. p. 239.<br />
8 Veja, revista semanal. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, Editora Abril, nº 42, 20/10/2004, p. 44.<br />
66<br />
É certo que o policial médio, principalmente nas gran<strong>de</strong>s<br />
cida<strong>de</strong>s, convive com o la<strong>do</strong> obscuro da socieda<strong>de</strong>,<br />
submeti<strong>do</strong>, cotidianamente, a uma dieta regular <strong>de</strong> transgressões.<br />
Igualmente correto é que a corrupção é intrínseca<br />
às complexida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> comportamento humano e da<br />
<strong>de</strong>sorganização social.<br />
Todavia, incorre em equívoco aquele que a consi<strong>de</strong>ra<br />
um problema sem solução.<br />
Por mais penoso que seja extinguir toda a corrupção,<br />
está claro que ela po<strong>de</strong> ser reduzida e, em algumas situações<br />
específicas, eliminada 9 .<br />
Passo inicial <strong>de</strong>terminante para o administra<strong>do</strong>r policial é<br />
esquadrinhar a questão da maneira mais abrangente. Individual<br />
e coletivamente com os <strong>de</strong>mais administra<strong>do</strong>res policiais.<br />
A permuta franca <strong>de</strong> visões, experiências e idéias,<br />
po<strong>de</strong> resultar no <strong>de</strong>senvolvimento comum <strong>de</strong> mecanismos<br />
mais efetivos para lidar com o problema.<br />
Para Edmun<strong>do</strong> Oliveira “o primeiro medicamento que<br />
ocorre à mente para a luta contra a <strong>do</strong>ença da corrupção é<br />
a pena, apresentada como contra-estímulo ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
locupletação. Diante da ameaça <strong>de</strong> castigo, o corrupto<br />
pensa e pesa: reflete duas vezes e avalia para ver se compensa<br />
assumir o risco <strong>de</strong> um sofrimento. E se, apesar <strong>de</strong><br />
tu<strong>do</strong>, ele vem a <strong>de</strong>linqüir, a pena imposta serve <strong>de</strong><br />
escarnamento para os <strong>de</strong>mais” 10 .<br />
No entanto, punir somente não basta. É indispensável<br />
prevenir o <strong>de</strong>sajuste, poupan<strong>do</strong> a Instituição Policial <strong>do</strong><br />
9 GOLDSTEIN, Herman. op. cit. p. 277.<br />
10 OLIVEIRA, Edmun<strong>do</strong>. op. cit. p. 135 e 136.
<strong>de</strong>sgaste, <strong>do</strong> <strong>de</strong>scrédito, gera<strong>do</strong> pelos atos <strong>de</strong> corrupção<br />
<strong>de</strong> seus integrantes.<br />
Investir contínua e maciçamente na seleção e na formação<br />
policial indica-se como fórmula eficaz.<br />
Exatamente esse o preciso sentir <strong>do</strong> professor Alberto<br />
Angerami: “Expurgar os indignos não basta. Urge racionalizar<br />
os concursos <strong>de</strong> ingresso. Quem não é bom filho,<br />
bom mari<strong>do</strong>, bom pai, bom vizinho, não será, via <strong>de</strong> conseqüência,<br />
bom policial. Avalie-se o homem através da<br />
investigação social. Exija-se fundamentalmente, como pré-<br />
67<br />
requisito, que o candidato esteja vocaciona<strong>do</strong> para o cargo<br />
que <strong>de</strong>seje ocupar” 11 .<br />
Introduzir e implementar novas idéias policiais realmente<br />
não é tarefa fácil, mas é possível. Muito mais <strong>do</strong> que isso: é<br />
essencial que consigamos oferecer segurança pública elementar<br />
e conquistar a confiança daqueles que estão sen<strong>do</strong><br />
policia<strong>do</strong>s 12 .<br />
Em resumo, vamos atingir a <strong>Polícia</strong> que aspiramos?<br />
Cabe exclusivamente a nós, administra<strong>do</strong>res policiais,<br />
<strong>de</strong>cidir.<br />
11 Apud MINGARDI, Guaracy. Tiras, Gansos e Trutas. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>: Scritta<br />
Editorial, 1991.<br />
12 SKOLNICK, Jerone H. e BAYLEY, David H., Nova <strong>Polícia</strong>: Inovações<br />
na <strong>Polícia</strong> <strong>de</strong> Seis Cida<strong>de</strong>s Norte-Americanas. <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>: EDUSP, 2001.<br />
p. 241.
I<br />
ANEXO I – A INOVAÇÃO<br />
68
1º Seminário sobre Ciências Criminais<br />
promovi<strong>do</strong> pelo <strong>DHPP</strong><br />
Realizou-se, em 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, no auditório<br />
da Escola Superior <strong>de</strong> Advocacia (ESA), o 1º Seminário<br />
sobre Ciências Criminais promovi<strong>do</strong> pelo Departamento<br />
<strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à Pessoa (<strong>DHPP</strong>), com o<br />
apoio cultural da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil,<br />
Secção <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, em cuja oportunida<strong>de</strong> contamos<br />
com a participação <strong>de</strong> ilustres nomes <strong>do</strong> cenário jurídico<br />
nacional.<br />
De início, dissertou o prof. Dr. Luis Flávio Borges D’urso,<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s Advoga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil – Secção<br />
<strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, que falou sobre o tema “Po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> investigação<br />
<strong>do</strong> Ministério Público: mito ou realida<strong>de</strong>?”, causan<strong>do</strong> gran<strong>de</strong><br />
impacto na platéia, que veio a aplaudi-lo <strong>de</strong> pé.<br />
69<br />
Como representante <strong>de</strong> uma das mais renomadas famílias<br />
<strong>de</strong> juristas, o Prof. Dr. Roberto Delmanto Júnior, advoga<strong>do</strong><br />
criminalista, fez, ao <strong>de</strong>pois, sua exposição sobre “O inquérito<br />
policial na visão da <strong>de</strong>fesa”. Detentor <strong>de</strong> profun<strong>do</strong>s conhecimentos<br />
sobre a matéria enfocada, além <strong>de</strong> ora<strong>do</strong>r nato,<br />
<strong>de</strong>spertou singular interesse por suas consi<strong>de</strong>rações.<br />
Representan<strong>do</strong> a Magistratura Paulista, o Prof. Dr. Guilherme<br />
<strong>de</strong> Souza Nucci, juiz <strong>de</strong> direito da Fazenda Pública<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, brin<strong>do</strong>u, em seguida, os presentes<br />
com seu preciso magistério, tratan<strong>do</strong> nesta oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> instigante tema “Provas e júri”.<br />
Por fim, com não menos importância, faz-se necessário<br />
ressaltar a participação <strong>do</strong> Prof. Dr. Luis Geral<strong>do</strong> Sant’Ana<br />
Lanfredi, juiz <strong>de</strong> direito titular da 2ª Vara das Execuções<br />
Criminais, <strong>de</strong> Taubaté, que, <strong>de</strong> forma serena e competente,<br />
mediou a mesa <strong>de</strong> trabalhos.
Dentre os participantes <strong>do</strong> Seminário, cumpre ressaltar,<br />
em um universo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 200 (duzentas) pessoas, a<br />
presença <strong>de</strong> diversas autorida<strong>de</strong>s civis e militares, juntamente<br />
com advoga<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> polícia, professores<br />
universitários, juízes <strong>de</strong> direito, promotores <strong>de</strong> justiça <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e acadêmicos <strong>de</strong> Direito.<br />
Como fruto <strong>do</strong> evento em epígrafe, foi firma<strong>do</strong> convênio<br />
com a Escola Superior <strong>de</strong> Advocacia (ESA), sob a<br />
coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> Dr. Rubens Approbato Macha<strong>do</strong>, que nos<br />
propiciou a garantia <strong>de</strong> vagas para Delega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong><br />
nos cursos <strong>de</strong> pós-graduação daquela escola.<br />
Em termos equivalentes, firmou-se convênio com a Escola Superior<br />
<strong>do</strong> Ministério Público e a Escola Superior da Magistratura.<br />
70<br />
É importante salientar que estas realizações são inova<strong>do</strong>ras<br />
no Departamento <strong>de</strong> Homicídios e <strong>de</strong> Proteção à<br />
Pessoa.<br />
Observe-se que já se encontram regularmente matricula<strong>do</strong>s<br />
nos diversos cursos <strong>de</strong> pós-graduação, ofereci<strong>do</strong>s<br />
pelas instituições <strong>de</strong> ensino sobreditas, <strong>do</strong>is <strong>de</strong>lega<strong>do</strong>s da<br />
divisão <strong>de</strong> homicídios, um <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> da equipe especial e<br />
uma <strong>de</strong>legada da equipe <strong>de</strong> proteção à pessoa.<br />
A realização <strong>de</strong> Cursos e Seminários, bem como o oferecimento<br />
<strong>de</strong> vagas para cursos <strong>de</strong> pós-graduação, têm importância<br />
insofismável para o aprimoramento profissional das autorida<strong>de</strong>s<br />
policiais, bem como a par com intercâmbio com os<br />
diversos segmentos representativos das carreiras jurídicas.
II<br />
ANEXO II – A EVOLUÇÃO<br />
72
De janeiro <strong>de</strong> 2001 ao 1º semestre <strong>de</strong> 2008<br />
1. Manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Prisão Cumpri<strong>do</strong>s<br />
A prevenção especializada aos crimes <strong>de</strong> morte intencionais<br />
resi<strong>de</strong>, ao la<strong>do</strong> da apreensão <strong>de</strong> armas ilegais,<br />
na prisão <strong>de</strong> homicidas habituais, contumazes, verda<strong>de</strong>iros<br />
preda<strong>do</strong>res sociais, cujo encarceramento refletirá na<br />
diminuição <strong>do</strong>s homicídios em sua correspon<strong>de</strong>nte área<br />
<strong>de</strong> atuação.<br />
Prisão e captura, termos que ora serão utiliza<strong>do</strong>s, abrangem<br />
as custódias efetuadas em flagrante e aquelas<br />
resultantes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m judicial, isto é, <strong>de</strong> manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> prisão.<br />
No ano 2000, temos registro <strong>de</strong> 165 (cento e sessenta e<br />
cinco) prisões efetuadas.<br />
No ano seguinte, 2001, foram realizadas 368 (trezentos<br />
e sessenta e oito) prisões, o que significa um aumento<br />
sensível <strong>de</strong> 123%.<br />
Em 2002, verificaram-se 583 (quinhentos e oitenta e três)<br />
prisões, principalmente <strong>de</strong> homicidas e latrocidas, indican<strong>do</strong><br />
elevação <strong>de</strong> 58,4% relativamente ao ano antece<strong>de</strong>nte.<br />
No exercício <strong>de</strong> 2003, foram 1.234 (um mil, duzentas e<br />
trinta e quatro) prisões, resultan<strong>do</strong> em um aumento <strong>de</strong><br />
111,7%, em comparação ao idêntico perío<strong>do</strong> prece<strong>de</strong>nte.<br />
Já no ano <strong>de</strong> 2004, tivemos a formidável marca <strong>de</strong> 1.437<br />
(um mil, quatrocentos e trinta e sete) capturas, o que revela<br />
variação <strong>de</strong> 16,5% em relação ao ano anterior e <strong>de</strong> 770,9%<br />
sobre o ano <strong>de</strong> 2000.<br />
Em 2005, foram realizadas 1.141 (um mil, cento e quarenta<br />
e uma) prisões, que contrastadas com as <strong>de</strong> 2000<br />
representam um incremento percentual <strong>de</strong> 591,5%. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se<br />
o total <strong>de</strong> prisões em relação ao número <strong>de</strong><br />
73<br />
homicídios ocorri<strong>do</strong>s em 2005 visualiza-se um aumento<br />
da eficácia policial.<br />
No ano <strong>de</strong> 2006, foram executadas 861 (oitocentas e<br />
sessenta e uma) prisões. Em 2007, foram 639 (seiscentas e<br />
trinta e nove).<br />
2000<br />
1800<br />
1600<br />
1400<br />
1200<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
30,7<br />
368<br />
583<br />
48,6<br />
Manda<strong>do</strong>s/Prisões - <strong>DHPP</strong><br />
Quantida<strong>de</strong> e média mensal<br />
102,8<br />
1.234<br />
119,8<br />
1.437<br />
95,1<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007<br />
2. Esclarecimentos<br />
No ano <strong>de</strong> 2001 contabilizou-se o índice <strong>de</strong> 20,4% <strong>de</strong><br />
esclarecimentos. No ano <strong>de</strong> 2002 registrou-se 23,1%. Em<br />
2003 chegamos ao índice <strong>de</strong> 30,4%. No ano <strong>de</strong> 2004,<br />
conquistamos a marca <strong>de</strong> 48,2% <strong>de</strong> esclarecimentos, o<br />
que exprime 4,26 resoluções por dia, em média, caben<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>stacar, ainda, um incremento <strong>de</strong> 60% no índice <strong>de</strong><br />
esclarecimentos <strong>de</strong> homicídios, comparan<strong>do</strong>-se os exercícios<br />
<strong>de</strong> 2002 e 2003, ten<strong>do</strong> em conta que, em 2002, apurouse<br />
a autoria <strong>de</strong> 975 (novecentos e setenta e cinco) casos<br />
e, no ano subseqüente (2003), <strong>de</strong>sven<strong>do</strong>u-se a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>s autores em 1.560 (um mil, quinhentos e sessenta) eventos.<br />
1.141<br />
71,8<br />
861<br />
53,3<br />
639<br />
130<br />
110<br />
90<br />
70<br />
50<br />
30<br />
10<br />
-10
Em 2004, repetiu-se o índice <strong>de</strong> mais 1.560 (um mil, quinhentos<br />
e sessenta) esclarecimentos.<br />
Em 2005 foram 1.388 (um mil, trezentos e oitenta e oito)<br />
esclarecimentos: uma pequena redução <strong>de</strong>corrente da severa<br />
diminuição <strong>do</strong> acervo cartorário em relação ao ano<br />
anterior, mas, ainda assim, atingin<strong>do</strong> o índice <strong>de</strong> 65,5%<br />
em face <strong>do</strong> total <strong>de</strong> inquéritos em andamento.<br />
Em 2006 foram esclareci<strong>do</strong>s 1.032 (um mil e trinta e<br />
<strong>do</strong>is) casos, o que significou uma média <strong>de</strong> 2,8 esclarecimentos<br />
por dia e um percentual <strong>de</strong> 56%. Em 2007 foram<br />
704 (setecentos e quatro) esclarecimentos, perfazen<strong>do</strong> uma<br />
média diária <strong>de</strong> 1,9 e o índice <strong>de</strong> 46,9%, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
a mesma meto<strong>do</strong>logia.<br />
Vale dizer que os índices anuais <strong>de</strong> esclarecimento <strong>de</strong><br />
autoria <strong>de</strong>litiva provêm da divisão <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> inquéritos<br />
policiais em trâmite no <strong>DHPP</strong> (incluin<strong>do</strong> aqueles aqui<br />
74<br />
diretamente instaura<strong>do</strong>s em razão <strong>do</strong> atendimento a locais<br />
<strong>de</strong> crime e os procedimentos proce<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong><br />
<strong>Polícia</strong> Judiciária <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (DECAP), Departamento<br />
<strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Judiciária da Macro <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> (DEMACRO) e<br />
Departamento <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> Judiciária <strong>do</strong> Interior (DEINTER)<br />
pelo número total <strong>de</strong> esclarecimentos, no correspon<strong>de</strong>nte<br />
perío<strong>do</strong>. No que alu<strong>de</strong> especificamente ao DECAP, por<br />
iniciativa <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, são recepciona<strong>do</strong>s por suas unida<strong>de</strong>s<br />
especializadas to<strong>do</strong>s os inquéritos policiais sobre homicídios<br />
<strong>do</strong>losos, mesmo que sobrevenha a morte da vítima<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> socorro médico (Portaria DGP-22, <strong>de</strong> 31/03/<br />
2006). Aten<strong>de</strong> também o <strong>DHPP</strong>, ainda no âmbito <strong>do</strong><br />
DECAP, os homicídios <strong>do</strong>losos cuja vítima seja agente público,<br />
as tentativas <strong>de</strong> homicídio e, na órbita <strong>do</strong> DEMACRO,<br />
as chacinas ali praticadas (Portarias DGP-22 <strong>de</strong> 23/4/2007<br />
e DGP-5 <strong>de</strong> 14/04/2008).<br />
Esclarecimentos pela Divisão <strong>de</strong> Homicídios<br />
Inquéritos Inquéritos<br />
instaura<strong>do</strong>s em<br />
Ano pelo <strong>DHPP</strong> andamento* Esclarecimentos** %<br />
2001 1.970 5.664 1.158 20,4<br />
2002 1.991 4.213 975 23,1<br />
2003 1.845 5.128 1.560 30,4<br />
2004 1.649 3.236 1.560 48,2<br />
2005 1.235 2.119 1.388 65,5<br />
2006 985 1.844 1.032 56<br />
2007 806 1.499 704 46,9<br />
Total 34.184<br />
Média 3.386,10 1.196,70
6.000<br />
5.000<br />
4.000<br />
3.000<br />
2.000<br />
1.000<br />
0<br />
Esclarecimentos – Divisão <strong>de</strong> Homicídios<br />
Inquéritos instaura<strong>do</strong>s Inquéritos Esclarecimentos<br />
pelo <strong>DHPP</strong> em andamento<br />
2001<br />
2002<br />
2003<br />
2004<br />
2005<br />
2006<br />
2007<br />
3. Homicídios Cometi<strong>do</strong>s na Capital nos Finais <strong>de</strong><br />
Semana<br />
Aludin<strong>do</strong> aos homicídios <strong>do</strong>losos verifica<strong>do</strong>s exclusivamente<br />
nos finais <strong>de</strong> semana, temos, no ano <strong>de</strong> 2004, 1.710<br />
75<br />
(um mil, setecentos e <strong>de</strong>z) mortos, com 32,9 em média<br />
nos finais <strong>de</strong> semana. Em contrapartida, em 2005, suce<strong>de</strong>ram<br />
1.281 (um mil, duzentos e oitenta e uma) mortes,<br />
resultan<strong>do</strong> na média <strong>de</strong> 24,6 nos finais <strong>de</strong> semana, ou<br />
seja, um <strong>de</strong>créscimo consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> 25,1%. Em 2006<br />
essa média <strong>de</strong>spencou para 18,8. E continuou a cair no<br />
ano seguinte: em 2007, foram 730 (setecentas e trinta)<br />
vítimas fatais, perfazen<strong>do</strong> uma média <strong>de</strong> 14 nos finais<br />
<strong>de</strong> semana.<br />
Levan<strong>do</strong>-se em conta o ano <strong>de</strong> 2000, quan<strong>do</strong> houve<br />
2.727 (<strong>do</strong>is mil, setecentos e vinte e sete) óbitos, em comparação<br />
com o ano <strong>de</strong> 2007, que assinalou 730 (setecentas<br />
e trinta) <strong>de</strong>ssas ocorrências, a queda chega a 73,2%.<br />
Média mensal<br />
Números <strong>de</strong> mortos por<br />
Ano <strong>de</strong> mortos final <strong>de</strong> semana Variação<br />
2001 2.604 50,1 -2,5%<br />
2002 2.440 46,9 -6,4%<br />
2003 2.174 41,8 -10,9%<br />
2004 1.710 32,9 -21,3%<br />
2005 1.281 24,6 -25,1%<br />
2006 978 18,8 -23,5%<br />
2007 730 14,0 -25,5%
4000<br />
3500<br />
3000<br />
2500<br />
2000<br />
1500<br />
1000<br />
500<br />
0<br />
46,6<br />
50,1<br />
2422<br />
2604<br />
46,9<br />
43,8<br />
Homicídios Dolosos / Vítimas em finais <strong>de</strong> semana<br />
2280<br />
2440<br />
41,8<br />
HD<br />
39,4 32,9<br />
Vítimas<br />
30,9 24,6<br />
23,4<br />
18,8<br />
17,5<br />
14<br />
12,9<br />
2049<br />
2174<br />
1607<br />
1710<br />
1216<br />
1281<br />
909<br />
978<br />
671<br />
730<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007<br />
4. Homicídios Múltiplos (Chacinas) Ocorri<strong>do</strong>s na<br />
Capital<br />
Em 2001, ocorreram 43 (quarenta e três) chacinas, 40<br />
(quarenta) das quais esclarecidas, um percentual <strong>de</strong> 93%.<br />
Em 2002, aconteceram 40 (quarenta) homicídios múltiplos,<br />
sen<strong>do</strong> 39 (trinta e nove) <strong>de</strong>svenda<strong>do</strong>s, isto é, 97,5%.<br />
Em 2003, tem-se registro <strong>de</strong> 23 (vinte e três) ocorrências,<br />
com 22 (vinte e duas) resolvidas, ou seja, 95,7%.<br />
De sua vez, em 2004, foram 22 (vinte e duas) ocorrências<br />
<strong>de</strong>ssa natureza, com 20 (vinte) resoluções, o que significa um<br />
percentual <strong>de</strong> 90,9%.<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
76<br />
No ano <strong>de</strong> 2005, foram 15 (quinze) chacinas, das quais<br />
14 (quatorze) restaram elucidadas, o que representou um<br />
percentual <strong>de</strong> 93,3%.<br />
Em 2006, tivemos 21 (vinte e uma) ocorrências <strong>de</strong> homicídios<br />
múltiplos, das quais 15 (quinze) foram esclarecidas,<br />
ou seja, 71,5%.<br />
E, no ano <strong>de</strong> 2007, ocorreram 13 (treze) chacinas, das<br />
quais 9 (nove) foram elucidadas, perfazen<strong>do</strong> um percentual<br />
<strong>de</strong> quase 70% <strong>de</strong> ocorrências esclarecidas.<br />
Cabe acentuar que a diminuição <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong><br />
criminosa, consignada no ano <strong>de</strong> 2003, foi da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
42,5%, <strong>de</strong> mais 4,35% em 2004 e <strong>de</strong> mais 31,82% em<br />
2005. Atingiu, em 2007, a marca <strong>de</strong> 38% a menos <strong>de</strong><br />
ocorrências <strong>de</strong> homicídios múltiplos em relação ao ano<br />
anterior.<br />
Saliente-se, por oportuno, que <strong>do</strong>s 177 (cento e setenta<br />
e sete) homicídios múltiplos havi<strong>do</strong>s nos últimos sete anos,<br />
159 (cento e cinqüenta e nove) foram esclareci<strong>do</strong>s no curso<br />
<strong>do</strong> ano da ocorrência, o que não significa que os <strong>de</strong>mais<br />
casos não tenham si<strong>do</strong> elucida<strong>do</strong>s.<br />
Chacinas – esclarecimentos<br />
Quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Ano chacinas Esclarecimentos % Autores i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s Autores presos<br />
2001 43 40 93 75 24<br />
2002 40 39 97,5 89 32<br />
2003 23 22 95,7 32 11<br />
2004 22 20 90,9 40 12<br />
2005 15 14 93,3 25 7<br />
2006 21 15 71,4 35 13<br />
2007 13 9 69,2 15 2
160<br />
140<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
43<br />
154<br />
Chacinas<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007<br />
93<br />
25<br />
40<br />
134<br />
43 40 40 39<br />
21<br />
23<br />
97,5 95,7<br />
80<br />
11<br />
22<br />
Chacinas<br />
Vítimas<br />
Sobreviventes<br />
76<br />
5. Homicídios Dolosos Cometi<strong>do</strong>s na Capital<br />
O índice <strong>de</strong> homicídios <strong>do</strong>losos na Capital, assim como<br />
<strong>de</strong> resto em to<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, tem <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong><br />
consistente queda numérica.<br />
Os da<strong>do</strong>s aferi<strong>do</strong>s em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2000 revelam<br />
5.327 (cinco mil, trezentas e vinte e sete) ocorrências. O<br />
ano <strong>de</strong> 2001, aponta o cometimento <strong>de</strong> 5.174 (cinco<br />
81<br />
20<br />
15<br />
Chacinas – Esclarecimentos<br />
90,9<br />
Chacinas<br />
Esclarecimentos<br />
23 22 22 20<br />
93,3<br />
15 14<br />
55<br />
17<br />
21<br />
7<br />
71,4 69,2<br />
21<br />
15<br />
13<br />
13<br />
9<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007<br />
53<br />
10<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
77<br />
mil, cento e setenta e quatro) assassinatos. Em 2002 foram<br />
4.631 (quatro mil, seiscentos e trinta e um). Em 2003,<br />
4.268 (quatro mil, duzentos e sessenta e oito). O ano <strong>de</strong><br />
2004 registrou a ocorrência <strong>de</strong> 3.368 (três mil, trezentos<br />
e sessenta e oito) homicídios. Em 2005 foram 2.469<br />
(duas mil, quatrocentas e sessenta e nove) ocorrências, o<br />
que quer dizer uma média mensal <strong>de</strong> 205,75 ou diária<br />
<strong>de</strong> 6,8. Em 2006 ocorreram 1.985 homicídios. Em 2007<br />
foram 1.538 (um mil, quinhentas e trinta e oito) ocorrências<br />
<strong>de</strong> homicídio, resultan<strong>do</strong> numa média mensal <strong>de</strong><br />
aproximadamente 128 ou diária <strong>de</strong> 4,2.<br />
Ao compararmos os da<strong>do</strong>s correspon<strong>de</strong>ntes a <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 2000 (5.327 eventos) com os <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
2007 (1.538), temos menos 3.789 (três mil, setecentas e<br />
oitenta e nove) mortes cometidas no último ano (2007),<br />
simbolizan<strong>do</strong> uma diminuição <strong>de</strong> 71,12%.<br />
6.000<br />
5.000<br />
4.000<br />
3.000<br />
2.000<br />
1.000<br />
0<br />
49,3<br />
5.174<br />
43,74<br />
4.631<br />
Homicídio Doloso – Capital<br />
40,2<br />
4.268<br />
31,87<br />
3.368<br />
23,98<br />
19,06<br />
14,2<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007<br />
2.469<br />
1.985<br />
1.538<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0
Variação Taxa por<br />
Ano Quantida<strong>de</strong> (%) 100 mil habitantes<br />
2001 5.174 -2,9 49,3<br />
2002 4.631 -10,5 43,74<br />
2003 4.268 -7,8 40,2<br />
2004 3.368 -21,1 31,87<br />
2005 2.469 -26,7 23,98<br />
2006 1.985 -19,6 19,06<br />
2007 1.538 -23,5 14,2<br />
Quanto à Capital, temos, no 1º semestre <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2007,<br />
777 (setecentas e setenta e sete) ocorrências. Em<br />
contrapartida, em igual perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2008, suce<strong>de</strong>ram 630<br />
(seiscentos e trinta) registros <strong>de</strong> homicídios <strong>do</strong>losos, resultan<strong>do</strong><br />
num <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> 19%.<br />
6. A Divisão <strong>de</strong> Proteção à Pessoa<br />
A Divisão <strong>de</strong> Proteção à Pessoa também alcançou expressivos<br />
resulta<strong>do</strong>s no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s últimos anos.<br />
Importante ressaltar o trabalho realiza<strong>do</strong> por sua 3ª Delegacia<br />
<strong>de</strong> Proteção a Testemunhas e Vítimas Supérstites,<br />
que em 2007 se incumbiu <strong>do</strong> abrigo <strong>de</strong> 29 (vinte e nove)<br />
indivíduos e da realização da escolta <strong>de</strong> 235 (duzentas e<br />
trinta e cinco) pessoas.<br />
A 2ª Delegacia <strong>de</strong> Pessoas Desaparecidas alcançou, no<br />
referi<strong>do</strong> ano, expressivo resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 82,9% <strong>de</strong> esclarecimentos,<br />
o que representou um número bastante eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
pessoas encontradas ou que simplesmente reapareceram.<br />
Sim, porque, em média, em 2007, <strong>de</strong>sapareceram no Esta<strong>do</strong><br />
78<br />
<strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> aproximadamente 1.824 (um mil, oitocentas<br />
e vinte e quatro) pessoas por mês, ou quase 21.890 (vinte<br />
e uma mil, oitocentas e noventa) por ano. Somente na Capital,<br />
no mesmo perío<strong>do</strong>, sumiram 572 (quinhentas e setenta<br />
e duas) pessoas, em média, por mês, perfazen<strong>do</strong> o total <strong>de</strong><br />
6.866 (seis mil, oitocentas e sessenta e seis) no ano. No 1º<br />
semestre <strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong>sapareceram 10.569 (<strong>de</strong>z mil, quinhentas<br />
e sessenta e nove) pessoas, sen<strong>do</strong> que já foram<br />
reencontradas 9.134 (nove mil, cento e trinta e quatro) <strong>de</strong>las,<br />
o que representa um índice <strong>de</strong> esclarecimento em torno<br />
<strong>de</strong> 86,5%. Só na Capital foram registra<strong>do</strong>s 3.191 (três mil,<br />
cento e noventa e um <strong>de</strong>saparecimentos.<br />
Convém mencionar, também, o exitoso convênio firma<strong>do</strong><br />
entre o Departamento <strong>de</strong> Medicina Legal, Ética Médica e<br />
Medicina Social e <strong>do</strong> Trabalho da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina<br />
da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e o <strong>DHPP</strong>, por intermédio <strong>de</strong><br />
sua Divisão <strong>de</strong> Proteção à Pessoa – 2ª Delegacia <strong>de</strong> Pessoas<br />
Desaparecidas, que propiciou a edificação <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong>no-
mina<strong>do</strong> “Caminho <strong>de</strong> Volta”, <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a manter banco <strong>de</strong><br />
da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> áci<strong>do</strong> <strong>de</strong>soxirribonucléico (DNA,<br />
<strong>de</strong>oxyribonucleic acid) <strong>de</strong> parentes <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>saparecidas,<br />
precisamente crianças e a<strong>do</strong>lescentes, auxilian<strong>do</strong> na<br />
elucidação <strong>de</strong>sses casos, por meio <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logias que envolvem<br />
a área da Psicologia, da Biologia Molecular, da<br />
Genética, da Bioinformática e da Telemedicina.<br />
79<br />
O Projeto abrange quatro eixos fundamentais: a) a i<strong>de</strong>ntificação<br />
das causas <strong>do</strong> <strong>de</strong>saparecimento; b) a criação <strong>de</strong><br />
um banco <strong>de</strong> DNA <strong>do</strong>s pais e irmãos da pessoa <strong>de</strong>saparecida;<br />
c) o suporte psicossocial às famílias <strong>de</strong> crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong>s e; d) a capacitação <strong>de</strong> profissionais<br />
envolvi<strong>do</strong>s no sistema <strong>de</strong> garantia <strong>do</strong>s direitos da<br />
criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente.
III<br />
ANEXO III – A REPERCUSSÃO<br />
80
Arsenal é apreendi<strong>do</strong> na zona sul<br />
Boletim <strong>de</strong> Ocorrência – FLAGRANTE – nº: 823/2007<br />
Natureza: Posse ou porte <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong> uso restrito<br />
/ Posse ilegal <strong>de</strong> munição ou acessório <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo /<br />
Tráfico <strong>de</strong> entorpecentes / Outros<br />
Data: 23/11/2007<br />
Local: Rua Antonio <strong>de</strong> Barros da Silva, nº 09 – <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, SP<br />
Autores: Alessandra Aparecida da Silva / Douglas Luis<br />
da Conceição / Maria Aparecida da Conceição<br />
A relevância da <strong>de</strong>núncia anônima se verifica neste caso:<br />
era dia 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2.007, quan<strong>do</strong> uma equipe <strong>de</strong><br />
policiais da Divisão <strong>de</strong> Homicídios <strong>de</strong>ixou a base <strong>de</strong> trabalho<br />
disposta a pren<strong>de</strong>r o indivíduo <strong>de</strong> vulgo “Perninha”, assassino<br />
<strong>de</strong> um policial civil, cuja morte ocorrera no município <strong>de</strong> Santos,<br />
litoral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>; conforme a <strong>de</strong>núncia, tal indivíduo residiria<br />
na Rua Antônio <strong>de</strong> Barros Silva, nº 09, nesta capital.<br />
Chegan<strong>do</strong> à residência <strong>do</strong> suspeito, surpreen<strong>de</strong>ram-se<br />
os policiais ao localizar duas metralha<strong>do</strong>ras calibre .9mm,<br />
duas espingardas calibre 12 e um fuzil; além <strong>de</strong> vasta quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> munição <strong>de</strong> vários calibres e inúmeros<br />
carrega<strong>do</strong>res <strong>de</strong> armas. Não bastasse o arsenal encontra<strong>do</strong>,<br />
foi apreendida ainda gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e varieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> substâncias entorpecentes, <strong>de</strong>ntre elas, maconha, cocaína,<br />
crack e ecstasy, além <strong>de</strong> artefatos utiliza<strong>do</strong>s no preparo<br />
e úteis a distribuição e comércio da droga (balanças, tesouras,<br />
prensa, embalagens, produtos químicos, etc.), bem como<br />
celulares e dinheiro em moeda corrente (R$ 1.165,51), os<br />
quais estavam em um closet, semi-acaba<strong>do</strong>, no interior <strong>de</strong><br />
um quarto, com exceção da prensa, ocultada no quintal.<br />
81<br />
Douglas Luís da Conceição, também conheci<strong>do</strong> por<br />
“Perninha”, não se encontrava em casa no momento da<br />
diligência, ten<strong>do</strong> sua prisão preventiva <strong>de</strong>cretada, porém<br />
encontrava-se ali a mãe <strong>de</strong> Douglas, Maria Aparecida da<br />
Conceição, que na ausência <strong>de</strong>ste respondia pelo comércio<br />
da droga. Maria foi presa e autuada em flagrante.<br />
Ressalta-se que as armas apreendidas foram utilizadas no<br />
resgate <strong>de</strong> cinco presos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cubatão, estes pertencentes<br />
à quadrilha <strong>de</strong> Douglas.<br />
Após exibição e apreensão, o entorpecente foi encaminha<strong>do</strong><br />
ao Instituto <strong>de</strong> Criminalística, cujo Lau<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Constatação atestou tratar-se <strong>de</strong> 1.632,6 gramas <strong>de</strong> maconha;<br />
3.037,5 gramas <strong>de</strong> cocaína e 41 gramas <strong>de</strong> ecstasy.<br />
Preso mata<strong>do</strong>r <strong>de</strong> escrivão e agente<br />
penitenciário<br />
Inquérito Policial nº: 253/2006<br />
Natureza: Homicídio <strong>do</strong>loso<br />
Data: 12/05/2006<br />
Local: Rua Professor Barroso <strong>do</strong> Amaral × Rua Com. Bras<br />
Dias <strong>de</strong> Aguiar – Jardim Ângela<br />
Vítimas: Ailton Carlos <strong>de</strong> Santana (Escrivão <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong>) /<br />
Edílson da Silva Santana<br />
Autores: Leandro Souza Matos <strong>de</strong> Menezes / José Euzébio<br />
Dias Filho / Everal<strong>do</strong> Amaro Gomes<br />
Equipe Responsável: A-SUL da 1ª Delegacia da Divisão<br />
<strong>de</strong> Homicídios<br />
Outros casos <strong>de</strong> repercussão social esclareci<strong>do</strong>s pelo Departamento<br />
<strong>de</strong> Homicídios, envolven<strong>do</strong> a morte <strong>de</strong> agentes
públicos, no caso um Escrivão <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> e um Agente Penitenciário,<br />
tiveram investigações <strong>de</strong>senvolvidas pelas equipes<br />
A-Sul e F-Leste, que num trabalho em conjunto pren<strong>de</strong>ram<br />
Leandro Souza Matos, integrante ativo e po<strong>de</strong>roso da facção<br />
criminosa PCC, responsável por arrecadação <strong>de</strong> dinheiro<br />
e escolha <strong>de</strong> alvos humanos da referida organização ilegal.<br />
O fio da meada da investigação da morte <strong>do</strong> Escrivão<br />
Ailton começou com a prisão <strong>de</strong> Everal<strong>do</strong> Amaro Gomes,<br />
vulgo “Mico”, reconheci<strong>do</strong> por testemunhas como sen<strong>do</strong> o<br />
responsável pela condução e auxílio na fuga <strong>de</strong> Lê e Alemão<br />
(João Euzébio Dias Filho), assassinos <strong>do</strong> policial. O<br />
crime, como toda ação <strong>de</strong> Lê, teve requintes <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong>,<br />
pois foram dispara<strong>do</strong>s <strong>de</strong>z tiros contra a vítima pelas costas.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, policiais da equipe F-Leste i<strong>de</strong>ntificaram<br />
Lê como autor <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> homicídio <strong>do</strong> agente penitenciário,<br />
Nilton Celestino. Além <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>is bárbaros crimes, Lê<br />
é acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> outros sete crimes <strong>de</strong> homicídio.<br />
Homicídio na mansão <strong>do</strong>s Mansur<br />
Inquérito Policial nº: 2100/2007<br />
Natureza: Roubo segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> morte<br />
Local: Rua Ampélio Dionísio Zochi, nº 136 – Morumbi<br />
Data: 08/12/2007<br />
Vítima: Élson Alves da Silva<br />
Autores: Val<strong>de</strong>ci Montes / Val<strong>de</strong>vino Montes / Valmir Monti<br />
Equipe Responsável: H-SUL, da 1ª Delegacia da Divisão<br />
<strong>de</strong> Homicídios<br />
Val<strong>de</strong>ci Montes trabalhava como caseiro numa rica residência<br />
no bairro <strong>do</strong> Morumbi, em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, proprieda<strong>de</strong><br />
82<br />
<strong>do</strong> banqueiro Ricar<strong>do</strong> Mansur, pessoa da socieda<strong>de</strong> que<br />
ficou conhecida após adquirir as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lojas Mappin e<br />
Mesbla, ambas extintas por processo <strong>de</strong> falência.<br />
A vivência <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>ci em meio à luxuosa casa <strong>de</strong>spertou-lhe<br />
a cobiça por seu mobiliário e acessórios caros,<br />
fazen<strong>do</strong>-o planejar e combinar com seus <strong>do</strong>is irmãos um<br />
assalto ao imóvel.<br />
O ganancioso caseiro esperou um dia em que os patrões<br />
estivessem viajan<strong>do</strong> para dar acesso à mansão a seus<br />
<strong>do</strong>is irmãos, Val<strong>de</strong>vino, 42 anos, e Valmir, 32 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
simulan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta maneira um falso roubo. Conforme o<br />
combina<strong>do</strong>, a dupla ren<strong>de</strong>ria os outros <strong>do</strong>is emprega<strong>do</strong>s<br />
da casa, o porteiro e o copeiro Élson, carregaria <strong>do</strong>is veículos<br />
da família com objetos escolhi<strong>do</strong>s e Val<strong>de</strong>ci po<strong>de</strong>ria<br />
controlar toda a situação, fazen<strong>do</strong>-se passar por vítima.<br />
Entretanto, o crime não saiu como o espera<strong>do</strong>, pois o<br />
copeiro, Élson Alves da Silva, <strong>de</strong> 46 anos, <strong>de</strong>monstrou uma<br />
valentia fora <strong>do</strong> comum. Élson estava em seu quarto, preparan<strong>do</strong>-se<br />
para <strong>do</strong>rmir, quan<strong>do</strong> Valmir chegou<br />
sorrateiramente e anunciou o assalto. O copeiro perceben<strong>do</strong><br />
que o ladrão estava <strong>de</strong>sarma<strong>do</strong>, não se ren<strong>de</strong>u e<br />
empreen<strong>de</strong>u com o bandi<strong>do</strong> uma luta ferrenha, a violência<br />
<strong>do</strong> embate foi tanta que a cama <strong>do</strong> quarto partiu-se ao<br />
meio. Valmir, a certa altura, armou-se <strong>de</strong> uma pequena tesoura,<br />
<strong>de</strong>sferin<strong>do</strong> golpes na vítíma que não se rendia <strong>de</strong><br />
maneira nenhuma, ensejan<strong>do</strong> a intervenção <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vino,<br />
que <strong>de</strong> início fora golpea<strong>do</strong> por Élson com a tesoura tomada<br />
<strong>do</strong> outro, porém, a <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> lutar contra <strong>do</strong>is<br />
agressores levou Élson a <strong>de</strong>smaiar após receber vários<br />
golpes com um pedaço da cama; os golpes foram tão violentos<br />
que quebraram a ma<strong>de</strong>ira no meio.
To<strong>do</strong> esse barulho <strong>de</strong>spertou o porteiro, que <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> a<br />
guarita e no caminho <strong>de</strong> verificar o que ocorria, foi surpreendi<strong>do</strong><br />
pela dupla, agora arma<strong>do</strong>s com uma espingarda<br />
que encontraram na casa. O porteiro foi imobiliza<strong>do</strong> e<br />
<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> amarra<strong>do</strong> num banheiro.<br />
Enquanto isso, Élson acor<strong>do</strong>u e cambalean<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou o<br />
seu quarto, tentou acionar a cerca elétrica e escon<strong>de</strong>r-se na<br />
caixa d´água, após perceber toda a trama. Val<strong>de</strong>ci covar<strong>de</strong>mente<br />
ficou escondi<strong>do</strong> no jardim, enquanto os irmãos<br />
passaram a caçar o copeiro que foi finalmente encontran<strong>do</strong><br />
em seu escon<strong>de</strong>rijo. A dupla, agora armada, enfrentou<br />
novamente o copeiro, que não se rendia, e após novo embate,<br />
um tiro foi dispara<strong>do</strong>, acertan<strong>do</strong> a perna da vítima,<br />
até que, finalmente <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>, foi lança<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma altura<br />
<strong>de</strong> seis metros, vin<strong>do</strong> a estatelar-se no chão.<br />
Val<strong>de</strong>ci tentou dar continuida<strong>de</strong> à farsa, <strong>do</strong>is veículos<br />
foram rouba<strong>do</strong>s, no entanto, os ladrões passaram a espalhar<br />
pistas. Primeiro ambos <strong>de</strong>ixaram os carros rouba<strong>do</strong>s<br />
nas proximida<strong>de</strong>s da casa <strong>do</strong>s pais <strong>de</strong>les, sen<strong>do</strong> vistos<br />
por inúmeras testemunhas, <strong>de</strong>pois fizeram uso <strong>de</strong> um veículo<br />
da família para se socorrerem ao hospital e finalmente<br />
o covar<strong>de</strong> Val<strong>de</strong>ci, que no dia seguinte <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ir trabalhar<br />
e ao receber os policiais na casa <strong>de</strong> seus pais,<br />
confessou o crime.<br />
Quadrilha <strong>de</strong> peruanos é presa por tráfico<br />
Inquérito Policial nº: 1801/2007<br />
Natureza: Tráfico <strong>de</strong> entorpecentes e associação para o<br />
tráfico<br />
Data: 10/10/2007<br />
83<br />
Local: Rua Ribeiro da Silva, nº 797 – Barra Funda<br />
Autores: José Luis Alarcon Lucero / Ricar<strong>do</strong> Eduar<strong>do</strong><br />
Escalarte Cuadros / Carlos Alberto Alarcon Lucero / Alfonso<br />
Martins Alarcon Lucero / Ray Edgar Romero Guete /<br />
Jorge Fernan<strong>de</strong>z Danino / Roberto Herman Dias Olivarez<br />
Equipe: B-SUL, da 1ª Delegacia da Divisão <strong>de</strong> Homicídios<br />
Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> uma investigação acerca <strong>de</strong> um quádruplo<br />
homicídio <strong>do</strong>loso, investiga<strong>do</strong> nos autos <strong>do</strong> Inquérito<br />
Policial número 899/2007, foi realizada interceptação telefônica,<br />
concedida judicialmente nos autos <strong>de</strong>ste inquérito,<br />
em trâmite pela Equipe B-SUL.<br />
A equipe <strong>de</strong> investigação conseguiu i<strong>de</strong>ntificar os<br />
indicia<strong>do</strong>s supracita<strong>do</strong>s e no dia 10/10/2007 logrou<br />
prendê-los. Apurou-se que estavam envolvi<strong>do</strong>s no crime <strong>de</strong><br />
tráfico <strong>de</strong> entorpecentes e associação para o tráfico, infringin<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>sta forma o disposto previsto nos artigos 33 e 35<br />
da lei 11.343/06.<br />
Na data da prisão, foi encontrada a quantida<strong>de</strong> aproximada<br />
<strong>de</strong> 18kg <strong>de</strong> cocaína, duas toneladas e meia <strong>de</strong><br />
maconha e um revólver calibre 38, <strong>de</strong>ntre outros objetos<br />
pessoais <strong>do</strong>s indicia<strong>do</strong>s que também foram apreendi<strong>do</strong>s<br />
pela equipe.<br />
Maníaco da Cantareira<br />
Inquérito Policial nº: 1683/2007<br />
Natureza: Homicídio <strong>do</strong>loso<br />
Data: Incerta (provavelmente 23/09/2007)<br />
Local: Matagal localiza<strong>do</strong> no Jd. Paraná, próximo à rua<br />
João Meira, na Serra da Cantareira
Vítimas: Francisco Ferreira <strong>de</strong> Oliveira Neto (14 anos) /<br />
Josenil<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Oliveira (13 anos)<br />
Autor: A<strong>de</strong>mir Oliveira Rosário<br />
Equipe: Grupo Especial <strong>de</strong> Crimes Contra a Criança e o<br />
A<strong>do</strong>lescente<br />
A megalópole <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> é capaz <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
seus habitantes a maior floresta urbana <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Serpenteiam<br />
os 79 milhões <strong>de</strong> metros quadra<strong>do</strong>s da Serra<br />
da Cantareira trilhas por árvores centenárias sombreadas,<br />
cuja beleza foi capaz <strong>de</strong> seduzir os irmãos Francisco e<br />
Josenil<strong>do</strong>, <strong>de</strong> 14 e 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, respectivamente.<br />
Era sába<strong>do</strong>, dia 22 <strong>de</strong> setembro, quan<strong>do</strong> saíram <strong>de</strong><br />
casa rumo à mata, buscavam colher uma jaca. Não<br />
retornaram.<br />
Os corpos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is a<strong>do</strong>lescentes foram encontra<strong>do</strong>s<br />
embrenha<strong>do</strong>s na mata atlântica, cuja remoção só foi<br />
possível com o uso <strong>de</strong> helicóptero. Estavam <strong>de</strong>snu<strong>do</strong>s,<br />
apresentavam várias perfurações e indícios <strong>de</strong> violência<br />
sexual.<br />
A repercussão <strong>do</strong> <strong>de</strong>lito ensejou várias <strong>de</strong>núncias.<br />
Horas <strong>de</strong>pois restava uma alcunha: “Mudinho”.<br />
No mesmo dia, um retrato fala<strong>do</strong> <strong>de</strong>screvia o autor como<br />
sen<strong>do</strong> um homem <strong>de</strong> compleição forte, <strong>de</strong> cor negra e cabelos<br />
curtos.<br />
Antes <strong>do</strong> pôr <strong>do</strong> sol, individualizada a residência <strong>de</strong> um<br />
indivíduo que respondia pela alcunha <strong>de</strong> “Mudinho”, <strong>de</strong><br />
forma velada a equipe <strong>de</strong> investigação começou a fazer<br />
entrevistas, até que, surpreen<strong>de</strong>mentemente, o irmão daquele<br />
que se procurava, assim se i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong>, reconheceu-o<br />
84<br />
como a pessoa <strong>do</strong> retrato fala<strong>do</strong>, relatan<strong>do</strong> ainda que<br />
“Mudinho” encontrava-se preso.<br />
Preso!<br />
A<strong>de</strong>mir Oliveira <strong>do</strong> Rosário, também conheci<strong>do</strong> como<br />
“Maníaco da Cantareira”, cumpria medida <strong>de</strong> segurança<br />
no Hospital Psiquiátrico <strong>de</strong> Franco da Rocha e, beneficiário<br />
que era <strong>do</strong> regime <strong>de</strong> “Desinternação Progressiva”, possuía<br />
autorização para sair <strong>do</strong> hospital aos fins <strong>de</strong> semana,<br />
mesmo contan<strong>do</strong> com três con<strong>de</strong>nações: uma em 1990<br />
por roubo, um homicídio em 1991 e atenta<strong>do</strong> violento ao<br />
pu<strong>do</strong>r em 1998, pratica<strong>do</strong> contra <strong>do</strong>is meninos <strong>de</strong> 12<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
Já no Hospital Franco da Rocha, entrevista<strong>do</strong> A<strong>de</strong>mir,<br />
que relebran<strong>do</strong> a cena <strong>do</strong> crime, chorou e acabou por confessar<br />
o crime na presença <strong>de</strong> médicos e enfermeiros,<br />
acrescentan<strong>do</strong>, porém, a participação <strong>de</strong> um outro partícipe:<br />
um “Pai <strong>de</strong> Santo”.<br />
Vinte e quatro horas após a comunicação <strong>do</strong> crime o<br />
<strong>DHPP</strong> já havia esclareci<strong>do</strong> o brutal assassinato <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />
menores, restava i<strong>de</strong>ntificar o comparsa <strong>de</strong> “Mudinho”.<br />
Dias se passaram até que o indivíduo com as características<br />
físicas <strong>de</strong>scritas por A<strong>de</strong>mir recebeu uma investiga<strong>do</strong>ra,<br />
que fazen<strong>do</strong>-se passar por uma “cliente” marcou uma “consulta<br />
espiritual” com Elson José Messaggi, preso pela<br />
participação <strong>do</strong> duplo homicídio.<br />
Além <strong>de</strong> toda a repercussão social gerada pela brutalida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> caso em si, uma acalorada discussão sobre a<br />
<strong>de</strong>sinternação progressiva ocasionou por parte <strong>do</strong> Juiz<br />
Correge<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Presídios, Cláudio <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> Amaral, o início<br />
<strong>de</strong> uma acurada avaliação <strong>de</strong>ste processo.
Policial Militar é assassina<strong>do</strong> em serviço<br />
na zona sul<br />
Inquérito Policial nº: 1592/2007<br />
Natureza: Roubo segui<strong>do</strong> <strong>de</strong> morte<br />
Data: 11/09/2007<br />
Local: Rua Bonifácio Fernan<strong>de</strong>s × Rua Barroso <strong>do</strong> Amaral<br />
– Jd. Sta. Lúcia<br />
Vítimas: Edson Roberto Ambrósio (fatal) / Alessandro<br />
Pasetto Neto (tentativa)<br />
Autores: Adriano Azeve<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oliveira / Diego Raimun<strong>do</strong><br />
da Silva / Diogo Sousa Veloso<br />
Equipe: A-Sul, da 1ª Delegacia da Divisão <strong>de</strong> Homicídios<br />
Na data <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007, os policiais militares<br />
Edson Roberto Ambrósio e Alessandro Pasetto Neto<br />
encontravam-se em patrulhamento <strong>de</strong> rotina, a bor<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />
viatura GM Corsa da <strong>Polícia</strong> Militar, na área <strong>do</strong> 100º DP.<br />
Ao passarem pela Rua Bonifácio Fernan<strong>de</strong>s, altura <strong>do</strong><br />
número 150, bairro Jd. Santa Lúcia, visualizaram um caminhão<br />
para<strong>do</strong> irregularmente na via pública, fazen<strong>do</strong> com<br />
que os milicianos, acreditan<strong>do</strong> tratar-se <strong>de</strong> mera infração<br />
85<br />
<strong>de</strong> trânsito, emparelhassem sua viatura com tal veículo, fican<strong>do</strong><br />
o policial Edson ao la<strong>do</strong> da “boléia”. Neste momento<br />
subitamente um indivíduo passou a disparar em direção à<br />
viatura policial e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à posição mais elevada <strong>do</strong> caminhão<br />
em relação à viatura acabou por alvejar fatalmente o<br />
policial Edson, no pescoço e tórax.<br />
O policial Edson Roberto Ambrósio não resistiu aos<br />
ferimentos vin<strong>do</strong> a falecer, ao passo que o policial Alessandro<br />
Pasetto Neto foi socorri<strong>do</strong> ao Hospital Militar on<strong>de</strong> permaneceu<br />
interna<strong>do</strong> por três dias, receben<strong>do</strong> alta em seguida.<br />
Apurou-se posteriormente que os indivíduos que efetuaram<br />
os disparos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> caminhão tinham acaba<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> roubar o veículo e, ao perceberem a aproximação <strong>de</strong><br />
uma viatura policial, <strong>de</strong>cidiram investir contra, evadin<strong>do</strong>-se<br />
em seguida. Logrou-se posteriormente i<strong>de</strong>ntificar e qualificar<br />
os autores <strong>de</strong>ste crime. Em 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007,<br />
Diogo Sousa Veloso, um <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> crime apura<strong>do</strong><br />
nesta equipe, foi preso em flagrante por porte ilegal <strong>de</strong><br />
arma <strong>de</strong> fogo e conduzi<strong>do</strong> a esta especializada on<strong>de</strong> confessou<br />
a autoria <strong>de</strong>litiva, narran<strong>do</strong> com riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes<br />
a dinâmica <strong>do</strong> crime, inclusive confirman<strong>do</strong> a participação<br />
<strong>de</strong> Adriano e Diego no <strong>de</strong>lito.
IV<br />
ANEXO IV – O PERFIL<br />
86
A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inteligência Policial <strong>do</strong> <strong>DHPP</strong>, por intermédio<br />
<strong>de</strong> seu operoso Grupo <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Tecnologia<br />
da Informação (GTI), <strong>de</strong>senvolveu o sistema informatiza<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Perfil <strong>do</strong> Crime, o qual se incumbe <strong>de</strong> gerar gráficos<br />
estatísticos alusivos aos crimes <strong>de</strong> homicídios <strong>do</strong>losos.<br />
Com uma diversificada gama <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cruzamentos<br />
<strong>de</strong> informações, o sistema torna praticável uma<br />
precisa análise da situação criminal.<br />
A amostra submetida à análise consiste em 327 inquéritos<br />
policiais <strong>de</strong> homicídios <strong>do</strong>losos com autoria apurada,<br />
relata<strong>do</strong>s entre 2006 e 2007.<br />
Ressaltamos, entretanto, que muitos da<strong>do</strong>s relativos ao<br />
perfil <strong>do</strong> crime <strong>de</strong> homicídio não estavam disponíveis na<br />
base e, por conseguinte, o somatório <strong>do</strong>s percentuais nem<br />
sempre é igual a 100% se não se consi<strong>de</strong>rar o campo ignora<strong>do</strong>.<br />
Das análises efetuadas, constatamos que:<br />
Dos casos analisa<strong>do</strong>s, vislumbramos que a maior incidência<br />
– 39% <strong>de</strong>les – ocorreu na circunscrição da 6ª<br />
Delegacia Seccional <strong>de</strong> <strong>Polícia</strong> (Santo Amaro). Em seguida<br />
aparece a 4ª Seccional (Norte), com 18% <strong>do</strong>s homicídios<br />
analisa<strong>do</strong>s. Na seqüência encontra-se a 7ª Seccional<br />
(Itaquera), com 13%, e a 8ª Seccional (<strong>São</strong> Mateus), com<br />
12% <strong>do</strong>s casos. As <strong>de</strong>mais circunscrições Seccionais da<br />
capital tiveram, cada uma, menos <strong>de</strong> 10% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s homicídios<br />
em tela.<br />
Analisan<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> vítimas por caso, observamos<br />
que há pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> apenas uma vítima por ocorrência,<br />
representan<strong>do</strong> 87% <strong>do</strong>s 327 casos analisa<strong>do</strong>s. O duplo<br />
homicídio abarcou 9% <strong>do</strong>s casos (30 ocorrências). Já com<br />
relação ao triplo e quádruplo homicídios, tiveram estes<br />
participação <strong>de</strong> apenas 4% <strong>do</strong> total (12 ocorrências).<br />
87<br />
Na análise <strong>de</strong> homicídios por dia da semana, verificou-se<br />
maior incidência aos sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos, com 128 <strong>do</strong>s 327<br />
casos estuda<strong>do</strong>s, representan<strong>do</strong> 39%. O dia com menor incidência<br />
foi terça-feira, representan<strong>do</strong> 8% (25 homicídios).<br />
O perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> maior ocorrência <strong>de</strong> homicídios se <strong>de</strong>u à<br />
noite (das 18:00 às 23:59h), com um total <strong>de</strong> 36% <strong>do</strong>s<br />
casos, segui<strong>do</strong> pelo perío<strong>do</strong> da madrugada (da 00:00 às<br />
05:59h), com 31%.<br />
Verifican<strong>do</strong> a motivação <strong>do</strong>s homicídios, constatamos<br />
a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> fator vingança, responsável por 21,4%<br />
(70 ocorrências) <strong>do</strong> total analisa<strong>do</strong>. Na seqüência aparecem:<br />
o motivo fútil, com 20,2% (66 ocorrências); outros<br />
motivos, com 14,7% (48 ocorrências); ignora<strong>do</strong>s e<br />
passionais, cada um com 9,2% (30 ocorrências para<br />
cada); <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>savença em bar ou similar, com<br />
8,9% (29 casos); e motiva<strong>do</strong>s por drogas, com 6,7% (22<br />
casos). Com relação às <strong>de</strong>mais motivações conhecidas,<br />
estas não ultrapassaram, individualmente, o índice <strong>de</strong><br />
5% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s casos. Cabe ressaltar que no tocante à<br />
motivação latrocínio, em que pese ser incompatível com<br />
o crime <strong>de</strong> homicídio, se faz necessária sua inserção,<br />
pois somente durante a investigação criminal po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar<br />
ou não o cunho patrimonial, que modifica a capitulação<br />
<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> morte.<br />
Nos crimes motiva<strong>do</strong>s por drogas, observa-se que<br />
22,73% <strong>do</strong>s 22 casos (cinco ocorrências) <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> dívida<br />
vinculada ao uso <strong>de</strong> entorpecentes. O encontro <strong>de</strong><br />
substâncias entorpecentes em local <strong>de</strong> homicídio ocorreu<br />
em quatro ocasiões, representan<strong>do</strong> 1,22% <strong>do</strong> total.<br />
Em 66% <strong>do</strong>s casos analisa<strong>do</strong>s foram utilizadas armas <strong>de</strong><br />
fogo. As armas brancas foram instrumento <strong>do</strong> crime em 17%.
Outros 17% <strong>do</strong>s casos ocorreram pelo uso <strong>de</strong> outros instrumentos<br />
(por exemplo: pedaço <strong>de</strong> pau, pedra, corda etc.).<br />
Quanto ao local <strong>do</strong> crime, nota-se que 59,3% (194 ocorrências)<br />
ocorreram na via pública. Na seqüência aparecem<br />
a residência, com 17,4% (57 ocorrências), e outros, com<br />
6,1% (20 casos).<br />
Os locais externos representaram 72% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> 327<br />
casos analisa<strong>do</strong>s.<br />
Estudan<strong>do</strong> o perfil da vítima constatamos a pre<strong>do</strong>minância<br />
da vítima <strong>de</strong> sexo masculino, representan<strong>do</strong> um total <strong>de</strong> 85,9%<br />
<strong>do</strong>s casos, sen<strong>do</strong> que 33,6% encontravam-se na faixa etária <strong>de</strong><br />
18 a 25 anos. Ainda com relação às vítimas, 57,4% eram<br />
solteiras e 61,62% eram naturais <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. No tocante<br />
à escolarida<strong>de</strong>, 46,7% haviam concluí<strong>do</strong> o ensino fundamental.<br />
Quanto aos <strong>de</strong>mais fatores sociais, 22,73% das<br />
vítimas recebiam <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a três salários mínimos por mês e 32,6%<br />
encontravam-se <strong>de</strong>sempregadas. Foi também constata<strong>do</strong> que<br />
52% das vítimas eram caucasianas e que 28% possuíam<br />
registro <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes criminais no sistema eletrônico da<br />
<strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong>, sen<strong>do</strong> que 16% já haviam cumpri<strong>do</strong> pena, 3,1%<br />
tiveram passagem pela Fundação Casa e 1,3% possuíam<br />
manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> prisão em seu <strong>de</strong>sfavor. As vítimas i<strong>de</strong>ntificadas<br />
como usuárias <strong>de</strong> entorpecentes representaram um total <strong>de</strong><br />
15,9% <strong>do</strong>s casos. As vítimas i<strong>de</strong>ntificadas como traficantes<br />
88<br />
<strong>de</strong> droga representaram 5,2% <strong>do</strong>s casos. Verificou-se que<br />
com relação ao exame <strong>de</strong> <strong>do</strong>sagem alcoólica, ao qual as<br />
vítimas foram submetidas, 16% <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ram positivo.<br />
Já no caso <strong>do</strong>s autores i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s, vislumbra-se que majoritariamente<br />
pertencem ao sexo masculino, representan<strong>do</strong><br />
96,3% <strong>do</strong>s casos, e <strong>de</strong> faixa etária <strong>de</strong> 18 a 25 anos (40,8%).<br />
Verificou-se que 49,2% <strong>do</strong>s autores eram <strong>de</strong> cor parda. Analisou-se<br />
ainda que 58,7% eram solteiros; que 65% eram naturais<br />
<strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>; 51,4% haviam concluí<strong>do</strong> o ensino fundamental;<br />
que 29,1% recebiam <strong>de</strong> <strong>do</strong>is a três salários mínimos por<br />
mês; e que 40% estavam <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>s. Apurou-se também<br />
que 55% <strong>do</strong>s autores possuíam registro <strong>de</strong> antece<strong>de</strong>ntes criminais<br />
no banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s da <strong>Polícia</strong> <strong>Civil</strong>, sen<strong>do</strong> que 26,8%<br />
cumpriram pena, 9,3% tiveram passagem pela Fundação Casa<br />
e 8,9% possuíam manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> prisão em aberto. Os autores<br />
usuários <strong>de</strong> entorpecentes representaram um total <strong>de</strong> 15,1%<br />
<strong>do</strong>s casos, sen<strong>do</strong> que os traficantes ficaram com 13,3% <strong>de</strong>les.<br />
Apurou-se nesta análise que 73,9% das vítimas (excluí<strong>do</strong>s<br />
os casos ignora<strong>do</strong>s) conheciam os autores <strong>de</strong> seu crime,<br />
residiam em local próximo ao <strong>de</strong>les e freqüentavam os<br />
mesmos lugares, <strong>de</strong>notan<strong>do</strong>-se por isso a explicação <strong>de</strong> que<br />
32,72% <strong>do</strong>s crimes ocorreram a menos <strong>de</strong> 500m <strong>de</strong> distância<br />
da residência das vítimas e 24,46% na mesma distância<br />
da residência <strong>do</strong> autor <strong>do</strong>s fatos.