08.08.2015 Views

Uma “sociologia crítica do conhecimento”: Michael Löwy e ... - UEM

Uma “sociologia crítica do conhecimento”: Michael Löwy e ... - UEM

Uma “sociologia crítica do conhecimento”: Michael Löwy e ... - UEM

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar – http://www.urutagua.uem.br/015/15belli.pdfNº 15 – abr./mai./jun./jul. 2008 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178ApresentaçãoAs ciências humanas, e em especial asciências sociais, se caracterizam como umcampo científico distinto <strong>do</strong>s demais devi<strong>do</strong>à ênfase atribuída ao subjetivismo – emboraisso nem sempre seja reconheci<strong>do</strong>, atémesmo em seu interior. Subjetividade estadeterminada pela relação particular entresujeito e o objeto. Ao contrário <strong>do</strong> queocorre em outras ciências, o cientista social,ao estudar um determina<strong>do</strong> fenômeno, écapaz de conceituá-lo e abstraí-lo a ponto derelacionar essa experiência ao seu mo<strong>do</strong> devida, proporcionan<strong>do</strong>, em maior ou menorgrau, uma reflexão <strong>crítica</strong> de sua posição nasociedade. Ocorre também a situação de queo objeto estuda<strong>do</strong> é consciente e capaz deestabelecer uma relação mais complexa como cientista <strong>do</strong> que nas outras ciências; umgrupo social que não concordasse comaquilo que um cientista escrevesse sobreeles, mesmo que ele estivesse correto,exerceria, certamente, uma coerção maiorsobre o pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que qualquer outroobjeto das ciências naturais sobre opesquisa<strong>do</strong>r desta área. 1 Dada essa situaçãoespecífica entre sujeito e objeto <strong>do</strong> saber, énecessário definir qual é relação entre osvalores <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r social e a produção<strong>do</strong> conhecimento. Traça<strong>do</strong>s esses limites,seria preciso então utilizar um méto<strong>do</strong> maisadequa<strong>do</strong> para uma melhor compreensão da1 Seria difícil imaginar que uma rocha reclamasse daclassificação que um geólogo atribuiu a ela demaneira equivocada ou que uma espécie da fauna ouda flora desenvolvesse uma crise de identidade numasituação semelhante. É claro que se deve ressaltar queestu<strong>do</strong>s equivoca<strong>do</strong>s nos ramos das ciências naturaisdenotam uma série de conseqüências problemáticastanto quanto nas ciências humanas. E isto é próprio daatividade científica. Entretanto, nas ciências humanas,a <strong>crítica</strong> pode vir <strong>do</strong> próprio objeto de estu<strong>do</strong>,enquanto que noutras vertentes científicas a <strong>crítica</strong>surge ao cientista quase que exclusivamente de seuspares.realidade social. Estas são as afirmações quenorteiam a análise de <strong>Löwy</strong> na formulaçãode uma meto<strong>do</strong>logia própria às ciênciashumanas e na elaboração de uma <strong>“sociologia</strong><strong>crítica</strong> <strong>do</strong> <strong>conhecimento”</strong> (LÖWY, 1994, p.9).A tese geral de <strong>Löwy</strong> é desenvolvida pelopróprio autor através da análise e síntese detrês correntes específicas dentro das ciênciassociais – positivismo, historicismo emarxismo – que proporcionaram osparadigmas epistemológicos emeto<strong>do</strong>lógicos para os estu<strong>do</strong>s sobre aconstrução social <strong>do</strong> conhecimento,distinguin<strong>do</strong>-se, assim, <strong>do</strong> tratamento da<strong>do</strong>pela filosofia a este objeto até então. <strong>Löwy</strong>descreve os determinantes históricos de cadacorrente, ou seja, quais as condiçõeshistóricas que proporcionaram o surgimento,a reprodução e a superação de cada maneirade pensar. Sua tese geral é formada por trêsaspectos:Primeiro: o objeto das ciências sociais écompletamente distinto <strong>do</strong> das ciênciasnaturais, pois que ele está diretamenteliga<strong>do</strong>, em maior ou menor grau, a vida <strong>do</strong>pesquisa<strong>do</strong>r. A eficácia de compreensão <strong>do</strong>objeto aumenta à medida que o pesquisa<strong>do</strong>rconhece os determinantes sociais de seupensamento, ao contrário <strong>do</strong> que pensam osadeptos da neutralidade científica.Segun<strong>do</strong>: essa posição distinta da <strong>do</strong>s outroscientistas evidencia o caráter político daatividade <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r social. Por maisque ele tente manter uma posição deresguar<strong>do</strong> com relação ao restante dasociedade, o produto de seu trabalho provocauma série de reações dentro da mesma.Terceiro: da<strong>do</strong> o caráter histórico daconstrução e reprodução <strong>do</strong> saber, quelegitima uma certa forma de <strong>do</strong>minaçãosocial que se apresenta incoerente edestrutiva, alia<strong>do</strong> ao reconhecimento da152

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!