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Uma “sociologia crítica do conhecimento”: Michael Löwy e ... - UEM

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Revista Urutágua – revista acadêmica multidisciplinar – http://www.urutagua.uem.br/015/15belli.pdfNº 15 – abr./mai./jun./jul. 2008 – Quadrimestral – Maringá – Paraná – Brasil – ISSN 1519-6178conhecimento seja puramente subjetiva 2 . Orelativismo a que <strong>Löwy</strong> se refere reconheceque certas posições sociais, em determina<strong>do</strong>sperío<strong>do</strong>s históricos, são mais favoráveis àverdade objetiva <strong>do</strong> que outras. Qual seria,então, o ponto de vista de classe maisprivilegia<strong>do</strong> epistemologicamente para oconhecimento da realidade social atual?<strong>Löwy</strong> busca a resposta analisan<strong>do</strong> asconcepções de Mannheim e <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>smarxistas historicistas (Gramsci, Lúkacs,Goldmann e Bloch).Mannheim reconhece o caráter relativo <strong>do</strong>conhecimento, tal como <strong>Löwy</strong> apresenta(LÖWY, 1998, p. 78-9). Entretanto,Mannheim considera que o marxismo, visãode mun<strong>do</strong> que originalmente aponta arelatividade <strong>do</strong> conhecimento, não foracapaz de desenvolver suas premissasepistemológicas entre os seus adeptos(MANNHEIM, 1982, p. 151). Aliás,nenhuma ideologia teria si<strong>do</strong> capaz dedesenvolver essa atitude reflexiva.Constatação que leva Mannheim a conceberque to<strong>do</strong> o conhecimento produzi<strong>do</strong> pelasociedade sobre ela mesma seria unilateral efragmenta<strong>do</strong>. Para uma compreensão maiseficaz da realidade seria necessário umasíntese de perspectivas, capaz de adequar osdiferentes conhecimentos produzi<strong>do</strong>s numaunidade coerente e dinâmica (MANNHEIM,1982, p. 172-8).2 Um exemplo dessa atitude epistemológica no campoda sociologia é o méto<strong>do</strong> fenomenológico propostopor Alfred Schutz. Para este autor, e para outros queconcordam com sua teoria, seria real apenas aquiloque se apresenta a nossa experiência primeira, ouseja, à simples aparência. Como existem diversasmaneiras de apreender o real, a realidade seriaconformada de acor<strong>do</strong> com a prática transcendentedas diversas percepções. A objetividade passaria a serformada pelo confronto de diversas interpretações <strong>do</strong>fenômeno observa<strong>do</strong>, e não mais pela análise material<strong>do</strong> próprio objeto (Cf. SCHUTZ apud WAGNER,1979).A questão mais uma vez se coloca: quemfaria esta síntese? Mannheim responde: osintelectuais; a intelligentsia sem vínculos.Antes liga<strong>do</strong>s a uma determinada classe, osintelectuais teriam assumi<strong>do</strong> uma novaposição social com o desenvolvimento daatividade científica, a ponto dereconhecerem a si próprios como umaclasse.[...] (existe) entre to<strong>do</strong>s os grupos deintelectuais, um vínculo sociológico deunificação, ou seja, a educação, que osenlaça de mo<strong>do</strong> surpreendente. Aparticipação em uma herança culturalcomum tende progressivamente asuprimir as diferenças de nascimento,status, profissão e riqueza, e a unir osindivíduos instruí<strong>do</strong>s com base naeducação recebida.[...] o homem instruí<strong>do</strong> é determina<strong>do</strong>,quanto ao seu horizonte intelectual, demúltiplas maneiras. Essa herançacultural adquirida sujeita-o à influênciade tendências opostas na realidadesocial, enquanto a pessoa cuja orientaçãoface ao to<strong>do</strong> não se processa em virtudeda sua instrução, mas que participadiretamente no processo social deprodução, tende simplesmente aabsorver a Weltanschauung (visão socialde mun<strong>do</strong>) desse grupo particular e aagir exclusivamente sob a influência dascondições impostas por sua situaçãosocial imediata (MANNHEIM, 1982,p.180-1).O que Mannheim não percebe, segun<strong>do</strong><strong>Löwy</strong>, é que a posição <strong>do</strong>s intelectuaisparece ser uma tentativa de conciliação <strong>do</strong>radicalismo <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong> e <strong>do</strong>conserva<strong>do</strong>rismo da burguesia. Um ponto devista próprio da classe média, da pequenaburguesia da qual boa parte <strong>do</strong>s intelectuaisestá ligada (LÖWY, 1998, p. 85). Osintelectuais, portanto, não estariamdesvincula<strong>do</strong>s das já existentes posições155

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