Você conhece aexpressão “tempo útil”?O conceito de tempo útil impõe que o “bom trabalhador”, ético e moral, éaquele que atende ao tempo da produção. Desta forma, as relações se tornam cadavez mais alienadas.Fonte: http://www.gettyimages.com.brAs principais formas de alienação estão presentes no trabalho, no consumo e no lazer. Aspectoscomo o distanciamento entre o trabalhador e os meios de produção, a lógica do mercado e do capitale os processos ideológicos de dominação social estão implícitos também no campo da relação social epessoal.◦ Relação social e pessoal alienadaNosso cotidiano evidencia a relação social alienada de modo quase gritante. A indiferença entre aspessoas, principalmente em centros de grande ocupação urbana, a ausência de solidariedade e compromissocom o outro, a artificialidade dos contatos, dos cumprimentos e diálogos tornam alheio o compromissosocial. Nas comunidades, nas empresas e organizações são comuns frases como “não é comigo”,“não tenho nada a ver com isso”, “não estou interessado(a)”, “ a minha parte eu já fiz”, “cada um carregaa sua cruz”. Obviamente cada pessoa precisa ser responsável pelas próprias ações, escolhas e conseqüências,mas esse fato não nega o necessário cuidado com o bem comum, com a “saúde” das relações, como sentimento de cooperação e solidariedade.A relação pessoal também sofre com os processos de alienação, configurando um crescente riscopara a autonomia e construção da realidade social. As idiossincrasias são subjugadas ao comportamentopadrão. Conforme proposto por Erich Fromm (apud COTRIM, 2006), a realização pessoal é suplantadapela posse e por sua demonstração, há um distanciamento entre o ser pessoal e aquilo que o outro espera;a capacidade de construção do próprio ser, nessas condições, se torna de outro, alheia, seguindo, porexemplo, as imposições da sociedade de consumo. Dentre as implicações da realização pessoal alienadatemos a reificação do ser humano, também presente nas demais formas de alienação. Estudando o temadois da nossa disciplina, no AVA, note o texto “Eu, etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade, queilustra muito bem tanto a questão da ideologia quanto da alienação.◦ Trabalho alienadoA racionalização do trabalho, conforme esclarecimentos que você pode ler no AVA, tema dois,promove a subdivisão do trabalho na sociedade moderna, bem como retira do trabalhador a visão quantoao produto final do seu empenho, fragmentando a produção, o conhecimento e o modo de perceber aprópria atividade. A capacidade de adquirir o fruto do seu trabalho se torna mais distante. Dessa forma otrabalhador tem suas habilidades limitadas e passa a agir como máquina para atender às necessidades domercado, tornando alheio o resultado do seu esforço.Conforme Aranha e Martins (1996, p.12) Karl Marx, analisando o conceito de alienação, defendeque esse processo “se manifesta na vida real do homem, na maneira pela qual, a partir da divisão do trabalho,o produto do seu trabalho deixa de lhe pertencer”.Sob essas condições a rotina do trabalhador é desgastante e o profissional, se é que podemoschamar assim, não vê perspectiva de mudança, uma vez que não é capacitado para desempenhar outrasFILOSOFIA, ÉTICA E O <strong>MUNDO</strong> DO <strong>TRABALHO</strong> 35
funções, nem tem acesso ao entendimento da totalidade da produção. Portanto, fragmentando tarefas,ações, saberes.O trabalho alienado nega a realização do trabalhador e afirma a sua exploração, mediante a exploraçãoda força de trabalho, mais-valia, aliena os benefícios, os resultados da produção em relação àquelesque produzem. Consiste no crescente distanciamento entre trabalho e realização e apresenta característicascomo rotinização das atividades, exploração e reificação do trabalhador.◦ Consumo alienadoÉ impressionante a velocidade com a qual os produtos lançados no mercado são substituídos porinovações que despertam o desejo de adquiri-los, não apenas por necessidade, mas pela satisfação de possuiralgo que trará “prestígio”. Agentes influenciadores, por exemplo os meios de comunicação de massa,atribuem status aos produtos lançados no mercado, substituindo o valor de uso pelo valor de posse. Importarecordar que o processo de alienação edifica em homens e mulheres um constante vazio que precisaser preenchido e que, o consumo alienado está entre as medidas mais utilizadas para atender este fim.Em que consiste, então, o consumo alienado? Em poucas e significativas palavras, consiste nabusca insaciável pelo novo. Ora, aqui poderíamos concluir que, se o consumo alienado consiste na insaciávelbusca pelo novo, ele se torna uma possibilidade de emancipação. Atenção, essa é uma conclusãoequivocada! No consumo alienado o sentido de “novo” não corresponde à disposição aos novos e diversosmodos de compreender e interpretar a realidade, mas ao consumo das novidades oferecidas pelomercado, nutrindo a neofilia.De acordo com Cotrim (2006) neofilia significa o amor pelas novidades do mercado, um amorobsessivo que pode ser configurado como uma doença cultural que é alimentada pelos grandes produtoreseconômicos. Encontra eco em estratégias como as diversas opções de pagamento que atraem consumidorese consumidoras que, na busca insaciável pelo novo, conquistam sempre dívidas para comprara mercadoria que provavelmente não será bem usufruída, pois quando novos modelos forem lançadosno mercado a mercadoria adquirida deixa de causar “satisfação” e cede espaço para outros sonhos deconsumo.A prática de consumo alienado é também resultante do trabalho alienado, conforme defendido porAranha e Martins no quadro que segue.A organização dicotômica do trabalho a que nos referimos – pelaqual se separam a concepção e a execução do produto – reduz aspossibilidades de o empregado encontrar satisfação na maior parteda sua vida, enquanto se obriga a tarefas desinteressantes. Daía importância que assume para ele a necessidade de se dar prazerpela posse de bens.(ARANHA; MARTINS, 1996, p.16)Em suma, no consumo alienado homens e mulheres buscam, com a posse de bens, preencher ovazio produzido tanto pelo trabalhado alienado quanto por outras formas de alienação, não sabendo quedessa forma se tornarão desconhecedores das reais necessidades humanas e cada vez mais suscetíveis aosapelos do mercado e à ausência do poder de reflexão, crítica e intervenção social.É importante realizar a leitura crítica do nosso entorno, como estamos buscando fazer. Portanto, émais que notório o conjunto de desigualdades, injustiças e exclusões do ambiente capitalista. Mas este éo ambiente no qual vivemos! Então é preciso aprender a viver com ele, percebendo as diversas facetas da36FTC EAD
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