Pessoa relacional é assim compreendida como ser em construção na relação com o outro e, portanto,ser que não está pronto. Deste modo o conceito de pessoa relacional é também pessoa potencial.Compreender a pessoa na qualidade potencial implica em incompletude. Talvez você não tenhaainda escutado falar em Heráclito, um dos pensadores originários (pré-socráticos). Talvez, apenas. Mascertamente você já conhece a máxima heracliteana... É a afirmação de que não nos banhamos duas vezesno mesmo rio... Lembra? Pois é... Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois nem mais o rio é omesmo, como nós também não somos. Portanto, somos devir (vir-a-ser), construímos nosso próprio ser,nos tornamos “pessoa” em um contexto que é socialmente produzido em torno de aspectos valorativos,culturais, políticos, etc.Buscamos realizar nossas virtudes, aprendemos com as nossas experiências, somos temporais, situadosem épocas repletas de cultura. Somos potencialidade! Temos em nós a potência de vir-a-ser, deaprender e gerar aprendizagem em cada instância da nossa vida, em caráter processual. De acordo comPegoraro (2002, p. 72, grifo nosso) “a fenomenologia defende o conceito de pessoa como um ser temporal,relacional e potencial; como um núcleo vivo e central que cresce pelo exercício de relações, deliberações,escolhas, decisões e ações”.Para que possamos bem construir o nosso ser pessoa relacional/potencial no mundo do trabalho,é indispensável que o referido “exercício de relações, deliberações, escolhas, decisões e ações” mobilizetambém saberes e valores. Essa mobilização pode ser compreendida como competência.COMPETÊNCIA E PROFISSÃODiálogos sobre a questão da “competência” estão presentes em diversos âmbitos sociais. Por exemplo,“competência na sala de aula”, “planejamento estratégico e competência nas empresas”, “competênciase habilidades nas organizações”, “Programas de qualidade e competência profissional”, etc.Já estudamos sobre a formação do conceito “pessoa”e sobre a necessária superação dos processosideológicos de dominação social, dentre outras temáticas. Agora, vamos concluir o tema “Trabalhoe pessoa enquanto existência relacional/potencial” conhecendo o significado da palavra competência econvidando você, querido graduando e querida graduanda, para a aplicação dos saberes que aqui estamosa construir durante a nossa disciplina, reunindo os fundamentos teórico-práticos indispensáveis à constanteformação acadêmica e profissional.Por que o entendimento do conceito de competência éimportante para a nossa formação, na qualidade de pessoarelacional/potencial no mundo do trabalho?Participe do nosso Fórum!Para responder ao questionamento acima é preciso compreender que competência remete a mobilização.Não corresponde a todo tipo de mobilização, mas aquele que revela, na ação, a capacidade dereflexão, crítica e decisão, reunindo valores e saberes.Se a competência manifesta-se na ação, não é inventada na hora: se faltam os recursos a mobilizar,não há competência; se os recursos estão presentes, mas não são mobilizados em tempo útil e conscientemente,então, na prática, é como se eles não existissem.FILOSOFIA, ÉTICA E O <strong>MUNDO</strong> DO <strong>TRABALHO</strong> 43
A mobilização exerce-se em situações complexas, que obrigam aestabelecer o problema antes de resolvê-lo, a determinar os conhecimentospertinentes, a reorganizá-los em função da situação.(PERRENOUD, 2000)DIMENSÃO COTIDIANA E ÉTICA DA COMPETÊNCIACompreendendo o significado de competência e correlacionando-o ao conceito de pessoa relacional/potencial,podemos notar que, na construção do nosso próprio ser, também é preciso mobilizarsaberes e valores, prezando pela integração entre o modo pelo qual pensamos e as nossas ações.A competência apresenta uma dimensão cotidiana, pois se faz na ação, na prática, na vida. Essadimensão cotidiana é também ética: se pensamos de um modo e agimos de outro distinto, então nãoreunimos em nossa prática cotidiana os nossos reais saberes e valores.É lugar comum ficar feliz quando se escuta de um amigo ou de uma amiga, que faz tempo não vemos,frases como: “– Nossa! Você não mudou nada!”. Há uma satisfação, pois a pessoa se sente semprejovem; se faz tempo que não encontra o amigo ou a amiga e, ainda assim, não mudou nada... Então, aaparência é a mesma... Por outro lado, se ouvimos “Você mudou, não é mais a mesma pessoa”, sentimosaté como uma ofensa, pois parece que “perdemos” o nosso modo de ser...Vamos refletir de modo crítico e criativo sobre a situação acima?Problematizando essa situação podemos perceber aí discursos ideológicos de dominação social!Geralmente as pessoas são educadas para a obediência, para o não questionamento, para a não transformação.Deste modo, tanto no nosso cotidiano quanto em empresas e organizações, há uma resistência àsmudanças. Passar por tantas experiências, conhecer novas e diferentes pessoas, exercer também funçõese papéis sociais diferenciados e, com tudo isso, ouvir “-Nossa! Você não mudou nada!” poderia significarque não estamos construindo nosso ser pessoa relacional/potencial e, portanto, nada de novo aprendemos...Por outro lado, ouvir “[...] não é mais a mesma pessoa” também não é agradável, pois, ainda que assituações vivenciadas contribuam para nossa construção, temos valores éticos e morais que respeitamose com esses fundamentos construímos nosso ser.Portanto, ao mesmo instante, passamos por transformações e buscamos a manutenção dos valoresque julgamos fundamentais, evidenciando em nossas atitudes o conjunto dos pressupostos teóricos evalorativos que construímos ao longo do tempo e das relações. Esses pressupostos estão correlatos aosprincipais aspectos constituintes do campo ético (a construção do próprio ser, o questionamento entre o“ser” e o “dever-ser” e a responsabilidade para além das intenções - aspectos elucidados no Tema 03 danossa disciplina).Conforme Mello (2003) ser competente requer domínio de conhecimentos. Mas também sabedoriapara mobilizá-los e aplicá-los de modo pertinente à situação; tomando decisões bem pensadas eplanejadas, correspondentes à vontade, à escolha e, portanto, aos valores. Essa é a dimensão ética dacompetência.COMPETÊNCIA E PROFISSÃO: ENCONTRO NECESSÁRIODo encontro entre os conceitos de competência e profissão, tendo por cenário a perspectiva depessoa relacional/potencial, resulta a possibilidade de formação ética e autônoma para o mundo do trabalho,capaz de superar os discursos ideológicos de dominação social e de lançar o olhar multireferencialsobre a profissão, compreendendo-a em sua função histórica, social, cultural, econômica e política.44FTC EAD
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